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Velhice feminina no asilo: do imaginário ao real

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(1)

"Faculdade de

Farmácia,

Odontologia e

Enfermagem

Departamento de

Enfermagem

VELHICE FEMININA NO ASILO: DO

IMAGINÁRIO AO REAL

Maira

Di

Ciero

Miranda

Vieira

Fortaleza

2001

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(2)

Faculdade

de

Farmácia,

Odontologia

e

Enfermagem

Departamento de Enfermagem

Velhice

Feminina

no Asilo:

Do

Imaginário

ao

Real

Maira Di Ciero Miranda Vieira

Tese apresentada ao curso de' Pós-Graduação

em Enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do

Ceará para a obtenção do título de Doutor.

Orientadora:

Profa. Dra. The!ma Leite de Araújo

Fortaleza

(3)

162f,

Orientadora, Profa. Dra, Thelma Leite de Araújo

Tese (Doutorado), Universidade Federal do Ceará.

Programa de Pós-Graduação em Enfermagem - Doutorado

1. Asilo. 2. Representação Social. 3. Idoso I. Título

(4)

requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Enfermagem.

.Data da Aprovação: 30/04/2001

(5)

vida com sabedoria, amor e a

(6)

- À minha orientadora Dra. Thelma Leite de Araújo por acreditai’ em mim e pela

demonstração de amizade.

- Às professoras Dra. Lorita Freitag Pagliuca e Dra. Raimtmda Magalhães da

Silvapela compreensão e acolhida neste doutorado, demonstração de grandeza e prática humanitária.

- À minha companheira e amiga. Ana Fátima Carvalho Fernandes pelo apoio

bibliográfico e estímulo ao longo desta jornada.

- Às colegas do doutorado, em especial a Maria Vera Lúcia Leitão Cardoso, pelo

compartilhamento dos momentos de alegria e desânimo que de forma intermitente nos acompanharam ao longo desses anos.

- À minha mãe Candelária, pelo auxílio prestado nas correções ortográficas e pelo

acompanhamento geral deste trabalho, com quem dividiría o título

orgulhosamente.

- Aos funcionários da biblioteca que de forma solícita e eficiente colaboraram para

que a pesquisapudesse ser concluída.

~ Aos idosos do asilo, em especial às mulheres, fontes de saberes incontestáveis, pela participação tão valiosa e produtiva, geradora de uma amizade e confiança

entre nós, até o dia que Deus quiser.

- A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste

trabalho.

- À digníssima banca examinadora pela análise e contribuição enriquecedora para

(7)

O presente estudo teve como objetivo elucidar as representações sociais de

idosas em relação à sua vida asilar. Buscou-se apreender os mecanismos

cognitivos e afetivos na elaboração das representações à luz da Teoria das Representações Sociais de Moscovici. O corpus da pesquisa foi constituído por

doze entrevistas com idosas internadas num asilo da cidade de Fortaleza, Os

dados foram colhidos no primeiro semestre de 2000 através de entrevista e

observação e analisados tematicamente pela técnica de análise de conteúdo de

Bardin. A análise das experiências subjetivas, segundo esta teoria, está fundamentada na relação com os outros, expressando a consciência compartilhada do grupo social ao qual as idosas pertencem. Os resultados

esclareceram que as idosas têm. uma representação bastante negativa da velhice

e do asílamento. O ambiente asilai* é um reforço continuo aos atributos de

abandono, dependência e rejeição que a sociedade relaciona aos idosos. As

idosas que mantiveram um contato mais próximo com os familiares ao longo de

sua vida ou que foram obrigadas a ingressarem na instituição, têm mais

dificuldade de adaptação do que aquelas que viveram de forma mais

independente e que optaram por essa condição de vida. Para elas, o asilo é

adequado àqueles idosos completamente dependentes, física ou mentalmente, ou

em situação de extrema pobreza. Por não conhecerem outras alternativas

assistenciais de amparo aos idosos, consideram ser da família a total

(8)

This study intended to show evidences of elder’s social views within their

daily lives in a nursing Home. It looked for cognitive and affectionate data

from this particular context based upon Moscovicfs Social Representation

Theory. Data collection was conducted by means ofinterviews and participant observation among 12 elder women in a nursing home in Fortaleza between

January and July in 2000. The process analysis occurred through Bardin’s

content analysis which themes were produced based on the sharing experience and feelings combinedwith the Moscovicfs theory. The findings showed that these women held negative feelings with regards their lives conditions and

elderhood. For them, the nursing home environment reinforces the feeling of

loneliness and society’s rejection for the elders. Also, the elder womeij who

li ve d with their family closely has more difficulties to adapt than those who

Lived independently and chose such kind of living. For most, the nursing home

is an appropriate house for those who are in a poverty condition. Indeed, they

do not know any other way of living or assistance for the elders, thus they

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... ...10

2 RESGATANDO O TEMA NA LITERATURA... 14

2.1 Aspectos Demográficosdo Envelhecimento ...14

2.2 Considerações sobre Gênero e Envelhecimento ...20

2.3 Implicações do Envelhecimento nas Esferas Familiar e Social... 25

2.4 Política e o EnvelhecimentoPopulacional...36

3 DEFININDO O OBJETO DE ESTUDO...50

4 A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS COMO OPÇÃO TEÓRICA... 59

5 CAMINHAR METODOLÓGICO...67

5.1 Local da Pesquisa... 67

5.2 Caracterização da Amostra...70

5.3 Coleta e Análise dos dados...71

6 AS INFORMANTES. QUEMSÃO ELAS?...76

7 A DESCOBERTA DAS REPRESENTAÇÕES...83

7.1 Representação Social de Velhice... 83

7.1.1 Corpo e mente em decadência...84

7.1.2 Decadência psicossocial...88

7.1.3 Curso cronológico da vida...92

7.2 Representação Social de “Morar no Asilo”...94

7.3 Representação Social de Asilo...107

7.3.1 Espaço de libertação...108

7.3.2 Espaço de restrição...110

7.4 O Cotidiano na Instituição Asilar...113

7.4.1 Ociosidade...113

7.4.2 Relacionamentos conflituosos...121

(10)

7.4.5 Falta de espaço, privacidade e conforto...140

8 CONCLUSÃO...143

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...148

ANEXO 1- Aprovação da Pesquisa pelo Comitê de Ética...160

ANEXO 2-Termo de Consentimento...161

(11)

VELHICE

FEMININA

NO

ASILO:

DO

IMAGINÁRIO

AO

REAL

L INTRODUÇÃO

Aspectos relacionados ao envelhecimento têm me despertado interesse

já algum tempo, não apenas de ordem acadêmica como também de ordem pes­

soal, uma vez que pessoas significativas em minha vida estão vivenciando ou se

aproximando dessa fase específica do curso de vida, tida como a última.

A temática sobre o idoso ern trabalhos de pesquisa começou a ser ex­

plorada, escassamente, na área das ciências sociais na década de 60 e, somente a

partir dos anos 80 vem atraindo a atenção dos pesquisadores, assumindo maior

importância nesses últimos anos, como norteadora de políticas públicas a fim de

obter o bem-estar e justiça social.

A conquista da longevidade é um desejo intrínseco da humanidade ao longo de sua evolução. Chegar aos 60 anos era possível apenas para uma peque­

na parcela dapopulação brasileira. Este fato tem se tomado acessível a um núme­

ro crescente de pessoas em nosso país, sobretudo nesses últimos 20 anos.

O desenvolvimento científíco-tecnológico e sanitário alcançados, prin­

cipalmente, ao longo do século XX contribuíram, significativamente, para a me­

lhoria das condições de vida da população que, aliados à queda, da fertilidade projetou verticalmente o número de idosos, atingindo notórias proporções num

processo irreversível de envelhecimento populacional.

Essa transição demográfica, ou seja, a passagem de uma população

basicamente dejovens para outra de adultos e idosos, configurando o envelheci­

(12)

Assim, a experiência de envelhecer vem sendo trilhada em um caminho amplo e

grupai, antes tido como estreito e individual.

O alcance tão almejado da longevidade, longe de ser uma conquista universal, com garantia de ser dignamente vivida, tem sido encarada como um desafio, sem precedentes históricos, nas áreas social e de saúde.

A abrangência do processo de envelhecimento envolve aspectos políti­

cos, sociais, econômicos, éticos e culturais de uma nação. Os escassos recursos

financeiros até então destinados, basicamente, ao atendimento da população jo­

vem com o seu contingente ainda bastante significativo, passam agora a ser dis­

putados pela população idosapara atender suas necessidades específicas.

Essa problematização do envelhecimento como ameaça a ordem social

é o que tem aumentado a visibilidade política desse processo que, apoiado ainda

em estereótipos negativos de ser o idoso improdutivo, dependente, doente e po­

bre remete-o a uma posição hierárquica social menos valorizada.

Intelizmente, as medidas políticas em nosso país tendem a ser tempo­

rárias e raramente sustentadas e continuadas, o que seria indispensável para uma

efetiva assistência aos idosos, no que tange, principalmente, às áreas críticas de

responsabilidade doEstado que são: saúde, previdência e assistênciasocial.

Salgado (1982) já ressaltava que o Brasil carece de iniciativas políticas

que atendam com criatividade às novas demandas da população idosa e enfatiza

que a saída encontrada de forma imediata foi a multiplicação de asílos.

Todavia, com a falta de recursos sócio-culturais, os idosos indepen­

dentes buscam os asilos e se defrontam com o propósito alienante dessas institui­

ções que foram criadas para prestar assistência às necessidades mais diretas, so­

bretudo abrigo e alimentação. O idoso independente, continua Salgado (1982),

(13)

pendentes para os quais o asilo seria mais adequado, e aí se frustam com a falta

de atendimento das suas carências sociais mais comuns.

O asilamento dos idosos está longe de ser encarado como uma medida

política promissora,. Urge uma maior sensibilização para com os mais fragiliza­

dos, enfatizando a humanização da prática política e social.

Num país como o Brasil com notáveis diferenças regionais, má distri­

buição de renda, diferenças culturais etc., pode-se pensar em distintas formas de

viver e, portanto, de envelhecer. A heterogeneidade da experiência de envelhecer

acontece dentro de iim contexto histórico e o asilamento pode representar uma

forma comum de condição de vida para os idosos ali confinados que passarão a

encará-la, distintamente ou não, em consequência da visão de mundo que trazem consigo e, portanto, suas representações de velhice.

Minha primeira oportunidade de .investigação científica junto aos ido­

sos se deu durante o desenvolvimento de minha dissertação de mestrado em

Farmacologia no ano 1991. O trabalho foi desenvolvido dentro da linha positi­

vista, cujo objetivo principal foi a demonstração de alterações no número de re­

ceptores colinérgicos em cérebros de idosos dementes asilados. Esta restrita con­

vivência com os idosos, me remeteu a indagações de cunho existencial, que fo­

ram fortalecidas quando me tomei íntima de alguns deles. Viam em mim a opor­

tunidade de desabafarem suas angústias, decepções e tristezas, chamando-me

bastante a atenção a confiança em mim depositada para agir em prol do retomo

aos seus lares, parecendo ser a redenção daquela situação tão sofrida e distante

de sua realidade.

Por outro lado, naquela ocasião, pude assistir inúmeras vezes a decep­

ção dos familiares que procuravam a instituição e não conseguiam “livrar-se” de

seus velhos, devido a permanente lotação da casa. Para eles, de modo contrário

(14)

tornos e infortúnios. Chocou-me o conhecimento ;de que a grande maioria dos

idosos-possuíam família ou familiares próximos, além de gozarem de um bom

estado físico e mental, em outras palavras, capazes de auto-cuidar-se, contrapon­

do o objetivo da instituição que era de amparai; prioritariamente, os desampara­

dos. Não foi o comportamento dos familiares em deixarem seus idosos no asilo

que me incitou na investigação que agora me proponho a fazer, mas sim o inte­

resse em desvendarjunto ao idoso o significadopessoal e grupai de uma condi­

ção de vida de “excluídos da sociedade”, quando ainda encontram-se em perfei­

tas condições para interagirem socialmente.

No campo da enfermagem, o destaque maior tem sido com relação ao

idoso doente, ou melhor, no atendimento de suas necessidades, com poucos tra­

balhos enfocando com profundidade os aspectos subjetivos do envelhecimento

que buscassem compreender os sentimentos, desejos e modos de viver dos ido­

sos.

A fim de compreendermos a elaboração cognitiva da condição de asi­

ladas pelas idosas, influenciada tanto por fatores culturais quanto pessoais, obje­

tivamos neste estudo obter as representações sociais sobre a velhice e a vida na

instituição asilar como também analisar as implicações dessas representações so­

(15)

2, RESGATANDO O TEMA NA LITERATURA

2.1. Aspectos Demográficos do Envelhecimento:

A mudança demográfica caracterizada pelo envelhecimento populacional, vem ocoiTendo universalmente, abrangendo países ricos e pobres,

tomando-se visível após os anos 50 (Henrard,.1996).

Em 1950, o Brasil era o 16° do mundo, com 2,1 milhões de pessoas

idosas. Até 2025, estima-se que estará em 6o lugar, com a enorme soma de 31,8

milhões de idosos, apresentando o maior aumento proporcional dentre os países

mais populosos do mundo durante esse período (Veras, 1994). No decorrer do

século em curso, todas as regiões serão semelhantes em relação à estrutura etária.

Até 2025, prevê-se que três quartos da população idosa do mundo

estarão vivendo em países menos desenvolvidos.

Segundo classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS),

baseada na idade cronológica, o grupo de idosos abrange as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos e, pode ser subdivido em três categorias com

diferentes características e necessidades: idoso jovem (60-65/ 74 anos); idoso

(75 - 84 anos); idoso velho (acima de 85 anos).

No Brasil, nos próximos anos a'população idosa será ' constituída

característicamente de “idosos jovens”. Isto contrasta com o que acontece nos

países mais desenvolvidos, nos quais a faixa etária que cresce com maior

rapidez é a que se situa acima dos 80 anos (Longino,1988).

O aumento de idosos velhos requer atenção especial, uma vez que

apresentam mais problemas de saúde e são, portanto, mais dependentes,

tomando-se um desafio na área social, econômica e política (Tauber apud

(16)

Embora desde a décadade 60 a maior parte da população com mais de 65 anos vivessem em países do terceiro mundo foi a partir do crescimento

acelerado dessa parcela populacional que despertou o interesse político para essa

nova situação social.

No Brasil, o tema do envelhecimento populacional passou, então, a ser

discutido politicamente, e as ações sociais voltadas para os interesses dos idosos

estão contempladas em forma de lei.

A esse acelerado processo de aumento do número e proporção da

população idosa no Brasil como em outros países tidos de população jovem, dá-

se o nome de transição demográfica (Veras, 1991) que é determinada por uma

série de eventos:

a) Significativo declínio na mortalidade levando a um aumento da

população: o acentuado declínio da mortalidade infantil causando um

crescimento inicial da população infantil com um eventual aumento da

população idosa;

b) Declínio do índice de fertilidade, levando ao decréscimo da

população jovem e consequente aumento na proporção de pessoas mais velhas;

c) Aumento na expectativa de vida.

Restrepo e Rozental (1994) defendem que o envelhecimento

populacional é determinado principalmente pelo declínio da fertilidade sendo secundariamente influenciado pelo declínio da mortalidade ou do aumento da

expectativa de vida.

A velocidade com que se processam as mudanças demográficas tem

sido muito diferente entre o Brasil e os países desenvolvidos, devido à rapidez

do declínio das taxas de fecundidade. Por exemplo: na França, deverão

transcorrer 115 anos para que a proporção de idosos duplique ™ de 7% para

(17)

fenômeno durará apenas 30 anos - de 7,7% em 2020 para 14,2% em 2050 (Chaimowicz, 1997).

No início da década de 90, o número de idosos era de 11,4 milhões,

isto é 7,9% da população. Atualmente são 14,5 milhões, o que passou a

representar 9,1% da população brasileira. Apesar do processo de envelhecimento

recente, a população brasileira pode ser considerada uma das maiores do mundo, superiora da França, Itália e Reino Unido. (IBGE,2000)

Situando o Brasil dentro da América Latina, uma análise da

COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA -CEPAL (1999-2000)

retratou que o processo de transição demográfica tem-se efetuado em

velocidades diferentes entre os países latinoamericanos que foram, então, assim

classificados:

1~ Em transição avançada: países com taxa de natalidade e

mortalidade reduzidas, com crescimento populacional ao ano em cerca de 1% (Argentina, Antilhas, Bahamas, Barbados, Chile, Cuba, Guadalupe, Jamaica,

Martinica, Porto Rico, Trinidade e Tobago e Uruguai);

2- Em transição plena: países com declínio na taxa de natalidade e

baixa mortalidade. A taxa de crescimento populacional gira em torno de 2%

(Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guiana, México, Panamá, Peru,

República Dominicana, Suriname e Venezuela);

3- Em transição moderada: países com taxas de mortalidade em

rápido declínio e natalidade elevada, com crescimento populacional superior a

2,5% (Belize, El Salvador, Guatemala, Honduras,Nicarágua e Paraguai);

4- Em transição incipiente: países com níveis altos de natalidade e

mortalidade, com taxas de crescimento populacional maior que 2% (Bolívia e

(18)

Como se observa, o processo de transição demográfica vem atingindo

amplamente a América Latina onde a grande maioria dos países encontra-se nas fases de transição avançada ou plena.

Aproximadamente 75% dos idosos do Brasil vivem nas regiões

sudeste e nordeste. Na região nordeste, a população com 60 anos ou mais era de

aproximadamente 3% da população total em 1970 (IBGE,1970), passando para

6% em 1991 (IBGE,1992).

Especificamente, na cidade de Fortaleza, esse percentual chega a 8%,

sendo, portanto, semelhante ao levantamento realizado na cidade de São Paulo e

superior à média nacional. Esta transformação do perfil populacional do

nordestepode estaratreladaà migração de pessoas em idade produtiva além dos

declínios das taxas de fecundidade e mortalidade (BEMFAM, 1994 apud

Macedo Filho e Ramos, 1999).

No estado do Ceará somam-se atualmente em tomo de 600 mil os

habitantes com idade superior a 60 anos e, o número absoluto no Brasil é de 14

milhões (IBGE, 1996).

Em países industrializados, a queda das taxas de mortalidade e

fecundidade foi acompanhada pela ampliação da cobertura dos sistemas de

proteção social e melhoria das condições de habitação, alimentação, trabalho e saneamento básico (Camargo e Saad, 1990; Kalache et ah, 1987).

No Brasil, por outro lado, o declínio da mortalidade foi determinado

mais pela ação médico-sanitária do Estado que por transformações estruturais

que pudessem se traduzir em melhoria da qualidade de vida da população. Nas

primeiras décadas do século XX, através de políticas urbanas de saúde publica

como a vacinação, higiene pública e outras campanhas sanitárias e, a partir da

década de 40, pela ampliação da atenção médica na rede pública (Oliveira e

(19)

Tal fato ressalta o caráter urgente que as medidas políticas com

abrangência das áreas social, econômicae de saúde devem ser conduzidas para a

acomodação dessa nova realidade, sem tempo a perder com ações assistencialistas e de curto alcance que, longe de resolverem os problemas da

sociedade, são fontes de perpetuação das mazelas sociais e a possibilidade de um temeroso e incerto futuro para os que envelhecem.

O aumento da expectativa de vida traz consigo reflexo sobre a

condição de saúde da população. Com o envelhecimento pode-se esperar o

aumento de doenças e incapacidades, causando elevada demanda dos serviços

de saúde e de amparo social.

Fries (1980), defende ponto de vista contrário, considerando que o

aumento na expectativa de vida deve-se, sobretudo, à contínua melhoria das

condições de saúde, especialmente em retardar a instalação precoce de doenças,

reduzindo assim, a morbidade e a incapacidade entre os idosos. Contudo, há

uma modificação da incidência e prevalência de doenças na população relacionada ao processo de envelhecimento, despontando um novo perfil

epidemiológico.

Passa-se a enfrentar, juntamente com a transição demográfica, uma transição epidemiológica referente às modificações alongo prazo dos padrões de

morbidade, invalidez e morte e que engloba três mudanças básicas (Frenk et

al.,'199'1):

1“ Substituição entre as primeiras causas de morte ...das. doenças

transmissíveis por doenças não transmissíveis e de causas externas;

2- Deslocamento da maior carga de morbi-mortalidade dos grupos

mais jovens aos grupos mais idosos; e

3- Transformação de uma situação em que predomina a

(20)

No Brasil, como assinalam Frenk et al. (1991) essa transformação

epidemiológica não se dá de forma definida, mas sim como uma espécie de

coexistência dos aspectos novos com os antigos, cjue distingue o Brasil dos

países desenvolvidos como:

1- Não há transição mas, superposição entre as etapas onde

predominam as doenças transmissíveis e crônico-degenerativas;

2- A re introdução de doenças como dengue e cólera, ou o

recrudescimento de outras como malária, hanseníase e leishmaniose indicam

uma natureza não direcional, denominada “contra transição” ;

3- O processo não se resolve de maneira clara, criando uma situação

em que a morbi-mortalidade persiste elevada para ambos os padrões,

caracterizando uma “transição prolongada”. Para o idoso, as questões de

capacidade funcional e autonomia podem ser mais importantes que a própria

morbidade pois se relacionam diretamente com a qualidade de vida. ,

4- As situações epidemiológicas de diferentes regiões (desenvolvidas

e subdesenvolvidas) de um mesmo país tornam-se contrastantes (polarização

epidemiológica).

Uma vida longa, antes privilégio de poucos, agora é alcançada por

milhões de pessoas em todo o mundo. O progresso não pode ser medido

somente em quantidade de anos vividos, mas também em termos de qualidade

de vida, que implica no direito universal dos cidadãos de viver seus últimos anos

de vida de forma mais saudável e satisfatória. Somente desta maneira, seria

justificado o valor da conquista da longevidade tão almejada pela humanidade

desde os primórdios de sua existência.

Hoje, com o acelerado desenvolvimento científico, os mistérios do

funcionamento do organismo são desvendados minuciosamente através do

(21)

aspectos relacionados ao retardamento do processo de envelhecimento e às promissoras possibilidades de cura para diversas doenças.

2.2. Considerações sobre Gênero e Envelhecimento:

Diferente da crença popular, a revolução demográfica não é

essencialmente devido às pessoas viverem mais tempo, mas porque um número

acentuado de pessoas está atravessando todas as etapas da vida (Henrard, 1996).

Acredita-se, embora não se possa ter como certo, que a

hereditariedade tenha influênciana longevidade. Muitos outros fatores intervém, sendo o primeiro deles o sexo: em todas espécies animais, as fêmeas vivem mais

tempo que os machos. Na França, as mulheres vivem em média sete anos mais

que os homens. A. seguir, influem as condições de crescimento, de alimentação,

do meio e as econômicas (Beauvoir, 1990).

Diferenças no gênero em relação à longe vidade são uma-característica

importante no envelhecimento populacional. Esta diferença foi acentuada

durante este século devidõ a um forte declínio da mortalidade entre as mulheres.

A desigualdade de gênero no tocante à mortalidade resulta em um notável

desequilíbrio, aumentando com a idade. Esse processo foi denominado

“feminização” ciavelhice (Arber e Ginn,1993).

De acordo com o relatório da CEP AL (1999-2000), no Brasil o

número de mulheres idosas supera o de homens idosos em aproximadamente

20%, e essa maior sobre vi da feminina tende a ser ainda maior a partir dos 70

anos de vida.

Alguns argumentos foram levantados por vários autores

(Waldron,1983; Zhang et al.,1995) tentando explicar a causa da maior

longevidade entre as mulheres. Uma importante razão é atribuída aos fatores

(22)

As principais causas de óbito no sexo masculino estão concentradas

no sistema coração-pulmão (SidelJ.995) reforçando a participação do fumo na

diferenciação da mortalidade entre homens e mulheres. Entretanto, homens e

mulheres morrem basicamente das mesmas causas principais. Fatores de risco

semelhantes afetam amortalidade em ambos os sexos (Zhang et al.,1995).

Outros pesquisadores sugerem que os fatores sociais e ambientais são

bastante importantes .nas.fases mais precoces da vida e os fatores biológicos e

genéticos mais importantes na fase mais tardia da vida (Gee e Veevers, 1983). Acredita-se que as diferenças numéricas entre os sexos tendam a

diminuir pela redução dos riscos ocupacionais evitando mortes prematuras.

Importante ressaltar que a crescente adoção de estilos de vida similares aos dos

homens pelas mulheres em termos de trabalho, consumo de fumo e álcool pode

provocar o aumento das mortes em estágios mais iniciais (Henrard,1996).

Muitos dos estudos que trataram da saúde na fase mais avançada da

vida mostraram serem as mulheres mais doentes do que os homens da mesma idade. Os dados sobre morbidade demonstraram uma maior prevalência de

condições crônicas entre as mulheres quando comparadas com os homens

(Verbrugge, 1989; Zhang et af, 1995). As mulheres mais velhas avaliam seu estado de saúde menos positivamente que oshomens (Verbmgge/1985 e Arber e

Ginn/1993), referindo mais frequentemente à presença de incapacidades do que

os homens em numerosos estudos na França (Huet e Gardent,1994), Inglaterra (Martin et ah, 1988) e Estados Unidos (Verbrugge/1985; Manton/1988).

.No Brasil, um estudo publicado em 1994 e conduzido por Veras em

três distritos socioeconomicamente diferentes da cidade do Rio de Janeiro,

(23)

inúmeros aspectos da condição de vida dos idosos, dentre eles a saúde e a

capacidade funcional.

Dos resultados obtidos, a diferença mais importante entre os sexos foi

relacionada à saúde, onde entre os queixosos 72,3% eram mulheres. Já com

relação ao desempenho das atividades da vida diária, o dos homens foi melhor

do que o das mulheres.

A existência de vários tipos de deficiência física e a incapacidade de

cuidar de si mesmo têm grande importância no planejamento da assistência aos

idosos. Importa assinalar que a interpretação sobre a saúde e capacidade

funcional dos idosos do estudo citado anteriormente, foi a partir dos

sentimentos subjetivos em relação à saúde e não baseado em. urna avaliação

clínica objetiva de problemas. Mas, essas informações são necessárias para o

planejamento do atendimento de saúde para os idosos nos próximos anos.

A maior incapacidade das mulheres implica numa necessidade mais

acentuada dos serviços formais e informais de saúde, além do que não podem

ser beneficiadas como os homens (com a ajuda do esposo) e frequentemente

dispõem de poucos recursos financeiros.

Numa investigação transversal realizada por Macedo Filho e Ramos

(1999) na cidade de Fortaleza com idosos de estratos sociais diferenciados que

residiam na região central, intermediária e periférica de Fortaleza, revelou-se de

modo similar aos estudos em outras capitais brasileiras ( Rio de Janeiro e

São Paulo), que além da predominância do sexo feminino entre os idosos

(66%), havia uma elevada coexistência de cinco ou mais doenças crônicas no

sexo feminino (18,7%), chegando a representar mais de três vezes a apresentada

pelo sexo masculino (5,8%).

O grau de autonomia dos idosos incluídos nesse estudo foi maior nas

áreas cujo poder aquisitivo da população era maior, sendo considerados autônomos, 67,9% dos idosos da região central, 43,8% da região intermediária e

(24)

44,6% da área periférica de Fortaleza. Esses dados, dentre outros, caracterizam a precariedade das condições de vida dos idosos mais pobres e a necessidade de

serem assistidos por outras pessoas.

Portanto, a maior longevidade entre as mulheres está atrelada também

ao aumento da dependência. Com frequência as idosas deverão mudar-se para a

casa de um de seus filhos, geralmente após a viuvez, como também serão

candidatas a morar em instituições asilares quando outro aparato familiar não for

capaz de atendê-las nas suas necessidades. Mesmo nas famílias extensas, o

amparo aos idosos é um problema a mais somando-se ao desemprego, pobreza,

disputa por herança entre seus membros, mães solteiras sem renda para sustentar

sua prole e, que são de difícil solução.

O problema de viver só assume diferentes dimensões ao se considerar

o sexo feminino e masculino. O homem torna-se mais isolado dos parentes após

a morte da esposa. Recebendo menos cuidados pessoais do que ã mulher de

seus familiares e amigos, apresentam maiores dificuldades em se ajustarem à

vida sozinhos tomando-se um grupo vulnerável (Arber e Ginn ,1993).

.4**

Metade das mulheres incapacitadas vivem sozinhas e são dependentes

de cuidados não remunerados de seus familiares. Esse contexto as toma privadas

de sua independência e identidade própria. Entretanto, essas diferenças no modelo de sociabilidade proporciona á mulher um estado mais avantajado em relação ao homem de uma melhor estrutura social na velhice, ou seja, dispõe de

um sistema informal para a sua assistência (Henrard,1996).

Diferenças importantes relacionadas ao nível de assistência social

baseada no gênero e classe social foram também relatadas por Arber e Ginn (1993) onde, de um modo geral, 2/3 dos homens idosos recebem cuidados pessoais e domésticos da esposa, enquanto as mulheres idosas recebem, um pouco mais de um quarto, cuidados pessoais do marido.

(25)

Essa informação foi apoiada também pelos dados encontrados por

Macedo Filho e Ramos (1999) na cidade de Fortaleza, onde os idosos do sexo

feminino viviam em sua maioria (67,2%) sem cônjuge (separados, solteiros ou

viúvos), ocorrendo o contrário com os do sexo masculino onde 77,5% viviam

com a esposa ou com umacompanheira.

A mulher é a principal cuidadora dos inválidos, das crianças e dos

idosos. Assume, muitas vezes, o papel de cuidadora em idade bastante jovem e

portoda a vida, sendo o principal ator da economia local, pertencente ao mundo

privado de um trabalho não remunerado. Historicamente, a mulher exerce um

trabalho invisível e tem sido remunerada insatisfatoriamente ao longo de sua

vida devido a estrutura social, que a isola do processo de crescimento e

desenvolvimento. Isso contribui para torná-la mais fragilizada, abandonada e com risco mais alto de adoecer (Neysmith,1990).

O marco da velhice assume significado distinto para o homem e para a mulher, surgindo um padrão duplo de envelhecimento. Para o homem, o

■I»

envelhecimento é definido como a cessação do trabalho produtivo e para a

mulher com o término do ciclo reprodutivo. Devido ao fato das mulheres serem

valorizadas por sua juventude e beleza física, a idade avançada é tida como um

desafio, uma vez que diminui a fonte de auto-estima, trazendo uma

desvalorização social (Arber e Ginn, 1991).

A experiência feminina da velhice é considerada, na maioria das

vezes, como uma continuidade porque não há ruptura com o ambiente de

trabalho e os relacionamentos tradicionais, cujo desempenho dos papéis está

ligado ao sexo pode ser um meio de alimentar sua auto-estima (Beauvoir apud

Henrard, 1996).

Noutra perspectiva, tomando como exemplo as mulheres idosas de

(26)

das relações tradicionais e influência dentro família pela manutenção de seu

papelna esfera doméstica, o que delineia um s tatus de superioridade persistente.

Os idosos têm consciência dessa troca de papéis. No caso do homem que se aposenta e passa de uma vida publica para a privada exigindo uma adaptação que embora possa lhe trazer algumas vantagens como o descanso e o lazer, depara-se também com graves desvantagens como o empobrecimento e a

desqualificaçao(Beauvoir, 1990).

O envelhecimento feminino pode ser encarado de forma negativa por

estarem as mulheres vivenciando uma situação de dupla vulnerabilidade através

de dois tipos de discriminação - como mulher e como idosa. E, apesar de

considerar o lado positivo de não se afastarem do lar, na velhice, as mulheres

defrontam-se, mesmo dentro de seu mundo domiciliar mais restrito, com

inúmeras perdas como o abandono dos filhos adultos, viuvez ou o conjunto de

transformações físicas inerentes ao processode envelhecimento.

Nas sociedades ocidentais contemporâneas, a esse conjunto de perdas

deve-se somar o subemprego, os baixos salários, o isolamento e a dependência

que caracterizam a condição das mulheres com idade avançada (Streib, 1975;

Rodhes, 1982 apud Debert, 1999).

Os padrões sociais e culturais necessitam ser remodelados sobretudo, no aspecto discriminatório amplo que sofrem os idosos, a fim de protegê-los do

isolamento, através da colaboração entre os vários setores da sociedade

incluindo os governantes, os profissionais, voluntários e familiares que direta ou

indiretamente estão envolvidos com o modo de vida reservado aos idosos.

(27)

A interação cios aspectos biológicos e sociais é essencial para analisar as repercussões do envelhecimento, uma vez que os fatores sócio-psico-

biológicos são constituintes inseparáveis desse processo geral.

O envelhecimento é considerado como a última etapa da vida

biológica, quando os sinais de deterioração física inevitavelmente são aparentes,

terminando com amorte. É tido também como o último estágio da vida social do

indivíduo, o resultado final da experiência social coletiva e pessoal do indivíduo.

Podemos dizer que o seu processo é determinado e determina as sociedades nas

quais vivemos (Beauvoir,1990), ou seja, é um fato cultural.

Ao longo da história, o velho assumiu diferentes gradações cie valor de

acordo com o tipo de sociedade em questão. Como por exemplo, nas sociedades

mais primitivas, incapazes sequer de constituir uma tradição oral e sendo sua

única opção de vida, a sobrevivência, o velho era sacrificado, uma vez que

encontrava-se fisicamente debilitado, e, portanto, incapaz de automanter-se,

requerendo cuidado e alimento. Em contrapartida, com o uso da tradição oral

pelas sociedades iletradas, os velhos assumiram a responsabilidade de

perpetuá-la, pois detinham a memória, a históriado grupo e passaram a gozar de prestígio

social (Silva, 1981).

No Brasil, não há a valorização da história, da memória e da tradição,

onde tudo passa a ser encarado como velho e ultrapassado pela rápida e

constante aquisição de novos conhecimentos e costumes, e .que, .diante dessa

cultura volatilizada, o idoso é tido como um elemento a parte, sem

reconhecimento social. Essa consciência é reforçada pelos interesses capitalistas

que visam o lucro e a produtividade, em que o velho por não constituir mão de

obra apta para o trabalho, é desvalorizado e abandonado pelo Estado e pela

sociedade.

A miséria e exclusão que atingem considerável parcela da população

(28)

Conforme retrata Sá (1991, p.19), o velho brasileiro, sobretudo quando petencente à classe social menos favorecida, é vítima do sofrimento, pois é visto como:

(um ser humano) discriminado, inativo, vivendo em

condições precárias e em situações de perda do status, do prestígio e das relações funcionais decorren tes do trabalho

(...) Consequentemente temos um idoso em crise; crise de

identidade, que o leva na maioria das vezes, à retração, à

volta a si mesmo, à sínclrome da pós-aposentadoria

caracterizada pelo isolamento, pela solidão, pelo

desinteresse pela vida, alcoolismo, divórcio, decrepitude,

senilidade, morte social e morte física.

Vischer, citado por Bastos (1993) considera a velhice como a “idade

das perdas”. Essas perdas são representadas por diversos tipos de luto: pela

perda da beleza física, da libido, do trabalho, do prestígio, dos filhos que se

tomaram adultos, da prefiguração da própria morte, etc.

Esses estereótipos negativos associados à velhice são evidenciados a

partir da segunda metade do século XIX, sendo encarada como um processo

contínuo de perdas e dependência o que traduz o significado de ser velho na

sociedade moderna.

Por estar o termo “velho” carregado de sentido pejorativo foi

substituído na França na década de 70 pelo termo “ terceira idade” menos

preconceituoso, com a implantação das “Universités du Troisième Age”.

Atualmente esse termo está amplamente difundido popularmente no mundo ocidental (Stucchi, 1994).

Para Debert (1999), existe uma tendência na sociedade

contemporânea, em procurar reverter a visão negativa ligada ao processo de

envelhecimento para outra de uma fase de realizações até então não

conquistadas. A valorização dos idosos a partir das experiências vividas e os saberes acumulados são encarados como ganhos, garantindo-lhes desfrutar de

(29)

uma relação harmoniosa com os mais jovens, somada à busca de novos

objetivos na vida.

Iniciativas sociais estão surgindo atualmente, com interesse de obter

a afirmação da identidade e da busca da dignidade do idoso, como as

universidades para a terceira idade, as escolas abertas e os grupos de

convivência (Debert, 1999).

Vale salientar que, as oportunidades de participação das novas formas

de sociabilidade na velhice não são igualmente acessíveis ao conjunto da

população, considerando a heterogeneidade da sociedade brasileira, sobretudo

com acentuados desníveis sociais. Portanto, é falso pensar que o avanço da

idade por si só dissolvería distinções socioculturaís que marcaram as etapas

anteriores da vida.

A multiplicidade das experiências do envelhecimento está

sedimentadana história de vida que tem como elementos formadores asrelações sociais e familiares, os diversos modos de vida e as características individuais de

enfrentamento dos problemas vivenciados.

Segundo Laslef{1987) para que a velhice seja uma etapa da vida propícia à realização e satisfação pessoal, é necessária a existência de uma

“comunidade de aposentados” com peso suficiente na sociedade, demonstrando

dispor de saúde, independência financeira e outros meios apropriados para

atingir suas expectativas.

Tal argumento parece distante da realidade brasileira, cujos idosos,

apesar do número expressivo, não se encontram suficientemente organizados

para causar o reconhecimento político de seus direitos e, nem tão pouco

conscientes de sua condição de cidadãos sociais ativos e participantes, e não

meramente expectadores passivos e carentes à espera da caridade de terceiros

(30)

A falta de credibilidade e empenho da sociedade civil em organizar-se,

seja de forma ampla ou em grupos de interesses específicos, na conquista ou

garantia do cumprimento dos seus direitos, necessita ser trabalhada e exercitada pelos cidadãos brasileiros como poderoso instrumento de força para a mudança

do quadro social deplorável do nosso país.

Os fracos indícios de uma maior sensibilização da sociedade

brasileira para com os idosos, não conseguiram ainda, gerar o impacto suficiente

para mudar a representação da velhice em direção a uma existência livre de

preconceitos e com melhor qualidade de vida.

Podemos identificar duas visões antagônicas de velhice: a tradicional,

tida como uma fase de dependência e perdas e outra que vem despontando,

como uma fase promissora, com ganhos e realizaçõespessoais.

A mídia possui notável influência como transformadora e divulgadora

de opiniões e imagens. Com relação à velhice, observa-se um emergente

mercado de turismo e lazer, e produtos como os cosméticos e farmacêuticos,

voltados para uma velhicemais saudável e, potencialmente adiável.

Os idosos em especial os de maior renda, podem ser influenciados a

tornarem-se consumidores desenfreados, caindo na ciranda da especulação

comercial, sem contudo, terem eqliitativamente dentre os membros da

sociedade, seu valor existencial reconhecido.

A divulgação da adoção de estilos de vida saudáveis, onde compete a

todos a responsabilidade de manterem-se jovens, denota a própria negação ou

rejeição da velhice nanossa sociedade (Debert, 1999).

É, pois, diante desse cenário de desvalorização da velhice que o inegável processo de envelhecimento populacional está inserido, e que, antes de

urna análise social mais ampla, perpassa primariamente pelas inúmeras formas

de organização das famílias e que irão influenciar na capacidade em assistir os seus idosos.

(31)

Por tradição, a segurança da população idosa tem sido garantida dentro da estrutura familiar extensa ou ampliada. Contudo, no Brasil, o padrão

de famílias ampliadas está declinando, e existem indícios de que os sistemas de

apoio tradicionais estão sendo desfeitos pelas mudanças sociais (Berquó e Mota,

1988).

A família continua a ser o principal meio de apoio social, emocional

e econômico. Os valores sociais que concorrem para a percepção social sobre os idosos e o seupapel na sociedade, dentro das mais variadas estruturas familiares,

foram influenciados ao longo dos anos pela migração urbana, pelo processo de

industrialização, mudança no papel feminino, transformação da força de

trabalho, pobreza e marginalização da população, expansão do setor informal

dentre outros fenômenos que ocorreram nesse contexto global (Restrepo e

Rozental, 1994).

A precariedade das políticas públicas faz com que o peso da situação

do idoso recaia sobre a família que também encontra-se despreparada para essa

novasituação.

Devido a maior longevidade de seus integrantes, as famílias devem

assumir esse desafio apoiada na resolução, a nível privado, dos problemas

assistenciais das pessoas idosas (CEPAL, 1999-2000).

Para as classes menos favorecidas economicamente, amparar o idoso pode significar a desestabilização da estrutura econômica e funcional da família.

Uma das consequências mais visível do envelhecimento populacional

dá-se em termos dos arranjos familiares como: idosos morando sozinhos ou com

parentes, mulheres chefiando a família ou morando com os filhos e, em alguns

casos, obviamente, uma pequena parcela dos idosos terá como única opção para

a sua sobrevivência, o asilo (Berquó,1999).

Contrariamente, em alguns casos, afigura do idoso assume importante

(32)

que voltam a residir com o idoso e que vêem na aposentadoria irrisória, a

garantia da sobrevivência familiar.

Outro papel positivo assumido pelos idosos em boas condições de

saúde, ao invés de ser considerado uma carga, é a contribuição com o cuidado dos mais jovens da família, por exemplo, quando a mãe tem que se ausentar para

trabalhai’. Isto ocorre, basicamente, no caso específico das mulheres idosas, cuja

capacidade de executarem os afazeres domésticos e serem responsáveis pelo

cuidado dosnetos, tidos como tarefas femininas na nossa sociedade, lhes garante

um papel definido e indispensável para que os adultos possam ter condições de

trabalhar sem contudo apelar para medidas desconfortáveis como deixar os

filhos sem a guarda de um adulto por período integral.

Com relação aos idosos com problemas de saúde e, portanto, com

necessidade de serem assistidos, Yasaki et al.(1991) lembram que para os idosos

pobres com comprometimentos físicos e cognitivos, residentes nas grandes áreas

metropolitanas, as relações com a família configuram-se como mais

*

problemáticas intensificadas com a carência de instituições de amparo e suporte

ao idoso. Porém, mesmo fíesses casos de dependência, o asilamento geralmente

é visto como negativo, com significado de abandono e refúgio.

Nesse sentido, vê-se na família o último e porque não o único recurso

com que o indivíduo pode contar, quando os países não investiram nos sistemas

de proteção institucional específicos para as pessoas em condição de

dependência sejaeconômica ou por motivos de saúde (CEPAL, 1999-2000).

Consta na Constituição Federal de 1988, que o encargo para com os

idosos não deve estar unicamente sob a responsabilidade familiar quando dispõe

em seu artigo 230: “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as

pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua

(33)

O relevante suporte informal de parentes e amigos destinado aos

idosos, pode ser explicado, sob a ótica sociológica, da ajuda entre as pessoas

estai' fundamentada nas normas sociais de reciprocidade, igualdade e responsabilidade social. A primeira denota o pagamento das ações recebidas no

passado de alguma pessoa, no caso, agora corno idosa. A equidade focaliza a

importância do custo e da recompensa de um relacionamento. E a última, aponta

que a ajuda prestada a quem necessita é um dever e não pode ser omitido

(Henrard, 1996).

A existência de normas sociais por si não justifica por que as pessoas

as seguem. Elas contribuem para nossas crenças sobre o quanto e como devemos

ajudar os outros e sobre quem é responsável pela solução dos problemas da

pessoa necessitada.

Evandrou e Victor (1989) mencionaram que o fato dos idosos

viverem com os filhos não é garantia da presença de afeto, prestígio ou respeito,

nem da ausência de maus tratos. As denúncias de violência física contra idosos

aparecem nos casos em que diferentes gerações convivem numa mesma unidade

doméstica. Assim sendo, a persistência de unidades domésticas plurigeraciouais não pode ser vista, necessariamente, como garantia de uma velhice bem sucedida, nem o fato de morarem juntos, um sinal de relações mais amistosas entre os idosos e seus filhos.

No levantamento realizado na cidade deFortaleza por Macedo Filho e

Ramos (1999), dos idosos investigados, 75% .residiam em • lares

multigeracionais, sendo predominante na área periférica embora bastante

expressiva na área central constituída de pessoas com maior poder

socioeconômico.

Porém, o idoso que mora só não é, necessariamente, o reflexo do

abandono de seus familiares. Pode significar uma nova forma de família

(34)

1983), com suporte familiar adequado seja na esfera das necessidades físicas ou

emocionais, não implicando numa mudança qualitativa nas relações entre

familiares.

Independentemente da forma de moradia do idoso, sozinho ou em

família, o importante é a possibilidade de se obter uma velhice bem sucedida,

que não é decorrente apenas do nível de renda ou saúde, mas aspectos mais

subjetivos são de extrema importância, como a qualidade do apoio, satisfação

com a vida, bom relacionamento familiar, segurança e tranquilidade.

Outra forma de arranjo residencial já praticada com resultados favoráveis nos países desenvolvidos, é a segregação espacial dos idosos, o que

permite a ampliação de sua rede de relações sociais, aumenta o número de

atividades desenvolvidas e a satisfação na velhice. Essa nova abordagem,

baseia-se na idéia de que o bem estar na velhice não está arraigado às relações

familiares intensas nem ao convívio intergeracional (Debert, 1999).

-Para os estudiosos, os conjuntos residenciais ou condomínios fechados

para idosos, além do aparato necessário para a comodidade, favorece uma rede

de solidariedade, de troeis, de afeto, de reencontro com os papéis sociais

perdidos, promovendo uma experiência positiva da velhice mesmo para aqueles

com pouca proximidade com os familiares. As diferenças de gênero desaparecem ou, quando mantidas, ganham outros significados, uns ajudam os

outros de modo que, amparados mutuamente, a institucionalização seja evitada (Debert, 1999).

Essa constatação positiva de uma vida segregada não é regra geral,

Jacob ciptid Debert (1999) em seu trabalho de cunho antropológico, mostrou que os idosos segregados não se sentiam satisfeitos e demostravam apatia,

passividade e sentiam-se solitários.

(35)

Os novos arranjos residenciais que surgem em resposta às

demandas dos idosos não devem funcionar como substitutos

das relações familiares. Devem, no entanto, representar

locais distintos de convivência, embora em ambos seja

absolutamente necessário o compartilhamento de

sentimentos de amizade, solidariedade e honestidade.

No caso específico do Brasil, cabe salientai' que as novas

comunidades para idosos que oferecem conforto e comodidade são de iniciativa

privada com custo inacessível a um contingente expressivo da sociedade que

vive em condições precárias e por vezes de miserabilidade.

O pobres, quando sem condições de residirem com os familiares ou

sós, deparam-se com a alta probabilidade de serem internados em asilos públicos

ou filantrópicos, cujas condições de atendimento condizem com a constante

crise financeira que enfrentam. Por isso, a qualidade da assistência prestada aos

idosos institucionalizados, torna-se dependente da provisão instável de recursos,

seja da iniciativa privada ou governamental.

Diante do exposto, vemos a falta de perspectiva para uma velhice

amparada seja pela família, sociedade ou Estado que possam garantir a

dignidade individual e coletiva, além de uma vida com qualidade.

Os estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre as

necessidades dos idosos, demonstraram ser o problema principal o bem-estar

econômico, com falta de recursos para satisfazer as necessidades mais básicas,

como por exemplo o acesso aos serviços de saude. O maior desafio para os políticos de países em desenvolvimento é, portanto, conseguir prover ura

cuidado a longo prazo a esse elevado número de idosos pobres, ou seja, um

gmpo vulnerável a adoecer ou atornar-se incapacitado.

O fardo social gerado pela rápida expansão da população idosa é

(36)

esses novos problemas sociais e de saúde despontam sem ainda terem

conseguido resolver osproblemas relacionados à população jovem.

Essa situação requer a iniciativapolítica para:

1- Reduzir o peso do envelhecimento sobre a economia e sobre a

sociedade;

2- Assegurar serviços sociais e de saúde para a população idosa,

promovendo sua participação na sociedade e uma vida economicamente produtiva.

O impacto social do envelhecimento afeta a dinâmica do mercado, guiado pela troca de valores. Os idosos encontram-se em desvantagens nas

sociedades voltadas para o lucro e a economia, que tendem a desumanizar o

processo social de envelhecimento. O indivíduo é valorizado pelo seu poder

aquisitivo e pela sua capacidade produtiva de trabalho. Este comportamento

social tende a desprezar as necessidades dos idosos ou não proporcionai' a

integração dos mesmos no mercado de trabalho para voltarem a assumiro papel

de produtores e consumidores (Restrepo e Rozental,1994).

No entanto, a qualidade de vida, oportunidades e perspectivas futuras

para a maior parte dos idosos são a pobreza, marginalidade e a dependência

econômica (Restrepo e Rozental,1994).

O impacto do envelhecimento populacional tem grande repercussão sobre o sistema de saúde e é de difícil superação, pelo aumento dos custos dos

serviços.

O sistema biomédico vigente de atendimento à saúde tem direcionado

a provisão dos serviços de saúde a um nível operacional. O resultado é o uso

exagerado de tecnologias caras, responsáveis pela inflação dos gastos com

saúde,

Para Henrard (1996), o modelo biomédico contribui para medicar

(37)

saúde individual e do ambiente coletivo. Prioridades dadas às soluções médicas/técnicas são responsáveis pelo uso inapropriado de hospitais, por

exemplo, pela ignorância de alternativas mais' efetivas e eficientes para

satisfazer a demanda desse grupo particular da população.

Segundo as pesquisas feitas pela ORGANIZAÇÃO

PANAMERICANA AS SAÚDE-OPS/ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE

SAÚDE-OMS em .1989, os idosos fazem mais uso dos serviços de saúde e

causam mais gastos com a saúde do que a população em geral, devido,

principalmente, à natureza crônica da maioria de suas doenças,

Na Conferência Internacional sobre envelhecimento populacional

ocorrida em 1992 em San Diego (USA), foi recomendável que a definição aceita

para a saúde seja revista para tomá-la mais apropriada aos idosos, através da

incorporação de conceitos como estado funcional de saúde, independência,

cronícidade, autonomia, auto-percepção de saúde e o estado ambiental físico e

social.

*

Portanto, a solução para as sociedades contemporâneas no

atendimento aos idosos deverá se apoiar em mudanças políticas e econômicas,

objetivando o fortalecimento do apoio familiar no atendimento aos idosos, como

também um incremento nos investimentos sociais garantindo sistemas de apoio

na área social e de saúde.

2.4. Política e o Envelhecimento Populacional;

O recente processo de envelhecimento populacional traz novas

demandas de serviços na área social: assistência social, de saúde e

previdenciária, constituindo um desafio para os governantes e para a sociedade.

Ao mesmo tempo em que ainda se faz necessária a pressão pela ampliação de direitos universais básicos - educação, saúde, alimentação,

(38)

moradia, aumentam, também as demandas fragmentadas de cidadãos em condições insatisfatórias de vida e que se manifestam individual ou

coletivamente (famílias, grupos etários, moradores de uma região).As dimensões

da política social devem cobrir os programas universais formadores da

cidadania, independentes da forma específica de inserção social e das ações

focalizadas em espaços e em grupos socialmente vulneráveis como por exemplo,

o de idosos.

O poder público, cujas metas e ações não atingem seus fins devido às

graves crises econômicas e falta de- reordenação de suas prioridades sociais,

atua através do controle temporário de situações tidas como emergenciais, sem

contudo, contar com um planejamento encadeado e harmonioso entre as

diversas áreas envolvidas, para lidar com os problemas provenientes do aumento

dapopulação idosa.

Sobre a desorganização e inadequação das medidas políticas Silva e

Neri (1993, p.233) afirmam:

Se cís intervenções forem planejadas a partir de

diagnósticos das necessidades e interesses (...) no plano

mais amplo, possivelmente auxiliariam a implementação de mudanças familiares, institucionais e socioculturais em

relação ao suporte familiar e social, bem como em relação

às políticas sociais para o idoso e a família no Brasil.

Outro agravante da situação brasileira são os acentuados desníveis

sociais, onde a minoria tudo tem e a grande maioria nada tem, vivendo numa

situação de completa ausência dos direitos básicos de cidadão.

A pobreza e a miséria para muitos é perpetuada ao longo da vida uma vez que a melhoria das condições de vida está atrelada à acessibilidade da

população a uma educação de qualidade, serviços sanitários e de saúde e

condições de emprego e aposentadoria dignas, as quais ainda encontram-se

(39)

O trabalho informal passa a ser aúnica opção de sobrevivênciapara os

pobres (adultos e velhos), cuja desqualifícação profissional os impede de serem

absorvidos pela rede formal de emprego que não atende a demanda de

trabalhadores considerados aptos para o trabalho.

Trabalhar no mercado informal significa a falta de. garantia de direitos

como a aposentadoria, auxílio-doença, férias, fundo de garantia por tempo de

serviço ( FGTS), dentre outros.

O impacto da política previdenciária na vida das famílias é cruel,

pois tanto a aposentadoria como o auxílio doença não se traduzem em formas

eficazes de sobrevivência. Sobre isso Cartaxo (1995, p. 169-170) relata:

... a política previdenciária, mediante estratégia do

segurado em “auxílio-doença” permite-nos deduzir que se

aproxima mais de um modelo assistencial do que,

propriamente, de seguridade social (...) Não há como

pensar em objetivcição dos direitossociais.

A seguridade social, por meio da assistência social, deveria ter uma

política voltada para o atendimento da população excluída. O benefício da Lei

Orgânica da Assistência Social (LOAS) é bastante restritivo: destina-se apenas

aos idosos com setenta anos ou mais, cuja renda familiar seja um quarto do

salário mínimo vigente. Sabe-se que a expectativa devida acima de setenta anos,

em geral, contempla aqueles que vivem com mais de cinco salários e em regiões

mais desenvolvidas. Verifica-se que o idoso de baixa renda não tem

reconhecimento dos direitos mínimos de cidadão caracterizando sua condição de

excluído socialmente (Silva, 1998).

O conceito de exclusão social está mais próximo ao oposto de coesão social ou como ruptura de vínculo social. O excluído não necessita cometer

(40)

condição imposta do exterior, sem que para tal tenha contribuído direta ou

indiretamente (Nascimento, 1994).

Dentro de umaconcepção sociológica ampla, a exclusão social

refere-se a um processo de não reconhecimento do outro, ou de rejeição, ou ainda

intolerância. Trata-se de uma representação que tem dificuldades de reconhecer

no outro direitos que lhe são próprios e que, o excluído, sem vínculo societário,

desenvolve vínculos comunitários particulares, como forma de sobrevivência

social. Caso contrário, está condenado ao completo abandono e esquecimento.

Nesse sentido, aproxima-se do conceito de discriminação, como podemos

visualizar nos negros, homossexuais e idosos (Nascimento, 1994).

Uma outra abordagem de exclusão social, refere-se aos que não

fazem parte do mundo do trabalho, não possuindo, em decorrência, condições

mínimas de vida. Por vezes, o fato de não trabalhar produz efeitos de não inserção social e exclusão do mundo de direitos. A incapacidade da sociedade

em criar empregos ou a eles atribuir uma renda mínima, atinge jovens e os

velhos mais frequentemente.

Nascimento (1994) denomina de "desnecessários economicamente” ao

expressivo contingente de pessoas que, além de desempregadas não têm

capacidade de gerar renda suficiente, pela desqualificação profissional, para

entrar no mercado de trabalho. Esses indivíduos perdem qualquer função

produtiva e passam a constituir um peso econômico para a sociedade e para o

governo.

A especificidade da exclusão social no Brasil está fortemente

relacionada com a desigualdade social e com a pobreza. Como pobreza,

entende-se "a situação em que se encontram membros de uma determinada

sociedade despossuídos de recursos suficientes para viver dignamente, ou que

não têm as condições mínimas para suprir as suas necessidades” (Nascimento,

(41)

Uma reforma que fosse útil socialmente e com largo alcance na área

previdenciária deveria estabelecer mecanismos financeiros que garantissem a

manutenção do poder aquisitivo e das pensões e também proporcionassem

proteção social à crescente população de idosos (Laurell, 1996).

Os problemas relacionados à seguridade social não serão resolvidos

sem uma política ativa e sustentada de criação de emprego e recuperação salarial

como forma de atingir o bem-estar social.

Aposentarias e pensões constituem a principal fonte de rendimento da

população idosa. Se, por um lado,, o número de benefícios é crescente a cada

ano, por outro, as despesas médias com o pagamento desses benefícios pela

Previdência vêm apresentando, com raras exceções, variações negativas. Em

1988, quase 90% dos idosos aposentados no Brasil recebiam contribuições de

até 2,5 salários mínimos (Chaimowicz, 1997), o que retrata o empobrecimento e

a perda do poder aquisitivocom a aposentadoria.

Debert (1999, p.188) declara que a “história política brasileira foi um

verdadeiro assalto às condições de aposentadoria, transformando o idoso um

peso para a família e em objeto de desdém da sociedade como um todo”. E, nos deparamos com uma perda do poder aquisitivo dos idosos cujos salários são

corroídos pelos elevados índices de inflação da economia nacional, sem contudo

contarem com a certeza dasreposições que todos os trabalhadores fariam juv.

O estado de pobreza dos idosos está relacionado a graves problemas

do sistema previdenciário: falhas na organização da burocracia, descontrole

sobre a receita e as despesas, sonegação de contribuição, incompetência na

gestão de recursos e fraudes na concessão dos benefícios, levando o trabalhador

idoso a receber quantias irrisórias, causando um crescente empobrecimento e

comprometendo seriamente uma qualidade de vida desejável ejusta.

Apesar dos reduzidos valores das aposentadorias, no Brasil, em 1996, os dados indicavam que três em quatro idosos possuíam cobertura

(42)

previdenciária. A percentagem dos que não recebem aposentadoria ou pensão

está abaixo de 25% (CEP AL, 1999-2000). Poucos países da América Latina,

além fio Brasil, conseguiram uma ampla cobertura como: Uruguai, Argentina e

Chile

Andrade (1999) revelou que muitos municípios de economia precária

e de população majoritariamente pobre, os benefícios da Previdência

representavam 20,3% da renda monetária das famílias nos municípios com até

5.000 habitantes. Em todo país a média é de 7,2%. Neste caso específico,

paradoxalmente, a aposentadoria significava um passaporte para a ascensão

social dos idosos, garantindo-lhes poder de compra e credibilidade no comércio

local. Em alguns casos, a renda dos familiares chegava a triplicar com o

pagamento do salário mínimo da aposentadoria. Isso porque a maioria

trabalhava no campo e ganhava em média R$ 40,00 por mês. Conclui-se, que os

idosos movimentam a economia de muitas pequenas cidades brasileiras.

O custo das aposentadorias é visto, pelos experts em contabilidade,

como uma catástrofe para a economia nacional em decorrência da grande soma

de recursos necessária pargt uma população de inativos e que põe em risco a

reprodução da vida social, e, a esse prognóstico assustador denominaram de

“crônica da crise anunciada”. Esse mesmo argumento também tem sido utilizado

para a legitimação de uma preocupação teórico-acadêinica com a velhice ou

propor ações concretas, visando alcançar um envelhecimento bem sucedido

(Simões cipud Debert,1999).

Mesmo em países onde o envelhecimento e a velhice são motivos de

atenção e planejamento especial, a sociedade encontra-se despreparada para

oferecer a curto ou médio prazos uma solução para o problema.

Chama-nos a atenção a carência de recursos financeiros peculiar aos

(43)

problema não se resume simplesmente ao plano econômico, mas ao social, com implicações bastante complexasmesmo nos países ricos.

A tecnologia avançada e o progresso científico não deram conta dos

flagelos sociais que os governos, de forma insensível, não têm se preocupado.

Para a velhice ser encarada como um problema social não basta

apenas sua projeção numérica, más de quatro aspectos que, segundo a visão de

Remi e Lenoir citados por Debert (1998) são:

a) o reconhecimento: implica tomar visível publicamente uma

situação particular através da ação de grupos socialmente interessados em produzir uma nova percepção do mundo social a fim de agir sobre ele (ex:

gerontólogos, sociólogos, etc.)

b) a legitimação: não é consequência automática do

reconhecimento público do problema. Ao contrário, supõe o esforço para promovê-lo e inseri-lo no campo das preocupações sociais do momento,

c) a pressão: refere-se à capacidade de conseguir jynto às

autoridades competentes, o atendimento de suas reinvindicações, seja através

das ações de grupos específicos ou por seusrepresentantes.

Um exemplo de pressão dos idosos movido junto ao poder público que obteve êxito, foi o movimento dos aposentados, conhecido como a

mobilização pelos 147% ocorrido em setembro de 1991 no Brasil. Nessa época,

os aposentados se rebelaram contra o aumento concebido para os beneficiários

da Previdência Social que foi apenas de 54,6%, quando o salário mínimo

recebeu um aumento de 147%, conseguindo a equiparação dos índices de aumento.

Essa atitude do governo em dar um aumento diferenciado dos salários,

mostra o desinteresse com as causas relacionadasaos idosos, através de medidas claramente discriminatórias.

(44)

Muitas vezes, o reconhecí mento/legitirnaç ao do direito vem

conj untamente com a pressão da sociedade civil junto aos políticos.

Infelizmente, os direitos não são obedecidos na forma da lei, sendo imprescindível apressão ou negociação política para o cumprimento dos direitos já assegurados legalmente.

d) a expressão: engloba o surgimento de novos termos que no caso

específico da velhice procuram amenizar os estereótipos negativos a ela

relacionados na nossa sociedade, como a expressão “terceira idade”.

Para tratar dos direitos dos idosos foi promulgada em 1994 a Lei n°

8842 que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e cria o Conselho Nacional

doIdoso e o Decreto N° 1948/96 que aregulamentou.

Infelizmente no Brasil, a existência de leis, decretos e portarias não garante os direitos dos cidadãos, nem tão pouco direciona os caminhos políticos a serem trilhados em busca de uma distribuição mais'eficiente e

igualitária dos recursos públicos.

O artigo 3o da referida lei, diz que “ a família, a sociedade e o Estado

têm o dever de asseguraNao idoso os direitos da cidadania, garantindo sua

participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à

vida”.

O atendimento da população idosa requer esforços conjugados nas três

instâncias: familiar, social e estatal a fim de garantir uma melhor qualidade de

vida.

A família deve amparar seus idosos assegurando-lhes a sobrevivência

e um convívio harmonioso e participativo, tratando-os com respeito.

À sociedade cabe não discriminar nem excluir os idosos de direitos comuns a todo cidadão, como a oportunidade de trabalho, ao lazer, ao

transporte. Fala-se muito em reinserir o idoso na sociedade o que significa

Referências

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