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Pesquisa em História da Educação: a relação entre a construção de uma escola étnica e a imigração árabe muçulmana em Curitiba

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Academic year: 2021

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Pesquisa em História da Educação: a relação entre a construção de uma escola étnica e a imigração árabe muçulmana em Curitiba

Wanessa Margotti Ramos Storti (UTP) RESUMO

Este trabalho apresenta o ensino para crianças em uma escola da comunidade árabe muçulmana no Estado do Paraná no final da década de 1970. Há a necessidade de a escola expressar a tradição árabe, ocorrendo a valorização das características étnicas e culturais desse grupo social. A importância está na tentativa de manter o aprendizado que teve início na terra natal e no coração de cada imigrante que chegou à cidade, transferindo para as novas gerações de crianças. Ao conservar esse espaço escolar, estavam preservando um comportamento voltado para o circuito da própria cultura, organizando toda a estrutura da comunidade. Nas escolas étnicas, a preservação do idioma como um código de comunicação e interação foi sempre uma preocupação dos imigrantes, na medida em que ele faz a ponte entre o passado e o presente, propiciando a ideia de pertencimento. Um conceito importante, no que se confere à historiografia e que se utilizará no decorrer desta tese, é o de Cultura Escolar. Diversos pesquisadores trabalham com esse conceito como Forquin (1993), Faria Filho (2007), Viñao (2000), e outros. A cultura escolar da instituição traz um sistema de concepções herdadas, expressas em formas simbólicas, como o ensino da língua e da religião, por meio das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem o seu conhecimento e as atitudes perante a vida. Isso acaba por revelar que a noção de enraizamento e de pertencimento faz parte da comunidade.

PALAVRAS-CHAVE: História da educação; cultura escolar; escolas étnicas; imigração árabe.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa apresenta uma discussão sobre a importância do estudo da História da Educação e das Instituições Escolares, com base em uma escola fundada por imigrantes árabes muçulmanos na cidade de Curitiba no final da década de 1960. A opção por esta temática leva em conta a contribuição que se dará para a história regional a partir da reconstrução histórica das instituições

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escolares e das especificidades acerca do processo imigratório no Paraná e em São Paulo. A produção científica no campo da história da educação tem instigado novas investigações, principalmente a expansão dos estudos que abordam a história das instituições escolares e que contribuem para o avanço do conhecimento na área (VILELLA, 2005).

OBJETIVOS

O objetivo desta pesquisa reside na compreensão da ação deste grupo na criação da escola e na problematização das manifestações e construções que identificam traços culturais escolares em instituições privadas que se fundamentam na manutenção de valores e costumes trazidos por seus antepassados.

RESULTADOS

A escola passou a ser, para a comunidade, um dos centros de sua sociabilidade. Explicitar a função social diferenciadora realizada pela instituição

escolar, no entanto, incita a análise dessa complexa relação” inventada” entre a

escola e a cultura, objeto de inúmeros estudos que atestam tanto a diversidade de perspectivas nela contidas quanto a divergências sobre as consequências da diferenciação aí produzida (VALDEMARIN, 2004). Um conceito importante, no que se confere à historiografia e que se utilizará no decorrer desta pesquisa, é o de Cultura Escolar. Diversos pesquisadores trabalham com esse conceito como Forquin (1993), Faria Filho (2007), Viñao (2000), com variações em relação às suas ênfases. Dentro das instituições escolares, é viável verificar esse conceito, pois é através das práticas e normas que valores, comportamentos e conhecimentos são transmitidos e se impõem.

Ao falar de das instituições escolares de imigrantes, o fio condutor é a análise da sua constituição em determinado espaço e tempo, pois a sua reconstrução histórica está relacionada com o processo de institucionalização da

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educação que é “[...] correlato do processo de surgimento da sociedade de classes que, por sua vez, tem a ver com o processo de aprofundamento da divisão do trabalho” (SAVIANI, 2006). Nesta direção, o emprego da palavra “reconstrução” possui intencionalidade ao garantir que o objeto seja reconstruído no plano do conhecimento, ou seja, das condições efetivas em que se deu a construção das instituições escolares (SAVIANI, 2006). O encontro entre culturas acaba por enriquecer as discussões acerca da educação, pois traz práticas e discursos diferentes das quais estamos acostumados (PINHO, 2003).

Desvinculados da imigração oficial, que dirigia os imigrantes europeus às lavouras do interior paulista e dos estados do sul, os imigrantes libaneses procuraram apoio na rede de familiares já estabelecida no país, ligando-se aos

ofícios urbanos e comerciais – sobretudo o de mascate, ocupação importante

num país ainda essencialmente rural. A atividade de mascate foi seguida por muitos como uma forma de obtenção de capital.

Segundo afirma Michaele (1969), os árabes se mostraram arredios durante a chegada devido ao termo turco, usado genericamente para todos. Com o tempo, a hostilidade foi diminuindo e começa a fusão com a cultura brasileira logo na primeira geração dos recém-chegados. De acordo com dados do IBGE, em 1940 havia 1.516 sírio-libaneses no Paraná, sendo 961 homens e 555 mulheres. (SIQUEIRA, 2004).

Quando chegaram ao Brasil nas décadas de 1940 e 1950, os imigrantes árabes muçulmanos entraram em contato com uma cultura diversa da sua, cristã e laica. À prática da religião islâmica não havia um ambiente propício. O primeiro motivo era a ausência de uma rede de templos muçulmanos que permitissem a realização das orações conjuntas e festejos religiosos. (NASSER, 2006). O primeiro marco institucional da presença islâmica em Curitiba foi a criação da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, cuja ata de fundação é datada de 28 de julho de 1957.

Os primeiros imigrantes muçulmanos para Curitiba foram, em sua maioria, xiitas da região do Vale do Bekaa, no Líbano, há hoje na cidade uma importante comunidade xiita, formada pelos imigrantes, seus filhos e netos

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(NASSER, 2006). No centro da cidade, como a Praça Tiradentes, havia comércio árabe, sendo que as famílias moravam nos fundos das lojas.

Hoje, a comunidade muçulmana na capital do estado conta com, além da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, a mesquita, o cemitério Jardim de Alá e a Escola Brasileira Árabe.

No estatuto da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná estava previsto a abertura de uma escola com o objetivo de manter a religião islâmica e a língua árabe para os imigrantes que moravam na cidade. Em 1969, a Escola Islâmica do Paraná foi fundada contando com cerca de 50 alunos. Foi reconhecida pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná, funcionando até 1972, quando tinha cerca de 150 alunos, todos filhos ou descendentes de árabe. Cada povo que formou o Brasil contribuiu para a formação cultural do país. O processo histórico que levou os habitantes a imigrarem para a América, e em particular para o Brasil, é relevante, assim como o estudo do Oriente Médio, sua história, suas influências na constituição da civilização ocidental. A possibilidade de a escola oferecer um ensino voltado à comunidade em geral é uma forma de superar o medo do diferente através da informação. Isso leva a diminuição dos conflitos inter-étnicos e ao conhecimento da figura do estranho, do estrangeiro. Por retomar a idéia de unir a comunidade árabe, a escola passa a ser vista como estrangeira. O desafio é colocar em prática a pluralidade que no texto aparece como algo indispensável, mas que não significa que seja de fácil execução.

A pluralidade cultural caminha ao lado da questão da alteridade. Quando se torna possível aceitar que existe outra pessoa diferente e que ela faz parte de um determinado tempo e espaço, pode-se não apenas tolerá-la, mas acreditar que ela pode acrescentar algo em seu crescimento. A escola valoriza as diversas culturas do país e promove a compreensão de seu próprio valor da sociedade. Por meio do convívio escolar, desenvolve a percepção para o seu grupo étnico, através de composição de memórias e identidades. A diversidade cultural e a alteridade são construções elaboradas pela sociedade e, naturalmente, pela escola.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo histórico das escolas étnicas do Brasil carrega questionamentos sobre como se entende o processo identitário dos diversos grupos humanos que constituem nossa sociedade, como se articula nosso processo escolar com a diversidade cultural e o que acontece quando nos deparamos com a diferença.

O ensino de História vai valorizar o passado, o presente e o futuro do seu próprio grupo social, local e nacional. Isso faz construir e validar a sua identificação com suas características, fatos e personagens que formaram seu passado. O desafio da escola é narrar para as crianças fatos que construíram sua história e prosseguir com a transmissão de um legado que se encontra em constante mudança. (CARRETERO, 2007). Isso deixa implícita uma distinção entre “nós” e “os outros”, que deriva no sentimento de lealdade ao grupo, que costuma tomar a forma de pátria. Contudo, muitos desses objetivos são expressos de forma sutil e implícita. (CARRETERO, ROSA, GONZÁLEZ, 2007). A História passa a ocupar um espaço essencial no ensino, centrando-se na formação da identidade nacional e religiosa, valorizando a memória coletiva.

REFERÊNCIAS

CARRETERO, Mario. Construção e educação. São Paulo: Artmed, 2007.

CARRETERO, Mario; ROSA, Alberto; GONZALEZ, Maria Fernanda. O ensino da História e memória coletiva. São Paulo: Artmed, 2007.

FARIA FILHO, Luciano Mendes. Escolarização e cultura escolar no Brasil: reflexões em torno de alguns pressupostos e desafios. In: BENCOSTTA, Marcus Levy (Org.). Culturas escolares, saberes e práticas educativas: itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 2007.

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FORQUIN, Jean-Claude. Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

MICHAELE, Faris Antonio S. Formação étnica do Paraná. In: El-KHATIB, Faissal (Cord.). História do Paraná. Curitiba: Grafipar, 1969.

NASSER, Omar. O crescente e a estrela na terra dos pinheirais: os árabes muçulmanos em Curitiba (1945-1984). 2006. 159 f. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.

PINHO, C. M. A dimensão sócio-antropológica no romance “Emigrantes”

de Ferreira de Castro. In: TRINDADE, M. B. R.; CAMPOS, M.C.S. (Org). Olhares luso e brasileiros. São Paulo: Usina do Livro, 2003.

SAVIANI, Dermeval. O debate teórico e metodológico no campo da história e sua importância para a pesquisa educacional. IN: _____ et al. História e história da

Educação . 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2006.

SIQUEIRA, Márcia Dalledone. Migrações do Passado e do Presente: uma análise de gênero, etnicidade e preconceitos. UFPR. Disponível em: http://www.fazendogenero7.ufsc.br/artigos/M/Marcia_Siqueira_55.pdf. Acesso em: 24 mar. 2008.

VALDEMARIN, Vera Teresa. Estudando as Lições de Coisas. Análise dos Fundamentos Filosóficos do Método Lição de Coisas. Campinas: Autores Associados, 2004.

VILLELA, Heloisa de O. S. Entre o “saber fazer” e a profissionalização a

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docente. In: MIGUEL, Maria Elisabeth Blanck e CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira (orgs.). A educação escolar em perspectiva histórica. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

VIÑAO, Antonio. El espacio y el tiempo escolares como objeto histórico. In: Contemporaneidade e Educação (Temas de História da Educação). Rio de Janeiro: Instituto de Estudos da Cultura da Educação, nº. 7, 2000.

Referências

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