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CRIANDO O MUNDO QUE VEMOS. A verdadeira mágica da descoberta não está em buscar novas paisagens, mas em ver com novos olhos. Marcel Proust (1899)

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CRIANDO O MUNDO QUE VEMOS

A verdadeira mágica da descoberta não está em buscar novas paisagens, mas em ver com novos olhos.

Marcel Proust (1899)

Um aspecto essencial da criatividade consiste em aprender a ver as coisas com novos olhos. Muito facilmente olhamos o mundo através das lentes do passado, em vez de estarmos abertos para ver as coisas como são. Se quisermos responder criativamente aos tempos radicalmente diferentes que estamos adentrando, precisaremos estar dispostos a desafiar nossos antigos modos de pesnsar e a aprender a ver tudo de maneira nova.

Podemos achar que vivemos no presente, mas quantos de nós estão dispostos a ver o mundo e tudo o que fizemos com novos olhos? Por mais valiosa que possa ser nossa experiência do passado, ela tem o hábito desagradável de distorcer a nossa visão do presente e do futuro. Com que frequência respondemos a uma pessoa em razão de alguma coisa que ela disse há anos atrás? Até que ponto a nossa opinião de um filme é afetada pelo que os críticos dizem? Quantas vezes supomos que o futuro será como o passado?

Não devemos subestimar a força desse condicionamento. Sem termos consciência disso, o passado assombra quase todos os aspectos da nossa vida. Tampouco devemos subestimar a dificuldade para sair disso. Esta é uma das questões fundamentais, com a qual as empresas se defrontam na tentativa de administrar a mudança.

JUÍZOS DE VALOR

Evans, Roger e Russel, Peter. O Empresário Criativo. Editora Cultura, São Paulo, SP. 1989 pags. 83 a 97.

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Não só a nossa percepção sensorial é determinada pelo passado. Quando criamos uma imagem do mundo, passamos a acumular sobre essa “realidade” julgamentos, interpretações e avaliações. E estes igualmente têm como base o passado. Ouvimos as palavras que alguém nos diz e, involuntariamente, as interpretamos tomando como base nossos sentimentos em relação a essa pessoa.

Essas idéias preconcebidas que impomos à realidade são conhecidas pelos psicólogos com o nome de “juízos de valor”. No linguajar diário, os juízos de valor levam diferentes nomes — atitudes, convicções, tendências, valores, suposições, preconceitos, julgamentos, estereótipos. Eis alguns exemplos comuns de juízos de valor:

Todos os políticos são corruptos.

Homens de negócio só pensam em dinheiro. Um bom ensino prepara-o para toda a vida.

Pessoas com sangue latino são afetuosas e apaixonadas. Quanto mais trabalhar, mais bem-sucedido serei.

Às vezes as pessoas chegam à conclusão de que ter juízos de valor é, de alguma forma, errado ou desnecessário. Na verdade, eles são absolutamente fundamentais. Sem eles, não seríamos capazes de compreender o mundo em que vivemos e nos relacionar com ele. Não conseguiríamos processar e avaliar novas experiências — juízos de valor são pontos de referência e apoio.

Embora os juízos de valor sejam essenciais enquanto ponto de referência atual, eles não são a verdade absoluta, mas apenas uma opinião. Como tal, precisam ser atualizados com regularidade.

Precisamos aprender a dar um passo atrás e tomar consciência dos nossos juízos de valor, avaliando o quanto eles condicionam nossa experiência da realidade.

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Alguns dos nossos juízos de valor são tão fortes que distorcem nossa percepção da realidade. Podemos ter passado pela experiência de adquirir um carro que considerávamos especial e raro. No dia seguinte vemos este carro quase em todos os lugares para onde olhamos. É como se o fabricante houvesse instigado uma campanha de marketing, triplicando as vendas da noite para o dia. Quando as mulheres engravidam repentinamente, passam a ver mulheres grávidas em toda a parte. Ou então deparamos com uma nova palavra, procuramo-la no dicionário e passamos a vê-la em todo o lugar, como se fosse a última moda. Não é que o número de carros, de mulheres grávidas ou o uso de uma palavra tenham realmente aumentado; nossa mente é que agora está pronta para pôr-se a ver essas coisas; por isso registramos incidentes que antes teriam passado despercebidos.

Contudo vez ou outra um juízo de valor pode ser tão “exacerbado” a ponto de, em nosso esforço para adaptá-lo aos dados novos, podermos, na verdade, “ver” coisas que não existem.

Uma vez que estabelecemos uma forma de ver as coisas, facilmente nos agarramos a ela. Nossa percepção passada pode criar um juízo de valor exacerbado para ver uma situação de determinada maneira. Contudo, os fatos podem mudar com o passar do tempo, ainda que não consigamos perceber o novo, pois olhamos as coisas através de um velho juízo de valor.

Na nossa vida diária encontramos padrões de juízos de valor que se tornam arraigados e nos enganam. É comum os pais se deixarem limitar por antigos juízos de valor sobre seus filhos em crescimento, considerando muitas vezes o adolescente segundo o juízo de valor que tinham quando o filho estava com 10 anos. O mesmo pode acontecer com nossos parceiros. Assim como a maioria das pessoas, eles mudam com o tempo e, no entanto, quantas vezes nos apegamos a nossas antigas opiniões e não percebemos as mudanças pelas quais passam?

Esta propensão para manter-se fiel a determinado ponto de vista ocorre até mesmo em um primeiro encontro com uma pessoa e pode ser predeterminado pela menor quantidade de informação. Uma turma de alunos

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do Instituto de Tecnologia de Massachusetts começaria a ter aulas com um novo conferencista. Como experiência, metade do grupo recebeu a seguinte informação sobre o novo conferencista: “Aluno graduado no Departamento de Economia e Ciências Sociais do MIT, tem três semestres de experiência de ensino de psicologia em outra faculdade. Este é o seu primeiro semestre lecionando economia. Tem 26 anos e é casado. As pessoas que o conhecem consideram-no uma pessoa bastante sensível, esforçada, prática e determinada.” A outra metade do grupo recebeu exatamente a mesma informação, exceto pelo seguinte: disseram-lhe que ele era “... uma pessoa bastante fria, esforçada, crítica, prática e determinada”.

Os dois grupos de alunos reuniram-se e assistiram a duas aulas com o novo conferencista. Foi-lhes pedido, então, para avaliar a atuação do professor. Surpreendentemente, os que esperavam uma pessoa “sensível”, achavam o conferencista bem mais atencioso, informativo, sociável, popular, de boa índole, brincalhão e humano de que os alunos que esperavam uma pessoa “fria” — embora ambos os grupos tivessem assistido exatamente às mesmas preleções. Evidentemente, o que consideravam como um julgamento individual, fora na verdade determinado pelo juízo de valor que lhes havia sido sugerido. Eles fizeram o conferencista ajustar-se ao modelo dado.

O exemplo acima indica claramente quatro princípios básicos de juízos de valor em atuação:

NÓS CRIAMOS O QUE VEMOS. A percepção subjetiva do conferencista como uma pessoa atenciosa/desatenciosa, sociável/insociável, divertida/não divertida, etc., é criada dentro da mente do aluno e não existe indiscutivelmente “do lado de fora”.

OS MESMOS FATOS PODEM OFERECER MAIS DE UMA REALIDADE. Todos os alunos assistiram exatamente às mesmas palestras, mas viram dois conferencistas diferentes.

VEMOS O QUE ESPERAMOS VER. As informações previamente dadas haviam “excitado” os juízos de valor dos alunos, e o conferencista combinava com suas expectativas.

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JUÍZOS DE VALOR SÃO AUTOCONSOLIDADORES. Esses três princípios juntos produzem um sistema autoconsolidador. Os alunos que consideravam o conferencista uma pessoa “sensível” tiveram a tendência a ver uma pessoa “sensível”, reforçando assim seu juízo de valor original e mantendo-se fiéis a ele.

Como Lidar com nossos juízos de valor

Já vimos como os juízos de valor afetam a nossa percepção do mundo. Sua influência, contudo, não termina aí. Eles causam um impacto em nossos pensamentos e em grande parte do nosso comportamento.

Se nossos juízos de valor exercem um efeito tão poderoso sobre nossa percepção e os nossos pensamentos, poderíamos perguntar se não seria melhor livrarmo-nos deles. A resposta é não. Sem juízos de valor, não poderíamos estruturar nossa percepção no mundo, não teríamos meios de criar uma realidade coerente nem tampouco de distinguir o certo e o errado; não teríamos um mecanismo para dar ordem a nossas vidas, nem base para decidir o que fazer. Na realidade, os juízos de valor são janelas através das quais vemos o mundo — sem uma janela, nada veríamos. Eles são absolutamente essenciais para a consciência humana.

Nossa mente é influenciada, desde a mais tenra infância, por nossos pais, pela escola, pelos meios de comunicação, pelos amigos e pela cultura na qual vivemos. Como cada um de nós passa por diferentes experiências, somos influenciados de maneiras diversas — olhamos o mundo através de janelas ligeiramente diferentes. Quando encontramos alguém cujo juízo de valor sobre determinada questão é diferente do nosso, facilmente consideramos o juízo de valor do outro como sendo errado — e o nosso como certo. Assim, “a pena de morte é um erro”, “comunistas são um erro”, “o controle paterno é um erro”, ou tudo aquilo que for discordante da nossa visão alimentada “é um erro”! Isso não significa que todas as visões do mundo são corretas. A questão

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é que, inconscientemente, supomos que nossa visão da realidade é a única, e não estamos abertos ao valor que os juízos de outrem possam ter ou não.

Para administrar nossos juízos de valor precisamos primeiro ter consciência de quais juízos de valor estão atuando em determinada situação. Temos então de perguntar a nós mesmos: “Como esse juízo de valor me serve e como ele me impõe limites?“

Depois de explorar de que modo um juízo de valor pode nos ajudar ou nos prejudicar, estamos em condições de considerar a pergunta: “Até que ponto sou o mestre deste juízo de valor, e até que ponto sou sua vítima?“ Quando somos a vítima de um juízo de valor, ele controla nossa forma de ver, pensar e nosso comportamento — sem que tenhamos consciência disso. Ter domínio sobre o juízo de valor não significa eliminá-lo ou controlá-lo, mas sim percebê-lo como ele é: uma janela para o mundo. Reconhecemos de que maneira ele nos serve e nos limita. E assumimos a responsabilidade pelos efeitos que exerce sobre nós. Ter domínio sobre o juízo de valor significa escolher de que maneira ele influencia a nossa maneira de ver, de pensar, e o nosso comportamento.

Referências

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