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UTILIZANDO A CARTOGRAFIA TÁTIL NAS AULAS DE GEOGRAFIA COM ALUNOS VIDENTES: Experiências e Percepções

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Academic year: 2021

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UTILIZANDO A CARTOGRAFIA TÁTIL NAS AULAS DE GEOGRAFIA COM ALUNOS VIDENTES:

Experiências e Percepções

Prof.ª Esp. Illana Silva Rocha llanarocha@hotmail.com

Prof.ª Dr.ª Jacqueline Praxedes de Almeida. jacquepdealmeida@yahoo.com.br

RESUMO

Com o avanço dos ideais inclusivos, da legislação e das políticas públicas, a inclusão social e escolar de pessoas com deficiências vem, ao longo dos anos, se efetivando. Dada a relevância e atualidade do tema, ao sistema educacional é atribuído um novo desafio: educar para a convivência com a diversidade, devendo, com isso, rever suas metodologias de ensino e propor práticas pedagógicas capazes de cumprir com seu cunho didático e desenvolver sentimentos de empatia e respeito. Diante desse contexto, o presente trabalho objetiva relatar as experiências e percepções vivenciadas através da aplicação de um mapa tátil em uma turma de 1º ano do Ensino Médio de uma escola da rede privada de ensino da cidade de Maceió/AL com alunos videntes, com o propósito de avaliar o potencial desse recurso didático na aprendizagem da cartografia e na promoção da sensibilidade acerca da inclusão escolar de alunos cegos. O desenvolvimento deste estudo seguiu uma metodologia qualitativa embasada no estudo de caso. A revisão bibliográfica contribuiu no embasamento necessário para a execução deste trabalho. Medidas simples adotadas no contexto do cotidiano escolar, como a adaptação de materiais na Cartografia Tátil, podem contribuir no processo de inclusão dos educandos com deficiência visual e servir como instrumento motivacional para as aulas de Geografia. A aplicação de materiais para tatear no mapa aderiu mais dinamicidade ao estudo da cartografia nas aulas de Geografia, promovendo ainda uma discussão acerca da inclusão, válida e necessária em qualquer ambiente social.

PALAVRAS-CHAVE: Cartografia Tátil. Ensino de Geografia. Recurso de ensino.

1 PROBLEMÁTICA DA PESQUISA

A inclusão escolar de alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEEs) é garantida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996. No capítulo V da referida lei, há o registro de que a Educação Especial, como modalidade de educação escolar, deverá ser oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino (BRASIL, 1996). Essa determinação legal ocasionou uma série de debates acerca da necessidade de revisão das práticas pedagógicas e formação de profissionais capacitados para o trabalho com a diversidade.

Segundo Pletsch (2009), citado por Almeida, Rocha e Peixoto (2013), há, no ambiente escolar, um despreparo por parte de professores e funcionários para lidar

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2 com a diversidade. Consequentemente, as práticas pedagógicas e os recursos didáticos utilizados nem sempre condizem com a necessidade educativa dos alunos, o que compromete sua aprendizagem e interação com os demais estudantes da turma. Propor novas alternativas didático-pedagógicas é um dos principais desafios da inclusão escolar de alunos com NEEs, na medida em que exige um constante repensar da prática docente. Nesse contexto, o desenvolvimento emocional e afetivo é tão importante quanto o fator cognitivo no processo de ensino-aprendizagem e nas interações sociais que deverão ocorrer entre professor, aluno com NEEs e demais estudantes na sala de aula.

No âmbito do ensino de Geografia na educação inclusiva de alunos com deficiência visual ou baixa visão, é necessário adaptar os materiais de forma tátil e em Braille a fim de promover acessibilidade, bem como privilegiar recursos didáticos que favoreçam a interação e a convivência com as diferenças.

2 OBJETIVOS

Este estudo surge motivado em avaliar o potencial do mapa tátil como recurso didático influente na aprendizagem de Cartografia e na promoção da sensibilidade de alunos videntes acerca da inclusão escolar de alunos cegos. O trabalho foi realizado em uma turma do 1º ano do Ensino Médio de uma escola particular da cidade de Maceió/AL com alunos que não apresentavam problemas de visão, objetivando discutir as limitações e potencialidades desse recurso nos quesitos funcionalidade, ensino-aprendizagem e a promoção de empatia desses discentes em relação às pessoas com NEEs. Busca-se com este Artigo contribuir na reflexão acerca da importância de adaptar recursos didáticos a fim de promover aprendizagem, inclusão e agregar mais dinamicidade ao ensino de Geografia, como instrumento capaz de ajudar na formação cidadã dos alunos.

3 METODOLOGIA

O desenvolvimento desse estudo seguiu uma metodologia qualitativa embasada no estudo de caso. Segundo Oliveira (2008, p.6) “a preocupação desse tipo de pesquisa é retratar a complexidade de uma situação particular, focalizando o problema em seu aspecto total”. Portanto, ao utilizar o método qualitativo os

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3 pesquisadores objetivam compreender o significado que os indivíduos atribuem à determinada situação. Nesse sentido, os investigadores que utilizam o estudo de caso “buscam visualizar o contexto e, se possível, ter uma integração empática com o processo objeto de estudo que implique melhor compreensão do fenômeno” (NEVES, 1996, p.2).

Para a construção deste trabalho, foi feita uma revisão bibliográfica com a finalidade de obter embasamento necessário para a análise do objeto de estudo, sendo essa prática importante para que os investigados cheguem a conclusões inovadoras (MARCONI; LAKATOS, 2005).

4 RESULTADOS

Para a elaboração do mapa tátil demonstrando as regiões brasileiras segundo a divisão atual do IBGE (Figura 1), usado no desenvolvimento deste estudo, foram utilizados materiais bem simples e de baixo custo. O mapa tátil foi elaborado através da colagem de materiais sobre um mapa impresso convencional. Os materiais básicos utilizados foram: mapa do Brasil; lã; cola; emborrachado (para atribuir alto relevo à legenda e à rosa-dos-ventos); textura para as cinco regiões (milho, arroz, lentilha, macarrão e lixa de unha); fitilho (para representar a linha do Equador e o Trópico de Capricórnio). Foi utilizado também o sistema de leitura e escrita Braille.

Figura 1: Mapa Tátil Finalizado.

Fonte: Produzida pela autora (2015).

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4 Para o desenvolvimento da atividade, foi colocada uma mesa no centro da sala a fim de facilitar a utilização do mapa. Foram escolhidos dois alunos da turma, sendo eles vendados, a fim de testar a real aplicabilidade do mapa. A priori, a curiosidade tomou conta da turma e todos os alunos queriam tocar no mapa. Aos alunos vendados, sem que tivessem visto o mapa anteriormente, foram feitos questionamentos que envolviam: caracterização e reconhecimento dos materiais táteis utilizados no mapa e, posteriormente, perguntas acerca da disposição dos estados no território brasileiro e suas dimensões territoriais. É interessante destacar que os alunos que foram vendados não sabiam de que lugar o mapa tratava. No entanto, reconheceram o lugar tateando através da lã no contorno do território brasileiro (Figura 2). É preciso ressaltar que tal reconhecimento espacial não se deu de forma imediata, mas gradual à medida que o mapa ia sendo tateado e “descoberto”. Através da interpretação das partes, foi possível, aos poucos, criar imagens mentais do espaço reproduzido pelo mapa tátil, localizar a rosa-dos-ventos e identificar as duas linhas do fitilho como sendo a Linha do Equador ao norte do Brasil e o Trópico de Capricórnio ao Sul.

Os estudantes vendados aqui identificados como aluno 1 (A1) e aluno 2 (A2) descreveram a atividade da seguinte maneira:

“Foi uma experiência nova. Gostei muito de fazer e faria de novo e, também, foi bom para testar os nossos conhecimentos”. (A1)

“Além de ser divertido deu para aprender muito mais sobre o mapa”. (A2) Figura 2: Alunos vendados fazendo reconhecimento dos materiais utilizados na confecção do mapa.

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5 Tais comentários evidenciam o quanto é necessário diversificar as aulas de Geografia, muitas vezes, caracterizada como disciplina enfadonha e mnemônica. Apesar de o mapa tátil geralmente ser um recurso pensado para o ensino de Geografia para alunos cegos ou com baixa visão, pode ser aplicado sem nenhum problema em uma turma diversificada, favorecendo a aprendizagem de alunos com ou sem necessidades educativas especiais. Muitos alunos desconheciam a existência desse tipo de material, ou mesmo, nunca havia parado para refletir acerca dos desafios enfrentados diariamente pelas pessoas com deficiência visual, como fica clarificado na afirmação de um dos alunos da turma em que a atividade foi aplicada:

“Esse mapa também nos mostrou como é a experiência de um cego ao tocar os alimentos, eles poderiam diferenciar cada região através do tato. Então eu achei bem legal a aula”.

Ao se referir aos alimentos, o aluno retrata as variáveis táteis utilizadas na confecção do mapa. Práticas educativas como esta são essenciais para que haja a construção do conhecimento a partir das vivências e de valores, como o respeito ao outro. A aplicação do mapa possibilitou ainda um melhor entendimento sobre a cartografia considerando: elementos de um mapa e comparação de extensão territorial entre as regiões brasileiras. Proporcionando uma reflexão do indivíduo como um ser social, evitando, assim, possíveis atitudes discriminatórias.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar do trabalho ter sido desenvolvido em uma turma de Ensino Médio e com alunos ditos “normais”, é importante destacar que o principal objetivo dos mapas táteis é facilitar o ensino-aprendizagem de alunos com deficiência visual inseridos em classes regulares. Adaptar materiais a fim de favorecer a apreensão de conteúdos geográficos para alunos com NEEs é fundamental. O custo financeiro na elaboração desses materiais, na maioria das vezes, é pequeno. Pode-se usar, por exemplo, materiais reciclados ou reutilizáveis. O maior gasto está no tempo desprendido para a sua confecção. Salienta-se que os processos de construção e aplicação desses recursos proporcionam ao professor que se permite inovar,

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6 satisfação de realização de um trabalho bem feito. Sendo a motivação do professor em diversificar sua aula um dos principais elementos para estimular a aprendizagem dos alunos (TAPIA; FITA, 2003, p. 88). Ressaltamos ainda a necessidade de incentivos no desenvolvimento de mais pesquisas na área da Cartografia Tátil e a urgência em capacitar professores e profissionais para a produção desse material.

A aplicação do mapa tátil em uma turma com alunos videntes conferiu mais dinamicidade à aula de Geografia, a novidade, muito diferente dos mapas tradicionais, despertou o interesse dos alunos, o que favoreceu a aprendizagem de conhecimentos cartográficos. Proporcionou ainda, uma reflexão do indivíduo como um ser social, oportunizando-lhe viver a cidadania e a solidariedade, minimizando possíveis comportamentos em que se destacam atitudes discriminatórias.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, J. P.; ROCHA, I. S.; PEIXOTO, S. A. Uma Reflexão Acerca do Ensino de Geografia e da Inclusão de Alunos Surdos em Classes Regulares. Revista Brasileira de Educação Geográfica, Campinas, v. 3, n. 5, p. 98-118, jan./jun., 2013.

BRASIL, LDB: Lei nº 9.394/1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

NEVES, J. L. Pesquisa Qualitativa- Características, Usos e Possibilidades. Caderno de Pesquisas em Administração, São Paulo, v.1, n º 3, 2º sem.,1996. Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.br/cad-pesq/arquivos/C03-art06.pdf>. Acesso em: 02 Out. 2015.

OLIVEIRA, C. L. Um Apanhado Teórico-conceitual sobre a Pesquisa Qualitativa: Tipos, Técnicas e Características. Travessias, Cascavel, v. 2, n. 3, p. 1-16, 2008. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/

article/view/3122/2459 >.Acesso em: 02 Out. 2015.

TAPIA, J. A.; FITA, E. C. A motivação em sala de aula – O que é, como se faz. 5. Ed. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

Referências

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