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A (In)compreensão do paradoxo da soberania popular na democracia contemporânea

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UN I VE R SID AD E FE D E R A L D E S AN T A CA T AR IN A CUR SO D E PÓ S - G R AD U AÇÃ O E M D IRE ITO

D O UTO R AD O E M D I RE I TO C A R OLIN E FER R I A ( IN ) C OM PR EEN SÃ O D O PA R A D OX O D A SOB ER A N IA PO PU LA R N A D EM OC R A C IA C ON TEM POR Â N EA Fl or ia nó polis 2 0 1 2 .

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UN I VE R SID AD E FE D E R A L D E S AN T A CA T AR IN A CUR SO D E PÓ S - G R AD U AÇÃ O E M D IRE ITO

D O UTO R AD O E M D I RE I TO C A R OLIN E FER R I A ( IN ) C OM PR EEN SÃ O D O PA R A D OX O D A SOB ER A N IA PO PU LA R N A D EM OC R A C IA C ON TEM POR Â N EA Fl or ia nó polis 2 0 1 2 .

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Caroline Ferri

A (IN)COMPREENSÃO DO PARADOXO DA SOBERANIA POPULAR NA DEMOCRACIA CONTEMPORÂNEA

Tese submetido(a) ao Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de doutora em direito.

Orientador: Prof. Dr. Sergio Urquhart de Cademartori

Florianópolis 2012

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Caroline Ferri

A (IN)COMPREENSÃO DO PARADOXO DA SOBERANIA POPULAR NA DEMOCRACIA CONTEMPORÂNEA

Esta Tese foi julgada adequada para obtenção do Título de Doutor em Direito, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 21 de setembro de 2012. ________________________

Prof. Dr. Luiz Otávio Pimentel – Coordenador do Curso

Banca Examinadora: ________________________

Prof. Dr. Sergio Urquhart de Cademartori – Orientador (UFSC) ________________________

Prof. Dra. Katya Kozicki (UFPR) ________________________

Prof. Dr. Argemiro Cardoso Moreira Martins (UnB) ________________________

Prof. Dr. Fábio de Oliveira (UFRJ) ________________________ Prof. Dra. Danielle Annoni (UFSC) ________________________

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R ESU M O

A pr e se n te tes e b u sca a b or da r o pa pel da s ober a ni a p o p ula r na s de mo c r a cia s c on te mpo r â nea s, vi ndo a des ta ca r a s po ssí v eis i n c o nsi stê ncia s e ntr e a def i niç ã o dess e poder e da de mo c r a cia c o nt e mp or â nea . A pr i nc i pa l dif ic ul da d e d esta i n ter li ga ç ã o c o n ce it ua l está na di fer e nç a e ntr e o p o v o, o p or ta d or d o p o d er s ob er a no, e a quel e que ex er ce est e p oder . Assi m se c o nsti t ui um pa r a dox o da s ober a nia p o p ula r : o p o v o, a i n d a que se ja o por ta dor do poder sob er a n o, é o s u je it o q ue me n os de ci de nos r e gi me s d e mocr á ti c os. E n tr eta nt o, a i n da p er sis te a i de ia de q ue a d e mocr a c ia r esi de f u n da me nta l me nt e n o povo s ober a no. E sta pesq ui sa i nt e nta de monstr a r q ue es te pa r a dox o é n ec essá r i o e c ons tit u ti vo da pr ó pr ia de mo cr a cia . Pa r a ta nt o, b us c o u- se a c o mp r e e nsã o da te or ia da de moc r a cia da s elit es d e J o se p h A. Sc h u mpe ter e d os pr e s supos t os da te or ia da s ob er a nia e m s ua a ce pç ã o p olí ti ca e jur í di ca e m tex t os a pa r tir de J ea n B odi n. P or fi m, a pa r tir des ta s li ga ç õ es teó r i ca s, i nt e nt ou - s e a na lisa r a s cons eq uê ncia s d est e pa r a d ox o na p er c e pç ã o da d e mocr a c ia e da sober a nia p o p ula r .

Pala v r a s - c ha v e : de mocr a cia da s e lit es . P ode r sob er a n o. Ma ni f esta ç ã o d e vonta de p opula r .

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A B STR A C T

T his d o ct or a l t he sis a i ms t o i nvesti ga t e t he r ol e of p op ula r s o v er e i g nt y i n c o nt e mpor a r y de moc r a cies. T h e c o nc e pt ua l c or r ela t i o n b et we e n t he se ca te gor i es is ha mp er e d b y t he se pa r a ti on b et we e n t he pe opl e, t he h o l der o f s o ver ei g n p o wer , a n d w h om exer cis es t his power . T h us , p o p ula r s o v er e i g nt y is a pa r a d ox : t he pe opl e, hol d er o f sov er ei g n p ow er , is w ho m le ss de ci des i n de mo cr a ti c r eg i me s. N e ver t h el ess, i t per sis ts t he i dea t ha t de mo cr a c y is d e pe n d e nt o n t he not i on of a sover ei gn pe opl e. T hi s w or k i nt e n ds t o s h ow t ha t t his pa r a dox is b ot h nec essa r y a n d c o n sti t uti v e o f de mo cr a c y. T o pr ove t his hypo t hes is , th e r es ea r c h use d t he t he or y of de mocr a c y of el it es o f J ose p h A. Sc h u mp e ter a nd s o me el e me nts of t he t he or y o f sov er ei g n t y o f J ea n B odi n. Fi na l l y, fr om t he s e t he or eti ca l r ela ti o ns hi p s wer e d e mons tr a te d c ons eq ue nces of t hi s pa r a d ox i n t he p er c e pti o n of de mocr a c y a nd p o pula r sov er ei g n t y.

K e y wo r ds: p op ula r s over e i g nt y . S over ei gn p ower . D e mo cr a c y o f eli tes

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R ÉSU M É

La pr é se nt e t hè se c her c he à a b or der l e r ôle de la so u ver a i neté p o p ula ir e da ns le s dé mocr a ti e s c o nt e mpo r a in es, et dé ta c her l es poss ible s i nc onsis te nce s e ntr e la dé fi ni ti o n d e c e pouvoir et de la dé mocr a ti e c o nt e mpo r a in e. La pr i nc i pa le dif fi c ul té de c et t e c or r é la tio n c o nc e pt u ell e se tr o uve da ns la di ff é r ence e ntr e le pe u pl e, le p or t e ur d u p ouv oir s o uver a i n, et c el ui q ui ex er ce c e p o u v o ir . Ai ns i, se c on sti t ue un pa r a doxe de la so u ver a i neté p o p u la ir e : le p e upl e, mê me s’ i l e st l e por te u r d u po u v o ir s o u v er a i n, i l e st le s uj et q ui dé ci de l e moi n s da ns l es r é g i me s dé mo cr a tiq ues. C e pe nda nt, il per s ist e encor e l’idée q ue la dé mocratie réside fonda mentalement da ns l e pe u pl e s o u v er a in. Ce tt e r ec her c he essa ye d e dé mon tr er q ue c e pa r a d ox e est né ces sa ir e et c ons tit uti f d e la dé mo cr a ti e ell e - mê me . P o ur c ela , on a c her c hé la c o mpr é he nsi o n d e la t hé or i e de la dé mocr a tie des é lit es d e J ose p h A. S c h u mp e t er et des pr é su pposé s de l a thé or i e de la sou ver a in eté da ns s o n a c ce pti o n p ol itiq ue et j ur i diq ue da ns des tex tes à pa r tir de J ea n B odi n. F i na le me nt, à pa r ti r de ces corrélations théoriq ues, on a essayé d’ analyser les c o nsé q ue n ces de c e pa r a dox e da ns la per c e pt i on de la dé mocr a ti e et d e la s o u v er a ineté po pula ir e.

M o t s - c lé s: D é mo cr a tie d es é lit es . P ouvoir s ouver a in . Ma ni fe sta ti o n d e v ol o n té pop ula ir e.

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SU M Á R IO IN TR OD U Ç Ã O . . . 1 0 1 D EM OC R A C IA C ON TEPOR Â N EA : A C EITA Ç Ã O D E U M A C R ISE E C OM PR EEN SÃ O D A N A TU R EZA D O SEU C ON C EITO . . . ... . ... . .. 1 5 1 . 1 A d e mo cr a c ia e nq ua nt o c on cei t o i gua l me nt e di f u n d i d o e i nc o mpr ee nd i do. ... . ... . ... . .. . . ... . .. 1 8 1 . 2 As or i g e ns d e mocr á ti ca s... . .. . . ... . ... . ... . ... . .. . . 2 2 1 . 3 A cr í ti ca d e mo c r á tica d e J os e ph S c humpe t er 4 2 1 . 3 . 1 A de fi niç ã o de de mo c r ac ia . . . 5 3 1 . 4 A de mo c r a cia r e vi sita da : c ons i der a ç ões

sob r e a p o lia r qu ia . .. .. .. .. .. . ... . ... . ... . ... . .. . . ... . . 5 9

2 O POD ER SOB ER A N O E SU A S

D EFIN IÇ ÕE S: D E U M POD ER

A B SOLU TO PA R A U M POD ER

LIB ER TÁ R IO . . . 7 0

2 . 1 O po d er s ob er a no mod er no: r upt ur a ou c o nti n u i da de ?.. .. .. .. . ... . ... . .. .. ... . ... . ... . ... . .. . . ..

7 2 2 . 2 Bo d i n e o p oder se c ula r iz a do: a sob er a nia

c o mo a tr ib ut o d o E sta do.. . ... . . .. . ... . ... . ... . ... . . 7 5 2 . 3 Alt h u si us e a s ob er a nia c onstr uí da por

a cor d os e ntr e os i n di ví duos e a ss ocia ç ões. . .. 8 0 2 . 4 H ob b e s e o p oder s ob er a no a bs ol ut o e

ili mi ta d o . .. .. .. .. . ... . ... . .. .. .. .. .. . . .. . ... . .. . . ... . ... . . 9 0 2 . 5 O s Le v ell er s e o pov o i gua li tá r io c omo

tit ula r da s ober a nia . .. .. .. .. .. . ... . ... . ... . ... . ... . ... 1 0 3 2 . 6 Ro u ssea u e a vonta de g er a l. . .. . ... . . .. . ... . ... . ... 1 1 8 3 A S P ER GU N TA S FU N D A M EN TA IS SOB R E O P OV O . . . 1 2 5 3 . 1 A d e fi niç ã o d e p ovo na s te or ia s da sob er a n ia . .. .. .. .. .. .. .. . ... . ... . .. . . ... . . .. . ... . ... . ... . . 1 2 8 3 . 2 O p o v o tr a ta d o c o mo c o nj unt o no q ue s e r ef er e a q ue stõ es l e gis la ti va s. ... . ... . ... . ... . . .. . . 1 3 9 3 . 3 K else n e S c h mi tt: um deba te a cer ca da

f or ma de ma nif es ta ç ã o da s vonta de s do p o v o.. . ... .. .. .. .. .. .. .. . ... . .. .... . ... . . .. . ... . ... . ... 1 4 1 4 A LGU M A S C ON SEQ U ÊN C IA S D O PA R A D OX O D A SOB ER A N IA POPU LA R PA R A A D EM OC R A C IA 1 7 1

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C ON TEM POR Â N EA . . . 4 . 1 A c o mp l ex a r e la ç ã o e ntr e de mocr a cia e c o nsti t uc i o na lis mo . . . ... . ... . .. .. .. .. . . . ... . ... . ... . ..

1 7 3 4 . 2 O p o d er c o ns tit ui nt e c omo um el e me nt o de

te nsã o e n tr e de mocr a cia c onsti t uc i ona l e p o d er s ob er a n o. .. .. .. .. . ... . ... . .. .. .. .. .. . ... . ... . ... .

1 7 5

4 . 2 . 1 A s c o nst it uiç õ e s r e vol uc io nár ias fr a nc e sas c o mo fo nt e de de bat e sobr e o po de r so be r a no do po v o e o po de r c onst it ui nt e . . . 1 8 4 4 . 2 . 2 O po de r c o nst it ui nt e e nq ua nt o c at e gor ia po lít ic a .. .. .. ... ... . .. .. .. .. . . . ... . ... . . .. . ... . . .. . ... . 1 9 4 4 . 3 A a ut o n o mia na pa r tic i pa ç ã o polít ica :

mo d i f ica ç õ es na co nc e pç ã o de poder p o p ula r . ... . .. .. .. .. .. . ... . ... . .. .. .. .. . . . ... . ... . ... . ..

2 0 1

4 . 4 A v o nta de d o povo e a a ut onomia da pa r ti ci pa ç ã o p o lít ica : o pov o é o s uje it o c o nsti t uc i o na l c o n te mpor â ne o?.. . . . ... . ... . ... . ..

2 0 7

4 . 5 A de mo cr a cia c ontr a ma j or itá r ia : os li mit es q u e n e m o p ovo pa r ti ci pa t i vo pode ul tr a pa ssa r ... . .. .. .. .. .. . ... . ... . . ... . ... . ... . .

2 1 1

4 . 6 O us o da s ob er a nia pop ula r c omo a r gume nt o d e mu da nç a c onst it uc i ona l no Br a sil: pr oj et os de e me nda s c o nsti t uc i ona is de r ev isã o c o ns tit u ci ona l. .. . ... . ... . .. .. . .. . . .. . ... . ... .

2 1 9

C ON C LU SÃ O . . . 2 2 9 B IB LIOGR A FIA . . . 2 3 3

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IN TR OD U Ç Ã O

Hegel, no prefácio de seu texto “Filosofia do Direito”, retrata que assim como cada indivíduo pode ser dito “filho do seu tempo”, também a filosofia deve ser vista como o próprio tempo apreendido.1 Este discurso sobre a importância do pensar contemporâneo sempre esteve presente nos textos políticos. Tocqueville, em carta endereçada ao Conde Louis de Kergolay, datada de 15 de dezembro de 1850, afirma que a ele caba a tarefa de pensar um assunto contemporâneo, a grandeza e o espetáculo do mundo dos nossos dias.2 A despeito disso, o próprio Tocqueville afirma que a importância dos estudos sobre a Revolução Francesa se trata não somente acerca da compreensão do presente, mas também lançam luz sobre o passado e sobre o futuro.3

Nesta estrutura de pensamento, este trabalho também deve ser dito como oriundo deste tempo, o tempo presente. Sua análise dos fatos referentes ao seu objeto, ou seja, a relação nem sempre linear e calma entre a democracia e a soberania popular, é realizada por meio não de conjecturas sobre uma espécie de dever ser deste binômio, mas segundo a essência do seu ser.

Isso significa afirmar que este texto não tem por escopo analisar como deveria ser a democracia na sua melhor e ideal forma, tampouco a

1

Refere-se ao momento em que o autor expõe que “compreender o que é é a tarefa da filosofia, porque o que é é a razão. No que diz respeito ao indivíduo, cada um é, sem mais, filho de seu tempo, e também a Filosofia é o próprio

tempo apreendido com o pensamento.” No original “comprender lo que es, es la

tarefa de la filosofía, porque lo que es, es la razón. Por lo que concierne al individuo, cada uno es, sin más, hijo de su tiempo; y también la Filosofía es el

propio tiempo aprehendido, con el pensamiento.” (HEGEL, 2009, p. 34)

2

“No fundo, as coisas de nosso tempo são as únicas que interessam ao público e que interessam a mim mesmo. A grandeza e a singularidade do espetáculo que o mundo de nossos dias apresenta absorvem demais a atenção para que se possa atribuir muito valor a essas curiosidades históricas que satisfazem às sociedades ociosas e eruditas.” No original “Il n’y a, au fond, que les choses de notre temps qui intéressent le public et qui m’interessent moi-même. La grandeur et la singularité du spectacle que présente le monde de nos jours absorbe trop l’attention pour qu’on puisse attacher beaucoup de prix à ces curiosités historiques qui suffisent aux sociétés oisives et érudites.” (TOCQUEVILLE, 1987, p.15)

3

“Além disso, lança uma viva luz sobre a época que a precedeu e sobre a que a sucede.” No original “Elle jette, de plus, une vive lumière sur l’époque que l’a précédée et sur celle qui la suit.” (TOCQUEVILLE, 1987, p. 16)

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soberania popular na sua idealidade de apreensão dos desígnios do povo. Em razão disso, também não se propõe a formular “soluções” para este conflito. A opção deste trabalho é tratar da democracia e da soberania como elas são e não como deveriam ser.

O tema aqui desenvolvido está centrado na relação entre os conceitos de democracia e de soberania popular. Esta relação tem uma aparência de normalidade: a democracia é um regime político onde o povo é o responsável pelo governo e a soberania popular aponta o povo como o efetivo detentor do poder político. Dessa forma, um Estado democrático seria aquele em que o povo exerce o poder político por meio da estrutura da representação.

Como este povo, pelo seu grande número, não tem condições físicas de realizar o exercício deste poder, ele elege, por meio de um sistema eleitoral livre e igualitário, representantes políticos cuja tarefa principal é dar os rumos ao governo tal qual o povo daria. As decisões tomadas por tais representantes são, em última instância, as decisões do povo. Dessa situação é que se afirma que nas democracias o lugar do poder é vazio. Vazio porque o povo, seu legítimo portador, não o pode exercê-lo por modo direto. Assim, o poder democrático não se caracteriza por um indivíduo ou grupo de indivíduos, mas por apresentar esta condição de vacuidade onde, periodicamente, aquele que tem verdadeiramente o poder decide quais indivíduos irão ocupar temporariamente o seu espaço e por ele decidir.

Essa estrutura conceitual, entretanto, ainda que se apresente como inerente aos próprios conceitos e, por tal razão, institutos complementares, não está isenta de uma aporia tão significativa que coloca em contradição os seus elementos basilares. A democracia como um governo do povo soberano não se afirma quando de sua provação empírica.

Essa aporia existente entre a democracia e a soberania popular, e daí a afirmação acima da dificuldade empírica do conceito, está no fato de que a despeito de ser o povo o real soberano nos Estados democráticos, ele é o sujeito que menos decide. Sua esfera de atuação está, via de regra, limitada aos momentos eleitorais onde cada membro deste povo que se encontra habilitado para a participação política dá o seu voto para um dentre inúmeros candidatos que se dispõem a ocupar os tais espaços temporários do poder.

O problema central deste trabalho está justamente em evidenciar este paradoxo existente entre o governo democrático, que pressupõe a soberania popular, e o povo que não decide. Ao realizar tal tarefa, teve-se como hipóteteve-se que esta contradição não pode teve-ser vista como um

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problema a ser resolvido, mas que se constitui na característica principal dos regimes democráticos existentes nos Estados contemporâneos. Corresponde, então, a afirmação de que este paradoxo é um componente central das teorias democráticas e, justamente por isso, não pode ser visto como uma dificuldade a ser resolvida, mas como um componente intrínseco da própria democracia.

Para realizar tal tarefa, iniciou-se o texto com a demonstração das dificuldades em se estabelecer um conceito democrático livre não somente de questionamentos, mas que, essencialmente, coloque em termos teóricos a forma como a democracia se manifesta no Estado. Assim, partiu-se da ideia de que a democracia é um conceito envolto em uma crise. Esta crise se deve justamente pelo fato de que por mais que seja ela o regime mais “aceito” e difundido nos Estados contemporâneos, ela não está livre de críticas, cada vez mais presentes, de que ela não consegue dar conta de sua proposta, qual seja, o governo popular. Assim, discutiu-se o fato de que a difusão e aceitação do regime democrático se dá nos mesmos patamares das incompreensões acerca de seu conceito.

A discussão aqui realizada acerca da democracia teve por fundamento dois autores: Joseph A. Schumpeter e Robert Dahl, que trataram, respectivamente, das teorias da democracia das elites e da poliarquia. Schumpeter, ao afastar as considerações sobre bem comum e moralidade da ideia de democracia, destaca o papel restrito que a atuação popular possui neste regime. Ao povo cabe a escolha dos representes políticos. Estes são aqueles indivíduos que se colocam a disposição para a atuação em cargos eletivos. Tais representantes possuem liberdade de atuação conforme as suas próprias convicções e interesses, algo tido por inadequado pelas teorias clássicas da democracia e da soberania popular representativa mas que é uma das falas constantes acerca da democracia. Entretanto, esta definição do autor se coaduna com o elemento contemporâneo da possibilidade de escolha dos indivíduos em participar ou não da vida política.

Já Dahl assume a idealidade democrática tal qual uma teoria perfeita a ser buscada. Assim, as democracias existentes são aproximações deste ideal, sendo chamadas de poliarquias. A tarefa contemporânea seria, dessa forma, procurar realizar uma sistematização que, nas condições empíricas, sejam mecanismos eficientes para que por um lado se evite o despotismo e por outro se assegure o maior número de liberdades individuais possíveis.

Posteriormente o enfoque deste texto se centrou nos debates acerca do conceito de poder soberano. Neste momento, foi necessário o

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demonstrar de argumentos que envolvesse o sentido de soberania, como o seu caráter secularizado, absoluto e unitário, seu surgimento e a ideia de igualdade. Por óbvio, os autores divergem quanto a essas e outras questões. O importante, aqui, foi justamente demonstrar que a despeito das discussões sobre o sentido do poder soberano, ele apresenta uma característica comum, a qual, a superioridade quando da tomada de decisões em um Estado.

Optou-se, para esta tarefa, por tratar de alguns autores específicos. Aqueles não mencionados neste texto também apresentam sua importância. A escolha aqui foi feita para a demonstração de certos argumentos, o que pode ser feito pelos pensadores mencionados no texto.

Feitas estas explanações acerca da soberania, coube a caracterização desta como um elemento popular. Para tanto, foi necessário enfrentar algumas questões importantes quando da associação do poder para com o povo. A primeira e essencial dessas é justamente o questionamento acerca de quem é o povo. Ele é considerado pelos autores em geral como uma unidade. Entretanto, apresentam-se dúvidas acerca de como tal unidade é constituída, se por uma questão de costumes e tradições ou por elementos jurídicos. Deste problema derivam outros tão significativos quanto o primeiro. A dificuldade de se dar uma definição de povo, ou seja, qual a sua identidade traz em si o questionamento acerca de como ele pode vir a manifestar a sua vontade. Neste momento recorre-se a autores populares como Hans Kelsen e Carl Schmitt, que apresentaram formas distintas de caracterizar a unidade do povo e, por consequência, o papel dos representantes e do parlamento nos regimes democráticos.

Por fim, pretendeu-se demonstrar a complexidade desta relação entre democracia e soberania popular por meio da análise de algumas questões onde tanto o conceito de democracia quanto de soberania popular são utilizados na sua forma ideal e não real. A proposta, então, é justamente apresentar situações não exclusivas onde a incompreensão do paradoxo da soberania popular como algo constitutivo do regime democrático traz inadequações de caráter político-jurídico, quer em termos conceituais quer em termos empíricos.

Tratou-se, então, da relação tensa entre democracia e constitucionalismo, dado que se tem por princípio a ideia de que o poder constituinte originário do povo cria a constituição que deve ser seguida pelo Estado. Mostra-se, aqui, justamente que esta relação não se apresenta de modo tão direto e imediato quanto parece. Um exemplo

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dessa tensão está nas constituições revolucionárias francesas, que buscaram conceder ao povo uma supremacia super valorizada.

Ademais, esta incompreensão do paradoxo da soberania popular e da democracia põe em debate as questões acerca da autonomia na participação política e a identidade do sujeito constitucional. Por fim, pretendeu-se demonstrar que a ideia de democracia contramajoritária, que tem por fundamento o respeito e a manutenção de direitos fundamentais, se mostra como uma forma da própria aporia da soberania, dado os limites que mesmo o povo não pode ultrapassar no sentido de mudanças no texto constitucional.

Pensa-se a democracia em seu sentido clássico, como governo do povo que exerce o poder por meio de seus representantes eleitos diretamente. Porém, há que se considerar a impossibilidade de ser atingido o conceito de democracia. O governo popular em sua acepção clássica é irrealizável. O que ocorre são aproximações deste ideal.

A percepção idealizada da democracia faz com que se espere dela questões que ela, pela sua realidade, é incapaz de realizar. Deseja-se um governo absolutamente popular, onde as vontades e interesses do povo sejam sempre efetivados. Mas essa expectativa é própria do conceito de democracia em sua idealidade. Assim, qualificar-se a democracia e, essencialmente, se espera dela e ela é criticada em função de uma estrutura que ela, por si mesma, em termos reais, não apresenta. Daí a importância de, a partir do conceito real de democracia, se repensar a ideia e papel da representação e do povo.

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1 . D EM OC R A C IA C ON TEM POR Â N EA : AC EITA Ç Ã O D E U M A C R ISE E C OM PR EEN SÃ O D A N A TU R EZA D O SEU C ON C EITO

A de mo cr a cia t e m s e c onst it uí do c omo o gr a nd e r eg i me p olí ti c o da mod er ni da d e. A des peit o de ta l c o nsta ta ç ã o, a i n da per s ist e m i nú mer a s dú vi da s a cer ca d e se us f u n da me n t os e s ua s c o ns tr uç ões polí tica s. Ma is uma r epr ese n ta ç ã o de u ma es pé ci e d e mode l o de s oci e da de do q u e a des i g na ç ã o d e u m r e gi me polí tic o pr opr ia me nte , pode ser situa da em u ma espécie de “ zona de penumbra”, da d o o c o ntr a st e exis te n te e ntr e s e us el e me nt os c o mpo n e n te s. S e p or u m la do, a de mocr a cia r epr ese nta a pr ó pr ia e s per a nç a d e u m r e gi me f u nda do e m pr e ss upost o s d e lib er da d e e i g ua l da de , por outr o la do, s ua le nt i dã o e m pr o d uz ir ta is e fe it os a ca b a por s e c ons tit uir e m u ma espécie de “ freio” a parte das ex pectativas que os sujeitos p o d e m n ela de p os ita r .

A pe sa r da dis se mi na ç ã o d o r e gi me de moc r á t ic o na a tua li da de, a s cr í ti ca s e i nsa tis fa ç ões c om s e us r es ul ta dos pa r e ce m cr esc er c o nj un ta me nt e. Is s o, de ntr e outr os fa t or es, de v e - se a o des c omp a ss o e n tr e a s ex pe cta ti va s q ue a s pes s oa s p os s ue m da de moc r a cia e o s e u r ea l f u nc i o na me nt o . A os ol hos dos ci da dã os, o poder na d e mocr a c ia p o de ser ex er ci d o por po líti c os pr ofiss i ona is mov i d o s p or in ter esse s pr ó pr i os ou de gr upos ec onô mi c o s que nã o tra duziria m uma suposta “ vontade ger al” do povo. Bob b i o ( 1 9 8 6 , p. 7 8 ) ex põe q ue [ . . . ] d es d e q u e l a d em o cr a ci a fu e el e va d a a l r a n g o d e l a m ej o r f or m a d e g ob i er n o p os i b l e ( o d e l a m en os m a l a ) , el p u n t o d e vi s t a d es d e e l cu a l l o s r eg í m en es d em o c r á t i c os s on j u zg a d os e s el d e l a s fa l s a s p r om es a s : n o cu m p l i ó l a p r om es a d el a u t og ob i er n o, n i l a d e l a i g u a l d a d , n o s ol o f o r m a l s i n o s u s t a n ci a l .4 4

Tradução livre: “[...] desde que a democracia foi elevada à classe de melhor forma de governo possível (ou de a menos ruim), o ponto de vista a partir do qual os regimes democráticos são julgados é o das falsas promessas: não

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O pa r a d ox o da s ob er a n ia popula r ( e nt e ndi do c o mo a cir c u ns tâ n cia e m q ue o p ovo, a pe sa r d e s er o det e nt or d o p od er n o E sta d o, é o q ue me n os deci de nos r e g i me s d e mo cr á ti c os) p o de ex pl ica r o des c omp a sso e ntr e ex pe cta ti va s p o p ula r es e a r ea li da de da de mo cr a cia c o mo u m c o n cei t o i n tr í nse c o a o pr ó pr i o r e gi me.

N o sé c u l o X IX , c om a i mposiç ã o do mo d e l o d e mo cr á ti c o e c o m a a ssu nç ã o do pa pel da sob er a nia p op ula r , a de mo cr a cia v e m a se f unda me nt a r nã o ma is c o mo u m r e gi me poss í vel de ntr e t oda s a s f or ma s d e g ov er n o , ma s c o mo o r e gi me ma is a de q ua do pa r a a c o ns ol i da ç ã o d o E sta do de dir ei t o. Ma s esta c ons oli da ç ã o nã o f oi s u fi ci e nt e pa r a a ca l ma r os es pír it os cr ític o s d o r eg i me de mo cr á ti c o. A o c ontr á r io, ca da vez ma is a pr ó pr i a d e mo cr a c ia t or n o u- s e u m l uga r c omu m de c onf lit o s e e nfr e nta me n t os c uj o obj et o e nvo l ve a pr ópr i a essê nc ia e va l or da de mo c r a cia .

As t e or i a s de mo c r á ti ca s c ont e mpor â nea s, pa r a te nta r r es ol ver est e c o n fli t o, a pr ese nta m e m s e u ce ntr o uma te nta ti va d e eq u ilíbr i o da r ela ç ã o ex ist e nt e e ntr e c i da dã o s e i nst it uiç õ es. O u se ja , u ma t e nta t i va de r e sta bel ec er o ví n c ul o e ntr e p o v o e s e us r e pr ese nta nte s d e mo d o a le gi ti ma r a pr ó pr ia de mocr a cia . E sta cr is e de mocr á ti ca p od e s er me n c i o na da c omo u m r e fl ex o c ons e que nc ia lista d e a c o nt ec i me n t os q u e há muit o já er a m obs er va dos, c o mo a pr ó pr ia cr is e d o c onc eit o de s ober a nia popula r , o nd e o p ov o, c o mo det e nt or do po der s ob er a no, é o a quel e q u e te m me n or p o d er de ci sór i o. E sta cr ise s ob er a na , a o co l oca r e m x eq u e a r ela ç ã o e ntr e a s es f er a s de pod er de g ov er na nt es, g o v er nos e g over na dos, a ca ba por de sta ca r o pa pe l da pr ó pr ia p olí ti ca nos E sta dos c onte mpor â ne os, já q ue es ses, p or esta r e m f unda dos e m pr ec ei t os jur í dic os, ex i g e m u ma eq ua liz a ç ã o d o i d eá r io de mocr á t ic o do po v o c o m o c o nc ei t o de s ober a nia na ci ona l.

N a s de mo cr a cia s mo der na s u m dos pr e ss upost os pa r a a co n fi g ur a ç ã o d o e le me nt o d e mocr á ti c o é a disp uta p ol íti ca e n tr e pa r ti d os pa r a a de cisã o a c er ca de q ue m s er á cumpriu a promessa do autogoverno, nem a da igualdade não somente formal mas também substancial.”

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o o c u pa nt e d o ca r g o pú bli c o, da d o q ue es te ne ces sá r i o va z i o de p o d er ex ist e nt e na s d e moc r a cia s, e m r a z ã o da nã o id e nt if ica ç ã o d o p o der p ol íti c o c o m ne nhum a ge nt e es pe cí fi c o, tr a z a ex igê nc ia de u ma di sc us sã o el e ti va pa r a a oc upa ç ã o te mp o r á r ia d o poder polít ic o.

E ste pr o ce d i me n t o el eti vo q ue r e sta e vi de ncia do e m u m r e gi me de mo cr á ti c o eq ui va l e nã o s ome nt e a o mov i me n t o d e a lt er nâ n cia da oc upa ç ã o do poder , ma s ta mb é m à c o n fir ma ç ã o de q u e es te po der nã o pode s e mos tr a r id e nti fi ca d o c o m ne nhu m de s e us oc upa nt es, se nã o c o m a pr ó pr ia estr ut ur a de moc r á tica de um E s ta do. D e ssa f or ma , ca b e a os l í der es do E sta do a c ondiç ã o de a t ua ç ã o nã o de a c or d o c o m de si gna ç ões pa r ti c ula r es ou de u m gr u p o es p ec íf ic o, ma s c o mo u ma per s oni fi ca ç ão da pr ópr ia na ç ã o.

Assi m, est e d e n omi na do pa r a d ox o da s ober a ni a p o p ula r é c o ns tit u ti v o e es se ncia l a o r e gi me de mocr á ti c o, p oi s a nã o p er s o ni fi ca ç ã o do s ob er a no ga r a nte a exis tê ncia do “ vácuo” no poder. E m conseq uência, esta paradoxa l sob er a n ia d e mo cr á ti ca a sse nta s ua va li da de s obr e a estr utura for mal do direito (legitimida de “ racional -legal”). Co m i ss o, a r efer ê ncia a q ua lq uer di me n sã o substa nt i va o u va l or a ti va fi ca f or a da le giti ma ç ã o d e mocr á ti c a ( de K else n a H a b er ma s)5: a d e moc r a cia l e git i ma - s e e nq ua nt o pr oc e di me nt o – a r ef er ê ncia ma t er ia l é a pe na s cir c u ns ta n cia l.

P or fi m, a q ues tã o a qui a pr ese nta da c omo o pa r a dox o da de mo cr a cia ( u m r e gi me b a sea d o na vonta de do pov o q u e na da d e ci d e) e mer g e nã o ma is c omo um pr obl e ma a ser r es ol vi d o , ma s c o mo o pr ó pr i o el e me nt o c onsti t uti vo da de mo cr a c ia . O l u ga r do s ob er a no de ve per ma ne cer va z i o, p ois s o me n t e a í se pode fa la r e m uma s ob er a nia de to d o s. C o mo sa l ie n ta Cla ude L ef or t ( 1991, p. 32) , o a spe ct o ma is r e v o l uc i o ná r io da de mocr a cia é o fa to de qu e “ o lugar do poder torna -se um luga r vazio”.

N esse se n ti d o, o c o nc ei t o de s ob er a nia popula r n ec essi ta ser vist o a pa r tir d e o utr o pont o de pa r ti da qu e

5

Sobre Kelsen, ver “A democracia” (2000), texto que será tratado posteriormente neste trabalho. E sobre Habermas, ver “Direito e democracia: entre facticidade e validade”, capítulo VII do segundo volume (2003, p. 9- 56).

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nã o a q ue le s tr a di ci o na is, pois a o util iz a r o poder po p ula r c o mo ce n tr a l na c ons tit uiç ã o d o poder , mit i ga o c o nc ei t o d e lib er da de e nq ua n t o pa r ti ci pa ç ã o popula r e m pr ol da lib er da de i n di v i d ua l c o mo f or ma de ma s ca r a r o pr ó pr i o pa r a d ox o da s ob er a nia , ma nte ndo a ss i m vi va a ideia d e q ue na de mo cr a cia o g o ver no per t e nce a o povo.

Pa r a a na lisa r essa q uestã o é ne ces sá r ia a inda ga ç ã o a cer ca d o q u e c o n ce it o de d e mocr a cia que se fa z us o na c o nt e mp o r a n ei da de, a fi m de ser e m e vi ta dos os c o n f lit os e, e m es sê n cia , a s inc ompr e e nsõ es que a ina deq ua da p er c e pç ã o d e se u c onteú do pode tr a z er pa r a a pr ó pr i a r oti na d e mo cr á t ica .

1 . 1 A de mo cr a cia e nq u a nt o c o nce it o i gua l me n te dif un d i d o e i n c o mp r e e n di d o

U ma a tit u d e fil o sóf ica poss ui, por pr i ncí pi o , dua s ca r a cter ís tica s q u e a ex pli ci ta m. A pr i me ir a , di ta ne ga ti va , p od e s er ca r a ct er iz a da por me i o do a fa st a me nt o d o s di ta mes or i u n d os de u m se ns o dit o c omu m, a o di sta n cia me n t o d e t odo e q ua lq u er pr é - c onc eit o a c er ca d o já esta b e le ci d o. A se gu nda , c o ns i der a da posi ti va , i ndi ca u ma n ec essi da d e de i nt er r o ga ç ã o a cer ca da qui l o q u e é ex ist e nt e e d o q u e por ve nt ur a p ossa exis tir .

E ssa s in da ga ç ões f unda me n ta is de u ma c o n dut a fil o só f ica i mp l ica m q u e a s ua per gunta por exc elê ncia se ja r ef er e nt e à te má t ica d o s er , o u se ja , a questã o a c er ca d o ob j et o de a ná li se e m s ua t ota li da de, s ua s r ela ç õ es n ec essá r ia s pa r a q ue s ua c once it ua ç ã o possa s er r ea liz a da d e ma ne ir a c o mp l eta , q ue tr a te da quil o s e m o q ua l o se r nã o p o de ser c o nsi d er a d o c omo ta l.

Isso leva a especificar que “ uma definição deve, co m ef ei t o, i n d ica r o q u e é de fi n i do, ma s li mi ta ndo - s e a p e na s ao q ue ele é e ex primindo tudo o q ue ele é.” (GOYARD -FA BRE , 2 0 0 2 a , p. X X X V II I) D a í o obstá c ul o i ner e n te a to da e q ua lq u er t e nta ti va de de fi niç ã o de um c onc eit o , o u seja , a d if ic ul da d e de s e c ons e guir a i de nti fic a ç ã o cla r a e pr e cisa da q uel es el e me nt os q ue sã o f unda me nta is pa r a e n u nc ia r a q uil o q ue f or ma a substâ nc ia do obj et o d e est u d o, b e m c o mo t odos os pr ob l e ma s da í der i va d os , q ua n d o da ne c essi da de de ob s er va ç ã o dos a tr ib u t o s

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c o nti d o s n esta s d ef i niç õ e s pa r tic u la r es e a pos ter i or uniã o d e ta is el e me n t os.

N o ca s o da d e mo cr a cia a ta r e fa a ss ume uma pos iç ã o ainda mais “ ingrata”. Isso porq ue desde a muito a filosofia d o dir ei t o, e nq ua nt o ma té r ia de est udos , s e mpr e t e ve c o mo u ma de s ua s pr e oc u pa ç ões da r uma de fi niç ã o a deq ua da pa r a o q ue se ja o r e gi me da de mocr a c ia na c o nt e mpo r a n ei da de. As def i niç õ es a nt i ga s ( gr e ga s e r o ma na s) nã o ma is dã o c o nta da c o mp l exi da de q ue est e r eg i me a ss u mi u, a ssi m c o mo a pr ópr ia estr ut ur a ç ã o des t e a ca ba p or fa z er c o m q u e mu ita s vez es se us c once it os nã o se “ encaixem” naq uilo q ue de fato se verifica como send o a pr á tica d e mo cr á ti ca .

D essa f or ma , c o n f er ir um c on ce it o pa r a a de mocr a cia a ssu me u ma ta r e fa a in da ma is d ur a do que o pr ópr i o a r dor d e uma d ef i niç ã o. E sta di fi c ul da de s e e nc ontr a jus ta me nt e n o fa t o de q u e est e c o nc eit o é ut iliz a do de s de mui t o na hi stór ia p olí ti ca , se n d o do ta do de vá r i os s e nti dos, no s ma is d i ver s o s mo me n t os po ssí veis. E ist o f oi e le nca do po r vá r i os a u t or es c o mo u ma di fi c ul da de i ner e nt e: K a nt, e m 1787, na obra “Doutrina do Direito” (1993), já expunha q u e des d e mu it o os j ur is ta s estã o a b usca r um c onc eit o para o direito, e Kelsen, na sua obra “ Essência e valor da democracia”, destacou o fato de q ue este regime, por mei o da s r e vo l uç õ es b ur g ue sa s de 1 789 e 184 8, s e tr a ns f or mou em um “ lugar -co mu m” do pensa mento político. (20 02, p. 2 5 )

Se p or u m la d o a de moc r a cia do mi na os e s pír it os do s sé cu l os X IX e X X , d iz el e, p or outr o é j usta me nt e iss o q u e faz com q ue ela per ca, “ como q ualq uer palavr a de ordem, o sentido q ue lhe seria pró prio.” (2002, p. 25) Estas p er c e pç õ es s ob r e a de moc r a cia e s ua mul ti pl ic i da de d e se nti d o s nã o sã o pr ó pr ia s dos a ut or es mo der nos. Ta mbé m o utr os q u e v i ve n cia m o es ta bel ec i me nt o de mocr á ti c o c o nt e mpo r â n e o c o mp a r til ha m esta per s pect i va de q ue uma d ef i niç ã o de d e mo c r a cia nã o é a l go s i mpl es ou fa c ilita do , a de s pei t o d e s e u us o c o mu m. N ess e s e nti do é a a fir ma ç ã o de Giovanni Sartori (1965, p. 152): “ mas já que esta mos vi v e n d o n u ma é p o ca d e de mo cr a c ia c onf usa – tã o c onf usa q u e é me s mo d i fí cil de ter mi na r o q ue nã o é de mocr a c ia –

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d e ve mo s pô r - n os e m gua r da c o ntr a os eq u í voc os q u e pr ovê m do uso de tais conceitos.”

Rob er t D a hl pr i nci pia se u t ext o de no me s e mel ha nte a o k els e nia n o j u sta me n te c o m a a f ir ma ç ã o de q u e na ú lti ma me ta de d o sé c ul o X X o mundo a c ompa n h ou o d esa pa r e ci me n t o q ua s e que por c ompl et o da s a lter na ti va s à d e mo cr a c ia . “ To da s a s pr i nci pa is a l ter na ti va s pa r a a d e mo cr a c ia d esa pa r e cer a m, tr a nsf or ma r a m - s e e m sob r e vi v e nte s ex cê ntr i c os o u r ec ua r a m, pa r a se a br iga r e m em seus ú lti mos bastiões.” (2009, p. 11) E ntretanto, a pesar d essa va l or iz a ç ã o, nã o ser ia c or r et o a fir ma r que es t e a r gu me n t o l e va a u ma c ons eq uê ncia dir eta de esta r e m o s in d i ví d u os ma is c o nvi ct os a c er ca da de mocr a c i a . Per si ste m os mo v i me n t os a n ti - de moc r á ti c os, a ss ocia dos , se gu nd o o a ut or , mu i ta s vez es a o na ci ona li s mo e a o fa na tis mo r eli gi o s o.

O r a , dia nt e des ta sup os ta contr a diç ã o, o qu e s e p od er ia d e fa t o c o mpr ee n der p or de mocr a cia ? É a per g u nta d o pr ó pr i o D a hl dia nt e de s ua s c onsta ta ç õe s, ma s q ue ta mb é m f o i f eita por K els e n e ta nt os outr os que, d ia nt e d est e q ua dr o de a p or ia , r ea liz a r a m q ues ti ona me nt os a c er ca d o q ue r ea l me n t e p ode s e c ompr ee nder por u m r e g i me d e mo cr á ti c o. D a v i d H el d ( 1993, p. 13) ta mb é m a fir ma a supr e ma cia c o n te mpo r â nea da d e mocr a c ia , a inda qu e e ssa seja r e pl eta d e di fi c ul da de s fá t ica s e c onc eit ua is.

D em o cr a c y s e em s t o h a v e s c or ed a n h i s t or i c vi ct o r y o ve r a l t er n a t i v e f or m s o f g o v er n a n ce. N ea r l y e ve r yo n e t od a y p r o f es s es t o b e a d em o cr a t . P ol i t i ca l r eg i m es o f a l l k i n d s t h r ou g h ou t t h e w or l d cl a i m t o b e d em o c r a ci es . Y e t w h a t t h es e r eg i m es s a y a n d d o i s o ft e n s u b s t a n t i a l l y d i f f er en t f r om on e t o a n ot h e r ( … ) M or e o v er , d em oc r a c y i s a r em a r k a b l y d i f f i cu l t f or m o f g o v er n m en t t o cr ea t e a n d s u s t a i n .6 6

Tradução livre: “a democracia parece ter marcado uma vitória histórica sobre as formas alternativas de governo. Quase todos hoje professam ser democratas. Os regimes políticos de todos os tipos em todo o mundo afirmam ser democracias. Mas o que esses regimes dizem e fazem é diferente

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N u ma t e nta ti va d e r es po sta , G i ova nni Sa r tor i pr oc ur a da r u ma d e fi niç ã o ne ga ti va de de mocr a c ia . E xpõ e q ue s e d ef i nir si g ni fi ca , e m u m pr i me ir o mo me nt o, de li mi ta r , ma r ca r os ex tr e mo s d e um c o nc ei t o, ess e se t or na in d e fi ni d o q ua n d o ili mi ta do. P or ta nt o, u ma de fi niç ã o a deq ua da ser ia a q ue la q ue nã o a pe na s diz o q ue o obj et o é , mas ta mbé m define com clareza aquilo q ue ele não é. “ De f or ma se mel ha nt e, c o mo é c o mpl i ca do de fi nir o q ue a d e mocr a c ia si g ni fi ca , o q ue é , ou o q ue de ver i a ser , tor na -se ma is fá ci l diz er o q u e ela nã o si gni fi ca . ” ( 1965, p. 151 ) O a ut or c o nt i n ua es te a r gu me nt o a o diz er q ue uma f or ma e ntã o a deq ua da d e s e d e fi nir de mocr a cia ser i a justa me nt e v er if ica r o se u o p os t o. E jus ta me nt e c o mo c ontr á r ios à d e mocr a c ia va i d ef i nir a tir a nia , o des pot is mo, a a ut ocr a cia , o a b s ol u tis mo e a di ta dur a , da ndo des ta que a ter mos q ue considera “ novos” como tota litarismo e a ut or ita r is mo .

D en tr e es ses, d esta ca que a oposiç ã o entr e d e mocr a c ia e a ut o cr a cia ter ia c ont or nos e m ta l me di da cla r os q u e p o d er ia m i n di ca r os el e me nt os q ue c ompor ia m u m r e gi me d e mo cr á t ic o. Ta l dist i nç ã o esta r ia a ver sa r , e m ter mo s g er a is, s ob o modo d e cr ia ç ã o da que les q u e p oss u e m o p o der e a f or ma c o mo e les sã o le giti ma dos.

Sa r tor i ( 1 9 6 5 , p . 16 4 - 168) pr oc ur a a def i ni ç ã o de d e mocr a c ia e m c o ntr a st e c om o c o nc eit o de a ut ocr a cia . A di f er e nç a e ntr e es sa s f or ma s d e poder , se gundo el e, é q ue na democracia “ o poder é distrib uído, limita do, contr ola do, e ex ercido em r odízio” ( p. 167), enq ua nto q ue na a utocracia o poder é “ concentrado, incontr olá vel, in d e fi ni d o e ili mi ta d o” . ( p. 1 68 ) .

A de mo c r a cia c o mpr ee nd er ia , des sa f or ma , um sist e ma p olí ti c o o n d e nã o há es pa ç os pa r a a existê ncia d e u m p o d er p ess oa l. Is s o si g nif ica q ue nã o há a p oss ib il i da d e de u m i ndi ví du o ou i ns tit uiç ã o s e pr oc la ma r e m g o ver na nt es, b e m c o mo n ã o s e t e m uma p er pet u i da d e des te s n o po der . E m u m r e gi me de mocr á ti c o “ ningué m pode escolher -se a si mesmo, ningué m pode in v est ir - se d o p o d er d e g over na r , e por ta nt o ni ngué m pode substancialmente um do outro. (...) Além disso, a democracia é uma forma extraordinariamente difícil de governo para criar e sustentar.”

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a r r oga r - se o p o der i nc o ndic i ona l e il i mi ta do” . ( SA R TO RI, 1 96 5 , p. 1 6 7 ) .

O in ter e ssa n te des sa per s pe ct i va é j usta me nte o q u e Sa r tor i a p o n ta c o mo a l go e sse ncia l pa r a a per ce pç ã o d e mo cr á ti ca c o nt e mp or â nea , ou seja , q ue se u c once it o est á dir eta e i nt i ma me nte l i ga d o a o t e ma do poder e da a ut or i da de. A pr ó pr ia f or ma c omo o a ut or ex pl ici ta a ideia d e d e mo cr a cia n os l e va a per c eber essa i ntr í ns eca r ela ç ã o. “[...] a democra cia é u m siste ma político construído sobr e o mo d o d e ex er cer o poder q ue s e c ha ma a utor i da de, n o se nti d o d e q u e a ca r a cter í sti ca ma r ca nte da de moc r a cia é a q ue d e t e n de a t r a ns f or ma r o poder e m a ut or i da de, uma v is

c o a c tiv a n u ma v is dire c tiv a .” ( 1965, p. 154)

1 . 2 As or i g e ns d e moc r á tica s

O s est u d os tr a di ci ona is do dir e it o, e m ger a l, bus ca m a realização de u ma espécie de “ arqueologia” da s in sti t uiç õ es, d e mod o a a po nta r se us f unda me n t o s ex ist e n cia is. A j us ti fi ca ti va des ta bus ca es tá no fa t o de q ue na ob s er va ç ã o histór i ca ( no ca so do dir ei t o, na “antropologia jurídica”), se faz possível encontrar na pr ó pr ia s o cie da d e c on te mpor â nea mode l os de outr or a . “Não por um efeito de ‘ pers istê ncia’, q ue nos levaria de v ol ta à idé ia de e vol uç ã o, de ix a n do s upor q ue t udo po d e ex pli ca r - se p ela his tó r ia , ma s e m r a z ã o da s i mul ta nei da d e da s ló gi ca s s e g u n d o a s q ua i s f unc i ona m a ma i or pa r te d os indivíduos e das sociedades.”(ROULAND, 200 3, p. 85)

O r a , se o t e ma pr ese nte é a de moc r a cia , a per s p ec ti va a ci ma a p o n ta pa r a que s eja f eit o s obr e es sa u m est ud o hi stó r i c o, s ua s or i ge ns gr e ga s e r oma na s, a té su a c o nc eit ua ç ã o c o nt e mpor â n ea . E n tr eta nt o, i st o nã o ser á r ea liz a d o de sta f or ma nest e t ext o. E a j us ti f ic a ti va pa r a q ue s eja m a p o n ta do s e le me n t os de hist or i ci da de s e m e ntr e ta n t o da r a eles a c onota ç ã o de um dese nvol vi me n t o d e mo cr á ti c o, u ma i de ia de pr ogr ess o da i nsti tuiç ã o e d o c o nc eit o , e stá j us ta me nt e de fi ni d o nos moti vos q ue D a hl a p o nta pa r a ju sti fi ca r a f a lsi da de do a r gume nto de q ue a d e mo cr a c ia ser ia u m r e g i me e m c onsta nt e ex pa nsã o e d ese n v o l vi me n t o, d os gr e go s a té o mo me nt o a t ua l.

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O pr i meir o a r g u me nt o d o a ut or é que o gover no p o p ula r gr e g o c on h ec e u mo vi me nt os de a sce n sã o e q ue da , e q ue e ste s mo me n t o s nã o poder ia m ser des cr it os c omo “ascensão fir me até um pico dista nte, pontilha da aqui e ali por breves descidas.”(2009, p.17) Já o segundo ponto q ue o a u t or d esta ca é ju sta me n te o ca r á ter eq uivoca do da s pr e ss u p osiç õ es de q ue o r e gi me de mo cr á ti c o pudess e t er sido simplesmente “ inventa do” e m um da do mo mento, c o mo t o da s a s i n o va ç ões t ec n oló gi ca s. A o c ontr á r i o, d esta ca D a hl q ue a d e mocr a c ia pa r ec e ter si do muita s vezes e em inú mer os locais inventa da e recria da. “ Parte da ex pa nsã o da d e mo cr a c ia ( ta lvez b oa pa r te ) pode se r a tr ib uí da à di f usã o de i dé ia s e pr á ti ca s de moc r á tica s, ma s só a difusão nã o ex plica tudo.” (2009, p.1 9) O autor c o nti n ua s ua ex pla na ç ã o pa r a desta ca r j usta me nt e o fa t o d e q u e e ste s a r g u me n t o s, l o nge d e si gnif ica r e m que s e de v e ter uma espécie de “ despr ezo” pelas razões de or de m hi stór i ca na f or ma ç ã o da de moc r a cia , c or r es ponde m ju sta me n te a o fa to d e qu e el es de ve m ser le va dos e m c o nsi d er a ç ã o q ua n d o da ob ser va ç ã o de e le me nt os e estr ut ur a s q ue p o d e m s er si gni fi ca ti va s pa r a a c o mpr e e nsã o de f e nô me n os c ont e mp or â ne os. A de mocr a c ia sur ge se mp r e q ue ex is tir e m o q u e ele def i ne c omo “ condições a deq uadas”, e q ue estas existiram em vária s épocas e lugares. Estas “ tendências democr áticas” sã o desenvolvidas por meio de uma certa “ lógica de igualda de”, o q ue na te oria do a utor vão cor responder a a lg u ma s c o n diç õ es o u cr ité r i os dit os por el e c omo n ec essá r i os pa r a u m pr oc ess o dit o de mocr á ti c o.( 2009, p . 1 7 - 2 0 )

N esta mes ma ló gi ca , Sa r t or i ( 200 9, p. 15) e xpõ e a i mp or tâ n cia d e s e d e fi nir de mocr a cia pa r a jus ta me nt e sa ber mo s o q ue s e p ode es per a r de la . E ste fa t o é i mp or ta n te p or q u e u ma da s f or ma s de de fi niç ã o de ste r eg i me é j us ta me nt e d ota da de ca r á ter eti moló gic o, o u seja , ma ni fe sta - se o c o n cei t o de de mocr a cia por me i o d o si g ni fi ca d o da pa la vr a de mocr a cia . E s te s e nt i do eti mo l ó gi c o já é por d e ver a s c on hec i do: pa la vr a de or i ge m gr e ga , d e mo cr a cia , da c omp osiç ã o do s s ubs ta nti vos de mo s ( p o v o) e cr a c ia ( p o d er ) , signi fica g over no do povo. O r a , o c or r e q ue o c o n ce it o d e de moc r a cia nã o é t ã o e vi de nt e

(25)

q ua nt o p o ssa pa r ec er na me di da da l ei t ur a da s ua or i ge m etimoló gica. “ As pala vras ‘povo’ e ‘ poder’ – estã o envoltas em penu mbra.” (GOYARD -FABRE, 2003, p. 9 ) Pe n u mb r a j usta me nt e p or q ue nã o há cla r ez a qua n t o a o se nti d o da d o pe l os gr e gos a os ter mos povo e poder . A a mplitude do “ povo” era limi ta da: este, enq ua nt o sob er a n o, er a c o mpost o p or uma pa r te da popula ç ã o, o u seja , nã o se c o nf u n dia , d e f or ma a lg uma , c om a tota li da d e d os i n di ví d u o s. A pe na s s e c onsi der a va m c omo por ta d or es d esta s ob er a n ia , c o mo me mbr os do povo, a q uel es a lç a dos à ca te g or ia d e “ ci da dã os” , ou se ja , os home ns ( s ex o ma s c uli n o) q ue pud esse m sa t is fa z er os c r ité r ios de na sc i me n t o e i da de.7

H á q ue s e desta ca r ta mbé m q ue a G r é cia er a c o mp o sta p or u ma sé r ie de c i da d es i nde pe nde nt es, ca da u ma c o m r e gr a me n t os pr ó pr i os pa r a o se u f unci ona me n t o. D en tr e t o da s e sta s, At e na s é di ta a ma is fa mo sa , c o m u m r eg i me d e g o v er n o p opula r que p er dur ou a té qua n d o d o d omí n i o da Ma ce dô nia e por iss o a de mocr a cia gr e ga é se mp r e a ss oc ia da c o m o r e gi me a t e ni e ns e. E a qui ta mb é m p er sist e a pe n u mb r a dos ter mos p ov o e poder . Iss o p or q u e o t er mo de mo s, q u e e m ger a l ti nha por r e fer ê ncia o p o v o, n o ca s o, o a te n ie ns e, c o mo u m t odo, mui ta s vez e s f o i utiliza do com r eferência apenas a “ gente comu m”. “ Às v ez es, d e m o k ra tia er a utiliz a da por se us cr íti c o s a r isto cr á tic o s c o mo uma es pé c ie de e píte t o, pa r a mo str a r se u d es pr ez o pe la s pe ss oa s c omun s q ue ha via m us ur pa d o o contr ole q ue os aristocratas tinha m sobre o gover no.” ( D AH L, 2 0 0 9 , p . 2 1 - 2 2 )

A de ma i s, o utr a ca r a ct er íst ica ess e nc ia l da d e mo cr a c ia gr e ga der i va da j usta me nte des t a ques tã o d a ca r a cter iz a ç ã o d o p ovo é o des c onhe ci me nt o o u nã o

7

Trata-se de indivíduos maiores de dezoito anos e nascidos na cidade de Atenas. Isso obviamente excluía os escravos, as mulheres e os metecos, que eram os estrangeiros domiciliados em Atenas. No final do século VI a.C. e durante a segunda metade do século seguinte, houveram reformas que acabaram por estender o conceito de cidadãos plenos à totalidade dos homens de Atenas, assegurando-lhes isonomia e acesso às magistraturas. Sobre o tema, ver CHÂTELET, François. Trad. Carlos Nelson Coutinho. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, p. 13-22.

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a pli ca ç ã o d e r e gr a s de pr opor c i ona li da de, ta l qua l o s r eg i me s mo d er n os. O mod e l o gr e g o é a de moc r a cia dir eta , a lg o i mp e n sá ve l pa r a os E sta dos moder nos, de vi do a sua s di me nsõ es t er r it or ia is e de mog r á f ica s. “ T he c once pt of r epr ese n ta ti o n, pa r tic u la r ly o f huma n bei ngs r epr ese nti n g ot h er h u ma n b e i n gs, is esse ntia ll y a moder n one. T he ancient Greeks ha d no corresponding wor d.”8

( PI TK IN , 1 9 9 7, p. 2 - 3 ) A a sse mb le ia gr e ga s e r e unia na á gor a pa r a d elib er a r sob r e o s a ssun t os pol íti c os e s se nc ia is do g o v er n o , a l g o q ue, fa ti ca me nte, nã o po de ser r epet i do na s d e mocr a c ia s c o nt e mp o r â nea s.

O est u d o his tó r ic o do c onc ei t o de de mocr a c ia , long e d e s er d es n ec essá r i o, ser á a q ui n es te t ext o tr a ta do de uma f or ma nã o li n ea r . Iss o nã o s i gni fi ca que s er á desconsiderado, ou tratado co mo algo menor. “ Há limites d e q ua n t o u ma c o ns i der a ç ã o e str ita me nt e his tór ica pod e ajudar a entender ou avaliar teor ias democráticas.” ( CUN N IN G H AM, 2 0 0 9 , p. 23) A d e ma is, sã o inú mer a s a s te or ia s da de mo c r a cia , t o da s ela s vi nc ula da s, de uma c er ta f or ma , a o mo me n t o e c ond iç ões his tó r ica s e m q ue f or a m d ef i ni da s p or se us a ut or es . Pa r a este t ext o, q ue pr et e nde a b or da r o pa r a d ox o da s ober a nia p opu la r na de mocr a ci a c o nt e mpo r â n ea , fa z - se ne ce ssá r i o, a d es pe i t o de t oda s a s di fi c ul da d es e la c u na s q ue pos sa m exi stir , de fi nir u m ma r c o c o nc eit ua l d esta s c o nc e pç ões. E pa r a se r ea liz a r esta a ná l ise , pa r tir - se- á de a l gu ma s c onsi der a ç ões a cer ca d e dis ti nç õ es c o n ce it ua is de de mocr a cia r ea liz a da s por Ma cp h er s o n ( 2 0 0 3 ) .

O a utor se pr o põ e a esb oç a r a lguns tr a ç os e ss e nc ia is da de mo cr a c ia li b er a l c o nt e mpo r â n ea . Pa r a ta nt o, pr opõe q ua tr o mo d e l o s hi stó r i c os s uc essi vos pa r a a r ea liz a ç ã o d essa a ná lis e, q u e i mp li ca r ia uma ma i or c omp r ee nsã o do s c o nc eit o s, li mi t es e p oss ibil i da des da d e moc r a cia liber a l. S ua justi fi ca ti va pa r a ta l pr oposta é a obs er va ç ã o da s di sti nç õ e s ex i ste n te s n o s c once it os de de mocr a cia nos se u s p er í od os de t e mp o , o q ue per mit e a c onc l us ã o de q ue a d e mocr a c ia nã o se c ol o ca a tua l me nt e c omo uma pr oposta

8

Tradução livre: “o conceito de representação, principalmente de seres humanos representando outros seres humanos, é essencialmente moderno. Os gregos antigos não tinham nenhuma palavra correspondente.”

(27)

esta nq ue e de fi n i da , e ta mb é m pa r a que s e possa per ceb er o q ua nt o u m mo d e l o a b a r ca consi der a ç ões já el e nca da s p or se u pa dr ã o a nt er i or , se ja no s e nti do de a s r ea f ir ma r o u d e a s r ec ha ç a r . ( p. 1 1 - 20) .

O pr i me ir o mo de l o, f unda d o na s te or ia s de ca r á ter ut ili ta r ista d e J e r e my Be nt ha m e J a mes Mill, é di t o “ democracia como pr oteção”. A democra cia teria por fi na li da d e a de fesa d os ci da dã os de qua lq uer f or ma d e o pr e ssã o d o g o v er n o, de modo a pr ot e ger o c ha ma d o “ home m de mer cado”.

Be nt ha m ( 1 9 0 7) , a o de fi nir q ue a dor e o pr a z er sã o os “ senhores” q ue guia m as ações dos ho mens, estabelece q ue o pr i n cí pi o da uti li da de9, por r ec onhec er ta l ca r a cter ís tica , d e ve s e c ons tit u ir e m um pr i n cí pi o n or t ea d or d os sist e ma s le ga is e pol íti c os. A ca ba , a ssi m, p or esta b el ec er u ma pr i ma z ia da f eli c i da de na s quest õ e s h uma na s. P or f eli ci da de, e nte nde a ma i or sa tis fa ç ã o p oss í ve l da s c o n d iç ões de b e m e sta r dos i ndi ví duos.

O cr ité r io p or el e es ta bel ec i do é f unda do e m u ma n oç ã o de i g ua l da de, já q ue c ol oca q ue no cá lc ul o da fe li ci da de dos i n d i ví duos ca da um de ve c onta r tã o s ome nt e p or u m. D e ntr e t od os os b e ns q ue pode m tr a z er a os in d i ví d u os pr a z er , dei xa cla r o q ue os be n s ma t e r ia is c or r es p o n d e m a u m cr ité r i o es se ncia l na bus ca d essa fe li ci da de. “ E a ch por ti on of w ea lt h is c onne cte d wi t h a corresponding portion of happiness.”10

( p. 305) E m r a z ã o di ss o, a f u nç ã o da s or de n s po lít ica s e l e ga is de ve ser a realização “ el mejor conjunto de leyes, la mejor di str ib u ció n d e d er ec hos y obl i ga ci ones, ser ía n l o s q ue

9

Define o princípio da utilidade como um critério que define a aprovação ou não de qualquer ação com vistas a aumentar ou diminuir a felicidade. (1907, p. 2). Em razão disso, seu conceito de ética é assim definido: “A ética em geral pode ser definida como a arte de dirigir as ações dos homens para a produção da maior quantidade possível de felicidade, com relação àqueles cujo interesse está em jogo.” No original “Ethics at large may be defined, the art of directing men's actions to the production of the greatest possible quantity of happiness, on the part of those whose interest is in view.” (p. 310)

10

Tradução livre: “cada porção de riqueza está ligada a uma correspondente porção de felicidade.”

(28)

pr odujesen la ma yor felicida d para el ma yor nú mer o. ”11 ( MACPH E R SO N , 2 0 0 3 , p. 41)

A q u estã o, p or ta nt o, é j usta me nte q ue os si ste ma s p ol íti c os de v er ia m r es g ua r da r esta s ca r a cter í st ica s, da da a r ela ç ã o e str e ita ex ist e nt e e ntr e r iq uez a e poder12. As si m, o sist e ma d e esc o l ha d os g over nos de ver ia , c onj unta me nt e , f o me n ta r u ma s oc ie da d e de li vr e mer ca do e pr ot e ger os ci da dã os c o n tr a d es ma n dos gover na me nta is . C omo o s h o me ns sã o r e gi d o s p el os se us pr ó pr i os i nt er es ses , a so l uç ã o pa r a ev ita r q u e o g over n o v e nha a pr i va r o s me mb r os d o p o v o da p os sibi li da de dest es vir e m a b usca r a sa tisfa ç ã o d e se us i nt er e sses , s e gun do Ma c ph er s on ( 2003, p. 6 7 - 6 8) , é fa z er c o m q ue o gover n o se ja r ota t ivo, ou s eja , q u e os l í der es se ja m a lt er a dos por dis posiç ã o popula r c o m fr eq uê nc ia .

N essa mes ma estr ut ur a a r gu me n ta ti va , J a me s Mill d ef e n d e u ma r ela ç ã o mu i t o estr eita e ntr e r iquez a e poder . E sta co n ex ã o a d q uir e f or ç a a pont o de Ma cpher s on ( 2003, p. 5 4 ) a fir ma r q ue, se gund o J . Mill, a quel e que nã o é d et e nt or d e p o d er p ol íti c o ser á opr i mi d o por a quel es q ue o ti ver e m. Th a t on e h u m a n b ei n g w i l l d es i r e t o r en d er t h e p e r s on a n d p r op er t y o f a n ot h e r s u b s er vi en t t o h i s p l ea s u r es , n ot w i t h s t a n d i n g t h e p a i n or l os s o f p l ea s u r e w h i ch i t m a y o c ca s i on t o t h a t ot h er i n d i vi d u a l , i s t h e f ou n d a t i on o f G o ve r n m en t . Th e d es i r e o f t h e ob j e c t i m p l i es t h e d es i r e o f t h e p ow e r n ec es s a r y t o a c c om p l i s h t h e ob j e ct . Th e 11

Tradução livre: “o melhor conjunto de leis, a melhor distribuição de direitos e obrigações, seriam os que produzissem a maior felicidade para o maior número.”

12

Essa relação é assim definida por Bentham: “Entre riqueza e poder a conexão é mais próxima e íntima; tão íntima, de fato, que a desarticulação entre eles, ainda que na imaginação, é questão de não pequena dificuldade. Eles são, cada um deles respectivamente, um instrumento de produção com relação ao outro. No original “Between wealth and power, the connexion is most close and intimate; so intimate, indeed, that the disentanglement of them, even in the imagination, is matter of no small difficulty. They are each of them respectively an instrument of production with relation to the other.” (1843, p. 48)

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d es i r e , t h er e f or e, o f t h a t p ow er w h i ch i s n ec es s a r y t o r en d er t h e p er s on s a n d p r op er t i es o f h u m a n b ei n g s s u b s er vi en t t o ou r p l ea s u r es , i s a g r a n d g o v er n i n g l a w o f h u m a n n a t u r e.13 ( J . M I LL, 1 8 2 5 , p . 9 ) E ste a r g u me nt o l e va a o fa t o de q ue um r e g i me d e mo cr á ti c o a ca b a r ia por pr o te ger os c ida dã os d e p oss í ve is d es ma n d os gover na me n ta is e, ess e nc ia l me n te , p od er ia me l h or a r o des e mpe nh o dos home ns na obt e nç ã o d e r iq u ez a s. I ss o s e d e v e a o fa t o de q ue os home n s, por sua c o n d iç ã o na t ur a l de b us ca de pr a z er es e a a ssocia ç ã o d esta c o m a i deia de obt e nç ã o de be ns e c onô mic os, te m u ma te n dê nc ia a o c ons u mo, e s ua s mot iva ç õ es d e ma x i miz a r a o má x i mo s ua s sa tis fa ç ões e ut ili da des , a ca b a p or fa z er da de mo c r a cia u m r e gi me a deq ua do, po is e la c o nc e der ia a os h o me ns a lib er da de nec essá r ia pa r a r ea liz a r ta is b usca s.

Ta nt o B e nt ha m q ua nt o J . Mill esta b ele c er a m s ua s te or ia s p o lít ica s de mo d o a nã o vi sl umbr a r n o va s c o nc e pç õ es de s o ci e da de ou um novo ti po de home m, da d o q ue a ss u mir a m q ue a s o ci e da d e da é poca ( a soci e da d e de me r ca d o) er a jus ti fi ca da por s ua pr oduç ã o c r esc e nt e, de mo d o q ue a d esi g ua l da de er a a l go i ne vitá vel . “ Lo ú ni c o q ue s e p o d ía ha c er er a i mpe dir q u e el gobi er no opr i mi er a a lo s g ob er na d os, y pa r a e s o ba sta ba c on un s u fr a gi o

democrático pr otector mecá nico.”14

( MAC PH E RSO N , 2 00 3 , p. 6 2 ) .

E sta s c o ns i der a ç ões s er ã o a lt er a da s no s e g un d o mo d e l o d e mo c r á tic o tr a ta do por Ma c pher s on ( 2 0 0 3) ,

13

Tradução livre: “que um ser humano deseje tornar a pessoa e a propriedade de outro subserviente aos seus prazeres, não obstante a dor ou a perda de prazer que isso pode acarretar para outro indivíduo, é a fundação do Governo. O desejo do objeto implica o desejo de poder necessário para alcançar o objeto. O desejo, portanto, daquele poder que é necessário para tornar as pessoas e propriedades dos seres humanos subservientes aos nossos prazeres é uma grande lei que rege a natureza humana.”

14

Tradução livre: “a única coisa que se podia fazer era impedir que o governo oprimisse os governados, e para isso bastava um sufrágio democrático protetor mecânico.”

(30)

cha ma do de “ de mocracia como desenvolvimento”. Parte de pr e ss u p ost o s or i u n d o s de ob s er va ç ões da r ea lida de c o ncr eta . N o sé c ul o X IX a te or ia d e moc r á tica lib er a l so fr ia gr a n d es mu d a nç a s, e m pa r te de vi da s à a ná lis e da s c o n diç ões da s c la sses tr a ba lha dor a s. E sta s, por me i o d e in s ur gê n cia s, c o meç a va m a s e t or na r um per i go à pr o pr ie da d e. A lé m d iss o, a s c ondiç ões de tr a ba lho ( que or i gi na r a m a s ma ni fe sta ç ões de c o ntr a r ie da de) er a m de ta l f or ma d es u ma na s q u e nã o ma is po der ia m ser de fe ndi da s.

J oh n St ua r t Mi ll pa ssa a d e fe nd er q ue a de mocr a cia n ec essi ta ter o c o n dã o de pr oteç ã o. O povo pr ec isa ser pr ot e gi do da s a tiv i da d es e de sí gni o s do gover no, de mod o ta l q u e p os sa livr e me n te des e nv ol ver a s sua s a ti vi da des . O sub s tr a to da de mo cr a cia nã o é s o me nte a ma nut e nç ã o de u ma or d e m s o cia l e pol íti ca , ma s c ontr ib uir pa r a o d ese n v o l vi me n t o h u ma n o. D essa f or ma , de f e nde q ue a d e mocr a c ia p o d e se c o nst it uir e m u m i nstr u me nt o pa r a a me l h or ia da h u ma n i da de. P ode - se, a ssi m, de fi nir a pr o p osta d e J . S . Mi ll c omo u m mode l o mor a l d e d e mocr a c ia .

O s mo d el os de d e mo c r a cia pr opost os por Be ntha m e J . Mill ( de mo cr a cia c omo pr oteç ã o) e J . S. Mill ( de mo cr a cia c o mo des e n vol v i me n t o) pos s ue m um el e me nt o f u n da me n ta l dis ti nt o, q ue a ca ba por , e m úl ti ma a ná lise, a di sti ng uir s ua s p er c e pç õ es d e moc r á tica s. E s te a spe ct o é o c o nc eit o de h o me m e s o cie da de. O pr oj et o de de mocr a cia c o mo pr ot eç ã o nã o p oss u i n e n huma visã o a cer ca da s c o nseq uê n cia s da a ss u nç ã o da de moc r a cia pa r a uma vi sã o so cia l o u pa r a a h u ma ni da de .

Iss o se de v e a o fa t o de q u e se us e st udos nã o s e c o nsti t uía m e m t er mo s nor ma t i vos, ma s desc r iti vos. N ã o r ea liz a va m n e n h u m j u íz o a c er ca da s oci e da de de s ua é p oca , es ta jus ti fi ca da por s e u ní ve l de pr odut i vi da d e ma t er ia l. J us ta me nt e p or es te a s pec t o, a f unç ã o pr i nci pa l do regime democrático era “ impedir que el gobier n o oprimiera a los gob erna dos.”15

( MAC PH E RSO N , 2003, p. 6 2 ) .

E ssa sit ua ç ã o se modi fi ca q ua ndo, e m mea dos d o sé cu l o X IX mu d a nç a s s ocia is si gni fi ca ti va s pa ssa m a te r

15

Referências

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