Geografia
2.1.2. A reafirmação da Europa e a
consolidação do Japão
A reafirmação da Europa como centro de decisão à escala
mundial
No final da Segunda Guerra Mundial, a Europa encontrava-se em ruínas:
⇒ A grave situação económica e financeira acelerou o processo de descolonização dos territórios africanos e asiáticos que constituíam o vasto império colonial europeu.
⇒ A guerra originou, também, a divisão da europa, fazendo surgir um novo mapa geopolítico.
⇒ O lugar que durante séculos a Europa ocupou, como centro de poder e de decisão do mundo, perdeu-o a favor dos EUA e da URSS.
Foi nesta situação de fragilização e num mundo bipolarizado, num contexto de Guerra Fria, que surgiu o processo de integração da Europa Ocidental, como única via para construir uma Europa Unida, com base na paz e na cooperação.
16 de Abril de 1948: foi formada a Organização Europeia de Cooperação (OECE)
Tem como finalidade a coordenação da ajuda americana, no âmbito do plano de Marshall.
〉 A OECE permitiu que os Estados da Europa Ocidental desenvolvessem, pela primeira vez, uma estreita cooperação entre si, provocando também o aumento do comércio entre os países membros, devido à liberalização progressiva das trocas comerciais e ao equilíbrio dos pagamentos internacionais.
〉 A OECE viria dar lugar a OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico), passando a integrar outros países industrializados como os EUA, o Canadá, o Japão, a Nova Zelândia e a Austrália.
A necessidade da Europa Ocidental se organizar para administrar o Plano de Marshall com vista à reconstrução levou os governos à tomada de consciência de que era fundamental uma Europa unida e coesa. A ideia da construção de um espaço económico europeu alargado e sem fronteiras começou a afirmar-se.
1950 – O ministro dos negócios estrangeiros francês (Robert Schuman) inspirado em Jean Monnet, lançou as verdadeiras bases do processo de integração europeia, ao propor a livre circulação do ferro e do aço. Estes dois produtos, considerados fundamentais ao desenvolvimento económico, passariam a ser administrados por uma Alta Autoridade Supranacional.
18 de Abril de 1951 - Tratado de Paris, que institui a Comunidade Económica do Carvão e do Aço (CECA) -> França
-> Alemanha -> Itália -> Holanda -> Bélgica -> Luxemburgo
Embrião da Comunidade Económica Europeia (CEE), a CECA provou que era possível na Europa Ocidental estabelecer a cooperação e a solidariedade, abrindo caminho a uma integração mais completa e alargada. Também do ponto de vista económico a CECA contribuiu para a reconstrução da Europa, ao liberalizar e intensificar as trocas de dois produtos fundamentais ao crescimento da indústria e da economia.
No plano político, estimulou a reconciliação e a cooperação franco-alemãs.
Depois do sucesso da CECA, a Europa dá finalmente ao passo decisivo no processo de integração a assinar, em 1957, os Tratados de Roma.
Que instituem a:
- Euratom (ou CEEA – Comunidade Europeia da Energia Atómica)
Os Tratados de Roma estabeleceram como principais objectivos:
• Criação de uma União aduaneira; • Criação de um mercado comum;
• Adopção de políticas comuns nos domínios da agricultura e dos transportes;
• Criação de um Fundo Social Europeu;
• Instituição de um Banco Europeu de Investimentos;
• Desenvolvimento de relações mais estreitas entre os Estados-Membros.
× O sucesso da CEE ultrapassa rapidamente as expectativas dos seus fundadores (Monnet e Schuman).
× A CEE constitui uma inovação e uma nova etapa da vida da Europa, do ponto de vista económico e político, pois os Estados outrora beligerantes, aceitaram transferir parte da sua soberania nacional para um conjunto de instituições supranacionais.
A par da CEE, surge, em 1960, outra experiência de integração, liderada pelo Reino Unido: EFTA (European Free Trade Association) – destinada a promover o comércio de produtos industriais. A EFTA foi constituída por:
- Reino Unido - Suécia
- Áustria Mais tarde, a maioria destes países veio, em diferentes datas, a integrar a
- Dinamarca Comunidade Económica Europeia, acabando por diminuir gradualmente a
- Noruega importância da EFTA. - Suíça
A partir dos anos 70 do século XX: A Comunidade passa por um período de crise, quer ao nível económico e financeiro quer ao nível institucional.
- As instituições comunitárias não funcionavam, mostrando-se incapazes de tomar decisões que bloqueavam todo o sistema;
- Também o Mercado Único não existia, devido aos entraves que se colocavam à livre circulação.
Numa tentativa de relançamento e aprofundamento do processo de integração, são dados dois passos fundamentais que viriam a ser decisivos para o futuro da comunidade e para a sua afirmação no mundo:
• A assinatura do Acto Único Europeu, em Fevereiro de 1986;
• A assinatura do Tratado da União Europeia ou Tratado de Maastricht, em Fevereiro de 1992.
O Acto Único Europeu alargou as competências da CEE e tinha como principais objectivos:
⇒ A criação de u mercado único europeu, a partir de 1993; ⇒ O reforço do Sistema Monetário Europeu (SME);
⇒ A coesão económica e social.
1922: é assinado em Maastricht, na Holanda, o Tratado da união Europeia (Tratado de Maastricht), que institui a União Europeia, assinado pelos então 12 membros que constituíam a Comunidade Económica Europeia.
Marca uma nova e decisiva etapa na vida da Europa, caminhando cada vez mais em direcção a uma união mais sólida e profunda.
O Tratado de Maastricht assenta nos seguintes tópicos:
⇒ Instauração da cidadania europeia:
- direito de circular livremente dentro do espaço comunitário;
- direito de voto nas eleições europeias e municipais para os residentes comunitários, qualquer que seja o país que habitem;
⇒ Criação da União Económica e Monetária – realizada em 3 fases previstas no Tratado.
⇒ Atribuição de novas competências do Parlamento Europeu e reforço do poder de decisão - participação no processo legislativo; - aprovação da Comissão;
- aprovação de todos os tratados internacionais importantes.
⇒ Criação do Comité das Regiões – constituído pelos representantes das autoridades locais e regionais de cada Estado-membro, sendo consultado antes da tomada de qualquer decisão sobre as regiões;
⇒ Definição da Política Externa e Segurança Comum (PESC) – prevendo-se assim um quadro institucional para as relações externas europeias;
⇒ Reforço da cooperação nos domínios judicial, policial e alfandegário.
⇒ Alargamento das competências da Comunidade – domínios como: ambiente, investigação e desenvolvimento, telecomunicações, cultura e protecção dos consumidores.
O Tratado de Maastricht atribuiu à Comunidade Europeia novas competências:
Intensificação da defesa do consumidor a nível comunitário; Política de saúde;
Reforço das infra-estruturas de transporte, telecomunicações e energias (redes transeuropeias)
Consagração no tratado da cooperação no desenvolvimento; Política industrial;
Formação; Cultura;
Intensificação da protecção do ambiente, da investigação e desenvolvimento e da política social;
Cooperação no domínio da justiça e dos assuntos internos.
O Tratado de Maastricht constituiu um passo decisivo para o aprofundamento da integração europeia, visando uma união política, económica e monetária.
1997: O Tratado é reforçado através da revisão introduzida pelo Tratado de Amesterdão.
• Instaurar uma verdadeira cidadania europeia;
• Democratização do funcionamento das instituições comunitárias;
• Implementação de uma política externa e de segurança comum.
Os sucessivos alargamentos permitiram à Europa reafirmar-se como potência mundial, readquirindo o papel que tinha ocupado no passado, tendo a via da integração desempenhado um importante papel nesse processo.
No início de 2009, a UE contava com vinte e sete Estados-membros, havendo muitos candidatos.
O processo de integração europeia contribuiu para a afirmação da EU como centro de poder e de decisão.
♦ A EU é, actualmente, o primeiro bloco comercial do mundo, em termos de mercadorias e serviços. É o maior exportador e importador de mercadorias do mundo, realizando mais de metade dessas trocas com os países industrializados e cerca de 1/3 com os países em desenvolvimento.
♦ Para além de dominar o comércio mundial, a UE detém uma posição de destaque no movimento de capitais e no que respeita à Investigação e Desenvolvimento (ID).
♦ No âmbito empresarial, a UE mostra também um grande dinamismo e competitividade. Mais de metades das empresas transnacionais estão sediadas no espaço comunitário.
♦ A UE tem-se afirmado igualmente como o principal parceiro mundial na cooperação com os países em desenvolvimento, em fruto do seu passado histórico, como antigas potências colonizadoras.
Acordos das Conferências de Lomé: constituídos entre a UE e 71 países da África, Caraíbas e Pacífico (ACP) constituem o exemplo mais acabado de cooperação para o desenvolvimento.
23 de Junho de 2000: iniciou-se uma nova fase de relacionamento e cooperação entre a EU e os países ACP, com a assinatura dos Acordos de Cotonou, substituindo os Acordos de Lomé.
Visam a integração dos países ACP na economia mundial e o combate à pobreza. Estes acordos vigorarão por um período de 20 anos (até 2020), estando a sua aplicação prevista por etapas. A última etapa, de 2008 até 2020, prevê a criação de uma zona de comércio livre entre a EU e os países ACP.
A ajuda ao desenvolvimento prestada pela UE processa-se com base nos recursos próprios do:
× Fundo Europeu de Desenvolvimento (FED) × Banco Europeu de Investimento (BEI)
× Acordos bilaterais entre os estados-membros e os países em desenvolvimentos
A UE contribuiu também para a democratização e transformação económico-social dos países da Europa Central e Oriental (PECO) e dos novos Estados independentes do antigo bloco de Leste. – Através do programa PHARE (precioso contributo para a estratégia de adesão dos países do Leste europeu que aderiram em 2004 e 2007.
À entrada no novo milénio, a União Europeia voltou a afirmar-se como um importante centro de poder e de decisão, constituindo, a par dos EUA e do Japão (a Tríade), um dos pólos do actual sistema mundo.
A afirmação do Japão como potência económica após a
Segunda Guerra Mundial
Japão:
o Arquipélago constituído por cerca de 4000 ilhas, alinhadas sentido Norte-Sul, ao longo de 200km.
o As quatro maiores ilhas (Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku) representam a quase totalidade dos 378 mil km2 de terras emersas deste país insular.
o Território geograficamente fragmentado. o Vivem 128 milhões de japoneses.
o Está em 10º lugar na lista das nações com mais população.
Herança de um sistema de produção
agrícola baseado na rizicultura Crescimento demográfico recente Elevada densidade populacional
o Território pouco cobiçado devido ao seu isolamento e por ser pobre em recursos naturais, o Japão conseguiu manter uma forte unidade cultural.
Coesão social Características da
Prosperidade Económica (segunda metade do séc. XX)
A recuperação económica do Japão
Em 4 décadas (1950-1990), o Japão conheceu um processo de desenvolvimento económico e social consistente, transformando-se na segunda maior potência económica do mundo.
Durante a década de 50, o PNB aumentou 150% em termos constantes. Este forte crescimento económico, sem inflação, ficou a dever-se, entre outros factores:
- às alterações estruturais verificadas na economia, que passou a ser denominada por empresas inovadoras e fortemente competitivas, as quais se impuseram não só no mercado interno, mas também no mercado mundial;
- à ajuda económica dos EUA, através do Plano Dodge;
- à capacidade demonstrada pelo povo japonês para superar as vicissitudes da guerra.
♦ Entre 1958 e 1961, foram criados três milhões de novos empregos.
♦ A estrutura da população activa e do PIB alterou-se, acentuando-se o peso das actividades associadas aos sectores secundário e terciário. ♦ Os mercados também se alteraram, passando os EUA a ser o principal
cliente e fornecedor, embora o comércio externo japonês se concentre na região da Ásia.
O “milagre” económico japonês
A afirmação do poderio económico, comercial e financeiro do Japão só foi possível pela conjugação de factores externos e internos que actuaram
simultaneamente.
Factores Internos Factores Externos
O papel do Estado
Uma base industrial, sólida e variada, orientada para os sectores de ponta.
As características dos recursos humanos
A participação do Japão na guerra da Coreia, como grande fornecedor de bens essenciais ao esforço de guerra dos Aliados, o que estimulou a actividade industrial
As limitações orçamentais para a defesa impostas pelos norte-americanos, o que ajudou a canalizar os fundos existentes para áreas que contribuíram para a prosperidade económico e social O ciclo duradouro de expansão da
economia mundial
⇒ O papel desempenhado pelo Estado em matéria económica foi muito importante.
- Canalizando os recursos financeiros para as empresas nas telecomunicações - Efectuando elevados investimentos nos caminhos-de-ferro
na engenharia rural
O Governo fomentou uma política de obras públicas que criou emprego e estimulou a procura interna, chegando a representar 20% do PNB.
Simultaneamente, o Estado japonês desenvolveu uma planificação indicativa:
• Incentivou a inovação
• Limitou os factores de risco de certas actividades consideradas importantes
• Apoiando as reestruturações industriais • Controlando o volume das importações
• Protegendo as empresas nipónicas da concorrência • Aplicando taxas alfandegárias aos produtos estrangeiros
• Mantendo artificialmente o iene desvalorizado para facilitar as exportações
Esta planificação e respectivo controlo são da responsabilidade do poderoso METI (Ministério da Economia, Comércio e Indústria, ex-MITI), que exerce também uma actividade de informação e aconselhamento juntos dos parceiros económicos.
A relação do Estado com as empresas industriais é muito próxima. Aliás os laços históricos entre os grandes grupos económicos, nomeadamente os Zaibatsu, e os órgãos governamentais são conhecidos. Muitos altos funcionários do METI pertencem à alta hierarquia das grandes empresas.
Uma base industrial sólida e variada orientada para os sectores de ponta corresponde à imagem contemporânea do Japão. Esta vantagem
competitiva resultou de um processo de industrialização faseado, caracterizado por um forte e contínuo crescimento industrial. Prime
ira Fase
A actividade industrial estava concentrada na indústria têxtil (sobretudo do algodão), dominando uma política orientada para a importação.
Segun da Fase
A indústria do algodão, que tivera importância até à Segunda Guerra Mundial, foi ultrapassada pelas indústrias pesadas, orientadas para a utilização pacífica do aço:
- as indústrias siderúrgicas, de bens de consumo duradouros - as indústrias de bens de equipamento, como a construção naval A estrutura das importações passou a ser dominada pelos hidrocarbonetos, o carvão e o ferro. A importação massiva de matérias-primas assegurou o funcionamento destas indústrias, que criaram as bases para a recuperação económica do Japão. Os japoneses protegeram a produção e o mercado interno e apostaram na exportação de aço, navios e máquinas, em substituição dos tecidos de algodão e de outros bens de qualidade inferior. Era fundamental aumentar as exportações para pagar as crescentes importações de bens energéticos, de produtos alimentares e de matérias-primas.
Tercei ra Fase
O Japão diversificou o seu processo de industrialização: 〉 Apostando na indústria mecânica e electrónica, 〉 Produzindo automóveis,
〉 Computadores, 〉 Electrodomésticos, 〉 Motociclos,
〉 Televisores.
Adoptou uma estratégia de conquista dos mercados internacionais através da produção massiva destes bens, aproveitando a expansão do comércio mundial.
Últim as Décad
as
O Japão apostou em indústrias de alta tecnologia (biotecnologias, semicondutores, informática, telecomunicações, robótica). Simultaneamente, promoveu um processo de “deslocalização” industrial para os países vizinhos, dos sectores mais antigos.
O êxito económico do Japão fica a dever-se a uma estratégia que conjugou a reestruturação e modernização constante das unidades industriais, a “deslocalização” do processo produtivo, nomeadamente de alguns sectores mais exigentes em mão-de-obra, e a diversificação da produção industrial.
• Conscientes das suas limitações geográficas e económicas, os japoneses desenvolveram um modelo de produção adaptado às suas características e necessidades de desenvolvimento industrial – o taylorismo.
As empresas japonesas basearam a organização da produção na flexibilidade do processo produtivo, através da:
× multifuncionalidade da mão-de-obra
× implementação de sistemas de controlo de qualidade × promoção do sistema just in time
Modo de produção industrial baseado na ausência de stocks, na polivalência das unidades fabris e na flexibilidade da mão-de-obra. Caracteriza-se pela redução das matérias-primas necessárias à produção de um extenso leque de produtos. Objectivo: produzir bens no momento exacto em que são encomendados.
O modelo toyotista permitiu aumentar a produtividade no fabrico de pequenas quantidades de numerosos modelos de produtos, voltados para o mercado externo, e gerar as divisas necessárias para fazer face à importação de matérias-primas.
∞ Os recursos humanos constituem um dos suportes da estratégia de afirmação do Japão como grande potência económica. Para além de constituir um vasto mercado interno, com 128 milhões de consumidores e uma mão-de-obra abundante, a população japonesa aceitou os sacrifícios que os Estado e as empresas lhe exigiram, devoção ao
trabalho, férias limitadas, competição escolar severa, etc, e demonstrou um grande espírito empreendedor.
∞ Homogeneidade linguística e étnica O povo japonês foi capaz de conciliar no trabalho e
na vida quotidiana um certo equilíbrio entre a
∞ Complexidade da herança cultural tradição e a modernidade. - lealdade
- honra
- respeito pela hierarquia Forte coesão social e ausência - deferência de tensões ou conflitos sociais. - disciplina
- capacidade de organização
Assim, é fácil compreender o comportamento dos japoneses: → Capacidade para suportar a austeridade
→ Valorizar as questões colectivas
→ Interesses comuns da família, das empresas, do Estado estão acima das necessidades individuais
A qualidade dos recursos humanos japoneses baseia-se:
Num sistema escolar muito competitivo, desde o nível de escolaridade mais elementar, que exige um grande esforço por parte dos estudantes, mas que garante um elevado grau de qualificação e permite o acesso a empregos garantidos nas grandes empresas a todos os lugares da hierarquia;
Num nível de formação elevado, que permite que todos os trabalhadores estejam permanentemente capacitados para exercer com competência a sua actividade.
♦ A qualidade da mão-de-obra permite implementar nas empresas processos de produção flexíveis, com níveis de exigência muito elevados, como os círculos de qualidade, e generalizar a produção “sem defeitos”.
♦ A adopção rápida da inovação e a capacidade de invenção, que são geralmente conhecidas como importantes atributos para o sucesso do Japão, devem-se em grande parte à qualidade da mão-de-obra.
A segunda economia mundial
A seguir aos EUA, o Japão é a maior potência económica do mundo.
⇒ Entre os anos 50 e 70 do século XX, o Japão conheceu o período de maior crescimento, transformando-se rapidamente numa potência económica comercial, com base na exportação massiva dos seus produtos.
⇒ A partir de 1985, o Japão passou a ter uma balança comercial excedentária com os EUA, a EU e os seus vizinhos asiáticos. O comércio externo japonês passou a ser um importante impulsionador do crescimento económico.
⇒ A acumulação de excedentes comerciais associada às elevadas taxas de poupança interna e à valorização do iene permitiram ao Japão transformar-se, numa potência financeira.
Os choques petrolíferos e a alteração da estruturação
económica
A alteração da estruturação económica japonesa, baseada nas indústrias pesadas, fortemente dependentes em matérias-primas e produtos energéticos, foi acelerada pelos choques petrolíferos verificados na década de 70 do século XX.
O Japão desenvolveu indústrias de maior valor acrescentado, mais lucrativas, associadas à electrónica e à automatização, abandonando sectores onde a procura mundial era reduzida e o consumo de energia elevado.
A forte dependência energética levou o Japão a diversificar as fontes de energia e a investir no nuclear.
Os sectores com maior utilização de mão-de-obra, como a construção naval, a siderurgia e os têxteis, foram “deslocalizados” para os NPI asiáticos, onde a mão-de-obra era mais barata. Desenvolveram-se as chamadas indústrias de inteligência – semicondutores, robótica, biotecnologia -, com consequências positivas para a produtividade agrícola.
A internacionalização da produção e a presença do Japão no
mundo
A criação de excedentes financeiros permitiu a exportação de capitais, que foram investidos na compra de acções e obrigações no estrangeiro, e nos sectores da manufactura e no terciário.
Numa primeira fase, o IDE japonês teve como principal destino o Sudeste Asiático e as indústrias ligeiras e de têxteis.
Anos 70 e 80: Japoneses alargaram o seu investimento no exterior aos EUA e à União Europeia, produzindo automóveis e equipamento electrónico. Neste período, a Ásia acolheu investimentos sobretudo:
na extracção mineira nos produtos energéticos na petroquímica
nos produtos electrónicos de grande consumo
estratégia de desenvolvimento industrial interna
Progressivamente, o espaço de produção chinesa alargou-se à escala mundial. Nesta estratégia de expansão económica, os países
vizinhos assumiram cada vez mais o papel de plataformas intermédias de produção japonesas.
Televisores
Magnestoscópios Importados para o Japão ou enviados directamente para o mercado
Fotocopiadoras mundial.
Calculadoras Bens produzidos
Nos países da região do Pacífico, onde os japoneses detêm a hegemonia económica, o país promoveu um importante fluxo de bens, serviços e capital – “deslocalizou” indústrias mais poluentes ou com maiores custos laborais para os países do Sudeste Asiático, aproveitando-se da proximidade dos mercados e das fontes de energia e passando a controlar também a produção de matérias-primas.
À medida que o processo de industrialização se intensificou e que se desenvolveram alguns países como Taiwan, Singapura, Hong Kong e Coreia do Sul, ou seja, os Novos Países Industrializados (NPI) asiáticos, o investimento japonês e as “deslocalizações” da indústria dirigiam-se a um número de países significativamente mais numeroso, como a Malásia, a Tailândia, o Vietname, a Indonésia e as províncias do litoral chinês.
À escala regional, o Japão consolidou-se como potência industrial dominante, como centro das trocas comerciais intra-regionais e como promotor do investimento.
Nos países ocidentais, o Japão estabeleceu-se sozinho ou efectuou alianças com empresas autóctones e passou a poder penetrar nesses mercados.
Os fluxos de capital provenientes do Japão assumiram várias formas:
- investimento directo no exterior
- empréstimos obrigacionistas a curto prazo, como o que foi concedido ao governo norte-americano;
- construção de infra-estruturas, como a participação no consórcio que construiu o túnel sob o Canal da Mancha;
- outros investimentos sob a forma de títulos.
Os valores acumulados do IDE japonês no mundo aumentaram consideravelmente.
A internacionalização da produção e a presença do Japão no
mundo
No seu modelo económico, o Japão associa, com eficácia assinalável, grandes empresas e pequenas e médias empresas (PME).
As grandes empresas surgiram muito tarde na história económica do Japão moderno, com a formação dos Zaibatsu, que garantiam a participação das grandes famílias feudais na actividade económica.
Apesar dos EUA terem provocado a dissolução dos Zaibatsu, em 1945 – considerados responsáveis pelo imperialismo agressivo do Japão -, a política de limitação da concentração do poder económico foi rapidamente abandonada.
Os grandes grupos económicos, com representação no poder político, reforçaram o seu domínio sobre a economia. Grande parte deles eram originários dos antigos Zaibatsu ou foram constituídos após a Segunda Guerra Mundial.
Estes aglomerados, actualmente chamados keiretsu, associam empresas industriais e comerciais independentes umas das outras, mas muito poderosas, que se reagrupam em torno de um banco do grupo e desenvolvem entre si uma densa rede de relações.
Na actualidade, 4 das sociedades bancárias japonesas que suportam alguns dos Keiretsu mais poderosos estão entre as 15 maiores instituições financeiras mundiais:
o Mizuho Financial Group Mobilizam capital, permitindo que as empresas
o Mitsubishi Tokyo Financial Group (MTFG) do grupo realizem investimentos ou possam
o Sumitomo Mitsui Financial Group proceder a transferências estratégicas rápidas
o UFJ Holdings e eficazes entre os vários sectores que compõem
a sua actividade. O poderio financeiro dos Keiretsu permite:
- Assegurar o investimento em ID - Promover a internacionalização - Dominar novos mercados
As empresas japonesas que integram estes aglomerados estão entre as 100 maiores ETN mundiais: Toyota, Honda, Sony, Mitsubishi, Nissan, Mitsui, Hitachi, Matsushita.
Estes conglomerados, que se constituíram por razões financeiras, não realizam todas as etapas do processo produtivo, ao contrário do que acontece nas concentrações horizontais e verticais. Estes grandes grupos económicos preferem subcontratar pequenas empresas que garantem o fornecimento de matérias-primas e produtos intermédios ou concluem o processo de fabrico.
As grandes empresas são detentoras de elevadas produtividades e pagam altos salários aos seus operários, em regra muito qualificados e disciplinados, que asseguram a qualidade do produto final.
Um vasto mercado interno assegura o escoamento de uma parte considerável da produção, devido às:
Práticas proteccionistas do governo japonês, restringindo as importações;
Preferência dos japoneses pelos produtos nacionais.
Quanto ao mercado externo, muitas empresas nipónicas confiam as vendas dos seus bens aos Sogo Sosho. Estas sociedades comerciais fazem parte dos keiretsu e concentram nas suas mãos várias actividades, desde o comércio, transporte e distribuição à importação e exportação. Os Sogo Sosha são responsáveis por cerca de 70% das
importações japonesas, colocam no exterior 45% das exportações e efectuam 40% das trocas comerciais internas. O seu volume de negócios corresponde a cerca de uma terça parte do PIB japonês.
No tecido empresarial japonês, a par destes grandes grupos, subsiste um conjunto de PME responsáveis pelo emprego de cerca de ¾ da mão-de-obra do arquipélago. Estas empresas produzem as encomendas efectuadas pelos grandes grupos, em regime de subcontratação. Fortemente dependentes do volume de encomendas, as PME japonesas pagam salários inferiores e são mais vulneráveis às alterações da conjuntura.