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SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO EM REDE. Resumo

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Academic year: 2021

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SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO EM REDE

Cleide Aparecida Carvalho Rodrigues1

Resumo

A proposta para a realização do SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO EM REDE surgiu durante uma das atividades do Grupo de Estudos de Novas Tecnologias e Educação (Gente)2

, formado por professores e pesquisadores da Educação e da Comunicação. Para compreender o processo de construção deste evento é importante destacar os aspectos positivos e desafiadores propostos para a tessitura da Educação em Rede.

O fio condutor

As atividades do grupo de estudo Gente perduraram de 1995 a 2003 e provocaram desdobramentos na vida acadêmica da UFG, tais como a constituição de projetos de pesquisas e, especialmente, a criação da disciplina Novas Tecnologias e Educação no curso de especialização em Educação do Projeto de Formação de Recursos Humanos para a Educação Básica do Estado de Goiás.

Posteriormente, com as alterações ocorridas no contexto acadêmico a realização de minicursos sobre a temática, a instalação do Laboratório de Educação e Multimídias (LEM) na FE/UFG e a conclusão de pesquisas3 que aproximavam os dois campos de investigação, mais razões surgiram para dar continuidade às reflexões.

Em nível nacional, tivemos artigos publicados na Revista Comunicação e Educação, participamos de Núcleos de Estudos, como o de Estudos da Recepção da ECA/USP e de congressos nacionais e internacionais, o que fortalece, mais ainda, a nossa necessidade de enfrentar as discussões referentes as relações entre tecnologias, comunicação em processos educativos presentes, com maior intensidade, nas políticas públicas a partir da segunda metade da década de 90. Exemplo disso temos os

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Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás e doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia.

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O Gente foi criado nos anos de 1995 e 1996 por um grupo de professores/pesquisadores das Faculdades de Comunicação e Biblioteconomia e de Educação da UFG e das unidades da Educação da UCG, interessados em desenvolver estudos sobre novas tecnologias e educação.

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Programas de informatização das escolas, de Inclusão digital e de cursos a distância para formação continuada de professores.

Em 1999, teve início na FE/UFG o curso de Pedagogia criado mediante parceria com a Secretaria Municipal de Educação e em cuja grade curricular foi introduzida a disciplina Novas Tecnologias e Educação. Em 2000, teve início o projeto de pesquisa

Infovias e Educação, e das reflexões teóricas que propiciou surgiram propostas de

práticas que incorporavam a tecnologia de redes de informação e comunicação na formação de professores, sendo um deles o Museu Virtual da Escola em Goiás. Ainda nesse mesmo ano, o Núcleo Formação e Profissionalização Docente, do Mestrado em Educação Brasileira da FE/UFG, incorporou o projeto sobre a temática, e o LEM foi agregado ao Setor Técnico de Ensino (SETE) da FE/UFG. Em 2003, com a mudança da grade curricular, a disciplina Educação, Comunicação e Mídias foi inserida no curso de Pedagogia da UFG.

Desde seu início, o Gente tem se constituído como espaço de reflexão sobre educação, informação e comunicação, por meio de colóquios com visitantes e convidados da UFG. Esses colóquios possibilitaram reflexões de forma coletiva, multidisciplinar e aprofundada, mediante o debate sobre a aproximação entre educação e comunicação, bem como da socialização de pesquisas e estudos dos membros que o compõem.

A partir de 2003, as atividades do Gente foram suspensas, tendo em vista a aposentadoria de sua então coordenadora, professora Mirza Seabra Toschi, e a saída de outros integrantes do grupo para o doutorado. Considerando todo esse quadro contextual, propõe-se agora a recomposição do Gente como espaço de produção teórica e prática, ampliando a temática inicial, Educação e Comunicação, com a da Educação a Distância, bem como os desdobramentos das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) nos processos de ensino e aprendizagem.

A recomposição do Gente em 2006 visou ampliar e agregar a participação de interessados em estudar e discutir temas escolhidos pelos membros do grupo, bem como socializar esses estudos em eventos internos e externos da UFG e, ainda, em publicações acadêmicas. Neste sentido, realizou atividades de socialização de três resultados de projetos de pesquisa, discutiu o tema da inclusão digital, e ainda participou do XV Simpósio de Estudos e Pesquisas da Faculdade de Educação, ofertando três minicursos e apresentando duas pesquisas. Também realizou o Seminário de EAD, oportunidade em que a Secretaria de Educação do Estado e as instituições

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formadoras Universidade Federal de Goiás, Universidade Estadual de Goiás, Universidade Católica de Goiás, Faculdades Alfa, Cefet e Senac apresentaram suas propostas e experiências de EAD. Pode-se dizer que o resultado desse seminário foi o fio condutor da realização do Seminário de Educação em Rede, pois naquele momento seus participantes apontaram a necessidade de ampliarmos a discussão sobre a temática das tecnologias e da educação, o que ocorreu nos dois seminários4 subsequentes, emergidos do Gente.

Os fios da rede

Com o entendimento de que a educação é um processo de construção humana e, portanto uma prática social, o processo educativo em rede para organização deste evento, é concebido como processo de produção cultural, rompendo com a perspectiva linear, homogênea, disciplinar, hierárquica e fragmentada. Desse modo, pode-se dizer que numa mesma abordagem de comunicação, a educação é concebida como processo de produção cultural, pois, como indaga Citelli (2000, p. 58 ), “como pensar o sistema educacional, a escola, o discurso pedagógico exercitado nas salas de aula, considerando esse mundo fortemente mediado pelas relações comunicacionais, na sua dupla face de sedução e desconforto?”

Embora muitos acreditem que a utilização de tecnologias caracterize o ensino como instrumental, considera-se, aqui, que tanto a comunicação dialógica quanto a não dialógica seja o elemento que configure as abordagens educacionais.

Com base nas teorias da comunicação, é possível reconhecer que em um processo de formação que utilize as tecnologias de informação e comunicação existem saberes e experiências convergentes entre os dois campos. Na Teoria Crítica da Recepção5

, por exemplo, as relações comunicativas são concebidas como um processo que desfaz a estrutura hierárquica de poder, já que o receptor é um sujeito ativo no estabelecimento dessas relações. Construídas por meio das novas tecnologias de informação e comunicação, essas relações constituem um potente espaço de formação

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I Seminário de Educação em Rede – 2007 e II Seminário de Educação em Rede – 2009 5 A teoria da recepção muda o eixo de entendimento da relação entre o emissor e o receptor. Este, antes

colocado numa posição secundária no processo comunicativo, passa a ser, ao mesmo tempo, o ponto de partida e de chegada desse processo. O emissor, por sua vez, é tido como um sujeito que organiza, medeia a comunicação e promove a construção de uma estrutura de leitura de saberes ou mesmo de produção de saberes, garantindo as interações inerentes ao processo comunicativo.

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humana, de relações interpessoais e de novas formas de organização social. Um processo que, definido por contradições, convergências e tensões entre os sujeitos, caracteriza as relações estabelecidas no âmbito educativo, na forma de organização e socialização do saber, expressas nas práticas pedagógicas.

Outra contribuição da Teoria da Recepção refere-se ao fato de que a percepção do receptor sobre a mensagem – e não o efeito da mensagem ou do conteúdo ideológico da mensagem sobre ele – torna-se o objeto de articulação do núcleo de produção. Logo, a recepção é construída no e pelo campo do receptor, com base num mecanismo implícito, segundo o qual o emissor “sabe que o receptor sabe”. A partir desse princípio, concebe-se uma nova estrutura de interação entre os sujeitos do processo de comunicação e se desfaz a posição hegemônica do emissor, dada pelas teorias de caráter linear.

No “novo” enfoque de interação dado pela teoria da recepção, emissor e receptor são sujeitos de um mesmo processo comunicacional. A interação entre esses sujeitos requer posições que resultam de um jogo em que o intercâmbio de saberes e imaginários gera outros saberes, outros imaginários e outros traçados para os fios de uma rede.

Segundo Sousa (1995), a teoria da recepção constrói um novo perfil de receptor, ultrapassando a dimensão de um sujeito-indivíduo ou de um sujeito-social, que se confunde com o consumidor social ou desafiador de si mesmo. Nessa teoria, a concepção de receptor é construída a partir da rearticulação do conceito amplo de comunicação com o conceito de homem como um ser histórico-cultural. Assim, o conceito de receptor é redimensionado a partir da ideia de indivíduo sujeito-receptor inserido no mundo cultural, o que se confirma nas palavras de Sousa (1995, p. 27): “Esse receptor é melhor percebido no mundo da cultura em produção, mais popular, em que a própria comunicação se encontra, daí surgindo novas chances para o encontro do sujeito”.

Com base nesse processo de interação, configura-se a ideia de rede, que corresponde à abordagem rizomática de organização do conhecimento. Nessa abordagem, busca-se romper com a estrutura do conhecimento arbóreo, instalando relações conectivas e não-lineares entre os sujeitos e os seus saberes.

Na estruturação de uma rede de aprendizagem que integre relações presenciais e virtuais, coloca-se em pauta a ruptura da organização do processo educativo sob a ótica da noção de tempo e espaço sincrônicos, e não sincrônicos, pois ela promove formas diferentes de organização do trabalho pedagógico. Isso significa que a estrutura

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de uma educação em rede pauta-se para além do uso instrumental das tecnologias, isto é, na problematização e no compartilhamento de saberes e dúvidas, por meio de um processo comunicativo interativo, pois os sujeitos participantes de uma rede são protagonistas dos processos, e não meros receptores.

Para caracterizar a concepção de rede, sob o foco da comunicação dialógica, é necessário destacar alguns aspectos importantes:

• Uma rede de aprendizagem é intencional;

• Utiliza formas sistemáticas de meios e recursos tecnológicos nos processos comunicacionais;

• Rompe com as relações lineares de aprendizagem, nas quais apenas um ensina e outros aprendem;

• A construção de conhecimento não é da lógica cartesiana, e sim da rizomática; • Uma abordagem conectiva não instrumental promove aprendizagem individual

e/ ou coletiva;

• Apresenta um processo comunicativo bidirecional e interativo;

• Possibilita a democratização da educação pela possibilidade de acesso, rompendo com limitações espaciais e temporais.

As características supracitadas se tornarão evidentes nos projetos que buscam integrar as tecnologias nos processos de aprendizagem, na medida em que o trabalho colaborativo se instaura na organização e realização de atividades como as deste III Seminário de Educação em Rede.

A concepção de educação em rede deste projeto considera a dimensão articuladora dos sujeitos e das instituições que pretendem tecer outros fios dessa rede integrada. Enfim, os sujeitos participantes do grupo Gente são os geradores dos fios que constituem essa rede, os quais envolvem saberes, pessoas, tecnologias, motivações, dúvidas, enfim, comunicações que garantem as interações e a construção de pensamentos divergentes e ações colaborativas.

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REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

CITELLI, Adilson Odair. Comunicação e educação: A linguagem em movimento. São Paulo: Editora SENAC, 2000.

KENSKI, Vani. As tecnologias e o ensino presencial e a distância. São Paulo: Papirus, 2004.

______. Educação e tecnologias: O novo ritmo da informação. Ed. Papirus, 2006. GALLO, Silvio. Conhecimento, transversalidade e educação – para além da interdisciplinaridade. Impulso. Piracicaba: Unimep, p. 115-133, out. 1997.

SOUSA, Mauro Wilton. Recepção e comunicação: a busca do sujeito In: Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense/Eca/USP, 1995.

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