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Problemática do Aperfeiçoamento da Resistência e da Endurance em Face das Condições Ambientais Brasileiras

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Academic year: 2021

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PROBLEMÁTICA DO APERFEIÇOAMENTO DA RESISTÊNCIA E DA ENDURANCE E M FACE DAS CONDIÇÕES AMBIENTAIS

BRASILEIRAS

Lamartine Pereira da Costa

Ccmo vimos na. apreciação do Princípio da Sobrecarga, o esforço é um fator "stressante" e assim sendo o problema do condicionamento físico se apóia na obediência dos limites da capacidade de adaptação: a carga é assimilada dentro de uma faixa estreita e instável de valores, abaixo dela não há efeito e acima o organismo entra em exaustão.

Isto pôsto, torna-se evidente que a melhor eficiência de assimilação aparece sob condições ideais de ambiente físico e psicológico pois a participação de outros fatores "stressantes" obrigará o organismo a criar adaptações específicas que demandam também energia. •

. Não computando a imponderabilidade psicológica e de um modo ge-ral, b desenvolvimento das qualidades físicas essenciais, principalmente as ligadas ao fenômeno da sobrecarga — fôrça, resistência e endurance —, é deteriorado pelos diversos tipos de stress (o stress da altitude constitui uma excessão dentro de certos valores da pressão atmosférica diminuída e após ü m período satisfatório de aclimatação quando adaptações orgânicas e celulares produzidas favorecem a reação ao esforço).

O grau dessa influenciação depende, em primeiro lugar, da intensi-dade e da duração dos fatores "stressantes" envolvidos além do esforço. Se considerarmos somente os ambientais, a atenção se concentrará na intensidade pois êles são normalmente de duração mais longa que as sessões de aplicação de cargas. Num plano inferior teremos a própria natureza da sobrecarga: os exercícios de fôrça são de grande intensidade mas de duração demasiadamente curta para haver uma conjugação com efeitos "stressantes" de outras origens; em contraposição se colocam as cargas de resistência e de endurance de características inversas.

Uma simples observação mostrará que, dos fatores ambientais, os mais cabíveis de somarem efeitos ao "stress" do esforço são a altitude e o calor uma vez que o frio é neutralizado em parte pela execução de exer-cícios.

'-Para a situação brasileira, com a maior parte do país localizada na faixa de climas tropical e subtropical, e com relevo raramente ultrapas-sando os 1.500 metros da altitude considerada como "stressante" (Tromp,

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1963), a problemática do aperfeiçoamento da resistência e da endurance se liga essencialmente ao "stress" do calor.

-Uma tomada de posição adequada só pode ser feita através da apre-ciação dos fenômenos fisiológicos da conjugação do esforço ao calor e à umidade. Necessitamos para isso abordarmos o assunto através da homeos-taae que é a situação de equilíbrio do organismo em relação ao meio ambiente. . '

O mecanismo homeostático. funciona através da propriedade funda-mental dos organismos vivos: resposta aos estímulos. Havendo uma alte-ração que implique na modificação de alguma característica do meio in-terno, criar-se-á um estímulo e a conseqüente resposta por uma ação direta nas células, ou via indireta quando essas células forem as do sistema nervoso. Nesta última alternativa o reflexo ao estímulo será do sistema endócrino que agirá através de transformações químicas do meio.

tU m exemplo de.reação homeostática nos é dado pelo fenômeno da manutenção da pressão osmótica do sangue. O processo se inicia nos rins que têm por função eliminar os detritos metabólicos e ab mesmo tempo conservar a água do corpo: dependendo no excesso ou na deficiência de água, é produzida urina ou concentrada. A pressão osmótica é função da quantidade de água do organismo. As alterações dêsse equilíbrio são de-tetadas por osmoreceptores localizados em pequenos vasos sangüíneos do HIPOTÁLAMO (região da raiz do cérebro contendo vários centros de reflexos do mecanismo homeostásico). Daí são originados impulsos ner-vosos que vão estimular a glândula pituitária. posterior que lança o hor-mônio àntidiurético na corrente sangüínea por onde atinge os rins. Se o sangue está concentrado, com a conseqüente pressão osmótica aumentada, a segregação do àntidiurético aumentada provocando os rins a reduzir o volume de urina. Mais água é então conservada, diminuindo a concentra-ção sangüínea e trazendo a pressão osmótica para o equilíbrio homeos-tásico.

O meio externo condiciona essencialmente o sistema AMBIENTE--HOMEM. A máquina humana, numa visão de rendimento de trabalho, está ajustada para funcionar dentro de determinadas características físicas* *A medida que se modificam essas características, as condições de funciona-mento orgânico vão desaparecendo gradativamente.

O meio externo é constituído pela atmosfera terrestre que possui as seguintes características físicas: temperatura, umidade, pressão, vento, radiação, ions, eletricidade, impurezas, aerosóis e gases raros. A variação desses elementos, de per si ou em conjunto, influencia o meio interno em diferentes graus criando estímulos que corresponderão a reações específicas.

-O elemento de separação entre os meios externo e interno, o tecido , epitelial, é neutro em relação às reações dos desequilíbrios do sistema

am-biente-homem e funciona independentemente com características pró-prias. Berzinger comprovou experimentalmente a assertiva encontrando uma temperatura constante na. pele de indivíduos que foram submetidos a ingestão de bebida quente e. que apresentavam, em conseqüência, um aumento de temperatura interna, medida na membrana do tímpano. Em outro experimento foi aumentada ràpidámente a temperatura ambiente de 30° para 50°C e não houve modificação na temperatura interna.

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HENANE aponta como parâmetros característicos e particulares, da pele, o gradiente térmico entre as temperaturas interna e externa, a ca-pacidade de sudação e o estado higrométrico do ar, denominando-os de "coeficientes de isolamento térmico da pele".

No que se refere ao elemento temperatura, o sistema ambiente homem está em equilíbrio quando a temperatura do meio interno situa-se entre 35,7° e 37,2°C e a do externo, entre 28° e 30°C.

A temperatura interna é normalmente constante e independente das condições externas. Por isso o homem é'definido como um anomal homeo-téimico ou de "sangue-quente" como qualquer outro mamífero ou as aves. Os peixes, anfíbios e répteis são heterotérmicos ou de "sangue-frio", mu-dando a temperatura do corpo de acordo com a temperatura ambiente.

Fora da faixa de valores externos de equilíbrio, considerados para o homem, funcionará o mecanismo de termorregulação na procura do equilíbrio homeostásico. Êsse mecanismo, no corpo humano, suporta va-riações numa amplitude de 120°C, de 60° positivos a 60° negativos (Fig. 1).

«*• r—,

I I M I T I { « HS(STÍNCIA âO CALOR

IfMM M tOWUÍRIO TÍBMICO HUMANO

Fig. t

As alterações da situação de equilíbrio térmico são detetadas e cor-rigidas pelo hipotálamo que possui células de sensibilidade térmica e é o elemento principal do mecanismo da termorregulação. Antes do meio interno reagir ao desequilíbrio térmico, o hipotálamo recebe impulsos de ramificações nervosas situadas ao nível do tecido epitelial, criando

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con-dições para que haja reações antecipadas às variações da temperatura externa. Assim, a termorregulação é uma reação instantânea e constante, face à pequena amplitude da zona de neutralidade térmica.

O homem, normal e necessariamente, elimina calor num ritmo cons-tante, mesmo nas condições de equilíbrio do sistema ambiente-homem, pois1 o processo metabólico das células realiza-se através de desprendi-mento de calor.

O mecanismo homeostásico, no caso, age para conservar a tempera-tura do corpo, diminuindo a dissipação de calor quando cai a temperatempera-tura externa abaixo de 28° ou aumentando-a quando o ambiente está sob tem-peraturas acima de 30(>C.

Havendo frio, o reflexo ao estímulo será o da vasocontrição. Neurons situados junto aos músculos circulares que envolvem as pequenas artérias e veias sob a pele, recebem estímulos provocando o estreitamento dêsses vasos. O sangue que circula na região periférica do corpo é reduzido, di-minuindo a dissipação de calor pois a condução dêste até o nível dà pele, após as trocas metabólicas, é feito pela circulação sangüínea. Porém essa reação é limitada. Com a contínua exposição ao frio ou baixando mais a temperatura, a vasocontrição já não basta para manter o equilíbrio. O me-canismo de termorregulação reage enviando impulsos para os músculos, obrigando-os a contrações sucessivas, acontecendo o "tremer de frio". Co-mo conseqüência desta atividade muscular, maior quantidade de calor metabólico é produzida para o necessário retorno ao equilíbrio.

Quanto ao calor, a reação imediata é também a dos vasos. Agora os músculos circulares se afrouxam e o calibre aumenta. Mais sangue é lan-çado na periferia: mais calor é levado à superfície do corpo para a dissi-pação. Concomitantcmente o hipotálamo aciona as glândulas sudoríparas provocando o aparecimento da sudação. O suor evapora-se em contato com o meio externo eliminando calor e aumentando sua perda total.

Durante èsses processos o meio interno sofre uma elevação de tempe-ratura que se soma ao calor metabólico. Os impulsos do hipotálamo se dirigem aos músculos ósseos que relaxam e, conseqüentemente, diminuem a demanda do calor metabólico (Fig. 2).

Na reação particular ao calor, através da sudação, surgem repercussões em outras funções que tornam a mobilizar o mecanismo homeostásico. Há, aproximadamente, 2.300.000 glândulas sudoríparas no corpo humano que podem segregar de 1,5 a 2 litros por hora, sob uma temperatura externa de 40°C. Como o suor é uma modificação do líquido extracelular, há uma reação de manutenção do equilíbrio das dosagens de eletrólitos em relação à água do corpo. Esta provém inicialmente do líquido extracelular e do plasma sangüíneo e, não sendo substituída pela absorção de líquidos, será retirada das células. A proporção de eletrólitos eliminados é de três a seis vèzes menor que a água, tomando o líquido extracelular mais concentrado. Como a taxa de eletrólitos também diminui, o volume de fluído, dentro das características homeostásicas que pode ser retido para o equilíbrio, é re-duzido.

A primeira conseqüência é a retenção de água e sódio pelos rins que agem automaticamente sem estímulo hormonal. Em seguida, a glândula adrenal reage a essa modificação do meio interno, lançando na corrente sangüínea o hormônio aldosterona que aciona os rins para diminuir

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gra-M U gra-M U I C S O Ü C O J tlt A S A M

F i g . 2

dualmente a taxa de sódio na urina. Outra reação da adrenal é a redução da excreção de corticóides, não se conhecendo ainda suas conseqüências. Sabe-se da existência do fenômeno por experiências realizadas em com-partimentos de clima artificial; descobriu-se, também, que a excreção des-ses hormônios é maior no inverno que no verão.

Outra reação hormonal ao aumento da temperatura, é por parte da glândula tiróide excretando a thypoxine, reguladora da. produção meta-bólicá de calor. Um indivíduo, que habita uma região tropical, tem a ati-vidade da tiróide diminuída de 10 a 15%. TROM é de opinião que o sis-tema nervoso é influenciado por esta reação criando uma atitude mental desfavorável para exercícios violentos.

A defesa orgânica contra o aumento da temperatura não se limita so-mente a essas reações. Praticaso-mente todas as funções são mobilizadas, em graus diversos, à medida que se chega aos limites da resistência. Em con-dições normais de ambiente, cem o indivíduo em repouso, o calor des-preendido pelo organismo é dividido pelos seguintes valores, de acordo com KARPOVICH:

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Meios Porcentagem Radiação 55,0 Condução e convenção 15,0

Evaporação (pele e pulmões) 26,0 Aquecimento do ar inspirado 2,5

Urina e fezes 1,5 T O T A L . . . . 100,0

Como sabemos o aumento da dissipação de calor é necessariamente uma defesa contra a elevação da temperatura externa, ultrapassados os limites de equilíbrio. Os dados numéricos, portanto, são relativos e com-põem uma função com o aumento de temperatura. Observar-se que a transmissão direta ao meio externo tem a participação majoritária de 70% do total e que a evaporação (suor e vias respiratórias) é responsável so-mente por um quarto do processo. Êste último parâmetro diminui rapida-mente. HERLITZKA localiza em 10%, o calor desprendido pelas vias res-piratórias em relação ao total emitido pelo corpo, nas condições dos climas temperados, diminuindo até 34°C, quando será nulo. TROMP registra 35ÜC para esta nulidade. (Fig. 3).

Daí, face à proporcionalidade inversa entre a evaporação e o aumento de temperatura bem como o desaparecimento gradual de condições físicas para a transmissão direta de calor ao meio ambiente à medida que a temperatura sobe, podemos conceber uma soma com as parcelas do quadro

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em evidência, que tenderá para a nulidade com a temperatura aumen-tando.

Isso demonstra, em termos gerais, a existência de limites da resistên-cia ao calor, cujos valores precisos são extremamente difíceis de calcular dada a contínua modificação das variáveis da função.

O aspecto mais importante a ser realçado, entretanto, é a carga que se submete o organismo, com repercussões * comprovadas até na intimi-dade das células. São incluídas, desta forma, as condições adversas de calor, entre os fatores de "agressão" na definição do STRESS segundo a concepção clássica de SELYE. Através das etapas determinantes dêsse fenômeno que são padronizadas, independentemente do agente "stressor" encontraremos uma concordância com as conclusões anteriores. Em rela-ção ao tempo essas etapas envolvem pela ordem: (1.°) rearela-ção de alarma;

(2.°) fase da resistência e (3.°) fase da exaustão. A reação fisiológica ao calor normalmente obedece a esta seqüência causando desconforto, dor, colapso e finalmente a morte.

-A unidade atmosférica é o vapor d'água existente no ar proveniente da evaporação das águas dos oceanos, lagos, rios e chuva. É normalmente medida em termos de umidade relativa que significa, em percentagem, a relação entre a quantidade de vapor d'água realmente existente e aquela que o ar poderia conter, à mesma temperatura, antes de saturar-se (a sa-turação acontece quando, em quantidades absolutas, a proporção de vapor (Tágua no ar chega a 4%). Assim considera-se o ar .."seco" quando a umi-dade relativa é inferior a 50%, "medianamente sêco" entre 50 e 75%, "úmido" entre 75 e 90%, e "muito úmido" acima de 90%.

A ação da umidade sobre o meio interno acontece por Via indireta, segundo foi observado experimentalmente por BURTON, SNYDER e LEACH que comprovaram a insensibilidade do organismo a êsse fator. Ela age conjugadamente com a temperatura condicionando seus efeitos. Na reação ao calor através da sudação, a umidade determina o ren-dimento da evaporação na superfície da pele. Uma alta percentagem de umidade relativa significa menor evaporação de suor pois um ambiente já saturado de vapor d'água dificulta, por pressão, a criação de novas partículas. Sob altas temperaturas, num ambiente úmido, o suor não dis-sipa o calor pois continua em estado líquido, molhando a superfície da pele. Num clima sêco de deserto o suor se evapora assim que se forma, deixando uma crosta de sal.

Nos ambientes frios, a umidade também influencia, pois a sensação de frio é maior. Segundo TROMP, citando experiências de BUETTWER, FOLK e PEARY, a pele também absorve vapor d'água, em determinadas condições, explicando-se a sensação de penetração de frio do ambiente úmido.

HERLITZKA registra que parece estranho ao leigo, êsses fatos sobre a influência da umidade, porque o organismo não possui mecanismo de-tetor do estado higrométrico do meio externo.

A BIOMETEOROLOGIA tem procurado localizar no homem os efei-tos do conjugado temperatura-umidade relacionando estes elemenefei-tos numa chamada ZONA DE CONFÔRTO. A figura 4 apresenta um quadro u t i l i -zando valores extraídos de observações de SINGER (1931), TROMP

(1963), SARGENT e colaboradores (1964) e MAC PHERSON (1964). 245

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UMIOAOÈ RELATIVA ' PERCENTUAL

F i9 - 4

-£ importante considerar, no uso deste quadro, as variações que podem ocorrer devido a reações individuais. Inúmeros fatores concorrem a isso: idade, estado de saúde, atitude psicológica, modo de. vestir etc... Alguns autores diante dessas possíveis distorções, preferem seguir outras refe-rências. SARGENT, por exemplo, considera os limites médios que um indivíduo normal começa a ter a sensação de abafamento, citando os pa-res: 20° — 85%; 25° — 60%, 30° — 44% e,35° — 33% etc, em graus cen-tígrados e percentagem de umidade relativa respectivamente.

O que pode ser levantado em relação à reação do meio interno ao fator temperatura-umidade depende muito do gradiente de movimentação do ar. Como se sabe, uma das formas de transmissão de calor de um corpo para outro é por meio da convecção, que é maior ou menor de acordo com a movimentação do meio fluído ou gasoso onde se processa o fenô-meno.

À superfície da pele a movimentação do àr remove a mistura quente e quase saturada proveniente da evaporação do suor acelerando o processo e, conseqüentemente, a transmissão do calor.

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Certos estudos industriais ligados à fabricação de aparelhos de ar con-dicionado calcularam que a quantidade de calor levado da superfície da pele é diretamente proporcional à raiz quadrada da velocidade do vento e da temperatura ambiente. Isto dá uma idéia da importância da movimen-tação do ar.

Os dados referentes aos efeitos do conjugado tempera tu ra-umidade no organismo são condicionado^ à movimentação aérea do ambiente. As-v sim, os valores que definem a zona de conforto somente são válidos até

uma velocidade do vento de 8 metros por minuto que é considerado como limite da faixa de neutralidade do vento. Acima dessa velocidade a zona de conforto é deslocada no sentido do aumento da temperatura e da umi-dade relativa.

DAVIDOV e SAK, autores russos, localizam nos valores 240 — 480 metros por minuto na velocidade do vento, os melhores resultados no rendimento do trabalho e encontraram um limite de 600 metros/minuto para a sensação de conforto. TROMP registra várias conclusões divergen-tes, em experiências dêsse tipo, e observa que h á forte influência do fator psicológico dando margem de êrro elevada. Além disso, BURCH e SO-DEMAN, descobriram que a movimentação do ar que refresca apenas uma parte da pele, produz sensações em todo o corpo, explicando, em parte, a origem de contradições nos resultados. '

A pele humana, outrossim, tem a capacidade de absorver ou refletir as radiações existentes na atmosfera. O homem branco somente absorve 60% do que recebe. Êsse fenômeno contribui bastante para a diminuição da carga total de calor recebido. Os indivíduos de raça negra apresentam uma temperatura ao nível da pele, superior aos da raça branca, quando expostos durante algum tempo ao sol, em razão de uma absorção de ra-diação. Segundo HEER a radiação é absorvida ou rejeitada de acordo com as propriedades e a còr da pele; a pele negra absorve acima de 44% mais energia solar que a pele branca que, em contraposição, reflete 3,5 vêzes mais raios ultravioletas que a negra.

O sol a pino, num tempo limpo de nuvens faz chegar a um objeto na superfície terrestre uma quantidade de calor igual a 1,2 — 1,4 calorias num cm- por minuto, independente da latitude. O equilíbrio do calor hu-mano, segundo observa SARGENT, consiste em ganhos do metabolismo e da absorção da radiação solar e dos raios infravermelhos; e nas perdas por convecção, evaporação e.reflexão de infravermelhos.

A região do corpo mais suscetível aos efeitos da radiação solar é a cabeça. Mesmo em regiões frias, cobertas de neve, uma exposição prolon-gada'às radiações solares, sob um céu limpo, pode causar fortes dores de cabeça. Os olhos, também, reagem negativamente aos efeitos dessas ra-diações, por isso aconselha-se o uso de lentes escuras em desertos e cam-pos de neye.

Embora aproximadamente iguais, do Equador à latitude de 50°, no nível do mar, as radiações aumentam exageradamente com a altitude. Sob um ângulo de altitude solar em relação ao horizonte de 60°, os raios ultra-violetas são 45% mais poderosas numa altitude de 3.500m, comparados com os do nível do mar. Contudo, nesta mesma altitude, sob um ângulo de 30° a ação dêsses raios é quase desprezível.

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As reações fisiológicas às radiações foram estudadas experimental-mente por L E H M A N N e S Z A K A L L que observaram um aumento na capa-cidade de trabalho; uma diminuição do metabolismo basal; um aumento do quociente respiratório, da reserva alcalina e da tensão alveolar do anidrido carbônico, No sangue encontraram um aumento de linfócitos e ufna diminuição de neutrófilos.

Êsses efeitos surgiram através de repetidas radiações em doses mo-deradas. Uma absorção exagerada, numa única dose, produz modificação do quadro anterior acompanhado de leucocitose.

Por outro lado, vimos que ocorre uma dilataçao dos vasos periféricos na reação ao calor. Um maior volume de sangue corre para a superfície para, através de condução e radiação, aumentar o desprendimento de calor do corpo enquanto diminui o acesso aos órgãos abdominais. KARPOVICH confirma o fenômeno observando que o sangue que deixa as regiões pró-ximas à pele é saturado de oxigênio indicando que o aumento de supri-mento nesses locais é determinado pelas necessidades de termorregulação e não por atividades normais dos tecidos que absorveriam aquele gás como combustível.

Ésse processo obriga a uma ativação da circulação e da respiração con-jugadamente com conseqüências secundárias.

Para um aumento na temperatura interna (medida no reto, local de maior precisão e regularidade) de 2°C, que corresponde ao sinal fisioló-gico da reação orgânica ao calor, BÁZET registrou em diversos indivíduos um aumento médio"'de 37 batimentos no ritmo cardíaco; a cada aumento de 0,5°C na temperatura retal correspondeu a diferenças de 15 batidas por minuto na posição deitada e 20 na posição de pé.

O ritmo respiratório reage através de um aumento de 5 a 6 vezes por minuto para cada variação positiva de 0,5°C nas mesmas condições, se-gundo KARPOVICH. Se o aumento da temperatura externa é rápido a respiração não somente acelera seu ritmo, mas, também, aprofunda-se de maneira a aumentar a ventilação pulmonar para fazer face às necessi-dades do organismo. Uma causa secundária dessa reação respiratória é a • queda da tensão alveolar do dióxido de carbono, algumas vezes a 25, ou mesmo 23 mm de mercúrio, em lugar dos habituais 40 mm. O resultado disso é um aumento da taxa alcalina do sangue.

HAEBISH, em face do exposto, é de opinião que-o coração é o órgão màis solicitado numa temperatura adversa de calor e declara que h á uma queda de 1% na capacidade física para cada grau acima de 20° centígra-dos. BURCH em experimentos a uma temperatura de 35°C com umidade : relativa elevada, na cidade de New Orleans, encontrou aumento no ritmo

cardíaco, no débito sistólico (cerca de 40%) e no índice de diluição do miocárdio quando a carga cardíaca era aumentada; sob 37°C, com baixa umidade relativa, não houve grandes modificações, coerentemente com o que vimos em relação ao condicionamento da reação à temperatura pela umidade. GRAIG e colaboradores estimaram que se um ritmo de 160 batimentos por minuto é alcançado numa hora de exposição ao calor, o ambiente será tolerado por 1,30 horas aproximadamente; estabeleceram, também, uma relação linear entre o ritmo cardíaco e o tempo de tole-rância. KARPOVICH, por sua vez, registra que um aumento no minuto--volume do coração ocorre co ma elevação da temperatura e que é causado

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principalmente por um maior ritmo cardíaco. Quanto a pressão do sangue, a sistólica pode subir ou descer, mas a diastólica normalmente cai.

Essas observações são convergentes e nos levam a citar conclusões de MOREHOUSE e MILLER que a freqüência cardíaca e a temperatura cor-poral são índices seguros acerca dos efeitos da temperatura ambiente e aconselham como limite para o trabalho industrial o aumento de 1UC na temperatura do corpo.

O sangue, também, reage ao calor.de forma peculiar: diretamente através de modificações estruturais e indiretamente por meio.de mudan-ças de características físicas. No primeiro caso podemos citar: decréscimo da afinidade da hemoglobina pelo oxigênio o qual resulta separação mais fácil do oxigênio da hemoglobina; redução da absorção de gases pelo plasma, facilitando a dissolução; e aumento de velocidade de difusão. No segundo, o aumento da taxa alcalina, já visto anteriormente, e o aumento do volume. Nesse último detalhe, KARPOVICH declara que a origem do fluído extra ainda não foi encontrada. Alguns autores, entretanto, sugerem que o trato intestinal contém um considerável reservatório de fluído e sais que podem ser lançados na corrente sangüínea, que uma parte pode ser absorvida dos tecidos, ou que os rins podem colaborar com o fluído que conservariam pela secreção de urina mais concentrada.

Para correlacionarmos os efeitos do calor-umidade ao exercício é ne-cessário observarmos o quadro dos chamados meteorotropismos — fenô-menos biológicos correlatos com fatores meteorológicos — que ainda não foi levantado completamente pela pesquisa científica.

Em se tratando dos efeitos meteorológicos na atividade física, um co-nhecimento quantitativo torna-se .mais complexo face aos limitados con-ceitos da fisiologia do exercício, mesmo considerando a .aproximação da relatividade biológica.

' No caso particular do conjugado tempcratura-umidade já foi visto que, em princípio e em termos gerais, a atividade física é por êle condicionada. Uma confirmação simples e lógica dessa assertiva surge na revisão dos ganhos e gastos energéticos do organismo.

A "máquina" humana transforma continuamente'em energia os ali-mentos e o oxigênio do ar absorvido. Três quartas partes dessa energia é convertida no calor emitido pelo corpo e a restante é utilizada pela atividade muscular. Num ambiente quente, onde o organismo reage ati-vamente no fenômeno da termorregulação, uma maior percentagem de energia, logicamente, é dissipada pelo calor. Em vista disso o brasileiro ADALBERTO SERRA nos ensina que " o rendimento do motor humano, expresso em trabalho mecânico é mais ou menos fixo (em torno de 25% do calor total produzido) segue-se que o habitante da zona tropical pro-duzirá menos que os das regiões frias".

Alguns pesquisadores têm procurado demonstrar êsse conceito em termos práticos. MOREHOUSE e M I L L E R esclarecem que a quantidade de calor produzido em excesso, na maioria de tipos de exercícios, se co-nhece somente em forma aproximada devido a dificuldade de tomada das medições necessárias. Os estudos de laboratórios indicam que a produção de calor pode elevar-se facilmente de 10 a 20 vezes com respeito a do sujeito em repouso, podendo chegar a 30 vezes em casos extremos. É óbvio que isto impõe uma severa carga aos mecanismos de termorregulação

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criando um estado prematuro de fadiga com suas implicações físicas, quí-micas, elétricas, mecânicas e psicológicas produtoras de perturbações e erros nas avaliações.

Contudo MAC CONNEL e HOUGHTON fizeram um atleta realizar um trabalho constante, numa bicicleta ergométrica, de 27,7 Kgm/minuto. À ' t e m p e r a t u r a de 32,3°C e sob um índice de umidade relativa de 30%, o indivíduo pôde produzir uni trabalho total de 28.000 Kilogrâmetros. Os autores determinaram então o trabalho total que o indivíduo poderia pro-duzir mantendo constante a umidade relativa, mas elevando a tempera-tura a 60°'C. Nestas condições, o trabalho total era reduzido a 2.600 Kgm; o mesmo aconteceu com os pares 53°C — 60% e 43°C — 98%. Comprovou--se então que com o aumento da umidade se reduz a temperatura compa-tível com um determinado trabalho.

Conclusão semelhante chegaram L E H M A N N e S Z A K A L L numa ex-periência que um indivíduo treinado trabalhava num cicloergômetro ins-talado num recinto de umidade relativa constante de 50%. O trabalho máximo executado a 18°C foi de 100.000 Kgm; 70.000 Kgm a 30%; 47.000 Kgm a 35; 35.000 Kgm a 39°, e 20.000 Kgm a 46°.

J á D I L L e seus colaboradores EDWARDS, BAUER e LEVENSON, autores de vários e importantes trabalhos da fisiologia experimental, pro-curaram i r mais a fundo no problema. Fizeram 5 homens trabalhar numa bicicleta ergométrica dentro de quartos frio e quente, consecutivamente, sujeitos à mesma carga. No primeiro caso, suportaram o esforço fácil confortàvelmente, durante 1 hora; no segundo, convencionou-se parar somente quando sobreviesse a exaustão. Aos 37 minutos o primeiro indi-víduo esgotou-se, o segundo e o terceiro aos 40 minutos, o quarto aos 49 minutos e o último aos 60 minutos sem atingir o esgotamento. Os pontos principais observados foram os seguintes:

a) Não houve acúmulo considerável de ácido lático; b) Não houve empenho' excessivo do sistema respiratório;

c) A temperatura elevada não foi a responsável maior pela exaustão pois a temperatura- do corpo dos indivíduos (os esgotados no quarto quen-te) foi somente 0,2°C maior que no quarto frio;

d) O trabalho mecânico realizado pelo coração nos dois ambientes considerados foi o mesmo julgado através do volume-minuto e pela pressão sistólica arterial do sangue;

e) O ritmo cardíaco dos indivíduos exaustos foi sempre elevado e dentro da faixa de valores 162 e 180 batimentos por minuto (detalhe que foi classificado como "significativo" pelos autores);

f) O consumo de oxigênio foi somente um pouco maior, não mais de 5% no quarto quente, comparando-se ao do frio;

g) A temperatura do corpo aumentou gradativamente nos primeiros minutos, mantendo-se constante quando havia condições favoráveis de dis-sipações de calor (quarto f r i o ) ; sob condições desfavoráveis o aumento continuou até sobrevir a exaustão (quarto quente);

h) O minuto-volume do ar inspirado no quarto quente aumentou ra-pidamente nos primeiros 10 (dez) minutos e depois vagarosamente até o fim do esforço; a pressão alveolar de dióxido de carbono caiu

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gradativa-mente numa maior proporção do que sob uma situação de repouso num ambiente de igual temperatura, evidenciando que o CO- era eliminado mais rapidamente do que produzido pela oxidaçao;

i) O débito sistólico no ambiente quente foi de 1 a 4 litros maior do que no frio;.

j ) O ritmo cardíaco aumentou proporcionalmente mais do que o m i -nuto-volume, surgindo a evidência que a quantidade de sangue por bati-mento diminuía à medida que a temperatura externa aumentava.

Baseados nesses dados, D I L L e seus colaboradores concluíram, atra-vés de um processo de eliminação, que a causa da exaustão nas experiên-cias estava situada, em primeiro lugar, no trabalho do coração. Pondera-ram que a evidência era indireta e inconclusiva porém o importante era que, em todos os casos de esgotamento, o coração atingia a faixa de m á -xima reação enquanto tôdas as outras funções, que poderiam ainda ser medidas, possuíam amplas, reservas.

Essa observação tem sido corroborada desde 1931, ano da realização da experiência, servindo de base, até hoje, aos estudos da influência do calor no exercício, sendo intensivamente referenciada para literatura es-pecializada.

A determinação quantitativa da influência da temperatura-umidade separadamente do exercício no fenômeno visto pelo conjunto, a qual daria condições ideais de observação, é extremamente difícil; ROWELL, T A Y -LOR e WANG tentaram e concluíram que os processos correntes de ava-liação do consumo máximo de oxigênio tornam-se invalidados porque o máximo da pulsação é alcançado a uma menor intensidade de trabalho pela ação do calor. Na verdade, êsses fatores SGmam-se em sua ação (não havendo propriamente uma "adição algébrica" mas sim uma reação uni-ficada como é comum dos fenômenos fisiológicos) sendo oportuno lem-brar o conceito de SARGENT sòbre o equilíbrio térmico: METABOLIS-MO ± RADIAÇÃO ± CONVENÇÃO ± ARMAZENAGEM DE CALOR — TRABALHO REALIZADO — VAPORIZAÇAO; essa fórmula está em equilíbrio num ambiente neutro em situação de repouso, no caso de um deslocamento de um dos termos (exercício, por exemplo) os outros reagi-rão na busca do equilíbrio variando continuamente seus limites de ação. Além disso h á o imponderável fator psicológico de influenciação. O aus-traliano MAC FARLANE comprovou experimentalmente que a reação do aparelho cardiovascular ao exercício e ao calor é ativada pelo mesmo mecanismo de controle nervoso, e o holandês TROMP nos chama a aten-ção, a propósito do chamado "suor" psicológico que serve de demonstração simples de uma provável ligação.

,. Portanto, mesmo considerando a complexidade do fenômeno pela i n -térposição das funções e a influência psicológica, a referência mais prá-tica e mais importante é o ritmo cardíaco, tanto para o repouso como no exercício num ambiente quente-úmido; no primeiro caso SAYERS e DA-VENPORT merecem citação por defenderem pioneiramente esta tese, em 1927, quando estudaram a suportabilidade dos climas, e no segundo, MAC CONNEL e HOUGHTON, já citados, que concluíram, em 1925, que "quan-to mais elevado o pulso, tan"quan-to menor é á capacidade para o trabalho".

Êsses conceitos ficaram restritos ao campo da Fisiologia não tendo aplicações práticas no treinamento desportivo, principalmente porque os m é

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-todos eram originados de Países de clima temperado nos quais o calor--umidade não constitui normalidade bem como devido à própria evolução desses sistemas de trabalho físico que ainda não tinha correlacionado em bases científicas e práticas, a freqüência cardíaca com o esforço. O autor comprovou pessoalmente essa assertiva quando da visita de GERSCHLER e REINDELL ao Rio de Janeiro em 1959. Êsses pesquisadores, pioneiros eméritos da relação quantitativa coração-esfôrço através do método , :I n -terval Training", foram surpreendidas pelas condições ambientais de tem-peratura e umidade tropicais durante as demonstrações programadas. Quando do retorno à Alemanha foi aventada a possibilidade de estabe-lecer um gráfico assinalando as modificações do sistema de trabalho do "Interval Training" com, o aumento da temperatura. Entretanto, não hou-ve comunicação neste sentido até a data presente.

Além da freqüência cardíaca, restariam somente a temperatura do corpo e o suor como elementos comensuráveis mais objetivos para a ava-liação da influência do calor-umidade no exercício.

O uso da temperatura corporal como indicação da reação à tempe-ratura é oficialmente reconhecido nos Estados Unidos, através do Bureau de Trabalhadores em Minas que o coloca após a freqüência do pulso. Nas minas da África do Sul, segundo STRYDON, a temperatura retal de 39°,5C é considerada como limite máximo de segurança para o trabalho. Essas prescrições surgiram empiricamente com base na experiência do trabalho porém servem como elementos indicadores.

Durante o esforço, mesmo em condições ideais de ambiente há um aumento da temperatura interna. KARPOVICH registra valores até 38,9°C, com casos extraordinários de 40,6°C. Em experiências científicas, NIEL-SEN constatou que a temperatura retal ascende até um mesmo nível du-rante um trabalho moderado constante apesar de que a temperatura am-biente oscile entre 5°C e 36°C. MOREHOUSE e M I L L E R ensinam com base num levantamento da literatura existente, que a temperatura inter-na corporal aumenta durante o exercício e que o incremento é proporcio-nal à intensidade do mesmo. Esclarecem ainda que. isto não indica que a termorregulação seja inadequada. Sem embargo, a cada nível de atividade física a temperatura ascende até um ponto a partir do qual se estabiliza, mantendo-se sem aumentes subseüentes. Caso isto não aconteça, a situa-ção se torna anormal, como no caso particular do -ambiente quente no qual a medida que a temperatura corporal se eleva durante o exercício, os estímulos aos centros hipotalamiccs determinam um incremento na temperatura sangüínea, traduzidos pelo aumento de sudação e do volume sangüíneo da periferia, que é bastante para diminuir o fluxo de sangue para o trabalho muscular, influenciando tanto na dissipação do calor pelo corpo como no rendimento do exercício.

Os músculos, durante o trabalho físico, causam, sem dúvida, uma par-cela do aumento do calor do corpo. Mesmo nos animais de sangue frio, foi constatado por vários autores que certos peixes, após violenta luta depois de arpoados, apresentam temperatura alguns graus mais elevada do que a da água de onde foram retirados. A constatação prática désse fato é facil-mente feita observando-se a temperatura de diversas partes do corpo

(bôea, axila e reto, por exemplo) durante determinados exercícios: os maiores valores serão os das regiões próximas aos músculos mais

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solici-tados. Na verdade, segundo GERSHICKTER, o aumento da temperatura corporal favorece a atividade física: é um mecanismo de defesa. MO-REHOUSE e MILLER, a par disso, observam que um aumento na tempe-ratura corporal que é bem tolerada durante o exercício, pode causar grandes moléstias no indivíduo em repouso e, na realidade, a atuação atlé-tica se v ê realmente melhorada por uma moderada elevação na tempe-ratura corporal. Uma explicação significativa do fenômeno nos é ofere-cida por BUSKIRK e BASS: a maior tolerância à hipertermia que tem as pessoas que se exercitam, se deve ao fato de que um maior volume--minuto cardíaco permite a manutenção de uma irrigação cerebral ade-quada, embora a exposição ao calor sem exercício seja associada a uma diminuição do dito fluxo sangüíneo cerebral (devido ao menor volume--minuto cardíaco e a vasocontrição cerebral resultante' da alcalose res-piratória) ; os efeitos benéficos de uma temperatura muscular elevada durante o exercício podem ser, talvez, adjudicados a um aumento na dis-sociação da oxi-hemoglobina e na liberação de oxigênio das fibras mus-culares, como também à diminuição da visccsidade interna do protoplasma muscular; se os recondicionamentos estruturais que se desenvolvem du-rante a contração e o relaxamento das fibras musculares se vêem facili-tados pela temperatura elevada, .poderia ser desenvolvida uma pressão mais alta antes que passe o estado de excitação da fibra.

Quanto ao suor trata-se de sintoma bem mencs acessível que o pulso e a temperatura corporal, porém bastante importante para o esboço do quadro da reação orgânica ao calor, durante o exercício.

BEDFORD nos ensina, quando do exame dos fatores condicionantes das relações dos meios interno e externo, que nas experiências é possível fixar os parâmetros temperatura, velocidade do ar, umidade, trajes, tra-balho muscular e nutrição; enquanto que a idade, a constituição física, o grau de aclimatação e o índice de sudação são variáveis e individuali-zados; surgem daí as limitações de conhecimento. Além disso, o suor não é somente uma reação ao aumento da temperatura ambiente. Segun-do TROMP, êle pode surgir pelo efeito da indução eletromagnética de alta freqüência, de um estado emocional (usualmente limitado às palmas das mãos, à sola dos pés, às axilas) e isoladamente pelo exercício através da intervenção direta do sistema nervoso, como já foi observado. Uma simples mudança de postura pede provocar suor em alguns, indivíduos e, em outros, uma aplicação local de gelo ou ingestões de água gelada, pro-duz suor artificialmente.

A par dessa individualização, contudo, há estudos de determinação quantitativa. Abaixo de uma temperatura ambiente de 25°C (não se le-vando em conta a umidade) o indivíduo em repouso, normalmente, não sua: a dissipação de calor, via evaporação, que é proporcional ao metabo-lismo, é inteiramente atribuída à chamada "perspiração insensível". Aci-ma dêsse ponto começa a aparecer o suor, desprendendo 0,58 calorias por grama. Num ambiente de clima temperado,. 18 a 24% do calor dissipado é feito através da sudação; a 33°C a proporção já é de 64 a 87% e a acima de 35% a totalidade do calor do corpo é perdido através do suor (dados de TROMP). Certos autores observavam que quando a temperatura aumen-ta vagarosamente de 20° a 40°C, há um longo período latente antes de o suor começar. Êle surge rapidamente e por toda a superfície da pele

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(ex-ceto nas palmas das mãos e nas solas dos p é s ) , e, usualmente, coincide com o aumento da temperatura retal. É significativo o fato que o suor pode continuar a aumentar mesmo quando a temperatura ambiente declina.

A capacidade máxima da produção de suor é de 1 a 2 litros por hora, numa situação de repouso. TROMP registra uma produção total de 80 l i -troá em 14 dias, numa região de temperatura 34° — 38°C, à sombra, com 30% de umidade relativa, e observa que a uma temperatura de 40°C, num ambiente sêco, têm sido encontrados valores de 1,5 a 2 litros/hora que é o bastante para matar um indivíduo por colapso da circulação, se não houver a devida ingestão de água. Tem sido comprovado por vários autores que é possível manter um índice de sudação de 3 l/hora durante 2 a 3 horas. Mais do que isso torna-se impossível a sobrevivência do orga-nismo que não suporta uma substituição de água maior do que 50 ml/mi-nuto; uma perda rápida de 6 a 8 litros (15% do pêso do corpo, aproxi-madamente) parece suficiente, em alguns casos de não substituição de água, para provocar a morte.

Com o esforço físico as reações se modificam, CAMPBELL e ANGUS registraram o aparecimento de suor, num trabalho moderado, à tempera-tura de 10° a 25°C, havendo uma diferença de 146 gramas, para uma de-terminada temperatura, entre os totais das situações de repouso e esforço, respectivamente. Notaram, também, uma considerável variação de indi-víduo para indiindi-víduo bem como a ação retardadora da umidade elevada e da falta de mobilidade do ar ambiente. KARPOVICH ensina que no es-forço, a produção de suor já não se distribui igualmente por tôda a super-fície da pele: 50% é perdida através do tronco, 25% pela cabeça e mem-bros superiores e os restantes 25% pelos memmem-bros inferiores. MOREHOU-SE e MILLER elevam os valores da produção máxima para 3,5 a 4,2 litros/ hora. EICHNA, BEAM, ASHE e NELSON em estudos numa câmara que produzia artificialmente as características do clima tropical observaram que a atividad física produzia uma sudação excessiva, sumamente inefi-ficiente em relação ao trabalho executado, independentemente do fato de que se ingeria água ou não.

A observação científica de indivíduos esgotados pelo trabalho em am-bientes quentes revelou, há bastante tempo, que além da desidratação dos tecidos havia uma baixa anormal na concentração de ions de cloro e sódio no plasma sanguínio ou a ausência, ou uma redução drástica de sódio e cloro na urina. De acordo com as informações da Fisiologia clássica, uma adição de 0,1% de sal na água ingerida é bastante para provocar uma reação favorável com aumento do rendimento do trabalho.. Portanto, é evidente a participação atuante dos eletrólitos do sangue, além da água, do fenômeno da reação do corpo do esforço no ambiente quente e úmido. A dosagem dêsses elementos no suor nos dará, indiretamente, mais um elemento de pesquisa.

O indiano MALHOTRA afirma que a redução do "status" de sódio do fluído interno produz primeiramente uma diminuição na performance e um estado de Iassitude, após isso, câimbras nos músculos do abdomem e dcs membros; comprovou q u ç é necessário um mínimo de 15g/dia de sal para o trabalho nos trópicos; uma dosagem maior de sal faz o mesmo efeito. KARPOVICH corrobora com dados aproximados e escreve que a quantidade de cloreto de sódio, no suor, varia pe 0,2 a 0,5% e que é

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possí-vel perder teoricamente de 16g a 40g de sal por dia, comentando que o último total não aparece na prática porque o NaCl do suor . diminui nos casos de sudação profusa; é de opinião que de 13 a 17g por dia de sal é suficiente para o trabalho nos trópicos e desde que a média normal de absorção, através dos alimentos, é de 10 a 12g, é óbvio à. necessidade extra.

É oportuno, neste ponto, lembrar algumas das conclusões da experiên-cia de L E H M A N N e S Z A K A L L j á citada neste capítulo. Examinou-se se a capacidade de trabalho aumentava com a absorção de uma solução de cloreto de sódio. A reação foi positivá aos 30°C embora não houvesse nenhuma vantagem a 46°C. Notou-se, também o seguinte:

a) a introdução de um líquido, provoca um aumento d e s e c r e ç ã o de suor, porém não proporcional a água bebida, mas sim ao aumento de tra-balho executado;

b) a quantidade de suor segregado por minuto e por Kgm de traba-lho aumenta com o crescimento da temperatura e é independente do lí-quido introduzido;

c) a quantidade de suor é, portanto, uma função linear do trabalho

e ao mesmo tempo da temperatura, , Conclusões convergentes em torno dêsses fatos surgem num repasse

bibliográfico:

V I A L E (1913) — encontrou no suor do trabalho uma concentração notavelmente superior (0,7 a 0,9%; em um caso 1,37%) de cloreto de sódio que no suor do calor (0,08 — 0,78%); foi observado, também, que neste último tipo, a concentração diminui parabòlicamente com o tempo enquan-to no suor do trabalho cresce linearmente. PUGLIESE e depois KITTSTEI-NER, confirmaram êsses dados.

LEE e BOISSARD — (1940) — observaram que a água deve ser ad-ministrada em quantidades mais reduzidas e de forma mais freqüente em climas quentes e secos. Ésses climas não se toleram tão comodamente quanto os tripicais. Quando se assegura uma suficiente ingestão de água os efeitos logrados são os mesmos, quer se trate de ambiente quente-sêco

(42,7°C e 38% de umidade relativa) ou quente-úmido (30,8°C e 87%). WINSLOW e GAGGE — (1941) — comprovaram que a regulação do calor é notavelmente efetiva num treinado em condições de trabalho. Em temperaturas que oscilam entre 11° e 30°C, com moderada umidade, o organismo mantém uma temperatura média da pele mais baixa que a do sujeito em repouso no mesmo ambiente, durante o trabalho. À baixa tem-peratura a pele não experimenta os incômodos que resultariam intolerá-veis num indiano em repouso. O esfriamento por evaporação, unido a maior secreção de suor, equilibra o suor extra que resulta do incremento de trabalho. Aprecia-se um aumento na temperatura da pele, somente nos mais altos níveis da atividade física, acima de 400 calorias por hora.

TAYLOR, HENSCHEL, MICKELSEN e KEYS — (1943) — pesquisa-ram os efeitos do esforço físico em 49 trabalhadores, num ambiente de calor sêco (48,8°C), Concluíram que:

a) uma ingestão de 15 gramas por dia foi satisfatória;

b) com a redução para Çg/dia, beberam menos água e trabalharam menos; perderam mais do dôbro do pêso Verificado no regime anterior;

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aumentaram a freqüência do pulso e a temperatura retal; foram deficien-tes os ajusdeficien-tes cardiovasculares; 25% dos indivíduos sofreram desidratação, náuseas, vômitos, taquicardia, hipertensão, vertigem e colapso;

c) dos que ingeriram Í5g de cloreto de sódio somente 2,5% apresentou essa sintomatologia';

d) o volume de suor produzido variou entre 5 e 8 litros diários; e) não houve modificação ao se elevar a 30g/dia a dosagem de sal; f) o aparecimento de câimbras não é necessariamente, uma causa do baixo índice de cloreto de sódio no sangue; de oito homens, cinco apre-sentaram prostração mas não câimbras.

PITTS JOHNSON e CONSOLAZIO — (1944) — fizeram caminhar sobre um plano inclinado, num ângulo fixo e a velocidade constante, num ambiente de temperatura de 37,7°C e umidade relativa de 45%, indivíduos habituados a exposição prolongada ao calor. Os pontos principais foram: a) quando não se ingeriu água, a temperatura corporal ascendeu até 38,8°C; os indivíduos se cansaram facilmente e o trabalho foi ineficiente; b) quando se permitiu beber água à vontade, a temperatura não as-cendeu tanto e finalizaram a marcha em melhor estado;

c) quando se ingeriu uma quantidade de água igual à perda sudoral, a atuação melhorou ainda mais e a temperatura corporal variou pouco com a do reto permanecendo constante;

d) a administração de sal, somente, sem água, produziu inconvenien-tes gastro-ininconvenien-testinais, sem aumento da tolerância ao calor; idênticos re-sultados se obteve com a glicose; quando administrados com água, ambos melhoram a atuação.

HERLITZKA — (1945) — cita investigações atribuídas a COMBLE e colaboradores que determinaram a eliminação, pelo suor de calor, de 150mg de vitamina B I , I20mg de B2, 300mg de ácido pantotênico e 200mg de áci-do nicotínico por cada lOOcm3 de suor.

B L Y T H e BURT — (1961) — investigaram em 11 atletas e 7 não atle-tas da Universidade de NORTH CAROLINA, os efeitos da desidratação e super-hidratação, fazendo-os correr sòbre um tapête rolante num ambien-te a uma ambien-temperatura de 49°C. Os resultados foram os seguinambien-tes:

Situação Atletas Não Atletas

NORMAL Resistência X Resistência Y

SUPER-HIDRATAÇÃO — 2 litros Resistência . Resistência , de água 30 minutos antes do Aumentada Diminuída

teste

DESIDRATAÇÃO — abstenção de água por 24 horas e suar num recinto quente até que

perdes-de 3% do peso

Resistência

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K R A L , ZENISEK e H A I S — (1963) — colheram o suor de diversos indivíduos, produzido pelo calor e pelo exercício, respectivamente, com 10 minutos de intervalo; foi constatado que a concentração de sódio, po-tássio, uréia e creatilina do suor produzido pelo exercício, era maior.

BRENKE e ISRAEL — (1963)-—- com o auxílio de um método calo-rimétrico foi pesquisada a reação do suor na face de 250 atletas alemães, de diferentes especialidades. Descobriu-se uma relação entre a reação do suor e a qualidade do esforço atlético desenvolvido bem como uma baixa no pH. Não houve diferenças entre sexos, idades ou condição física.

K R A L , ZENISEK e H A I S — (1965) — esses autores determinaram a concentração de sódio, de potássio, de cloro e de substâncias azotadas do suor produzido pelo esforço. O objetivo era estudar as repercussões da eli-minação dos amino-ácidos na homeostase e na performance atlética. Con-cluiu-se que:

a) para um mesmo trabalho a perda de amino-ácidos é maior nos atletas do que em metalúrgicos;

b) o treinamento produz uma retenção de sal no organismo pela di-minuição da concentração no suor;

c) a importância da transpiração na performance atlética depende do grau de adaptação do atleta, do esforço e do ambiente (temperatura, umi-dade, vento, etc.).

MOREHOUSE e M I L L E R (1965 — citam os seguintes conceitos: a) a temperatura corporal é regulada, em parte, pelas modificações na secreção e na evaporação do suor. Durante o trabalho, a temperatura corporal se eleva correiativamente com a intensidade do esforço, mas a da pele permanece relativamente constante. Isto indica que é a temperatura interna e não a do tecido epitelial o estímulo efetivo da secreção sudoral. b) as melhores atuações no trabalho e no desporto no meio quente se obtém quando se substitui, hora a hora, a água perdida pela sudação, pela simples ingestão de água.

c) o corpo não poderá reter água, a menos que acompanhada de sal. Quando se instala um déficit de sal, a ingestão forçada de água determina-rá eventualmente uma produção equivalente de urina. A absorção-de água alivia temporariamente e desidratação, porém reduz a concentração do líquido extracelular, dando origem em alguns casos a câimbras de calor. d) uma dose extra de sal ou de glicose com água ingerida em ambi-entes quambi-entes, durante o trabalho, não é aconselhável para indivíduos que já recebem adequadas quantidades de sal e de hidratos de carbono em sua alimentação habitual.

CRAIG e CUMMINGS (1966) — constataram que:

a) o "STRESS" do calor e desidratação apresenta efeitos maiores na realização da atividade física do que o calor isoladamente.

b) decréscimo de produção é devido principalmente à resistência e depois habilidade em realizar o trabalho máximo.

c) as modificações podem ser atribuídas às inadequações circulatórias do que ao trabalho muscular.

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Na referente ao conjugado esfôrço-recuperação, ou melhor, à apli-cação de cargas intervaladas em relação ao calor-umidade o dado inicial é de que a influência dêste último elemento só é marcante, após determi-nados valores de temperatura e índices de umidade relativa.

Há uma faixa desses valores cujos efeitos são percebidas de acordo com a intensidade de. esforço. Por isso, explica-se que GERSCHLER e REINDELL tenham aventado a hipótese de que a temperatura não influ-enciaria, no esforço, mas sim na recuperação. Logicamente os dois pesqui-sadores se referiam à aplicação do "Interval Training" porém, a não am-pliação do conceito, tem criado erros de interpretação, especialmente no Brasil e em Portugal (Ref. ANAIS DO I I I CONGRESSO LUSO-BRASI-LEIRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1966).

O problema já foi estudado com os rigores da pesquisa científica, pelo notável fisiologista americano D I L L , em. 1942. Nove exercícios de diferen-tes intensidades foram executados numa bicicleta ergométrica em diver-sas temperaturas, sendo a intensidade dos exercícios controlada pelo oxi-gênio absorvido. Os resultados foram coerentes com as informações apre-sentadas anteriormente, entretanto, o gráfico confeccionado por D I L L é bastante sugestivo para a visualização do fenômeno. (Fig. 5).

« 9

-0 IO » M 4-0 5-0 *C . TEMPERATURA AMSlENTS

Com referência à recuperação, um exame na bibliografia do trabalho industriai nos dá uma avaliação inicial do problema. VERNON observou, em 138 mineiros, que, em condições favoráveis de temperatura e umidade, havia a necessidade de descanso em 7,3 minutos em cada hora; em

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con-dições desfavoráveis a necessidade era de 22,4 minutos/hora. BROUHA estudou a relação entre a temperatura do corpo (sinal da reação à tem-peratura externa) e o trabalho pesado alternado com pausas para recupe-ração, em ambientes favoráveis e desfavoráveis, respectivamente. A figu-ra 6 nos mostfigu-ra os resultados.

A literatura médica conduz a conclusões semelhantes. O brasileiro EUGÊNIO SILVA CARMO, estudando o problema da ergometria cardía-ca e referenciando autores suecos, ensina que "o fator mais importante na determinação do efeito do exercício sobre o coração é o ambiente no qual o esforço é realizado e onde se processa a recuperação. Deve-se levar em consideração a temperatura, a umidade e a ventilação. O efeito do ambien-te sobre a freqüência cardíaca j á é observado no repouso. Quando as con-dições ambientais se tornam menos favoráveis, a freqüência cardíaca no repouso se torna mais rápida. O mesmo se constata na freqüência cardíaca máxima observada no decorrer do esforço e h á uma relação linear entre a temperatura do ambiente e o aumento da freqüência cardíaca no repouso, durante o trabalha Num recinto quente, o processo de recuperação pode seri incapaz de restaurar o nível de freqüência cardíaca em repouso, não se completando em certos casos, nem mesmo ao fim de 75m. Nesta recupe-ração só foi obtida depois de mudar-se o indivíduo para ambiente mais confortável de temperatura e umidade".

Uma outra experiência de BROUHA, dentro de normas rígidas de ava-liação, nos dá elementos quantitativos para a compreensão do fenômeno sob o aspecto desportivo que se caracteriza por uma intensidade maior no esforço. Foi executado um trabalho de 539Kgm/minuto numa bicicleta ergométrica dentro de uma câmara submetida a diferentes situações de temperatura e umidade.

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Observou-se claramente ,que a-reação ao esforço e à recuperação de-pendiam dos valores dq conjugado temperatura-umidade, e que a recupe-ração tornava-se difícil sob temperaturas superiores a 26,5°C e índices de umidade relativa acima de 60%. A figura 7 mostra as relações numérica? médias dos elementos pesquisados.

F i g . 7

*C»US0' -EXERCÍCIO eíoo—X- KCUREtAClO '

T I M A . 3 1 * t a l T I A » . 26 5« U SO 25 S* TEMPO EM M I N U T O S 3*

Neste particular, portanto, pode ser considerada como correta a hipó-tese de GERSCHLER e REINDELL pois, o aumento do intervalo na apli-cação do Interval Training em alguns atletas foi como compensação à temperatura elevada durante as demonstrações.

No que se referiu a performance no citado experimento, não houve modificações sensíveis: os efeitos fisiológicos foram observados nos exa-mes realizados "durante a recuperação". Tal qual nas demonstrações do Interval Training, os atletas tinham determinadas etapas a cumprir e em conseqüência, eram submetidos a um desafio cujo ônus era transmitido ao intervalo. Assim somente teríamos esgotamento visível durante o esfor-ço se êle fôsse realizado a longo prazo.

Em vista do exposto somos levados naturalmente à apreciação do fenômeno de aclimatação. De um modo geral a Biometeorologia localiza a aclimatação quando se transporta um indivíduo para um ambiente estra-nho ao seu "habitat" e estuda suas reações gradativas em relação ao tempo e às gerações de sua descendência. Os caminhos para o levanta-mento das bases fisiológicas são os mesmos da pesquisa das influências do ealor-umidade no exercício: freqüência cardíaca, temperatura do corpo 260

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e) a suscetibilidade de algumas pessoas a rãimbras, produzidas pelos calor, dependeram, em parte, da incapacidade de suas glândulas sudorípa-ras de reduzir essa perda de sal.

Êsse notável pesquisador, naquele mesmo ano, no seu livro "LIFE, HEAT A N D ALTITUDE" comentava estas conclusões atribuindo ao de-créscimo da taxa de sal no suor o sinal da reação do organismo que agindo desta maneira produziria uma economia das reservas, sob o controle pro-vável do sistema endócrino. W Y N D H A M e colaboradores, em 1964, bem como COLLINS e WEINER, em 1965, confirmavam através de suas expe-riências, os resultados e hipóteses de D I L L .

As contribuições de trabalhos mais recentes, como FOX (1964), BULLARD e V A N BEAUMONT (1965), e COLIN e HOUDAS (1963), tem sido no sentido de localizar a origem do acionamento das glândulas sudorí-paras nos indivíduo aclimatado: uma maior sensibilidade dessas glândulas ou um acréscimo no trabalho do hipotálamo? Êsses pesquisadores submete-ram vários indivíduos à aclimatação no calor-umidade, mantendo um dos membros a uma temperatura mais baixa. Ao terminar o período da aclima-tação, todo o corpo havia aumentado a capacidade de sudação, exceto o membro e-m evidência. Comprovou-se então que o fenômeno da aclimatação era uma reação periférica. COLIN e HOUDAS. especialmente, consegui-ram aclimatar partes do corpo isoladamente e descobriconsegui-ram que nas pessoas aclimatadas ao calor, a sudação tinha um controle hipotalâmieo enquanto nas não-aclimatadas as reações eram essencialmente de origem cutânea, provocadas por um ganho de sensibilidade nos receptadores periféricos.

A temperatura corporal aparece em seguida como meio avaliador de maior significação. Êsse parâmetro é intensamente registrado pelos pes-quisadores. Citando-se um trabalho recente, FALKIEWICZ, fisiologia rus-sa, submeteu à medição nove vezes ao dia, oito indivíduos de 28/36 anos de idade, ao curso de uma expedição à Ásia Central: a permanência nas montanhas e nas zonas tropicais provocou a elevação da temperatura do corpo.

HENANE correlacionou a temperatura retal com a sudação e defende a tese de uma ligação íntima: "o aumento de sudação com uma baixa de temperatura retal, com referência ao indivíduo não-aclimatado, significa que a atividade das glândulas sudorais respondem de uma maneira mais intensa a uma mesma variação de temperatura retal nos aclimtados". O cientista francês estabeleceu um gráfico baseado numa relação S / A T r on-de S = intensidaon-de da sudação em litros por hora e A T r = variação da temperatura retal em função da duração da exposição ao calor (Fig. 9) e apresentou as seguintes conclusões:

a) o valor de S / A T r é aumentado pela aclimatação;

b) a observação da relação S / A T r em função do tempo e do grau de aclimatação, mostrará que a evolução será diferente entre os aclima-tados e não aclimaaclima-tados;

c) nos não aclimatados a sudação se estabilizará lentamente e a re-lação S / A T r atingirá um platô, isto é, seu regime permanente em uma hora;

d) nos aclimatados o regime permanente será alcançado em um quar-to de hora;

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_s_

ATr A C L I M A T A D O NÁO A C L I M A T A D O * F i g - 9 GO m i n u t o »

e) nota-se um suplemento de sudação (ZONA RISCADA NA FIGU-RA 9) no indivíduo aclimatado e é graças a êste aumento sudoral que o indivíduo aclimatado mantém sua termo-regulação sem aumentar sua tem-peratura retal.

No que se refere à freqüência cardíaca, como acontece com a tempe-ratura interna, não h á divergência nos resultados. O aumento da freqüên-cia cardíaca para os não aclimatados é uma função inversa do tempo. A propósito, a experiência de BASS (1956), sob um controle rigoroso, às expensas do Exército dos EE.UU., nos fornece alguns dados complemen-tares. Cinco indivíduos viveram e trabalharam quatorze dias num recinto fechado à 49°C de temperatura, durante doze horas diárias, e à 38°C du-rante a noite. Os resultados de realce foram:

a) diminuição da freqüência cardíaca que passou de 155, no primeiro dia, a 125 batimentos/minuto, no 12° dia;

b) aumento de 25% do volume sanguínio, no quinto dia; voltando à normalidade no 14° dia;1

c) a tensão arterial manteve-se nos limites normais.

O item "a" mostra semelhança com as conclusões de WYNDHAM e seu grupo (ver Fig. 8), não havendo nada a acrescentar. Os itens (b) e (c) conduziram 05 autores a um exame das modificações da circulação san-güínea.

Sabe-se que uma exposição rápida ao calor-umidade, num indivíduo não aclimatado provoca um desequilíbrio circulatório caracterizado por uma vaso-dilatação periférica, aumento do' campo vascular sem cresci-mento do volume do sangue e um aucresci-mento na freqüência cardíaca. A

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vaso-dilatação periférica desvia o sangue das regiões profundas do corpo para o nível da pele. A transferência do calor interno na direção da peri-feria é deficiente e a temperatura corporal aumenta. A aclimatação ate-nua progressivamente essas reações restabelecendo à normalidade a dis-tribuição circulatória: a transferência de calor é facilitada e diminuem a temperatura interna e a vaso-dilatação periférica. Contudo, uma explica-ção para a volemia encontrada no item (b) da experiência de BASS, torna--se difícil dentro dèsse mecanismo.

WOOD fí o próprio BASS, mais tarde (1960) constataram que após a vaso-dilatação periférica inicial aparece uma vaso-contrição venosa e uma diminuição do débito sangüíneo periférico. Isto seria uma reação especí-fica da instalação da aclimatação porque, atenuando a expansão do campo vascular, ela permitiria ao coração evitar a sobrecarga e adaptar seu dé-bito; a veno-contrição, reduzindo o volume venoso, provoca uma melhora da resposta cardíaca, sem necessitar um aumento do volume sangüíneo. Essas observações explicariam a vaso-contrição periférica dos indivíduos aclimatados que limita a expansão do campo vascular mantendo constante a tensão arterial e aliada ao gradiente térmico mais elevado permitem um aumento de transferência de calor na direção da pele mesmo com a diminuição do débito sangüíneo. Os trabalhos de HERTZMANN e L E M A I -RE auxiliados por DUPONT são convergentes nesse ponto.

No concernente à respiração j á foi estabelecida a sua reação específica de hiperapenéa provocada pelos centros respiratórios estimulados pela ele-vação da temperatura do sangue quando um indivíduo é submetido ao ealor-umidade. Em relação ao fenômeno da aclimatação não foi encontra-da, entre os autores já citados, nenhum dado relevante que permita apre-sentar alguma diferença entre as reações dos aclimatados com as dos não aclimatados.

Quanto às manifestações de ordem endócrina, trata-se de caminho bastante trilhado pelos pesquisadores. Senão vejamos:

CONN, JOHNSTONE e LOUIS (1946) — deram ênfase à'correlação entre a aclimatação e certos fenômenos endócrinos.

BARNICOT e L A D E L L (1954) — constataram, na NIGÉRIA, que os europeus expostos ao calor apresentavam eosínofilia num grau propor-cional ao tempo de permanência naquele país. Atribuíram o fato a um hipercondicionamento córtico-suprarrenal.

t COLLTNS,. HELMANN, JONES e LUNNON (1955) — colocaram em evidência o aumento da secreção de aldosterona entre os indivíduos ex-postos ao calor: a expolíação salina estimularia a secreção de aldosterona que provocaria a retenção do sal no organismo. Experimentalmente obser-varam que os indivíduos aclimatados apresentavam uma menor taxa de sal na urina e no suor, comprovando assim as hipóteses de BARNICOT e L A D E L L FALBRIARD, MULLER, NEHER no mesmo ano, por caminhos diferentes, chegaram à mesma conclusão.

ROBINSON, HOWARD e MACFARLANE (1955) — mostraram que durante as estações quentes e úmidas os corticosteróides urinários dimi-nuíam nos indivíduos aclimatados; êste aspecto da ATINISHIMURA (1963) bem como WATANABE e NISHIMURA (1964) convergiram para o mes-mo ponto.

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MACFARLANE (1956) — em experimentos com indivíduos aclimata-dos de diversas origens, na Austrália tropical, encontrou baixa aclimata-dosagem de sódio no suor, concluindo ser o resultado da contínua ação da aldosterona sôbre o meio interno com efeitos a longo prazo; assim, mais uma vez, era reforçada a tese que o hiperaldosteronismo ao calor era o fator principal das modificações hidro-eletrolíticas específicas da aclimatação.

LEMAIRE, DUPONT, BENCENY e CORBEL (1961) — observaram que no clima tropical, a alcalinidade começa, a aumentar assim que^ se submete o indivíduo ao calor-umidade é diminui gradativamente até a normalidade. Apontaram a incoerência da não existência de uma hiperal-calinidade, como seria suposto nos indivíduos com hiperaldosteronismo.

L A D E L L e SHEPARD (1962) — inibiram através do espirolactone a reação de economia de sal sudoral produzida pela aclimatação ao calor.

HEROTTE e KRISHNARA (1962) — estudaram as reações orgânicas em um europeu submetido ao clima tropical da índia. Houve uma diminui-ção da tolerância a uma sobrecarga de potássio que pareceu ser um fator de um hipofuncionamento córtico-suprarenal. HENROTTE em 1964, jun-tamente com JUSTIN confirmou experimentalmente êsse detalhe.

ITOH e NISHIM-URA (1963) — descobriram. que em ratos expostos crônicamente ao calor, o estímulo da resposta córtico-suprarrenal pelo A.C.T.H. não ocorria, como normalmente se esperava..

LEITHEAD (1963) — tentou aclimatizar artificialmente com um tra-tamento de corticosteróides e aldosterona. Não houve resultados positivos.

HENANE (1965) — conseguiu inibir, também através do espirolactone, como L A D E L L , a melhora da performance muscular, em ambiente quente, em indivíduos aclimatados.

LEMAIRE (1965) — demonstrou que a homeostase particular de um indivíduo aclimatado ao calor parece ser acompanhada de desaceleração na atividade córtico-suprarrenal.

Como se pode concluir, pelo exame da evolução da pesquisa sôbre o assunto, o problema está ainda na fase de equacionamento embora seja possível prever um levantamento mais perfeito do fenômeno da aclima-tação atiavés do parâmetro da reação endócrina.

SARGENT com os outros 17 autores do "SURVEY OF HUMAN BIO-METEOROLOGY" (ver referência "SARGENT") apreciam o assunto pelo prisma de uma verdadeira Escola japonesa, tradicional na matéria, pelas obras de OGATA, YOSHIMURA, KUNO, SUZUKI, SASAKI, OSIBA, KOGA, KURODA, e são de opinião que a aclimatação é um fenômeno in-tegrativo de processos nervosos e endócrinos que produzem contradições nas observações científicas e que têm suas atividades específicas reguladas pelo grau de aclimatação. Assim, a adaptação parece, ser uma alteração a longo prazo da função fisiológica, enquanto a hipertrofia e a hiperativi-dade dos órgãos devem ser modificações de curto prazo.

Diante disso é de se prever um aperfeiçoamento na determinação do fator "tempo" na aclimatação, acompanhando a evolução da pesquisa, o qual em última análise é o maior problema sob o ponto de vista funcio-nal. Essa determinação tem sido feita normalmente através de interpre-tações, não havendo uma definição fixa para a sua instalação. Devido a êste gradualismo há uma grande diversidade de opiniões:

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TROMP registra valores médios de 2 a 3 semanas para uma aclimata-ção ao ambiente de calor-úmido, mas realça a individualidade de reações: há indivíduos que basta uma semana e outros que nunca se adaptam. 0 autor holandês considera uma pessoa aclimatada aos trópicos quando:

*a) volume de suor aumentado e início de sudação a uma menor tem-peratura do corpo;

b) conteúdo de sódio da urina e do suor diminuído;

c) habilidade ao trabalho e destreza aumentados com uma menor fre-qüência cardíaca;

d) plasma e fluído extracelular aumentados; e) metabolismo basal reduzido no repouso.

TAYLOR, HENSCHEL. e KEYS trabalharam oito dias em condições simuladas de calor sêco e calcularam a aclimatação em 4 a 5 dias; R0-BINSON, MOUNTJOY e BULLARD encontravam valores de 5/8 dias quando os indivíduos foram submetidos a exercícios no mesmo ambiente; L I N D e BASS comprovaram que 90 minutos de trabalho intenso por dia, durante nove dias, foram suficientes para promover a aclimatação ao ca-lor; GARDEN, WILSON e RASCH submeteram 38 jovens do sexo mas-culino a um esforço diário, durante duas semanas, num ambiente quente, concluindo que: oitenta minutos de exercício corporal e vinte minutos de pausa em cada período é o mínimo necessário para a promoção da adapta-ção; MOREHOUSE e MILLER registraram períodos de 4 a 7 dias ne-cessários à aclimatação; VENERANDO e D'ARCAIS aconselham 4 a 6 dias com períodos de atividade e repouso alternados.

Esses dados divergem em parte pela individualidade de reações assim como por se tratarem de experiências em ambientes diferentes de calor-úmido e de calor sêco. Alguns autores citados observaram diferenças de aclimatação nesses dois ambientes'da mesma forma que BELDING, HATCH, HERTIG e RIEDESEL em excelente pesquisa em 1960, e HENA-NE num levantamento de informações em 1966. Por outro lado nota-se nitidamente a influência da atividade física na velocidade da aclimatação. Êsse fato não tem explicação à luz dos dados atuais e é essencial e oportuno lembrar que não existe, segundo MACFARLANE, o chamado fe-nômeno do "CROSS-ACLIMATIZATION" (aclimatação cruzada). porque a aclimatação é uma forma de "stress" e por isso não confere resistência a outros fenômenos específicos: não há "CROSS-ACLIMATIZATION" en-tre o frio e calor ou o exercício e a altitude. Enen-tretanto HERLITZKA defende a tese que a aclimatação ao calor é conseguida pelo organismo que procura "aprender" a suar, e isso é acelerado pela hiertrofia das glân-dulas sudoríparas provocado pelo trabalho naquele ambiente. Apesar das opiniões divergirem, a hipótese da relação aclimatação-trabalho físico tem sido comprovada há bastante tempo:

SUNDSTROM (1926) — observou em animais criados num clima tro-pical artificial que a atividade física melhorava o rendimento.

HAUER (1925) — registrou que os europeus das colônias africanas sentiam-se melhor nos trópicos depois da I GUERRA MUNDIAL. Antes disso se faziam servir e levar pelos negros; a guerra obrigou-os a participar do trabalho.

Referências

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