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Caracterização experimental do comportamento cíclico de paredes pombalinas simples e reforçadas

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Caracterização experimental do comportamento cíclico de paredes

pombalinas simples e reforçadas

Ana Maria Gonçalves

1

, João Gomes Ferreira

2†

, Luís Guerreiro

3†

, Fernando

Branco

4†

Universidade de Lisboa, Instituto Superior Técnico, DECivil, ICIST, Lisboa, Portugal

RESUMO

Os edifícios pombalinos surgiram após o terramoto de 1755 e constituem um dos primeiros exemplos de construção sismo-resistente planeada. A solução encontrada nesses edifícios foi o sistema dito de “gaiola”, extremamente engenhoso na sua simplicidade de princípios e na sua realização prática.

Devido à falta de regulamentos específicos, a reabilitação sísmica de edifícios antigos é geralmente realizada com base em regras empíricas, dependendo fundamentalmente da perícia e experiência de engenheiros e empreiteiros. Uma abordagem tecnicamente sustentada dos projectos de reabilitação requer conhecimentos sobre o comportamento sísmico de paredes e sobre o efeito de possíveis soluções de reforço, o que motivou o estudo aqui apresentado.

O estudo apresentado neste artigo teve como objectivo específico caracterizar experimentalmente o comportamento cíclico das paredes de frontal Pombalinas simples e reforçadas com três métodos diferentes. Os métodos de reforço consistiram em (i) introdução de um sistema elasto-plástico de dissipação de energia, (ii) reforço das ligações com chapas metálicas e (iii) utilização de reboco armado.

1. INTRODUÇÃO

As construções de paredes de alvenaria com elementos de madeira no seu interior podem ser observadas por toda a Europa, especialmente em regiões sísmicas (Diskaya, 2007; Dogangun, 2006; Gulkan, 2004; Langenbach, 2007; Makarios, 2006; Redondo, 2003). Os Edifícios Pombalinos, assim designados em homenagem ao Marquês de Pombal, são estruturas com o máximo de quatro pisos, com arcadas no piso térreo, pavimentos de madeira nos pisos superiores, paredes de alvenaria na fachada e paredes de frontal no interior. As paredes de frontal consistem num pórtico de madeira constituído por elementos verticais

1 Aluna de doutoramento 2 Professor Associado

† Autor para correspondência (joao.gomes.ferreira@tecnico.ulisboa.pt)

3

Professor Associado

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(prumos), horizontais (travessas) e diagonais (escoras, formando cruzes designadas de Santo André), preenchido com alvenaria.

Embora a estrutura "pombalina" tenha um bom comportamento sísmico, depois de mais de 250 anos estas construções necessitam de obras de reabilitação por causa da sua degradação natural, das intervenções inadequadas a que foram submetidas (tais como a adição de andares, modificação de elementos estruturais ou alteração da funcionalidade do edifício) e porque as novas exigências regulamentares são mais rigorosas no que se refere à resistência aos sismos.

O objectivo do trabalho experimental desenvolvido foi o de estudar o comportamento cíclico das paredes "frontal", com e sem reforço, por meio de ensaios quase estáticos com imposição de deslocamentos horizontais.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

O trabalho experimental foi dividido em duas partes. A primeira parte consistiu numa campanha experimental para avaliar o comportamento sísmico no plano das paredes "frontal" avaliando a contribuição de cada componente (estrutura de madeira simples e paredes de madeira com enchimento de alvenaria). Na segunda parte avaliou-se a eficácia de três métodos propostos de reabilitação sísmica deste tipo de paredes: (i) dissipadores elasto-plásticos, (ii) chapas de aço de reforço de ligações entre elementos de madeira e (iii) reboco armado.

2.1 Elementos Ensaiados

Os modelos ensaiados eram constituídos por quatro cruzes de Santo André. Foram construídos dez modelos semelhantes, sendo oito preenchidos com alvenaria nos espaços vazios e dois não preenchidos. Os modelos foram identificados como gaiola de madeira (TF) e paredes com alvenaria (MW) e numerados consoante o tipo de reforço (Tabela 1 e Figuras 1 e 2).

Tabela 1 - Modelos ensaiados

Tipo de Parede Designação

Gaiola de Madeira TF1, TF2

Parede de madeira com alvenaria MW1, MW2

Parede com alvenaria reforçada com dissipador MW3, MW4, MW5 Parede com alvenaria reforçada com chapas metálicas MW6, MW7

Parede com alvenaria reforçada com reboco armado MW8

a) Gaiola de Madeira (TF1/2) b) Paredes com alvenaria (MW1/2) Figura 1 - Paredes simples sem reforço

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a) Parede com o dissipador 1 (MW3) b) Parede com o dissipador 2 (MW4/5)

c) Parede com chapas metálicas (MW6/7) d) Parede com reboco aramado (MW8) Figura 2 - Paredes reforçadas

Na execução dos modelos foram reproduzidos os métodos de construção utilizados para a reabilitação deste tipo de estruturas. A madeira utilizada nos prumos e travessas foi o pinho bravo, com secções de 16×12 cm2 e 8×12 cm2 (12 cm corresponde à espessura da parede) (Figura 3). As ligações entre os prumos e travessas são do tipo meia-madeira. Para a ligação dos elementos de madeira utilizaram-se pregos de ferro de 8 cm, nas ligações das travessas e prumos, e de 12 cm, nas ligações das diagonais com os montantes.

2 ,4 8 x12 (cm) 0 ,89 0,86 0,25 8x12(cm) 16x12(cm) 0,86 8x12(cm) 0,12 0 ,16 8x12(cm) 8x12(cm) 8x12(cm) 0,25 2 ,1 0,08 0 ,08 0,08 0,08 16x12(cm) 2,46

(4)

Foi necessário fazer uma opção em relação ao tipo de alvenaria, dado que existem vários tipos de preenchimento, nomeadamente de argamassa com tijolos cerâmicos maciços, de argamassa com cacos cerâmicos (de telhas, tijolos, etc) e de argamassa com pedra irregular pequena. Optou-se, neste caso, por fazer um preenchimento com tijolos maciços (Figuras 4 e 5). Como os ensaios foram realizados com a alvenaria ainda jovem e a cal aérea (usada originalmente) apresenta um endurecimento por carbonatação muito lento, optou-se por uma composição bastarda com o traço de 1:2:6 (cimento: cal: areia). Os materiais utilizados foram cal hidratada (aérea), cimento Portland 32,5 N e areia numa relação areia lavada de rio/ areia de areeiro de 2/1. O tempo de secagem das alvenarias (período entre a construção das paredes e os ensaios) foi de 2 meses.

Figura 4 - Parede de alvenaria Figura 5 - Pormenor de execução da alvenaria 2.2 Reforço com dissipador elasto-plástico

O reforço das paredes de frontal pombalinas e, em particular, o aumento da sua capacidade de dissipação de energia pode melhorar o desempenho sísmico do edifício. O sistema de reforço/dissipação adoptado teve como objectivo reforçar a estrutura com um sistema exequível e económico, de modo a viabilizar a sua utilização em situações práticas. Neste sentido foram estudados dissipadores elasto-plásticos, compostos por elementos lineares de aço (varões ou barras) que através da sua plastificação asseguram a capacidade acrescida de dissipação de energia. Estes dissipadores funcionarão ao longo de uma diagonal da parede, para tirar partido da respectiva deformação.

O dissipador elasto-plástico foi executado com base nos princípios apresentados por Kumar et al. (2007), embora numa escala mais reduzida.

Concebeu-se um primeiro dissipador designado “Dissipador 1”, utilizado no ensaio da parede MW3, evoluindo para outro dissipador após a realização do primeiro ensaio com este reforço, com a designação “Dissipador 2”, no ensaio das paredes MW4 e MW5.

O “Dissipador 1” apresenta a seguinte configuração: núcleo de aço constituído por um varão de diâmetro 8 mm em aço do tipo S237 e com um comprimento de 55.5 cm, montado dentro de um tubo de aço com diâmetro de 33.7 mm e 4 mm de espessura, preenchido com resina para impedir a encurvadura do varão. Garantiu-se a lubrificação da interface entre o varão e a resina de modo a permitir o deslizamento dos elementos mas sem encurvar o varão. As Figuras 6 e 7 representam um esquema da configuração do “Dissipador 1”.

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Ch.100x200x10 UNP160 Varão de 8mm Secção B-B' Tubo 33.7mm Varão de 8mm UN P 1 60 TUB O 3 3.7 Sikadur-52 injection Secção A-A' Ch.100x200x10 UNP160 Varão de 8mm Secção B-B' Tubo 33.7mm Varão de 8mm UN P 1 60 TUB O 3 3.7 Sikadur-52 injection Secção A-A'

a)Secção A-A’ b)Secção B-B’

Figura 6 - Parede MW3, com

Dissipador 1 Figura 7 - Esquema do Dissipador 1

A configuração do Dissipador 1, que foi utilizado para reforçar a parede MW3, teve, no entanto, de ser alterada nos ensaios seguintes uma fez que não teve o comportamento pretendido, isto é, ocorreu encurvadura para fora do plano do dissipador juntamente com o perfil de ligação à parede.

Os materiais utilizados no segundo dissipador foram: varão de 8 mm de diâmetro com 55,5 cm de comprimento, perfis UNP100, chapa de 80 mm x 10 mm, guia de aço, chapa de 10 mm. As Figuras 8 e 9 representam o esquema da configuração no “Dissipador 2”.

O princípio de funcionamento é o mesmo, isto é, dissipar energia a partir da compressão e tracção do varão de aço de diâmetro 8 mm, sendo necessário, para tal, impedir a encurvadura lateral. De acordo com essa funcionalidade, foram colocadas guias soldadas nos perfis UNP 100, impedindo a encurvadura do varão para fora do plano. Por sua vez nas extremidades do varão foi soldada uma chapa 80 x 100 mm, que se colocou entre os dois perfis UNP 100 de forma a não poder encurvar. A Figura 10 mostra o varão com as chapas e os dois perfis soldados.

Secção AA Secção BB Ch. 10mm Ch. 10mm

Secção AA

Secção BB

F 8 mm Guide Pal.10 mm UNP 100 D.8 mm Guias Secção AA Secção BB

Figura 8 - Parede MW4, com

(6)

a) UNP100 b) Guias, o varão e as chapa c) Dissipador 2 Figura 10 - Elementos do Dissipador 2

2.3 Reforço com chapas metálicas

As paredes MW6 e MW7 foram reforçadas com chapas metálicas. Pretendeu-se avaliar a influência do confinamento das ligações entre os elementos de madeira das paredes através de colocação de chapas aparafusadas, com 3 mm de espessura, no comportamento das paredes reforçadas.

A geometria das chapas foi definida tendo por base conceitos usuais de pré-dimensionamento, de modo a garantir o reforço e confinamento das ligações sem perda significativa da capacidade de deformação. A Figura 11 mostra a geometria das chapas utilizadas.

(m) (m) (m)

a) Chapa 1 b) Chapa 2 c) Chapa 3

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2.4 Reforço com reboco armado

A parede MW8 foi reforçada com reboco armado, nestes caso apenas foi testado uma parede com este tipo de reforço devido a limitação do número de parede.

O uso de reboco armado é uma técnica de aplicação relativamente simples que tem vindo a ser utilizada na reabilitação de paredes de edifícios antigos. No estudo realizado pretendeu-se avaliar a influência deste tipo de solução na resistência e capacidade de dissipação de energia de paredes de frontal. A execução do reboco armado, aplicado em ambas as faces da parede MW8 (Figura 12), compreendeu as seguintes fases:

i) Aplicação de argamassa de chapisco da Secil, com aproximadamente 2 cm de espessura;

ii) Colocação da rede de metal distendido espinhaço 20/25 galvanizada;

iii) Pregagem da rede com furações atravessantes em quincôncio, 1 por metro, com varões ø8 mm, roscados e galvanizados;

iv) Execução do reboco sarrafado, de argamassa de chapisco com a referência comercial “ARMO-crete W”, com uma espessura aproximadamente 2 cm. O reboco armado foi aplicado em ambas as faces da parede.

a) Argamassa com rede metálica (pormenor) b) Argamassa com rede metálica Figura 12 - Reboco armado

2.5 Procedimento experimental

Os ensaios das paredes de frontal consistiram na aplicação de um deslocamento no topo das paredes através de um actuador com capacidade de 1.000 kN e 400 mm de curso. A força aplicada pelo actuador foi medida com uma célula de carga de 500 kN (marca TML) montada no êmbolo do actuador enquanto o deslocamento no topo das paredes foi medido através de um transdutor de deslocamento colocado do lado oposto à célula de carga (Figura 13).

Foram utilizados no total nove transdutores de deslocamento para analisar o comportamento da parede ao longo dos ensaios: três transdutores (D1, D2, D3) de deslocamento de fio, com um curso de 500 mm, (marca TML, modelo DP-500C) e seis deflectómetros de êmbolo (D4 a D9) com 25 mm de curso (marca TML, modelo CDP25). Na Figura 13 são indicadas as posições dos diversos deflectómetros utilizados.

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Legenda: 1) Actuador, 2) Êmbolo, 3) Viga distribuição, 4) Cabos de pré-esforço, 5) Viga de madeira, 6) Macacos hidráulicos, D1-D9) Transdutores, F1-F4) Células de carga

Figura 13 - Montagem de ensaio

Na direcção vertical foi imposta uma carga constante transmitida por cabos traccionados por macacos hidráulicos (Figura 3) para simular as acções gravíticas a que o módulo de parede pode estar sujeito quando inserido numa estrutura real, tendo-se adoptado um valor de 30 kN/m nas paredes de alvenaria e de 15 kN/m nas gaiolas (simulando apenas a carga absorvida pelos prumos). A aplicação dessa carga é feita através de uma viga metálica HEB 120 colocada no topo do modelo físico, onde é carregada pelos cabos em pontos localizados (pontos 4, Figura 13).

O procedimento de ensaio cíclico consistiu na imposição da história de deslocamentos definida pelo protocolo CUREE (Krawinkler, 2000), aplicável a estruturas de madeira. Esta história de deslocamentos consiste em sequências cíclicas de deslocamentos aumentando em amplitude progressivamente; cada fase consiste num primeiro ciclo que é submúltiplo ou múltiplo dum deslocamento de referência Δ, seguido de outros ciclos que têm amplitudes iguais a 75% do primeiro. Os segmentos variam em repetições de 3 a 7 ciclos.

Para deslocamento de referência foi considerado o valor de 90 mm obtido nos ensaios efectuados por Meireles (Meireles, 2010). A história de deslocamentos é apresentada na Figura 14. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 -200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200 D e sl oc a m e nt o (m m ) Nº de ciclos

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3. RESULTADOS 3.1 Paredes Simples

As curvas força-deslocamento obtidas para as gaiolas de madeira (TF) e para as paredes com alvenaria sem reforço (MW) podem ser observadas na Figura 15. Na figura 15.a) apresentam-se os diagramas completos e na figura 15.b) apresentam-se os diagramas correspondentes apenas a deslocamentos inferiores a 55 mm.

Analisando o comportamento das curvas verifica-se que a parede, quando atinge cerca de 55 mm de deslocamento, apresenta um incremento de rigidez. Contudo, esse aparente aumento de rigidez é devido ao aumento de força nos macacos hidráulicos quando estes atingem o fim de curso e passam a funcionar como tirantes passivos, em vez de impor uma força constante através do controlo da pressão hidráulica, não se podendo considerar esses valores para a caracterização das paredes. Assim, a análise restringe-se a um intervalo de ±55 mm de deslocamento como mostra o diagrama da figura 15.a).

O comportamento histerético das paredes de frontal é caracterizado por uma forte não linearidade na envolvente força horizontal – deslocamento no topo. Como se pode observar na Figura 15, as paredes com preenchimento de alvenaria possuem, ao longo dos ciclos, uma rigidez superior (atingem forças mais elevadas para deslocamentos semelhantes) e garantem uma maior dissipação de energia (área interior dos ciclos mais elevada). A força obtida para um deslocamento de 55 mm é de cerca de 30 kN para gaiolas de madeira e de cerca de 50 kN nas paredes de alvenaria.

-200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200 -150 -100 -50 0 50 100 150 TF1 TF2 MW1 MW2 F orç a (kN ) Deslocamento (mm) -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 -60 -40 -20 0 20 40 60 TF1 TF2 MW1 MW2 Deslocamento (mm)

a) Deslocamentos entre -150 e +150 mm b) a) Deslocamentos entre -55 e +55 mm Figura 15 - Curvas força-deslocamento das gaiolas de madeira

e das paredes com alvenaria

Nos ensaios realizados verificou-se que a estrutura de madeira dos frontais pombalinos apresenta uma elevada capacidade de deformação enquanto a alvenaria contribui para o aumento da rigidez e da resistência do conjunto e influencia o modo de rotura, evitando, por exemplo, a encurvadura das diagonais para fora do plano (Figura 16).

É de salientar que as paredes de alvenaria têm uma maior capacidade de dissipar energia, o que implica um maior amortecimento, sendo esta característica muito relevante para o comportamento das paredes face à acção sísmica.

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a) Rotura do nó da diagonal comprimida b) Rotura da travessa intermédia da parede Figura 16 - Modos de rotura das paredes pombalinas

3.2 Reforço das paredes com o dissipador

Da análise das Figuras 17.a) e 17.b) constata-se que o dissipador com o melhor comportamento foi o instalado no elemento MW5.

No ensaio do elemento MW3, correspondente ao reforço com o Dissipador 1, observa-se na figura 17.b) que a força imposta no dissipador não garantiu dissipação de energia, devido à encurvadura do dissipador e do respectivo sistema de fixação, obtendo-se um comportamento idêntico às paredes sem reforço. Por consequência, evoluiu-se para o Dissipador 2 conforme já referido.

Observa-se, na figura 17.b), a dissipação de energia no ensaio do elemento MW4 (com Dissipador 2), nos primeiros ciclos do ensaio (área das curvas histeréticas), entretanto, ocorreu a rotura da soldadura de uma guia ligada ao perfil, que provocou a encurvadura do varão responsável pela dissipação da energia, pelo que esta deixou de ocorrer.

Observa-se na Figura 17.b), que a dissipação de energia na parede MW5 (Dissipador 2 com reforço das soldaduras das guias) ocorre à tracção e à compressão. No entanto, é de salientar que os deslocamentos máximos do dissipador são de 22 mm à tracção e de 15 mm à compressão, devido à encurvadura localizada que o varão manifesta à compressão (Figura 18.b), o que originou uma maior dissipação de energia na fase de tracção do que na fase de compressão. -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100 MW3 MW4 MW5 F o rç a (k N ) Deslocamento (mm) -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 -30 -20 -10 0 10 20 30 MW3 MW4 MW5 F o rç a n o d is si p a d o r (k N ) Deslocamento no dissipador (mm)

a) Comportamento global da parede b) Comportamento do dissipador Figura 17 - Curvas histeréticas das paredes com dissipador

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Na Figura 18 mostra-se a rotura da soldadura no ensaio do elemento MW4, à compressão (Figura 18 a) e a encurvadura localizada do Dissipador 2 no ensaio do elemento MW6 (Figura 18b).

a) Dissipador 2, rotura da soldadura da guia do varão no ensaio de MW4

b) Instabilidade do varão do dissipador no ensaio de MW6 Figura 18 - Rotura e instabilidade do varão dos dissipadores

Nas curvas força-deslocamento dos ensaios MW1 e MW5, respectivamente parede sem reforço e parede reforçada com o Dissipador 2, apresentadas na Figura 19, foi constatado um deslocamento máximo de -54 mm (tracção), correspondente à força de 82.3 kN no ensaio MW5 e 46 kN no ensaio sem aplicação de reforço estrutural – MW1. Ao observar-se as áreas dos ciclos histeréticos nos dois ensaios é perceptível a maior energia dissipada no ensaio MW5, nomeadamente no ciclo correspondente à aplicação de uma força da zona de tracção. Curiosamente na zona dos ciclos de compressão as curvas força-deslocamento são semelhantes, o que se deve à encurvadura do varão de dissipação. Este fenómeno conduz a uma dificuldade acrescida na obtenção de um comportamento simétrico (tracção-compressão), podendo-se, no entanto, tornear este problema através da colocação de dois dissipadores, um em cada diagonal. Este procedimento implica, no entanto, um aumento de espessura na parede, o que seria uma desvantagem da solução.

-70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100 F orç a (kN ) Deslocamento (mm) MW5 MW1

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3.3 Reforço com chapas metálicas

As paredes reforçadas com chapas metálicas apresentam aumento da rigidez e da energia dissipada, como mostra a Figura 20. Para o deslocamento aplicado de 54 mm obteve-se uma força de 109 kN nas paredes reforçadas (MW6 e MW7) e 46 kN na parede simples.

Comparando o andamento das curvas histeréticas nas paredes verifica-se que o confinamento das ligações em meia madeira promove um aumento da energia dissipada desde o início no ensaio. Devido ao reforço nas ligações os prumos ficam com uma melhor ligação à travessa inferior, levantando menos, e o fim de curso dos macacos hidráulicos só ocorre para um valor do deslocamento horizontal de cerca de 80 mm (por comparação com os 60 mm nas paredes sem reforço).

-150 -100 -50 0 50 100 150 -200 -150 -100 -50 0 50 100 150 200 F orç a (kN ) Deslocamento (mm) MW6 MW7 MW1

Figura 20 - Curvas histeréticas na parede MW6/7 e MW1 3.4 Reforço com reboco armado

Nas curvas histeréticas dos ensaios MW1 e MW8, respectivamente parede sem reforço e parede reforçada com reboco armado, apresentadas na Figura 21, constata-se que, até aos 10 mm de deslocamento, a rigidez da parede reforçada é significativamente superior e a dissipação de energia significativamente inferior. Para os deslocamentos com amplitude superior a 10 mm ocorreu, localmente, fendilhação do reboco armado na base da parede reforçada, com a sua rigidez a diminuir dando-se início à dissipação de energia. Observa-se que para um deslocamento de 40 mm a força aplicada é de cerca de 60 kN e de cerca de 40 kN, para as paredes reforçada e simples, respectivamente.

A análise dos resultados obtidos nos ensaios das duas paredes permite constatar que este tipo de reforço é o menos eficiente em comparação com os outros reforços aqui apresentados. O mecanismo de rotura na parede com reboco armado origina o corte localizado na base, tendo como consequência o aproveitamento deficiente deste sistema de reforço.

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-70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 F orç a (kN ) Deslocamento (mm) MW1 MW8

Figura 21 - Curvas histeréticas nas paredes MW8 e MW1

4. CONCLUSÕES

Com a campanha experimental realizada obtêm-se as seguintes conclusões (Figura 22):

- Nos ensaios realizados verificou-se que a estrutura de madeira dos frontais pombalinos apresenta uma elevada capacidade de deformação, enquanto a alvenaria contribui para o aumento da rigidez e da resistência do conjunto, influenciando, também, o modo de rotura através, por exemplo, da limitação da encurvadura das diagonais para fora do plano.

- As paredes de alvenaria têm uma maior capacidade de dissipar energia do que os elementos de madeira simples, o que implica um maior amortecimento, sendo esta característica muito relevante para o comportamento das paredes face à acção sísmica. - A parede MW5 teve um bom comportamento com o Dissipador 2. No entanto é muito

difícil garantir um comportamento idêntico à tracção e à compressão, devido à possível instabilidade do varão no ciclo de compressão.

- As paredes reforçadas com chapas (ensaios dos elementos MW6 e MW7) aumentaram a resistência e a energia dissipada em cada ciclo.

- A parede reforçada com reboco armado teve um aumento da resistência inicial até ao início da fendilhação, com posterior diminuição de resistência e rigidez.

- A comparação dos sistemas de reforço utilizados na campanha experimental, descrita neste artigo, permitiu concluir que, de todos os sistemas testados, a aplicação de chapas metálicas foi o que induziu o melhor comportamento, com maior dissipação de energia e simetria nos ciclos histeréticos.

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-80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 -120 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100 120 F orç a (kN ) Deslocamento (mm) MW5 MW1 MW7 MW8

Figura 22 - Curvas histeréticas nas paredes MW1/5/6/8

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FCT o financiamento deste trabalho através do projecto PTDC/100168/2008 – REABEPA, e agradecem à HCI a colaboração na construção dos modelos de ensaio.

REFERÊNCIAS

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