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Maria de Lourdes Corrêa Lima A PALAVRA DE DEUS EM PALAVRAS HUMANAS. Para ler e compreender a Escritura

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Academic year: 2021

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A PALAVRA DE DEUS

EM PALAVRAS HUMANAS

Maria de Lourdes Corrêa Lima

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Paulinas

Rua Dona Inácia Uchoa, 62 04110-020 – São Paulo – SP (Brasil)

Tel.: (11) 2125-3500

http://www.paulinas.com.br – editora@paulinas.com.br Telemarketing e SAC: 0800-7010081 © Pia Sociedade Filhas de São Paulo – São Paulo, 2020

1a edição – 2020

Direção-geral: Flávia Reginatto

Editores responsáveis: Vera Ivanise Bombonatto

Matthias Grenzer

Coordenação de revisão: Marina Mendonça

Revisão: Sandra Sinzato

Gerente de produção: Felício Calegaro Neto Capa e diagramação: Tiago Filu

Imagem de capa: Stained Glass depicting the Four Evangelists

@jorisvo/depositphotos.com Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Direitos reservados. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Lima, Maria de Lourdes Corrêa

A Palavra de Deus em palavras humanas : para ler e compreender a Escritura / Maria de Lourdes Corrêa Lima. – 1. ed. – São Paulo: Paulinas, 2020.

192 p. (Teologia bíblica) Bibliografia

ISBN 978-65-5808-021-3

1. Palavra de Deus (Teologia cristã) 2. Bíblia – Crítica e interpretação 3. Vida cristã I. Título

20-2271 CDD 232.2

Índice para catálogo sistemático:

1. Palavra de Deus 232.2 Angélica Ilacqua – Bibliotecária – CRB-8/7057

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SUMÁRIO

Abreviações ... 9

Introdução ... 11

CAPÍTULO I A Palavra de Deus ... 13

1. A palavra é poderosa, dinâmica, ativa ... 13

2. A palavra expressa comunhão e a realiza ... 15

3. Deus comunica sua Palavra ... 16

4. A máxima comunicação da Palavra de Deus ... 18

5. Síntese ... 20

CAPÍTULO II Ouvir, acolher, seguir: Deus se revela ... 23

1. O ser humano é aberto a Deus ... 23

2. A revelação como ato pessoal de Deus ... 24

3. A resposta ao Deus que se revela ... 30

4. Os meios utilizados ... 33

5. Modo de conhecimento ... 45

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CAPÍTULO III

Proclamar a Palavra de Deus... 51

1. A transmissão da revelação ... 51

2. Tradição e Escritura ... 53

3. O Magistério ... 64

CAPÍTULO IV A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus em forma escrita ... 69

1. A formulação escrita da revelação ... 69

2. Como Deus inspira os autores sagrados ... 79

3. A veracidade da Sagrada Escritura ... 96

CAPÍTULO V A Palavra de Deus escrita chega a todas as gerações e culturas ... 107

1. O texto bíblico... 107

2. A transmissão manuscrita e a crítica textual... 125

CAPÍTULO VI A autorização eclesial da Palavra de Deus ...133

1. O reconhecimento paulatino dos livros sagrados ...133

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3. Critérios para aceitação dos livros e o

significado teológico da definição do Cânon... 146

CAPÍTULO VII

Ler, compreender, interpretar, atualizar ...151 1. Princípios de interpretação: a face humana

e divina da Escritura ...151 2. Os sentidos bíblicos ...163 3. Atualização e inculturação da mensagem bíblica ....177 Índice temático ...185

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ABREVIAÇÕES

Adv. Haer. Ireneu, Adversus Haereses

DH H. DENZINGER; P. HÜNNERMANN. Enchiridion

Symbolorum definitionum et declarationum de rebus fidei et morum. Bologna: Dehoniane, 1996.

Dial. Justino, Diálogo com Trifão

DV CONCÍLIO VATICANO II. Constituição dogmática

“Dei Verbum” (1965)

EB Enchiridion Biblicum. Documenti della Chiesa sulla Sacra Scrittura. Edizione bilingue. Bologna:

Dehoniane, 1993.

Esm. Inácio de Antioquia, Epístola aos Esmirnenses Fil. Policarpo, Epístola aos Filipenses

Filad. Inácio de Antioquia, Epístola aos Filadelfos Hist. Eccl. Eusébio, Historia Ecclesiastica

IBI PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. A interpretação

da Bíblia na Igreja (1993).

IVSE PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. Inspiração

e verdade da Sagrada Escritura (2014).

PG MIGNE, J.-P. Patrologiae cursus completus. Series Graeca. Paris: Garnier, 1857-1866. 1928-1936. PL MIGNE, J.-P. Patrologiae cursus completus. Series

Latina. Paris: Garnier, 1841-1855.

S.Th. TOMÁS DE AQUINO, Summa Theologiae VD BENTO PP. XVI. Exortação apostólica “Verbum

Domini”: sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2010).

Os livros bíblicos seguem as abreviações da Bíblia

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INTRODUÇÃO

Como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam sem terem irrigado a terra, sem tê-la fecundado e a fazer germinar, dando a semente ao que semeia e o pão ao que come, assim será com a minha palavra, que sai de minha boca: não voltará a mim sem efeito, mas fará o que desejei e realizará aquilo para o qual a enviei.

(Is 55,10-11)

A Sagrada Escritura é um meio privilegiado de encontro com Deus, pois, àquele que dela se aproxima com fé, Deus fala pessoalmente. O acesso a seu texto e à sua mensagem não deixa, todavia, de oferecer dificuldades, pelo fato de ter sido escrita a uma considerável distância temporal e cultu-ral de seus leitores atuais. É por isso que tantos procuram orientações que lhes propiciem acercarem-se de maneira mais fácil do Livro Sagrado. Vir ao encontro dessa demanda é a finalidade do presente escrito. Ele busca desenvolver, de forma clara e suficientemente aprofundada, os temas essenciais para a compreensão da Sagrada Escritura – seja para estudantes de cursos sistemáticos de graduação e cursos de fé e catequese, seja para aqueles que procuram, por si mesmos, aproximar-se da Escritura e compreendê-la. Mas como a Palavra divina é viva e permanente (cf. Is 40,8) e o leitor atento tem necessidade de desenvolver critérios que lhe permitam vivê-la nas suas circunstâncias pessoais,

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comunitárias e sociais, faz parte dos objetivos desta obra indicar elementos de reflexão que permitam melhor avaliar não só a riqueza da Escritura como também favorecer uma síntese pessoal para a leitura, a compreensão da mensagem e sua aplicação na vivência cotidiana.

A disposição dos assuntos seguirá o itinerário demar-cado pela constituição dogmática Dei Verbum, do Concílio Vaticano II (1965), sobre a revelação divina. Seu texto será importante orientação em termos não só de conteúdo como também da sequência dos temas aqui tratados. Em sete capítulos serão abordadas temáticas concernentes às ques-tões fundamentais para a compreensão dos textos bíblicos, seguindo a ordem dos assuntos tal como se encontra no documento conciliar. Por referenciar-se pela Constituição Dogmática do Vaticano II, o atual trabalho pode ser con-siderado também, sob certos aspectos, um comentário a diversos elementos desse valioso texto. De outro lado, serão considerados também os ecos da mensagem do Vaticano II, seja no Magistério, seja na teologia que se desenvolveu posteriormente, bem como nos documentos mais recentes da Pontifícia Comissão Bíblica, que tematizam questões relevantes das últimas décadas.

Se esta obra favorecer a compreensão dos princípios que regem a Escritura, em sua formulação nas origens e em sua apropriação atual pelo leitor, e, sobretudo, se faci-litar seu contato com a Palavra divina, ela terá alcançado sua finalidade.

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CAPÍTULO I

A PALAVRA DE DEUS

1. A palavra é poderosa, dinâmica, ativa

Testemunhos antigos mostram que, para relacionar-se com a divindade, os homens do entorno do antigo Israel fizeram uso da palavra. Através de fórmulas (esconjuros, fórmulas mágicas), pretendia-se controlar o(s) deus(es). A pa-lavra era considerada uma realidade poderosa, que criava, de certa forma, uma realidade.1 Também os deuses se dirigiam

aos homens, através do culto, de sinais, sonhos, oráculos proféticos ou de outros meios,2 de modo que a palavra da

divindade significava sua presença ativa e seu poder. Israel participa desse universo cultural e, embora com uma visão própria, partilha suas concepções. A Sagrada Escritura testemunha que, na ortodoxia israelita, a palavra recebe um valor ímpar; desliga-se, porém, de concepções mágicas e se constitui como meio privilegiado da comu-nicação entre Deus e o povo. De fato, diferentemente das religiões de seu entorno, na fé israelita a relação entre Deus

1 No Egito antigo, por exemplo, a colocação por escrito de um acontecimento

fazia-o reviver, perpetuava sua existência. Apagar um nome de pessoa numa inscrição significava tirá-lo da felicidade no além. Cf. Emanuel Araújo. Escrito para a eternidade: a literatura no Egito faraônico. Brasília: Editora da Univer-sidade de Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000, p. 26.

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e Israel ocorre fundamentalmente pela palavra. É uma relação entre pessoas, mesmo se não do mesmo nível, que exige a livre iniciativa de uma (o Senhor) e a receptividade da outra (Israel que ouve). Essa relação pessoal permite co-nhecer a Deus e, assim, estabelecer uma comunhão mútua. Além disso, a Palavra de Deus é criadora, pois faz surgir o mundo e o ordena (cf. Gn 1,1–2,3; Sl 33,9); é formado-ra, pois dá a Israel sua existência como povo. A Palavra de Deus forma a história de Israel e a conduz; Deus guia seu povo e o salva através de sua Palavra (cf. Sl 105,8.42; 106,12.24; 119,50).

Dessa maneira, para Israel, a Palavra não é só mani-festação da presença de Deus, mas é força atuante. Expressa a majestade, a santidade de Deus, seu amor misericor-dioso, mas também suas exigências. A Palavra de Deus une alocução e ação – é acontecimento e não unicamente comunicação de um conteúdo; ela cria a realidade. O fato de “palavra” e “coisa, acontecimento” serem expressos pelo mesmo termo hebraico (dābār) confirma o que os textos bíblicos expressam.

A palavra é meio para Deus realizar seus desígnios (cf. Ez 12,25.28; Sl 103,20; Is 24,3; Jr 33,16; Sb 18,15). A bênção divina não é somente o pronunciamento de uma fórmula, mas uma ação eficaz (cf. Gn 1,28; 5,2; 9,1; 17,16; Sl 133,3). Pela palavra, Deus dá nova vida ao povo (cf. Is 55,3). Por isso, muitas vezes se expressa o desejo e a necessidade de o povo receber a Palavra de Deus (cf. Sl 107,19s; 119,81; 130,5):

“Eis que vêm dias”, diz o Senhor Deus, “em que enviarei fome à terra. Não fome de pão nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor” (Am 8,11).

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[…] o homem não vive só de pão, mas o homem vive de tudo o que sai da boca do Senhor (Dt 8,3).

2. A palavra expressa comunhão e a realiza

Nas pessoas humanas, a palavra expressa pensamentos e sentimentos, comunicando, de certa forma, o que a pessoa é:

Daquilo que o coração está cheio, disto fala a boca (Lc 6,45).

De forma análoga, a Palavra de Deus expressa não somente conteúdos, mas o que ele é em si mesmo. E como a palavra supõe alguém que a receba, que a ouça e a ela responda, assim também ocorre com a Palavra de Deus (cf. Dt 6,4; Is 7,13; Jr 22,2). Mesmo se vem em resposta a uma interpelação, na comunicação de sua Palavra a iniciativa é sempre de Deus e implica, da parte daquele a quem é dirigida, abertura para acolhê-la. A Escritura enfatiza essa exigência pela importância que dá ao “ouvir”:

Ouve, Israel! (Dt 6,4).

“Sacrifícios e ofertas não quisestes, mas me abristes os ouvidos” (Sl 40,7).

Ouvir a Palavra de Deus é algo tão fundamental que torna os que a recebem bem-aventurados, isto é, participantes da vida mesma de Deus:

“Felizes aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a observam” (Lc 11,28).

“Quem ouve minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna” (Jo 15,3).

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Em outros termos, a Palavra de Deus, comunicando quem ele é, visa estabelecer um vínculo entre ele, que fala, e seu povo, que ouve. Visa ao encontro pessoal, à comunhão com Deus. Que o homem “conheça” a Deus e viva a partir disso.

3. Deus comunica sua Palavra

No Antigo Testamento, a Palavra de Deus é comunica-da através de elementos mediadores: sonhos, visões (cf. Jó 33,14-16; Dn 7,1; Zc 1,8), objetos (cf. Nm 17,17-23: a vara de Aarão floresce; 1Sm 14,41; 23,9) e, sobretudo, pessoas (cf. Ex 14,16.21; Is 1,10; Ag 2,11: Moisés, sacerdotes, profetas, sábios). A eleição de intermediários da Palavra divina deixa mais em evidência que tudo é dom de Deus. Aproximar-se da Palavra, recebê-la, não é um “direito” do homem. Deus a comunica livremente a alguns, em função de uma missão: transmitir a Palavra para que os ouvintes a conheçam e dela participem. Assim, Abraão será bênção para muitos (cf. Gn 12,2-3), os profetas e sacerdotes mediarão a presença divina (cf. Jr 1,5; Nm 6,23).

Os profetas são por excelência os portadores da Palavra (cf. Am 3,7; 1Mc 4,46). Sua vocação surge do encontro com a Palavra de Deus (cf. Jr 1,9; Is 6,1ss; Ez 2,8ss; Os 1,11). Sua missão é comunicar a palavra como palavra divina, isto é, não somente como informação sobre algo, mas como realidade que forma a história, presente e futuro. Assim, Elias pode anunciar a grande seca, que logo ocorre (cf. 1Rs 17,1). E muitos textos narram acontecimentos que têm lugar porque realizam a Palavra de Deus transmitida por algum profeta (cf. 1Rs 16,12; 22,38; 2Rs 10,17; 24,2). A palavra do profeta, tendo origem na Palavra de Deus,

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é, assim, meio para a ação divina. E por isso é poderosa. Provindo de Deus, a palavra traz em si mesma a força de realizar o que expressa:

“Como a chuva e a neve descem do céu e para lá não retornam sem terem irrigado a terra, sem tê-la fecundada e germinar… assim será com a minha palavra, saída de minha boca: não retornará a mim sem efeito, sem ter realizado o que desejo, sem ter cumprido aquilo para o qual a mandei” (Is 55,10-11).

Como a Palavra de Deus é manifestação de sua vonta-de, então no tempo pós-exílico (a partir do final do século VI a.C.), ela é sempre mais identificada com a Lei (cf. Sl 19; 119; 147,19-20), e mesmo cada mandamento pode ser compreendido como Palavra de Deus (cf. Dt 4,13; 10,4; 15,15). Por outro lado, expressando a sabedoria de Deus, ela é identificada com a própria sabedoria personificada (cf. Sir 39,23/17; 42,15ss; Sb 9,1-4).

No decorrer da história de Israel, cresce a convicção de que a Palavra de Deus, ouvida por seus intermediários e por eles comunicada, deve ser conservada, pois tem va-lidade permanente. Com isso, torna-se sempre mais clara a consciência de que a palavra pronunciada oralmente deve ser colocada por escrito. Sendo assim, também em outras épocas e situações, ela será capaz de iluminar, pois guarda em si o poder de Deus.

“Não se devem fazer as coisas que o Senhor proclamou por meio dos profetas do passado…?” (Zc 7,7). “A erva seca, a flor fenece, mas a palavra de nosso Deus permanece perenemente” (Is 40,8).

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Através desta palavra, agora escrita, Israel tem contato com a poderosa presença do Senhor:

Esdras… trouxe a lei à presença da comunidade… Leu… desde a aurora até ao meio-dia… e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da lei… A seguir, Esdras… abriu o livro à vista de todo o povo e, logo que o abriu, todo o povo se pôs de pé. Esdras bendisse o Senhor, o grande Deus, e todos responderam, erguendo as mãos: Amém! Amém! E adoraram o Senhor, prostrando-se com a face em terra (Ne 8,2-6).

Não é mais Moisés quem, de viva voz, transmite os ensinamentos divinos recebidos no Sinai (cf. Ex 19,3-8), mas a palavra escrita, que expressa esses ensinamentos. O povo se prostra, pois, mediante a Palavra, sabe-se diante de Deus.

4. A máxima comunicação da Palavra de Deus

Esses aspectos da Palavra divina continuam no Novo Testamento, mas agora especificados por sua relação com Jesus Cristo, que lhes confere plenificação. A palavra de Jesus é salvação, Boa-Nova que se realiza (cf. Is 52,7; Lc 5,1; 8,11.21). É poderosa e opera o que expressa (cf. Mt 8,8; Lc 24,44). Jesus não só pronuncia como também é ele mesmo a Palavra de Deus que se manifestou no mundo como homem (cf. Jo 1,1-2.14). Ele é o “sim”, o “amém”, a Palavra total de Deus para o gênero humano, e deste para Deus (cf. 1Cor 1,20); isso porque realiza tudo o que Deus prometera no Antigo Testamento. Ele é a última e definitiva Palavra de Deus; nenhuma outra palavra será necessária, pois a máxima comunicação de Deus foi feita:

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Muitas vezes e de muitos modos Deus falou outrora a nossos pais, por meio dos profetas. Agora, nestes dias, que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual fez os séculos. Ele é o resplendor de sua glória e a expressão de seu ser; sustenta o universo com o poder de sua palavra (Hb 1,1-3).

O Novo Testamento, por outro lado, mostra que a pala-vra eficaz de Jesus continua na comunidade por ele fundada, a Igreja. Os apóstolos não só comunicam a palavra recebida de Jesus como um fato passado como também são enviados com poder (cf. Mt 28,18-19; Mc 3,14-15), de modo que, através deles, a palavra salvífica de Jesus, a salvação por ele efetuada, se realiza. O próprio Cristo torna-se presente no anúncio apostólico:

“Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10,16).

Através da palavra dos apóstolos, ele se comunica aos ouvintes, que agem no poder do Espírito Santo, dom pascal para a Igreja:

“Eis que eu vos envio o que meu Pai vos prometeu; vós, porém, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da virtude do alto” (Lc 24,49).

“Recebereis a força do Espírito Santo, que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra” (At 1,8).

Para que, porém, a palavra de Cristo se mantivesse perenemente na Igreja, através dos séculos, os apóstolos,

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também sob a condução do Espírito Santo, estabeleceram continuadores de sua missão de servidores da Palavra:

Enquanto eles estavam celebrando o culto do Senhor e jejuando, o Espírito Santo disse: “Separai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os destinei” (At 13,2).

Essa missão se realizou não só pelo ensino oral e pelo culto, como também pela palavra escrita. As cartas enviadas às comunidades cristãs gozam de autoridade, tal como o anúncio oral:

“Guardai as tradições que vos ensinamos oralmente ou por escrito” (2Ts 2,15).

“Se alguém desobedecer ao que dizemos nesta carta, notai-o” (2Ts 3,14).

E os próprios evangelhos escritos são testemunhas da Boa-Nova de salvação realizada em Jesus Cristo:

Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus (Mc 1,1).

Onde quer que venha a ser proclamado o evangelho, em todo o mundo, também o que ela fez será contado em sua memória (Mt 26,13).

Em outras palavras, a Igreja dos primórdios percebeu que também alguns escritos apostólicos testemunhavam e expressavam a Palavra viva de Deus.

5. Síntese

A Sagrada Escritura – Palavra de Deus posta por escrito por impulso do Espírito Santo – tem raízes nos

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atos e palavras de Deus no tempo do Antigo Testamento e maximamente na vida, palavra e obra de Jesus Cristo, o Verbo divino encarnado. Nos primeiros tempos da Igreja, ela surge como testemunho da pregação dos apóstolos e da vida das primeiras comunidades cristãs, pautados na vida e no ensinamento de Jesus, sob o impulso do Espírito (Tradição).

A forma escrita desse testemunho é particularmente apta a conservar intacto o tesouro de fé, doutrina e ins-tituições da geração apostólica, para que cheguem inal-teradas a todos os tempos. Como ela é fruto da vida da Igreja nos primórdios, assim também a Igreja toda – e, nela, particularmente o Magistério, encarregado principal e divinamente garantido – tutela a Escritura, a explica e dela extrai os princípios orientadores para as novas questões a que a Igreja deve responder. É a comunidade eclesial viva (Tradição que acompanha todas as épocas da Igreja) que dá vida à Palavra da Escritura, para que ela atinja todos os tempos, espaços e culturas.

Como a Escritura surgiu da pregação oral depois posta por escrito e da vida da Igreja, que acolheu as Escrituras do Antigo Testamento e transmitiu o ensinamento de Jesus, a Tradição funda a própria Escritura. Por outro lado, a acompanha, em todos os tempos, para que ela atinja todas as gerações.

Referências

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