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A expressão da condicionalidade no português escrito no Brasil contínuo semântico-pragmático

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Academic year: 2021

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A EXPRESSÍO DA CONDICIQMLIDADE Nu PORTUGUÊS

ESCRITO DO BRASIL: CONTÍNUO SEMANTieO-PRAGMATI[ J

A R A R A Q Ü A R A 2 0 0 5

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A E X P R E S S Ã O D A C O N D I C I O N A L I D A D E N O P O R T U G U Ê S

E S C R I T O D O B R A S I L : C O N T Í N U O S E M Â N T I C O - P R A G M Á T I C O

ARARAQUARA

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A EXPRESSÃO DA CONDICIONALIDADE NO PORTUGUÊS ESCRITO DO

BRASIL: CONTÍNUO SEMÂNTICO-PRAGMÁTICO

Tese apresentada ao P r o g r a m a de P ó s - g r a d u a ç ã o em Lingüística e L í n g u a Portuguesa da Faculdade de Ciências e Letras - U N E S P - C â m p u s de A r a r a q u a r a - c o m o requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Letras Lingüística e L í n g u a Portuguesa.

Orientadora: Profa. D r a . M a r i a H e l e n a de M o u r a N e v e s

ARARAQUARA

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A e x p r e s s ã o da condicionalidade no p o r t u g u ê s escrito do B r a s i l : c o n t í n u o s e m â n t i c o - p r a g m á t i c o / Flávia Bezerra de M e n e z e s H i r a t a - V a l e . - 2005

158 f. : 30 cm

T e s e (Doutorado em L e t r a s ) - U n i v e r s i d a d e Estadual Paulista, Faculdade de C i ê n c i a s e Letras, Campus de Araraquara.

Orientador: M a r i a H e l e n a de M o u r a N e v e s

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FLÁVIA BEZERRA DE MENEZES HIRATA-VALE

A EXPRESSÃO DA CONDICIONALIDADE NO PORTUGUÊS ESCRITO DO BRASIL: CONTÍNUO SEMÂNTICO-PRAGMÁTICO

Tese de Doutorado defendida no dia 07 de outubro de 2005 perante B a n c a E x a m i n a d o r a c o m p o s t a pelos m e m b r o s

Profa. Dra. M a r i a H e l e n a de M o u r a N e v e s (Orientadora)

Profa. D r a . M a r i a B e a t r i z Nascimento Decat

Profa. Dra. V e r a L ú c i a Paredes Pereira da S i l v a

Profa. Dra. B e a t r i z N u n e s de O l i v e i r a Longo

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Para a Taísa, uma feliz ocorrência

Para a Laura, a ocorrência perfeita

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À P r o f e s s o r a D o u t o r a M a r i a H e l e n a de M o u r a N e v e s , p e l a c o n f i a n ç a em m e u trabalho nesses anos de p ó s - g r a d u a ç ã o . E a g r a d e ç o , t a m b é m , ao Sr. G e r a l d o N e v e s , por m e receber em sua casa, sempre c o m a t e n ç ã o , p a c i ê n c i a , e u m "dedo de c o n v e r s a c a l m a n t e " .

A s P r o f e s s o r a s D o u t o r a s R o s a n e de A n d r a d e B e r l i n c k , B e a t r i z N u n e s de O l i v e i r a L o n g o , M a r i a L u i z a B r a g a e M a r i a B e a t r i z D e c a t , que m e a c o m p a n h a m desde o mestrado, m e u s agradecimentos pelo apoio em v á r i a s etapas da m i n h a v i d a a c a d ê m i c a .

A o s professores B e n t o C a r l o s D i a s da S i l v a e B e a t r i z N u n e s de O l i v e i r a L o n g o , pelo curso t ã o importante sobre s e m â n t i c a . A g r a d e ç o , p r i n c i p a l m e n t e , a oportunidade, que outros n ã o t e r ã o , de ter discutido e x a u s t i v a m e n t e o que é s e m â n t i c a e o que é p r a g m á t i c a .

À E l i z a b e t h C l o s s Traugott ( S t a n f o r d U n i v e r s i t y ) e ao Scott S c h w e n t e r ( O h i o State U n i v e r s i t y ) , p e l a a t e n ç ã o ao e s c l a r e c e r e m as d ú v i d a s de u m a b r a s i l e i r a d e s c o n h e c i d a .

À J a c q u e l i n e V i s c o n t i e ao S e b a s t i ã o C a r l o s L e i t e G o n ç a l v e s , por terem gentilmente me e n v i a d o seus textos.

A V â n i a C r i s t i n a C a s s e b G a l v ã o , por ter m e o u v i d o tantas v e z e s , pelas s u g e s t õ e s , e, m a i s do que tudo, por ter sido t ã o a m i g a , d e i x o m e u agradecimento, c o m a certeza de que muito ainda f a r e m o s j u n t a s .

A o J u l i a n o D e s i d e r a t o A n t ô n i o , amigo de p ó s - g r a d u a ç ã o , pelos conselhos sempre pertinentes, pelas c o n v e r s a s sempre d i v e r t i d a s , pelo c o m p a n h e i r i s m o em todos os m o m e n t o s .

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terem me mostrado que p e s q u i s a i m p l i c a a m i z a d e , saudades de u m a é p o c a t ã o especial e d e c i s i v a para todos n ó s . A o s amigos A n s e l m o P e s s o a N e t o e M a r i s t e l a N o v a e s , B r e n d a V e l o s o , D a n i e l a A n g e l u c c i de A m o r i m , E d v a l d o e F r a n c i m á r i a B e r g a m o , J o a n a P l a z a P i n t o , L u í s A r a ú j o P e r e i r a , M a n o e l de S o u z a e S i l v a , M á r i o L u i z F r u n g i l l o , M a r i z e Mattos D a l l A g l i o Hattnher, M ô n i c a V e l o s o B o r g e s , O f i r B e r g e m a n n de A g u i a r , R o d r i g o e A n r r i e t e C a l d a s , R o s a n e R o c h a Pessoa, S i m o n e C a r n e i r o , S i m o n e M a s t r e l a e T â n i a F e r r e i r a R e z e n d e que, j u n t o c o m i g o , esperavam por esse f i m .

À m i n h a f a m í l i a - v o v ó L y g i a , v o v ô B e z e r r a , tias, tios, p r i m o s e p r i m a s -, por ser o m e u esteio, m e u porto seguro, o " l u g a r " para onde eu sempre p o d e r i a voltar.

À m i n h a f a m í l i a goianiense - D. R i t a , Pedro e I s a b e l a - por ter m e acolhido c o m u m carinho i n d e s c r i t í v e l , dando-me o p r i v i l é g i o de ter outro porto seguro.

À E v a A r a ú j o e à J a n a í n a D i a s R o d r i g u e s , por terem tornado m i n h a v i d a muito m a i s fácil nesses ú l t i m o s tempos. Sem elas, este trabalho teria demorado ainda m a i s para chegar até aqui.

À T a í s a Peres de O l i v e i r a e à C á s s i a P e r e i r a R o s a , as m e l h o r e s p r i m e i r a s orientandas que eu poderia desejar, por terem aceito "optatoriamente" estudar as c o n d i c i o n a i s , e por terem d i v i d o seus trabalhos comigo.

A o s m e u s amigos do G r u p o de E s t u d o s F u n c i o n a l i s t a s da F a c u l d a d e de L e t r a s da U F G , pelos nossos encontros, n ã o apenas a c a d ê m i c o s , que deram â n i m o para esta pesquisa, me fazendo ver que este é o f i m , m a s t a m b é m o c o m e ç o .

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Estudos L i n g ü í s t i c o s e L i t e r á r i o s da F a c u l d a d e de L e t r a s da U n i v e r s i d a d e F e d e r a l de G o i á s , pelo apoio em v á r i o s momentos do m e u doutorado.

Aos f u n c i o n á r i o s da Seção de P ó s - G r a d u a ç ã o e da Biblioteca da Faculdade de

Ciências e Letras da U N E SP - Campus de Araraquara.

À P r ó - R e i t o r i a de P e s q u i s a e P ó s - G r a d u a ç ã o da U n i v e r s i d a d e F e d e r a l de G o i á s , pelo atendimento sempre prestativo e eficiente.

À C o o r d e n a ç ã o de A p e r f e i ç o a m e n t o de Pessoal de N í v e l Superior, pela bolsa que

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não foi feita para a descrição, para a narrativa, para as considerações desinteressadas. Expressar um desejo, dar uma ordem, demonstrar a posse sobre as pessoas ou sobre as coisas - esses empregos da linguagem foram os primeiros. Para muitos homens, eles são ainda quase os únicos... Se descêssemos um ou vários degraus, e se procurássemos o início da linguagem humana na linguagem dos animais, veríamos que neles o

elemento subjetivo reina sozinho, que ele é o único expresso, o único compreendido, que ele esgota sua faculdade de entendimento e toda a matéria de seus pensamentos.

Não se trata, pois, de um acessório, de uma espécie de superfluidade, mas ao contrário de uma parte essencial, e sem dúvida do fundamento primordial ao qual o resto foi sucessivamente ajuntado. " (Michel Bréal, Ensaios de Semântica, 1992 [1897], p. \6\)

Whenyou wish upon a star Makes no difference who you are Anything your heart desires

Will come to you

Ifyour heart is inyour dream No request is too extreme

Whenyou wish upon a star As dreamers do

Fate is kind

She brings to those who love The sweetfulfillment of Their secret longing Like a bolt out ofthe blue

Fate steps in andpullsyou through When you wish upon a star

Your dreams come true.

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H I R A T A - V A L E , Flávia Bezerra de Menezes. A expressão da condicionalidade no português escrito do B r a s i l : contínuo s e m â n t i c o - p r a g m á t i c o . Orientadora: Maria Helena de Moura N e v e s . A r a r a q u a r a : U N E S P , 2 0 0 5 . T e s e ( D o u t o r a d o e m L e t r a s ) .

N e s t e t r a b a l h o , analisa-se a e x p r e s s ã o da c o n d i c i o n a l i d a d e n o p o r t u g u ê s escrito do B r a s i l a partir de u m ponto de v i s t a f u n c i o n a l i s t a . A c r e d i t a - s e que o v a l o r c o n d i c i o n a l pode ser e x p r e s s o n ã o apenas por c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s c a n ô n i c a s , que t ê m a estrutura "sep, (então) q", m a s por c o n s t r u ç õ e s a d i t i v a s , d i s j u n t i v a s , j u s t a p o s t a s e t e m p o r a i s . A s s u m e - s e que

essas c o n s t r u ç õ e s c o m p õ e m , com as c o n s t r u ç õ e s condicionais, um contínuo de c o n d i c i o n a l i d a d e . Fatores de n a t u r e z a s i n t á t i c a , s e m â n t i c a e p r a g m á t i c a l i c e n c i a m o uso dessas c o n s t r u ç õ e s c o m v a l o r c o n d i c i o n a l .

O corpus deste trabalho c o m p õ e - s e de t e x t o s das literaturas d r a m á t i c a , o r a t ó r i a , t é c n i c a , r o m a n e s c a e j o r n a l í s t i c a , que foram coletados no L a b o r a t ó r i o de E s t u d o s L e x i c o g r á f í c o s da U N E S P - Campus de Araraquara, no jornal Folha de São Paulo de 1994 a

1998, e nos sites da A c a d e m i a B r a s i l e i r a de L e t r a s , da C â m a r a dos D e p u t a d o s e do Senado Federal.

A interpretação condicional de c o n s t r u ç õ e s paratáticas aditivas, disjuntivas e j u s t a p o s t a s , e das c o n s t r u ç õ e s t e m p o r a i s , é decorrente de p r o c e s s o s i n f e r e n c i a i s , j á que nessas

c o n s t r u ç õ e s ocorre um processo de c o n v e n c i o n a l i z a ç ã o de i m p l i c a t u r a s conversacionais. Há u m processo m e t o n í m i c o de m u d a n ç a , porque dois ou m a i s v a l o r e s - a d i ç ã o , a l t e r n â n c i a , tempo, c o n d i ç ã o - c o e x i s t e m em u m a m e s m a c o n s t r u ç ã o . A s c o n s t r u ç õ e s aditivas, d i s j u n t i v a s , j u s t a p o s t a s e t e m p o r a i s tornam-se m a i s abstratas quando s ã o usadas para e x p r e s s a r a

c o n d i c i o n a l i d a d e , u m a v e z que p a s s a m por u m p r o c e s s o de s u b j e t i v i z a ç ã o , em que os f a l a n t e s e x p r e s s a m j u í z o s s u b j e t i v o s a c e r c a dos c o n t e ú d o s p r o p o s i c i o n a i s nelas v e i c u l a d o s .

N a s c o n s t r u ç õ e s p a r a t á t i c a s , os fatores que l i c e n c i a m a i n t e r p r e t a ç ã o c o n d i c i o n a l s ã o a ordem de ocorrência das orações que c o m p õ e m a c o n s t r u ç ã o paratática, as correlações modo-temporais e os tipos de s i t u a ç ã o e m que as c o n s t r u ç õ e s p a r a t á t i c a s s ã o usadas. Há u m a

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remetem ao p ó s - p r e s e n t e - presente do i n d i c a t i v o com r e f e r ê n c i a futura e futuro do indicativo - são usados p a r a expressar a m e a ç a s , p r o m e s s a s e r e c o m e n d a ç õ e s . Os tempos v e r b a i s que n ã o remetem ao p ó s - p r e s e n t e são u s a d o s em s i t u a ç õ e s g e n é r i c a s ou habituais.

Os tempos verbais t a m b é m d e s e m p e n h a m u m p a p e l importante n a i n t e r p r e t a ç ã o c o n d i c i o n a l das c o n s t r u ç õ e s temporais. A s c o n s t r u ç õ e s t e m p o r a i s t ê m v a l o r c o n d i c i o n a l quando e x p r e s s a m a habitualidade, que é decorrente de u m v a l o r aspectual, a d u r a ç ã o . F a v o r e c e m a i n t e r p r e t a ç ã o h a b i t u a l ou h a b i t u a l - i t e r a t i v a das c o n s t r u ç õ e s t e m p o r a l - c o n d i c i o n a l o presente e o imperfeito do indicativo. A s c o n s t r u ç õ e s t e m p o r a i s , quando interpretadas como c o n d i c i o n a i s , p o d e m ser usadas para expressar um tempo e p i s t ê m i c o , que se r e f e r e ao tempo em que o falante f a z sua a v a l i a ç ã o a respeito da s i t u a ç ã o . A l é m disso, as c o n s t r u ç õ e s t e m p o r a i s - c o n d i c i o n a i s t a m b é m s ã o usadas quando o falante quer restringir o u especificar uma i n f o r m a ç ã o que foi expressa na situação.

A a n á l i s e d e s e n v o l v i d a neste trabalho m o s t r a que os expedientes usados p e l o s falantes para expressar o v a l o r c o n d i c i o n a l no p o r t u g u ê s do B r a s i l v ã o muito a l é m do que p r o p õ e m as g r a m á t i c a s t r a d i c i o n a i s , e formam u m a g a m a de p o s s i b i l i d a d e s que serve aos p r o p ó s i t o s c o m u n i c a t i v o s desses falantes.

P A L A V R A S - C H A V E : condicionalidade, c o n t í n u o , c o n s t r u ç õ e s aditivas, construções disjuntivas, c o n s t r u ç õ e s temporais, s u b j e t i v i z a ç ã o .

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In this w o r k , the e x p r e s s i o n of c o n d i t i o n a l i t y in w r i t t e n B r a z i l i a n Portuguese is a n a l y s e d f r o m a f u n c t i o n a l i s t point o f v i e w . T h e c o n d i t i o n a l v a l u e m a y be e x p r e s s e d not only by c a n o n i c a l c o n d i t i o n a l c o n s t r u c t i o n s , w h i c h h a v e the structure "ifp, (then) q", but also by additive, d i s j u n c t i v e , j u x t a p o s e d and t e m p o r a l c o n s t r u c t i o n s . O n e a s s u m e s that these constructions f o r m , a l o n g w i t h the c o n d i t i o n a l c o n s t r u c t i o n s , a continuum of c o n d i t i o n a l i t y . D i f f e r e n t s y n t a c t i c , s e m a n t i c and p r a g m a t i c factors l i c e n s e the use of these c o n s t r u c t i o n s w i t h c o n d i t i o n a l v a l u e .

T h e corpus o f t h i s r e s e a r c h is c o m p o s e d b y d r a m a t i c , oratory, t e c h n i c a l , r o m a n c e and n e w s p a p e r texts, w h i c h w e r e c o l l e c t e d a t t h e L a b o r a t o r y o f L e x i c o g r a p h i c Studies at U N E S P - A r a r a q u a r a C a m p u s , in F o l h a de S ã o P a u l o n e w s p a p e r , f r o m 1994 t o 1998, and at the w e b s i t e s of A c a d e m i a B r a s i l e i r a d e L e t r a s , C â m a r a d o s D e p u t a d o s and Senado F e d e r a l .

T h e c o n d i t i o n a l interpretation of p a r a t a c t i c and t e m p o r a l c o n s t r u c t i o n s is due to i n f e r e n t i a l p r o c e s s e s , since in these c o n s t r u c t i o n s there is a p r o c e s s of c o n v e n t i o n a l i s a t i o n of c o n v e r s a t i o n a l i m p l i c a t u r e s . T h e r e is a m e t o n y m y c p r o c e s s of change b e c a u s e t w o or m o r e v a l u e s - addition, d i s j u n c t i o n , t i m e , c o n d i t i o n - c o e x i s t in the same c o n s t r u c t i o n . A d d i t i v e , d i s j u n c t i v e , j u x t a p o s e d and t e m p o r a l c o n s t r u c t i o n s b e c o m e m o r e abstract w h e n t h e y are used to e x p r e s s c o n d i t i o n a l i t y , since they suffer a p r o c e s s of s u b j e c t i v i s a t i o n , in w h i c h speakers

e x p r e s s s u b j e c t i v e j u d g m e n t s about the p r o p o s i t i o n a l contents t h e y c o n v e y .

In paratactic c o n s t r u c t i o n s , the factors that l i c e n s e c o n d i t i o n a l interpretation are the order of o c c u r r e n c e of the c l a u s e s that c o m p o s e the p a r a t a c t i c c o n s t r u c t i o n s , the t e m p o r a l relations and the k i n d s of situations in w h i c h p a r a t a c t i c c o n s t r u c t i o n s are used. T h e r e is a preference for the anteposition o f t h e protasis clause to the apodosis clause. V e r b a l tenses that m a k e reference to postpresent situations - the present of i n d i c a t i v e w i t h future reference and the future of i n d i c a t i v e - are used to e x p r e s s e s threats, p r o m i s e s and a d v i c e . V e r b a l tenses that do not m a k e reference to t h e p o s t p r e s e n t are used to e x p r e s s habitual or g e n e r i c situations.

V e r b a l tenses do p l a y an i m p o r t a n t role in the c o n d i t i o n a l interpretation of t e m p o r a l constructions. T e m p o r a l c o n s t r u c t i o n s h a v e a c o n d i t i o n a l v a l u e w h e n t h e y e x p r e s s h a b i t u a l i t y , w h i c h is due t o an aspectual n o t i o n , duration. T h e present and the i m p e r f e c t i v e of i n d i c a t i v e f a v o u r the h a b i t u a l or the h a b i t u a l - i t e r a t i v e interpretation of t e m p o r a l - c o n d i t i o n a l

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express an epistemic time, which makes reference to the time in which the speaker evaluates

the situation. Besides that, temporal-conditional constructions are used when the speaker

wants to restrict or to specify some information expressed in the situation.

The analysis developed in this work shows that the means used by speakers to express

the conditional value in Brazilian Portuguese go far beyond the reach of traditional grammars

and form a range of possibilities that serves their communicative purposes.

KEY-WORDS: conditionality, continuum, additive constructions, disjunctive constructions,

temporal constructions, subjectivisation

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1 INTRODUÇÃO 15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 20

2.1 A CARACTERIZAÇÃO DO FUNCIONALISMO 22 2.2 A EXPRESSÃO DA CONDICIONALIDADE. 24 2.2.1 DIREÇÕES DE ANÁLISE: PONTOS DE VISTA LÓGICO-SEMÂNTICO E DISCURSIVO-PRAGMÃTICO 24

2 . 2 . 1 . 1 O PONTO DE VISTA LÓGICO-SEMÂNTICO 25 2 . 2 . 1 . 2 O PONTO DE VIST A PRAGMÁTICO-DISCURSIVO. 29

2.2.2 O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DAS MARCAS DE CONDICIONALIDADE 38 2.3 0 PAPEL DO PROCESSO DE SUBJETIVIZAÇÃO NA EXPRESSÃO DA CONDICIONALIDADE 46

2 . 3 . 1 A EXPRESSÃO DA SUBJETIVIDADE: DO CONCRETO PARA O ABSTRATO 48

2.3.2 O CARÁTER SUBJETIVO DAS CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS 53 2.3.2. 1 O VALOR CONDICIONAI. E AS IMPLICATURAS DA INCERTEZA E DA PERFEIÇÃO CONDICIONAI 53

3 METODOLOGIA 62 4 A ANÁLISE DA EXPRESSÃO DO VALOR CONDICIONAL. 65

4.1 O CONTÍNUO DA CONDICIONALIDADE .65 4.2 A ARTICULAÇÃO DE ORAÇÕES .67 4.3 ORAÇÕES JUSTAPOSTAS, ADITIVAS E ALTERNATIVAS: PARATÁTICAS CONDICIONAIS .71

4 . 3 . 1 CONSTRUÇÕES PARATÁTICAS: DIFERENTES PERSPECTIVAS 72

4 . 3 . 1 . 1 A VISÃO DA GRAMÁTICA TRADICIONAL .73

4 . 3 . 1 . 2 A VISÃO FUNCIONALISTA 74 4.3.2 ANÁLISE DOS DADOS 85 4.4 CONSTRUÇÕES TEMPORAL-CONDICIONAL. 107

4 . 4 . 1 ASPECTO: QUANDO O QUANDO É SE. 112

4 . 4 . 2 ANÁLISE DOS DADOS 124

5 CONCLUSÕES 139 REFERÊNCIAS 145 ANEXO - OBRAS ANALISADAS 156

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1 INTRODUÇÃO

Muitas das gramáticas normativas do p o r t u g u ê s ( C U N H A E C I N T R A , 1985; R O C H A LIMA, 1998, entre o u t r o s ) , ao t r a t a r e m das t r a d i c i o n a l m e n t e c h a m a d a s orações s u b o r d i n a d a s a d v e r b i a i s a p r e s e n t a m - n a s de u m m o d o s i m p l i f i c a d o , c o m o l i s t a s de o r a ç õ e s a serem c l a s s i f i c a d a s . A s s i m , as o r a ç õ e s a d v e r b i a i s c a u s a i s s ã o d e f i n i d a s p o r essas g r a m á t i c a s c o m o aquelas i n i c i a d a s p e l a s c o n j u n ç õ e s porque, como, pois, etc, as o r a ç õ e s c o n d i c i o n a i s s ã o as i n i c i a d a s p e l a s c o n j u n ç õ e s se, caso, etc, as c o n c e s s i v a s , p o r embora, apesar de, etc. Pode-se notar que, de u m m o d o g e r a l , as g r a m á t i c a s n o r m a t i v a s t r a t a m c a d a u m dos t i p o s de o r a ç õ e s a d v e r b i a i s i s o l a d a m e n t e , ou em outras p a l a v r a s , elas f a z e m u m a c l a s s i f i c a ç ã o dessas o r a ç õ e s separando-as em categorias discretas.

N o entanto, q u a n d o se o b s e r v a o uso d a l í n g u a em s i t u a ç õ e s reais de c o m u n i c a ç ã o , percebe-se que h á entre as o r a ç õ e s a d v e r b i a i s a l g u m t i p o de i n t e r - r e l a ç ã o , o que t o r n a p o s s í v e l propor, na c l a s s i f i c a ç ã o das adverbiais, como faz Harris ( 1 9 8 6 ) , a e x i s t ê n c i a de um c o n t í n u o , dentro do qual n ã o h á d i v i s õ e s c l a r a s e d e f i n i d a s . P o d e - s e estabelecer, a i n d a , u m a r e l a ç ã o entre o r a ç õ e s s u b o r d i n a d a s a d v e r b i a i s e c o o r d e n a d a s p o u c o m e n c i o n a d a p e l a s g r a m á t i c a s de c u n h o t r a d i c i o n a l , que as s e p a r a m de m o d o d i c o t ô m i c o e a p r e s e n t a m apenas seus pontos de oposição.

N ã o é difícil encontrar em s i t u a ç õ e s reais de uso do p o r t u g u ê s c o n s t r u ç õ e s com valor condicional que n ã o e s t ã o previstas nas g r a m á t i c a s tradicionais, e que são t ã o f r e q ü e n t e s quanto as p r ó p r i a s o r a ç õ e s a d v e r b i a i s c o n d i c i o n a i s . P o d e - s e n o t a r c o m o essas c o n s t r u ç õ e s s ã o

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e x p l o r a d a s , por e x e m p l o , n a l i n g u a g e m p u b l i c i t á r i a , c o m o se vê n a o c o r r ê n c i a seguinte, v e i c u l a d a nas ruas da cidade de G o i â n i a , n o c o m e ç o de 2 0 0 4 :

( 1 ) A n u n c i o u e m outdoor, s u m i u d a loja.1

N e s s a o c o r r ê n c i a p o d e - s e , f a c i l m e n t e , f a z e r u m a l e i t u r a c o n d i c i o n a l :

( l a ) Se a n u n c i o u e m outdoor, s u m i u d a l o j a .

Outros e x e m p l o s desse tipo de c o n s t r u ç ã o podem ser encontrados nos "ditos populares", p r o v é r b i o s , e x p r e s s õ e s como:

( 2 ) L e i t e c o m m a n g a , m o r r e !

que d á t í t u l o à t e s e de D e c a t ( 1 9 9 3 ) , e ainda:

( 3 ) M i s t u r o u , t o m o u !

( 4 ) E s s a f a c u l d a d e é do tipo "pagou, p a s s o u " .

C o n s t r u ç õ e s condicionais n ã o - c a n ô n i c a s são t a m b é m usadas por m ã e s e pais ao f a l a r e m c o m seus f i l h o s , ao p r o m e t e r e m , a m e a ç a r e m ou tentarem a l g u m tipo de i n d u ç ã o :

( 5 ) C o m e t u d i n h o e v o c ê g a n h a sorvete.

(6) Desce daí ou a m a m ã e desliga a t e l e v i s ã o .

ou m e s m o :

( 7 ) Q u a n d o a r r u m a r seu quarto, v o c ê pode sair.

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A p e s a r de serem v i s t a s , o u v i d a s e ditas t ã o f r e q ü e n t e m e n t e , n ã o h á , no p o r t u g u ê s do B r a s i l , m u i t a s d e s c r i ç õ e s a respeito dessas c o n s t r u ç õ e s . E m D e c a t ( 1 9 9 3 ) encontra-se u m a a n á l i s e da h i p o t a x e a d v e r b i a l de realce de u m a m a n e i r a g e r a l , e e m b o r a se fale das "justapostas a d v e r b i a i s " e das t e m p o r a i s c o m l e i t u r a c o n d i c i o n a l , n ã o h á u m tratamento dos fatores que m o t i v a m essa leitura. É a essa e x p l i c a ç ã o que se d e d i c a este trabalho.

A s s i m , o que se o b j e t i v a m o s t r a r nesta tese é que no uso da l í n g u a os falantes t ê m à d i s p o s i ç ã o u m a g a m a de p o s s i b i l i d a d e s para a e x p r e s s ã o da c o n d i c i o n a l i d a d e , e que h á determinados fatores s i n t á t i c o s e s e m â n t i c o s que m o t i v a m a i n t e r p r e t a ç ã o c o n d i c i o n a l de algumas c o n s t r u ç õ e s .

A l é m disso, pode-se d i z e r que a e s c o l h a de u m a dada c o n s t r u ç ã o e s t á v i n c u l a d a a q u e s t õ e s p r a g m á t i c o - d i s c u r s i v a s . N e s s e sentido, v a i - s e m o s t r a r que, n a a t u a l i z a ç ã o do v a l o r c o n d i c i o n a l , as diferentes e s t r a t é g i a s e s t ã o r e l a c i o n a d a s c o m a c o n v e n c i o n a l i z a ç ã o de i m p l i c a t u r a s c o n v e r s a c i o n a i s ou p r a g m á t i c a s , que l e v a a u m processo de s u b j e t i v i z a ç ã o . O falante, ao escolher u m a o r a ç ã o d i s j u n t i v a ou a d i t i v a ou t e m p o r a l p a r a expressar u m determinado c o n t e ú d o c o n d i c i o n a l , espera que seu ouvinte seja capaz de i n f e r i r a c o n d i c i o n a l i d a d e . A s s i m , tais o r a ç õ e s a d q u i r e m u m " t r a ç o " de s u b j e t i v i d a d e ao serem u t i l i z a d a s c o m o v a l o r c o n d i c i o n a l , porque e x p r e s s a m c o n t e ú d o s m a i s abstratos que a d i s j u n ç ã o ou a a d i ç ã o ou a m a r c a ç ã o temporal.

N e s t e trabalho e x a m i n a - s e a e x p r e s s ã o da c o n d i c i o n a l i d a d e no p o r t u g u ê s escrito do B r a s i l a s s u m i n d o - s e que há u m espectro s e m â n t i c o - p r a g m á t i c o n a m a n i f e s t a ç ã o do v a l o r c o n d i c i o n a l . C o n s i d e r a - s e , a s s i m , que h á diferentes e x p e d i e n t e s , a l é m do c a n ô n i c o - a o r a ç ã o a d v e r b i a l c o n d i c i o n a l m a r c a d a pela c o n j u n ç ã o se -, p a r a r e a l i z a r tal v a l o r , entre outros, as

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o r a ç õ e s j u s t a p o s t a s , as o r a ç õ e s c o o r d e n a d a s d i s j u n t i v a s e a d i t i v a s e as o r a ç õ e s s u b o r d i n a d a s

t e m p o r a i s .

N o s e g u n d o c a p í t u l o , s ã o e s t a b e l e c i d o s o s p r e s s u p o s t o s t e ó r i c o s que n o r t e i a m este t r a b a l h o . U m a v e z que as c o n s t r u ç õ e s o r a e m a n á l i s e s ã o t r a t a d a s a p a r t i r de seu u s o e m

s i t u a ç õ e s concretas de c o m u n i c a ç ã o , o paradigma l i n g ü í s t i c o ( N E V E S , 1997) que serve de

b a s e p a r a este t r a b a l h o é o p a r a d i g m a f u n c i o n a l i s t a , q u e , de a c o r d o c o m N e v e s ( 1 9 9 7 , p . 2)

tem como questão básica de interesse a verificação de como se obtém a comunicação com a língua, isto é, a verificação do modo como os usuários da língua se comunicam eficientemente. F a z - s e , e n t ã o , n o s e g u n d o c a p í t u l o , u m a b r e v e c a r a c t e r i z a ç ã o de d u a s das p r i n c i p a i s c o r r e n t e s de p e n s a m e n t o f u n c i o n a l i s t a , a de H a l l i d a y ( 1 9 8 5 ) e a de D i k ( 1 9 8 9 ) , p a r a m o s t r a r c o m o e s s a e s c o l h a t e ó r i c a se r e f l e t e n a d e s c r i ç ã o que se d e s e n v o l v e n o t r a b a l h o . E m s e g u i d a , d e f i n e - s e a n o ç ã o de c o n d i c i o n a l i d a d e , de a c o r d o c o m os p o n t o s de v i s t a l ó g i c o - s e m â n t i c o e d i s c u r s i v o - p r a g m á t i c o . A p a r t i r de u m a p e r s p e c t i v a h i s t ó r i c a , m o s t r a - s e que m u i t a s das c o n s t r u ç õ e s que s ã o a t u a l m e n t e u s a d a s p a r a e x p r e s s a r o v a l o r c o n d i c i o n a l j á s ã o e n c o n t r a d a s

desde o l a t i m . A p e s a r d i s s o , a c r e d i t a - s e que é p o s s í v e l e x p l i c a r as e s c o l h a s que o falante f a z

p a r a e x p r e s s a r a c o n d i c i o n a l i d a d e a p a r t i r de u m p r o c e s s o que é i n e r e n t e ao p r o c e s s o de

g r a m a t i c a l i z a ç ã o , m a s que dele i n d e p e n d e , que é o p r o c e s s o de s u b j e t i v i z a ç ã o ( T R A U G O T T ,

1989, 1995; T R A U G O T T e K Õ N I G , 1991). Discute-se, e n t ã o , de que maneira se constitui a

s u b j e t i v i d a d e n o s e n u n c i a d o s , e se e s t a b e l e c e a r e l a ç ã o entre a as c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s

n ã o - c a n ô n i c a s e a s u b j e t i v i z a ç ã o .

N o t e r c e i r o c a p í t u l o , a p r e s e n t a m - s e p r o c e d i m e n t o s m e t o d o l ó g i c o s a d o t a d o s n o

t r a b a l h o , que se r e l a c i o n a m c o m os c r i t é r i o s de e s c o l h a do corpus u t i l i z a d o e o t i p o de a n á l i s e

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N o quarto c a p í t u l o , a n a l i s a - s e a e x p r e s s ã o do v a l o r c o n d i c i o n a l . C o m o neste trabalho considera-se que tal v a l o r pode ser encontrado em c o n s t r u ç õ e s diferentes d a o r a ç ã o a d v e r b i a l c o n d i c i o n a l , f a z - s e n e c e s s á r i o d i s c u t i r a p e r s p e c t i v a adotada, que l e v a em c o n t a a e x i s t ê n c i a de u m c o n t í n u o de c o n d i c i o n a l i d a d e , que v a i das c o n s t r u ç õ e s j u s t a p o s t a s , p a s s a n d o pelas a d i t i v a s , d i s j u n t i v a s e chegando às c o n s t r u ç õ e s t e m p o r a i s . S e m d ú v i d a , esse tipo de tratamento r e q u e r u m a v i s ã o do p r o c e s s o de a r t i c u l a ç ã o de o r a ç õ e s diferente daquele que se e n c o n t r a nas g r a m á t i c a s de c u n h o t r a d i c i o n a l , e, sendo a s s i m , propostas de cunho funcionalista ( H A L L I D A Y , 1986, M A T T H I E S S E N e T H O M P S O N , 1988 L E H M A N N , 1988) s ã o d i s c u t i d a s . A i n d a neste c a p í t u l o a p r e s e n t a m s e as c o n s t r u ç õ e s p a r a t á t i c a s c o n d i c i o n a i s -j u s t a p o s t a s , d i s -j u n t i v a s e a d i t i v a s - e as c o n s t r u ç õ e s t e m p o r a l - c o n d i c i o n a i s , l e v a n d o - s e em

c o n s i d e r a ç ã o seus c o n t e x t o s de u s o , as d i f e r e n t e s p e r s p e c t i v a s de a n á l i s e , e, p r i n c i p a l m e n t e , os fatores s i n t á t i c o s , s e m â n t i c o s e p r a g m á t i c o s que favorecem a i n t e r p r e t a ç ã o condicional dessas c o n s t r u ç õ e s .

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2 FUNDAMENTAÇÃO T E Ó R I C A

C o n f o r m e se o b s e r v o u em H i r a t a ( 1 9 9 9 ) , as c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s t ê m sido objeto de estudo de diferentes linhas de p e s q u i s a e pensamento, nas m a i s d i v e r s a s l í n g u a s . A s c o n d i c i o n a i s há muito são tratadas p e l a L ó g i c a e p e l a F i l o s o f i a , sempre de m a n e i r a instigante, pelos problemas que trazem em sua c o n s t i t u i ç ã o , especialmente aqueles r e l a c i o n a d o s c o m a n o ç ã o de verdade.

Da m e s m a f o r m a , no que se refere aos estudos estritamente l i n g ü í s t i c o s m u i t o se tem feito, sob os m a i s d i v e r s o s pontos de v i s t a , desde os f o r m a l i s t a s a t é os d i s c u r s i v i s t a s . Entretanto, a r e l a ç ã o entre as c o n d i c i o n a i s e outros tipos de c o n s t r u ç ã o , no p o r t u g u ê s do B r a s i l , é pouco descrita. P o d e m - s e destacar os trabalhos de N e v e s e B r a g a ( 1 9 9 9 ) e o de Sousa ( 2 0 0 3 ) . A m b o s tratam da r e l a ç ã o entre as o r a ç õ e s c o n d i c i o n a i s e as t e m p o r a i s , de diferentes perspectivas. N e v e s e B r a g a ( 1 9 9 9 ) a n a l i s a m , c o m p a r a t i v a m e n t e , a q u e s t ã o do grau de g r a m a t i c a l i z a ç ã o de tais c o n s t r u ç õ e s , usando para tanto dados do p o r t u g u ê s falado no B r a s i l . Sousa ( 2 0 0 3 ) nega a e x i s t ê n c i a de u m a s u p e r p o s i ç ã o s e m â n t i c o - p r a g m á t i c a entre c o n d i c i o n a i s e temporais, tendo em v i s t a d i f e r e n ç a s f o r m a i s entre as duas c o n s t r u ç õ e s (ordem, c o r r e l a ç ã o modo-temporal, tipos de sujeito, etc). A autora assume que a ú n i c a possibilidade de leitura c o n d i c i o n a l de u m a temporal se dá quando a temporal é um circunstancial.

P a r e c e , e n t ã o , ser n e c e s s á r i a u m a d e s c r i ç ã o integrada do uso do v a l o r c o n d i c i o n a l n o p o r t u g u ê s do B r a s i l , em que se c o n s i d e r e m , conjuntamente, os aspectos f o r m a i s e os d i s c u r s i v o s , o que esta tese se p r o p õ e fazer.

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P a r a tanto, u m a d i v e r s i f i c a d a base t e ó r i c a deve nortear este trabalho. P r i m e i r a m e n t e , são apresentadas as c a r a c t e r í s t i c a s p r i n c i p a i s do f u n c i o n a l i s m o , de acordo c o m as c o n c e p ç õ e s de Halliday (1985) e de D i k (1989, 1997). O f e n ô m e n o da a r t i c u l a ç ã o de orações será discutido segundo as c o n c e p ç õ e s de H a l l i d a y ( 1 9 8 5 ) , Matthiessen e T h o m p s o n ( 1 9 8 8 ) e L e h m a n n ( 1 9 8 8 ) . P a r a tratar da c o n s t i t u i ç ã o h i s t ó r i c a dos marcadores de condicionalidade, s e r ã o usados os trabalhos de Traugott ( 1 9 8 5 ) e T u t e s c u ( 1 9 9 0 ) . A base do tratamento l ó g i c o -s e m â n t i c o da-s c o n d i c i o n a i -s encontra--se em Frege ( 1 9 7 8 ) , à qual -são acre-scida-s a-s c o n s i d e r a ç õ e s de Mortari (2001) e de Tugendhat e W o l f (1996). Para uma d e s c r i ç ã o do ponto de v i s t a p r a g m á t i c o - d i s c u r s i v o são usados os trabalhos de D u c r o t ( 1 9 7 7 , 1981), F i l l e n b a u m (1986), Sweetser (1990) e Mazzoleni (1994). Em relação aos aspectos s e m â n t i c o - p r a g m á t i c o s envolvidos no processo de m u d a n ç a das c o n s t r u ç õ e s em a n á l i s e são usados os trabalhos de Traugott ( 1 9 8 9 , 1995, 2 0 0 2 ) , Traugott e K õ n i g ( 1 9 9 1 ) , Hopper e Traugott ( 1 9 9 3 ) e Schwenter ( 1 9 9 9 ) . P a r a cada u m a das c o n s t r u ç õ e s analisadas, v á r i o s são os trabalhos discutidos, como se mostra na seção relativa ao c o n t í n u o da condicionalidade.

Sem d ú v i d a , cada um dos t ó p i c o s mencionados se prestaria a u m a a n á l i s e particular. Entretanto, c o m o o que se descreve neste trabalho é a m a n i f e s t a ç ã o do v a l o r c o n d i c i o n a l por m e i o de c o n s t r u ç õ e s n ã o - c a n ô n i c a s , a grande q u e s t ã o que ora se apresenta diz respeito à m a n e i r a de i n t e g r á - l o s . N e s s e sentido, acredita-se que a d e s c r i ç ã o da condicionalidade só se mostra c o m p l e t a quando se determina, por e x e m p l o , que v a l o r e s l ó g i c o s e p r a g m á t i c o s c o e x i s t e m em sua d e f i n i ç ã o . Sendo a s s i m , apresenta-se, a seguir, a c a r a c t e r i z a ç ã o da base t e ó r i c a deste trabalho, que se m o v e em u m a d i r e ç ã o f u n c i o n a l - d i s c u r s i v a .

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2.1 A CARACTERIZAÇÃO DO FUNCIONALISMO

De acordo c o m a v i s ã o f u n c i o n a l i s t a de a n á l i s e de l í n g u a s n a t u r a i s que se adota neste t r a b a l h o , deve-se tentar v e r i f i c a r c o m o os falantes u s a m a l í n g u a p a r a c o m u n i c a r - s e de m o d o eficiente. A e s t r u t u r a i n t e r n a da l í n g u a d e v e ser t r a t a d a f u n c i o n a l m e n t e , isto é, deve-se a n a l i s a r a e s t r u t u r a g r a m a t i c a l i n c l u í d a em u m a s i t u a ç ã o c o m u n i c a t i v a , que e n v o l v e o o b j e t i v o do evento da f a l a , seus p a r t i c i p a n t e s e o c o n t e x t o d i s c u r s i v o .

C o m o se sabe h á diferentes " f u n c i o n a l i s m o s " ( N E V E S , 1997), dos quais se d e s t a c a m , neste t r a b a l h o , dois: o de H a l l i d a y ( 1 9 8 5 ) e o de D i k ( 1 9 8 9 , 1997).

A gramática funcional de Halliday (1985) associa uma interpretação funcional da lingüística a uma descrição sistêmica, ou seja, é uma gramática sistêmica que pode ser interpretada f u n c i o n a l m e n t e . A g r a m á t i c a é v i s t a c o m o u m a g r a m á t i c a n a t u r a l , u m a v e z que tudo n e l a pode ser e x p l i c a d o c o m r e f e r ê n c i a a c o m o a l í n g u a é u s a d a , ou seja, c a d a elemento da l í n g u a é explicado por sua f u n ç ã o no sistema l i n g ü í s t i c o . Para H a l l i d a y ( 1 9 8 5 ) , a unidade m a i o r de f u n c i o n a m e n t o é o t e x t o , em que se pode o b s e r v a r a m u l t i f u n c i o n a l i d a d e dos itens que o c o m p õ e m . A s s i m , para H a l l i d a y ( 1 9 8 5 ) , u m a g r a m á t i c a funcional destina-se a revelar, pelo estudo das s e q ü ê n c i a s l i n g ü í s t i c a s , os s i g n i f i c a d o s que e s t ã o c o d i f i c a d o s por essas s e q ü ê n c i a s . O fato de ser ' f u n c i o n a l ' s i g n i f i c a que e l a e s t á b a s e a d a no s i g n i f i c a d o , m a s o fato de ser ' g r a m á t i c a ' significa que é uma interpretação das formas lingüísticas.

N a c o n c e p ç ã o de D i k ( 1 9 8 9 , 1997), a l i n g ü í s t i c a diz respeito, por um lado, ao sistema de regras que governam a c o n s t i t u i ç ã o das e x p r e s s õ e s l i n g ü í s t i c a s , ou seja, as regras s e m â n t i c a s , s i n t á t i c a s , m o r f o l ó g i c a s e f o n o l ó g i c a s , e, por outro, ao sistema de regras que

(24)

g o v e r n a m os p a d r õ e s de i n t e r a ç ã o v e r b a l , nos quais as e x p r e s s õ e s l i n g ü í s t i c a s s ã o usadas, ou seja, a s r e g r a s p r a g m á t i c a s .

P a r a D i k ( 1 9 8 9 ) , a g r a m á t i c a deve integrar-se n a t e o r i a p r a g m á t i c a m a i s a m p l a de i n t e r a ç ã o v e r b a l , n a qual o falante t e m e x p e c t a t i v a s em r e l a ç ã o ao seu interlocutor. A o lado da capacidade l i n g ü í s t i c a , que permite ao falante p r o d u z i r e interpretar corretamente as e x p r e s s õ e s l i n g ü í s t i c a s , atuam t a m b é m as capacidades e p i s t ê m i c a , l ó g i c a , perceptual e social. A a n á l i s e dos fatos da l í n g u a deve levar em c o n s i d e r a ç ã o a s i t u a ç ã o c o m u n i c a t i v a , ou seja, a r e l a ç ã o falante/ouvinte e a c o n t e x t u a l i z a ç ã o t e m p o r a l e l o c a l da e n u n c i a ç ã o . O s i s t e m a da l í n g u a e o uso da l í n g u a s ã o p a s s í v e i s de d i s t i n ç ã o , m a s n ã o se deve estudar o s i s t e m a independente do uso, ou v i c e - v e r s a . A s s i m , as f o r m a s dos e n u n c i a d o s s ã o v i s t a s c o m o dependentes de suas f u n ç õ e s . A d e s c r i ç ã o c o m p l e t a da l í n g u a deve i n c l u i r , p a r a D i k , a r e f e r ê n c i a ao falante, ao o u v i n t e e aos p a p é i s que estes a s s u m e m na i n t e r a ç ã o v e r b a l , determinada s o c i o c u l t u r a l m e n t e .

É c o m base nesses pressupostos que a d e s c r i ç ã o da c o n d i c i o n a l i d a d e no p o r t u g u ê s escrito do B r a s i l s e r á feita. N ã o é t a r e f a s i m p l e s , entretanto, d e f i n i r a n o ç ã o de c o n d i c i o n a l i d a d e , j á que há diferentes pontos de v i s t a por m e i o dos quais tal n o ç ã o pode ser analisada. A essa d i s c u s s ã o dedica-se a p r o x i m a s e ç ã o .

(25)

2.2 A E X P R E S S Ã O DA C O N D I C I O N A L I D A D E

N e s t a s e ç ã o , d i s c u t e - s e a n o ç ã o de c o n d i c i o n a l i d a d e . P r i m e i r a m e n t e , c a r a c t e r i z a - s e a

n o ç ã o de c o n d i c i o n a l i d a d e e m d u a s d i r e ç õ e s : do p o n t o de v i s t a l ó g i c o - s e m â n t i c o e do ponto

de v i s t a p r a g m á t i c o - d i s c u r s i v o . E m seguida, apresenta-se a f o r m a ç ã o d i a c r ô n i c a dos

marcadores de c o n d i ç ã o , nas l í n g u a s r o m â n i c a s ( T U T E S C U , 1990) e em variadas línguas

( T R A U G O T T , 1 9 8 5 ) , p a r a m o s t r a r que o p r o c e s s o de c o n s t i t u i ç ã o dos m a r c a d o r e s de

c o n d i c i o n a l i d a d e n o p o r t u g u ê s a s s e m e l h a - s e a o de d i f e r e n t e s l í n g u a s , de tal m a n e i r a que é

p o s s í v e l p o s t u l a r que as f o n t e s l e x i c a i s s ã o a s m e s m a s n a s m a i s v a r i a d a s l í n g u a s .

2.2.1 DIREÇÕES DE ANÁLISE: PONTOS DE VISTA LÓGICO-SEMÂNTICO E

DISCURSIVO-PRAGMÁTICO

A d e s c r i ç ã o d a c o n d i c i o n a l i d a d e , neste t r a b a l h o , é f e i t a e m d u a s d i r e ç õ e s .

P r i m e i r a m e n t e , v a i - s e e s t a b e l e c e r u m a c a r a c t e r i z a ç ã o das c o n d i c i o n a i s de a c o r d o c o m

critérios l ó g i c o - s e m â n t i c o s , e, em seguida, a partir de uma v i s ã o d i s c u r s i v o - p r a g m á t i c a . Isso se d e v e ao fato de q u e , p a r a se c h e g a r a u m a d e s c r i ç ã o i n t e g r a d a d a c o n d i c i o n a l i d a d e , o que se

p r o p õ e neste t r a b a l h o , f a z - s e n e c e s s á r i o c o n s i d e r a r que a c o n d i c i o n a l i d a d e d e s c r i t a p e l a l ó g i c a

é d i f e r e n t e do u s o das c o n d i c i o n a i s n a s l í n g u a s n a t u r a i s . C o m o a f i r m a S w e e t s e r ( 1 9 9 0 )

mais obviamente, falantes de uma língua natural rejeitam como bizarras classes inteiras de condicionais verdadeiras e logicamente bem formadas, tais como (1) Se Paris é a capital da França, (então) dois é um número par. Na lógica, uma condicional é falsa apenas se o antecedente é verdadeiro, mas o conseqüente é falso. Mas, falantes de língua natural aparentemente requerem valores de verdade mais que

(26)

apropriados, para aceitar uma condicional como bem formada, eles requerem uma conexão entre as duas orações. ( S W E E T S E R , 1990,p. 113)2

D e fato, o u s o d a l í n g u a t r a z u m a g a m a de p o s s i b i l i d a d e s de e x p r e s s ã o d a

c o n d i c i o n a l i d a d e que a d e s c r i ç ã o de v a l o r e s de v e r d a d e , ou v e r o f u n c i o n a i s , de f o r m a a l g u m a c o n s e g u e a b a r c a r . P o d e r - s e - i a , e n t ã o , e f e t u a r u m a d e s c r i ç ã o l i n g ü í s t i c a d a c o n d i c i o n a l i d a d e

s e m f a z e r u s o do aparato l ó g i c o s e m â n t i c o ? H á m u i t o s t r a b a l h o s que a s s i m o f a z e m . A c r e d i t a

-se, entretanto, que o t r a t a m e n t o l ó g i c o - f o r m a l das o r a ç õ e s e m a n á l i s e neste t r a b a l h o s e j a de s u m a i m p o r t â n c i a q u a n d o se p e n s a n o c o n t í n u o que o r a se p r o p õ e . É o que se d i s c u t e e m

s e g u i d a .

2 . 2 . 1 . 1 O PONTO DE VISTA LÓGICO-SEMÂNTICO

S e g u n d o M o r t a r i ( 2 0 0 1 ) , a d i s c u s s ã o sobre a verdade de uma condicional é a n t i g a e,

desde a G r é c i a , h á o p i n i õ e s d i v e r g e n t e s . P a r a F r e g e ( 1 9 7 8 ) , p o r e x e m p l o , o valor de verdade

de u m a s e n t e n ç a é sua referência, cujo sentido é um pensamento ( c o n t e ú d o objetivo). Por

v a l o r de v e r d a d e de u m a s e n t e n ç a , F r e g e ( 1 9 7 8 ) entende a c i r c u n s t â n c i a de e l a ser verdadeira

ou falsa. D e s s e m o d o , o v a l o r de v e r d a d e de u m a s e n t e n ç a t e m que se m a n t e r i g u a l , m e s m o

que se a l t e r e m partes d a s e n t e n ç a , ou s e j a , m e s m o que u m a parte d a s e n t e n ç a s e j a s u b s t i t u í d a

p o r u m a e x p r e s s ã o que t e n h a a m e s m a r e f e r ê n c i a , m a s s e n t i d o d i f e r e n t e . J á p a r a T a r s k i ( 1 9 3 5 ,

apud L Y O N S , 1977), u m a p r o p o s i ç ã o é v e r d a d e i r a se (e apenas se) denotar ou f i z e r r e f e r ê n c i a

2Most obviously, speakers of natural language reject as bizarre whole classes oflogically well-formed and 'true' conditionals, such as (1): If Paris is the capital ofFrance, (then) two is an even number. Logically, a conditional is only false if the antecedent is true but the consequent is false. But natural-language speakers apparently require more than the appropriate truth values in order to accept a conditional as well formed: they require a connection between the two clauses. (citações e exemplos do inglês terão, aqui e doravante, tradução minha)

(27)

a u m estado de c o i s a s que r e a l m e n t e e x i s t e no m u n d o que a p r o p o s i ç ã o se p r o p õ e descrever.

A s s i m , u m a p r o p o s i ç ã o v e r d a d e i r a c o r r e s p o n d e à r e a l i d a d e , ao p a s s o que u m a f a l s a n ã o .

S e g u n d o a L ó g i c a c l á s s i c a , o c á l c u l o d o v a l o r de v e r d a d e de u m a p r o p o s i ç ã o

c o n d i c i o n a l , ou s e j a , de u m a r e l a ç ã o de implicação, é f e i t o n o c h a m a d o sentido material, porque n ã o h á n e c e s s a r i a m e n t e q u a l q u e r r e l a ç ã o de s i g n i f i c a d o entre o antecedente e o

c o n s e q ü e n t e . O s i g n i f i c a d o do c o n e c t o r de implicação material é d e f i n i d o da seguinte

m a n e i r a : quando o antecedente é v e r d a d e i r o e o c o n s e q ü e n t e é f a l s o , a i m p l i c a ç ã o é f a l s a ; e m todos os outros c a s o s , a i m p l i c a ç ã o é v e r d a d e i r a , c o m o m o s t r a a t a b e l a de v a l o r e s de v e r d a d e :

a

P

a

- > p V V V F V V V F F F F V

Tabela 1: de valores de verdade da condicional (MORTARI, 2001, p. 136)

A n a l i s a d a a p a r t i r d e s s a t a b e l a , a f r a s e

(1) Se Londres está na Inglaterra, e n t ã o o mar é salgado. ( T U G E N D H A T E W O L F , 1996, p. 87) s e r i a c o n s i d e r a d a c o m o v e r d a d e i r a p o r q u e p e q s ã o v e r d a d e i r o s . T a m b é m s e r i a v e r d a d e i r a a seguinte f r a s e (2) Se 2+2=5 e n t ã o a L u a é feita de queijo. ( M O R T A R I , 2 0 0 1 , p. 136) apesar de o antecedente e o c o n s e q ü e n t e s e r e m f a l s o s . A L ó g i c a c l á s s i c a " r e s o l v e " o p r o b l e m a do c á l c u l o d a v e r d a d e de u m a p r o p o s i ç ã o c o n d i c i o n a l de u m a m a n e i r a que p o d e ser c o n s i d e r a d a , segundo M o r t a r i ( 2 0 0 1 ) , c o m o m a t e m a t i c a m e n t e adequada: a i m p l i c a ç ã o só s e r á

(28)

f a l s a quando o antecedente de u m a i m p l i c a ç ã o f o r v e r d a d e i r o e o c o n s e q ü e n t e f a l s o . E m todos

os outros c a s o s , e l a s e r á v e r d a d e i r a .

S e g u n d o T u g e n d h a t e W o l f ( 1 9 9 6 ) , h á u m a d i f e r e n c i a ç ã o entre a implicação lógica e a

implicação material, que d e v e ser e n t e n d i d a do seguinte m o d o :

Se q é implicado logicamente por p, isso significa que é impossível que, se p for verdadeiro, q seja falso, e que estamos por isso autorizados a inferir q de p. Face a isso, a implicação material Se p, então q significa apenas que essa frase é falsa se p é verdadeiro e q é falso.(...) Aqui [na implicação material] não existe, por um lado, nenhuma necessidade e, por outro, nenhuma relação referente ao conteúdo nenhuma relação formal entre as duas frases componentes, também não existindo portanto nenhuma possibilidade de se inferir, a partir da verdade de uma, a verdade da outra. (TUGENDHAT eWOLF, 1996, p. 87-88)

A s s i m , de u m ponto de v i s t a l ó g i c o , é p o s s í v e l e n c o n t r a r f r a s e s e m que antecedente e

c o n s e q ü e n t e n ã o t ê m a b s o l u t a m e n t e n e n h u m a r e l a ç ã o e, a i n d a a s s i m , tratar-se de u m a

c o n s t r u ç ã o verdadeira5.

C o m o se sabe, h á u m a grande d i s t â n c i a entre a i m p l i c a ç ã o m a t e r i a l e a sua

m a n i f e s t a ç ã o n a l i n g u a g e m c o t i d i a n a . S ã o d u a s as r a z õ e s a p r e s e n t a d a s p o r T u g e n d h a t e W o l f

(1996) p a r a e x p l i c a r esse fato.

E m p r i m e i r o lugar, n a l i n g u a g e m c o t i d i a n a as c o n d i c i o n a i s s ã o u s a d a s p a r a e x p r e s s a r

m a i s que v a l o r e s v e r o f u n c i o n a i s , a f i n a l elas e x p r e s s a m outros t i p o s de r e l a ç ã o entre/» e q. A o

interpretar u m a c o n s t r u ç ã o c o n d i c i o n a l da l i n g u a g e m c o t i d i a n a , o f a l a n t e n ã o se b a s e i a apenas

n o c á l c u l o da v e r d a d e ou da f a l s i d a d e das p r o p o s i ç õ e s , m a s r e c o r r e a r e l a ç õ e s de c a u s a l i d a d e ,

por e x e m p l o , ou ao seu c o n h e c i m e n t o a c e r c a da s i t u a ç ã o .

A l é m d i s s o , as c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s s ã o u s a d a s n a l i n g u a g e m c o t i d i a n a apenas

quando o f a l a n t e n ã o c o n h e c e ou quer d e i x a r e m aberto os v a l o r e s de v e r d a d e d e p e q. Se o

3Este fato, na linguagem cotidiana também seria possível, mas em contextos restritos, nos quais se pretende fazer algum tipo de crítica, com sarcasmo: Se isto é uma obra de arte, (então) eu sou um mico de circo.

(29)

falante sabe que as duas o r a ç õ e s que c o m p õ e m u m a c o n s t r u ç ã o s ã o v e r d a d e i r a s , a a t u a l i z a ç ã o

dessas o r a ç õ e s n ã o seria feita por u m a c o n d i c i o n a l , a n ã o ser que h o u v e s s e outras necessidades c o m u n i c a t i v a s em q u e s t ã o , e e n t ã o j á se a l c a n ç a r i a u m outro n í v e l de d e s c r i ç ã o .

A p e s a r dessas d i f e r e n ç a s , acredita-se que o tratamento l ó g i c o - f o r m a l pode fornecer u m modelo, a partir do qual as v á r i a s e diferentes f o r m a s de e x p r e s s ã o do v a l o r c o n d i c i o n a l

podem ser analisadas. A s s i m , se a n o ç ã o de i m p l i c a ç ã o m a t e r i a l n ã o é suficiente para a c a r a c t e r i z a ç ã o de todas as c o n d i c i o n a i s da l i n g u a g e m cotidiana, ela é n e c e s s á r i a para que se aponte u m v a l o r s e m â n t i c o - p r a g m á t i c o que estaria subjacente às c o n s t r u ç õ e s do tipo considerado neste trabalho - temporais, alternativas, aditivas e j u s t a p o s t a s -, que é o v a l o r de conseqüência. E m outras p a l a v r a s , poder-se-ia dizer que a m e s m a r e l a ç ã o de

causa-conseqüência existente entre a p r ó t a s e e a a p ó d o s e de u m a c o n s t r u ç ã o c o n d i c i o n a l e s t á

t a m b é m presente nas c o n s t r u ç õ e s analisadas, o que p o s s i b i l i t a r i a a s o b r e p o s i ç ã o de leituras. A c r e d i t a - s e que no tratamento das c o n d i c i o n a i s se d e v e m l e v a r em conta n ã o apenas os v a l o r e s de verdade da c o n s t r u ç ã o m a s t a m b é m outros v a l o r e s , ou aspectos adicionais -temporalidade, habitualidade, necessidade, obrigatoriedade, entre outros - que tornam p o s s í v e l , i n c l u s i v e , postular que outras c o n s t r u ç õ e s adquiram u m v a l o r c o n d i c i o n a l no uso real da língua.

Se há m u i t a d i f e r e n ç a entre o uso das c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s na l ó g i c a e na linguagem cotidiana, faz-se n e c e s s á r i o , e n t ã o , apresentar as v á r i a s possibilidades de f u n c i o n a m e n t o dessas c o n s t r u ç õ e s em s i t u a ç õ e s reais de c o m u n i c a ç ã o . A s s i m , o que se v a i mostrar na s e ç ã o seguinte são algumas c o n s i d e r a ç õ e s sobre a c o n s t r u ç ã o c o n d i c i o n a l a partir de um ponto de v i s t a p r a g m á t i c o .

(30)

2 . 2 . 1 . 2 O PONTO DE VISTA PRAGMÁTICO-DISCURSIVO E m D u c r o t ( 1 9 7 7 ) encontra-se u m a c a r a c t e r i z a ç ã o das c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s a p a r t i r de u m p o n t o de v i s t a s e m â n t i c o - a r g u m e n t a t i v o , e m q u e o a u t o r p r o p õ e u m a c l a s s i f i c a ç ã o de d i f e r e n t e s t i p o s de " s e s " que p o d e r i a m s e r e n c o n t r a d o s n a l i n g u a g e m c o t i d i a n a . D u c r o t ( 1 9 7 7 ) c o n s i d e r a que o v a l o r p r i n c i p a l de u m a c o n s t r u ç ã o c o n d i c i o n a l diz

r e s p e i t o a o fato de que e l a p e r m i t e a r e a l i z a ç ã o s u c e s s i v a de d o i s atos i l o c u c i o n a i s : p e d i r ao

o u v i n t e que i m a g i n e / ? e a f i r m a r q. A s s i m , u m a p r o p o s i ç ã o do t i p o sep então q n ã o t e m c o m o

s i g n i f i c a ç ã o p r i n c i p a l "p é c a u s a de q" ou "p é c o n d i ç ã o de q", m e s m o q u e p o s s a i n d i c a r t a i s

s e n t i d o s .

P o d e - s e d i z e r que D u c r o t ( 1 9 7 7 ) , a o a d o t a r u m p o n t o de v i s t a a r g u m e n t a t i v o ,

c o n s e g u e e x p l i c a r t a n t o o u s o do se p r o t o t í p i c o , a q u e l e que r e v e l a u m a r e l a ç ã o de d e p e n d ê n c i a

e n t r e p e q , u m a r e l a ç ã o entre a v e r d a d e d a h i p ó t e s e e a d a c o n c l u s ã o , c o m o o u t r o s u s o s do se que o a u t o r c h a m a de marginais. E s s e s e m p r e g o s m a r g i n a i s do se p o d e m ser e n t e n d i d o s a

partir de u m a d e f i n i ç ã o i l o c u c i o n a l :

o ato de suposição realizado quando o locutor diz sep destina-se a justificar não a verdade da afirmação q, mas sua conformidade com certas leis ou intenções do discurso (pois a verdade do que se afirma não é senão uma condição necessária entre outras, para que a afirmação seja considerada legítima). ( D U C R O T , 1977, p.

187-188)

S ã o c i n c o o s e m p r e g o s m a r g i n a i s a p o n t a d o s p o r D u c r o t ( 1 9 7 7 ) :

se o p o s i t i v o , p a r a f r a s e a d o p o r "se é v e r d a d e q u e " :

(31)

N e s s e caso, há u m a r e l a ç ã o de o p o s i ç ã o entre os v a l o r e s a t r i b u í d o s à pessoa a que a construção faz referência: na prótáse se diz que ela é bonita, mas na apódose se afirma que ela não tem educação.

se contrastivo:

( 1 0 ) Se o I b i r a p u e r a é o p u l m ã o de S ã o P a u l o , a A v e n i d a P a u l i s t a é o coração.

A s duas i n f o r m a ç õ e s , neste e x e m p l o , n ã o s ã o opostas em seu c o n t e ú d o , m a s m o s t r a m u m contraste f o r m a l entre duas a f i r m a ç õ e s .

se p r e s s u p o s i c i o n a l :

( 1 1 ) Se J o ã o e s t á doente, ele n ã o v e m trabalhar.

Percebe-se, nesse uso do se, que a o r a ç ã o c o n d i c i o n a l i n t r o d u z u m pressuposto p a r a a principal.

se "austiniano":

( 1 2 ) Se v o c ê e s t i v e r c o m f o m e , t e m b i s c o i t o n o a r m á r i o .

N e s s e e x e m p l o n ã o há n e n h u m a p r e s s u p o s i ç ã o p a r t i c u l a r , e n t ã o a s u p o s i ç ã o destina-se a tornar a i n f o r m a ç ã o interessante ao ouvinte.

E m b o r a D u c r o t ( 1 9 7 7 ) traga as c o n s i d e r a ç õ e s sobre as c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s p a r a u m plano m a i s d i s c u r s i v o , n ã o se pode dizer que ele trate de fato do uso de tais c o n s t r u ç õ e s em situações de interação.

(32)

É H a i m a n ( 1 9 7 8 ) , em trabalho i n o v a d o r sobre as c o n d i c i o n a i s , que atribui a elas u m a f u n ç ã o p r a g m á t i c a , e u m papel e s s e n c i a l n a o r g a n i z a ç ã o do f l u x o i n f o r m a c i o n a l dos d i s c u r s o s que c o m p õ e m . H a i m a n ( 1 9 7 8 ) define-as c o m o tópicos das s e n t e n ç a s em que o c o r r e m , ou seja, ele assume que as c o n d i c i o n a i s " s ã o dados que constituem u m a m o l d u r a de r e f e r ê n c i a , sendo em r e l a ç ã o a essa m o l d u r a que a o r a ç ã o p r i n c i p a l pode ser c o n s i d e r a d a v e r d a d e i r a , se for u m a proposição, ou adequada, se não o for" ( H A I M A N , 1978, p.564).

H a i m a n ( 1 9 7 8 ) c o n s i d e r a que as e x p l i c a ç õ e s dadas pelos l ó g i c o s para o s i g n i f i c a d o das c o n d i c i o n a i s , baseadas na i m p l i c a ç ã o l ó g i c a , n ã o b a s t a m , u m a v e z que n ã o podem ser aplicadas a todas as c o n d i c i o n a i s o r d i n á r i a s das l í n g u a s . P a r a o autor, u m v a l o r p r a g m á t i c o , a relevância, que tem u m papel d i s t i n t i v o no uso das c o n d i c i o n a i s , e t a m b é m em seus

s i g n i f i c a d o s , p o s s i b i l i t a r á perceber por que a l g u m a s frases s ã o p a s s í v e i s de ocorrer e outras n ã o , m e s m o que estejam em c o n f o r m i d a d e c o m a tabela de v a l o r e s de verdade.

N e s s e sentido, percebe-se que H a i m a n ( 1 9 7 8 ) c a r a c t e r i z a as c o n d i c i o n a i s c o m o u m a parte do c o n h e c i m e n t o c o m p a r t i l h a d o pelo e m i s s o r e pelo seu interlocutor, e, c o m o t a l , constituem a m o l d u r a que foi s e l e c i o n a d a para o d i s c u r s o seguinte.

E s s e trabalho de H a i m a n foi f u n d a m e n t a l p a r a outros que trataram t a m b é m da q u e s t ã o da função p r a g m á t i c a d e s e m p e n h a d a pelas c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s ( A K A T U S K A , 1986; SCHIFFRLN, 1992; entre outros) e, p o d e - s e dizer, serviu de " i n s i g h t " para m u i t o s outros, c o m o se v e r á ao longo desta tese.

O m e s m o se deu c o m u m estudo sobre as c o n j u n ç õ e s , dentre as quais o se, feito, a partir de u m a p e r s p e c t i v a c o g n i t i v i s t a , por S w e e t s e r em 1990. S w e e t s e r ( 1 9 9 0 ) c o n s i d e r a que as c o n j u n ç õ e s que i n t r o d u z e m u m a o r a ç ã o p o d e m ser usadas em t r ê s d o m í n i o s s e m â n t i c o -p r a g m á t i c o s : c o m o u m v e í c u l o -portador de c o n t e ú d o s {domínio de conteúdo); c o m o u m a

(33)

entidade l ó g i c a {domínio epistêmico); ou c o m o u m i n s t r u m e n t o de u m ato de f a l a {domínio

conversacional ou dos atos de fala).

A análise de Sweetser (1990) t a m b é m p r e v ê o funcionamento da c o n j u n ç ã o

condicional se nesses três d o m í n i o s . No d o m í n i o de c o n t e ú d o , a c o n j u n ç ã o condicional indica

que a realização do e v e n t o ou do estado de c o i s a s d e s c r i t o n a p r ó t á s e é u m a c o n d i ç ã o

s u f i c i e n t e p a r a a r e a l i z a ç ã o do e v e n t o ou estado de c o i s a s da a p ó d o s e . A s s i m , n o e x e m p l o

seguinte

(13) IfMary goes, John will go. ( S W E E T S E R , 1990, p. 114) Se Maria vai, João irá.

a ida o u n ã o de M a r y i m p l i c a t a m b é m a i d a ou n ã o de J o h n a a l g u m lugar. N e s s e caso, a c o n e x ã o entre a p r ó t á s e e a a p ó d o s e pode ser u m a c o n e x ã o c a u s a i . H á a t r a n s m i s s ã o de

c o n t e ú d o , ou s e j a , i n f o r m a - s e que u m fato a c a r r e t a u m outro fato qualquer.

No d o m í n i o e p i s t ê m i c o , a c o n j u n ç ã o condicional indica que o conhecimento da

v e r d a d e da p r e m i s s a h i p o t é t i c a e x p r e s s a n a p r ó t á s e s e r i a u m a c o n d i ç ã o s u f i c i e n t e p a r a se

c o n c l u i r a v e r d a d e da p r o p o s i ç ã o e x p r e s s a n a a p ó d o s e . É o que se pode v e r i f i c a r n a c o n s t r u ç ã o

seguinte:

(14) Ifshe is divorced, she's been married. ( S W E E T S E R , 1990, p. 116)

Se ela é divorciada, ela foi casada.

E s s e tipo de c o n d i c i o n a l deve ser entendido da seguinte m a n e i r a : o c o n h e c i m e n t o de

que a p r o p o s i ç ã o " e l a é d i v o r c i a d a " é v e r d a d e i r a é u m a c o n d i ç ã o s u f i c i e n t e p a r a a s s e g u r a r a

c o n c l u s ã o de que " e l a f o i c a s a d a " t a m b é m é v e r d a d e i r a . O u t r o s t i p o s de c o n d i c i o n a l s ã o

(34)

(15) If John went to the party, he was trying to infuriate Mary.

( S W E E T S E R , 1990, p. 116)

Se João foi àfesta, ele estava tentando enfurecer Maria.

t ê m t a m b é m u m a l e i t u r a e p i s t ê m i c a . N e s s e c a s o , p e r c e b e - s e n ã o h a v e r q u a l q u e r v í n c u l o l ó g i c o

inerente entre a p r ó t á s e e a a p ó d o s e . O elo c a u s a i entre as p r o p o s i ç õ e s se dá n o d o m í n i o

e p i s t ê m i c o , u m a v e z que é o c o n h e c i m e n t o de u m a d a d a s i t u a ç ã o que l e v a a u m a d e t e r m i n a d a

c o n c l u s ã o . N e s t e c a s o , o e m i s s o r d e v e ter u m "estoque de i n f o r m a ç õ e s " p r é v i o , g e r a l e

c o m u m , que, a d i c i o n a d o ao fato de que a p r o p o s i ç ã o " J o ã o f o i à f e s t a " é v e r d a d e i r a , lhe

p e r m i t e c o n c l u i r que a p r o p o s i ç ã o "ele e s t a v a tentando e n f u r e c e r M a r i a " t a m b é m é v e r d a d e i r a .

U m a p a r á f r a s e p r o p o s t a p o r S w e e t s e r ( 1 9 9 0 ) p a r a as c o n d i c i o n a i s e p i s t ê m i c a s é: " S e eu sei

[prótáse], então eu concluo [ a p ó d o s e ] " .

Já n o d o m í n i o dos atos de f a l a , o d e s e m p e n h o {performance) do ato de f a l a que e s t á sendo r e p r e s e n t a d o n a a p ó d o s e é c o n d i c i o n a d o ao p r e e n c h i m e n t o de a l g u m fato ou estado

e x p r e s s o n a p r ó t á s e . N e s s e c a s o , o estado ou fato da p r ó t á s e p o s s i b i l i t a ou c a u s a o ato de f a l a

seguinte. P a r a S w e e t s e r ( 1 9 9 0 ) , tais c a s o s e s t ã o i n e r e n t e m e n t e r e l a c i o n a d o s às m á x i m a s de G r i c e e de S e a r l e , de tal m o d o que as p r ó t a s e s c o n d i c i o n a i s e m q u e s t ã o r e f e r e m - s e ,

invariavelmente, a alguma c o n d i ç ã o de r e l e v â n c i a ou de a d e q u a ç ã o . A s s i m , nos exemplos

seguintes

(16) IF may say so, that 's a crazy idea.

Se eu posso dizer isso, é uma idéia maluca.

( 1 7 ) I f i t 's not rude to ask, what made you decide to leave IBM?

Se não é rude perguntar, o quefez você decidir sair da IBM?

(18) There are biscuits in the side board if you want them.

( S W E E T S E R , 1990, p. 118)

(35)

p o d e - s e p e r c e b e r :

N o p r i m e i r o caso, é apenas a p e r m i s s ã o do o u v i n t e que l e v a à e x p r e s s ã o da o p i n i ã o do falante.

N o segundo e x e m p l o , pede-se que u m a pergunta seja feita, se o ouvinte n ã o a considerar rude.

N o ú l t i m o caso, i n f o r m a - s e a u m ouvinte que h á b i s c o i t o s n o a r m á r i o , m a s essa i n f o r m a ç ã o só é relevante se o o u v i n t e t e m f o m e ou quer c o m e r algo.

A s s i m , c o n c l u i - s e que nesses casos a r e a l i z a ç ã o da a p ó d o s e e s t á c o n d i c i o n a l m e n t e ligada à r e l e v â n c i a e/ou à a d e q u a ç ã o dos fatos apresentados n a p r ó t á s e . U m a p o s s í v e l p a r á f r a s e p a r a as c o n d i c i o n a i s de atos de f a l a , segundo S w e e t s e r ( 1 9 9 0 ) , seria "Se [ p r ó t á s e ] , e n t ã o v a m o s considerar que eu r e a l i z o este ato de f a l a (isto é, aquele representado como apódose)".

E m trabalho sobre a p r a g m á t i c a das c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s do i t a l i a n o , M a z z o l e n i ( 1 9 9 4 ) apresenta u m a c l a s s i f i c a ç ã o dessas c o n s t r u ç õ e s que p o d e r i a ser c o n s i d e r a d a como u m a c l a s s i f i c a ç ã o que " r e s u m i r i a " aquelas que f o r a m feitas por D u c r o t ( 1 9 7 7 ) , H a i m a n ( 1 9 7 8 ) e Sweetser ( 1 9 9 0 ) . Segundo M a z z o l e n i ( 1 9 9 4 ) , e x i s t e m quatro tipos de c o n d i c i o n a l : as temáticas ou resumptivas, as contrafactuais indicativas, as pseudo-imperativas hipotáticas, e

as de atos de fala.

Por condicionais temáticas, Mazzoleni (1994) considera as construções em que a p r ó t á s e e x p r e s s a u m a p r o p o s i ç ã o que é t o m a d a c o m o v e r d a d e i r a em virtude da r e l a ç ã o entre o c o n t e ú d o p r o p o s i c i o n a l e o c o n h e c i m e n t o p r é v i o , ou entre o c o n t e ú d o p r o p o s i c i o n a l e o contexto l i n g ü í s t i c o , ou entre o c o n t e ú d o p r o p o s i c i o n a l e o contexto situacional da e x p r e s s ã o .

(36)

E s s a d e f i n i ç ã o parece c o n t e m p l a r aquelas apresentadas p o r H a i m a n ( 1 9 7 8 ) , e por S w e e t s e r

( 1 9 9 0 ) c o m o as c o n d i c i o n a i s de c o n t e ú d o e e p i s t ê m i c a s . S ã o e x e m p l o s dessas c o n s t r u ç õ e s :

(19) A: Non ho voglia di andare al cinema.

B: Se non vuoi andare al cinema, allora restiamo a casa. ( M A Z Z O L E N I ,

1994, p. 128)

A: Não quero ir ao cinema.

B: Se você não quer ir ao cinema, então vamos ficar em casa".

( 2 0 ) Se sono qui dopo tutto quello che è successo, vuol dire che ti ho

perdonato. ( M A Z Z O L E N I , 1994, p. 128)

Se estou aqui depois de tudo que aconteceu, isto quer dizer que eu te perdoei.

N a s contrafactuais indicativas a a p ó d o s e e x p r e s s a u m a p r o p o s i ç ã o f a l s a , que r e s u l t a

de sua r e l a ç ã o c o m o c o n t e x t o s i t u a c i o n a l da e x p r e s s ã o :

( 2 1 ) & tu canti bene, io sono Sting. ( M A Z Z O L E N I , 1994, p. 124)

Se você canta bem, eu sou Sting.

( 2 2 ) A : Siamo ancora in Belgio, vero?

B: Se Amsterdam è in Belgio, allora siamo in Belgio. ( M A Z Z O L E N I ,

1994, p. 129)

A: Estamos agora na Bégica, verdade?

B: Se Amsterdam é na Bélgica, então estamos na Bélgica.

A s construções com o imperativo s ã o c o n s i d e r a d a s c o m o u m outro subtipo de

c o n d i c i o n a l por M a z z o l e n i ( 1 9 9 4 ) . O autor a f i r m a que s ã o adotadas p a r a d e s e m p e n h a r atos de

(37)

f a l a p r o p o s i t i v o s , em que a p r i n c i p a l q u e s t ã o é o efeito p e r l o c u c i o n á r i o que o falante espera

p r o d u z i r , ou n ã o , e m seu ouvinte5. Os e x e m p l o s de M a z z o l e n i ( 1 9 9 4 , p. 129) s ã o :

(25) Lavami la macchina e ti do cinque dollari. Lava o carro e te dou cinco dólares.

( 2 6 ) A l z a le mani o sparo. ( M A Z Z O L E N I , 1994, p. 129)

Mãos ao alto ou eu atiro.

As condicionais de atos de fala ( M A Z Z O L E N I , 1994) t ê m a m e s m a d e f i n i ç ã o das

" a u s t i n i a n a s " de D u c r o t ( 1 9 7 7 ) e das do d o m í n i o dos atos de f a l a , de S w e e t s e r ( 1 9 9 0 ) . N e s s e s

casos o v a l o r de v e r d a d e d e p n ã o afeta o v a l o r de v e r d a d e de q, m a s a a d e q u a ç ã o do ato de

f a l a expresso na c o n s t r u ç ã o :

(27) Se non sono indiscreto, cos'haifatto ieri ser a?. ( M A Z Z O L E N I ,

1994, p. 131)

Se não sou indiscreto, o que fez ontem à noite?

C o m o se pode p e r c e b e r a p a r t i r da c l a s s i f i c a ç ã o p r o p o s t a p o r M a z z o l e n i ( 1 9 9 4 ) , os

trabalhos de D u c r o t ( 1 9 7 7 ) , H a i m a n ( 1 9 7 8 ) e S w e e t s e r ( 1 9 9 0 ) s ã o f u n d a m e n t a i s para os

estudos a c e r c a das c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s . D e p o i s de H a i m a n ( 1 9 7 8 ) , por e x e m p l o , m u i t a s

d e s c r i ç õ e s das c o n s t r u ç õ e s condicionais, nas mais variadas l í n g u a s , levam em conta sua

f u n ç ã o p r a g m á t i c a , para m o s t r a r u m a s é r i e de outras c a r a c t e r í s t i c a s desse tipo de c o n s t r u ç ã o ,

t a i s c o m o a p o s i ç ã o , o g r a u de h i p o t e t i c i d a d e , etc. T o d o s esses t r a b a l h o s t ê m e m c o m u m o

fato de c o l o c a r e m a d i s c u s s ã o a c e r c a das c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s em u m p l a n o d i s c u r s i v o ,

que v a i a l é m das c o n s i d e r a ç õ e s da lógica. Como afirma Ducrot (1977, p.179), uma a n á l i s e

que leve e m c o n t a o uso das c o n s t r u ç õ e s c o n d i c i o n a i s p e r m i t e

'Tais exemplos remetem ao que afirma Fillenbaum (1986) acerca das promessas e ameaças realizadas por meio de orações aditivas e disjuntivas, o que será explicitado no quarto capítulo.

Referências

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