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Aula III -Utilitarismo sob a ótica de John Stuart Mill e Peter Singer

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Academic year: 2021

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A vulnerabilidade e o Utilitarismo sob a ótica de John Stuart Mill e Peter Singer

O utilitarismo é uma teoria baseada nas conseqüências, consenquencialismo é a denominação conferida a todas as teorias que analisam se são certas ou erradas as ações mediante a ponderação de suas conseqüências. Um ato correto será aquele que produzir melhores resultados, que para o utilitarismo deverá ser visto em termos globais e não puramente individuais.

Explica Mill que toda a ação visa a algum fim, assim, ao se engajar nessa meta, aquilo que se estar a buscar deverá encontrar-se de forma precisa e clara na cabeça daquele que a procura, sendo, portanto, a primeira questão a ser pensada e não a última.

Diferentemente das demais correntes consequencialista, o utilitarismo só aceita um e somente um principio básico e universal da ética: a utilidade. “Esse princípio diz que devemos sempre produzir o equilíbrio máximo do valor positivo sobre o desvalor (ou o menor desvalor possível, caso só se possam obter resultados indesejáveis).” (BEAUCHAMP, CHILDRESS, 2002, p. 63)

O valor máximo e positivo, que indica os melhores resultados, buscado pelo principio da utilidade, não é questão pacifica entre os defensores do utilitarismo. Bentham e Mill são hedonistas, os quais sustentaram a origem clássica do utilitarismo, conceberam a utilidade inteiramente em termos de felicidade. O principio da utilidade é então denominado de o principio da maior felicidade.

O principio da maior felicidade sustenta que as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade e erradas conforme tendem a produzir o contrário da felicidade. A felicidade, explica Mill, “se entende prazer e ausência de dor; por infelicidade, dor e a privação do prazer.” Segue o autor argumentando que no fim todas as coisas desejáveis deságuam no intuito de alcançar o prazer inerentes a elas mesmas ou para evitar a dor. (2000, p. 187)

Contra os que argumentam ser utópico alcançar a felicidade, não podendo, pois, constituir como finalidade última de todo ser humano e da humanidade mesma, Mill pontua que, ainda que fosse verdadeira tal conclusão, não se poderia deixar de constituir a moralidade da conduta na contínua procura por prevenção ou mitigação

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da infelicidade, que também é teor da teoria hedonista. A felicidade apregoada é aquela consistente em momentos de êxtase, de poucas dores transitórias, muitos e variados prazeres, com um claro predomínio do ativo sobre o passivo (2000, p.195-196).

Todavia, o padrão de felicidade adotado pelo utilitarismo não é o vislumbrado pela ótica do próprio sujeito, que questiona a conduta ética a ser adotada, mas a de todos os envolvidos que serão direta ou indiretamente atingidos por sua conduta. Desta forma, o individuo deverá analisar os resultados de maneira impessoal, desinteressada e benevolente, hábil a buscar a felicidade o mais generalizada possível. “O interesse da humanidade como coletividade, ou pelo menos a humanidade considerada sem distinção de pessoas, deve estar presente no espírito do agente quando julga em consciência a moralidade de uma ação” (MILL, 2000, p. 258).

Mill então descreve que é na regra de ouro de Jesus de Nazaré que se encontra o espírito do utilitarismo, consistente em fazer aos outros o que gostaria que lhe fizesse e amar aos outros como a si mesmo (2000, p.202).

O autor acredita poder ser alcançado individual e coletivamente o ideal em que a compreensão da eticidade de uma conduta sopesasse a faliccidade pessoal e coletiva de maneira natural, assim, a busca do bem geral seria o fim colimado habitualmente por cada sujeito.

As grandes fontes de sofrimento humano, que são em sua maioria produzidas pela ausência de cuidado e atenção do homem para com os outros, poderiam ser erradicadas, a exemplo da pobreza.

Mas a busca pela felicidade de todos, da humanidade mesma, não é exigida em todas as condutas que se pretenda praticar, o utilitarismo, não procurar incumbir o homem rumo a um objetivo impossível de ser alcançado, mas na medida em que a multiplicação da felicidade encontra-se sob o poder de fazer isso em grande escala é que o homem é chamado a considerar a felicidade de todos, nos demais casos bastará verificar se ao beneficiá-lo não viola os direitos alheios e quais poucas pessoas poderiam propiciar maior felicidade.

Entrementes, diante de vários prazeres a serem escolhidos e dores a serem evitadas, Mill não refuta a idéia de que existem prazeres mais desejáveis e valiosos e dores mais fortes e intensas, e que não são mensuráveis exclusivamente pela quantidade, como também pela qualidade. Propõe como solução para a eleição que

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procure saber entre àqueles que experimentaram um e outro, prazer ou dor, qual é o preterível por todos, independentemente de qualquer sentimento ou obrigação.

Mill afirmar que dentre os prazeres existentes e experimentados pelos indivíduos, serão preteridos os prazeres que confiram à vida humana as suas faculdades mais elevadas, exemplificando com o fato de que poucos seriam os homens que permutariam sua condição de humano para de algum animal inferior sob a promessa de gozar plenamente os prazeres animalescos, salvo àqueles que experimentam uma infelicidade extrema que, para afastarem-se desta, seriam capazes e trocar sua sorte por quaisquer outra (2000, p. 189-190).

Diferentemente da teoria kantiana, para os utilitaristas uma conduta não é moralmente correta ou errada a depender da motivação, ao contrario, é o fim colimado que implica no objeto de aferição da eticidade de uma conduta. (MILL, 2000, p. 204).

Isto não significa, como tenta pontuar boa parte dos críticos desta teoria, que os meios envolvidos para alcançar o resultado não serão avaliados. A rota a ser percorrida para chegar-se a meta objetivada deve ser estudada, todavia, diante de princípios secundários (MILL, 2000, p.213)

O utilitarismo não se restringe ao hedonismo de Betham e de Mill, outros autores constroem o valor máximo sob outros pilares, tais como: amizade, conhecimento, saúde, autonomia pessoal, conquista e sucesso, entendimento, gozo e relacionamentos.

Independentemente dos valores máximos colimados, duas criticas dirigidas ao utilitarismo permanecem sem solução interna plausível.

Primeiramente, a teoria em certa medida contraria preceitos primordiais desenvolvidos pela sociedade, ao permitir que direitos e interesses correlatos à dignidade reste afastados em função de um valor máximo colimado. Ora, caso existisse apenas uma única forma de alcançar o valor máximo utilitarista, ainda que tal meio fosse imoral e abominável, sua execução poderia ser considerada correta e em muitos casos obrigatória. Nesta hipótese o utilitarismo poderia, por exemplo, fundamentar a obrigação do exercício da tortura para extrair informações de um criminoso, se fosse suficiente a salvar centenas de vidas.

Donagan argumenta que ninguém pode excluir a possibilidade sempre presente de que o que é hoje intenção louvável, em razão de circunstancias sociais

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alteradas, torne-se obrigatório pelos padrões utilitaristas. (apud BEACHAMP, CHILDRESS, 2002, p. 71-72)

A segunda critica coloca a teoria utilitarista em confronto direito com as concepções aqui desenvolvidas. O utilitarismo não reconhece a vulnerabilidade humana acrescida. Ao atrelarem a eticidade de um conduta ao que for de melhor interesse para uma maioria, partem de uma falsa premissa de igualdade material entre os indivíduos, de uma igual oportunidade e poder. Assim, esta corrente teórica possibilita que uma minoria seja explorada e lesionada, nos casos em que isto significar um bem a uma maioria. Esta foi na verdade a pauta de justificativa utilizada pelos cientistas que realizaram experiências em seres humanos considerados de segunda categoria, e que feriam frontalmente suas dignidades. Nesta mesma esteira serve para balizar a experiência com células-tronco embrionárias e a clonagem terapêutica.

As criticas não impendem que alguns aspectos da teoria não sejam considerados na reflexão ética, assim parece não restar duvida que as conseqüências de uma conduta exercem um papel fundamental neste processo de decisão. E nesse contexto maximinizar os resultados bons para um maior número de pessoas faz-se um fim apreciável e desejável, mais precisamente ao se trazer para o contexto as questões que envolvem políticas publicas de saúde.

Já Peter Singer apresenta uma tradição filosófica diferente. Para Singer o utilitarismo deve ser baseado no princípio de igual consideração de interesses.

Para o autor uma pessoa vive uma vida moral se puder justificar suas ações e opções racionalmente. A possibilidade de ser guiado pelo raciocínio, diz Singer, oferece toda objetividade que é possível obter.

Ao mesmo tempo, o autor entende que os juízos morais devem ser universais e por tal razão impõe-se aceitar que o interesse individual de cada um não tem peso maior do que o do outro. Desta forma, o ponto de vista ético deve levar em consideração os interesses de todos que são atingidos por uma decisão.

O princípio de igual consideração de interesses implica que respeitemos os interesses fundamentais das pessoas independentemente da idade, seja, raça, capacidade, habilidade ou quociente intelectual. Do mesmo modo não nos permite explorar seres sensíveis que não pertençam a nossa espécie. Não podemos ignorar os interesses de outras espécies porque são menos inteligentes que nós.

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Nesse sentido a capacidade para sofrer, para a felicidade e para o prazer são as características fundamentais para que o interesse de um ser seja considerado nas ponderações de uma decisão.

Se um ser pode sofrer não há nenhuma razão para não considerar ou ignorar esse sofrimento. A capacidade para sentir é o único amparo moral para determinar quando o interesse do outro deve ser considerado.

Singer explica que na atualidade não resta dúvida quanto a sacralidade da vida humana. Vida humana essa que é caracterizada pela autoconsciência e pela racionalidade. Mas fato é que pessoas da nossa espécie as vezes não possuem tais capacidades (pessoas em estado vegetativo, embrião humano), enquanto seres de outras espécies o teriam (golfinhos e chipanzés).

Alguns animais não humanos parecem possuir grau de racionalidade e de autoconsciência suficientes para dar lugar a uma identidade individual, com sentido do passado e do futuro. Nesses casos, os argumentos que sustentam a proibição de lhes tirar a vida são fortes, pelo menos tão fortes como os argumentos para sustentar a proibição de retirar a vida de seres humanos intelectualmente incapacitados, que estejam num nível de desenvolvimento intelectual equiparável ao dos animais em questão

Singer exemplifica que é muito comum que um sujeito racista acabe conferindo mais valor aos interesses dos membros da mesma raça, o mesmo ocorrendo com os especiesista, que dão mais valor aos interesses dos membros da sua espécie.

O autor reconhece, entretanto, que o maior grau de consciência do homem influencia diretamente no seu grau de sofrimento. Quem, pois, sustenta que a vida de um sujeito autoconsciente, capaz de pensamentos abstratos, de planejar o futuro é mais valiosa, não está a incorrer no especiesismo, mas também não implica dizer que podemos usar a vida dos demais seres a nosso bem prazer (alimentar-se de animais – satisfação de interesse menor - paladar), e sim que se fizesse o uso dessas vidas em alguns casos (esquimós, população ribeirinha).

Referências

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