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A JUVENTUDE COMO SUJEITO SOCIAL: ELEMENTOS PARA UMA PROBLEMATIZAÇÃO Paulo Romão Meireles Neto*

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Academic year: 2021

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A JUVENTUDE COMO SUJEITO SOCIAL: ELEMENTOS PARA UMA PROBLEMATIZAÇÃO

Paulo Romão Meireles Neto*

Resumo

Este artigo tem como objetivo contribuir para o debate teórico e político sobre a juventude e a sua pluralidade de visões, problematizando conceito de juventude no plural e no singular e as implicações advindas desta percepção. No plano político analisam-se as dimensões sócio - políticas da juventude como sujeito social.

Palavras-Chave: juventudes, protagonismo, políticas públicas e direitos sociais. Abstract

This article aims to contribute to the theoretical and political discussion on youth and the plurality of visions, problematized concept of youth in the plural and the singular and the resulting implications of this perception. On the political dimensions analyzed in the socio - political youth as a social subject

Keywords: youth, activism, public policy and social rights.

INTRODUÇÃO

Pautar os jovens e sua participação protagonista em espaços de definição e elaboração das políticas públicas, num cenário em que há um forte processo estrutural de exclusão social da juventude como sujeitos portadores de direitos, justifica-se não somente devido à quantidade populacional deste segmento na sociedade brasileira, mas sobretudo porque essa compreensão, em última instância, é que determina o caráter das políticas públicas implementadas pelos governos em suas distintas esferas de administração, vislumbrando a perspectiva de atender as demandas das juventudes em suas múltiplas dimensões.

A juventude tem sido vista sob diferentes interpretações, que variam desde “o jovem é o futuro do país,” à “juventude é a fase dos problemas e da rebeldia”.

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*Acadêmico de Ciências Sociais com Habilitação em Sociologia e Ciência Política /Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA/UEMA) e Membro do Grupo de Pesquisa de Desenvolvimento, Política e Trabalho-GEDEPT/Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Maranhão-UEMA.

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Uma boa parte de sociólogos e psicólogos de diferentes matizes ideológicas são os primeiros chamados a diagnosticar a incômoda existência da rebeldia e a problemática da juventude.

Mas, até que ponto esses modelos explicativos produzidos se encaixam na problemática real da juventude?. Pode-se dizer que, um elemento ausente em grande parte das análises é a conexão da dita “revolta” da juventude, com os contextos de crises da sociedade contemporânea. Compreende-se que, a chamada “rebeldia” da juventude é parte fundamental dessas crises (cultural e social) e, nesse sentido, não pode ser vista isoladamente como um problema a parte, haja vista que seria muito saudável aos adultos querer que a juventude seja responsabilizada pelas contradições do sistema capitalista.

Nesta perspectiva, já há todo um movimento teórico no campo da sociologia da juventude que visa desconstruir essas visões. Portanto, este artigo tem como objetivo contribuir para o debate teórico e político sobre a juventude e a sua pluralidade de visões, problematizando conceito de juventude no plural e no singular e as implicações advindas desta percepção. No plano político analisam-se as dimensões sócio - políticas da juventude como sujeito social .

JUVENTUDE: UMA CATEGORIA EM DISPUTA

O conceito de juventude carrega, em cada formação social concreta, uma plasticidade variada que pode ser moldada de acordo com as perspectivas teóricas e políticas em voga. Isto demonstra que não se deve absolutizar as análises ou os elementos de identificação juvenil.

Neste sentido, o termo juventude se constitui um campo de disputa no interior das Ciências Sociais. Conforme Schimidt (2001), o termo juventude é polissêmico. Ao passo que, a idade é um ponto a ser levado em conta, a juventude como estado de espírito, estilo de vida, etapa transitória entre a infância e a fase adulta, fase distribuidora dos papéis e lugares não são de menor importância.Sabe-se que, o ser jovem envolve questões mais complexas ao ponto de ultrapassar este limite.

A literatura sobre o tema juventude tem evidenciado o fato de que ser jovem envolve questões muito complexas como estados psicológicos, sociais e biológicos. Esse entendimento colocou a juventude como objeto sistemático de investigação e de disputa entre a Sociologia e Psicologia. Os primeiros estudos sobre os jovens iniciados ainda nos anos 1920, abordavam os fenômenos de delinqüência e marginalidade.

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Portanto, data de longe colocar o jovem como aspecto problemático para a ordem perpetrada pelo status quo. È somente após a Segunda Guerra Mundial, é que a abordagem sociológica da juventude se detém a encarar os jovens como sinônimo de mudança social.

Segundo Bourdieu “juventude é apenas uma palavra”. Esta afirmação contribuiu, no âmbito das Ciências Sociais proporcionando um salto qualitativo nas pesquisas sobre jovens na ciência em pauta, introduzindo a análise sobre a dimensão de poder, de manipulação relativizando o conceito propriamente de juventude.

Para o sociólogo francês já citado, a juventude é apenas uma palavra, pois na realidade existem várias ou ao menos duas juventudes, uma burguesa e a das classes populares, que têm entre si diferenças cruciais em todos os domínios da existência. A crítica feita pelo o autor enfatiza o fato de que conceber o termo juventude “para falar dos jovens como se fossem uma unidade social, um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e relacionar esses interesses a uma idade definida biologicamente já constitui manipulação evidente” (BOURDIEU apud SCHIMIDT, 2001).

Nessa perspectiva, a restrição do movimento de juventude para uma condição, uma preparação ao mundo do trabalho, significa então, reproduzir hierarquias em que “cada um deve se manter em seu lugar”. Então, Bourdieu afirma que essa caracterização dá à juventude a condição de ser apenas uma palavra, daquelas cuja definição se presta a todo tipo de manipulação, entre outras coisas. Isto porque é uma categoria que tende a ser percebida e definida biologicamente, ignorando-se que “as divisões entre idades são arbitrárias e “objeto de disputa em todas as sociedades”“, ou seja, para muito além do aspecto biológico, a juventude e seus atributos seriam uma categoria socialmente construída e dependente de condição de classe. Na discussão sobre o conflito entre gerações, Bourdieu ressalta que a classificação da juventude por idade é limitante, produzindo uma noção de ordem ou de relação social estruturada com base em lugares predeterminados às pessoas. (SCHIMIDT, 2001). 1

Entretanto essa concepção bourdineana é contraposta por Margulis (1996), apud Castro, (2008), para quem “a juventude es más que una palabra”, ao qualificá-la como “vanguarda portadora de transformações, evidentes ou imperceptíveis nos códigos culturais, e incorpora com naturalidade as mudanças nos costumes e nos significados que foram objetos de luta para a geração anterior; sua sensibilidade, sistema perceptivo,

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visão das coisas, atitude frente mundo, sentido estético, concepção do tempo, valores, valores, velocidade e ritmos, nos indicam que estão habitando com comodidade um mundo que nos vai deixando para trás”.

A partir de outra perspectiva teórica Ianni (1968), diz que a história do regime capitalista tem sido a história do advento político da juventude e que seu processo de integração à sociedade não é automático e espontâneo. Ao ampliar esse entendimento, Foracchi (1972) afirma que, a noção de juventude impõe-se como categoria histórica e social, no momento em que se afirma como produto histórico, isto é, como movimento de juventude - uma categoria social sobre a qual reflete, de modo particular, a crise do sistema. A sociedade passa a ser, objetivamente, o ponto de contestação. É nesta fase de vida em que ocorre o ápice da contradição entre o potencial criativo e os bloqueios impostos pela sociedade capitalista. Significa dizer que, a sociedade patriarcal capitalista impõe uma lógica de subalternidade nas relações sociais com este segmento da população, colocando-os em posição inferior aos adultos. Afinal, enquanto estes não forem capazes de gerir o seu próprio sustento, não serão respeitados. Esta lógica produtiva se expressa, para além da sua relação com a produção, na família, na política e na sociedade com um todo.

Urge combater a idéia hegemônica naturalizada pela sociedade de que a juventude é imatura e inexperiente – e que, portanto precisa ser preparado para o depois, como também ter o acompanhamento (intervenção) dos “experientes”. A nosso ver, compreender o papel das juventudes na condução das transformações sociais como sujeitos e protagonistas das transformações que se quer construir, é um imperativo, uma vez que esta postura possibilita que as potencialidades deste ser social se manifestem na sua plenitude, na disputa pela hegemonia na sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse complexo de relações sociais, no qual a juventude se insere como sujeito social, me arrisco dizer que, a pluralidade de circunstâncias da condição juvenil impõe a necessidade de incorporar o sentido da diversidade e as múltiplas possibilidades de pertencimento (interesses de classe, oportunidades, desafios, objetivos e anseios). È evidente que as diversas juventudes vivenciam contradições da realidade social e as interpretam ao seu modo, de forma subjetiva, mas, também, com base em suas experiências de vida material. Dentro desta perspectiva cabe abandonar a idéia de que

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existe uma única juventude para a qual as políticas públicas devam ser direcionadas. As diversas juventudes carecem de políticas públicas que as incorporem como sujeito e não objeto. Isso implica numa compreensão desta fase da vida não a partir de falsas concepções, mas tendo por base as suas demandas efetivas.

A condução desse debate a respeito da juventude assumiu nos anos 1990 e 2000, um caráter de luta por direitos sociais. A temática juventude ganha centralidade por parte do Estado e de diferentes setores sociais. Em que pesem conflitos metodológicos e conceituais em especial a respeito da juventude existe um consenso no sentido de se efetive com urgência políticas públicas voltadas para esse segmento social. O grande desafio é, portanto, formular políticas públicas, onde as necessidades dos jovens estejam contempladas.

REFERÊNCIAS

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CASTRO, Elisa Guaraná de. Juventude: hierarquia social e relações de poder na

luta pela construção de um ator político. In: PAPA, Fernanda, et al (org).juventude

em formação: textos de uma experiência petista,São Paulo:Fundação Friedrich Ebert,2008.

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SCHIMIDT, João Pedro. Juventude e Política no Brasil: a socialização política dos

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