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A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

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Academic year: 2021

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A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

por Maria Angélica da Gama Cabral Coutinho

O sentido da História

Essa reflexão tem como objetivo introduzir o estudante no mundo da História! São algumas poucas questões, mas que pretendem capacitar o futuro professor a fazer opções metodológicas no momento de trabalhar e desenvolver um projeto com sua turma. Ou até mesmo nas suas opções de pesquisa na área da educação.

A História é o estudo dos acontecimentos passados e das transformações humanas, desde a sua origem na Terra até os dias atuais. É a história da humanidade em todas as suas dimensões; é a análise de como a sociedade organiza suas atividades econômicas com o objetivo de garantir sua sobrevivência; das relações humanas e suas implicações na organização da sociedade, das formas de poder instituídas, do comportamento e das ideias expressas pelos grupos sociais.

É a ciência que estuda o que aconteceu com o homem e as permanências desses acontecimentos nos anos, ou séculos seguintes; observa e analisa as mudanças que ocorreram, e como se desenrolaram, buscando compreender os fatores que desencadearam o processo. Como afirmava Marc Bloch (1963, p.29) é a “Ciência dos homens no tempo”.

Percebemos dois sentidos para a História. O primeiro refere-se à história tal e qual os homens a fazem. O outro está ligado à elaboração dos historiadores, realizada a partir da pesquisa investigativa e da análise subsequente que é produzida. Buscamos estudar a História para compreendermos de onde viemos, e como isso aconteceu. O objetivo do historiador é investigar e analisar as vivências humanas com a finalidade de produzir informações que possam ser úteis para o momento presente e assim poder contribuir na construção do futuro.

A importância da História é a de oferecer a compreensão do presente a partir do conhecimento e das explicações que podemos encontrar no passado. Como afirmava Febvre (1977, p.56) “(...) é com firmeza que vos digo: para fazer história,

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virem resolutamente as costas ao passado e antes de mais vivam. Envolvam-se na vida.”

A História contribui para construir a ideia de identidade importante para a formação da cidadania e de valores democráticos, na atualidade. Em nosso passado mais recente (durante a montagem do Estado Republicano, na virada do século XIX para o XX, por exemplo), o Estado Brasileiro necessitou construir a identidade nacional, para afirmar-se como nação republicana carregada de valores.

Alguns pesquisadores da História tratam-na como ciência do passado, enquanto outros a chamam de ciência do presente. Esses pontos de vista relacionam-se às diferentes concepções da história. Todas as escolhas de abordagens realizadas pelos historiadores são resultantes da concepção historiográfica a que ele pertence. Desde as fontes escolhidas e utilizadas até os objetos de pesquisa definidos para a pesquisa científica.

As Concepções historiográficas

O ensino tradicional é tratado numa perspectiva positivista da história. Para o positivismo, os historiadores devem buscar a neutralidade, a imparcialidade evitando a interferência na análise do fato. A questão que podemos observar é que ao selecionar o fato histórico a ser estudado, o pesquisador já está se colocando, pois está fazendo uma escolha, uma opção, e eliminando outras.

O historiador positivista trabalha com os acontecimentos episódicos, de curta duração, numa sucessão ordenada de fatos, que se constituem isoladamente, numa articulação de causa e efeito. Para eles os fatos se explicam por si só, não necessitam de interpretações. Além disso, esses historiadores só admitem o uso de documentos escritos como fonte da investigação, o que significa que nessa abordagem historiográfica, os povos que não são letrados não possuem História. A ciência, na concepção positivista, é entendida como uma verdade absoluta, pronta e acabada, e não como um saber em constante transformação, em processo de construção contínua. A metodologia científica deve obedecer a leis, que não se aplicam às ciências do homem, mas apenas às ciências da natureza. Não aceita que o conhecimento está sempre se ampliando e se transformando a partir das novas descobertas e dos novos conhecimentos construídos.

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Esta é uma abordagem que privilegia os heróis, os governantes, os vencedores, os líderes como sujeitos históricos. O positivismo desconhece os vencidos, o soldado, o camponês, o homem comum, pois não participam do processo histórico.

Outra característica dessa vertente do pensamento é a valorização de noções como ordem, progresso, propriedade, pátria, religião numa perspectiva de justificar o modelo de organização da sociedade capitalista. Muitos professores, muitas publicações didáticas apesar das inúmeras críticas, ainda mantêm-se fiéis a essa visão de História, que como podemos ver pouco contribui para a formação integral do aluno.

O marxismo constitui-se em outra abordagem da História, que nasceu da oposição aos preceitos positivistas. Foi elaborado a partir das análises históricas de um pensador alemão, residente na Inglaterra, na segunda metade do século XIX, chamado Karl Marx, e das contribuições de seu amigo Friedrich Engels.

Marx e Engels afirmam que a história é a ciência dos homens, e todos os outros conhecimentos científicos são derivações da História. Essa afirmação fica evidente na leitura de A Ideologia Alemã (Marx e Engels, 1999, p.23):

“Nós conhecemos somente uma ciência singular, a ciência da história. Pode-se encarar a história de dois ângulos e dividi-la em história da natureza e em história dos homens. Os dois ângulos são, entretanto, inseparáveis; a história da natureza, também chamada ciência natural, não nos diz respeito aqui; mas nós temos de examinar a história dos homens (...)”.

A concepção marxista apoia-se na ideia de que toda a produção de conhecimento é resultado de um contexto histórico determinado. A sociedade é fruto de sua própria construção histórica. É resultado da sua própria criação, da autocriação como afirmava Cornelius Castoriadis. Busca a crítica ao ensino tradicional, que objetiva a manutenção do status quo.

Não há uma verdade única para o marxismo, pois como já falamos, ela é resultante da postura de quem a produz, de quem a elabora. Não há a busca por uma neutralidade inalcançável, como no caso dos positivistas.

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No marxismo, a economia determina a maneira que a sociedade se organiza. Ela se reflete sobre as relações sociais, as relações de poder dessa mesma sociedade. O conceito básico da teoria marxista é o “modo de produção” que é determinante sobre a maneira de viver da sociedade.

“O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência.” (Marx, 1977, p.24)

O motor da História é a luta de classes. Toda a história do homem é a história da forma como o grupo social produz seus bens materiais, é a maneira pela qual os homens se relacionam no processo produtivo. Para o marxismo, em todas as formas de organização social, desde as sociedades tribais até a sociedade capitalista atualmente, está presente a exploração do homem pelo homem.

Há uma terceira concepção de História, mas que difere das duas anteriores, pois se limita unicamente ao âmbito da História e dos historiadores. É a Escola dos Annales, fruto do contato de historiadores franceses, que não se sentiam representados pelas abordagens existentes. Eles, então, reúnem-se a partir de suas pesquisas em torno de uma revista intitulada “Annales d'Histoire Économique et

Sociale", criada em 1929 por iniciativa de Marc Bloch e Lucien Febvre. Com o passar

do tempo novos historiadores se aproximam, rompendo também com as fronteiras francesas, e com os limites da revista acadêmica.

Os Annales compreendem, diferente dos positivistas, a História como uma ciência em constante construção e para tal o caráter científico não se apresenta como um conjunto de regras e leis rígidas. Da mesma maneira que entendem que fontes históricas vão além de exclusivamente os documentos escritos, ampliando as possibilidades da análise histórica, e rompendo com a tradição conservadora positivista.

Os historiadores da Escola dos Annales buscam através da pesquisa investigativa, da procura em fontes diversas, a explicação de acontecimentos sociais, culturais, econômicos ou políticos; não se contentam apenas em narrar os episódios históricos, faz-se necessário explicá-los.

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Braudel, representante do grupo dos Annales, formulou a noção das temporalidades múltiplas. Em linhas gerais podemos compreender que o fato histórico pode apresentar variadas durações: o tempo breve, o tempo médio e a longa duração.

O tempo breve se refere a fatos que duram um pequeno espaço de tempo. É a curta duração exemplificada por acontecimentos políticos como um golpe de Estado, a Independência do Brasil, ou a Proclamação da República. Essa duração é própria da História tradicional, dos historiadores positivistas. É essa a história episódica, que engana, que impede uma análise mais consistente por parte do observador, como afirma Braudel (1976, p.14).

“A ciência social tem quase o horror do acontecimento. Não sem razão: o tempo breve é a mais caprichosa, a mais enganadora das durações.

É por este motivo que existe entre nós, os historiadores, uma forte desconfiança em relação a uma história tradicional, chamada história dos acontecimentos(...)”.

A média duração está ligada, sobretudo, aos acontecimentos econômicos. É o tempo dos economistas, por excelência! (mas não exclusivamente) Quem já não ouviu os comentários de economistas, em rádios ou televisão, expressando-se sobre as conjunturas de crise, as conjunturas desfavoráveis de inflação, por exemplo? É também o período da duração de uma guerra, de um movimento político como a campanha abolicionista, ou a campanha republicana, entre outros.

Mas há fatos que se prolongam por séculos... Como as manifestações de machismo; ou a permanência da escravidão no Brasil, como o racismo. Chamamos esse fato de estrutural. Ele parece não se modificar. São, por exemplo, as relações de trabalho que atravessaram vários séculos. É o mundo capitalista com suas múltiplas facetas e determinações.

EDUCAÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÂO

Ora, se considerarmos que a História é ação de seres humanos no tempo e no espaço transformando a natureza e produzindo conhecimento, e que a

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socialmente, podemos então considerar que não existe uma educação, mas diferentes educações, “mas cada sociedade cria, e cada uma a seu tempo, maneiras de educar homens e mulheres, crianças jovens e adultos” (Lopes e Galvão, 2001, p.12 ).

Nesse sentido, a educação deveria ser considerada um importante objeto de estudo da história, mas como afirma Cambi, foi a partir da metade dos anos de 1970, que se deu a passagem da História da Pedagogia para a História da Educação, o que não representou apenas uma mudança na nomenclatura, e sim um modo radicalmente novo “que rompeu com o modelo unitário e continuísta do passado, fortemente ideológico, para dar vida a uma pesquisa mais problemática e mais pluralista” (Cambi, 1999, p.24, 25).

Essa transformação, segundo Nóvoa ( , p.13), permite que a História da Educação se justifique na História, e assim possa resgatar o passado nas suas diferenças com o presente, que além de possibilitar ao educador(a) a compreensão do passado coletivo da profissão, aprender a relativizar as inúmeras ideias e propostas educativas e ampliar o leque de escolhas e de possibilidades pedagógicas, desenvolva a capacidade de compreender que a educação é uma construção social, o que pode transformar o sentido da prática cotidiana de cada professor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BLOCH, Marc. Introdução à História. 2ªed., Publicações Europa-América, 1974. BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais. 2ªed. Lisboa, Ed. Presença, 1976. CAMBI, Franco. História da Pedagogia. S.P. UNESP, 1999.

CASTORIADIS, Cornelius. As Encruzilhadas do Labirinto III: o mundo fragmentado. R.J., Paz e Terra, 1992.

FEBVRE, Lucien. Combates pela História I. Lisboa, Ed. Presença,1977 LOPES & GALVÃO.

MARX, Karl e ENGELS,F. A Ideologia Alemã , 1999. NÓVOA, António.

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