2005 International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2005 Santos, SP, Brazil, August 28 to September 2, 2005 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA NUCLEAR - ABEN ISBN: 85-99141-01-5
SUGERE – UM SISTEMA UNIFICADO DE GESTÃO DE RESÍDUOS
Eliane Magalhães Pereira da Silva1, Vanderley de Vasconcelos1, Murillo Senne Junior1
e Elizabete Jordão2
1
Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN / CNEN) Caixa postal 941
30123-970, Belo Horizonte, MG
silvaem@cdtn.br; vasconv@cdtn.br; sennem@cdtn.br 2
Faculdade de Engenharia Química (FEQ / UNICAMP) Caixa Postal 6066
13083-970, Campinas, SP bete@desq.feq.unicamp.br
RESUMO
O processo de geração e de disposição de resíduos em todas as suas formas tem sido responsável por problemas econômicos, ecológicos e de saúde pública, dentre os mais relevantes. Para que o gerenciamento dos resíduos perigosos seja realizado de maneira amigável ao meio ambiente, uma série de medidas técnicas e administrativas deve ser implementada, desde a prevenção e o controle efetivo da geração do resíduo até a sua disposição final. Visando proporcionar uma ferramenta de aplicação direta e de fácil utilização pelos usuários, está sendo desenvolvido o “software” SUGERE – Sistema Unificado para o GErenciamento de REsíduos, onde se procurou adotar uma abordagem geral integrada de todas as etapas do gerenciamento de resíduos perigosos e dos rejeitos radioativos de uma instalação. Este sistema visa auxiliar geradores, transportadores e prestadores de serviços de gestão de resíduos perigosos ou de rejeitos radioativos, orientando o gerenciamento de resíduos ambientalmente problemáticos, em atendimento às exigências cada vez mais restritivas impostas pelo mercado, consumidores, agências e grupos ambientais. O objetivo deste trabalho é apresentar o estágio atual do SUGERE, desenvolvido em ambiente Borland Delphi®. A indústria nuclear é utilizada como referência para o desenvolvimento do trabalho, uma vez que o planejamento para o gerenciamento dos rejeitos radioativos é uma recomendação que já vem sendo implementada há algumas décadas.
1. INTRODUÇÃO
Nos países em desenvolvimento, a escassez de recursos financeiros, a deficiência em treinamento, a falta de soluções técnicas adequadas e as dificuldades encontradas na implementação do princípio “poluidor-pagador”, como uma diretriz da política ambiental, são as principais causas das dificuldades associadas ao planejamento do gerenciamento dos resíduos, bem como à sua disposição de maneira segura ao meio ambiente.
Visando proporcionar uma ferramenta de aplicação direta e de fácil utilização pelos usuários, está sendo desenvolvido o “software” SUGERE (Sistema Unificado para o GErenciamento de Resíduos) onde se procurou adotar uma abordagem geral integrada de todas as etapas envolvidas no gerenciamento de resíduos perigosos e de rejeitos radioativos de uma instalação. Este sistema visa auxiliar geradores, transportadores e receptores de resíduos, orientando o gerenciamento de resíduos ambientalmente problemáticos, em atendimento às exigências cada vez mais restritivas impostas pelo mercado, consumidores, agências e grupos ambientais.Neste trabalho é apresentado o estágio atual do SUGERE.
2. DEFINIÇÃO DE TERMOS
Alguns termos utilizados no desenvolvimento deste trabalho são definidos a seguir [1,2,3,4].
Condicionamento - operação que produz embalados de rejeito qualificados para manuseio,
liberação, transporte, armazenamento ou deposição, obedecendo critérios estabelecidos pelo Órgão Licenciador.
Critérios de Aceitação - critérios gerais estabelecidos pelo receptor de rejeitos, para os
embalados de rejeito, compreendendo os requisitos básicos de segurança para a aceitação de rejeitos para fins de destinação.
Embalado - conjunto formado pela embalagem e pelo seu conteúdo de rejeito.
Gerador - pessoa física ou jurídica que, como resultado de seus atos ou de qualquer processo,
operação ou atividade, produza e ofereça rejeitos para o transporte.
Programa de Gerência de Rejeitos- PGR (de Rejeitos Radioativos/PGRR ou de Resíduos Perigosos/PGRP) - documento em que se descrevem a metodologia e os controles
administrativos e técnicos que deverão ser implementados para atender o estabelecido pelo Sistema de Gerência de Rejeitos de uma instalação.
Prestadores de Serviços de Gerência ou Transporte – receptor ou transportador.
Receptor - pessoa física ou jurídica responsável pela destinação (armazenamento,
recuperação, reutilização, reciclagem, tratamento, eliminação ou deposição) de rejeitos.
Rejeito – resíduo perigoso ou rejeito radioativo.
Rejeito Radioativo - qualquer material resultante de atividades humanas, que contenha
radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de isenção especificados na Norma CNEN-NE-6.02, e para o qual a reutilização é imprópria ou não prevista.
Resíduos Perigosos – resíduos sólidos que, em função de suas propriedades físicas, químicas,
ou infecto-contagiosas, possam apresentar riscos à saúde pública ou à qualidade do meio ambiente, conforme NBR10004.
Resíduos Sólidos - resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de
origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.
Sistema de Gerência de Rejeitos - estrutura organizada estabelecida pela instalação para
atender aos objetivos da gerência de rejeito.
Sistema de Manifesto de Rejeitos - sistema de controle de rejeitos que, mediante o uso de
formulário próprio, denominado Manifesto de Rejeitos, permite conhecer e controlar a forma de destinação dada pelo gerador, transportador e receptor de rejeitos.
Transportador - pessoa física ou jurídica que transporte rejeitos.
3. GERENCIAMENTO DE REJEITOS
Antes do início da geração dos rejeitos, planos de gerenciamento abrangentes devem ser elaborados, com vistas a assegurar conformidade com todos os requisitos regulatórios aplicáveis. Esses planos devem incluir diretrizes para o gerenciamento durante todo o ciclo de vida do rejeito, definição clara e documentada das atribuições e responsabilidades dos envolvidos, descrição das rotinas de trabalho e das instalações e equipamentos disponíveis para as atividades locais do gerenciamento. Caso necessite, as etapas finais do gerenciamento
devem ser realizadas por instalações devidamente licenciadas ou credenciadas [5,6]. O planejamento deve incluir as atividades de prevenção e minimização da geração de rejeitos, bem como o reconhecimento dos problemas decorrentes dessa geração. Isto envolve: identificação dos fluxos de rejeito; determinação e localização dos possíveis pontos de geração; caracterização das atividades geradoras e dos rejeitos gerados; obtenção de dados existentes na empresa, referentes aos rejeitos gerados, seus tratamentos, locais de armazenamento e vias de disposição final; e observação das medidas de controle já existentes.
Atividades de triagem e segregação devem ser implementadas no ponto de geração dos rejeitos e, para cada fluxo de rejeito, planos de amostragem e de análise devem ser desenvolvidos e adequadamente implementados. Os rejeitos podem demandar processamento, visando: minimização da exposição de trabalhadores e indivíduos do público; conformidade com os requisitos da regulamentação vigente; segregação dos rejeitos em atendimento aos critérios de aceitação; ou redução de volume visando a minimização dos custos de transporte e de deposição. A melhor opção de processamento dependerá das características físicas, químicas e radiológicas dos rejeitos. Os rejeitos, devidamente acondicionados e aguardando transferência para uma instalação receptora, devem ser armazenados em concordância com a regulamentação aplicável. De uma maneira geral, os resíduos perigosos não devem ficar estocados no gerador por mais de 1 ano. Os rejeitos radioativos devem ser armazenados em instalações onde isolamento, proteção ambiental e controle humano são fornecidos.
Registros fidedignos de todos os dados coletados sobre os rejeitos gerados em uma instalação deverão ser conservados e mantidos de forma acessível às autoridades competentes, compondo o inventário de rejeitos daquela instalação.
No relacionamento entre o gerador, transportador e receptor deverão ser observados os procedimentos do Sistema de Manifesto de Rejeitos, aprovados pelo órgão licenciador [3]. Antes de se efetuar o transporte, a instalação receptora deve ser notificada e dar o aceite. Os embalados devem atender aos requisitos dos critérios de aceitação e aqueles transferidos deverão ser rastreados e monitorados para se assegurar que o recebimento tenha ocorrido com segurança. A instalação receptora deve dar confirmação aos seus clientes de que o carregamento de embalados foi devidamente recebido e que o rejeito foi tratado ou disposto apropriadamente. Esses documentos de confirmação são registros de qualidade e devem ser mantidos juntos aos registros dos rejeitos.
4. O PROGRAMA SUGERE
O programa SUGERE, desenvolvido em ambiente Borland Delphi®, deverá ser uma ferramenta de orientação quanto ao gerenciamento de rejeitos, permitindo um rastreamento rigoroso nas etapas de geração, armazenamento, transporte, condicionamento e disposição final, bem como a manutenção do inventário atualizado dos rejeitos em questão. No seu desenvolvimento, foi adotada uma abordagem geral integrada das etapas que envolvem o gerenciamento de resíduos perigosos ou de rejeitos radioativos de uma instalação. A sua aplicação estimulará o planejamento adequado do gerenciamento de rejeitos, antes mesmo de sua geração, com as seguintes vantagens: aumento de produtividade da instalação pela minimização dos desperdícios; redução dos custos decorrentes pela minimização da geração;
e proteção da saúde humana e meio ambiente pela implementação de atividades de prevenção da poluição.
Na sua versão final, o programa SUGERE deverá permitir: acesso rápido à situação dos rejeitos de uma instalação; emissão de relatórios para os órgãos licenciadores; rastreamento dos rejeitos nas etapas do gerenciamento; classificação de resíduos perigosos e de rejeitos radioativos, conforme ABNT [4] e- CNEN [1]; preparação de Manifestos de Rejeitos e de documentação para transferências e transportes externos; estabelecimento de procedimentos e recomendações para o processamento de rejeitos; visualização de opções de formulários para o controle dos rejeitos; orientação quanto ao atendimento aos critérios de aceitação estabelecidos pelas instalações receptoras; controles visando o gerenciamento dos rejeitos condicionados; e rastreamento dos rejeitos transferidos a instalações centralizadas.
O Diagrama de Fluxos de Dados (DFD) [7] simplificado do SUGERE é apresentado na Figura 1. Nele é mostrado o fluxo de dados entre o sistema e geradores, prestadores de serviços de gerência e transporte, órgãos normativos e licenciadores, bem como seus processos fundamentais e os depósitos de dados utilizados e mantidos. A partir dos dados sobre os resíduos e das normas aplicáveis, são identificados, caracterizados e classificados os resíduos perigosos e os rejeitos radioativos da instalação. Conhecida a infra-estrutura local para tratamento, condicionamento e armazenamento dos rejeitos, verifica-se a necessidade ou não da utilização de instalações centralizadas para as etapas finais da gerência. O PGRR ou PGRP aprovado pelos órgãos competentes deverá ser cumprido pelo gerador. No caso de utilização de instalação centralizada para o gerenciamento dos rejeitos, o gerador deverá preparar os embalados de acordo com os critérios de aceitação dessa instalação e submeter o plano de transporte ao órgão licenciador para efetivar a transferência dos embalados.
Informações sobre o RR e RP da instalação Gerência interna Gerência da prestação de serviço Embalado Critério de aceitação
Elaboração e controle do PGRP e PGRR Enbalado transferido Prestadores de serviço de gerência e transporte Instalação
licenciada ou credenciada processos disponíveis
Órgão licenciador Manifesto / plano de transporte submetido Manifesto / plano de transporte aprovado PGRR e PGRP submetido Relatórios periódicos PGRR e PGRP aprovado Prestador de serviço de gerência e transporte Critérios de aceitação Embalado Processo de prestação de serviço Embalagens Instalações e processos de gerência local Gerador Dados dos resíduos sólidos PGRR e PGRP aprovado Normas Órgão normativo/regulador
Na Figura 2 é mostrada a tela principal do SUGERE, no seu estágio atual de desenvolvimento, onde os principais módulos podem ser visualizados. O primeiro módulo (Fase 1 – Geração) refere-se às etapas do gerenciamento de rejeitos na origem. É composto pelas etapas: Prevenção/Minimização, com metodologias para a prevenção e minimização da geração de rejeitos; Identificação dos fluxos de rejeito, que trata da identificação das atividades geradoras e das características dos fluxos de rejeito; Segregação, com orientações quanto à separação dos rejeitos, em função de suas características; Acondicionamento inicial, para atender requisitos de armazenamento e transporte; Caracterização, com metodologias para a caracterização e classificação dos resíduos de acordo com a regulamentação vigente; e
Registro/Inventário, referente ao registro e manutenção do inventário de rejeitos da
instalação.
Figura 2. Tela principal do “software” SUGERE (estágio atual).
O segundo módulo (Fase 2 – Armazenamento) trata basicamente das atividades envolvidas no armazenamento de rejeitos. É composto pelas etapas: Embalagens/Tanques, com metodologias para a seleção de embalagens para armazenamento e transporte de rejeitos;
Classificação dos Geradores, abordando metodologia para classificação dos geradores de
acordo com a periculosidade e inventário dos rejeitos produzidos; e Gerenciamento do
Armazenamento, com requisitos para o gerenciamento do armazenamento.
O terceiro módulo (Fase 3 – Disposição Final) engloba as atividades de transporte e de disposição final, como também outras atividades do gerenciamento realizadas em instalações centralizadas. É composto pelas etapas: Preparo/Transferência, com as atividades de
preparação dos embalados para o transporte, tratamento/condicionamento local ou em instalações centralizadas; Transporte, referente ao gerenciamento do transporte de rejeitos; e
Disposição Final, que trata da seleção de instalação licenciada/credenciada receptoras,
requisitos para armazenamento e deposição e documentação para transporte e deposição.
5. ESTÁGIO ATUAL DO SUGERE
A versão atual do SUGERE contém orientações gerais para a gerência de resíduos perigosos e radioativos de uma instalação e suas respectivas etapas. Com uma interface de fácil utilização o “software” inclui ícones que permitem obter informações sobre a utilização do sistema, uma visão geral sobre suas características, glossário de termos da área de gerência de rejeitos, relação de normas aplicáveis, procedimentos para algumas etapas, tais como, classificação de resíduos perigosos e de rejeitos radioativos, e elaboração de planos de transporte. O posicionamento do mouse em qualquer ícone, caixa de texto ou figura permite a obtenção de informações sobre o seu conteúdo, facilitando a navegação pelas etapas detalhadas nos formulários que se abrem. Em cada etapa, textos e fluxogramas que orientam a sua utilização vão sendo construídos à medida que informações sobre o rejeito, processo ou instalação vão sendo fornecidas. Estas informações são gravadas para subsidiar a elaboração do PGRR ou do PGRP da instalação.
Já está implementado, para agilizar a etapa de classificação, um banco de dados com resíduos listados e as substâncias tóxicas e agudamente tóxicas, conforme a ABNT [4]. Inclui também dados sobre os elementos radioativos e seus limites de eliminação, conforme CNEN [1].
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta versão do SUGERE ainda não contempla a elaboração do PGRR e do PGRP, sendo apenas fornecidas orientações gerais e guardadas informações para subsidiar a sua elaboração. Falta também a implementação, em todo ou em parte, dos outros recursos previstos, mencionados no item 4 deste trabalho.
REFERÊNCIAS
1. COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR. Gerência de rejeitos radioativos
em instalações radiativas. Rio de Janeiro: CNEN, 1985. (CNEN-NE–6.05).
2. INTERNATIONAL ATOMIC ENERGY AGENCY. Radioactive waste management
glossary. Vienna: IAEA, 2003.
3. Manifesto de resíduos. http://www.feema.rj.gov.br/manifesto_residuos.htm.(2005).
4. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Resíduos sólidos
-classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. (ABNT NBR 10004:2004).
5. BATISTON, R.; SMITH, J. E. Jr. & WILSON, D., The safe disposal of hazardous wastes – the special needs and problems of developing countries, 1989 (World Bank Technical Paper Number 93).
6. CHEREMISINOFF, N. P. & GRAFFIA, M., Safety management practices for hazardous
materials, Marcel Dekker, Inc., New York, NY, EUA (1995).
7. GANE, C. & SARSON, T., Análise estruturada de sistemas. Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., Rio de Janeiro, Brasil (1995).