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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA

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FREQUÊNCIA E IDENTIFICAÇÃO DE HEMOPARASITOS EM SERPENTES DA FAMÍLIA VIPERIDAE MANTIDAS EM CATIVEIRO EM PORTO ALEGRE, RIO

GRANDE DO SUL.

LINA CRESPO BILHALVA

PORTO ALEGRE 2016/1

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FREQUÊNCIA E IDENTIFICAÇÃO DE HEMOPARASITOS EM SERPENTES DA FAMÍLIA VIPERIDAE MANTIDAS EM CATIVEIRO EM PORTO ALEGRE, RIO

GRANDE DO SUL.

Autor: Lina Crespo Bilhalva

Monografia apresentada à faculdade de Veterinária como requisito parcial para obtenção da Graduação em Medicina Veterinária

Orientador: Prof. Dr. João Fábio Soares Coorientador: Mariana Olinto Dreyer da Silva

PORTO ALEGRE 2016/1

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Répteis em geral podem ser hospedeiros de uma gama de parasitos sanguíneos, superando a quantidade de gêneros e espécies encontrados em aves e mamíferos. Mesmo com elevado potencial para o desenvolvimento de pesquisas, as hemoparasitoses ainda são pouco estudadas nas espécies de répteis nativas no Brasil. Baseado nessas informações, foram recebidas amostras de sangue de 25 serpentes da família Viperidae mantidas em cativeiro no Núcleo Regional de Ofiologia de Porto Alegre (NOPA) para a realização de hemograma e pesquisa por hemoparasitos. Uma pequena quantidade de sangue de cada animal foi destinada a cultura para tripanossomatídeos, as quais foram negativos em sua totalidade. Através de esfregaço sanguíneo detectou-se um animal positivo para Hepatozoon spp., sem outras alterações no hemograma de rotina. Foi realizada morfometria deste protozoário a fim de identificação futura em nível de espécie. O excedente do sangue total foi congelado para a realização ocasional de outras pesquisas sobre o assunto.

Sabe-se que muitos parasitos do ambiente silvestre podem ser carreados por outros animais para o meio cativo e ocasionar sua transmissão dependendo do tipo de parasito, manejo, ou vetor necessário à sua propagação. Além disso, também é importante conhecer as espécies de hemoparasitos que infectam estes animais, bem como seus possíveis danos ao sistema hematopoiético, o que se torna relevante na prevenção de doenças, podendo refletir na conservação destas espécies em cativeiro e na manutenção de seu banco genético.

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Reptiles in general can host a wide range of blood parasites, surpassing the number of genera and species that can be found in birds and mammals. Even with a large amount of data to be searched, the hemoparasitic diseases are waiting to be studied adequately in native reptiles in Brazil.

Based on this information, blood samples from 25 Viperidae snakes kept in captivity in Núcleo Regional de Ofiologia de Porto Alegre (NOPA) were received to conduct count and search for blood parasites. A small amount of blood from each animal was designed in a culture to search for trypanosomes, which were negative. In blood smear was detected one positive animal for Hepatozoon sp., with no other changes in blood count. Morphometry was performed in this protozoan to future identification of the species. The surplus colleted was frozen for another further research.

It is known that many parasites of wild environment can be carry by animals for captive environment and cause their transmission depending on the type of parasite, management, or vector. Moreover, it is also important to know the species of blood parasites infecting these animals and their damage to the hematopoietic system, which is relevant in the prevention of diseases that can reflect on the conservation of the species in captivity and maintenance of the genetic bank of endangered species.

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AGRADECIMENTOS

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO...9 2 REVISÃO DE LITERATURA...10 2.1 Hematologia...10 2.2 Hemoparasitos...11 2.2.1 Hemosporídeos ... 12 2.2.2 Hemogregarinas ... 12 2.2.2.1 Hepatozoon ... 13 2.2.3 Piroplasma ... 13 2.2.4 Tripanossomatídeos ... 14 3 MATERIAIS E MÉTODOS ... 15 4 RESULTADOS ... 16 5 DISCUSSÃO ... 19 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 20 REFERÊNCIAS ... 21

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Morfologia normal das células sanguíneas de viperídeos...17 Figura 2 – Gamonte de Hepatozoon spp. em amostra de Bothrops pubescens...18

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LISTA DE TABELAS

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1 INTRODUÇÃO

Doenças transmitidas por vetores são reconhecidas como um grande risco para a saúde animal e humana. A propagação de populações endêmicas de patógenos vem sendo documentada e associada não somente com as mudanças climáticas, como também a expansão da civilização e ao comércio internacional (HARRUS; BANETH, 2005).

Os parasitos sanguíneos de répteis são frequentes e muito mais diversificados, tanto em número de espécie quanto de gênero ao serem comparados aos de aves e mamíferos. Dentre várias especulações, podemos citar sua baixa mobilidade associada a pouca diferenciação de suas características quando comparados às outras classes de animais (TELFORD, 2008).

As serpentes formam um grupo extremamente variado, de atividade predatória, com hábitos estritamente carnívoros. Nesses animais podemos perceber diversas características que os tornam ótimos hospedeiros para hemoparasitos, como a capacidade de estar presente em diversos nichos e sua tendência à maior longevidade, quando comparados aos hospedeiros mamíferos (DAVIS, 2012).

Normalmente, a presença de hemoparasitos não possui relação direta com doenças. Isso se deve provavelmente a uma longa história coevolutiva, na qual tivemos a sobrevivência de hospedeiros mais resistentes e parasitos menos patogênicos. Entretanto, em algumas situações podemos ver o desenvolvimento de enfermidades, como em casos de estresse e infecções em hospedeiros imaturos (TELFORD, 2008). Madsen et al. (2005) observou uma relação entre serpentes da espécie Liasis fuscus altamente infestadas por Hepatozoon spp. com taxa reprodutiva reduzida e dificuldades no desenvolvimento.

O intuito deste trabalho é pesquisar a ocorrência e identificar os hemoparasitos encontrados em serpentes mantidas em cativeiro no Núcleo Regional de Ofiologia de Porto Alegre (NOPA), localizado dentro do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Hematologia

O sangue de vertebrados não-mamíferos requer tempo e familiaridade para a realização de avaliação microscópica, visto que possuem muitas diferenças morfológicas entre as espécies, com uma alta variabilidade celular ao compararmos com mamíferos (SYKES & KLAPHAKE, 2015). Seus eritrócitos maduros são maiores do que de aves e mamíferos, com formato oval e margens nucleares irregulares. Os imaturos se apresentam com um tamanho reduzido, arredondados, citoplasma mais basofílico e cromatina menos densa (CAMPBELL, 1996; SYKES, 2008). De forma comum, são encontradas figuras mitóticas associadas a eritrócitos no sangue periférico de répteis (CAMPBELL, 2004). A presença de eritrócitos nucleados, os quais também são encontrados em aves, anfíbios e peixes, torna inviável a análise destas amostras em contadores automáticos (SYKES, 2008).

Inclusões basofílicas, arredondadas ou de forma irregular, são frequentemente vistas no citoplasma de eritrócitos de muitas espécies de repteis. Das diversas teorias sobre sua origem, podemos classificá-las como simples artefatos na preparação das lâminas ou degeneração de organelas. Também podemos ver a presença de outros artefatos, como vacúolos ou áreas refringentes, os quais podem ser evitados com uma correta e cuidadosa realização do esfregaço sanguíneo (CAMPBELL, 2004).

Uma análise leucocitária completa inclui a contagem total de leucócitos, diferencial e morfologia celular. Existem diversos métodos para a avaliação manual destas células, entre eles o sistema Unopette, solução de Natt-Herrick e contagem estimada no esfregaço sanguíneo. Todos estes métodos possuem vantagens e desvantagens, com a precisão dependendo da experiência do patologista clínico (CAMPBELL, 1996; SYKES, 2008).

Segundo Alleman et al (1999), podemos encontrar em serpentes quatro tipos de leucócitos: heterófilos, basófilos, azurófilos e linfócitos. A presença de eosinófilos nesses animais é controversa, necessitando maiores estudos. Heterófilos são considerados os granulócitos mais comuns, morfologicamente arredondados, com grânulos fusiformes eosinofílicos e núcleo redondo ou oval, localizado de forma excêntrica. Sua função é análoga à realizada por neutrófilos. Outros granulócitos encontrados são os basófilos, pequenas células arredondadas com numerosos grânulos basofílicos, capazes de dificultar a visualização do núcleo (CAMPBELL, 1996).

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Linfócitos são os leucócitos mais encontrados no sangue de serpentes. São pequenas células, com citoplasma basofílico, cromatina densa e alta proporção de núcleo comparado ao citoplasma (ALLEMAN, 1999; CAMPBELL, 1996). O segundo mais encontrado são os azurófilos, os quais são arredondados, maiores que eritrócitos e com o citoplasma repleto de grânulos azurofílicos (ALLEMAN, 1999).

Os trombócitos de répteis e aves são nucleados, pequenos, ovalados, com um núcleo de cromatina densa e citoplasma em tons de azul ou transparente. É importante a correta distinção entre pequenos linfócitos e trombócitos durante a contagem de leucócitos ou diferencial (SYKES, 2008; ALLEMAN, 1999).

2.2 Hemoparasitos

Parasitos sanguíneos são comuns em répteis, com sua presença frequentemente detectada de forma acidental e sem relação com patologias. Entretanto, alguns hemoparasitos possuem um grande potencial para causar sinais clínicos, como anemia. Alguns fatores predisponentes, como stress, erros de manejo e a presença de outros patógenos podem eventualmente aumentar seu potencial patogênico (CAMPBELL, 2004; JACOBSON, 2007). Geralmente são necessários vetores invertebrados para a sua transmissão, como artrópodes ou anelídeos (TELFORD, 1984).

No sangue de répteis podemos encontrar representantes de todos os táxons que parasitam outros vertebrados, tais como protozoários, helmintos e rickettsias, (TELFORD, 1984). Há diversas problemáticas relacionadas à taxonomia de hemoparasitos e sua relação com seus hospedeiros, necessitando de maiores estudos filogenéticos. Para fins didáticos, neste trabalho iremos agrupá-los conforme Telford (2009), que subdivide os hemoparasitos encontrados em serpentes em hemosporídeos, hemogregarinas, piroplasmas e tripanossomatídeos.

2.2.1 Hemosporídeos

O agente causador da malária pode ser encontrado em répteis nos cinco continentes, ocorrendo em quase todas as famílias de lagartos e, em alguns casos, em serpentes (KREIER,

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1997). Foram encontrados alguns registros de Plasmodium do subgênero Ophidiella parasitando serpentes das famílias Boidae, Elapidae e Viperidae na África (FHANTAM & PORTER, 1950), bem como em Colubridae no Brasil (GARNHAM, 1965; PESSOA & FLEURY, 1968) e Costa Rica (AYALA, MORENO & BALAÑOS, 1978). Telford (2009) associa a ausência destes hemoparasitos em elapídeos brasileiros devido a grande parte desses animais possuírem hábitos fossoriais, que impossibilitaria o contato com possíveis vetores. Também há registros de algumas espécies de Haemoproteus, com sua primeira descrição em serpentes por Bouet (1909) com Haemoproteus mesnili e por Telford (2007) com Haemoproteus balli, ambos em elapídeos do gênero Naja sp.

Em relação à sua morfologia, seus gametócitos, que são de tamanhos muito variados, possuem pequenos grânulos refrativos, que auxiliam na diferenciação em relação à hemogregarinas (CAMPBELL, 2004). Pouco se sabe sobre seus efeitos e desenvolvimento nos hospedeiros e vetores, mas, segundo Campbell (2004), infecções por Plasmodium spp. podem resultar em anemia severa.

2.2.2 Hemogregarinas

Hemogregarinas formam o grupo mais dominante de hemoparasitos em serpentes, sendo descrita em quase todas as famílias, com exceção dos animais de hábitos estritamente fossoriais (SMITH, 1996). Os três gêneros que mais costumam ser encontrados em répteis são Hemogregarina, Hepatozoon e Karyolysus (CAMPBELL, 2004). Costumam ser transmitidos por artrópodes ou anelídeos, sendo estes responsáveis pelo desenvolvimento de parte de seu ciclo ou atuando apenas vetores mecânicos. Outros métodos de transmissão conhecidos para as hemogregarinas é o vertical (TELFORD, 1984) e, como no caso do Hepatozoon sipedon, através da predação de animais infectados (SMITH, DESSER & MARTIN, 1994).

Estes parasitos possuem uma ampla distribuição, com um grande potencial cosmopolita, podendo ser encontrados em qualquer ambiente no qual tenha a ocorrência de répteis. (TELFORD, 1984).

As hemogregarinas são capazes de infectar um réptil quando ocorre a transmissão de seus esporozoítos pelo vetor durante o repasto sanguíneo deste ou na ingestão do invertebrado pelo hospedeiro vertebrado (CAMPBELL, 2004). Ainda que possam causar uma alta parasitemia por um longo período de tempo, pouco está elucidado sobre a patogenicidade das hemogregarinas aos seus hospedeiros (TELFORD, 1984).

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As hemogregarinas são identificadas pela presença de gametócitos intracitoplasmáticos em eritrócitos, causando a distorção da célula hospedeira.

2.2.2.1 Hepatozoon

O gênero Hepatozoon inclui algumas espécies de parasitos sanguíneos heteroxenos, os quais envolvem vertebrados como hospedeiros intermediários e invertebrados hematófagos como hospedeiros definitivos. Diversos artrópodes, como mosquitos, mosquito-palha (flebotomíneos), moscas tsetsé, triatomídeos, piolhos, pulgas e acarídeos podem ser considerados seus hospedeiros invertebrados. Além destes, há relatos de sanguessugas, que, supostamente, poderiam agir como vetores destes parasitos (SMITH, 1996).

Infecções por Hepatozoon spp. são descritas em mais de 200 espécies de serpentes (LEVINE, 1988), portanto, são considerados como as hemogregarinas mais frequentes nestes hospedeiros (SMITH, 1996). Seus gamontes são alongados na célula hospedeira, com um núcleo de cromatina densa. Encontramos espécies de Hepatozoon spp. que variam entre 10 µm a 20 µm de comprimento, mas normalmente mantendo a média de 14-18 µm (TELFORD, 2008).

É interessante destacar a sua baixa especificidade em relação aos seus hospedeiros, visto que uma mesma espécie de Hepatozoon sp. pode parasitar mais de uma espécie de serpente e uma única serpente é capaz de ser parasitada por diversas espécies de Hepatozoon spp. (SMITH, 1996).

2.2.3 Piroplasmas

Descritos em 1962 por Pienaar, são representados pelo gênero Serpentoplasma em ofídios. São pequenos, com a aparência de corpos anaplasmoides em seus estágios iniciais e com tamanhos de até 2,5 µm, embora possam chegar a 4 µm. Normalmente vistos como vacúolos com um “ponto” de cromatina à margem ou como núcleos irregulares sem citoplasma. Sua infecção inicia nos trombócitos, onde a cromatina é condensada para formar um núcleo capaz de infectar eritrócitos.

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Este protozoário foi pobremente descrito na literatura, sendo encontrado novamente por Telford (1984) em um colubrídeo no México e em mais cinco espécies de serpentes, entre colubrídeos e boídeos. Segundo Telford (2008), estes dados indicariam uma prevalência de aproximadamente 1%.

2.2.4 Tripanossomatídeos

São descritas aproximadamente 20 espécies do gênero Trypanosoma em serpentes (TELFORD, 2008). São protozoários extracelulares, grandes, com um único flagelo e uma proeminente membrana ondulante, semelhantes aos encontrados em aves e mamíferos (CAMPBELL, 2004). No sangue podemos encontrar na forma de tripomastigota circulatória (TELFORD, 2008).

A presença deste parasito foi detectada em todas as ordens de répteis, com uma distribuição global (CAMPBELL, 2004). Infecções ocorridas em ambientes naturais são aparentemente não-patogênicas, porém, quando realizada de forma experimental em diversos hospedeiros, pode ser fatal (TELFORD, 1984). Pouco se conhece sobre seus vetores, entre eles diversos dípteros e sanguessugas e sobre seu ciclo de vida, o qual é pobremente descrito (TELFORD, 2008).

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3 MATERIAIS E MÉTODOS

Amostras sanguíneas de 25 serpentes cativas do NOPA foram coletadas em tubos de heparina lítica, com uma gota imediatamente destinada à realização do esfregaço sanguíneo e outras três para cultura de tripanossomatídeos. Essas amostras foram recebidas e processadas no Laboratório de Análises Clínicas da UFRGS (LACVet/UFRGS), com a pesquisa por hemoparasitos sendo realizada no Laboratório de Protozoologia e Rickettsioses Vetoriais da FaVet/UFRGS. Para fins de uniformização, foram formados cinco grupos, com as espécies Bothrops pubescens, Bothrops diporus, Bothrops alternatus, Bothrops jararaca e Crotalus durissus, cada um com cinco indivíduos da mesma espécie.

Para a hematimetria e leucometria, foi diluído 20 µl de sangue em 4 ml de solução de Natt-Herrick, o que permite verificar a quantidade de eritrócitos e leucócitos na mesma amostra (SYKES, 2008). Essa diluição foi aplicada em uma Câmara de Neubauer e analisada em microscópio óptico com aumento de 40x. Para uma maior acurácia, todas as contagens foram realizadas em duplicata. O hematócrito, junto com a proteína total, foi avaliado através de capilares preenchidos com sangue e processados em uma centrífuga microprocessada digital Daiki (DT-20000-BI) a 11.000 rpm (12000g) por 5 minutos. Para aferir a concentração de hemoglobina foi utilizado um hemoglobinômetro (HEMOCUE).

Todas as lâminas foram coradas com Wright-Giemsa e contracoradas com Panótico Rápido para melhor visualização de margens celulares e hemoparasitos. A leitura desses esfregaços foi realizada em microscópio óptico, com a objetiva de 100x em óleo de imersão. Os valores morfométricos foram obtidos através de medidas calculadas em uma ocular micrometrada, com respectivo ajuste de correção para as objetivas.

Para a pesquisa de tripanossomatídeos, foram inoculadas três gotas de sangue total recém coletado em um tubo com um meio bifásico constituído por uma fase sólida BAB (blood agar base) com 10% de sangue de coelho, e uma fase líquida de meio LIT com soro fetal bovino e antibióticos. Estes tubos foram mantidos em temperatura ambiente até seu envio ao laboratório, onde permaneceram em estufa B.O.D. (demanda bioquímica de oxigênio) a 28ºC. Após dez dias, uma pequena fração deste meio foi posicionada sob lâmina e lamínula, onde foi analisada em microscópio óptico a presença de tripanossomatídeos. As novas avaliações ocorreram a cada sete dias, até cumprir o protocolo de 30 dias de análise. Caso positiva, a amostra seria enviada para extração de DNA e posterior PCR.

O excedente do sangue total foi congelado para realização de futuros estudos filogenéticos, independentes desta proposta.

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4 RESULTADOS

Os valores obtidos nos hemogramas foram agrupados por espécie através de média e desvio-padrão, conforme tabela 1. Estes dados encontram-se dentro dos valores de referência para viperídeos (GREGO, 2006; ALVES, 2014). Morfologicamente, as células não apresentavam maiores anormalidades (Figura 1), com a exceção da presença de vacúolos intraeritrocitários em esfregaços de seis animais, condizentes com inclusões de piroplasmas. Foram separadas alíquotas sanguíneas para a realização de posteriores estudos moleculares.

Tabela 1. Médias ± desvio padrão dos valores hematológicos obtidos.

Parâmetro hematológico Bothrops jararaca (n=5) Bothrops pubescens (n=5) Bothrops alternatus (n=5) Crotalus durissus (n=5) Bothrops diporus (n=5) Média ± desvio-padrão Hematócrito (%) 32,6 ± 4,39 21 ± 5,43 22,4 ± 7,7 27 ± 4,84 21,2 ± 3,56 Proteínas totais (g/L) 57,6 ± 14,24 67,2 ± 9,65 50 ± 15,81 48 ± 9,69 52 ± 12,49 Hemoglobina (g/dL) - - - 7,84 ± 1,66 6,24 ± 1,28 Eritrócitos (x10⁶/mm³) 0,63 ± 0,13 0,41 ± 0,14 0,43 ± 0,12 0,53 ± 0,1 0,41 ± 0,09 VCM (fl) 524,69 ± 88,79 544,23 ± 188,85 505,44 ± 79,77 528,13 ± 27,06 518,36 ± 66,76 CHCM (%) - - - 28,94 ± 1,25 29,29 ± 1,05 Leucócitos (x10³/mm³) 6,54 ± 3,06 6,34 ± 2,62 4,58 ± 3,5 3,12 ± 0,65 6,42 ± 2,1 Heterófilos (x10³/mm³) 0,86 ± 0,51 0,95 ± 0,57 1,19 ± 1,44 0,45 ± 0,11 1,41 ± 0,73 Basófilos (x10³/mm³) 0,52 ± 0,58 0,19 ± 0,19 0,18 ± 0,16 0,01 ± 0,01 0,35 ± 0,24 Linfócitos (x10³/mm³) 2,55 ± 1,48 4,57 ± 2,21 1,62 ± 0,78 2,09 ± 0,37 2,6 ± 1,79 Azurófilos (x10³/mm³) 2,57 ± 1,72 1,14 ± 1,21 1,6 ± 1,5 0,55 ± 0,47 2,02 ± 1,4

VCM = volume corpuscular médio; CHCM = concentração de hemoglobina corpuscular média.

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Figura 1. Morfologia normal das células sanguíneas de viperídeos.

A = azurófilo em sangue de B. alternatus (seta); B = heterófilo em sangue de B. alternatus (seta); C = basófilo em sangue de C. durissus (seta); D = linfócito (seta) e trombócito (cabeça de seta) em sangue de C. durissus. Corantes Wright-Giemsa e Panótico, 100x.

Em apenas um dos indivíduos foi confirmada a presença de Hepatozoon spp. (Figura 2), sendo este um espécime de Bothrops pubescens. Na morfometria os valores médios obtidos para o comprimento dos gamontes foram de 14,33 µm (± 0,72 µm) e em largura 5,13 µm (± 0,6 µm). O núcleo obteve diâmetro médio de 3,62 µm (± 0,52 µm). As amplitudes foram de 13,28-14,92 µm para o comprimento, 4,65-5,96 µm para a largura e 3,64-4,52 µm para o diâmetro do núcleo.

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Figura 2. Gamonte de Hepatozoon spp. em amostra de Bothrops pubescens. Corantes Wright-Giemsa e Panótico, 100x.

As culturas realizadas para a pesquisa de tripanossomatídeos foram conduzidas em colaboração com o Laboratório de Doenças parasitárias da FMVZ/USP, com o Dr. Arlei Marcili do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da FMVZ/USP. Das 25 amostras analisadas, 22 foram negativas e 3 foram contaminadas por outros microorganismos.

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5 DISCUSSÃO

Nesse estudo, uma prevalência de 4% de animais positivos para Hepatozoon spp. foi encontrada. Este resultado se difere quando comparado ao de Pessoa et al. (1974), que obteve 17,1% de prevalência, bem como Hull e Camin (1960) com 30,8% de positivos e O’Dwyer et al. (2003) com 16,4%. Essa diferença pode ser explicada pelo baixo número de amostras obtidas, bem como, pelo fato dos animais já viverem em cativeiro por um longo período, dificultando o contato com vetores ou outros meios para a infecção. Também podemos relacionar às condições ecológicas, como a diferença na abundância de vetores, hospedeiros e o clima observado no estado do Rio Grande do Sul, visto que não há estudos de prevalência deste hemoparasito nesta região.

Também foram encontradas inclusões diferenciadas nos eritrócitos destes animais, as quais não foram passíveis de identificação através da sua morfologia, embora sejam semelhantes à Serpentoplasma spp., conforme descrito por Telford (2008). Entretanto, o autor sugere uma prevalência muito mais baixa.

Neste trabalho, a prevalência de inclusões compatíveis com Serpentoplasma spp. foi de 24% (6/25), o que significaria uma ocorrência alta do agente. Futuros estudos moleculares serão conduzidos para avaliar a real presença deste protozoário.

O animal positivo para Hepatozoon spp. possuía índices hematológicos dentro dos valores de referência e ausência de sinais clínicos visíveis. Isso é compreensível visto que se tratava de uma baixa parasitemia.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo pudemos determinar a prevalência de Hepatozoon sp. bem como a ausência de Trypanosoma sp. em algumas serpentes mantidas em cativeiro em Porto Alegre. É importante citar a dificuldade em realizar a pesquisa de parasitos no sangue desses animais devido ao pouco conhecimento a respeito das suas inclusões de outras origens, assim como a dificuldade, em alguns casos, de denominar achados hematológicos como simples artefatos. A pesquisa de hemoparasitos em répteis mantidos em cativeiro e de vida livre é de extrema importância, tanto para a pesquisa e conservação como para a clínica, visto que são desconhecidas as possíveis alterações causadas por estes no organismo do animal. É interessante considerar o fato de que a maioria dos viperídeos possui reprodução do tipo vivípara, isto é, o embrião se desenvolve dentro do corpo da fêmea, sem a formação de um ovo propriamente dito, o que poderia auxiliar na propagação dos patógenos que possuem transmissão vertical em cativeiro, não havendo a necessidade de vetores. Estudos futuros são necessários para a identificação de hemoparasitos nas serpentes do sul do Brasil, a fim de determinar a prevalência destes protozoários nesse ambiente e para a compreensão de eventuais patologias.

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REFERÊNCIAS

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Referências

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