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O ATENDIMENTO INTEGRAL NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA E A PRÁTICA PSICOLÓGICA

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Academic year: 2021

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O ATENDIMENTO INTEGRAL NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA E A PRÁTICA PSICOLÓGICA

Thaysa Zubek Valente (discente do quarto ano do curso de Psicologia), Marco Aurélio Velozo (discente do quinto ano do curso de Psicologia), Rafael Siqueira de Guimarães (Orientador), e-mail: rafaorlando@uol.com.br

Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências da Saúde Palavras-chave: integralidade, Programa de Saúde da Família, psicologia Resumo:

Com um novo modelo de atendimento à saúde, que se distancia do modelo assistencial, o PSF, como programa do SUS, tem suas bases solidificadas especialmente no princípio de integralidade: pelo qual o conceito de saúde-doença se reorienta, conduzindo à reorganização das práticas de atendimento à saúde. Práticas implicadas em um trabalho interdisciplinar para com os usuários, no qual o psicólogo pode ter um papel articulador. Introdução

O Sistema Único de Saúde (SUS) surgiu como possibilidade de reorientar o atendimento público à saúde. Com o objetivo de descentralizar o atendimento, isto é, fazer com que os diferentes municípios, conhecendo a realidade local, organizem ações que levem o atendimento a toda população; visto que a saúde é um direito de todos e dever do Estado (SPINK & MATTA, 2007). Trata-se de um atendimento territorializado, em que cada município é responsável pelo atendimento de sua população, no espaço físico dos postos de saúde como referência, sendo integrado à rede de atenção à saúde, em todos os seus níveis – primário, secundário e terciário.

Com este objetivo central de organização dos serviços do SUS, foram criados princípios básicos que orientam a prática, pautados em uma nova forma de se vislumbrar o cuidado à saúde, a partir de uma tentativa de redefinição do conceito de saúde para tal política pública. Estes princípios se articulam em uma dialógica de cumprimento. A universalidade é o primeiro princípio básico, e traz em si a amplitude do direito à saúde, que se estende a todos os cidadãos de um país, e é assegurado pela Constituição Federal de 1988 (SPINK & MATTA, 2007) com o seguinte artigo: “Art. 196. A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação".

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O segundo princípio é o da gratuidade, do qual se extrai um atendimento sem custo disponível à população e que garante também o cumprimento do princípio de universalidade. A organização descentralizada é o terceiro princípio, que faz com que o SUS, como política pública, oferecida gratuitamente e na atenção à saúde como direito cidadão, não esteja centralizado, como se caracteriza o atendimento privado, mas disperso nos vários municípios – responsáveis pelo atendimento à saúde de sua população (SPINK & MATTA, 2007). Como quarto princípio, e talvez aquele que comporta em si a base de realização de cada um dos citados, devido ser deste a derivação do conceito de saúde que deve reger as práticas dos profissionais deste sistema: a integralidade. A integralidade prescreve o modelo de atendimento básico à saúde dos indivíduos, prestado dentro de sua comunidade, e, portanto, de sua realidade social, ambiente no qual os indivíduos se formam enquanto cidadãos e em suas singularidades, com suas concepções e idéias sobre os cuidados à saúde (SPINK & MATTA. 2007).

Os conceitos de saúde e doença são apreendidos, no bojo destes princípios, como processos biopsicossociais (VECCHIA, 2006). Quando instituído um atendimento integral, a doença se traduz como um processo e não como uma condição restrita a uma disfunção biológica desencadeada. Definida como processo, assim como a saúde o é, a doença não é algo estritamente produzida e desenvolvida a nível individual, mas de contexto: social, econômico, político e psicológico. Como o indivíduo, a doença também é resultado de um movimento dialógico de constituição, nos diferentes (mas intercambiáveis) contextos no qual este se insere; na qualidade de suas relações sociais (familiares e comunitárias), nas condições materiais de vida (econômicas e políticas – no seu poder de consumo e suprimento de suas necessidades básicas de saúde e sobrevivência, e no atendimento aos seus direitos cidadãos, garantidos nas legislações), e na sua configuração psicológica decorrente que congrega sentimentos e pensamentos acerca das suas vivências em si e pelos outros. O caminho processual da saúde e da doença tem as mesmas bases, o que se desvirtuam são exatamente as condições com as quais se desenvolvem cada uma destas bases.

PSF e integralidade

O princípio da integralidade caracteriza o Programa de Saúde da Família (PSF), desenvolvido no SUS como forma de efetivar os princípios básicos discorridos acima e engendrar a cidadania da população no sentido de que esta possa recorrer ao atendimento aberto – à saúde – proposto pelos serviços oferecidos (KELL, s/d). O PSF, desta forma, é a porta de entrada para o atendimento do SUS. Colocando à frente dos seus serviços a saúde mental e física dos indivíduos atendidos, as ações do PSF estão situadas no

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contexto da promoção de saúde e prevenção (e não prioritariamente da cura/tratamento), contudo, não deixam de oferecer tratamento às doenças e atuar em favor da reabilitação e recuperação de pessoas já doentes ou debilitadas. Cada um destes eixos que configuram os serviços prestados pelo PSF: promoção se saúde, prevenção, tratamento, reabilitação e recuperação, estão em intercomunicação e interdependência, de maneira tal que a integralidade pode ser considerada imprescindível para a execução do modelo particular de atendimento à saúde que delineia o referido programa. É imprescindível, uma vez que é a integralidade que permite, na rede de saúde, dividir as ações em saúde segundo os níveis de complexidade de cada demanda dos usuários. O SUS e o PSF, conjuntamente, realizam a atenção primária ou básica, que tem como proposta a prevenção e promoção de saúde, aproximando a população do acompanhamento contínuo realizado pelo SUS. Mas, estando integrados à rede de atenção à saúde (aos espaços de atenção à saúde), facilitam o acesso da população aos outros níveis de atenção (secundário e terciário), fazendo parte de um atendimento sistêmico e intersetorial (KELL, s/d; SPINK, 2007; VECCHIA, 2006).

A integralidade é um princípio que não foi somente estendido ao conceito de saúde-doença – na medida em que o usuário deve ser atendido de forma integral (sendo central no atendimento e participando ativamente dos serviços), pela saúde e pela doença, inserido sempre no contexto de sua comunidade – mas também à prática interdisciplinar que garante a integralidade dos cuidados para com os usuários (NUNES, JUCA, VALENTIM, 2007). Se se trata de um indivíduo constituído em uma organização biopsicossocial, nada mais correto do que ser atendido por diferentes profissionais, com suas óticas particulares; entretanto, sempre voltados para a integralidade de suas práticas e, portanto, para a intercomunicação e para os princípios que guiam as práticas em saúde coletiva como política pública. Em uma atuação na atenção básica à saúde, integral e conjunta, que utiliza das especialidades, mas não é estanque nestas, os profissionais estão organizados em equipes, cada qual com seu território delimitado. As equipes profissionais inserem-se no contexto dos indivíduos, das famílias e das comunidades para adequarem o planejamento e realização de suas ações em saúde às demandas de cada um destes. Por conta disso, a expansão e a qualificação da atenção básica à saúde são desenvolvidas pelo PSF, na concretização de seus serviços.

Metodologia

A partir destas reflexões em nível teórico e da articulação destas com a prática realizada no primeiro semestre do presente ano pelo Projeto de Extensão do Programa de Saúde da Família, foi percebida – nas visitas comunitárias realizadas junto aos agentes comunitários de saúde – a necessidade de se refletir dentro do grupo de profissionais os processos de

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saúde e doença entendidos com base nos princípios da política e ação pública que envolvem o programa: na organização dos serviços, atendimentos e encaminhamentos. Assim, a programação do segundo semestre do projeto, contará com um dia de capacitação para os agentes comunitários de saúde e enfermeiros atuantes num dos postos de saúde localizado na cidade de Irati-PR; orientado por um material teórico (na forma de palestra e apostila) e por uma técnica que esboçará metaforicamente a prática que deve ser reflexo destas concepções teóricas.

Conclusão

Para efetivar o princípio de integralidade não basta modificar a conceituação de saúde nas bases das ações, mas, sobretudo, reconfigurar o modo como estas ações se instituem. Assim, trata-se também de integrar as práticas de cada profissional envolvido na política pública de atendimento à saúde do SUS, e, particularmente do PSF – programa que aproxima usuários e serviços, concretizando as propostas do SUS. As equipes de profissionais devem estar organizadas na integralidade, no modelo de atendimento integral, e, não raro, muitas práticas que reúnem diversos profissionais obedecem às especialidades e promovem o isolamento das ações. Como tentativa de atuar no papel articulador do psicólogo, o grupo de capacitação proposto, terá como finalidade principal revisar, como foi e vem sendo feito dentro da ciência psicológica, os conceitos de saúde e doença (com base nos princípios que norteiam os serviços e práticas do SUS/PSF), e, a partir daí, o manejo que se faz dos indivíduos que demandam atendimento; indivíduos que vivem processos de saúde-doença e que não se constituem apenas de forma individualizada, mas na dialógica indivíduo-sociedade. Referências

KELL, M. do C. G. Integralidade da atenção à saúde. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Básica, s/d. Disponível em: <http://www.opas.org.br/observatorio/Arquivos/Destaque69.doc>. Acesso em 4 de julho de 2009.

NUNES, M.; JUCA, V. J.; VALENTIM, C. P. B. Ações de saúde mental no Programa Saúde da Família: confluências e dissonâncias das práticas com os princípios das reformas psiquiátrica e sanitária. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 10, Out. 2007. Disponível em:

<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2007001000012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 21 de julho de 2009. SPINK, M. J.; MATTA, G. C. A prática profissional Psi na Saúde Pública: configurações históricas e desafios contemporâneos. In: SPINK, M. J. (Org.). A psicologia em diálogo com o SUS: prática profissional e produção acadêmica. São Paulo, 2007. Capítulo 1. p. 25-51.

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VECCHIA, M. D.; MARTINS, S. T. F. Projetos de reforma sanitária, atenção primária à saúde e o Programa de Saúde da Família. In: VECCHIA, M. D. A saúde mental no programa de saúde da família: estudo sobre práticas e significações de uma equipe. Orientadora: Profº Drª Sueli Ferreira Martins. Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho. Botucatu, 2006. Capítulo I. p. 13-32.

http://dtr2004.saude.gov.br/dab/atencaobasica.php. Acesso em: 4 de julho de 2009.

Referências

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