Composição Botânica da Dieta de
Caprinos em Vegetação Típica de
Caatinga sob Diferentes Taxas de
Lotação
Boletim de Pesquisa
e Desenvolvimento
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José Givaldo Góes Soares
Clovis Guimarães Filho
Luiz Maurício Cavalvante Salviano
Composição Botânica da Dieta
de Caprinos em Vegetação
Típica de Caatinga sob
Diferentes Taxas de Lotação
Petrolina, PE 2006
ISSN 1808-9968 Dezembro, 2006
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Semi-Árido
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Embrapa Semi-Árido Soares, José Givaldo Góes
Composição botânica da dieta de caprinos em vegetação típica de caatinga sob diferentes taxas de lotação / José Givaldo Góes Soares, Clóvis Guimarães Filho, Luiz Maurício Cavalcanti Salviano. ---- Petrolina, PE : Embrapa Semi-Árido, 2006.
19 p. --- (Embrapa Semi-Árido . Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 72).
1. Comprimento - Alimentação. 2. Caatinga - Dieta - Compo-sição . I. Soares, José Givaldo Góes. II. Guimarães Filho, Clóvis. III. Salviano, Luiz Maurício Cavalcante. IV. Série.
© Embrapa 2006
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Composição Botânica da
Dieta de Caprinos em
Vegetação Típica de
Caatinga sob Diferentes
Taxas de Lotação
José Givaldo Góes Soares1 Clovis Guimarães Filho2
Luiz Maurício Cavalcante Salviano3
1Engo Agro, M. Sc., Pesquisador em Manejo de Pastagens. Embrapa Semi-Árido. Caixa Postal 23,
56302-970 Petrolina-PE. givagoes@uol.com.br
2 Méd. Vet., M. Sc., Pesquisador em Manejo da Reprodução. Embrapa Semi-Árido. clovisgf@uol.com.br 3 Méd. Vet., D.Sc., Pesquisador em Nutrição Animal. Embrapa Semi-Árido. luiz.salviano@univasf.edu.br
Resumo
Uma considerável extensão territorial da região semi-árida do Nordeste do Brasil é constituída de pastagem natural do tipo caatinga, caracterizada por diferentes comunidades vegetais, arbustivas, arbóreas, com pouco estrato herbáceo. Durante o período das chuvas, a fitomassa ofertada é bastante diversa em todos os estratos, normalmente diminuindo no período de estiagem. O objetivo deste trabalho foi a determinação da composição botânica da dieta anual de caprinos, em vegetação típica de caatinga, sob diferentes taxas de lotação. Uma área de 180 hectares foi dividida em piquetes de 45, 30 e 15 ha, onde foram utilizadas as taxas de lotação leve, moderada e pesada, respectivamente, de um animal caprino adulto para 3, 2 e 1 hectare, com duas repetições. A composição botânica das dietas foi determinada pela análise de material fecal, usando a técnica
microhistológica. Trinta espécies foram identificadas em mais de 97% da dieta anual dos caprinos. Várias espécies de plantas lenhosas foram mais selecionadas que espécies não lenhosas, o que, provavelmente, foi influenciado tanto pelo tipo do animal, ramoneador, quanto pela característica arbustivo-arbórea da área experimental. O arbusto mais consistentemente selecionado foi Mimosa tenuiflora Wiild., seguido de
Croton rhamnifolius (Kunth.em.) Müll. Arg., Tabebuia spongiosa Rizzini e Bauhinia cheilanta Steud. Espécies do estrato não lenhoso também foram
muito importantes na constituição da dieta anual dos caprinos. As plantas herbáceas mais selecionadas foram Bogenardia nemoralis A. Juss., Croton
glandulosus (L. em) Muell. Arg., Sida cordifolia L. e Turnera pumilea L.
Diferenças na pressão de pastejo, causada pela variação na taxa de lotação, não foram suficientes para alterar significativamente a seleção da dieta. A composição botânica da dieta foi o resultado da composição florística da pastagem e da oferta sazonal da forragem.
Palavras-chave: caatinga; caprino; composição da dieta; taxa de lotação; técnica microhistológica.
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The deciduous dry woodland, covering most of the semi-arid Brazilian Northeast, is a native pasture called caatinga, which is a complex mix of small trees and shrubs with an annual herbaceous understory. During the rainy season, there is a satisfactory green leaf growth. However, during the dry season, forage availability decreases as these green leaves dry and drop on the ground. The objective of this research was to determine the annual botanical composition of goats diet, in native caatinga vegetation, under various grazing intensities. The study area was a 180-hectare of native caatinga divided into pastures. Paddock sizes were 45, 30 and 15 ha, where three stocking rates were tested: light, moderate and heavy, with, respectively, one doe for 3, 2 and 1 ha, using two replications. Botanical composition of the diets was determined by analysis of fecal material using the micrihistological technique. Thirty species were identified in more than 97% of annual goats diets. Due to the dominance of woody strata, shrubs, for several species, were more selected than forbs. Mimosa tenuiflora Wiild., Croton rhamnifolius
(Kunth.em.) Müll. Arg., Tabebuia spongiosa Rizzini. and Bahuinia cheilanta Steud. were the most consistently selected shrubs. There was an
expressive contribution of herbaceous species in the diets. Bogenardia
nemoralis A. Juss., Croton glandulosus (L. em) Muell. Arg., Sida cordifolia
L. and Turnera pumilea L. were the most preferred. Grazing pressure diferences, as afected by variation in stocking rates, were not sufficient
Botanical Composition of
Goats Diet in Typical
Caatinga Vegetation under
Different Stocking Rates
to significantly alter diet selection. The major shifts in diets occurred in response to changes in species phenology and seasonal availability. Key Words: caatinga; goats; diet composition; stocking rate; microhistological technique.
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Introdução
Uma considerável extensão territorial da região semi-árida do Nordeste do Brasil é constituida de pastagem natural do tipo caatinga, caracterizada por diferentes comunidades vegetais, arbustivas e arbóreas, com pouco estrato herbáceo. A maioria dessas pastagens são fontes de importantes nutrientes, sendo mantidas sob pastejo e ramoneio contínuo, pelas diversas categorias de ruminantes.
Durante o período das chuvas, quando ocorre acentuado crescimento das plantas, a fitomassa existente é bastante diversa em todos os estratos, diminuindo a oferta de forragem no período de estiagem. Quando a forragem é diversificada e a pressão de pastejo é adequada, os animais selecionam livremente sua dieta. Normalmente, quando ocorre a diminuição da oferta de forragem, devido à época do ano ou intensidade de uso, os animais modificam a dieta e decresce a seletividade.
Os caprinos são geralmente considerados animais ramoneadores; entretanto, eles também pastejam gramíneas e ervas. Alguns trabalhos efetuados em países da África, como, também, Estados Unidos, México e Austrália (Campbell et. al., 1962; Malechek & Leinweber, 1972; Wilson et. al.,1975; Fierro et. al., 1977; Warren et al., 1982) têm mostrado a variação e contribuição dos componentes, nos diversos estratos, na composição botânica da dieta desses animais.
Em virtude do hábito preferencial por plantas arbustivas e arbóreas, os caprinos têm sido utilizados para reduzir ou eliminar plantas lenhosas das pastagens (Campbell et. al., 1962; Green at. al.,1979; Martin & Huss, 1981; Mosienyane,1982; ). Em pastejo combinado com bovinos e ovinos, são usados, também, para incrementar a produção por área (Harrington,1978; Sheldon, 1980; Squires, 1982; ).
A utilização das pastagens naturais, em qualquer nível, sempre causa algum distúrbio nos estratos componentes da vegetação (Ellison, 1960) e o superpastejo contínuo é o principal fator responsável pela degradação. Nesta situação, as espécies mais palatáveis vão sendo substituídas pelas menos palatáveis, surgindo, posteriormente, as não palatáveis, as quais serão dominantes. Diferenças na intensidade de ramoneio contribuem para mudanças na composição botânica da dieta dos animais (Harrington, 1978; Fierro et. al., 1982a; Fierro et. al., 1982b;), independente da época de utilização.
O conhecimento da composição botânica da dieta de caprinos é de fundamental importância para se determinar um manejo adequado tanto da vegetação quanto dos animais que pastejam ou ramoneiam livremente as pastagens nativas.
O objetivo deste trabalho foi a determinação da composição botânica da dieta anual de caprinos, em vegetação típica de caatinga, sob diferentes taxas de lotação, numa região com o regime de chuva unimodal e predominância de precipitações estivais.
Material e Métodos
O estudo foi conduzido no Campo Experimental de Manejo da Caatinga, do Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semi Árido - CPATSA, pertencente à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, localizado a 09o 21’ de latitude sul, 370 m de altitude, município de Petrolina,
estado de Pernambuco. A área é caracterizada, predominantemente, por apresentar uma topografia plana com solos podzólicos vermelho-amarelos (Burgos & Cavalcanti, 1991), de textura média e fertilidade natural baixa. A precipitação pluviométrica média anual é da ordem de 500 mm (Tabela 1),
Tabela 1. Precipitação pluviométrica outubro/1980 – setembro/1983 e média histórica outubro/1963 – setembro/2000.
Dados da Estação Meteorológica de Bebedouro, Embrapa Semi-Árido, Petrolina-PE.
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com distribuição bastante irregular, geralmente de novembro a abril. A vegetação é uma Caatinga hiperxerófila, com estrato arbustivo-arbóreo dominante (Albuquerque et al., 1982), cuja espécies mais comuns são
Mimosa tenuiflora (Willd.), Lippia microphylla Cham., Calliandra depauperata
Benth., Bauhinia cheilantha (Bong.), Croton rhamnifolius (Kunth em.) Müll. Arg. e Cordia leucocephala Moric. (Tabela 2).
Tabela 2. Densidade média e área de copa de espécies arbóreas e arbustivas na área experimental. Petrolina-PE, 1982.
A área de 180 hectares foi dividida em piquetes com 45, 30 e 15 hectares, com duas repetições, onde se utilizou as taxas de lotação leve, moderada e pesada, respectivamente de um animal caprino adulto para 3, 2 e 1 hectare. O estudo foi conduzido no período de agosto de 1981 a julho de 1983. A composição botânica das dietas foi determinada pela análise de material fecal usando a técnica microhistológica (Sparks & Malechek, 1968). Cinco
No material examinado, trinta espécies foram identificadas em mais de 97% da dieta anual dos caprinos (Tabela 3). No primeiro ano, nas taxas de lotação pesada, moderada e leve, do total das espécies existentes, as do estrato arbustivo-arbóreo contribuíram, respectivamente, com valores aproximados de 47%, 45% e 50% e as do estrato herbáceo, com 51%, 53% e 47% da dieta avaliada. As gramíneas, pouco frequentes em toda a área, foram encontradas na dieta sempre em quantidade inferior a 1%. Não houve diferença entre as taxas de lotação para a maioria das espécies dos diversos estratos, exceto o arbusto Serjania sp. e a bromeliácia Neoglaziovia
variegata, que apresentaram diferença significativa para a taxa de lotação
pesada, a árvore Pithecollobium viridiflorum para a taxa de lotação leve e as ervas Bogenhardia nemoralis e Turnera pumilea, respectivamente, para as taxas de lotação moderada e pesada (P < 0,01).
No segundo ano, a contribuição das plantas do estrato arbustivo-arbóreo foi inferior em relação ao ano anterior e tiveram uma participação aproximada na dieta de 42%, 37% e 41%, respectivamente, nas taxas de lotação pesada, moderada e leve. As plantas do estrato herbáceo foram os principais constituintes da dieta no segundo ano de avaliação, sendo a média do total da seleção superior em mais de 40%, quando comparado com a média do total da seleção das plantas do estrato lenhoso. Na taxa de lotação pesada, o estrato herbáceo constituiu, aproximadamente, 56%; na moderada, 59% e na leve, 56% da dieta determinada. As gramíneas, sempre escassas na área
Resultados e Discussão
mensalmente, pela manhã, em cada piquete. Cada amostra era colocada em recipiente com álcool etílico para preservação.
Duas lâminas foram preparadas de cada amostra. Vinte campos de leitura foram locados sistematicamente em cada lâmina, utilizando microscópio binocular com aumento de 126 x. Uma coleção das plantas componentes da vegetação foi usada como referência para identificação das plantas componentes das dietas.
Para a análise estatística, foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado com duas repetições e dois fatores completamente cruzados (Steel & Torrie, 1980), sendo o primeiro fator carga animal, com três níveis, e o segundo fator ano, com dois níveis.
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experimental, contribuíram com a média de 1% na dieta, para as três taxas de lotação. Neste período da avaliação, houve significância (P < 0,01) entre as diversas taxas de lotação, apenas para a espécie do estrato herbáceo
Hybantus calceolaria.
(1) Lotação pesada, moderada e leve correspondem, respectivamente, a 15, 30 e 45 hectares para 15 animais adultos;
(2) Médias dentro da linha, para as lotações, seguidas por diferente letra minúscula, são significativamente diferentes (P<0,01);
(3) Médias das lotações, dentro da linha, seguidas por diferente letra maiúscula, são significativamente diferentes (P<0,05);
(4) Bromeliácea incluída na lista de arbustos e árvores, por se tratar de planta perene. Tabela 3. Média da composição botânica (% em peso) da dieta de caprinos no ano I e II, em vegetação de caatinga, em tres diferentes taxas de lotação. Petrolina-PE, 1983.
Nos anos estudados, quando comparadas as médias dos tratamentos, houve diferença significativa (P<0,05), em mais de 53% das espécies selecionadas pelos animais (Tabela 3). Não houve significância na interação taxa de lotação versus ano.
Os caprinos, considerados animais ramoneadores, selecionam, por preferência, plantas lenhosas, arbustivas ou arbóreas (Campbell et al., 1962; Askins & Turner, 1972; Davis et al.,1975; Wilson et al., 1975; Sidahmed et al.,1981; ), quando existentes. Neste estudo, entretanto, houve uma grande contribuição de espécies do estrato herbáceo na dieta anual dos animais. Em outros trabalhos (Coblentz, 1977; Fierro et al., 1977; Giner et al., 1982; ), também foi evidenciada a importância de espécies desse estrato na dieta de caprinos. As plantas não lenhosas mais selecionadas foram Bogenardia
nemoralis A. Juss., Croton glandulosus (L. em) Muell. Arg., Sida cordifolia L.
e Turnera pumilea L.
A seleção das plantas lenhosas, para várias espécies, foi mais consistente do que a seleção das não lenhosas, o que, provavelmente, foi influenciado tanto pelo tipo de animal - ramoneador - quanto pela característica arbustivo-arbórea da área experimental. Os caprinos utilizaram uma grande variedade de plantas, conforme já verificado em outros trabalhos com pastagem natural (Sheldon, 1980; Pfister & Malechek, 1986; Kirmse et al., 1987).
Das plantas lenhosas, a mais consistentemente selecionada foi Mimosa
tenuiflora Wiild., seguida de Croton rhamnifolius (Kunth.em.)Müll. Arg., Tabebuia spongiosa Rizzini. e Bauhinia cheilanta Steud. Apesar de sempre
Figura 1. Participação de Mimosa tenuiflora na dieta de caprinos durante o período de avaliação, Ano I e Ano II, nos diversos tratamentos.
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Figura 2. Contribuição das espécies dos estratos arbustivo-arbóreo e herbáceo, na dieta anual dos caprinos.
presente na dieta, M. tenuiflora variou em todos os tratamentos, ao longo dos diversos períodos, conforme Figura 1. Esta variação foi influenciada, provavelmente, pela oferta da fitomassa, a qual, por sua vez, sempre oscila de acordo com a precipitação pluviométrica.
A seleção mais consistente observada correspondeu às espécies do estrato arbustivo-arbóreo. Entretanto, as espécies do estrato herbáceo, também, foram muito importantes na constituição da dieta dos animais, conforme Figura 2, onde foram sempre frequentes, e suplantando o total da seleção das espécies do estrato forrageiro lenhoso, dominante em diversos períodos dos anos estudados.
Os herbívoros selecionam, preferencialmente, as espécies mais palatáveis disponíveis na pastagem e, desse modo, a intensidade de uso interfere na composição da dieta (Fierro et al., 1982a; Fierro et al., 1982b ). Neste estudo, as taxas de lotação utilizadas não foram suficientes para detectar diferenças entre elas. Diferenças na pressão de pastejo, causadas pela variação na taxa de lotação, não alteraram significativamente a seleção da dieta dos caprinos. Os dados deste trabalho mostram que a composição botânica da dieta dos caprinos foi, provavelmente, o resultado da composição florística da pastagem e as variações observadas durante o período estudado foram uma consequência da oferta sazonal da fitomassa forrageira.
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DAVIS, G. G.; BARTEL, E. L.; COOK, C. W. Control of gambel oak sprouts by goats. Journal of Range Management, Denver, v.3, p.216-218, 1975. - Por causa da variação observada dentro de cada período estudado, nenhuma espécie lenhosa, mesmo sendo constantemente selecionada, poderá ser utilizada como espécie chave para se monitorar o grau de utilização da pastagem;
- Na avaliação de capacidade de suporte, as plantas não lenhosas deverão ser consideradas.
As variações observadas na composição da dieta dos caprinos foram influenciadas pela diversidade de espécies componentes das áreas de ramoneio e pela oferta sazonal.
Conclusões
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