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Palavras-chave: Educação física, treinamento, análise estatística, Voleibol.

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Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678

ARTIGO

INCIDÊNCIA DO ATAQUE NO VOLEIBOL INFANTO- JUVENIL FEMININO

Fabio Luiz Gouvêa

Mestre em Educação Física pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas/SP, Docente do Instituto de Ciências da Saúde - Universidade Paulista (UNIP)

Marcelo Belém Silveira Lopes

Doutor em Educação Física pela Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas/SP, Docente da Faculdade de Educação Física - Universidade Estadual de Campinas

Resumo

A preocupação com os métodos do treinamento tem sido uma constante para estudiosos da área, e em desportos como o Voleibol os aspectos técnico e tático têm peso considerável. Diante da necessidade de adequar os métodos e cargas de treinamento com as condições de competição de jovens atletas, o conhecimento das demandas de jogo torna-se um instrumento importante para abordagens mais precisas nessa prática. Este artigo visa dar colaboração nesse sentido, abordando a categoria Infanto-Juvenil feminina através de estudo detalhado das ações ofensivas com observações sistematizadas, preparadas e naturais sem interferência sobre o local dos jogos, através de filmagem em vídeo, com câmera posicionada atrás da quadra onde se colocava uma das equipes. As variáveis analisadas foram a posição e o

jogador que receberam os levantamentos. Foram obtidos os totais e

percentuais de cada uma das variáveis. Em seguida foi utilizada a estatística descritiva bidimensional, cruzando os resultados das variáveis e o teste Qui-Quadrado para verificar se existe associação entre as variáveis analisadas. Os resultados indicaram que em cada posição da quadra há predominância de

jogador que recebe os levantamentos em razão das funções táticas. O

aumento na qualidade da distribuição ofensiva se mostrou necessário pelas constatações feitas: número limitado de bolas de velocidade, concentração de metade das bolas distribuídas para a Posição 4 e uso restrito das bolas de fundo. São dados importantes para melhorar os referenciais de treinamento dessa faixa etária.

Palavras-chave: Educação física, treinamento, análise estatística, Voleibol.

Abstract

The concern with training methods has been constant to the sport scientists, and in sports like Volleyball the technical and tactical procedures are very important. In face of the need to adequate the training methods and loads with the conditions of young athletes’ competitions, knowledge of

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Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678 game’s demands became an important instrument to more accurate approaches and practices. This paper wants to give similar collaboration, boarding junior’s Volleyball female teams by a detailed study of the offensive skills with systematic, prepared and natural observations of matches with no interference on them, with a video-camera positioned on the rear side of the court. The analyzed variables were the position and the player that receive the setting balls. It was obtained the totals and percentages of each variable. It was also made the bi-dimensional descriptive statistic with the variables, and the Chi-Square to verify the association between them. The results indicated that in each position of court there is a predominance of player who receive the setting balls because of the tactical functions, moreover, the percentage of errors under 4% shows the good technical quality. The increase in quality of offensive distribution is something necessary for these evidences: limited number of fast spikes, almost the half of balls were distributed to Position 4 and the very restricted use of back row spikes. These are important data to improve the referential of training these athletes.

Key words: Physical Education, training, statistical analysis, Volleyball

Introdução

O ataque sempre foi visto como elemento determinante no desempenho de uma equipe de Voleibol (assim como em outras modalidades coletivas), pois, é ele quem proporciona a conquista de grande parte dos pontos disputados em uma partida.

Também é considerado um elemento bastante atrativo para os atletas, sendo que a predileção pelo ataque perante a defesa é considerada uma espécie de característica da cultura esportiva em nosso país. Isso pode ser creditado em parte devido ao encantamento que atletas como Pelé, Garrincha ou Romário despertam nos torcedores: todos eles têm em comum o fato de serem jogadores de ataque.

O estudo das demandas de jogo é uma ferramenta que tem sido bastante utilizada para construção de referenciais para o controle das cargas de treinamentos técnicos e táticos. Tavares (2006) afirma que esse uso é justificado na medida em que o desempenho pode ser observado diretamente em situações de treino e competição, e também na busca em otimizar o comportamento dos jogadores e equipes. Porem, alerta que é um processo complexo e que exige a escolha cuidadosa de seus meios e critérios.

Existe uma grande variedade de trabalhos estudando o jogo de Voleibol dentro dessa linha de raciocínio. Eles apresentam algumas diferenças nas formas de análise estatística específicas (Cox, 1974; Eom, Schutz, 1992a e 1992b; Rocha, 2000; Rocha, Barbanti, 2004; Gouvêa, Lopes, 2007), buscando detalhar as demandas táticas (Stoyanov, Andux, 1979; Espa, Ferrer, Sundvisq, 2000; Ramos et al., 2004) e

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analisando das ações de jogo e suas estruturas internas (Moutinho, 1998; Katsikadelli, 1995, 1996 e 1998; Santandreu, Torrento, Del Alcázar, 2000; Ramos et al., 2004; Gouvêa, 2005).

Este artigo visa dar colaboração semelhante, abordando a categoria Infanto-Juvenil feminina (16 e 17 anos) analisando as demandas de cada atacante nas diferentes posições da quadra, o que ajuda a entender a dinâmica ofensiva dessa faixa etária.

Diante da necessidade de adequação dos métodos e cargas de treinamento com as condições de competição dos atletas dessa faixa etária, o conhecimento das demandas de jogo torna-se um instrumento importante para proporcionar abordagens mais precisas nessa prática e resultados mais efetivos.

Platonov (1994) apud Rizola Neto (2004) afirma que a estrutura de um processo de treinamento se caracteriza, entre outros, pela articulação entre os diferentes aspectos do treino e as limitações impostas a eles pelas competições. O controle preciso das cargas de treino para jovens atletas pode ser feito com exercícios específicos da própria modalidade de maneira que os treinos técnico-táticos ocupem em torno 75% do tempo total de treinamento (Tschiene, 1986; Klesshev, 1988).

As ações ofensivas têm uma grande importância, apresentam inúmeras possibilidades em um jogo e trazem uma demanda complexa para os atletas. Essa faixa etária se constitui como o início de um ciclo de formação de atletas que irão atuar futuramente em alto nível desportivo, e nesse ciclo é preciso trabalhar de forma concisa e criteriosa para que se alcance tal objetivo.

O conhecimento gerado por estudos como este torna possível obter dados para um suporte bastante preciso na formação técnica e tática, terá reflexos diretos na racionalização do treino que, por sua vez, contribuirá com a formação de jogadores inteligentes e amplamente aptos para competição.

Metodologia

Este estudo caracteriza-se como uma investigação realizada através de observações sistematizadas, preparadas e naturais sem interferência sobre o local dos jogos, através de filmagem em vídeo, com a câmera posicionada atrás da quadra onde se colocava uma das equipes. As equipes que estavam próximas da câmera tiveram todas as suas ações registradas, assim como no trabalho de Gouvêa (2005).

O registro das ações seguiu os procedimentos do trabalho citado, através de instrumento validado segundo as recomendações de Landis, Koch (1977) e Rocha

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Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678 (2000), utilizando o Índice de Kappa, ideal para o trabalho com dados categóricos. Ele apresenta validade lógica, pois, mede a performance em si (Thomas, Nelson, 2002). Quanto à fidedignidade (intra-avaliador) e objetividade (inter-avaliador) foram obtidos os índices Kappa de 0,95 e 0,87 respectivamente, que representam uma força de concordância altíssima.

Neste estudo foram definidas as variáveis mostradas no Quadro 1 para análise das ações de ataque:

QUADRO 1 - Variáveis analisadas na distribuição ofensiva (levantamento) Variável Categorias de Valores Descrição

Posição Posições da quadra [P1 a

P6] Local de onde a bola foi atacada

Ponta [P] Meio [C] Oposto [O] Jogador

Levantador [L]

Jogador que concluiu a jogada

Existem alguns fatores que podem influenciar de forma importante numa análise dos comportamentos em um jogo:

[1] as ações em esportes coletivos têm um caráter aleatório e não seguem uma distribuição normal (Nevill et al., 2002), gerando dados categóricos e estatísticas não-paramétricas;

[2] o número de ações realizadas em diferentes unidades de um jogo (set) costuma ser bastante diferente e muito sujeito a fatores diversos, como por exemplo os de ordem técnica, tática ou psicológica (Ejem, 1987; Gouvêa, Lopes, 2007);

[3] um conjunto isolado de dados pode dar uma impressão distorcida da performance, sendo recomendado o uso de diversas técnicas estatísticas como, por exemplo, os números absolutos junto com porcentagens, índices de erro, índices de acerto, distribuições conjuntas, entre outras possibilidades (Hughes, Bartlett, 2002).

Dedicando atenção a essas observações, optou-se pela obtenção dos totais e percentuais de cada uma das variáveis. Em seguida foi feita a estatística descritiva bidimensional, cruzando os resultados da variável posição com os da variável jogador. Por fim, foi utilizado o teste Qui-Quadrado (χ2) para verificar se existe associação entre as variáveis analisadas, assumindo como hipótese nula (H0) que a distribuição

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Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678 das bolas para os diferentes atacantes é igualitária em cada uma das seis posições da quadra.

O uso de χ2 para dados deste tipo encontra suporte no trabalho de Nevill et al. (2002) que compararam o uso dessa técnica estatística com outras como distribuição binomial, distribuição Poisson e regressão logística, mostrando que elas apresentam resultados muito próximos e confiáveis.

Resultados

Foram registradas 1432 ações, provenientes de 56 sets filmados em 16 partidas que ocorreram nas fases iniciais do campeonato. A tabela abaixo mostra os valores obtidos para a variável posição.

TABELA 1 - Totais e percentuais para a variável POSIÇÃO. n % P1 37 2,58% P2 354 24,72% P3 271 18,92% P4 717 50,07% P5 14 0,98% P6 39 2,72% TOTAL 1432 100

A figura 1 abaixo representa os dados da tabela 1, permitindo visualizar as bolas atacadas em cada posição da quadra:

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A tabela abaixo apresenta a quantidade de ataques realizados a partir da análise da variável jogador:

TABELA 2 - Totais e percentuais para a variável JOGADOR. n % Ponta 770 53,77% Meio 323 22,56% Oposto 333 23,25% Levantador 6 0,42% TOTAL 1432 100

A tabela 3 apresenta a estatística descritiva bidimensional das variáveis posição e jogador, na qual é possível analisar mais precisamente as demandas ofensivas de cada uma das atletas em todas as posições de quadra.

TABELA 3 - Distribuição conjunta das variáveis JOGADOR e POSIÇÃO.

Ponta Meio Oposto Levant. TOTAL

%jog 0,26% 0,00% 10,21% 16,67% %pos 5,41% 0,00% 91,89% 2,70% P1 n %tot 2 0,14% 0 0,00% 34 2,37% 1 0,07% 37 %jog 13,64% 20,43% 53,75% 66,67% P2 n %pos 105 29,66% 66 18,64% 179 50,56% 4 1,13% 354

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Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678 %tot 7,33% 4,61% 12,50% 0,28% %jog 2,21% 74,92% 3,30% 16,67% %pos 6,27% 89,30% 4,06% 0,37% P3 n %tot 17 1,19% 242 16,90% 11 0,77% 1 0,07% 271 %jog 77,79% 3,10% 32,43% 0,00% %pos 83,54% 1,39% 15,06% 0,00% P4 n %tot 599 41,83% 10 0,70% 108 7,54% 0 0,00% 717 %jog 1,69% 0,31% 0,00% 0,00% %pos 92,86% 7,14% 0,00% 0,00% P5 n %tot 13 0,91% 1 0,07% 0 0,00% 0 0,00% 14 %jog 4,42% 1,24% 0,30% 0,00% %pos 87,18% 10,26% 2,56% 0,00% P6 n %tot 34 2,37% 4 0,28% 1 0,07% 0 0,00% 39 TOTAL 770 323 333 6 1432

Os resultados de χ2 permitiram rejeitar H

0 para todas as posições da quadra, já que existe a predominância de um jogador realizando os ataques nelas e esse é um fenômeno relativamente constante.

TABELA 4 - Cálculo de χ2 para análise da distribuição ofensiva

o e o-e (o-e)2

(o-e)2/e Ponta 2 19,90 -17,90 320,24 16,10 Meio 0 8,35 -8,35 69,65 8,35 Oposto 34 8,60 25,40 644,95 74,96 Outros 1 0,16 0,84 0,71 4,61 P1 χ2 104,01 Ponta 105 190,35 -85,35 7284,48 38,27 Meio 66 79,85 -13,85 191,76 2,40 Oposto 179 82,32 96,68 9347,05 113,55 Outros 4 1,48 2,52 6,33 4,27 P2 χ2 158,49 Ponta 17 145,72 -128,72 16568,65 113,70

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Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678 Meio 242 61,13 180,87 32715,26 535,21 Oposto 11 63,02 -52,02 2705,96 42,94 Outros 1 1,14 -0,14 0,02 0,02 P3 χ2 691,86 Ponta 599 385,54 213,46 45566,15 118,19 Meio 10 161,73 -151,73 23020,65 142,34 Oposto 108 166,73 -58,73 3449,51 20,69 Outros 0 3,00 -3,00 9,03 3,00 P4 χ2 284,23 Ponta 13 7,53 5,47 29,94 3,98 Meio 1 3,16 -2,16 4,66 1,47 Oposto 0 3,26 -3,26 10,60 3,26 Outros 0 0,06 -0,06 0,00 0,06 P5 χ2 8,77 Ponta 34 20,97 13,03 169,76 8,10 Meio 4 8,80 -4,80 23,01 2,62 Oposto 1 9,07 -8,07 65,11 7,18 Outros 0 0,16 -0,16 0,03 0,16 P6 χ2 18.05

Os resultados calculados para as posições da quadra estiveram acima do valor de referencia para 3 graus de liberdade (7,82; p≤0,05). É importante destacar que os valores da Posição 5 foram os que mais se aproximaram do valor de referência e de H0, o que pode ser explicado por dois fatores:

Esta posição da quadra tem a tendência de ter menor ocorrência de ataques em qualquer categoria;

Na maior parte das ações de defesa, os jogadores Meio ou Líbero ocupam esta posição e muito raramente atacam nessa situação.

Discussão

Em relação aos dados apresentados aqui é necessário alertar para o fato de que a maior parte dos estudos, ao contrario deste, se concentra na análise de jogos de Voleibol masculino de alto nível. Dessa maneira, se não há como fazer uma

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comparação mais precisa e direta, ao menos é possível criar referências trabalhos futuros.

As equipes apresentam habitualmente em sua estrutura tática uma levantadora, uma oposto, uma líbero, duas centrais (meio) e duas ponteiras. Pode-se considerar que a atuação das jogadoras meio foi muito restrita, já que elas atacaram 22,56% das bolas (tabela 2), sendo quase 75% delas (tabela 3) na Posição 3 da quadra.

Uma detalhada análise desse tipo de ataque (Gouvêa, 2005) apontou um índice de eficácia de 0,459 o que pode ser considerado bom. A tarefa dos técnicos se concentra, nesse caso, em aprimorar cada vez mais esses resultados. Mas isso pode ser visto de uma outra forma.

Se por um lado existem inúmeras atividades específicas que levam às melhorias técnicas necessárias para tal fim, por outro, Werner, Thorpe, Bunker (1996) afirmam que a aprendizagem por repetição dos fundamentos resulta em jogadores habilidosos, mas com técnicas inflexíveis, com limitada capacidade de decisão para as situações de jogo e muito dependentes do técnico em seu desempenho. Esse perfil é claramente contraditório ao de um atleta de alto nível e esse perfil começa a ser moldado de forma definitiva na categoria Infanto-Juvenil por ser um momento altamente favorável para tal em diversos aspectos (Malina, Bouchard, 1991; Weineck, 1999; Gouvêa, 2005).

Em relação à distribuição restrita de bolas para a Posição 3 aqui encontrada, (18,92%) outros autores apontaram para um uso maior desse recurso em equipes adultas masculinas. Ramos et al. (2004) encontraram 33,1% e 26,2% de bolas desse tipo na análise de 2 equipes masculinas adultas. Rocha (2004) observou 33,87% dessas bolas, enquanto Santandreu, Torrento, Del Alcázar (2004) observaram 31,3%, mesmo considerando que as formas de observação tenham sido ligeiramente diferentes entre si.

Destaca-se uma incidência de um pouco mais da metade das bolas (50,07%) para a Posição 4 da quadra. Isso pode ser ilustrado com o fato de que em alguns momentos durante os jogos analisados o ataque pareceu bastante previsível chegando a utilizar a mesma bola com a mesma atacante em 3 ou 4 ações consecutivas. O número mais próximo do encontrado aqui (44,3%) está na análise da equipe que perdeu a série final de jogos da Superliga 2002/2003, sendo que a equipe vencedora utilizou 29,8% desse tipo de bola, o que de acordo com Ramos et al. (2004) ajudou a explicar a diferença no resultado final.

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A tabela 3 permite visualizar também a variedade de tipos de ataque de cada jogadora em função do local onde elas receberam os passes para essa ação. É possível ver a maior variação de ataques da jogadora oposto nas posições da quadra, com sua maior incidência na Posição 2 (179 e 53,75%), e o maior percentual de bolas em uma posição de fundo de quadra (10,21%) caracterizando ação ofensiva bem definida taticamente. As jogadoras ponta apresentaram 83,54% de bolas recebidas na Posição 4 e menos de 6,5% de bolas recebidas pelas posições de fundo de quadra

Em uma serie de estudos semelhantes, Katsikadelli (1995, 1996, 1998) observou que o total de bolas distribuídas para os atacantes de fundo chegou a 16,5%, 23,1% e 15,8% em cada um dos torneios observados. Santandreu, Torrento, Del Alcázar (2004) observaram 22% de bolas desse tipo, enquanto Ramos et al. (2004) observaram até 19% dessas bolas direcionadas para a linha de defesa.

No presente estudo essa marca é de 6,28% (tabela 1), porem, das 90 bolas passadas para as posições de fundo de quadra (1, 5 e 6), jogadores não-atacantes tocaram em 1 bola e 14 delas foram para a Posição 5, onde não são regularmente realizados ataques com definição tática proposital, portanto, 17% desses ataques de fundo não se constituíram em ação tática bem definida.

Em cada posição da quadra existe o predomínio de ações de uma determinada jogadora, sendo nas Posições 1 e 2 a maioria das bolas recebidas pela jogadora oposto (91,89% e 50,56%), na Posição 3 predomínio das jogadoras meio (89,30%) e assim por diante. Os resultados do teste χ2 já chamaram a atenção para tal fato, confirmando a hipótese inicial de pesquisa.

Até aqui foram analisadas as características mais importantes na distribuição ofensiva de equipes de Voleibol Infanto-Juvenil feminino, foram apontados detalhes a serem observados e trabalhados criteriosamente pelos técnicos, que unidos às considerações de outros autores ajudem a proporcionar evolução e melhorias.

Oslin (1996, p. 27) sugere que é importante se concentrar nas habilidades que os alunos já têm e as abordagens táticas devem permitir “[...] a eles jogar para aprender sobre o jogo”. É importante saber quais são os pontos a serem melhorados, mas que essa melhoria ocorra através das ferramentas que estão disponíveis e não ter a expectativa de que a simples repetição de fundamentos traga melhoras significativas no desempenho.

Sousa apud Piccolo (1999) reforça que a compreensão do jogo é vital devendo haver preocupação com a técnica para que esta seja um complemento que enriquece o desempenho. Nesse mesmo sentido, Kruger, Roth (2006, p. 10) afirmam que o tipo e a qualidade dos movimentos sucedem o “[...] jogar com liberdade, reconhecer e

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Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678 perceber situações de forma correta e compreendê-las desde o ponto de vista tático”. Ou seja, não é suficiente aplicar exercícios de correção técnica se os jogadores não entendem ou não sabem por quê, pra quê e quando vão aplicar o que está sendo trabalhado.

Trata-se do conhecimento tático, no qual estão incluídos, de acordo com Greco e Chagas (1992), elementos cognitivos (percepção, antecipação e tomada de decisão) e a relação dos componentes de jogo (bola, colegas, espaço, tempo, adversários).

Gréhaigne, Godbout (1995) colocam que a construção desse conhecimento tático se baseia nos conhecimentos sobre a organização do jogo, no conhecimento específico da modalidade e no conhecimento sobre as possibilidades de jogo. Em outras palavras, um levantador de técnica exemplar para executar bolas de velocidade (conhecimento específico) sem a percepção de que o melhor bloqueador adversário está concentrado nessa jogada (organização do jogo) e que não disponha de variações para essa situação (possibilidades) tem um conhecimento tático limitado, mesmo que impressione os olhos de quem o assiste em ação.

Rizola Neto (2004) sugere que o treinamento técnico para o levantamento envolve a qualidade da execução dentro dos limites dos atletas e dentro de um planejamento temporal, enquanto o treinamento tático deve enfatizar a percepção, a tomada de decisão e o aprimoramento da avaliação das condições de jogo, em conformidade com Graça (1998).

Conclusões

O instrumento utilizado para análise das ações de distribuição ofensiva demonstrou que na distribuição ofensiva existem variados detalhes a serem observados pelos treinadores de equipes da categoria Infanto-Juvenil.

Um fato que merece olhar extremamente cuidadoso é a forma de ataques realizados pelas atacantes de meio: 74,92% de bolas atacadas na posição 3 da quadra. Isso representa que a qualidade de execução tem um bom padrão técnico, mas pouca variabilidade tática. Uma performance de qualidade resulta de atletas suficientemente bem preparados em vários aspectos. Não adianta ter muita força para atacar uma bola se esta não for atacada no lugar certo, assim como não é suficiente para um jogador de futebol chutar todas as bolas na direção do gol, mas seus chutes não terem potência.

O aumento na qualidade da distribuição ofensiva se mostrou necessário pelas constatações feitas aqui. Muitos pontos da análise reforçam essa afirmação: a

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distribuição muito limitada de bolas de velocidade (geralmente bolas na Posição 3 para as atacantes centrais), a concentração de quase metade das bolas distribuídas para a Posição 4 (uma bola mais lenta) e estas muito concentradas nas atacantes de ponta, alem do uso também bastante restrito das bolas de fundo e de poucas jogadas combinadas com troca de posições na rede (em torno de 10%).

Um aspecto positivo a ser apontado é a tendência de versatilidade no ataque das jogadoras da função oposto, para as quais a distribuição de bolas não apresentou uma grande concentração em determinadas posições da quadra como ocorreu com as outras atacantes. Isso indica um certo nível de confiança no ataque para essas jogadoras.

A importância da tática já foi explicitada por muitos autores, especialmente em esportes coletivos como o Voleibol, e alcançar um bom nível nesse aspecto não é tarefa das mais simples já que envolve a coordenação de variadas capacidades com a solidez da técnica das ações, que só acontecem por uma aprendizagem muito bem estruturada.

O cenário ideal inclui um uso maior de jogadas com trocas de posição na rede, a variabilidade de tipos de ataque e um incremento na quantidade de bolas de fundo, pois, todos estes expressam a máxima capacidade tática de uma equipe.

Por ser uma contribuição inicial para formar referenciais específicos da faixa etária e do gênero, existem detalhes que podem ser aprimorados em estudos como este, especialmente na forma de registro das ações que necessita ser feita de maneira mais eficiente, talvez com o uso de programas de computador destinados a esse fim. O uso mais constante de instrumentos como este e a difusão de todo o conhecimento acerca da formação de jogadores contribuirá de forma importante para o

aparecimento de novos valores na modalidade.

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R. Adalberto Fischer, 111 Pq. da Represa - Jundiaí/SP CEP 13214-582

Tels.: 11-45812991/99298801 e 19-97817117

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Movimento & Percepção, Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 9, n. 12, jan./jun. 2008– ISSN 1679-8678 Data de recebimento: 17 /3/08

Data de aceite: 29/04/08

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