• Nenhum resultado encontrado

A violação dos direitos humanos dos migrantes por meio da política de externalizanção das fronteiras europeias no controle de fluxos migratórios

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A violação dos direitos humanos dos migrantes por meio da política de externalizanção das fronteiras europeias no controle de fluxos migratórios"

Copied!
46
0
0

Texto

(1)

KLARISSA LAZZARIN DE SÁ

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DOS MIGRANTES POR MEIO DA POLÍTICA DE EXTERNALIZANÇÃO DAS FRONTEIRAS EUROPEIAS NO

CONTROLE DE FLUXOS MIGRATÓRIOS

Ijuí (RS) 2016

(2)

KLARISSA LAZZARIN DE SÁ

A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DOS MIGRANTES POR MEIO DA POLÍTICA DE EXTERNALIZANÇÃO DAS FRONTEIRAS EUROPEIAS NO

CONTROLE DE FLUXOS MIGRATÓRIOS

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais

Orientador (a): Dr. Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth

Ijuí (RS) 2016

(3)
(4)

AGRADECIMENTOS

A Deus, por todas as coisas que tem proporcionado ao longo da minha vida

À minha família, pelo amor, incentivo e compreensão.

Ao Renan Fracaro, pelo companheirismo, motivação e carinho sem medidas.

Ao meu querido orientador, Dr. Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth, pelo privilégio de desfrutar de seus ensinamentos, pela amizade e dedicação em me conduzir pelos caminhos da pesquisa.

À UNIJUÍ e a todos os professores do curso, que foram tão importantes para minha evolução acadêmica.

(5)

“Ebony and ivory live together in perfect harmony Side by side on my piano keyboard, oh lord, why don't we? We all know that people are the same wherever we go There is good and bad in ev'ryone We learn to live, we learn to give Each other what we need to survive together alive

Ebony and ivory live together in perfect harmony Side by side on my piano keyboard, oh lord why don't we?

Ebony, ivory living in perfect harmony Ebony, ivory, ooh

We all know that people are the same wherever we go There is good and bad in ev'ryone We learn to live, we learn to give Each other what we need to survive together alive

Ebony and ivory live together in perfect harmony Side by side on my piano keyboard, oh lord Why don't we?” Ebony and Ivory – Paul McCartney

(6)

RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise das políticas migratórias contemporâneas da União Europeia, sob a ótica da tutela dos Direitos Humanos, que, em razão da crise econômica vivenciada, reproduzem a figura do migrante como “parasita social”, priorizando o controle das fronteiras no sentido de sua “impermeabilização”, bem como na perseguição e expulsão dos imigrantes que eventualmente conseguem transpô-las de forma irregular, praticando verdadeiras atrocidades. Nessa perspectiva, o presente trabalho de pesquisa procura evidenciar esse retrocesso, analisando as medidas que vêm sendo gestadas no controle de fluxos migratórios da realidade europeia.

Palavras-Chave: Direitos Humanos. Fronteiras. Migração. União Europeia.

(7)

ABSTRACT

The present work of monographic research makes an analysis of contemporary migration policies of the European Union, from the perspective of protection of Human Rights, which, because of the experienced economic crisis, reproduce migrant is a "social parasite", prioritizing the control of borders towards its "waterproofing" as well as the persecution and expulsion of immigrants who eventually can transpose it them irregularly practicing true atrocities. In this perspective, the present research seeks to highlight this setback, analyzing the measures it has been gestated in control of migratory flows of European reality.

Keywords: Human Rights. Borders. Migration. European Union.

(8)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 8 1 PERSPECTIVA HISTÓRICA DOS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS NA UNIÃO EUROPEIA... 10 1.1 O fenômeno migratório na contemporaneidade...11 1.2 As políticas migratórias europeias contemporâneas e suas determinantes... 15 2 DIREITOS HUMANOS E CONTROLE FRONTEIRIÇO NA UNIÃO EUROPEIA: fronteiras externalizadas... 24 2.1 O Pacto Europeu de Imigração e Asilo de 2008 e a externalização de fronteiras da União Europeia... 26 2.2 O impacto da externalização de fronteiras no que se refere à violação de direitos humanos dos migrantes na União Europeia... 32 CONCLUSÃO... 41 REFERÊNCIAS... 43

(9)

INTRODUÇÃO

A formação de políticas migratórias e o controle da migração internacional experimentam um novo enfoque da segurança nacional estritamente vinculado com o controle e militarização das fronteiras e a construção de muros nas linhas divisórias, principalmente após os atentados em Nova Iorque (2001), Madrid (2004) e Londres (2005). Essas ações que consideram a permeabilidade das fronteiras e a imigração não autorizada como ameaças à segurança nacional, têm resultado no estabelecimento de dispositivos físicos e humanos de contenções fronteiriças e migratórias apoiados por sofisticadas tecnologias.

Assim, as instâncias governamentais, encarregadas de administrar e controlar as migrações internacionais dos países receptores de imigrantes e em territórios de trânsito migratório, se organizam respondendo a essa orientação estabelecendo controles migratórios para excluir o ingresso dos imigrantes não desejados, provocando constantes “acidentes” que resultam em morte de imigrantes em áreas de trânsito, marítimas ou terrestres, demonstrando que tais práticas não têm servido para frear a migração, mas evidenciam o descaso absoluto para com a tutela dos direitos humanos dos migrantes.

Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar de forma mais detalhada, com enfoque nos direitos humanos, essa emergente e recente arquitetura política dos movimentos migratórios, as diferentes práticas de controle das distintas formas de fronteiras europeias, principalmente as terrestres e marítimas na perspectiva do processo de externalização de fronteiras viabilizado pelo Pacto Europeu sobre Imigração e Asilo, tanto do ponto de vista físico como simbólico, que colocam em risco direitos e garantias como direito à vida, ao asilo e à liberdade de circulação dos migrantes.

(10)

Dessa forma, o primeiro capítulo apresenta alguns aspectos do contexto histórico das migrações na contemporaneidade, destacando principais eventos que impulsionaram os grandes movimentos migratórios, sendo então analisado no segundo momento do referido capitulo, as políticas migratórias na União Europeia a partir das bases nas quais estão assentadas, em especial no que se refere à segurança, avaliando quais as funcionalidades da gramática do risco para a consecução dos objetivos (declarados ou não) das referidas políticas.

O último capítulo se ocupa da análise do recrudescimento de tais políticas voltado ao controle dos fluxos migratórios decorrente do fato de que a imigração é vista como uma “ameaça” diante do esgotamento de estratégias do Estado de Bem-Estar Social e do consequente “parasitismo social” representado pelos imigrantes. A “potencialidade terrorista” contribui, nesse sentido, para a construção de uma imagem distorcida dos imigrantes ilegais, o que reflete nas respostas institucionais aos fenômenos migratórios.

Com efeito, o aumento do controle migratório e da vigilância de fronteiras no sentido de sua impermeabilização, reafirma o paradoxo de um mundo que, quanto mais globalizado, mais dividido se encontra. A liberdade de movimento que inclui o direito de cruzar as fronteiras nacionais e a externalização responde a temores injustificados de invasões estrangeiras. À vista disso, a externalização de fronteiras já é uma realidade a partir do Pacto Europeu de Imigração e Asilo de 2008.

Assim, imperioso refletir sobre as implicações dessas políticas migratórias ratificadas pelo Pacto Europeu sobre Imigração e Asilo, propondo os debates necessários, tendo por enfoque os direitos humanos, do complexo fenômeno da migração internacional, suas causas e consequências.

(11)

1 PERSPECTIVA HISTÓRICA DOS MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS NA UNIÃO EUROPEIA

Migrar é parte do comportamento natural das sociedades humanas. Para diferenciar de processos individuais se passou a chamar de movimentos migratórios aos deslocamentos em massa de populações, de uma região ou país (MALGESINI; GIMÉNEZ, 2000). Esses movimentos de camadas populacionais fazem parte de um processo contínuo e infindável, desencadeado por uma série de fatores, tais como econômicos, culturais e político-sociais. “La especie humana comienza a expandirse desde sus orígenes africanos, para ir colonizando y adaptándose progresivamente a todos los ecosistemas del planeta que permiten su subsistencia”. (LACOMBA, 2008, p. 9).

Na contemporaneidade, as migrações nem sempre ocorrem voluntariamente. Em muitos casos, são forçadas. Nesse sentido, Bauman (2005, p, 50) refere que:

desde o princípio, a era moderna foi uma época de grandes migrações. Massas populacionais até agora não calculadas, e talvez incalculáveis, movem-se pelo planeta, deixando seus países nativos, que não ofereciam condições de sobrevivência.

Essa massa populacional saiu da Europa para outros continentes em busca de locais com baixa população e muitos recursos naturais. Este fenômeno ocorreu porque estas pessoas não tinham capacidade para manter-se nos empregos ou até mesmo de herdar um status social nos países de origem: estavam simplesmente ocupando espaço.

Pode-se perceber que na época das grandes migrações os países europeus encontraram uma maneira de se livrar das pessoas que não tinham capacidade para a sua manutenção. Hoje, com a globalização do mundo, com o livre mercado, a economia, o livre consumo, estas pessoas incapazes de se manterem estão em todo planeta e já não existe mais locais vazios para largá-las (BAUMAN, 2005).

Durante el siglo XIX, como consecuencia de los profundos cambios provocados por la transición demográfica, las transformaciones en la agricultura y la propiedad rural y, principalmente, por los efectos sociales de la Revolución Industrial, se ha estimado que casi 100 millones de personas cambiaron de país, de las cuales más de la mitad emprendieron una migración transoceánica con destino a América. Estos movimientos migratorios, que duran desde alrededor de 1830 hasta el fin de la II Guerra

(12)

Mundial, se conocen como “hacer la América” en casi todos los países europeos. (MALGESINI; GIMÉNEZ, 2000, p 281).

Para frear a entrada de imigrantes no seu território, a União Europeia passou a usar cada vez mais políticas repressivas e excludentes, resultado no estabelecimento de dispositivos físicos e humanos de contenções fronteiriças e migratórias apoiados por sofisticadas tecnologias, priorizando o controle das fronteiras, sem respeitar, em muitos casos, os direitos humanos dos migrantes, principalmente em decorrência dos riscos que foram a eles associados após os atentados terroristas ocorridos em Nova Iorque (2001), Madrid (2004) e Londres (2005), bem como os recentes atentados em Paris (2015). Passou a se considerar a permeabilidade das fronteiras e a imigração não autorizada como ameaças à segurança nacional.

Feitas essas primeiras colocações, esclarece-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar o tema primeiramente em uma perspectiva histórica das migrações contemporâneas, os motivos que levam os povos a se movimentarem no globo, a fim de possibilitar a compreensão das políticas de externalização de fronteiras empreendidas pela União Europeia como uma grave violação aos direitos humanos dos migrantes, ao delegar a países que são reconhecidos no cenário internacional justamente pelo desrespeito a estes direitos a fiscalização de fronteiras, objeto deste estudo.

1.1 O fenômeno migratório na contemporaneidade

A mobilidade humana é tão antiga como a própria história da humanidade sendo, portanto, uma característica das sociedades humanas. Os seres humanos definiam esses deslocamentos e o contato com outros lugares como atos de conquistas, sejam mediante ações forçadas ou voluntárias.

Sobre a temática, sublinham Malgesini e Giménez (2000, p. 282):

los movimientos migratorios son el producto de una tendencia natural e histórica de las personas a desplazarnos siempre con un mismo objetivo: mejorar nuestra situación de partida. Eso no significa que todo el mundo tenga la misma motivación; por el contrario, en ocasiones la meta puede ser la búsqueda más elemental de la supervivencia, escapar de los peligros o conseguir alimentos, y en otras, la satisfacción de anhelos culturales o de aventura.

(13)

Dito isso, empreender uma análise sobre o fenômeno migratório internacional, irá depender do país objeto de estudo, uma vez que a intensidade com que se desenvolve a imigração depende das causas que a determinam, forçam ou mesmo favorecem o movimento dessa população sobre o globo terrestre.

Entre as causas que interferem na saída e entrada de pessoas em diferentes territórios, verifica-se que fatores econômicos impulsionam grande parte da mobilidade humana, sobretudo altos índices de desemprego. Pobreza, insegurança, corrupção, perseguições, guerra civil e escassez de recursos naturais, são também alguns dos diversos fatores que propiciam a saída de pessoas de seus países de origem. As migrações, assim como outros processos internacionais, não se produzem entre unidades nacionais compartimentadas, mas dentro de um sistema interativo, produto de um desenvolvimento histórico comum (LACOMBA, 2008).

Nos albores do século XIX, para transformar as áreas subdesenvolvidas do planeta em locais vazios para depositar o “refugo humano”, os países desenvolvidos passaram a exterminar os aborígines,

com o fim de abrir novos espaços para os excedentes populacionais da Europa (ou seja, de preparar esses lugares para o papel de depósito de refugo humano que o progresso produzia em casa, em quantidades crescentes) foi realizado em nome do mesmíssimo progresso que reciclava os europeus excedentes como “migrantes econômicos”. (BAUMAN, 2005, p.51).

Nesse sentido, Senger (2015, p. 49) bem transcreve a ideia de Bauman ao dizer que:

os itinerários eram determinados: “de um lado, a existência de uma população excedente incapaz de conseguir ou manter um emprego compensador ou de herdar o status social em seu país de origem”, consequência dos processos modernizantes. E, de outro lado, também graças à rápida modernização, “os países em que se produzia o excedente populacional gozavam (mesmo que por um tempo) de uma superioridade tecnológica e militar sobre os territórios ainda intocados pelos processos modernizantes”. Essa lógica permitia que os países de origem dos migrantes tratassem essas áreas como vazias ou que as tornassem “vazias caso os nativos resistissem a serem afastados, ou exercessem o poder de incomodar que os 49 colonos considerassem desconfortável demais”. Dessa forma, essas áreas estavam prontas para serem “colonizadas”.

(14)

O resultado dessa colonização em massa, “cerca de 30 a 50 milhões de nativos de terras ‘pré-modernas’, perto de 80% de sua população total, foram aniquilados entre a época da chegada e estabelecimento dos primeiros soldados e comerciantes europeus no início do século XX” (BAUMAN, 2005, p.50). As conquistas da Europa na passagem do século XIX para o século XX trouxeram muitos benefícios, já que na medida em que precisava de riquezas para preencher os cofres vazios, necessitava também de terras para acomodar esse excedente populacional.

Conflitos étnicos, as perseguições políticas nos regimes ditatoriais e produto dos nacionalismos e as guerras são razões fundamentais na determinação de fluxos de migratórios. Pessoas se veem obrigadas a deixarem suas casas, empregos para fugir do caos instalado. Como pano de fundo de boa parte desses processos está a pobreza e a injustiça socioeconômica.

Na segunda metade do século XIX, surgiram novos sistemas de migração que cobriam distâncias muito superiores a dos sistemas anteriores e que implicavam múltiplos destinos. Alguns países receptores nos processos migratórios como Canadá, Estados Unidos e Austrália iniciam sua construção e afirmam seu desenvolvimento ao final do século XIX e inicio do século XX. Os processos migratórios que estabelecem implicam mão de obra, pois também potencializam o crescimento demográfico, com altos índices de natalidade, como forma de seguir consolidando a ocupação do espaço (LACOMBA, 2008).

O início da Primeira Guerra Mundial marcará um ponto de inflexão no que toca às mudanças demográficas intercontinentais, derivadas de um conflito internacional, motivando importantes movimentos migratórios na Europa para escapar de um conflito com consequências imprevisíveis. Cerca de 9,5 milhões de refugiados foram produzidos na década seguinte ao término da guerra, dentre eles os que estavam fugindo de revoluções ou perseguições (SASSEN, 2013).

Nos anos que se seguiram, surgiram novos fluxos de refugiados, sobretudo italianos e alemães, que buscavam escapar do fascismo e do nazismo. Primeiramente, tratava-se de elites políticas, no entanto, logo se converteram em fluxos massivos de refugiados. Neste cenário, a França se mostrou receptiva a esse contingente de imigrantes, já que perde nos campos de

(15)

batalha 1,5 milhões da juventude ativa, trabalhadores estrangeiros passaram a ter uma importância crucial (SASSEN 2013).

Como conflito de escala em nível internacional, a Segunda Guerra Mundial produziu movimentos forçados de pessoas em busca de lugares seguros e à margem desse conflito, como a América do Sul e a África (LACOMBA, 2008). No mundo se estabeleceram novas fronteiras que definiram os espaços de mobilidade, marcados por uma política de bloqueio e de desenvolvimento. Com o fim da Guerra, o principal objetivo a ser alcançado pela Europa é o crescimento econômico, com estabilidade e segurança para sua população. Nesse momento, o significante número de refugiados proporcionou para a Europa a mão de obra barata que sua economia em plena reconstrução desejava:

En los años cincuenta, Italia fue el principal país europeo emisor de mano de obra. Alemania occidental, Francia y Suiza fueron los países que más italianos contrataron. En los años sesenta, España y Portugal se convirtieron en los principales países emisores, seguidos de Grecia y Yugoslavia. [...] Argelia, India, Paquistán y las naciones del Caribe se perfilaron como los principales países extra europeos emisores de mano de obra en los años cincuenta y sesenta. En los setenta, Turquía, Marruecos, y Túnez destacaron como importantes países proveedores de mano de obra. (SASSEN, 2013, p. 141).

Com efeito, a drástica mudança no tratamento da imigração laboral da década de 30 para o pós-II Guerra salta aos olhos. Bauman (2006, p. 76) expõe a transição da Europa fragilizada do pós-guerra à Europa segurança:

Lambendo as feridas do último conflito local montado no palco global [...] a Europa se pôs a trabalhar duro, durante 30 gloriosos anos, no grande experimento social de mitigar os inaceitáveis extremos do capitalismo sem freios com o "socialismo de face humana" [...]. O resultado foi o Estado

social. Ou seja, um Estado que oferecia a todos os cidadãos uma política de

seguro, endossada e financiada coletivamente, contra os danos individuais e de grupo inevitáveis numa economia capitalista, e um Estado que avaliava a qualidade da sociedade como um todo pela qualidade de vida de seus cidadãos mais fracos e gravemente feridos.

O modelo de Estado Social teve sua concepção ainda no século XIX, se desenvolvendo ao longo dos anos em um processo histórico desde então, expandindo-se por toda a Europa após a Segunda Guerra Mundial. Concomitantemente, houve uma modificação nas relações dos países de origem e de destino no cenário migratório. Neste momento a

(16)

Europa passa a ser o destino da população dos Estados do Sul do Mediterrâneo. Nos anos que se seguiam, até meados de 1970, o Estado Social teve seus anos dourados, garantindo renda, alimentação, saúde, habitação, educação a todo e qualquer cidadão europeu.

Ocorre que este modelo passou por consideráveis mudanças ao longo da história. Wermuth repassando o pensamento de Bolzan de Morais (2014, p. 100) afirma que:

é possível dividir a sua história em duas grandes fases. A primeira fase, que vai do surgimento até a consolidação do Welfare State, é marcada pelo “aprofundamento de mecanismos de intervenção e alargamento de seus conteúdos.” A segunda fase, que emerge a partir da década de 1970, é marcada pela crise do referido modelo, ou seja, pelo “esgotamento de suas estratégias ante o início da crise da matriz energética, o desenvolvimento tecnológico e a transformação da economia capitalista”, além da “transição da tradicional questão social para a novíssima questão ambiental e seus consectários – das carências locais para os riscos globalizados.”.

E com a aurora neoliberal, o Estado Providência se depara com o esgotamento de suas estratégias de transformações econômico-sociais, fazendo ressurgir sentimentos de insegurança e incertezas. Os sentimentos de acolhida ao imigrante que outrora floresceram, desaparecem de forma aterrorizante fazendo com que a Europa feche suas fronteiras, inclusive no que se refere a países outrora receptivos a esta população, como a França (SASSEN, 2013). E é nesse ponto que o recrudescimento punitivo retoma o controle dos fluxos migratórios diante da ameaça que o parasitismo social dos imigrantes representa a população autóctone, contribuindo para a construção da população indesejável como sujeitos de risco.

Esse processo faz com que na contemporaneidade o Estado busque alternativas de legitimação, o que, no caso da União Europeia, objeto do presente estudo, resulta em ações relacionadas à segurança, fazendo com que o controle dos fluxos migratórios seja gerido sob a ideia de segurança. O fenômeno que constitui o maior avanço sociocultural na Europa no século XX acaba por se tornar seu maior desafio do século XXI, análise que será feita com maior profundidade no tópico a seguir.

1.2 As políticas migratórias europeias contemporâneas e suas determinantes

Com o declínio do Estado de Bem-Estar Social europeu, que se depara com o esgotamento de suas estratégias protetoras de transformações sociais e econômicas, e para que possa continuar

(17)

com o seu projeto includente, ainda que simbolicamente, medo e terror são fomentados. A migração deixa de ser vista como fator primordial no desenvolvimento da União Europeia, passando a ser compreendida como um problema, o qual dever ser administrado sob a perspectiva de controle. A difícil tarefa de armazenar os imigrantes faz com que tão somente por sua condição de estrangeiro ele transmita a ideia de “parasita social”, ocupando um lugar que não lhe pertence.

De fato, com a passagem de um modelo de sociedade amparada pelo Estado Social solidário à sociedade de risco securitário contemporâneo, o medo e a insegurança tornam-se companhias indissociáveis do indivíduo. Assim, “para proteger-se do risco natural ou criado a nova ordem é a segurança” e, “na dúvida, na ausência de um sistema de definição, controle e gestão dos

riscos, erige-se a segurança como máxima. (BOLZAN DE MORAIS apud

WERMUTH, 2014, p. 101).

As diferenças que carregam os imigrantes acabam por alastrar o medo sobre a “população de bem” e contra eles são demarcadas fronteiras – algumas simbólicas (dificuldade de aceitação no seio social, no mercado laboral, estranhamento cultural, etc.), outras físicas (construção de muralhas e sistemas rígidos de controle migratório). No entanto, como servem de força de trabalho, nem sempre os imigrantes passam a constituir um "problema" para o país que os utiliza. Ocorre que a necessidade do uso do estrangeiro para o mercado de trabalho é circunstancial. Sendo assim, o imigrante é considerado um ser "provisório", mesmo que esta provisoriedade dure décadas. Quando desaparece o seu lugar, o lugar para o qual foi destinado, ele também desaparece. Nesse sentido, como bem coloca Sayed (1998, p. 55), “ser imigrante e desempregado é um paradoxo”. Na verdade é uma situação que não é cogitada, pois pensar no imigrante é olhar a imigração sobre a ideia de “problema social” (desemprego, doenças, problemas habitacionais, etc.).

E nessa distinção do imigrante e do cidadão “que se justifica a economia de exigências que se tem para com ele em matéria de igualdade de tratamento frente à lei e na prática”. (SAYED, 1998, p. 58). Na lógica do capitalismo, o imigrante é apenas um objeto para o sistema econômico,

“O ideal” teria sido que, assim definido, o imigrante fosse uma pura máquina, um sistema integrado de alavancas, mas, neste caso [...], uma vez que o imigrante não é puramente mecânico, é forçoso conceder-lhe um mínimo. Assim, como trabalhador, é preciso que seja alojado, mas então o pior dos alojamentos (que ele consegue sozinho) é amplamente suficiente;

(18)

como doente é preciso que seja tratado (isto por ele mesmo, e talvez muito mais para a segurança dos “outros”), mas que seja da forma mais rápida e econômica. (SAYED, 1998, p. 58).

Nesse sentido, fica claro o sistema biopolítico gerenciador de vidas que o filósofo Michel Foucault (2008) trabalha. Para o autor, o fenômeno é o responsável por transformar os mecanismos de poder até então conhecidos. O que antes se limitava ao sim e ao não, à vida e a morte de um indivíduo, dão lugar a um poder que gera a vida. O foco não mais é o indivíduo, sujeito, mas o homem-espécie, a coletividade. Se antes o Estado-nação exercia o poder sobre o indivíduo, a fim de que fosse administrado seu corpo, agora o poder normatizado é exercido sobre o corpo-espécie, exercendo-se a título de política estatal. Paradoxalmente, a energia e os proveitos são tirados do “parasita”. Dele é extraída toda a vida, o que pode ser útil ao soberano, tornando-se mera vida nua, aquela matável, porém insacrificável.

Para frear a entrada dos imigrantes que não interessam à economia no seu território, a União Europeia passou a usar cada vez mais políticas repressivas e excludentes, priorizando o controle das fronteiras, sem respeitar, em muitos casos, os direitos humanos dos migrantes. O tratamento dispensado à migração internacional permite à União Europeia manejar a migração conforme seus interesses.

De alguma forma, o mundo "lá fora" deixou de ser visto pelos europeus como um lugar de excitantes aventuras e estimulantes desafios. O planeta não parece mais convidativo e hospitaleiro, nem é percebido como um palco vazio para incontáveis façanhas heroicas e gloriosos feitos inauditos. Ele agora parece hostil e ameaçador - eriçando-se com toda a espécie de armadilhas, emboscadas e outros perigos indizíveis para os incautos; cheio de terras fervilhantes de ódio, repletas de trapaceiros e conspiradores - malandros traiçoeiros e perversos, prontos a realizarem malfeitorias imagináveis e inimagináveis. (BAUMAN, 2006, p. 26).

Nesse sentido, ao mesmo tempo em que a União Europeia cerra suas fronteiras externas em busca de segurança, as fronteiras internas deixam de existir quando em 14 de junho de 1985 é institucionalizado o Espaço Schengen, um mecanismo útil para a construção da Europa fortaleza, com “la eliminación de las controles fronterizos internos y entre las partes del acuerdo y la intensificación del control de las fronteras externas a través de esfuerzos concertados y de coparticipación en la información”. (UGUR, 1998, p. 320).

(19)

Em 1985, a assinatura do Acordo de Schengen por cinco países da União Europeia assinalou o início de uma cooperação destinada a eliminar as fronteiras internas, estabelecendo uma fronteira única, dentro da qual são aplicados normas e procedimentos comuns em matéria de vistos para estadias de curta duração, os pedidos de asilo e os controles nas fronteiras. É um espaço onde a livre circulação de pessoas é garantida. Ao mesmo tempo, eles têm uma cooperação e coordenação intensificada entre as forças policiais e as autoridades judiciais para garantir a segurança no espaço Schengen. Desde a sua criação, o espaço Schengen vem sendo estendido a quase todos os Estados-Membros da União Europeia.

De acordo com dados da APDHA 2012, estima-se que mais de 400 milhões de cidadãos dos 26 países europeus circulam no espaço Schengen, Assim, com a eliminação das fronteiras interiores, os Estados-Membros participantes têm a responsabilidade de controlar suas fronteiras exteriores, o que decorre de uma ampla cooperação e obrigações por parte dos países envolvidos.

Entre as principais medidas adotadas no âmbito de Schengen1, destacam-se nomeadamente:

 a supressão dos controles das pessoas nas fronteiras internas;

 um conjunto de regras comuns aplicáveis às pessoas que atravessam as fronteiras externas dos Estados-Membros da UE;

 a harmonização das condições de entrada e das regras em matéria de vistos para as estadas de curta duração;

 o reforço da cooperação entre os agentes de polícia (nomeadamente no que respeita ao direito de observação e de perseguição transfronteiras);

 o reforço da cooperação judicial através de um sistema de extradição mais rápido e de uma melhor transmissão da execução das sentenças penais;

 a criação e desenvolvimento do Sistema de Informação Schengen (SIS).

Para que pudesse ser desenvolvido integralmente o acervo Schengen, foi criado um sistema informativo que permitia que autoridades judiciais e policiais obtivessem informações sobre qualquer pessoa e objetos: o SIS. Utilizado por guardas fronteiriços, como pela polícia, aduanas e autoridades judiciais em todo o espaço Schengen, o sistema permite que se obtenham informações sobre eventual crime a que a pessoa esteja envolvida ou mesmo se não possui direito de entrar ou permanecer na União Europeia. Mesmo com todo aparato tecnológico que compõe o SIS, recentemente foi criado um novo sistema de segunda geração:

1 Texto integral disponível em: http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=URISERV%3Al33020.

(20)

o SIS II. Com ele, as autoridades a troca de informações de forma mais célere e precisa, incluindo vários novos sistemas de alertas biométricos.

A ruptura das fronteiras internas, estabelecendo a livre mobilidade de pessoas dentro do Espaço Shengen, acompanhou uma série de medidas de cooperação e coordenação entre os serviços policiais e judiciais dos Estados-Membros, inclusive países que não faziam parte da União Europeia participaram dessas articulações em matéria policial, judicial e penal, como é o caso da Irlanda e Reino Unido2.

No entanto, em que pese a justificativa para a criação destes mecanismos de controle ser a segurança internacional, esses sistemas suscitam fortes preocupações no que tange à violação dos Direitos Humanos - o que será abordado no tópico 2.2 do próximo capítulo -, sobretudo a invasão da privacidade e do princípio da igualdade e não discriminação.

Assim, a adoção do Acordo Schengen foi um marco importante para a gestão da migração, mas foi no Conselho Europeu de Tampere em 1999 que se esboçou a primeira política migratória global na União Europeia, sobre a ideia de gestão dos fluxos migratórios e preconizando os acordos bilaterais com os países de origem. Ao longo dos anos que se seguiram, a mesma Comissão propõe o desenvolvimento econômico e demográfico da União Europeia, fomentando a migração legal, a reagrupação familiar, de estudos e pesquisas. O projeto foi dado seguimento através do Programa de Haia, instituído para assegurar a liberdade, segurança e justiça, reafirmando as orientações do antigo programa sobre a perspectiva dos direitos fundamentais, da não discriminação e da igualdade de oportunidades.

Embora tenham se estabelecido políticas migratórias de integração3, os sobreditos programas reafirmam a imigração como um problema para a Europa, reforçando a ideia de necessidade de gerenciamento dos fluxos migratórios em nível de segurança. E assim, erige-se uma muralha de forma a evitar ou minimizar a expansão da imigração irregular. Buscam-erige-se formas de manter os imigrantes em seus países de origem, contendo a imigração em troca de

2 Texto integral disponível em:

http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32000D0365&from=PT. Acesso em: 08 jun. 2016.

3 Para Malgesini (1998, p.29) “La integración también se diferenciaría de la inserción, en tanto que esta noción

representa la ilusión de una operación técnica y aséptica, sin gran resonancia étnico-ideológica, ya que no demuestra a priori ninguna preferencia por una población determinada. La <<tecnificación>> se considera opuesta a la <<politización>>.”

(21)

pressões e ajuda econômica, e se possível, evitar a entrada de imigrantes na Europa e posteriormente forçar a saída dos imigrantes do território europeu.

Martinez Escamilla (2009) aduz que há um considerável tempo, a Europa declarou guerra à imigração irregular e, desde então, tem-se utilizado de meios materiais e instrumentos jurídicos de duvidosa constitucionalidade para sair vitoriosa dessa luta desigual, que escamoteia uma política econômica que está por detrás das soluções de política criminal. Na sua visão, a imigração, sob o foco econômico, coincide com uma “ameaça” ou “invasão”, contra a qual se deve lutar e combater.

A busca por um controle eficaz dos fluxos migratórios tem transformado sobremaneira a ação política dos estados através de diversas práticas. A ação tem se desenvolvido das fronteiras ao exterior do território e de forma crescente nos últimos anos ao seu interior:

Este nuevo locus del control, que trunca en cierta medida la tradicional identificación entre territorio y soberanía, supone una extensión, un despliegue político del control migratorio, que empieza en los países del origen, continúa en los del tránsito, incorpora acciones en la frontera y penetra el territorio de los países receptores. (ANGUIANO; LÓPEZ SALA, 2010, p. 83).

No que diz respeito ao controle migratório, a ferramenta mais notória é o fortalecimento físico das fronteiras de um país, que pode ser tanto física, como administrativa. No caso das migrações internacionais, as fronteiras constituem, antes de mais nada, o primeiro obstáculo para a livre mobilidade das pessoas, os bloqueios regionais, dentro dos quais se encontra a União Europeia têm estabelecido um pacto para reconhecer e deixar circular aos “próprios” e para excluir os estranhos. Para tanto, basta lembrar a construção de cercas, muros, valas e outros tipo de barreiras na Espanha, Índia, Israel, Marrocos, dentre outros.

España es una de las fronteras externas de Europa y, por lo tanto, es un “esclusa” que abre y cierra el paso de extracomunitarios. Aunque teóricamente habría tres líneas de acción fijadas – evitar los flujos mediante la cooperación con los países expulsores, incentivas el retorno y promover la integración social de los ciudadanos extranjeros residentes – la política española se ha basando fundamentalmente en mejorar el control policial en la entrada al país y ejecutar las expulsiones de los residentes en condiciones ilegales. (MALGESINI; GIMÉNEZ, 2000, p. 198).

(22)

Com o objetivo de manter afastados os migrantes, os governos podem, além de barreiras físicas, interceptar essas pessoas antes que cheguem ao seu território. Em que pese mais difícil no caso de fronteiras terrestres, interceptar embarcações de populações no seu intento migratório é outra medida tomada na atualidade. Através de operações realizadas pela Frontex, a agência da União Europeia que atua no controle fronteiriço, as fronteiras externas da União Europeia são constantemente vigiadas (DOORMENIK, 2010). A intensificação desse controle resulta na busca por parte dos migrantes de rotas cada vez mais perigosas para evitar esses dispositivos de controles.

O governo espanhol tem reforçado o controle dos fluxos migratórios através do reforço das fronteiras com a construção de valas, sistemas de vigilância por satélite, patrulhamento, e acordos de cooperação migratória e readmissão, tanto em território espanhol, Ceuta e Melilla, como em território africano.

Segundo López Sala e Sánchez (2010, p. 83),

las acciones en origen pretenden disuadir de la salida y seleccionar en origen. el control remoto, a través de la política de visados y los programas de reclutamiento de trabajadores, se compagina con acuerdos bilaterales de vigilancia y readmisión que se han transformado a los países de origen y de transito en guardiones fronterizos de territorios ajenos. Las acciones en origen también incorporan lo que podemos llamar medidas de disuasión informativa, las campañas dirigidas a mostrar a los migrantes los peligros de los cruces migratorios.

Somam-se a estas medidas de controle remoto ações de dissuasão coercitiva no trânsito das travessias, as quais pretendem impedir ou dificultar asaída ou o desenvolvimento de uma parte da viagem. As iniciativas desenvolvidas da década de 1990 incluíram a modernização de instalações fronteiriças das forças de segurança estratégica: o incremento de controle e o aperfeiçoamento dos perímetros fronteiriços nas cidades de Ceuta e Melilla e de procedimentos de identificação4.

4 O sistema Eurodac permite aos países da União Europeia (UE) ajudar a identificar os requerentes de asilo, bem

como as pessoas que foram interceptadas por ocasião da passagem ilegal de uma fronteira externa da União. Comparando as impressões digitais, os países da UE podem verificar se um requerente de asilo ou um estrangeiro que se encontre ilegalmente no seu território já formulou um pedido num outro país da UE ou se um requerente de asilo entrou irregularmente no território da União. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/legal-content/pt/TXT/?uri=URISERV:l33081> . Acesso em: 06. Dez. 2015.

(23)

Outra forma de exercer o controle sobre a imigração irregular é delegar tal encargo a países de origem e de trânsito. Há uma série de acordos bilaterais entre Estados-membros e países de origem, um exemplo disso é o acordo bilateral entre Espanha e Marrocos de 2005.

Os acordos bilaterais de cooperação policial proporcionam equipes de controle de fronteiras e apoiam do ponto de vista econômico atividades como as patrulhas nas fronteiras marítimas de ambos os países signatários. Com o objetivo de coordenar tais operações, países do Norte da África possuem agentes europeus e nos países europeus, agentes norte africanos, podendo assim a União Europeia não somente “devolver” pessoas do país signatário, mas também de outros países, caso comprovado seu transito pela África.

Paradoxalmente, as políticas migratórias cada vez mais restritivas criadas para impedir os fluxos migratórios acabam por intensificar a imigração irregular e, consequentemente, os riscos assumidos pelas pessoas que pretendem transpor as fronteiras, podendo-se falar em “una relación directa entre incremento de las dificultades y número de muertes en el intento, lo que hace especialmente patente en la frontera sur de Europa, donde la intensificación del control supuso la búsqueda de travesías alternativas, más largas y más peligrosas”. (MARTÍNEZ ESCAMILLA, 2009, p. 7).

No que se refere à interceptação de pessoas, o fortalecimento das rotas africanas e mediterrâneas por alguns países têm contribuído significativamente na criação de sistemas de vigilância, como no caso da Espanha que, por parte de sua Guarda Civil e a polícia mauritana e senegalesa, executam operações em conjunto coordenadas pela Frontex no Mediterrâneo e no Atlântico com implantações de sistemas tecnológicos eficazes tendo por escopo frear a migração irregular nessas áreas (ANGUIANO; LOPES SALA, 2010; CERIANI CERNADAS; CRUZ, 2014).

O atual cenário internacional mostra as diversas funções das fronteiras que, nos estudos sobre a migração, se constituem como o principal obstáculo das camadas populacionais que se encontram em movimento pelo mundo. Como obstáculo a essas movimentações, a fronteira se apresenta como um dos objetivos das políticas migratórias dos países receptores (LÓPEZ SALA, 2010).

(24)

Na mesma medida que as fronteiras se fecham e apesar do endurecimento legislativo e administrativo dos controles, os fluxos migratórios se intensificam, ano após ano. A União Europeia, sob o discurso de proteger os imigrantes das travessias perigosas e do tráfico humano, fortalece cada vez mais os dispositivos de controle. No entanto, a verdade por trás disso é mais cruel: essa política de externalização de fronteiras provoca tragédias humanas incalculáveis, quer sejam afogados no Mediterrâneo, abandonados no deserto ou executados nas fronteiras.

Se de um lado há o exercício arbitrário da soberania estatal, do outro, o direito de imigrar e os direitos dos migrantes. No entanto, as políticas e os mecanismos de controle migratório, como os que efetuam os Estados e organismos europeus em território de origem e de trânsito supõem um risco preocupante à proteção de diversos direitos fundamentais na medida em que essas operações respondem a temores injustificados em que “la disuasión coercitiva ha sido el instrumento determinante en la práctica del control durante los últimos años (LÓPEZ SALA; SÁNCHEZ, 2010, p. 99).

Dessa forma, a União Europeia tem demonstrado diante das políticas migratórias de externalização de fronteiras, as quais violam sistematicamente os direitos humanos do imigrante tidos como inúteis à política utilitarista europeia, o caráter repressivista e excludente de tais políticas. Este é o tema que se ocupa o capítulo que segue.

(25)

2. DIREITOS HUMANOS E CONTROLE FRONTEIRIÇO NA UNIÃO EUROPEIA: fronteiras externalizadas

No que toca ao tema imigração, as políticas migratórias europeias tem em comum o objetivo de segurança, sendo difícil tratar como uma política unificada já que as competências são distribuídas entre os Estados-Membros, ficando a cargo da União Europeia apenas às diretrizes gerais.

Os atentados ocorridos em Nova Iorque (2001), Madrid (2004) e Londres (2005) não foram mais que um álibi para justificar e reforçar tais políticas, como orientação para as políticas europeias. A assinatura, em 2005, do Tratado de Prüm5 entre os Estados, teve por objetivo aprofundar a cooperação transfronteiriça para combater o terrorismo, o crime e a imigração ilegal. Ocorre que, como já exposto no tópico anterior, para a União Europeia há duas espécies de imigração: a temporária, que satisfaz suas necessidades econômicas, e a imigração que não corresponde à estes interesses, trazendo insegurança e criminalidade. Essa última deve ser combatida. Daí o paradoxo da imigração para a Europa: atrair a chamada “boa imigração” mas combater a qualquer custo a “má imigração”.

Para Wermuth (2014, p. 29):

o terrorismo pode ser visto como um dos “novos riscos” que mais obrigou o Estado a se reinvestir nas suas funções eminentemente estatais, inclusive com limitações consideráveis ao exercício de determinadas liberdades públicas pelos cidadãos, por ocasião da colocação da segurança como uma das prioridades da agenda política. Ocorre que, paradoxalmente, o terrorismo também foi o responsável por ressaltar as falhas dos sistemas de proteção existentes e ampliar, consequentemente, o sentimento de insegurança em âmbito global.

Com o intuito de alargar as políticas migratórias dos programas de Tampere e Haia que chegavam ao fim, a presidência francesa propôs ao Conselho Europeu o “Pacto Sobre Imigração e Asilo”, em 2008, reafirmando a potencial ameaça que representa a população

5 O Tratado de Prüm foi inicialmente firmado a partir de 07 estados: Áustria, Bélgica, Espanha, França,

Luxemburgo e Países Baixos. O objetivo da Decisão de Prüm consiste na intensificação e na aceleração das trocas de informações entre autoridades e será alcançado tornando possível a comparação entre um determinado perfil de DNA e os perfis registrados em bases de dados automatizadas existentes nos Estados-Membros. As ligações entre estes dados pessoais podem ser feitas através de pontos de contato nacionais. Em Junho de 2008, este Tratado foi integrado aos padrões europeus e é agora aplicável aos 27 países da União. Disponível em: http://www.europarl.europa.eu/meetdocs/2004_2009/documents/dt/660/660824/660824pt.pdf. Acesso em: 21. abr. 2016.

(26)

estrangeira, sob a justificativa de luta contra a imigração ilegal, a criminalidade e o terrorismo, tornando-se uma Europa sob vigilância, onde as liberdades individuais e respeito pela privacidade estão ameaçadas.

Efetivamente, essas medidas não objetivam o controle do indivíduo concreto, mas a normalização do conjunto dos imigrantes – inclusive os regulares –, por meio da atemorização pelo exemplo e pela disseminação do medo da virtualidade da morte. Ou seja, o poder disciplina o status de quem não tem direitos de cidadania e se manifesta perante o Estado como um simples “corpo”. Como vida nua, portanto. (WERMUTH, 2014, p. 16). O mecanismo do poder é fundamentalmente do tipo repressivo. “As relações de poder nas sociedades atuais têm essencialmente por base uma relação de força estabelecida” (FOUCAULT, 2003, p. 99), através de uma guerra silenciosa que se materializa nas leis. O que aqui nos importa analisar é a forma como se dá o gerenciamento deste poder, o qual se institucionaliza em um espaço de segurança e ordem pública que traspassa as fronteiras europeias.

Os atentados terroristas que marcaram o início do século XXI trouxeram a discussão quanto à relativização dos limites dos poderes que os Estados teriam para enfrentamento desse mal que repentinamente assolava grande parte da população mundial. Nesse contexto, a flexibilização de garantias como a liberdade e a intimidade passaram a ser toleradas em nome desse “combate” ao terrorismo, a fim de se buscar a qualquer custo a segurança de um grupo protegido.

Como bem assevera Butler (2007, p. 229), “o uso do termo terrorismo serve, portanto para deslegitimar a violência praticada pelo agente não vinculado ao Estado e ao mesmo tempo para sancionar reações violentas por parte de Estados constituídos”. O medo passa a ser usado como combustível dessa guerra que independe de ameaça bélica e as situações de emergência convertem-se em regra.

Bauman (2005, p. 2) traduz esse sentimento de medo que se instaura em relação ao diferente, ao que não corresponde à população local:

poderíamos dizer que a insegurança moderna, em suas várias manifestações, é caracterizada pelo medo dos crimes e dos criminosos. Suspeitamos dos

(27)

outros e de suas intenções, nos recusamos a confiar (ou não conseguimos fazê-lo) na constância e na regularidade da solidariedade humana.

Partindo de uma análise a partir dos direitos humanos, podemos afirmar que não é possível fechar as fronteiras e concomitantemente atrair aqueles que são economicamente úteis. Os seres humanos não são meros objetos, não podendo a eles ser atribuido um rótulo de criminoso ou petencial terrorista, enquanto têm violados seus direitos. Do ponto de vista ideológico e politico, homens e mulheres, independentemente da sua origem, possuem direitos iguais, universais e indivisíveis. E nesse rumo, analisaremos o Pacto Europeu sobre Imigração e Asilo, instrumento que fornece as linhas da ação política para a gestão dos movimentos migratórios nas fronteiras europeias.

2.1 O Pacto Europeu de Imigração e Asilo de 2008 e a externalização de fronteiras da União Europeia

O Pacto Europeu Sobre a imigração e Asilo, cujo projeto inicial foi ratificado no sul da França, em Cannes, em meados do mês de julho de 2008, e efetivamente adotado em 13 de outubro, no mesmo ano, em Bruxelas, é o principal instrumento normativo de gerenciamento dos fluxos migratórios na União Europeia no que toca à externalização das fronteiras europeias assentado sobre cinco objetivos principais. (CONSELHO EUROPEU, 2008):

 Organizar a imigração ilegal tedndo em conta as prioridades, as necessidades e as capacidades de acolhimento determinadas para cada Estado-Membro, e favorecer a integração;

 Lutar contra a imigração ilegal, nomeadamente assegurando o retorno dos estrangeiros em situação irregular ao seu país de origem ou a um país de trânsito;

 Reforçar a eficácia dos controlos nas fronteiras;

 Edificar uma Europa do asilo;

 Criar uma parceria global com os países de origem e de trânsito, promovendo as sinergias entre as migrações e o desenvolvimento.

Assim, o Conselho Europeu assume estas cinco obrigações mediante ações concretas que serão desenvolvidas pelo programa quinquenal de Estocolmo, sucessor do Programa de Haia, e estabelecerá prioridades para o período entre 2010 e 2014 sobre o espaço justiça, liberdade e segurança. Por outro lado, tratando-se da luta contra a imigração irregular, “os países de origem e de trânsito dos migrantes com destino à União Europeia são colocados na posição de guardas de fronteiras”. (WERMUTH, 2014, p. 125).

(28)

Para López Sala e Sánchez (2010, p. 83), essas ações são mais acentuadas na fronteira, “donde se ha implantado tecnología eficaz para la identificación y la detección de documentación fraudulenta con el fin de permitir o prohibir la entrada y frenar el número de inmigrantes irregulares que llegan de forma inadvertida.” Além disso, “en el interior de los estados receptores, el control interno ha incorporado la creación de bases de datos biométricas, el aumento de las acciones policiales de identificación y ‘la investigación’ de los matrimonios mixtos.”

As ações de controle tem início já nos países de origem, onde o primeiro objetivo é dissuadir os imigrantes com campanhas informativas, as quais mostram os perigos das travessias ilegais, como as que são desenvolvidas a partir do projeto Infomigra6, e depois selecioná-los, com políticas de vistos e recrutamento de trabalhadores.

A este novo sistema de controle remoto se tem inserido ações de dissuasão coercitiva no trânsito, as quais pretendem embargar a viagem. A gestão das fronteiras externas tornou-se um objetivo prioritário para a União Europeia e uma preocupação crescente para os cidadãos europeus, especialmente no contexto de atividades ilegais generalizadas e ameaças terroristas. Para tanto, a União Europeia conta com uma ação em conjunto envolvendo a Guarda Civil espanhola, a Polícia de Mauritânia e Senegal juntamente com a Frontex. Certamente o acervo da União Europeia na gestão das fronteiras externas está permanentemente em evolução e a criação da agência Frontex é uma grande ilustração.

Criada pelo regulamento do Conselho Europeu em 26 de outubro de 2004 e passando a viger em 2005, a Agência Europeia para a Gestão da Cooperação das Operações nas Fronteiras Exteriores dos Estados-Membros da União Europeia possui as seguintes funções:

a) Coordenar a cooperação operacional entre os Estados-Membros no âmbito da gestão das fronteiras externas;

b) Apoiar os Estados-Membros na formação dos guardas de fronteiras nacionais, e inclusive na definição de normas de formação comuns;

6

O projeto Infomigra é financiado pela União Europeia por meio das ações preparatórias do programa “Solidariedade e gestão dos fluxos migratórios”, que é desenvolvido pela Direção Geral de Justiça, Liberdade e Segurança da Comissão Europeia. O projeto foi criado na intenção de desenhar campanhas de conscientização acerca dos perigos da imigração irregular. As campanhas informativas são desenvolvidas junto aos meios de comuniação e às escolas senegalesas e marroquinas e têm por intuito tanto a informação quanto a prevenção da imigração irregular. Além disso, a campanha centra esforços em evitar que os migrantes sejam alvos de redes de tráfico humano.

(29)

c) Efetuar análises de risco;

d) Acompanhar a evolução da pesquisa em matéria de controlo e vigilância das fronteiras externas;

f) Apoiar os Estados-Membros confrontados com circunstâncias que exijam uma assistência operacional e técnica reforçada nas fronteiras externas;

g) Facultar aos Estados-Membros o apoio necessário no âmbito da organização de operações conjuntas de regresso. (CONSELHO EUROPEU, 2004).

A partir destas atribuições a Agência estabelece duas espécies de intervenção: vigiar as fronteiras marítimas, terrestres, zonas portuárias e aeroportos e organizar expulsões coletivas conjuntas entre vários Estados-Membros, a curto e longo prazo, como as operações Hera, Hermes, Nautilus, Poseidon, e também operações rápidas, as chamadas RABIT (do inglês: Rapid Border Intervention Teams), que teve início em 2010. Segundo o informe deste mesmo ano, a Frontex registra entre 02 de novembro de 2010 e 01 de março de 2011, um total de 11.809 migrantes irregulares, sendo a maioria advinda do Afeganistão7.

Se a gestão dos fluxos migratórios pode ser debatida a partir da ideia de “guerra contra a imigração irregular”, isso justifica a comparação da Frontex com um exército militar:

del equipamiento técnico disponible (Centralised Record of Available Technical Equipment, CRATE) incluye un arsenal impresionante con 26 helicópteros, 22 aviones ligeros, 113 barcos militares y 476 aparatos técnicos para luchar contra la inmigración clandestina: radares móviles, cámaras térmicas, sondas para gas carbónico, detectores de latido, etc. (APDHA, 2010, p. 29).

Somado a estes mecanismos de vigilância da agência Frontex, acrescentaram-se novos instrumentos para aumentar a eficácia do controle migratório: ”os Estados da UE estipularam um sistema de acordos bilaterais para poder se desprender dessa batata quente sem manchar as mãos”. (NAIR; DE LUCAS, 2015). Assim tem se comportado a Espanha ultimamente com Marrocos, Mauritânia e Nigéria, por exemplo. O governo espanhol tem firmado uma série de acordos de cooperação e readmissão que permitem a imediata devolução do imigrante irregular:

7

(30)

Guinea-Conakry, Gambia y Cabo Verde han sido los primeros países en firmar esos acuerdos (2007), seguidos de Malí (2008). Mauritania firmó ya en el año 2003 un acuerdo de inmigración en el que se comprometía a aceptar repatriaciones de sus nacionales y de quienes, procedentes de otros países, hubiera transitado por territorio mauritano. El Gobierno español ha enviado en estos últimos tres años buques, helicópteros, y guardias civiles para apoyar al Gobierno mauritano, que, en operaciones marítimas conjuntas con España, ha interceptado y expulsado a miles de inmigrantes procedentes de otros países africanos, lo que ha obligado a los cayucos a adentrarse mucho más en el mar para evitar su detección. (APDHA, 2008, p. 24).

Infelizmente, os acordos bilaterais associam tráfico de drogas e terrorismo com imigração clandestina: “la cuestión del terrorismo y de la inmigración debe ser gestionada conjuntamente, porque los flujos de inmigrantes irregulares pueden ser el medio para los terroristas de llegar a Italia”8

. A partir desse discurso está claro que os países europeus integram uma lógica de criminalização dos imigrantes.

A União Europeia tem primado na sua relação com o Marrocos quanto ao controle migratório. Entre seus objetivos está o controle e a repressão dos imigrantes. O país possui uma legislação restritiva e criminaliza a imigração. A Lei 02/03, “Relativa à entrada e a permanência de estrangeiros no Reino de Marrocos, à emigração e imigração irregular”, penaliza a imigração clandestina, em seu artigo 50, com multa de €3.000 a €10.000 e prisão de um a seis meses (CERNADAS, 2009).

As principais atividades de interceptação de imigrantes no Marrocos se deram em torno de Ceuta e Melilla, as quais têm se convertido nos últimos anos em porta de controle da imigração rumo à União Europeia. Ambas as cidades não fazem parte do espaço Schengen, o que impede os imigrantes que passam por elas de continuar sua travessia pelo território europeu. Após pressões do governo espanhol, autoridades marroquinas intensificaram a “blindagem” da fronteira marítima de Ceuta, impedindo a entrada de imigrantes em torno da fronteira de Tarajal.

La impermeabilización de la frontera, comenzada con la construcción con Fondos Europeos en el año 2000 de las vallas fronterizas de 3 m de alto, es uno de los pasos. El otro un control cada vez más asfixiante para atravesar el Mediterráneo y llegar a la península. Ambas ciudades se han convertido así en una especie de “tierra de nadie”, con un régimen especial donde las leyes

8 http://www.meltingpot.org/Italia-Libia-l-obiettivo-primario-e-il-contrasto-all.html#.V1-PGJErLIU. Acesso em:

(31)

se aplican según las necesidades de la política de control migratorio y no según las necesidades y derechos de las personas más vulnerables. Ceuta y Melilla son ahora una especie de ciudades‐ centro de retención de inmigrantes, un “limbo legal” donde miles de personas son retenidas contra su voluntad en una especie de “cárcel dulce” donde sus ilusiones naufragan y sus ansias de futuro se convierten en desesperación. (APDHA, 2010, p. 59).

Com o foco ainda sobre o Marrocos, podemos citar as atividades de interceptação desenvolvidas na Argélia. O país abarca duas rotas migratórias importantes: a que perpassa pela costa central e ocidental da Espanha; e a que vai desde a costa oriental até a Itália. Durante o ano de 2011, cerca de 1.500 pessoas foram detidas enquanto tentavam transpor as fronteiras europeias. Destas, 800 advindas da Argélia rumo à Espanha (APDHA, 2012).

Frente às pressões europeias e especificamente da Espanha, a Argélia tem tentado cumprir seu papel de guarda europeu tal qual o Marrocos. Segundo dados da Comissão Nacional Consultiva para a Promoção e Proteção de Direitos Humanos, durante o ano de 2011, cerca de 30.000 subsaarianos são conduzidos às fronteiras de origem, que é uma forma amável de dizer que têm sido abandonados no deserto (APDHA, 2012).

O êxito espanhol na gestão da vigilância das fronteiras tem sido aplaudido e apresentado como modelo em nível europeu. A Guarda Civil espanhola tem desempenhado um papel de relevância no controle migratório nas fronteiras espanholas. A Lei orgânica nº 02/1986 de Forças e Corpos de Segurança dispões em seu artigo 12.1:

Se establece la siguiente distribución material de competencias: a. serán ejercidas por el Cuerpo Nacional de Policía:

2. El control de entrada y salida del territorio nacional de españoles y extranjeros.

3. las previstas en la legislación sobre extranjería, refugio, asilo, extradición, expulsión, emigración e inmigración….. b). serán ejercidos por la Guardia Civil...

4. La custodia de vías de comunicación terrestres, costas, fronteras, puertos, aeropuertos, y centros e instalaciones que por su interés lo requieran.

Há alguns anos, a Guarda Civil espanhola tem modificado seu sistema de controle e vigilância da costa através do atual programa denominado SIVE - Sistema Integrado de Vigilância Exterior. Este sistema possui um suporte técnico de vigilância nos centros de

(32)

controle nas operações de interceptações daqueles imigrantes ilegais, utilizando radares, os quais detectam, identificam e perseguem qualquer embarcação suspeita9.

En la esfera de la vigilancia fronteriza de aplicación del SIVE, se compaginó, a partir de 2002, con la firma de acuerdos bilaterales de cooperación con países africanos en materia de gestión de la inmigración irregular, dos estrategias que se tornaron decisivas, como antecedentes, del posterior desarrollo de la política española. Además, a partir de 2004 el programa de readmisiones con Marruecos empezó a funcionar con cierta regularidad como resultado de la mejora de las relaciones diplomáticas entre ambos gobiernos y la revitalización del acuerdo de 1992. (LÓPEZ SALA; SANCHEZ, 2013, p. 88).

As operações de iniciativa da Guarda Civil espanhola no que toca à vigilância das fronteiras da União Europeia são sobremaneira numerosas. Em Melilla, o número de presos pela polícia espanhola chegou a 1.039, enquanto Melilla apresentou um número ostensivamente mais alto, 1.940 imigrantes. Embora este montante fosse consideravelmente maior se incluíssem os detidos que tentaram chegar à península e aqueles que foram presos por Marrocos (APDHA, 2012).

O "sucesso espanhol" na gestão da guarda fronteiriça tem sido em grande parte o reproduzido no acordo abafado entre a União Europeia e Turquia, com o objetivo de inverter o fluxo migratório rumo à costa grega pelo território turco.

Nesse sentido, temos presenciado uma sucessão de acontecimentos que culminam na violação dos direitos humanos da pessoa do migrante: desde a tragédia na fronteira de Ceuta em fevereiro de 2014 que resultou na morte de 15 imigrantes subsaarianos durante intervenção da Guarda Civil10 até centros de detenção. Para De Lucas (2015), a crescente preocupação é justamente a situação dos direitos dos imigrantes detidos no Centro de Internação de Estrangeiros (CIE) 11, onde as denúncias de violações aos direitos dos

9Para mais informações do programa ver http://www.guardiacivil.es/es/prensa/especiales/sive/funciones.html.

10

Reportagem completa em: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/06/internacional/1391721234_624715.html. Acesso em: 02. maio. 2016.

11 Os CIEs foram criados a partir do artigo 26.2 da Lei Orgânica da Estrangeria, de 1985, definidos como

estabelecimentos públicos “de caráter não penitenciário”, onde pessoas podem ser retidas de forma cautelar e preventiva, basicamente estrangeiros submetidos a expediente de expulsão do território nacional, seja por condição documental irregular, seja por alguma condenação ou delito detectado, ou pela aplicação da opção de expulsão por motivos a serem verificados.

(33)

imigrantes são cada vez mais crescentes, que vão desde maus-tratos até mesmo casos de mortes.

Diante da atual política de controle dos fluxos migratórios, podemos afirmar que a violação dos direitos humanos no caso dos imigrantes, sobretudo os imigrantes irregulares, é resultado da falta de vontade dos países receptores.

Si el principio del reconocimiento de los derechos humanos se aplica a los prisioneros de guerra y a los criminales más sangrientos no hay razón para privar, por ejemplo, a los inmigrantes irregulares de estos derechos a partir de la premisa de que la entrada y la estancia en el país de destino ha supuesto una violación de las leyes nacionales. (BUSTAMANTE apud LÓPEZ SALA, 2006).

Nesse sentido, no tópico que segue será empreendida uma análise a partir da violação dos direitos humanos do migrante na política de externalização de fronteiras da União Europeia.

2.2 O impacto da externalização de fronteiras no que se refere à violação de direitos humanos dos migrantes na União Europeia

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) dispõe em seu artigo 13 que:

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

A partir do que fora trabalhado nos escritos anteriores, constata-se o conflito entre o direito assegurado ao emigrante e as restrições impostas pela União Europeia reafirmada pelo Pacto Europeu sobre a Imigração e Asilo aos que nela tentam se instalar. Acerca da temática, Lopes (2009, p. 239) refere que:

Está formado o paradoxo: apesar de haver um direito humano à emigração não existe um direito humano à imigração. Como pode existir o direito de sair de um país, sem o correspondente direito de entrar em outro país? Se podem sair de seu país, mas não podem entrar em outro país, para que espaço dirigir-se-ão as pessoas? Por que a redação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, debatida por todo o mundo, foi promulgada com essa contradição? Por que a contradição persistiu no Pacto sobre Direitos Civis e Políticos? Muitos dos estudiosos que se dedicam ao tema das migrações

(34)

questionam sobre o porquê de não estar reconhecida a liberdade individual de buscar em outra parte do planeta o bem-estar que não se encontra em casa.

E sobre essa gestão de fluxos migratórios na União Europeia que Wermuth (2014, p. 52) sublinha o pensamento de Foucault sobre o exercício do poder do soberano em que:

ele deixa de se afirmar enquanto um poder de “matar a vida” e passa a fazê-lo enquanto um poder que “gerencia a vida”, um poder que tem por objetivo o saneamento do corpo da população de modo a depurá-lo de todas as infecções internas. O poder, agora, passa a ser exercido sobre a vida, fixando-se ao longo de todo o seu desenrolar. A morte é o momento que escapa a esse poder, é o seu limite, ou seja, o momento mais “privado” da existência de uma pessoa.

Assim, indaga-se se a União Europeia poderia a título de gestão da “crise migratória”, estabelecer normativas que acarretem em violações aos direitos humanos internacionalmente consagrados? A Convenção Europeia dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais (ROMA, 1950), com as modificações introduzidas pelo Protocolo n° 11, dispõe que:

1. Qualquer pessoa que se encontra em situação regular em território de um Estado tem direito a nele circular livremente e a escolher livremente a sua residência.

2. Toda a pessoa é livre de deixar um país qualquer, incluindo o seu próprio. 3. O exercício destes direitos não pode ser objecto de outras restrições senão as que, previstas pela lei, constituem providências necessárias, numa sociedade democrática, para a segurança nacional, a segurança pública, a manutenção da ordem pública, a prevenção de infracções penais, a protecção da saúde ou da moral ou a salvaguarda dos direitos e liberdades de terceiros. 4. Os direitos reconhecidos no parágrafo 1 podem igualmente, em certas zonas determinadas, ser objecto de restrições que, previstas pela lei, se justifiquem pelo interesse público numa sociedade democrática.

Nessa perspectiva, podemos citar o caso de Ceuta e Melilla que até a Espanha aderir ao acordo Schengem em 1991, suas fronteiras eram permeáveis. Com a vigência do acordo em 1995, a Espanha empreende uma política de fechamento de fronteiras, dando início à construção de valas de 2,5m de altura, convertendo-se em uma das fronteiras mais vigiadas.

Martínez Escamilla (2009, p. 6) destaca as consequências nefastas desse processo:

este encargo a países tan poco respetuosos con los derechos humanos como, por ejemplo, Libia, Marruecos o Mauritania, se viene traduciendo en la reiterada vulneración de derechos humanos por parte de la policía de estos países, que se concreta en palizas, desvalijamientos e incluso homicidios y

Referências

Documentos relacionados

The present study evaluated the potential effects on nutrient intake, when non- complying food products were replaced by Choices-compliant ones, in typical Daily Menus, based on

Reconhecidamente, o brincar contribui para o desenvolvimento das crianças sob uma série de aspectos, incluindo suas dimensões cognitivas, afetivas e motoras. Em linhas gerais,

O presente trabalho foi realizado em duas regiões da bacia do Rio Cubango, Cusseque e Caiúndo, no âmbito do projeto TFO (The Future Okavango 2010-2015, TFO 2010) e

Mais tarde, os pesquisadores passam a se referir ao conceito como engajamento do empregado (employee engagement) – mais popular nas empre- sas e consultorias - ou

Como parte de uma composição musi- cal integral, o recorte pode ser feito de modo a ser reconheci- do como parte da composição (por exemplo, quando a trilha apresenta um intérprete

Visando este trabalho analisar o impacto e a importância dos Projetos Educativos do TNSJ no âmbito de uma educação artística, interessa-nos refletir sobre a relação dos

E para opinar sobre a relação entre linguagem e cognição, Silva (2004) nos traz uma importante contribuição sobre o fenômeno, assegurando que a linguagem é parte constitutiva

O CES é constituído por 54 itens, destinados a avaliar: (a) cinco tipos de crenças, a saber: (a1) Estatuto de Emprego - avalia até que ponto são favoráveis, as