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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Nº 1403/13 – MJG

RECURSO EM HABEAS CORPUS N.º 118.653/RS

RECTE:

LUCIANO DE JESUS

ADV(A/S):

DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO GRANDE

DO SUL

RECDO:

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

RELATOR: EXMO. SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI

RECURSO ORDIÁRIO CONSTITUCIONAL. HABEAS

CORPUS. ACÓRDÃO QUE NEGOU SEGUIMENTO AO

WRIT PRECEDENTE PORQUE SUBSTITUTIVO DO

RECURSO PRÓPRIO. HIPÓTESE DO ART. 102, II, A,

DA CF/1988 NÃO CONFIGURADA. INADMISSÃO DO

RECURSO. PENAL. PROCESSO PENAL. VIOLAÇÃO

DE DIREITO AUTORAL. NULIDADE. PRINCÍPIO DA

CONGRUÊNCIA ENTRE ACUSAÇÃO E SENTENÇA.

OFENSA INEXISTENTE. SENTENÇA QUE REPUTOU

PROCEDENTE A ACUSAÇÃO TAL COMO NARRADA

NA VESTIBULAR ACUSATÓRIA. COAÇÃO ILEGAL

INEXISTENTE.

- Parecer pelo não conhecimento do recurso ordinário,

ou, se porventura conhecido, pelo seu desprovimento.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RELATOR

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, nos autos

em epígrafe, diz a V.Exa. o que segue:

Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus

interposto por Luciano de Jesus, neste ato assistido pela Defensoria

Pública do Estado do Rio Grande do Sul, contra ato do Superior Tribunal

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Nº 1403/13 - MJG

de Justiça, que, à unanimidade dos membros de sua Quinta Turma, negou

provimento ao agravo interno no HC n.º 182.889/RS, mantendo a decisão

monocrática que negou seguimento ao writ (e-STJ 120).

Infere-se destes autos que o recorrente foi denunciado

por, em tese, incorrer no art. 184, §2º, do Código Penal. Na mesma ocasião,

o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul denunciou Adilson

dos Santos Costa como incurso no art. 50, do Decreto-Lei n.º 3.688/41 e no

art. 347, parágrafo único, do Código Penal (e-STJ 6/9). Finda a instrução, o

juiz sentenciante julgou procedente a acusação, condenado o recorrente às

penas de 2 (dois) anos de reclusão, em regime inicial aberto, e pagamento

de 10 (dez) dias-multa (e-STJ 10/20).

Confirmada a sentença condenatória pelo Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (Apelação n.º 70035783810; e-STJ

51/61), a defesa do recorrente impetrou habeas corpus perante o Superior

Tribunal de Justiça (HC n.º 182.889/RS), aduzindo que a condenação penal

teria se dado mediante violação ao princípio da congruência, pois seria “de

uma clareza solar que, se o réu foi denunciado pela conduta de expor à

venda, há evidente falta de sintonia com a fundamentação da sentença de

que o réu adquiriu para a revenda Cds e DVDs reproduzidos com violação

do direito autoral” (e-STJ 4). A pretensão defensiva foi infrutífera, tendo a

Corte Superior negado conhecimento ao mandamus, em acórdão prolatado

nos moldes da seguinte ementa (e-STJ 120):

“AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. 1.

HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO AO

RECURSO PREVISTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO. NÃO CABIMENTO. MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL. RESTRIÇÃO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. MEDIDA IMPRESCINDÍVEL À SUA OTIMIZAÇÃO. ALTERAÇÃO POSTERIOR À IMPETRAÇÃO DO PRESENTE WRIT. EXAME QUE VISA

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PRIVILEGIAR A AMPLA DEFESA E O DEVIDO PROCESSO LEGAL. 2. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. 3. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO OU DA CONGRUÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. 4. AGRAVO IMPROVIDO.

1. O Superior Tribunal de Justiça tem buscado amoldar a abrangência do habeas corpus a um novo espírito, visando restabelecer a eficácia de remédio constitucional tão caro ao Estado Democrático de Direito, posição que conta, agora, com o louvável reforço da Suprema Corte. Precedentes. Considerando que a modificação da jurisprudência firmou-se após a impetração do presente habeas corpus, os temas nele trazidos foram efetivamente analisados por esta Corte, evitando-se, assim, prejuízos à ampla defesa e ao devido processo legal. Não se verificou, entretanto, a existência de constrangimento ilegal evidente, razão pela qual se negou seguimento ao writ.

2. A conduta do réu foi narrada na inicial de forma satisfatória, em observância ao art. 41 do Código de Processo Penal, com todos os elementos e circunstâncias necessários à caracterização dos delitos, não havendo demonstração de qualquer prejuízo ao perfeito exercício do contraditório e ampla defesa.

3. Havendo correspondência entre os fatos reconhecidos na sentença e aqueles imputados ao réu na inicial acusatória, não se observando qualquer alteração significativa, de imposição o afastamento da alegação de ofensa ao princípio da correlação ou da congruência.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.”

Nesta via, reitera os argumentos lançados no habeas

corpus precedente, pugnando pelo provimento do recurso ordinário, a fim

de reconhecer a nulidade da condenação penal e absolvê-lo da acusação de

suposta prática do crime de violação de direito autoral (art. 184, §2º, CP)

(e-STJ 135/144).

É o relatório.

De saída, o recurso ordinário não comporta admissão,

pois não configurada a hipótese do art. 102, II, a, da Constituição Federal

1

.

1 “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição,

cabendo-lhe:

[...] II - julgar, em recurso ordinário:

a) o 'habeas-corpus', o mandado de segurança, o 'habeas-data' e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;”

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Isto porque a irresignação volta-se contra aresto que não admitiu o habeas

corpus impetrado ao Superior Tribunal de Justiça, hipótese não consagrada

no dispositivo constitucional. É dizer, a prolação de acórdão denegatório é

pressuposto necessário à interposição do recurso ordinário constitucional.

Ainda que assim não fosse, não se vislumbra qualquer

vício no acórdão impugnado, que além de asseverar a inadmissibilidade do

writ substitutivo de recurso especial, afastou a existência de incongruência

entre a vestibular acusatória e o édito condenatório.

Conforme relatado, o Recorrente foi denunciado como

incurso no crime tipificado no art. 184, §2º, do Código Penal, pelos fatos

assim descritos pelo órgão ministerial (e-STJ 8):

“3º FATO

Nas mesmas circunstâncias de tempo e local descritas no 1º fato, o denunciado LUCIANO DE JESUS violou direitos autorais, com intuito de lucro, expondo à venda cópia de fonogramas (CDs e DVDs) reproduzidos com violação do direito do autor, do artista intérprete ou executante e do produtor dos fonogramas, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.

Na ocasião, o denunciado foi flagrado pela autoridade policial comercializando 1.242 (um mil duzentos e quarenta e dois) CDs e DVDs 'piratas', os quais foram apreendidos (auto de apreensão da fl. 05/IP) e submetidos à perícia, sendo constatado tratarem-se de produtos falsificados, não autênticos, conforme laudo pericial das fls. 34/38-IP.

ASSIM AGINDO, incorreram os denunciados […] LUCIANO DE JESUS nas sanções do art. 184, §2º, do Código Penal, pelo que o Ministério Público oferece a presente denúncia […].”

Por ocasião da sentença, o juiz de primeira instância

assentou a configuração da autoria e da materialidade do crime de violação

de direito autoral (art. 184, §2º, CP), fazendo-o nos seguintes termos (e-STJ

15/16):

(5)

“Passo a analisar o terceiro fato narrado na denúncia, referente ao delito de violação de direito autoral.

A materialidade e a autoria restaram comprovadas através da ocorrência policial das fls. 08/09, auto de apreensão da fl. 10 e laudo pericial das fls. 39/43, bem como a prova oral colhida, em especial a confissão do réu.

Em seu interrogatório (fl. 66), LUCIANO admitiu que os CDs e DVDs apreendidos eram seus e que iria vendê-los:

'Comprou os CDs piratas de uma pessoa que se mudou para Santa Catarina. Comprou quase 2.000 CDs (…) A intenção era vender. É um vendedor ambulante. (…) Pretendia comercializar os CDs piratas (…) Não sabe se o CD era gravado aqui ou era trazido do Paraguai'.

A policial civil Elizabete Medianeira Squizani Conrado (fl. 74) afirmou que foram apreendidos mais de mil CDs, que estavam acondicionados em uma caixa.

Insta salientar, que o laudo pericial das fls. 39/43, confirmou que os CDs e os DVDs apreendidos eram falsificados.

Destarte, restou comprovado que o réu adquiriu para a revenda CDs e DVDs reproduzidos com violação de direito autoral. Inviável a alegação da defesa de que o crime se deu na forma tentada, eis que o réu admitiu ter adquirido o material que posteriormente foi apreendido.

Inegável, portanto, a caracterização do art. 184, §2º, do Código Penal. Restam afastadas as alegações defensivas em sentido contrário.” (g. n.)

Por seu turno, o voto condutor do acórdão de segundo

grau (e-STJ 59):

“A defesa do réu Luciano, condenado nas sanções do art. 184, §2º, do CP, sustenta a atipicidade da conduta, porque as mídias apreendidas, falsas, ainda não estavam sendo comercializadas pelo réu, embora fosse essa a finalidade. No entanto, no interrogatório o réu confessou que a intenção era vender, que exerce a atividade de vendedor ambulante. Além disso, a grande quantidade de CD's e DVD's falsos apreendidos, ilustra que o propósito realmente era a venda das mídias falsificadas. Não se trata de tentativa, pois o réu já vinha exercendo tal comércio há aproximadamente seis meses, e tinha até um 'ponto de venda' no calçadão de Santa Maria, segundo declarou na delegacia, fls. 21.”

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Conforme se verifica, não houve incongruência entre a

acusação e a condenação, posto que ambas se referiram ao mesmo fato: a

apreensão de 1.242 (mil duzentos e quarenta e duas) mídias CD e DVD,

reproduzidas com violação de direitos autorais, adquiridas pelo Recorrente

com objetivos mercantis.

Frise-se que há incongruência quando a sentença penal

foge dos fatos narrados na denúncia e constantes de eventual aditamento,

promovendo a verdadeira modificação do contexto fático apresentado pelo

órgão acusatório. Não é a espécie vertente, em que os julgadores ordinários

apenas deram interpretação diversa ao art. 184, §2º, do Código Penal, a fim

de considerar configurada a conduta típica mesmo que o agente não tenha

efetivamente exposto à venda as mídias objeto de contrafação. Nada mais

natural, pois o próprio tipo penal tipifica a conduta de adquirir essas mídias

visando auferir lucro. Veja-se:

“Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)

[…] § 2o Na mesma pena do § 1o incorre quem, com o intuito de lucro direto ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. (Redação dada pela Lei nº 10.695, de 1º.7.2003)”

Por fim, embora o Ministério Público tenha sugerido

que a consumação do crime de violação de direito autoral tenha se dado em

razão da exposição à venda do material objeto de contrafação, não há vício

na sentença condenatória que conclui ter o o agente consumado o crime por

simplesmente ter adquirido esses bens: a aquisição é pressuposto lógico da

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exposição à venda e está expressamente prevista como ação configuradora

do tipo penal em comento.

Portanto, irretocáveis as razões consignadas pelo voto

condutor do acórdão objurgado, do qual destaca-se (e-STJ 125/126):

“O princípio da correlação entre acusação e sentença, também chamado de princípio da congruência, representa uma das mais relevantes garantias do direito de defesa, visto que assegura a não condenação do acusado por fatos não descritos na peça acusatória, é dizer, o réu sempre terá a oportunidade de refutar a acusação, exercendo plenamente o contraditório e a ampla defesa.

É certo que, a teor do disposto no art. 383 do Código de Processo Penal, o acusado se defende dos fatos que lhe são atribuídos na denúncia ou queixa, e não da capitulação legal, razão pela qual o juiz poderá, sem modificar a descrição fática, atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que tenha de aplicar pena mais grave.

[…] No caso dos autos, contudo, não vislumbro a referida violação ao princípio da congruência, porquanto a denúncia, rica em detalhes, descreve a prática de vendas de produtos falsificados, fato incontroverso e que a defesa dele ofertou defesa, sobrelevando, ainda, a confissão do réu. A sentença, a seu tempo, longe de divorciar-se dos fatos descritos na exordial, como sufragado pelas instâncias ordinárias, valeu-se de 'uma expressão inadequada', mas que, de forma alguma, alterou a definição jurídica que resultasse na absolvição do paciente.” (g. n.)

Qualquer decisão em sentido diverso não prescindiria

do profundo revolvimento do caderno probatório, prática incompatível com

os estreitos limites cognoscitivos do habeas corpus e seu recurso ordinário.

Brasília, 11 de novembro de 2013.

MARIO JOSÉ GISI

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