As interfaces de
gênero, carreira e expatriação
Apresentação
Doutora, Mestra e Bacharela em Administração pela Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EA/UFRGS).
Pesquisadora do Observatório Internacional de Carreiras (OIC - PPGA/EA/UFRGS), do Grupo Interdisciplinar de Estudos da Inovação e do Trabalho (GINEIT/PPGA/EA/UFRGS) e membra do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade (NEPGS/IFRS-Osório).
Desenvolve estudos nas áreas de Relações de Trabalho, Gestão de Pessoas e Estudos Organizacionais sobretudo relativos à mobilidade, carreira e suas interseccionalidades com marcadores sociais de diferenças/diversidades, como gênero, sexualidade, raça e classe.
Contexto de carreiras em movimento
3 Ampliação da participação das
mulheres no mercado de trabalho
(anos 1970)
Reestruturação produtiva e abertura econômica brasileira
(anos 1990)
Sistema capitalista, neoliberalismo econômico, competitividade, fortalecimento
das economias emergentes e internacionalização de
empresas
Diversificação das possibilidades de carreira
Caminhos profissionais para além das fronteiras nacionais
No Brasil, ingresso de multinacionais no país, investimento de empresas
brasileiras no exterior e transferência de pessoas para
THE GLOBAL
GENDER GAP REPORT
Relatório do Fórum Econômico Mundial a respeito das lacunas de
gênero em nível global
Ainda que tenha equilibrado o acesso à educação e à saúde para homens e mulheres,
o país perdeu posições essencialmente em razão da baixa participação feminina em
cargos de gestão e poderio político e da diferença salarial entre homens e mulheres.
Igualdade de gêneros em países latinos:
Nicarágua (6º); Cuba (30º); Argentina (31º); Peru (45); Panamá (46); Costa Rica (48);
Colômbia (53); Chile (66º), Brasil (71º)
AS INTERFACES
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Gênero
histórica no BrasilConstrução e no exterior Estereótipos e segmentação do mercado de trabalhoCarreira
Desenvolvimento profissional por meio da expatriação Casamento, maternidade, idadeExpatriação
expatriadas: osMulheres mitosPor que há tão poucas mulheres
A pesquisa
Analisar a construção da
trajetória de mulheres
brasileiras expatriadas e
as implicações advindas
dessa experiência.
Como determinar
“o sucesso das expatriações de mulheres”
?
características pessoais / personalidade
organizações / suporte da empresa
famílias / apoio familiar
anfitriões nacionais do local para onde elas são transferidas
posição de autoridade na empresa
As entrevistadas
19 mulheres brasileiras expatriadas;
11 expatriações por empresas diferentes;
Ramos: tecnologia, siderurgia, automotivo, óleo e gás,
eletrodomésticos, educação privada e consultoria empresarial;
6 meses foi o menor período e 12 anos o máximo;
Formação variada, destaque para Administração e Engenharias;
8 expatriadas ingressantes por programa de trainee;
11 expatriações para os Estados Unidos, mais de uma para China, Alemanha e Chile; uma para Canadá, México, Inglaterra, Kuwait, Cingapura e Japão.
As entrevistadas
Idades variando de 29 a 56 anos
8 expatriadas
8 repatriadas
3 residentes no exterior
12 sem filhos/as
11 solteiras ou namorando
8 expatriadas casadas, todos os
maridos acompanharam:
1 foi expatriado pela mesma empresa e 1
por outra empresa
2 com filhos/as acompanhantes
1 com filhos adultos no Brasil
4 engravidaram no exterior (2 retornaram,
2 permaneceram)
“Eu
me
imaginava
de
terninho,
pelos
aeroportos, arrastando a minha malinha pra
cima e pra baixo. E essa era uma imagem
muito forte do que eu queria ser. Eu digo
assim, que quando a gente mentaliza muito
uma imagem, ela acontece.”
Cláudia
características
pessoais
apoio e influência
familiar
relacionamentos
afetivos e
maternidade
países de destino
composição de um/a
profissional
trajetória de
mulheres
expatriadas
O/A PROFISSIONAL MULHER EXPATRIADA
“Eu segui o conselho de um Diretor Comercial, e ele me dizia o seguinte:
‘-
Você não é uma mulher, você é um profissional. Um profissional não
tem sexo enquanto ele estiver atuando profissionalmente’.”
Sagar
"Às vezes tu tem que agir como um homem agiria.
E mulher agindo
como homem é grossa, homem é normal
.”
Antonella
O/A
PROFISSIONAL
MULHER
EXPATRIADA
•
As “características femininas”, por vezes são
preteridas para ser respeitada e colocada no
mesmo patamar dos demais colegas, numa
lógica em que o masculino é o dominante.
•
É preferível ser contrária a “privilégios” pelo
fato de ser mulher.
•
Relacionamentos amorosos dentro do ambiente
de trabalho são malvistos, mas usar do “poder
de sedução feminino” para driblar dificuldades,
“Eu só não era homem porque não tinha os órgãos genitais. Porque todo o meu
comportamento profissional era de homem. Assim, a minha constituição profissional foi no
gênero masculino, não no gênero feminino. E porque eu dava resultado.
Então, tinha a coisa que eu dava resultado e tinha a coisa que eu era mais macho que
muita gente dentro daquela empresa. Assim, muita gente.
Isso eu te digo, assim, nem com orgulho né, nem com vergonha porque eu consigo olhar
para um passado, assim que hoje eu consigo analisar ele com tranquilidade.
Mas, eu passei por aquele momento em que se eu tinha um funcionário que tinha um
problema de desempenho, meu esquema era senta junto em uma sala e conversa até
fazer a pessoa chorar. Quando a pessoa começa a chorar, tu sai fora, né?
Então essa coisa assim do sádico, do gestor sádico, da imposição do poder.”
AS CARACTERÍSTICAS PESSOAIS,
O APOIO E A INFLUÊNCIA FAMÍLIA
Encanto por profissões ligadas à
mobilidade;
Influência forte das mães;
Independência financeira;
Incentivo
ao
trabalho
e
ao
estudo;
Estudo de idiomas e intercâmbios
no exterior.
“Uma coisa que eu sempre soube é
que eu queria estudar, porque uma
coisa que sempre detestei foi ajudar
a minha mãe a fazer trabalhos
domésticos. Nunca quis aprender a
cozinhar, nunca quis fazer nada, e eu
sempre dizia para a minha mãe que
eu ia estudar e trabalhar nem que
fosse só para pagar uma empregada
doméstica. Eu sempre me dediquei
muito aos estudos”
OS RELACIONAMENTOS AFETIVOS E A MATERNIDADE
"Quando a gente chegou aqui tinha a questão de que as esposas sempre se
encontravam para o café da tarde. Eu nunca era convidada porque eu estava
trabalhando [...] Tu acaba conhecendo famílias brasileiras que estão aqui, em
situações parecidas e, na maioria, é o homem quem veio. Então tem até essa
questão de apresentação, fica estranho, entende? Tu passa por situações em
que, às vezes, tu até é discriminado”.
Cássia
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Casamento e maternidade não foram percebidos como um impeditivo.
Entretanto, as participantes disseram que é mais simples fazer
OS PLANOS PROFISSIONAIS
“Se tu é uma pessoa que quer desenvolver e crescer como
pessoa e profissional, tu vai gostar de mudar”
Giane “É uma quebra de paradigmas [...] a gente faz uma experiência dessas, nenhum dia é igual ao outro, por mais que seja duro, a gente aprende muito com isso”
Sinara “Eu achava que isso iria valorizar muito a minha carreira [...] eu sabia que o mercado iria me valorizar muito mais se eu fosse e voltasse para o Brasil com uma experiência internacional, isso me abriria muitas portas”
AS ORGANIZAÇÕES
EM QUE ELAS TRABALHAM
Disposição a enfrentar obstáculos e
preconceitos:
por ser mulher;
por não encontrar outras mulheres com
quem trocar ideias e experiências;
pela ausência de políticas de gênero que
incentivem e facilitem a ascensão profissional
de mulheres;
por ser jovem;
por não ser considerada uma candidata à
expatriação por ser casada e/ou por ter
filhos.
“Tem um funil e é um funil de gênero. Nada mais. Eu já vi muitos momentos em que, ainda mais na área do RH, que tem muita mulher, tu tinha o homem e a mulher e uma posição só, e os dois em igualdade ou a mulher mais forte, e quem ficou com o cargo foi o homem.”
O PAÍS DE DESTINO
Por um lado...
Alguns países não aceitam mulheres no
mercado
de
trabalho,
mesmo
estrangeiras;
Preconceito e assédio;
Estereótipo da mulher brasileira;
Por outro lado...
Possiblidade de viver em um ambiente de
trabalho mais igualitário;
Despertar ou confirmação da vontade de
seguir em carreira internacional.
“O jeito que você se veste, o
quanto é importante teu tom de
voz, a altura da tua saia. Coisas que
a gente não se dá conta até sair e
ver a diferença. Do tipo, ‘por que
eu tive que aguentar isso até
agora?’”
Conclusões
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Para as participantes, se sobressaíram como
alternativas impulsionadas no contexto de
expatriação:
1) o desejo de retornar para Brasil, quer para assumir
outros projetos profissionais na mesma empresa ou
para ter de volta as referências de origem e o abrigo da
família
2) a preferência por ficar no exterior, essencialmente
pela segurança e melhor qualidade de vida em relação
ao Brasil e
3)
novos
anseios
profissionais,
desenvolvidos
sobretudo durante a trajetória no exterior, que
motivaram o desligamento da empresa pela qual
foram expatriadas.
Contribuições
Atenuar a invisibilidade das mulheres brasileiras
expatriadas percebida no senso comum.
Vislumbrar caminhos possíveis para outras mulheres
que buscam trabalhar no exterior, levando em conta
as implicações advindas.
Refletir a diferenciação sexual e papéis de gênero
atribuídos e socialmente
construídos,
que se
confirmam
no
mercado
de
trabalho
e
consequentemente
nas
oportunidades
que
se
Dicas de Vídeos
Reportagem com mulheres imigrantes (Brasil)
https://www.youtube.com/watch?v=jPQ45Fs5ALU
Reportagem sobre refugiadas e imigrantes (Portugal)
Dica de
documentário
PRECISAMOS FALAR COM OS HOMENS?
https://www.youtube.com/watch?v=jyKxmACaS 5Q&t=139s
#ElesPorElas é um movimento para a igualdade
de gênero e o empoderamento das mulheres, cujo objetivo é engajar homens e meninos para novas relações de gênero sem atitudes e comportamentos machistas.
Obrigada! :)
CONTATO: ALINEMF.ADM@GMAIL.COM