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Clipping SCA. Data de Criação: 10/02/2021. Criado por: Biblioteca SP

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Data de Criação: 10/02/2021

Criado por: Biblioteca SP

Clipping SCA

Os artigos reproduzidos neste clipping de notícias são, tanto no conteúdo quanto na forma, de inteira responsabilidade de seus autores. Não traduzem, por isso mesmo, a opinião legal ou manifestação de integrante da SiqueiraCastro.

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Sumário das

Matérias:

Novas ferrovias poderão ter ‘selo verde’

Valor ––10 de fevereiro...01 País convive com herança estatal do II PND

Valor ––10 de fevereiro...04 STF decide a favor da defesa de Lula e nega recurso contra uso de mensagens

Valor ––10 de fevereiro...07 Green bonds soberanos brasileiros, por que não? Valor ––10 de fevereiro...09 Novo conceito para o ‘forward guidance’

Valor ––10 de fevereiro...11 Estudo indica 40 impactos negativos da Ferrogrão Valor ––10 de fevereiro...15 Mercado livre assumirá custo de térmicas, afirma MME Valor ––10 de fevereiro...17 Movimento falimentar

Valor ––10 de fevereiro...19 Fleury investe em público sem convênio médico Valor ––10 de fevereiro...21 CVM multa Gradual e diretora em caso de fundo Valor ––10 de fevereiro...23 GameStop: ética ou populismo?

Valor ––10 de fevereiro...25 Pequena empresa corre mais risco de ser autuada Valor ––10 de fevereiro...28 STJ mantém ISS sobre armazenamento de carga Valor ––10 de fevereiro...31 Porto Alegre terá projeto-piloto de mediação tributária

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Valor ––10 de fevereiro...33 Bem de família de alto padrão é impenhorável Valor ––10 de fevereiro...35 Disputa sobre ICMS em São Paulo tem nova decisão na Justiça

Folha ––10 de fevereiro...38 Desafeto de Bolsonaro, Macron mira política ambiental do Brasil e sugere à União Europeia impor condições a acordo com Mercosul

Globo ––10 de fevereiro...39 ‘Se nada for feito’, contas de luz podem subir 13% em 2021, diz Aneel

Globo ––10 de fevereiro...42 MPF questiona Ibama sobre critérios usados para mudança de decisão sobre Belo Monte

OESP ––10 de fevereiro...44 TJ-SP rejeita ação contra lei sobre gestão de

equipamentos culturais do Theatro Municipal

Conjur ––10 de fevereiro...46 STF autoriza privatização de seis estatais sem lei específica

Migalhas ––10 de fevereiro...48 STJ mantém multa a João Dória por campanha ‘São Paulo-Cidade Linda’

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Valor Econômico

Caderno: Primeira Página,

quarta-feira 10 de fevereiro de 2021.

Novas ferrovias poderão ter

‘selo verde’

Certificação concedida por

instituição britânica permitirá às concessionárias comercializar créditos de carbono no mercado Por Daniel Rittner — De Brasília

Três novas ferrovias, em projeto ou já em obras - Ferrogrão, Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) -, serão leiloadas ao setor privado com um atrativo inédito para potenciais investidores: um “selo

verde” que permitirá às

concessionárias comercializar

créditos de carbono no mercado. O certificado seria concedido pela Climate Bonds Initiative (CBI) - instituição britânica sem fins lucrativos que promove ações para reduzir o impacto das mudanças climáticas. As medidas necessárias à obtenção do selo caberão às concessionárias.

01

Novas ferrovias vão ter “selo

verde” para mercado de

carbono

Fiol, Fico e Ferrogrão serão

leiloadas com carimbo

sustentável e poderão vender créditos

Por Daniel Rittner — De Brasília

Larissa Amorim: vantagem do “selo verde” está na possibilidade de comercializar créditos de carbono — Foto: Geraldo Magela/Agência Senado Três novas ferrovias em projeto ou já em obras - Ferrogrão, Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) - serão leiloadas ao setor privado com um atrativo inédito para potenciais investidores: um “selo verde” que permitirá às futuras

concessionárias, quando elas

estiverem em plena operação, comercializar créditos de carbono no mercado.

As três ferrovias foram escolhidas pelo Ministério da Infraestrutura como principais candidatas a receber um certificado da Climate Bonds Initiative (CBI) - instituição sem fins

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lucrativos com sede em Londres e que

promove ações para remediar

mudanças climáticas - como projetos sustentáveis. Dias atrás, uma avaliação externa concluiu que os três

empreendimentos cumprem as

exigências necessárias para

conquistar esse almejado carimbo. Os procedimentos oficiais para a obtenção do “selo verde” junto à CBI deverão ser conduzidos efetivamente pelas próprias concessionárias. Isso ainda significa passar pela aprovação formal de um conselho independente da instituição. O “pulo do gato”, no curto prazo, é que esses projetos já vão a leilão com um atestado de que são mesmo elegíveis à certificação e só precisam percorrer trâmites essencialmente burocráticos para ostentar reconhecimento definitivo como sustentáveis.

O leilão do primeiro trecho da Fiol, entre os municípios baianos de Ilhéus e Caetité, está marcado para o dia 8 de abril. No caso da Ferrogrão, os estudos de viabilidade e a minuta de edital estão em análise no Tribunal de Contas da União (TCU). A intenção do governo é oferecê-la ao mercado no fim deste ano. Já a Fico, entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT), será construída pela Vale, como

02 contrapartida à recém-assinada renovação de suas concessões ferroviárias até 2057, e depois haverá um leilão para estipular quem vai operá-la.

A subsecretária de Sustentabilidade do Ministério da Infraestrutura, Larissa Amorim, aponta ao menos duas grandes vantagens na obtenção do “selo verde” pelas futuras

concessionárias. Uma é a

possibilidade de comercializar créditos de carbono depois de calcular, a cada ano, qual foi o montante de emissões de gases-estufa evitadas pelo uso da ferrovia e não de outro modal (como o rodoviário). Na Ferrogrão, por exemplo, o ministério calcula uma redução acima de 50% das emissões quando comparadas às outras vias de escoamento, como pela BR-163.

Os recursos angariados com a eventual venda desses créditos entram no fluxo de caixa das concessionárias como receitas complementares e podem elevar a taxa de retorno dos projetos, fazendo diferença na viabilização do negócio. Outra hipótese mencionada por Larissa é a atração, para compor os consórcios dos leilões, de empresas ou fundos de investimento que hoje operam empreendimentos com saldo negativo de emissões e querem ficar mais perto de uma pegada “carbono neutra”. Por isso, podem usar as três ferrovias como uma forma de diminuir esse saldo ou até neutralizar a balança.

O atestado ambiental também deve facilitar, conforme lembra a

subsecretária, pedidos de

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execução das obras. Hoje as

instituições financeiras têm

protocolos mais rigorosos de ESG - sigla em inglês para meio ambiente, social e governança -, o novo tripé da

linguagem corporativa para

impulsionar projetos sustentáveis e dificultar a vida dos poluentes.

Para passar no funil da CBI, as ferrovias precisam comprovar três requisitos: 1) coeficiente de emissões de CO2 equivalente de até 25 gramas por tonelada-quilômetro; 2) o transporte de combustíveis fósseis deve ser de, no máximo, 25% do frete total; e 3) redução de pelo menos 25% das emissões de gases do efeito-estufa

na comparação com o modal

rodoviário. O cumprimento foi atestado pela Ernst & Young, que atua como avaliadora externa da CBI na etapa de pré-certificação.

De acordo com a subsecretária, outros projetos da carteira do ministério poderão ser enquadrados mais

adiante. Ela citou, como

possibilidade, aeroportos que consigam reduzir emissões das aeronaves de alguma forma.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2 021/02/10/novas-ferrovias-vao-ter-selo-verde-para-mercado-de-carbono.ghtml Retorne ao índice

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, quarta-feira 10 de

fevereiro de 2021.

País convive com herança

estatal do II PND

Apesar das polêmicas, todo

governo reduz Estado na

economia

Embora não tenham desmontado inteiramente, até os dias atuais, o modelo nacional desenvolvimentista que faliu durante a crise da dívida, em 1982, todos os presidentes, desde então, diminuíram a participação do Estado brasileiro na economia (ver gráfico abaixo). Praticamente todos privatizaram ou concederam ao setor privado a gestão de serviços públicos como rodovias, telefonia e aeroportos, algo, ainda hoje, impensável para os defensores de um Estado utópico, provedor de bens e serviços de qualidade.

O fato de todos os governos terem vendido estatais significa que o modelo de desenvolvimento exauriu-

04

se, isto é, tornou-se insustentável do ponto de vista de seu financiamento tanto fiscal (recursos públicos) quanto externo (dívida bancária). O negacionismo dessa realidade - o pior defeito de um governante - por setores da burocracia estatal, do empresariado, da classe média e do meio político à esquerda e à direita produziu nas décadas seguintes a ruína econômica, traduzida pelo advento da hiperinflação, pela queda brutal da taxa média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), pela deterioração da infraestrutura, pela forte contração das taxa de investimento dos setores público e privado etc.

Apesar das polêmicas, todo

governo reduz Estado na

economia

O II Plano Nacional de

Desenvolvimento (II PND) foi lançado em 1974, no governo Geisel (1974-1979), como resposta à crise

internacional provocada pela

primeira crise do petróleo. O objetivo,

conforme anunciou o então

presidente na ocasião, era evitar que a Ilha de Vera Cruz caísse numa recessão.

Bem, o II PND não foram medidas tópicas, conjunturais, como redução de impostos, corte de juros ou oferta de crédito oficial subsidiado, mas,

sim, um amplo conjunto de

iniciativas, envolvendo o governo, o setor privado e o capital externo. Foi a maior intervenção do Estado na economia na história deste território. O objetivo do II PND era dotar o país de infraestrutura comparável à de nações ricas, de um poderoso setor de

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bens de produção (nos setores siderúrgico, de química pesada, metais não ferrosos e minerais não metálicos) e de energia (petróleo e derivados, energia hidroelétrica e fontes alternativas como etanol e energia nuclear).

Foram durante aqueles anos que o número de estatais atingiu o ápice (382, segundo estudo da OCDE de 2017, realizado a partir de dados fornecidos pelo governo brasileiro). Toda a estratégia só seria viável se a taxa de juros, o custo dos quase US$ 100 bilhões que o país tomou emprestado na década de 1970, jamais subisse aqui e no mercado, “eppur si muove” (mas, ela se move). Com a segunda crise do petróleo, deflagrada em 1979, a inflação americana escalou degraus até chegar a 20% e, para abaixá-la, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) moveu as taxas de juros com a mesma intensidade. Uma continha rápida, grosso modo, evidentemente: no início daquela década, o país chamado Brasil devia pouco mais de US$ 6 bilhões ao exterior e o juro no mercado internacional era negativo; no início da década de 1980, a dívida estava em US$ 100 bilhões, e a taxa de referência do Fed, acima de 20%. Que tal?

A crise da dívida, “a mãe de todas as crises”, se deu em 1982, quando o presidente era o general João Baptista Figueiredo, o último da longa

ditadura militar (1964-1985)

instaurada por aqui. Já movido pela necessidade de desidratar o Estado criado pelo II PND, Figueiredo instituiu o Programa Nacional de

05

Desburocratização (Decreto n

83.740/79), liderado por Hélio Beltrão e o que mais fez pela “causa”, e criou a Secretaria Especial de Controle das Empresas Estatais (SEST).

“Foi a primeira manifestação concreta

de uma preocupação com o

gigantismo estatal, com o claro objetivo de introduzir uma primeira agenda de reforma do Estado”, diz Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho,

especialista no tema das

privatizações, tendo trabalhado na modelagem de algumas operações quando trabalhou no BNDES. “A primeira Comissão de Especial de Desestatização foi criada em 1981 [Decreto Presidencial 86215/1981] e fixou normas para transferência e desinvestimentos das empresas controladas, identificando na ocasião 140 prontas para serem vendidas.” No governo Sarney (1985-1990), o tema privatização começou a ser discutido e, pela primeira vez, associou-se a venda de estatais à redução do endividamento público interno e externo (via conversão de dívida). Até hoje, alguns críticos fazem muxoxo em relação a isso,

esquecendo-se de um fato

importante: aquela miríade de estatais foi criada às custas do endividamento interno e externo do país. Nada mais justo e razoável que o dinheiro arrecadado com a venda seja destinado à amortização da dívida. O governo Sarney tentou, com a edição de vários decretos, ampliar o alcance do programa de venda das empresas, observa Chrysostomo, mas foi muito pressionado por grupos de interesses privados a não privatizar nada.

(9)

“O Brasil vem realizando diversas desestatizações há mais de 30 anos, incluindo-se modelos de venda de controle, vendas de participação minoritária, concessões públicas e

parcerias público-privadas

(administrativas ou patrocinadas), presentes em todos os entes da federação”, conta Chrysostomo, que trata do assunto no livro “Reforma do Estado no Brasil” (Atlas, 2020), organizado pelo economista Fabio Giambiagi.

Cristiano Romero é

editor-executivo e escreve às quartas-feiras E-mail:cristiano.romero@valor.com.br https://valor.globo.com/brasil/coluna/p ais-convive-com-heranca-estatal-do-ii-pnd.ghtml Retorne ao índice 06

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Valor Econômico

Caderno: Politica, quarta-feira 10 de

fevereiro de 2021.

STF decide a favor da defesa de

Lula e nega recurso contra uso

de mensagens

Decisão fortalece tese de ex-presidente sobre suspeição de ex-juiz Sergio Moro

Por Luísa Martins — De Brasília

Cármen Lúcia: em voto surpreendente, ministra ela votou a favor do acesso de defesa de Lula a vazamento de “hackers” — Foto: Reprodução/Youtube

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) negou o

recurso apresentado pelos

procuradores da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba e manteve válido o compartilhamento das mensagens da Operação Spoofing com a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O placar foi de 4 a 1.

07

Os ministros Nunes Marques, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes votaram para referendar a decisão do relator, ministro Ricardo Lewandowski, que autorizou o acesso dos advogados ao material. Ficou vencido apenas o ministro Edson Fachin.

Interceptadas por um grupo de hackers em 2019, as mensagens indicam que o coordenador da força-tarefa, procurador Deltan Dallagnol, e o então juiz Sergio Moro consultavam um ao outro nos atos processuais das ações penais envolvendo Lula, o que

comprometeria as atuações

independentes que, por lei, seriam obrigados a adotar.

Os advogados de Lula devem anexar o material nos autos do habeas corpus (HC) em que pedem ao STF o reconhecimento da suspeição de Moro. Há expectativa de que esse julgamento ocorra ainda neste semestre; O ex-presidente teve uma condenação por corrupção passiva e lavagem relacionado a um triplex no Guarujá. Ontem o caso transitou em julgado na terceira instância, com a rejeição pelo STJ do último recurso da defesa do ex-presidente.

O colegiado não entrou no mérito sobre a licitude do material como prova, mas ministros não deixaram de falar sobre o conteúdo dos diálogos. Lewandowski disse que apenas concedeu à defesa acesso a elementos de convicção que estavam em poder

do Estado. “É extremamente

impactante o que veio à tona e causa perplexidade em todos aqueles com o mínimo conhecimento do devido processo legal”, disse. “A amostra do

(11)

material já se afigura apta a evidenciar, ao menos em tese, uma parceria indevida entre órgão julgador e acusação.”

Em um voto breve, Marques votou

pela manutenção do

compartilhamento das mensagens por uma questão preliminar técnica: ele entendeu que os procuradores do

MPF de Curitiba não tinham

legitimidade para apresentar o recurso. Apesar de seu alinhamento à ala garantista já ser conhecido, seu voto pró-Lula inflamou, nas redes sociais, as críticas ao presidente Jair Bolsonaro por tê-lo indicado ao STF. O voto de Cármen foi o que mais surpreendeu. Em geral, em processos envolvendo Lula, ela vinha aderindo à corrente pró-Lava-Jato de Fachin. Ontem, contudo, uniu-se à maioria. “Se a Polícia Federal e os procuradores têm acesso ao material e isso não representa risco, por que o réu não poderia ter?”, questionou. Com mais um duro voto contra os procuradores de Curitiba, Gilmar afirmou que “a extrema gravidade dos acontecimentos exige que se confira à defesa o direito de impugnar eventuais ilegalidades processuais”. E ironizou: “Se os diálogos não existiram, os hackers de Araraquara são notáveis ficcionistas, dignos de um prêmio Nobel de literatura. Se existiram, é o maior escândalo judicial da humanidade.”

Fachin foi o único a divergir. Disse que, embora a estratégia de defesa tenha sido impetrar uma reclamação sorteada ao ministro Lewandowski, deveria ser ele próprio a decidir sobre questões relacionadas às ações penais da Lava-Jato. Segundo o ministro, os

08 advogados do petista deveriam ser impedidos de usar o material nos processos até que o plenário da Corte decidisse sobre a licitude das provas. https://valor.globo.com/politica/noticia/ 2021/02/10/stf-decide-a-favor-da- defesa-de-lula-e-nega-recurso-contra-uso-de-mensagens.ghtml

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Valor Econômico

Caderno: Opinião, quarta-feira 10 de

fevereiro de 2021.

Green bonds soberanos

brasileiros, por que não?

Green bonds soberanos

poderiam ser ferramenta útil

para reduzir o risco de

financiamento do país

Por Fábio Coelho e Marcelo Seraphim

— Foto: Naster/Pixabay

2021 se inicia com o aumento exponencial do apetite de empresas em captações de recursos por meio do financiamento de projetos com pegada sustentável. Entre países, vimos no último ano que a Alemanha realizou sua primeira emissão de

09

green bonds soberanos na história, com demanda quase cinco vezes superior aos € 6,5 bilhões colocados em títulos de dez anos.

A entrada de uma das maiores economias do mundo no mercado de títulos de dívida voltados a projetos ambientalmente orientados reacende o debate sobre a inclusão de critérios de sustentabilidade na gestão da dívida pública e gera uma provocação sobre como o Brasil poderia lançar mão de tal instrumento.

É imperativo que o país avalie

esta alternativa como

instrumento de financiamento da dívida pública

O sucesso da iniciativa alemã e as perspectivas de que a União Europeia financie 30% de seu pacote de auxílio de € 750 bilhões para superar a pandemia de covid-19 via green bonds soberanos estão sendo consideradas catalisadores para acelerar ainda mais a expansão deste mercado. Entre 2016, quando a Polônia emitiu o primeiro green bond soberano da história, e o início de 2020, foram

arrecadados US$ 60 bilhões

globalmente - sendo que a França, o maior emissor, atraiu 45 % do total. Além do aumento do endividamento público causado pelas medidas de combate à pandemia, há outros fatores estruturais que justificam o crescimento desse mercado. À medida que riscos climáticos se tornam mais

extremos e que compromissos

públicos de adoção de medidas

alinhadas aos objetivos de

desenvolvimento sustentável (ODS), green bonds se transformam em

(13)

alternativa viável para fomentar a transformação e transição para uma economia de baixo carbono.

Entre as economias em

desenvolvimento, desde 2017, quando as Ilhas Fiji se tornaram o primeiro país emergente a emitir green bonds soberanos para mitigar efeitos das mudanças climáticas, o mercado se expandiu vigorosamente. A América Latina, em especial, tem se posicionado como a nova fronteira dos green bonds soberanos, após o Chile obter quase US$ 6 bilhões em sua primeira emissão, enquanto Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, México e Peru se organizam para realizar suas próprias operações. De acordo com o IFC, a região hoje concentra o maior número de novos mercados para green bonds entre emergentes, com 40 emissores em 11 países.

Em recente relatório, o International Finance Corporation (IFC), braço de investimentos do Banco Mundial, ressalta que o ambiente de juros baixos favorece o crescimento de novos instrumentos no mercado de capitais. No caso de ativos ecologicamente corretos, como green bonds e green bonds soberanos, o documento avalia que existe espaço para acreditar que, no longo prazo, esses produtos poderiam fornecer retornos maiores e mais estabilidade para o investidor.

Como se trata de instrumento relativamente recente, é natural que existam desafios, em especial a

qualidade e quantidade de

informações para mensuração de resultados, conhecimento a respeito dos ativos e liquidez do mercado. Para países emergentes, o desafio inclui

10 dificuldades adicionais, como instabilidades político-econômicas e mercados de capitais incipientes. No caso brasileiro, vimos nossa dívida

pública se expandir

consideravelmente para cobrir os gastos com a pandemia, com o déficit primário do setor público estimado em mais de 10% em 2020. A maior parte desse endividamento foi financiado pela emissão de títulos de curto prazo. Como resultado, o Tesouro reduziu sua estimativa de prazo médio para o vencimento da dívida para o intervalo de 3,5 a 3,8 anos - um sinal do maior risco de refinanciamento.

Green bonds soberanos, conhecidos por suas maturidades mais longas, poderiam ser ferramenta útil para reduzir o risco de financiamento do país. No entanto, é preciso fazer três

parênteses a respeito dessa

construção no Brasil.

O primeiro, de ordem conceitual, é que títulos marcados como green bonds não podem ser utilizados para fins que não o de seus propósitos originais. Estabelecer esta estrutura no país representa um desafio, mas há expectativas de elevado potencial do país em termos de projetos e recursos naturais torne o projeto viável. Segundo a Climate Bonds Initiative, o país poderia receber US$ 163 bilhões em financiamento verde apenas em projetos agrícolas.

O segundo ponto, que permitiria que os green bonds soberanos pudessem destravar parte desse potencial,

exigiria uma construção de

direcionamento do capital levantado especificamente a projetos verdes. No entanto, a Resolução 20 de 2004 do

(14)

Congresso, que dispõe sobre o financiamento da dívida pública, destina recursos obtidos com

operações de emissão e de

administração de passivos

exclusivamente ao pagamento da dívida pública lato sensu, sem portanto permitir uma espécie de direcionamento. Assim, a instauração desta nova categoria de instrumento de dívida no país dependeria, também, de uma revisão ou nova construção regulatória.

E o terceiro, diz respeito à construção da credibilidade do emissor para questões relacionadas a aspectos ESG. Investidores institucionais têm exigido padrões elevados na melhoria do ambiente de negócios e na gestão responsável da pauta ambiental, que inclusive gerou várias reuniões de engajamento e cobranças junto ao

governo federal. Seria um

contrassenso seguir com emissão soberana sem atacar de forma mais organiza esses pontos. Apesar desses

entraves, durante recente

apresentação, o próprio Tesouro trouxe a referência de que está discutindo requisitos para construção do que chamou de “emissão soberana ESG”.

Sob qualquer aspecto, estruturar um arcabouço para o mercado de green bonds soberanos não é tarefa simples. Experiências internacionais como estas evidenciam que o Brasil ainda tem muito o que percorrer antes de emitir seus primeiros títulos verdes, mas que é imperativo que o país avalie esta alternativa como instrumento de financiamento da dívida pública nacional, pois negligenciá-la é correr o risco de perder oportunidades de

11 desenvolvimento ímpares. A adoção dos green bonds soberanos como fonte alternativa de recursos demanda preparação urgente, com articulação de equipes técnicas e sensibilização política.

Fábio Coelho é presidente da

Amec (Associação dos

Investidores no Mercado de Capitais) e professor da FGV. Marcelo Seraphim é head do PRI no Brasil.

https://valor.globo.com/opiniao/coluna/ green-bonds-soberanos-brasileiros-por-que-nao.ghtml

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Valor Econômico

Caderno: opinião, quarta-feira 10 de

fevereiro de 2021.

Novo conceito para o ‘forward

guidance’

FG mais amplo discutiria

reações alternativas para

cenários com trajetórias mais desfavoráveis para os preços

Na ata da reunião de 9 de dezembro, o Copom manteve o ‘forward guidance’ (FG) de que não reduziria os estímulos monetários desde que

cumpridas algumas condições:

permanência das expectativas de inflação e das projeções de seu cenário básico abaixo da meta de inflação; manutenção do regime fiscal; e a continuação da ancoragem das expectativas de longo prazo. O comitê sugeriu que essa orientação deixaria de fazer sentido à medida que o foco principal da política monetária migrasse para 2022, pois as expectativas e projeções para o

próximo ano já estariam

suficientemente próximas da meta. Já na ata da reunião de 20 de janeiro, o Copom retirou o FG e apontou que as condições tinham deixado de ser satisfeitas, pois as expectativas e as suas projeções para o cenário básico estavam próximas da meta também para 2021. O comitê continuou tratando o FG como um substituto para o receituário do regime de metas

12

de inflação, baseado na análise do balanço de riscos para a inflação prospectiva.

FG amplo discutiria reações alternativas a cenários com trajetórias mais desfavoráveis para os preços

Da mesma forma que a maioria dos participantes de mercado, o Copom entende o FG como um mecanismo passível de utilização quando a taxa Selic se encontra próxima a um patamar em que reduções adicionais dos juros podem gerar riscos para a estabilidade financeira, bem como induzir decisões imprudentes.

Ao utilizar o instrumento dessa

forma, o Copom aumenta a

volatilidade dos preços em diversos mercados. Na reunião de dezembro, por exemplo, a orientação era de que as condições existentes prescreviam a estabilidade dos juros por um período prolongado. Já na reunião seguinte,

alguns membros do comitê

defenderam que o início da redução dos estímulos monetários deveria ser considerado. Essa rápida mudança torna menos crível e eficiente esse conceito de FG.

Ao contrário da leitura dominante, julgo que o FG é um instrumento complementar, e não substituto, ao regime de metas de inflação. Seu objetivo é aprimorar a coordenação das expectativas por meio de uma melhor compreensão sobre a função de reação do Banco Central (BC) nos cenários prospectivos mais prováveis. Nesse contexto, não haveria razão para retirada do FG, pois o mecanismo seria continuamente

(16)

alterado em conformidade com a modificação da avaliação sobre os fundamentos.

Essa maior transparência carrega riscos. Ao explicitar quais os cenários mais prováveis, o Copom tem de assumir o risco de errar e de alterar sua leitura. Uma parcela do mercado critica o FG sob o argumento de que o desconhecimento sobre o futuro impede sua adoção, pois erros de avaliação enfraqueceriam a reputação

do Copom. Discordo dessa

interpretação. O FG não é um compromisso inarredável para a trajetória dos juros. Desvios nas probabilidades atribuídas aos cenários causariam, por definição, alteração das respostas de política monetária.

Essa forma de utilização do FG teria permitido, por exemplo, que a prescrição dos últimos meses de estabilidade dos juros por um período longo tivesse sido paulatinamente modificada, em linha com a alteração na distribuição de probabilidades para os cenários prospectivos.

A dinâmica desfavorável da inflação desde o 3º trimestre aumentaria a chance da retirada mais cedo de parte dos estímulos monetários. O comitê indicaria em outubro, por exemplo, que as surpresas inflacionárias elevavam a probabilidade dos cenários de alta mais permanente da inflação e, portanto, de aumento da taxa Selic em 2021. A ata de dezembro mencionaria que os cenários mais prováveis seriam aqueles com elevação de juros no 1º semestre. Finalmente, a ata de janeiro listaria as razões que tornariam mais provável o cenário com alta da taxa Selic em

13 março, explicando em que condições o aumento seria postergado.

As medianas das projeções de inflação de 3,6% em 2021 e de 3,5% em 2022 assumem possivelmente: hiato do produto aberto; recuperação lenta do número de postos de trabalho; moderação da inflação de alimentos com o fim dos programas de transferência de renda; elevação gradual da inflação de serviços devido ao elevado desemprego e à evolução demorada da vacinação; ampliação da oferta de cereais como resposta aos preços elevados; e redução da pressão de custos por conta de uma esperada apreciação do real e da normalização das cadeias de produção. O novo conceito de FG discutiria a provável reação do Copom a esse cenário, sinalizando um ciclo de aperto monetário com reduzida magnitude e duração.

Um FG mais amplo também discutiria reações alternativas para os cenários com trajetórias mais desfavoráveis para os preços. A deterioração do balanço de riscos para a inflação IPCA nos últimos meses, com a inflação acumulada em 12 meses podendo alcançar 7% em meados do ano, sugere que essa migração tem potencial de ocorrer. A inflação de administrados aumentará com os maiores preços de energia elétrica e de petróleo e com a concessão de reajustes represados no segmento de saúde. Ao acelerar a normalização da economia, o avanço da imunização tende a elevar a inflação, em particular de serviços. Eventuais juros

globais mais altos ou uma

depreciação substancial do real, seja

por conta de um movimento

(17)

seja devido à deterioração fiscal, também podem pressionar a inflação. Em suma, o FG que tenho em mente explicitaria melhor a função de reação do BC em diferentes cenários para os temas discutidos na ata de janeiro: trajetória da inflação; evolução da pandemia; atividade; e política fiscal. Esse FG também detalharia melhor o

que o Copom entende por

“normalização parcial” frente ao “grau

extraordinário de estímulos

monetários”.

A chance de implementação dessa estratégia, porém, é muito baixa por ora. Mesmo assim, julgo que seria

meritório adotar, mesmo que

gradualmente, um novo conceito de ‘forward guidance’, dando um significado muito mais completo ao instrumento. Essa decisão fortaleceria a previsibilidade na economia, bem como aumentaria a transparência da atuação do BC, ainda mais quando se avizinha a aprovação da sua autonomia formal no Congresso. Nilson Teixeira, sócio-fundador da Macro Capital Gestão de

Recursos, escreve

quinzenalmente neste espaço https://valor.globo.com/opiniao/coluna/ novo-conceito-para-o-forward-guidance.ghtml Retorne ao índice 14 [

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Valor Econômico

Caderno: Brasil, quarta-feira 10 de

fevereiro de 2021.

Estudo indica 40 impactos

negativos da Ferrogrão

Perturbação da fauna, redução

do estoque de carbono e

diminuição da flora nativa são alguns dos possíveis problemas em obras da ferrovia

Por Daniel Rittner — De Brasília

Um dos maiores projetos na carteira de infraestrutura do governo, a Ferrogrão poderá ter 40 impactos socioambientais negativos, sendo 12 de “alta significância”, como risco de interferência em áreas de proteção

permanente (APPs) e de

contaminação dos recursos hídricos na região.

Esses efeitos foram identificados na versão preliminar dos estudos de impacto ambiental (EIA-Rima) da ferrovia, que deverá ter 933 quilômetros em sua primeira fase, entre Sinop (MT) e Itaituba (PA). Ela está orçada em R$ 8,4 bilhões e tornou-se a principal aposta do

governo para impulsionar o

escoamento de grãos pelo chamado Arco Norte, tirando supercaminhões das estradas e reforçando uma alternativa logística aos produtores agrícolas, que hoje mandam suas cargas especialmente para os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR).

15

Recém-protocolados no Ibama,

responsável pelo licenciamento do projeto, os estudos indicam uma série de efeitos possíveis durante a etapa de obras: interferência em APPs,

fragmentação de habitats,

perturbação da fauna, redução do estoque de carbono e diminuição da flora nativa, em especial os endêmicos, raros e os ameaçados de extinção. “No aspecto físico, as

atividades transformadoras

precursoras de impactos de alta significância poderão comprometer

cursos d’água por meio do

assoreamento e da contaminação dos recursos hídricos (superficiais e subterrâneos)”, diz trecho do estudo. O projeto da Ferrogrão está em análise atualmente no Tribunal de Contas da União (TCU). A expectativa do Ministério da Infraestrutura é fazer o leilão da ferrovia no segundo semestre. Se tudo correr como o planejado, ela iniciaria suas operações no fim desta década. No auge, estima-se que ela transportará pouco mais de 52 milhões de toneladas de commodities agrícolas por ano.

O estudo ambiental identificou 726 áreas de proteção permanentes, que somam 11.341 hectares, em um raio de 500 metros da ferrovia. Em um raio expandido de dez quilômetros há 18 áreas consideradas pelo Ministério do Meio Ambiente como prioritárias para conservação, uso sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade.

(19)

No levantamento de fauna, surgiram 14 mamíferos na lista de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), que detém o maior catálogo do tipo no mundo. Três são classificadas como “em perigo” (quando há evidência de que provavelmente vão ser extintas em um futuro próximo): o macaco-aranha-da-cara-branca, o cuxiú-de-nariz-branco e o tapiti.

Outros documentos levantam

preocupações ainda maiores com a construção da ferrovia. Em estudo divulgado em dezembro, quatro pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) reconhecem que a Ferrogrão trará ganhos econômicos, mas apontam

ameaças ambientais e para

comunidades indígenas, por causa das mudanças na dinâmica de transporte da região.

Os pesquisadores do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG - Britaldo Soares Filho, Amanda Ribeiro, Juliana Davis e William Costa - veem a possibilidade de impacto em áreas protegidas de 4,9 milhões de hectares em municípios que já acumulam 1,3 milhão de hectares desmatados ilegalmente. Eles avaliam que a redução dos custos de transporte propiciada pela Ferrogrão “incentiva o aumento da produção agrícola, motivando em consequência a conversão de áreas aptas para agricultura, quer seja pastagens ou vegetação nativa”. Há uma advertência especial sobre o projeto de estação de carregamento em Matupá (MT). Os pesquisadores indicam que poderia haver uso mais intenso de rodovias estaduais para a

16 chegada dos grãos até a ferrovia. Uma das estradas passa dentro do Parque Nacional do Xingu, o que traria reflexos negativas para o povo indígena e para as comunidades do entorno.

O próprio EIA-Rima enumera ações mitigadoras ou compensatórias para

cada impacto socioambiental

detectado. Por exemplo: a construção de 261 passagens de fauna, sob o traçado da ferrovia, como forma de diminuir o atropelamento de animais. Ou medidas específicas de controle dos processos erosivos.

Lembrando que se trata de uma primeira versão do EIA-Rima e o

próprio Ibama pediu

complementações, a subsecretária de Sustentabilidade do Ministério da Infraestrutura, Larissa Amorim, ressalta que a identificação de impactos negativos é muito comum

nos estudos. “Quanto mais

esmiuçado, melhor para o processo de licenciamento, porque a gente consegue tratar com ações de mitigação. O que não for possível mitigar, precisa ser compensado. Mas a Ferrogrão continua sendo um projeto extremamente vantajoso.” https://valor.globo.com/brasil/noticia/2 021/02/10/estudo-indica-40-impactos-negativos-da-ferrograo.ghtml

(20)

Valor Econômico

Caderno: Brasil, quarta-feira 10 de

fevereiro de 2021.

Mercado livre assumirá custo

de térmicas, afirma MME

Decisão corrige distorções, como subsídio a grande consumidor, diz técnica do ministério

Por Rafael Bitencourt — De

Brasília

A sanção da Medida Provisória 998/20, aprovada pelo Senado na semana passada, vai corrigir distorções que favorecem investidores do mercado livre na expansão da base de fontes renováveis. A avaliação é da secretária-executiva do Ministério de Minas e Energia (MME), Marisete Dadald Pereira.

A técnica do ministério considera que as regras vigentes permitem que o segmento de contratação livre (formado por grandes consumidores) seja contemplado por subsídios, mas sem arcar com o custo de expansão das usinas termelétricas que garantem a confiabilidade do sistema. Ontem, durante live do portal especializado “Canal Energia”, Marisete defendeu que é preciso fazer uma “alocação eficiente” de custos no setor, de forma que “todos paguem” pela segurança de abastecimento.

17

“Como a segurança do sistema vem sendo contratada por meio das usinas térmicas, é o mercado regulado [formado pelas distribuidoras] que vem cumprindo este papel. Já o mercado livre tem utilizado,

contratado muito, as fontes

renováveis”, afirmou Marisete. “Isso faz com que os preços dessas fontes para o livre se tornem muito atrativos, mas, em contrapartida, o consumidor regulado é quem está garantindo a segurança do sistema.” Um levantamento da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), publicado na edição do Valor na sexta-feira passada, indicou que o mercado livre superou, pela primeira vez, o mercado regulado na oferta de energia nova. Hoje, o setor responde por 72% da expansão da capacidade de geração no horizonte de 2021 a 2025. O comportamento foi influenciado pela suspensão de leilões de compra de energia em 2020, frente a incertezas econômicas e queda de demanda na pandemia.

A MP 998 foi enviada pelo governo ao Congresso Nacional para conter o aumento de tarifas das distribuidoras recém-privatizadas da região Norte, acabar com o subsídios a novos projetos de fontes renováveis, garantir a retomada da construção da usina nuclear de Angra 3, reduzir tarifas com recursos de pesquisa no setor, que estão represados, para conter aumento na conta de luz, entre outras mudanças.

(21)

Marisete explicou que o favorecimento do mercado livre será resolvida pela MP com dois ajustes no setor. O primeiro é o fim do subsídio para novos projetos de fontes renováveis, segmento que será compensado por outras medidas em estudo. A segunda é a adoção dos leilões de reserva de capacidade, que serve justamente para equiparar o repasse de custo de contratação de novas térmicas para os dois segmentos de mercado, o regulado e o livre.

Embora ainda haja potencial de crescimento da oferta de fontes renováveis no país, especialmente eólica e solar, a confiabilidade na operação do sistema elétrico só é garantida com oferta “firme” de energia para estabilizar o fluxo de carga, o que geralmente é assegurado por usinas térmicas e hidrelétricas. Isso porque o suprimento as renováveis oscila ao longo do dia. “A medida provisória se antecipou a esse movimento permitindo que façamos essa contratação de reserva de capacidade, caso o planejamento e o operação indiquem ser necessário. Inclusive já estamos trabalhando nas diretrizes. No planejamento dos nossos leilões, já tem o indicativo de que devemos trabalhar para realizá-los no segundo semestre de 2021”, afirmou Marisete.

18 A técnica do governo disse que ainda não há definição sobre a necessidade de veto presidencial a algum trecho do texto aprovado pelo Senado na semana passada.

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2 021/02/10/mercado-livre-assumira-custo-de-termicas-afirma-mme.ghtml

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Valor Econômico

Caderno: Empresas, quarta-feira 10

de fevereiro de 2021.

Movimento falimentar

Falências Requeridas

Requerido: Comercial Delta Ponto

Certo Ltda. - CNPJ:

62.488.937/0001-05 - Endereço: Largo da Boa Morte, 81, Centro, Limeira/sp - Requerente: Doce Fruit Produção e Exportação Eireli - Vara/Comarca: 1a Vara de Mogi Mirim/SP

Requerido: Gradual Automação e Tecnologia Ltda. ME - CNPJ: 07.361.854/0001-42 - Endereço: Rua Duartina, 138, Bairro Jardim Bela Vista - Requerente: Andaimes Metax Equipamentos Ltda. - Vara/Comarca: 2a Vara de Guarulhos/SP

Requerido: Mse Importação e

Exportação Ltda. - CNPJ:

11.375.279/0001-04 - Endereço: Av. Sagitário, 138, Cjto 1116 B T2, Alphaville - Requerente: Lotus Performance Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Multissetorial Lp - Vara/Comarca: 3a Vara de Barueri/SP

Requerido: Nova Gol Corretora Ltda. - CNPJ: 11.455.170/0001-87 - Endereço: Av. Rio Branco, 25, Pavimento 22, Grupo D, Centro - Requerente: Célia da Hora Dos Santos

19

- Vara/Comarca: 4a Vara Empresarial do Rio de Janeiro/RJ

Requerido: Sigma Soluções

Automotivas Ltda. Epp - CNPJ: 20.216.343/0001-03 - Endereço: Não Consta - Requerente: Sigma Soluções

Automotivas Ltda. Epp -

Vara/Comarca: Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Distrito Federal, Brasília/DF - Observação: Pedido de auto falência.

Falências Decretadas

Empresa: Neide Fernandes Pantojo

Sorocaba Epp - CNPJ:

04.258.407/0001-74 - Endereço: Rua Gentile Giochino, 188 Ou Rua Francisco Bueno de Camargo, 1815, Vila Nova Sorocaba - Administrador Judicial: O Próprio Administrador Judicial da Recuperação Judicial Rescindida, Dr. Sadi Montenegro Duarte Neto - Vara/Comarca: 2a Vara de Sorocaba/SP - Observação: Recuperação Judicial convolada em Falência.

Processos de Falência Extintos Requerido: Spel Embalagens Ltda. -

CNPJ: 44.786.432/0001-45 -

Endereço: Rodovia Dom Pedro I, S/nº, Km 84,6, Jardim Kanimar - Requerente: Polyfast Comércio,

Representações, Importação e

Exportação de Polímeros Ltda. - Vara/Comarca: 1a Vara de Atibaia/SP - Observação: Petição inicial indeferida.

Recuperação Judicial Requerida

Empresa: Canamaq Comércio

Atacadista e Indústria de Peças Agrícolas Ltda. - CNPJ:

(23)

04.366.925/0001-01 - Endereço: Rua Comendador José Zillio, 341, Bairro Jardim São Nicolau - Vara/Comarca: 2a Vara de Assis/SP

Recuperação Judicial Deferida Empresa: Jampani & Rizzo Ltda. Epp - CNPJ: 22.872.732/0001-04 - Endereço: Rua José Amatruda, 389, Distrito Industrial Ii - Administrador Judicial: Dr. Irio José da Silva -

Vara/Comarca: Vara Única de

Junqueirópolis/SP

Empresa: Super Watts Indústria

Elétrica Ltda. - CNPJ:

44.794.485/0001-08 - Endereço: Rodovia Campinas / Águas da Prata, S/nº, Km 165, Centro - Administrador Judicial: Pinheiro e Marcondes Machado Sociedade de Advogados - Vara/Comarca: 1a Vara de Mogi Mirim/SP

Recuperações Judiciais

Concedidas

Empresa: Seletiva Rh Consultoria em Recursos Humanos Ltda. - CNPJ: 05.890.499/0001-73 - Endereço: Rua Morais Barros, 1216, Bairro Alto -

Vara/Comarca: 1a Vara de

Piracicaba/SP - Observação: Face à homologação do plano aprovado pela assembleia geral de credores.

Empresa: Seletiva Serviços de Limpeza, Portaria e Manutenção Ltda. - CNPJ: 13.838.711/0001-81 - Endereço: Rua Morais Barros, 1216, Bairro Alto - Vara/Comarca: 1a Vara de Piracicaba/SP - Observação: Face à homologação do plano aprovado pela assembleia geral de credores.

https://valor.globo.com/empresas/notici a/2021/02/10/f9912f43-movimento-falimentar.ghtml

20 Retorne ao índice

(24)

Valor Econômico

Caderno: Empresas, quarta-feira 10

de fevereiro de 2021.

Fleury investe em público sem

convênio médico

Companhia lançou um serviço de assinatura que dá direito a consultas, exames e descontos em medicamentos que podem ser acessados por meio de um aplicativo

Por Beth Koike — De São Paulo

Marinelli, presidente do Fleury: “A plataforma é uma forma de tornar acessível e escalável uma saúde de qualidade” — Foto: Silvia Zamboni/Valor De olho no público sem convênio médico, que representa 75% da população no país, o Grupo Fleury, cujo laboratório atende a alta renda, lançou um serviço de assinatura que dá direito a consultas, exames e descontos em medicamentos que podem ser acessados por meio de um aplicativo.

21

Esse novo serviço ficará dentro da plataforma tecnológica criada pela companhia no ano passado, que demandou investimento de R$ 50 milhões e já tem 7 milhões de usuários que são funcionários e respectivos dependentes de empresas que contratam os serviços do Fleury. O valor mensal da assinatura varia de R$ R$ 29,90 a R$ 59,90, no contrato anual. O assinante do aplicativo - batizado de Saúde iD - tem direito a uma consulta (e um retorno) com os médicos do Fleury, por mês, e 14 exames no laboratório a+, que pertence ao grupo, durante a vigência do contrato que pode ser semestral ou anual.

Inicialmente, o Fleury vai abrir o serviço para 5 mil pessoas da cidade de São Paulo. “A plataforma é uma forma de tornar acessível e escalável uma saúde de qualidade. Temos cerca de 420 médicos e já realizamos 200 mil consultas on-line por meio da nossa plataforma, nesta pandemia”, disse Carlos Marinelli, presidente do Grupo Fleury.

Com a iniciativa, o Fleury entra no mercado de “cartões saúde” que se tornou febre nesta pandemia da covid-19, mas que já vem gerando reclamações de usuários, uma vez que muitos deles acreditam que estão adquirindo um plano de saúde. “Deixamos bem claro que não se trata de um plano de saúde”, disse Eduardo Oliveira, CEO da Saúde iD.

O “marketplace” (shopping virtual) é mais uma iniciativa do Grupo Fleury, que vem investindo fortemente para diversificar seu negócio. Esse

(25)

processo começou com uma área de cirurgias ortopédicas e foi acelerado, em dezembro, com as aquisições de clínicas de infusão de medicamentos e de oftalmologia, abertura de um centro de medicina reprodutiva e uma área de educação continuada para médicos e profissionais de saúde. O negócio alternativo mais avançado da companhia até o momento é a Santé Corp, empresa de gestão de saúde de funcionários de empresas que já atende mais de 7 milhões de pessoas.

O mercado de marketplace de saúde também é disputado por outras empresas do setor. A rede de medicina diagnóstica Alliar, que concorre com o laboratório a+, lançou em dezembro uma plataforma em que os clientes pagam mensalidades entre R$ 19,90 e R$ 24,90 para ter descontos em consultas médicas, exames, farmácias, academias, entre outros serviços. Os exames, por

exemplo, são ofertados com

abatimentos entre 10% a 20% sobre o preço da tabela do público particular da Alliar. Cada assinatura dá direito a até cinco usuários.

22 A Raia Drogasil, que é uma das parcerias da Alliar na plataforma da rede de medicina diagnóstica,

também criou seu próprio

marketplace. Neste canal de vendas, a varejista de farmácia pretende vender além dos medicamentos, óculos,

lentes, vacinas e remédios

manipulados. Também está previsto a oferta de consultas médicas on-line, que serão realizadas por meio de uma parceria com a rede de clínicas Dr. Consulta.

https://valor.globo.com/empresas/notici

a/2021/02/10/fleury-investe-em-publico-sem-convenio-medico.ghtml

(26)

Valor Econômico

Caderno: Finanças, quarta-feira 10 de

fevereiro de 2021.

CVM multa Gradual e diretora

em caso de fundo

Aplicação prometia liquidez

imediata apesar de ter apenas ativos ilíquidos

Por Juliana Schincariol — Do Rio

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aplicou multas no total de R$ 275 mil à Gradual Corretora e a sua diretora Fernanda Ferraz Braga de Lima de Freitas, em julgamento que analisou infrações relacionadas ao FIC Leme, um fundo de investimento em cotas de fundos multimercado. Fernanda também foi condenada a não atuar como administradora de carteiras por um ano. O relator do caso foi o diretor Gustavo Gonzalez e a decisão foi unânime. Os acusados poderão recorrer ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN).

Em setembro de 2016, a Gradual comunicou ao mercado o fechamento do fundo Leme por motivo de insuficiência de liquidez da carteira para honrar com os pedidos de resgate realizados. O fundo tinha 13 cotistas e patrimônio líquido de R$ 41,3 milhões. Segundo a área técnica, para que um cotista resgatasse suas cotas do Leme FIC, total ou

23

parcialmente, o regulamento previa a conversão de cotas no próprio dia do pedido, e o respectivo pagamento no primeiro dia útil subsequente (D+1), sem qualquer período de carência. Para a acusação, “era de esperar que uma gestão de liquidez responsável

importasse em uma carteira

majoritariamente composta por ativos passíveis de liquidação em até D+1, em linha com as regras de resgate estabelecidas no regulamento do fundo (...). No entanto, (...) desde seu início o fundo investiu praticamente a integralidade de seu patrimônio líquido em ativos sem liquidez”. O fechamento do Leme FIC para resgates ocorreu devido à solicitação de saque, por um dos cotistas, que tinha aplicados R$ 5,98 milhões. E não havia na carteira qualquer ativo

líquido, impossibilitando o

pagamento do resgate e impondo o fechamento do fundo.

Segundo a Superintendência de

Relações com Investidores

Institucionais (SIN), o fechamento do Leme ocorreu após 46 dias de constatada a ausência de liquidez, lapso temporal “destoante” do regulamento”.

(27)

Como resultado do julgamento, a Gradual foi multada em R$ 200 mil, por falta de gestão de liquidez de fundo de investimento, mesma infração que culminou na proibição temporária de Fernanda. Houve também uma pena de advertência à corretora e sua diretora por falta de manutenção de lista atualizada de prestadores de serviços. https://valor.globo.com/financas/noticia /2021/02/10/cvm-multa-gradual-e-diretora-em-caso-de-fundo.ghtml Retorne ao índice 24

(28)

Valor Econômico

Caderno: Finanças, quarta-feira 10 de

fevereiro de 2021.

GameStop: ética ou populismo?

A digitalização que facilita a

supervisão e a potencial

repressão de ilícitos pelas

autoridades, fragiliza a

estabilidade do sistema

Por Marcelo Trindade e André Pitta

Ninguém entendeu direito quando milhares de investidores de varejo, mobilizados em uma rede social e operando por uma corretora com o sugestivo nome de Robinhood, passaram a comprar ações e opções da GameStop, varejista de jogos eletrônicos listada na Nyse (Bolsa de Nova York).

O objetivo era elevar as cotações para causar perdas aos fundos de investimento que tinham posições vendidas - os “short sellers”, no jargão em inglês. Em janeiro de 2021, os papéis foram de US$ 17 a US$ 483. E o volume negociado foi de US$ 1,26 bilhão, contra US$ 251 milhões no mês anterior. Nos primeiros dias de fevereiro a cotação regrediu a US$ 74. As chamadas posições vendidas quase

sempre começam com um

empréstimo. Ações, como dinheiro, podem ser emprestadas. Quando isso ocorre, passam à propriedade de

25

quem as recebe, que pode vendê-las, mas, ao final do prazo, tem que

devolver ao credor a mesma

quantidade, mais os juros

contratados. Exatamente como em um empréstimo bancário, o dinheiro pode ser usado, e mais tarde deve ser devolvido.

O short seller toma ações

emprestadas e as vende em mercado, acreditando que no vencimento ele as recomprará por um preço menor, devolvendo-as a quem emprestou e embolsando a diferença - menos os juros que pagou e as demais despesas. É uma “aposta” na queda das cotações, mas se elas subirem o short seller perderá, gastando mais para recomprar as ações do que recebeu ao vendê-las.

No caso GameStop, diante da aguda elevação dos preços, os vendidos sofreram o chamado “short squeeze” - isto é, foram encurralados em decorrência da inesperada alta. Obrigados a comprar ações para

interromper suas perdas,

potencializaram a escalada da cotação que já lhes gerava enorme prejuízo. O que há de novo no caso GameStop não é a disputa entre vendidos e comprados, comum nos mercados à vista e de opções. Também não há novidade em que essa disputa faça baixar ou subir artificialmente as cotações, obrigando as autoridades a

investigar a ocorrência de

manipulação.

A novidade no caso GameStop são os

oponentes, os meios e,

principalmente, as motivações. Contra grandes fundos de

(29)

investimento uniram-se digitalmente investidores de varejo - “sardinhas” contra “tubarões”, como se tem dito -, que colocaram dinheiro de verdade na empreitada, multiplicando não só as

cotações como os volumes

negociados, movidos por um discurso moral, e não pelo lucro.

Foi um movimento político, como não escapou a quem viu semelhanças com o Occupy Wall Street. Com uma diferença relevante. As sardinhas da GameStop não tinham reivindicações nem buscavam a intermediação de instâncias estatais. Queriam dar uma lição nos short sellers porque consideram antiético que alguém aposte na baixa da cotação de ações negociadas em bolsa e, em alguns casos, adote condutas que contribuem para que a queda de preços ocorra, afetando os investidores de varejo que as detenham. Para lutar contra isso, valia até o risco de perder dinheiro. O discurso dos investidores da GameStop tem todos os elementos populistas, de combate às elites e aos donos do poder. Ressentimento e

busca de vingança contra o

establishment, derrotado pelas pessoas comuns. À massa não preocupava que os seus líderes pudessem manipular cotações, e mesmo que alguns investidores lucrassem e outros ficassem para trás, sofrendo com a desvalorização posterior das cotações - como no esquema de pirâmide. A motivação não era o lucro, mas a imposição de uma derrota aos oponentes, usando, se preciso, práticas semelhantes àquelas que condenavam.

As redes sociais, que amplificaram o alcance do discurso populista, tiveram no caso GameStop o mesmo

26 papel. Só que no mercado de capitais as coisas podem ser mais rápidas. Quando um eleitor recebe no celular uma mensagem populista, pode retransmiti-la e divulgá-la, mas tem que esperar a data das eleições para exercer o seu voto. Já investidores podem emitir imediatamente uma ordem de compra ou venda de ações, ou transferir dinheiro de um banco a outro, usando o mesmo aparelho celular.

A digitalização que facilita a supervisão e a potencial repressão de ilícitos pelas autoridades, fragiliza a estabilidade do sistema. Os riscos de disrupção são mais instantâneos que na política.

A chegada do elemento populista é mais um capítulo na crescente presença das discussões sobre ética e propósito no mercado de capitais. A

preocupação com as questões

ambientais, sociais e de governança das empresas - resumidas no acrônimo ESG em inglês - passou a dominar o discurso dos maiores investidores institucionais e de grandes empresas do mundo.

Os valores éticos e o combate ao

chamado “curto-prazismo”

(“shortermism”) têm sido parte essencial do movimento. Nessa nova era, negócios, estratégias, empresas e investidores com fragilidade moral, seja real ou aparente, estão em apuros.

Os reguladores, por sua vez, também têm um novo desafio, que é o de resistir ao populismo. O short selling contribui para a liquidez dos mercados e para a melhor formação de preços das ações, pois se o investidor vendido estiver certo, seu

(30)

movimento vai ajustar os preços de mercado à realidade.

O clamor pelo xerife ignora que a sanção é importante, mas sempre chega atrasada. O foco deve estar na estabilidade, com regras prudenciais e operacionais de qualidade - como aliás já temos no Brasil no caso dos empréstimos de ações, sujeitos a limites impostos justamente para garantir o funcionamento regular do mercado.

Marcelo Trindade é advogado e

professor da PUC-Rio. Foi

diretor e presidente da CVM E-mail:

mtrindade@trindadeadv.com.br André Pitta é advogado e doutor em direito comercial pela USP E-mail:

apitta@trindadeadv.com.br Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser

responsabilizado pelas

informações acima ou por

prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. https://valor.globo.com/financas/col una/gamestop-etica-ou-populismo.ghtml Retorne ao índice 27

(31)

Valor Econômico

Caderno: Legislação e Tributos,

quarta-feira 10 de fevereiro de 2021.

Pequena empresa corre mais

risco de ser autuada

Portaria restringe a

possibilidade de dupla visita Por Adriana Aguiar — De São Paulo

Fabio Medeiros: alteração, em meio à pandemia, pode ser impactante para as micro e pequenas empresas — Foto: Claudio Belli/Valor

As micro e pequenas empresas correm agora mais risco de sofrer autuações trabalhistas. Uma norma da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, órgão do Ministério da Economia, restringiu a possibilidade da chamada “dupla visita” - que impede o fiscal de autuar em uma

28

primeira vistoria. Hoje, até mesmo atraso de salário pode ser motivo para penalizar o pequeno empresário. O critério da dupla visita está previsto no artigo 55 da Lei Complementar nº 123, de 2006, que instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Pela norma, a medida só não vale quando for constatada infração por falta de registro de empregado ou anotação da carteira de trabalho ou, ainda, na ocorrência de reincidência, fraude,

resistência ou embaraço à

fiscalização.

Com a edição da Portaria nº 396, o Ministério da Economia ampliou a lista de exceções. Além de atraso no pagamento de salário, o benefício não

poderá ser aplicado quando

constatado trabalho infantil ou em condições análogas às de escravo,

acidente de trabalho com

consequências ou risco grave e iminente à segurança e saúde do trabalhador. Também foi incluído descumprimento de embargo ou interdição.

Essa alteração em meio à pandemia pode ser impactante para as micro e pequenas empresas, principalmente hotéis, bares e restaurantes, de

acordo com advogado Fabio

Medeiros, do Lobo de Rizzo

Advogados. “Essa restrição da dupla visita neste momento, sem que o fiscal possa orientar sobre as irregularidades, pode ser pesado”, diz.

As mudanças podem elevar o número de autuações trabalhistas. A média anual é de cerca de 80 mil empresas

(32)

autuadas, à exceção de 2020, em decorrência da pandemia. No ano passado, com as visitas presenciais limitadas, o número caiu para 31 mil, de acordo com dados da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Medeiros entende que os micro e

pequenos empresários podem

questionar administrativamente ou judicialmente eventuais autuações em uma primeira visita, com base na ilegalidade da portaria. “Não nos parece que as restrições poderiam surgir por simples portaria, tendo em vista que o direito dos empregadores à dupla visita é garantido por lei complementar”, diz. Para ele, somente uma lei federal poderia alterar a norma.

Como os valores das autuações são relativamente baixos e as situações tratadas são complicadas, acrescenta o advogado, cabe à empresa decidir se vale a pena discutir a questão ou apenas pagar o que for exigido. Ele lembra que as multas podem ser quitadas em até 30 dias com desconto de 50%.

Uma autuação por atraso no

pagamento de salário, por exemplo, é de cerca de R$ 170 por trabalhador prejudicado (160 Ufirs). Uma das mais altas é a que trata de infração a normas de medicina do trabalho. É de R$ 4.025. “Os valores são baixos, mas podem ser dobrados em caso de reincidência. Além disso, o fiscal do trabalho pode emitir comunicado ao Ministério Público do Trabalho sobre as irregularidades, o que pode desencadear pesadas multas.”

A advogada Mayra Palópoli, sócia do Palópoli & Albrecht Advogados, também concorda que o momento

29 não é oportuno para a alteração. “O benefício da dupla visita para as micro e pequenas empresas foi concedido porque elas não são tão organizadas, muitas vezes não têm um jurídico próprio ou setor específico que trate do cumprimento da legislação”, diz.

Para ela, com exceção do trabalho escravo ou infantil, que realmente é muito grave, as outras situações seriam passíveis de orientação. “Como no caso de atraso de salário, por exemplo, se for por poucos dias. A medida pode prejudicar a empresa no desenvolvimento de suas atividades.” Por meio de nota ao Valor, a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho informa que a “portaria apenas regulamentou, para dar segurança jurídica, as situações já previstas em lei para a não necessidade de dupla visita nos casos

graves em micro e pequenas

empresas”. A nota afirma que existia, até então, uma lacuna regulatória a respeito do parágrafo 3°, artigo 55, do Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.

Esse dispositivo diz que a fiscalização, “no que se refere aos aspectos trabalhista, metrológico, sanitário, ambiental, de segurança, de relações de consumo e de uso e ocupação do solo das microempresas e das empresas de pequeno porte, deverá ser prioritariamente orientadora quando a atividade ou situação, por sua natureza, comportar grau de risco compatível com esse procedimento” e

que os órgãos e entidades

competentes definirão, em 12 meses, as atividades e situações cujo grau de risco seja considerado alto, as quais

(33)

não se sujeitarão ao disposto no artigo. https://valor.globo.com/legislacao/n oticia/2021/02/10/pequena- empresa-corre-mais-risco-de-ser-autuada.ghtml Retorne ao índice 30

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