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O PODER DA IMAGINAÇÃO EM A LUZ É COMO A ÁGUA, CONTO DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ RESUMO

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Academic year: 2021

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O PODER DA IMAGINAÇÃO EM A LUZ É COMO A ÁGUA, CONTO DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ

Érika Tamirys de Lima (G-CLCA-UENP/CJ) Geisiara Priscila Christ (G-CLCA-UENP/CJ) Nerynei Meira Carneiro Bellini (Orientadora-CLCA-UENP/CJ)

RESUMO

“Mergulharam como tubarões mansos por de baixo dos móveis e das camas e resgataram do fundo da luz as coisas que durante anos tinham-se perdido na escuridão”. (MÁRQUEZ, 2012) O estilo mágico, agregado a acontecimentos e histórias reais, concedeu a García Márquez o título de um dos maiores escritores da modernidade. Ganhador do prêmio Nobel de literatura, este escritor figura como um dos expoentes da literatura fantástica, ou ainda, do realismo maravilhoso. O objetivo deste trabalho é analisar criticamente o conto A luz é como a água, de Gabriel García Márquez, e mostrar, que o realismo maravilhoso se cria e se sustenta na obra a partir da mescla do real com o imaginário. Neste conto de Márquez, a fantasia torna-se realidade através da ótica de dois meninos, protagonistas, resultando em um desfecho surpreendente.

Introdução

Até onde a imaginação pode levar alguém? No conto, A luz é como a água, de Gabriel García Márquez a imaginação transpassa os limites de uma realidade aparentemente normal e cria uma dimensão em que a fantasia de um espírito tem livre arbitro para florir. Totó e Joel são os personagens que vivenciam, no conto, uma surpreendente aventura náutica no quinto andar de um apartamento, numa cidade sem rios nem mares, desencadeando, no decorrer do conto, questões que a lógica desconhece. Como explicar o fato de a luz ser como água e, ainda, de haver ilhas no espaço limitado de um apertado apartamento? Algumas respostas são encontradas no conto outras, podem ser sugeridas pelo contexto, mas nenhuma condiz com o que se pode chamar de plausível.

O objetivo deste trabalho é analisar criticamente o conto A luz é como a água, de Gabriel García Márquez. Além disso, pretende-se mostrar que o fantástico, criado e sustentado na obra, ocorre a partir da confrontação do real com o imaginário. Assim, é dentro

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de uma situação limitada pela razão que o sobrenatural se instaura a fim de suprir as necessidades da alma humana.

O autor e o conto

Segundo dados da Enciclopédia Encarta (2006), o escritor colombiano Gabriel José García Márquez, nasceu em Aracataca, no ano de 1928 e é considerado um dos novelistas mais estimados do século XX. Em 1982 ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, suas obras, Cien años de soledad, Crónica de una muerte anunciada y El amor en los tiempos del cólera, são algumas das mais conhecidas no universo literário. Márquez cresceu perto de seus avós maternos que influenciaram o futuro literário do escritor colombiano com as histórias que relatavam. O avô, coronel Nicolas Márquez, participante da guerra civil colombiana que se estendeu do ano de 1899 até 1902, contava-lhe a respeito das aventuras militares que vivenciou. A avó, Tranquilina Iguarán, narrava fábulas e também lendas as quais imprimiam o horizonte mágico e “supersticioso” do real de Márquez.

Essas influências são notáveis nas obras de Márquez, nas quais o insólito se faz presente vinculado à realidade de fatos corriqueiros. Não sendo diferente, o conto, A luz é como a água, de Gabriel García Márquez, revela uma história surpreendente de dois irmãos: Totó e Joel. Ambos os meninos, de tanto pedirem a seus pais, ganharam de Natal um barco a remo, sendo este o objeto que dá luz à imaginação dos irmãos. No conto, a luz é comparada à água e é através dela que eles navegam pelas ilhas da casa, todas as quartas-feiras, sempre em busca de novas aventuras, chegando ao ponto da casa transbordar de tanta luz e todos que estavam nela se afogarem.

Nesse conto deparamos com fantástico, que segundo Roas (2011), é algo que não é real, mas por sua verossimilhança - descrever o fantástico como algo provável - acaba tornando-se mais real que a própria realidade, sendo esta uma característica literária dessa modalidade narrativa. Roas, esclarece no livro Teorías de lo fantástico, ao definir o insólito em questão, a condição necessária para que se produza o efeito fantástico, segundo ele, a maioria dos críticos afirma que a condição indispensável para que se produza o efeito fantástico é a presença de um fenômeno sobrenatural. E o sobrenatural é aquele que atravessa os limites das leis que organizam o mundo real, aquele que não tem explicação lógica, que não existe no empírico.

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Não queremos dizer que toda a literatura em que haja a presença de um fenômeno sobrenatural deva ser considerada fantástica. Porém, a literatura fantástica é o único gênero literário que não pode funcionar sem a presença do sobrenatural. E o sobrenatural é aquele que atravessa os limites das leis que organizam o mundo real, aquele que não tem explicação lógica, que não existe no universo empírico. A isso denominamos fantástico.

Na elaboração de uma narrativa fantástica se faz necessário a confrontação de uma realidade empírica com o sobrenatural. Para tanto, o autor, por meio de seu narrador, constrói espaços, componentes, personagens plausíveis em um mundo real permeado pelo irreal. A esse respeito discorre Filipe Furtado em seu livro A construção do fantástico na narrativa:

[...] na narrativa fantástica, o espaço familiar da natureza circunscreve sempre na maior parte da acção, constituindo a regra aparente do mundo fictício em que o fenômeno meta-empírico se insinua [...] (visa a) recorrer, sobretudo, a processos descritivos tendentes a acentuar os traços “realistas” do mundo material nele representado. (FURTADO, 1980, p.126)

É por meio de elementos realistas que o fantástico se constrói ao confrontar o real com o irreal, causando dessa forma, a hesitação, que só pode ser experimentada por um ser que só conhece as leis naturais. “Así pues, sólo la vacilación, según Todorov, nos permite definir lo fantástico”.(TODOROV apud ROAS)

O Fantástico no conto

No conto em análise, podemos perceber de forma clara e convicta a presença do fantástico no decorrer da história, é por meio dele que acontece a surpreendente aventura de Totó e Joel, tendo início quando e meninos quebram uma lâmpada acesa. A partir desse fato um jorro de luz feito água começa a sair, preenchendo o apartamento de água até o nível de quatro palmos:

Na noite de quarta-feira, como em todas as quartas-feiras, os pais foram ao cinema. Os meninos, donos e senhores da casa, fecharam portas e janelas, e quebraram a lâmpada acesa de um lustre da sala. Um jorro de luz dourada e fresca feito água começou a sair da lâmpada quebrada, e deixaram correr até que o nível chegou a

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quatro palmos. Então desligaram a corrente, tiraram o barco, e navegaram com prazer entre as ilhas da casa [...] (MÁRQUEZ, 2012, p.216)

Em outro trecho, o personagem afirma: “A luz é como a água — respondi. — A gente abre a torneira e sai.” (MÁRQUEZ, 2008, p.216). Notamos aqui uma explicação sobrenatural pertencente à modalidade narrativa fantástica, pois não é possível sair água de uma lâmpada. Não há uma explicação lógica e racional perante esse ato, ou seja, é impossível de acontecer no mundo empírico.

Vale ressaltar outro fato sobrenatural, quando a aventura deixa de ser apenas dos dois meninos e passa a alcançar uma dimensão maior que a do apartamento:

Na quarta-feira seguinte, enquanto os pais viam A Batalha de Argel, as pessoas que passaram pela Castellana viram uma cascata de luz que caía de um velho edifício escondido entre as árvores. Saía pelas varandas, derramava-se em torrentes pela fachada, e formou um leito pela grande avenida numa correnteza dourada que iluminou a cidade até o Guadarrama. [...] Chamados com urgência, os bombeiros forçaram a porta do quinto andar, e encontraram a casa coberta de luz até o teto. [...] Pois haviam aberto tantas luzes ao mesmo tempo que a casa tinha transbordado, e o quarto ano elementar inteiro da escola de São João Hospitalário tinha se afogado no quinto andar do número 47 do Paseo de la Castellana [...]. (MÁRQUEZ, 2008, p. 218-219)

Neste trecho, percebe-se o envolvimento de outras pessoas, as quais também puderam visualizar a inimaginável cena. Essa confrontação do real com o sobrenatural abre espaço para várias interpretações, apresentaremos na sequência um possível significado do insólito no conto, A luz é como a água.

Um possível significado

A literatura do insólito elabora uma história com a intenção de revelar outras histórias, isto é, múltiplos significados, de acordo com Remo Ceserani, em seu livro O fantástico (2006), tradução de Nilton Cézar Tridapalli, o autor afirma que “a literatura fantástica finge contar uma história para poder contar outra” (p.102). Nesse sentido, um possível significado, subjacente à narrativa, poderia ser explicado pelo fato de ser por meio da luz que a imaginação dos meninos aflora, então, essa luz pode significar a própria imaginação, aprisionada em um apartamento, perdida na escuridão e, agora, resgatada pelo insólito:

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[...] na quarta-feira seguinte, enquanto os pais viam O Último Tango em Paris, encheram o apartamento até a altura de duas braças, mergulharam como tubarões mansos por baixo dos móveis e das camas, e resgataram do fundo da luz as coisas que durante anos tinham-se perdido na escuridão. (MÁRQUEZ, 2008, p. 217)

Considerações Finais

Este trabalho procurou analisar criticamente o conto A luz é como a água, de Gabriel García Márquez, para mostrar que a literatura do insólito trata de questões que dizem respeito ao anseio da alma humana em diferentes épocas. Para tanto, é necessário salientar que o fantástico se cria e se sustenta na obra a partir da confrontação do real com o imaginário. Assim, é dentro de um apertado apartamento, em uma cidade remota, que os meninos, limitados pelas convenções e pela razão, dão luz ao sobrenatural: “Em Madrid de Espanha, uma cidade remota de verões ardentes e ventos gelados, sem mar nem rio, e cujos aborígines de terra firme nunca foram mestres na ciência de navegar na luz.” (MÁRQUEZ, 2008, p. 219)

Referências:

CESERANI, Remo. O fantástico. Curitiba: EDUEL, 2006.

FURTADO, Filipe. A construção do fantástico na narrativa. Lisboa: Horizonte Universitário, 1980.

MÁRQUEZ, Gabriel García. Doze contos peregrinos. 18. ed. Trad. Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Record, 2008.

MICROSOFT Encarta 2006. Gabriel García Márquez. [DVD]. Microsoft Corporation, 2005. ROAS, David. Teorías de lo Fantástico. Madrid: Arco/Libros, 2011.

UOL Educação. Gabriel José García Márquez. Disponível em:

http://educacao.uol.com.br/biografias/gabriel-jose-garcia-marquez.jhtm. Acesso em: 18/10/2012.

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711 Para citar este artigo:

CHRIST, Geisiara Priscila; LIMA, Érika Tamirys de. O poder da imaginação em A luz é como a água, conto de Gabriel García Márquez. In: IX SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS - Estudos Linguísticos e Literários. 2012. Anais... UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2012. ISSN – 18089216. p. 706-711.

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