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ESTUDO DA TRATABILIDADE DE UM EFLUENTE DA INDÚSTRIA QUÍMICA

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Academic year: 2021

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E

STUDO DA TRATABILIDADE DE UM EFLUENTE DA INDÚSTRIA QUÍMICA POR UM REACTOR

SBR

COMPLEMENTADO POR

REAGENTE DE

F

ENTON

M. J. Mota, A. G. Brito

Universidade do Minho, Instituto de Biotecnologia e Química Fina, Departamento de Engenharia Biológica, 4700 Braga, Portugal

RESUMO: Esta comunicação apresenta alguns resultados de um estudo sobre o

tratamento secundário das águas residuais de uma indústria química de colas e vernizes. O efluente foi sujeito a um tratamento biológico num reactor descontínuo (SBR) e, subsequentemente, sujeito a pós-tratamento por acção de reagente de Fenton. A carga orgânica imposta ao sistema foi típica de um sistema de lamas activadas de baixa carga, na ordem dos 0.45-0.75 KgCQOm-3d-1, atingindo-se, assim, eficiências de remoção em termos de CQO na ordem dos 60%. O tratamento biológico foi complementado com um tratamento por oxidação/coagulação com reagente de Fenton. Este processo permitiu obter uma remoção de CQO de cerca de 50%, perante a adição de 400 mg/l de peróxido de hidrogénio e 1600 mg/L sulfato ferroso. Em termos globais, os resultados obtidos demonstraram a aplicabilidade do processo testado.

PALAVRAS CHAVE:SBR, Reagente de Fenton, águas residuais, indústria química.

INTRODUÇÃO

Os efluentes da indústria química de colas e vernizes são bastante complexos. Este facto deve-se à presença de um conjunto diverso de compostos orgânicos, nomeadamente, acetato de vinil, tolueno, compostos acrílicos, bem como outros hidrocarbonetos resultantes do processo fabril. A Isar Rakoll Chemie Portuguesa S.A. é a principal empresa portuguesa neste ramo e, ciente das suas responsabilidades, tem em execução um programa destinado a cumprir integralmente o disposto no Decreto-Lei 236/98 de 1 de Agosto relativamente à descarga de águas residuais em meios hídricos superficiais. Os reactor descontinuos sequenciais, denominados SBR (Sequencing Batch Reactor), têm demonstrado a sua capacidade para o tratamento de um vasto conjunto de efluentes (Rodrigues et al., 1998). Este tipo de reactores demonstra um elevado grau de flexibilidade. Com efeito, é possível optimizar o sistema SBR através da apropriada selecção de um conjunto de factores, tais como o número de reactores em paralelo, variação do volume do reactor, volume de alimentação, período e duração das fases de

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condições fisiológicas relativamente selectivas e permitir obter um aumento de capacidade de reacção. Em termos de processos de oxidação, o Reagente de Fenton envolve a reacção do ião Fe2+ com peróxido de hidrogénio. Devido ao papel dos iões Fe2+/Fe3+, a coagulação também poderá desempenhar um papel complementar na remoção da matéria orgânica (Kuo, 1992). O peróxido de hidrogénio e os iões Fe2+ são usualmente mais estáveis em meio ácido, a pH entre 3 e 4 (Lin and Gurol, 1996).

Em consequência, este estudo teve por objectivo avaliar a tratabilidade do efluente industrial da Isar Rakoll Chemie Portuguesa S.A. (após pré-tratamento físico-quimico por coagulação-floculação) utilizando, para o efeito, um sistema SBR e uma oxidação com reagente de Fenton.

MATERIAL E MÉTODOS

Conforme referido, o efluente industrial foi fornecido pela Isar-Rakoll Chemie

Portuguesa, S.A., após ser sujeito ao tratamento primário de coagulação/floculação na

própria indústria. O inóculo de biomassa foi amavelmente cedido pela Câmara Municipal de Braga e proveio do tanque de arejamento do sistema de lamas activadas da ETAR de Frossos. O tratamento biológico decorreu num reactor SBR executado em vidro acrílico, com volume útil de 3 litros com sistema de controlo do tipo On/off. (Brito et al, 1997). Os ensaios decorreram à temperatura ambiente e o tempo de residência foi de 3 dias.

A duração das fases de operação do reactor é apresentada no seguinte esquema:

Enchimento Reacção Sedimentação Descarga

10 minutos 21 – 22 horas 2 horas 10 minutos

O processo de oxidação por reagente de Fenton consistiu no tratamento do efluente do SBR por adição de peróxido de hidrogénio (200 v/v) e sulfato ferroso (FeSO4. 7H2O) a

pH 3.5. O esquema de trabalho é indicado na Figura 1.

H2O2 FeSO4.7H2O NaOH

Agitação rápida Agitação lenta Sedimentação Neutralização (5 min) (15 min) (2 horas) (pH=7)

Fig. 1 – Esquema do procedimento de operação para o Reagente de Fenton. Os valores da Carência Química de Oxigénio (CQO), os sólidos totais (ST) e os sólidos suspensos voláteis (SSV) foram determinados de acordo com o Standard Methods, (1985). A Carência Bioquímica de Oxigénio (CBO) foi avaliada recorrendo ao sistema de medição Oxi-Top – Respirometric BOD5 – WTW. O volume de lamas foi medido

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RESULTADOS E DISCUSSÃO Tratamento biológico

Na Figura 2 estão patentes os resultados experimentais do sistema SBR laboratorial.

Fig. 2 – Evolução dos valores de CQO e pH para o sistema SBR.

Na fase inicial do estudo o valor, em termos de CQO, da alimentação rondava os 2700 mg/L. Nestas condições, obteve-se assim uma eficiência de redução de cerca de 70%. Este desempenho é muito aceitável para o sistema em causa, se tivermos em atenção que se apenas se tratava de efluente industrial, isto é sem mistura de efluente doméstico. Nos dias 38º até 50º registou-se uma acentuada subida na CQO de saída (de 600 mg/L para 900/1000 mg/L). Este facto poderá estar relacionado com a observada diminuição do valor de pH no sistema, de 7 para sensivelmente 6 (pontualmente menos), o que terá exercido um efeito nefasto sobre o consórcio microbiano presente. Nesta fase, foi também observado uma extrema dificuldade de sedimentação das lamas, pelo que as 2 horas reservadas para esta etapa eram insuficientes. A subida do índice IVL de valores de 100 para 200 ml/gSST comprova esta disfunção. Com a subida do valor de pH (por adição de uma base na alimentação) o índice IVL retomou os valores de 100-150 ml/gSST. A hipótese que se afigura mais plusível para este fenómeno prende-se com a possível presença de algum composto especifico na água residual durante esse período. Na verdade, a substituição da alimentação promoveu a resolução do problema, mas a ausência de meios analíticos disponíveis não permitiu investigar esta hipótese. A partir do 60º dia de operação o valor de CQO de entrada baixou para valores de 1500 mg/L, sendo o valor final na descarga próximo dos 400 mg/L. Em contrapartida, o efluente tratado cumpria, em termos de CBO5 e sólidos suspensos, o Decreto Lei 236/98 de 1 de

Agosto. Este facto indicia que a fracção de CQO remanescente é recalcitrante à degradação biológica.

Importa notar que, embora se tenha trabalhado apenas com efluente industrial (sem adição de efluente doméstico ou nutrientes), a adaptação da biomassa ao efluente foi comprovada pelo crescimento dos sólidos voláteis desde um valor inicial de 2.6 até 4.5 g/L. Ao longo do estudo, em resultado do crescimento da biomassa, a carga mássica

0 500 1000 1500 2000 2500 0 32 64 99 Tempo (Dias) C QO ( m g/ L ) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 pH CQOin CQOout pHin pHout

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Ao visualizar a evolução da CQO ao longo do ciclo de operação (Fig. 3) é possível verificar que ao fim de 10 horas se atingem valores de 350 mg/L. Asim sendo, as 21 – 22 horas associadas ao período de reacção poderiam ser reduzidas. Apesar desta versatilidade, só casualmente, por conveniência prática, é que se fizeram ciclos de 18 – 19 horas, não se tendo verificado consequências em termos de eficiência.

Fig. 3 – Valores de CQO e pH para um ciclo de operação do sistema SBR.

É de referir que na fase inicial houve uma ligeira produção de espumas, possivelmente resultado da adaptação da biomassa. As espumas foram inicialmente controladas com a adição de um anti-espumante mas, efectivamente, a sua produção cessou após 3 semanas de operação.

Tratamento por Reagente de Fenton

Conforme referido, o efluente foi sujeito, após tratamento biológico, a um processo de oxidação com reagente de Fenton. No gráfico da figura 4 é possível observar a variação de CQO e produção de lamas, a diferentes doses de sulfato ferroso, para uma concentração de peróxido de hidrogénio de 400 mg/L. Esta foi a concentração óptima de peróxido determinada em ensaios anteriores (não apresentados).

Fig. 4 – Eficiencia e produção de lamas (Reagente de Fenton).

Os dados indicados na Figura 4 revelam um efeito positivo em resultado do aumento do teor em sulfato ferroso até à dose de 1600 mg/L, à qual se obtém uma eficiência que ronda os 50%. A este valor atinge-se um patamar de oxidação. Maiores concentrações

0 100 200 300 400 500 600 700 0 1 3 5 7 9 11 14 18 Tempo (Horas) C QO ( m g/ l) 5 6 7 8 pH CQOpH 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 0,4 0,8 1,2 1,6 2 2,4 2,8 [FeSO4.7H2O] (g/L) CQ O R /C Q O 0 (%) 0 5 10 15 20 25 Lamas (% ) Eficiência Lamas

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contrapartidas em termos de eficiência. É de notar que a produção de lamas em quantidades significativas é um aspecto desfavorável nesta contexto, dado implicar uma carga adicional em espessamento e desidratação. Para além desse facto, a quantidade residual de ferro no sobrenadante deverá ser considerada nos processos subsequentes de afinação.

CONCLUSÕES

O trabalho efectuado sobre a tratabilidade do efluente industrial da Isar – Rakoll

Chemie Portuguesa S.A., permitiu concluir que o sistema SBR é adequado para o

tratamento secundário do efluente em causa. O sistema atingiu valores de eficiência de 60 a 70 % para entradas de CQO de 1500 – 2000 mg/L. Após 10 horas de operação obteve-se uma redução de CQO de 65%, o que aponta como excessivas as 21 – 22 horas de reacção.

Relativamente ao processo de oxidação com peróxido de hidrogénio e ião ferroso – Reagente de Fenton - concluiu-se que é um sistema com potencialidades para o pós-tratamento deste tipo de efluentes. As concentrações mais apropriadas de peróxido de hidrogénio e sulfato ferroso foram, respectivamente, 400 e 1600 mg/L. Para estes teores, o balanço entre a eficiência de remoção de CQO e a produção de lamas é positivo.

Agradecimentos

Os autores desejam agradecer à empresa Isar – Rakoll Chemie Portuguesa S.A., em especial ao Engenheiro Pedro Machado, a cedência do efluente industrial utilizado nos ensaios, bem como os pertinentes comentários e sugestões efectuadas durante o decorrer do presente trabalho.

REFERÊNCIAS

A.P.H.A., A.W.W.A., W.P.C.F. (1985). Standard Methods for the Examination of

Water and Wastewater. 16th edition, APHA (ed.), Washington DC, U.S.A.

Brito A.G., Rodrigues A.C., Melo L.F. (1997). Feasibility of a pulsed sequencing batch reactor with anaerobic aggregated biomass for the degradation of low strength wastewaters. Water Science and Technology. 35, 1, 193-198.

Flemming, H.-C., Wuetz,S., (1996). Impact of nonsteady – state condition on microbial consortia. In: First IAWQ Specialized Conference on Sequencing Batch Reactor

Tecnology, Munich, Germany, 49 – 61.

Ketchum, L. H. Jr., (1997). Design and physical features of Sequencing Batch Reactors.

Warter Science and Tecnology, 35, 1, 11 – 18.

Kuo, W. G., (1992). Decolorizing dye wastewater with Fenton’s Reagent. Wat. Res., 26, 7, 881 – 886.

Lin, S.-S., Gurol, M. D., (1996). Heterogeneos catalytic oxidation of organic componds by hidrogen peroxide. Warter Science and Tecnology, 34, 9, 57 – 4.

Rodrigues A.C., Brito A.G., Melo L.F. (1998). Nitrogen removal from brewery wastewaters using Sequencing Batch Reactors. In: New advances in biological nitrogen and and phosphorus removal

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