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O (des) controle da tecnologia no sistema criminal à luz do paradoxo da modernidade: uma análise do filme Minority Report

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Academic year: 2021

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O (des) controle da tecnologia

no sistema criminal à luz do

paradoxo da modernidade:

uma análise do filme

“Minority Report”

Loiane Prado Verbicaro1

Laiza Inez Maciel Trindade2

Márcia Carvalho Campos3

Resumo

A relação entre a tecnologia e o homem é complexa e conflitiva. Por um lado, o avanço tecnológico facilita muitos aspectos da vida; por outro, em nome de um ideal coletivista, acaba-se por infringir direitos individuais. Nesse contexto de progressivo avanço da tecnologia, o que antes era uma singela ficção científica agora converte-se em gradativa realidade. Considerando essa interlocução entre ficção e realidade e a fragilidade da fronteira entre utopia e distopia, o artigo, por intermédio de pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, objetivando uma interlocução entre a filosofia e a criminologia, propõe-se a analisar o filme “Minority Report” que apresenta uma narrativa do paradoxo da modernidade ao projetar a utilização de um sistema de vigilância tido como infalível que realiza visões antecipadas do futuro para que os criminosos sejam punidos antes mesmo que o crime se materialize. A partir desse cenário, o artigo reflete sobre impacto da tecnologia na relativização de direitos e princípios penais e processuais, bem como sobre a fragilidade da garantia de direitos fundamentais por intermédio de um controle excessivo do Estado a partir da tecnologia, o que propicia um processo de objetificação e coisificação do homem. Vê-se um paradoxo ao se tentar

1 Doutora em Filosofia do Direito pela Universidade de Salamanca, Mestra em Direitos Fundamentais e Relações Sociais pela Universidade Federal do Pará, com período de estudo na Universidade de São Paulo, Mestra em Ciência Política pela Universidade Federal do Pará, Graduada pela Universidade Federal do Pará- suma cum laude, Professora da Graduação

e da Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito do Centro Universitário do

Pará. Líder do grupo de pesquisa (CNPQ): Democracia, Poder Judiciário e Direitos Humanos. E-mail: loianeverbicaro@uol.com.br.

2 Bacharelanda em Direito pelo Centro Universitário do Estado do Pará. Monitora de Direito Penal (2018). Monitora de Processo Penal (2019). E-mail: limtrindade@gmail.com.

3 Bacharelanda em Direito pelo Centro Universitário do Estado do Pará. E-mail: marcia_c_campos@hotmail.com.

V

OL

UME I | NÚMERO 2 | JUL

-DEZ / 2

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RECEBIDO EM: 19/08/2019 ACEITO EM: 22/04/2020

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alcançar a maximização da justiça e o combate ao crime por intermédio de um uso deturpado de tecnologias que acabam por aniquilar a liberdade, a autodeterminação e a dignidade humana.

Palavras-chave: Análise fílmica. Paradoxo da modernidade. Sistema criminal.

Impacto tecnológico. Justiça.

The (un) control of technology in the criminal system in light of

modernity paradox: an analysis of the film “Minority Report”

Abstract

The relationship between technology and mankind is complex and conflicting. On the one hand, technological advancement facilitates many aspects of life; on the other hand, in the name of a collectivist ideal, it ends up infringing individual rights. In this context of progressive advancement of technology, what was once a simple science fiction now becomes a gradual reality. Considering this interlocution between fiction and reality and also the fragility of the border between utopia and dystopia, the article, through a bibliographical research of a qualitative approach and aiming for a connection between philosophy and criminology, proposes to analyze the film “Minority Report” presenting a narrative of the paradox of modernity hence the use of an infallible surveillance system that anticipates visions of the future so that criminals are punished even before the crime materializes. From this scenario, this paper contemplates on the impact of technology on the relativization of criminal and procedural rights and its principles, as well as on the fragility of the guarantee of fundamental rights through an excessive control of the State through technology, which provides a process of turning man into objects and things. There is a paradox in trying to maximize justice and fight crime through the misuse of technologies that end up destroying freedom, self-determination and human dignity.

Key-words: Film analysis. Modernity paradox. Criminal system. Technological impact.

Justice.

El (un) control de la tecnología em el sistema penal a la luz de la

paradoja de la modernidad: un análisis de la película “Minority

Report”

Resumen

La relación entre tecnología y humanidad es compleja y conflictiva. Por un lado, el avance tecnológico facilita muchos aspectos de la vida; Por otro lado, en nombre de un ideal colectivista, uno termina infringiendo los derechos individuales. En este contexto de avance progresivo de la tecnología, lo que antes era una simple ciencia ficción ahora se convierte en una realidad gradual. Teniendo en cuenta este diálogo entre la ficción y la realidad y la fragilidad del límite entre la utopía y la distopía, el artículo, a

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través de una investigación bibliográfica cualitativa y un diálogo entre la filosofía y la criminología, propone analizar la película “Minority Report” que presenta una narrativa de la paradoja de la modernidad en el diseño del uso de un sistema de vigilancia infalible que sostiene visiones del futuro para que los delincuentes sean castigados antes de que se materialice el crimen. Desde este escenario, el artículo reflexiona sobre el impacto de la tecnología en la relativización de los derechos y principios penales y procesales, así como en la fragilidad de garantizar los derechos fundamentales mediante el control estatal excesivo de la tecnología, que proporciona un proceso. De la objetivación del hombre. Existe una paradoja al tratar de lograr la maximización de la justicia y la lucha contra el crimen a través del uso indebido de tecnologías que eventualmente aniquilan la libertad, la autodeterminación y la dignidad humana.

Palabras-clave: Análisis de cine. Paradoja de la modernidad. Sistema penal. Impacto

tecnológico. Justicia.

SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO; 2 SISTEMA DE PREVENÇÃO; 3 SISTEMA DE OPERAÇÃO; 4 SISTEMA DE

PUNIÇÃO; 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS; REFERÊNCIAS.

1 INTRODUÇÃO

O filme “Minority Report”, lançado em 2002, foi dirigido pelo americano

Steven Spielberg e protagonizado por Tom Cruise. Trata da história do agente John Anderton que trabalha no chamado departamento de pré-crime, localizado na cidade

de Washington, nos Estados Unidos, no ano de 2054. Nesse cenário futurista, tem-se a existência de um sistema de prevenção de crimes contra a vida, por meio de seres provenientes de experiências em laboratórios, chamados de “precogs”, termo oriundo de precognição, por sua capacidade de ver os assassinatos que ainda irão acontecer no futuro. As imagens são extraídas de suas mentes e processadas pelos operadores, com a identificação das supostas vítimas e do tempo que falta para o crime se materializar, permitindo, assim, que o esquadrão policial possa impedir o cometimento de homicídios.

O sistema, baseado na máxima segurança e prevenção, é visto como infalível e perfeito. O departamento pré-crime tem por objetivo a erradicação dos crimes e a proteção da vida. A partir desse sistema, sociedade sente-se segura e livre. Em razão desses benefícios, pretendia-se ampliá-lo nacionalmente, para levar o sistema a todo país, com a ampliação do modo de combate e controle do crime.

O ápice do filme é quando o personagem principal, John Anderton, descobre que o próximo crime que os precogs previram seria cometido por ele mesmo, levando-o a acreditar que o sistema é falho, pois os rumos da sua vida estavam totalmente distantes das visões antecipadas pelo sistema. Isso o conduz a uma busca incessante em provar que ele não cometeria tal crime e que, portanto, o sistema seria suscetível de falhas.

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Anderton descobre sobre os chamados “minorities reports”, que seriam

variantes insignificantes, que são descartadas pelos operadores do sistema, para mantê-lo como puro, de modo a não provocar dúvidas na sociedade sobre o seu funcionamento, devido ao fato que, algumas vezes, os precogs discordam entre si sobre o futuro, de modo a ser incerto se irá ou não acontecer, mas esta discordância é ignorada e é tratada como se ainda fosse existir o homicídio, podendo levar a força policial a prender “inocentes”, aqueles que não iriam cometer o delito. Em ambos os casos se nota uma violação à possibilidade de escolha do ser humano, em prejuízo ao livre arbítrio4. Mesmo que o crime tivesse sido impedido, o que é apenas uma

especulação ou probabilidade, ainda assim os acusados seriam presos pelo futuro assassinato, não importando se o crime ainda estava na fase cognitiva ou executória do delito.

Em 2054, cenário do filme, é possível ver a grande evolução tecnológica da sociedade, com um grande sistema de monitoramento e identificação através da íris do indivíduo, em que pode-se observar a constante vigilância, no melhor estilo o “big

brother está de olho em você”5, facilitando a busca pelos quase assassinos.

A problemática reside no modo em como o sistema, trazido pelo filme, representa a tentativa de controlar crimes, com base em um possível futuro de um sistema de predeterminações, o que culmina em punições precedentes ao crime, reestruturando uma das finalidades da pena, que é justamente em punir por conta do fato de ter havido um crime cometido, flexibilizando o iter criminis e relativizando o processo penal com o auxílio da tecnologia presente na narrativa, o que demonstra a estruturação da sociedade a um sistema de justiça inquestionável capaz de transformar em certezas fatos não concretizados na realidade.

Por meio de uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, a proposta do artigo é problematizar, à luz de reflexões filosóficas e da criminologia levantadas pelo filme “Minority Report”, o uso da tecnologia levado ao extremo em nome da segurança pública e do combate ao crime, em prejuízo aos direitos e garantias fundamentais e aos valores da liberdade, autodeterminação e dignidade humana, objetivando então conectar os temas para compreender causas e efeitos, consolidando uma pesquisa de cunho explicativa.

Primeiramente, o trabalho tratará do funcionamento do sistema de previsão do crime, discutindo a instrumentalização dos precogs e o credo em seu determinismo; na sequência, abordará o modo como o sistema é operado, apontando a influência tecnológica na sociedade e os seus desvios e distorções; por último, realizará uma leitura à luz da criminologia, considerando a conduta, o meio punitivo e a pena, a partir de um diálogo entre a ficção cinematográfica e a realidade que, longe de

4 Segundo José Eliézer Mikosz (2007), o livre arbítrio é a liberdade que o ser humano tem em tomar decisões, fazer suas escolhas diante das possibilidades apresentadas.

5 Na obra “1984” de George Orwell (2009) temos a perda de liberdade dos cidadãos por conta de um sistema controlador que incessantemente mantém uma vigilância ocasionando a perseguição de quem não se encaixa nos ideais do governo.

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serem mundos apartados, gradativamente, conectam-se à dimensões cada vez mais próximas.

2 O SISTEMA DE PREVENÇÃO

O sistema de monitoramento, demonstrado no filme, é usado pela divisão pré-crime para prever o cometimento de crimes contra a vida. É um sistema que consiste na utilização de três pessoas dotadas de um dom especial, chamadas de

precogs. São trigêmeos que ficam em uma sala isolada do convívio em sociedade e do

contato físico e direto com os demais detetives que trabalham na divisão, para não haver possibilidade de adulteração do sistema. Eles ficam emergidos em um “leite fotônico”, com altos níveis de serotonina e endorfina. Eles não sentem dor, vivem como se sempre estivessem dormindo e suas visões são como um sonho (ou seria um pesadelo?).

Os precogs não possuem vontade própria. Eles são resultado de uma experiência laboratorial e a autonomia lhes é negada. O que há é uma instrumentalização. Os personagens são vistos como meros instrumentos para o funcionamento do sistema. Não possuem domínio sobre seu corpo ou ações, e são restritos do seu livre arbítrio. Tem-se aqui um dos primeiros pontos para reflexão, a transformação de uma sociedade moderna onde os precogs, apesar de serem seres humanos, não são reconhecidos no aspecto mais profundo do ser humano, em sua liberdade, autonomia e dignidade. São criações de laboratório que são projetadas para uma clara desconsideração do imperativo kantiano segundo o qual os seres humanos são fins em si mesmos. Há, nesse caso, uma clara objetificação. Trata-se de instrumento para se garantir a segurança coletiva da sociedade e diminuir a dor da perda de vidas inocentes. Sobre isso dispõe Salo de Carvalho (2015, p. 347):

O domínio da natureza pela racionalidade, aliado à percepção da Modernidade, como o ápice evolutivo da história humana, induzem a ciência a projetar inevitáveis avanços da técnica no sentido de oferecer condições de diminuir a dor (sofrimento) e aumentar o prazer (felicidade) da existência terrena.

Não obstante, esses avanços tecnológicos, da mesma forma que trazem facilidades e bem-estar, podem levar a humanidade ao seu reverso em termos de realização dos valores humanos e dos direitos individuais. O avanço da técnica pode andar ao lado de teorias utilitaristas e, nesse sentido, o pensamento de Salo de Carvalho nos remete à teoria utilitarista de Jeremy Bentham, da maximização da felicidade em detrimento da dor. Segundo Michael Sandel (2017, p. 55) “o utilitarismo procura mostrar-se como uma ciência de moralidade baseada na quantificação, na agregação e no cômputo geral da felicidade. Ele pesa às preferências sem às julgar”.

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À luz da narrativa do filme, o que se leva em consideração são as “vidas salvas” por meio das visões e não como estas são obtidas, numa clara alusão de que os fins justificam os meios.

No filme, é suscitada uma discussão pelo detetive Danny Witwer (interpretado por Colin Farrell), ao questionar a infalibilidade do sistema. Questiona-se se a visão dos precogs não poderia ser uma mera intenção do agente. A resposta é que os

precogs vêem o que vai acontecer de fato, não uma intenção. Por essa razão o sistema

é denominado de “predeterminação”. Sendo assim, o trabalho dos detetives é poder evitar o porvir dos fatos, pois já se conhece como eles, de fato, ocorrerão (iam).

Witwer questiona se isso não seria “brincar de Deus”. Os precogs são

considerados como oráculos6, suas palavras ensejam total confiança e verdade

e os detetives vistos como sacerdotes, cumprindo seus papéis de receber e a “mensagem divina” e a transmitir, possuindo o poder de prever o futuro e dominar os acontecimentos do destino, pode-se observar que os detetives que trabalham na divisão pré-crime se acham superiores, uma vez que possuem o domínio de prever o futuro em suas mãos, vidas dependem do seu trabalho. Mesmo após a (suposta) emancipação da mitologia, em prol da racionalização da vida, o homem permanece preso à ilusão de um mito e à ficção que lhe outorga segurança.

Os discursos de proteção à vida e o direito de liberdade trazidos no enredo do filme são estruturantes da narrativa. Mas como proteger o direito de liberdade de um, violando o do outro? Uma vez que se acredita que a “revelação” trazida pela visão dos precogs é a verdade absoluta e imutável, não dando direito de resposta ao agente, mais uma vez depara-se com a ideia utilitária de o prazer/satisfação de uma maioria em desfavor da minoria marginalizada.

Também, por tal sistema de prevenção, podemos perceber uma tênue ligação com a criminologia positiva, a qual trata o crime como uma patologia, diferenciando os criminosos do resto da sociedade por conta de funções biológicas e psicológicas, procurando tratar dos desajustados, sendo a criminalidade pré-constituída. Essa criminologia apresenta um caráter de negação do livre arbítrio em favor de um determinismo. Para os criminólogos positivistas, o delito não surge da livre vontade do indivíduo, e sim por conta dos fatores patológicos. O comportamento criminoso já era predeterminado, e isto é combatido pela criminologia contemporânea (BARATTA, 2017). Pois, se pelos precogs aquela pessoa irá cometer um crime, e o sistema é visto como infalível, então se tem o determinismo de que ela está destinada a cometer aquele crime, e se o sistema impede o crime, mas ainda pune o agente, então para o sistema ele já é um criminoso com um comportamento pré-definido, sem possibilidade de livre escolha, cabendo ao direito penal utilizar de um sistema de defesa da sociedade de molde utilitarista.

6 De acordo com Gilmar K Junior (2015), em sua dissertação de mestrado sobre A função dos Oráculos no livro I das histórias de Heródoto, o oráculo tem como significado profecia, é considerada como uma resposta dada por Deus no que diz respeito normalmente a uma dúvida futura. O termo oráculo se refere tanto a divindade quanto ao intermediário, sendo a sua manifestação assemelhada com um culto, é feito em um lugar determinado e com determinadas pessoas escolhidas para exercer a função de “emissor” da mensagem da entidade divina.

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Outro ponto importante de analisar é uma cena na qual há a propaganda para expansão do sistema de pré-crime para o âmbito nacional, e nela são mostradas vítimas de outros crimes, recorrendo para o lado emocional dos cidadãos ao invocar que o sistema os ajudaria, que o sistema iria servir para prevenir que outras pessoas também fossem vítimas, mostrando o papel da vítima nas políticas punitivas, nas quais a vítima é quem precisa ser amparada, de modo que se houvesse alguma preocupação com o criminoso, então não existiria uma preocupação com a vítima. Sobre o assunto, Garland (2008, p. 384):

Os interesses de vítimas e criminosos são tidos como diametralmente opostos: os direitos das primeiras competem com os dos últimos, numa espécie de “tudo ou nada”. Expressões de preocupação com o criminoso e com as suas necessidades sinaliza o desprezo pela vítima e seu sofrimento. A resposta padrão para aqueles que se mobiliza em favor dos direitos dos presos ou por melhor tratamento para os criminosos é que estes deveriam direcionar sua compaixão e preocupação para a vítima inocente e não para o criminoso culpado.

3 O SISTEMA DE OPERAÇÃO

O filme traz uma visão futurista do domínio dos meios de comunicação, identificação e monitoramento virtual. Tem-se um sistema de identificação pela íris dos olhos, cabendo salientar que, segundo Valadão (2008), é um dos meios de identificação mais eficaz, isso ocorre porque a íris não muda desde um ano de idade do indivíduo até a sua morte e a sua identificação também ocorre de forma rápida, considera-se que em menos de 60 segundos, esse padrão de identificação combinado com os meios de publicidade, fazem com que se torne quase impossível que alguém passe despercebido.

Observa-se que existe um vasto número de câmeras espalhadas pela cidade, em locais como nas estações de trem, Shoppings Centers, ruas dos bairros “principais”, onde todos que passam pelo sensor das câmeras são imediatamente identificados e “individualizados”. Observa-se isso quando John Anderton (Tom Cruise), em meio a sua fuga ao passar pelos outdoors espalhados pela cidade, tem a propaganda transmitida com o seu nome, como se fosse exclusivamente direcionada a ele. Vê-se também o domínio do uso de meios de comunicação/informação audiovisual, esses meios voltados para unidades de consumo, afinal em uma sociedade moderna não se pode estar “desatualizado”.

A ideia é que você é o que você consome, e o sistema diz o que deve ser consumido, incutindo ao indivíduo o sentimento de que este não o faz de maneira massificada, afinal você é conhecido individualmente (particularmente), e não se

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deve esquecer que quanto mais você consome mais importância tem. Seduz-se o indivíduo com a imaginação de que ele deixa de ser mais um código no sistema, e passa a ser uma pessoa diferenciada.

Segundo Adorno e Horkheimer (1985, p. 12):

A naturalização dos homens hoje em dia não é dissociável do progresso social. O aumento da produtividade econômica, que por um lado produz as condições para um mundo mais justo, confere por outro lado ao aparelho técnico e aos grupos sociais que o controlam uma superioridade imensa sobre o resto da população. O indivíduo vê-se completamente anulado em face dos poderes econômicos. Ao mesmo tempo, estes elevam o poder da sociedade sobre a natureza a um nível jamais imaginado.

Os grupos sociais com poder aquisitivo elevado vivem em bairros com monitoramento constante, enquanto existem outras localidades à margem dessa sociedade superior onde não existe monitoramento constante. Anderton até consegue cápsulas de drogas com um mendigo, por conta da lacuna de vigilância. Não há propagandas em outdoors, pois os moradores do local não possuem condições econômicas para consumir os produtos que lhe seriam ofertados, não há razão para “desperdiçar” tempo e tecnologia para persuadi-los.

É por essa razão que no decorrer da trama, o protagonista se vê obrigado a fazer uma cirurgia para trocar de globo ocular para poder andar com maior liberdade nas ruas, de modo a evitar a identificação pela íris. Para que acontecesse a cirurgia foi preciso que ele se deslocasse para um local afastado do centro da cidade, onde não há às câmeras de identificação espalhadas uma vez que não existem consumidores ali.

O local escolhido transmite a ideia de um determinado grupo de pessoas sendo desprezado em virtude do poder aquisitivo, afinal de contas se não são consumidores, então não necessitam de atenção. Depara-se com uma sociedade alienada, acrítica e dependente dos meios que lhe são impostos, como se na verdade a escolha fosse sua, que é justamente o que a indústria cultural de Adorno e Horkheimer (1985) traz. A manipulação da sociedade de consumo, que faz o indivíduo acreditar em seu livre arbítrio e individualidade, mas na verdade ele é genérico que se presta à funcionalidade do sistema. Também, mostra-se novamente a ideia do utilitarismo criado por Jeremy Bentham, que se baseia no objetivo moral de maximização da felicidade, e que segundo Sandel (2017, p. 47) “[...] o pressuposto utilitarista de que a moral consiste em pesar custos e benefícios, e apenas espera uma avaliação mais ampla das consequências sociais”, priorizando-se o ideal de que a “felicidade” deve ser garantida, independente dos meios que se utilizem para tal, não importando a insatisfação causada aos moradores do local, uma vez que o bem que se busca pelo criminoso fugitivo fará muitos outros felizes.

Neste determinado momento, os policiais do esquadrão pré-crime, que estão na caçada pelo personagem de Tom Cruise, adentram em um prédio e para facilitar a

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identificação dos indivíduos que estão por lá, lançam um dispositivo conhecido como “aranhas” que se movimenta rapidamente, invadindo os quartos, procurando pelas pessoas para conseguirem escanear as suas retinas, identificando cada um presente. O modo como fazem isso chega até a ser agressivo, presencia-se pessoas temerosas pelo que aconteceria se não deixassem serem identificadas, vê-se crianças chorando e pais assustados.

Nesta cena pode-se presenciar a violação à privacidade, ao domicílio, à intimidade em nome de um discurso de segurança pública, que com o suposto objetivo de combater a criminalidade para proteger a população, utiliza-se de repressão, não importando o que foi atingido, mas desde que alcancem seu propósito, e no momento que o esquadrão adentra o prédio, os agentes não sabem se Anderton estava lá ou não, o que tornou todos os presentes em suspeitos, há uma cooperação imposta pelo esquadrão, com visível abuso do poder que possuem, ou seja, eles “são a lei”, há aqui a ideia do soberano e do súdito, onde o soberano nesse caso é o sistema de segurança e os súditos são obrigados a obedecerem ao que lhes é imposto, caso contrário poderão ser punidos.

Ao ouvir o alerta do esquadrão, Anderton resolve se esconder e para tal entra em uma banheira com água e gelo, o que o camuflaria, não podendo ser detectado pelos sensores de calor, no entanto por descuido uma bolha de ar é capturada pelas aranhas, fazendo assim com que todas elas se desloquem até a banheira e a partir de então desferem descargas elétricas para obrigar o protagonista a sair da banheira para que passe pela identificação.

O paradoxo está justamente no dever que a polícia tem de garantir segurança a todos mas, ao mesmo tempo, violando direitos fundamentais, que têm como premissa que os direitos humanos são inerentes a qualquer pessoa, com propósito de proteger os direitos de qualquer cidadão independente de sua raça cor, etnia, religião, sexo etc, demonstrando um policiamento agressivo inerente ao mito do Estado Soberano.

4 O SISTEMA DE PUNIÇÃO

Neste tópico será analisado o sistema criminal trazido pelo filme, e suas

irregularidades, em paralelo com a realidade. Primordialmente, aqui cabe explicar o que seria o iter criminis e por qual motivo o sistema de “Minority Report” o relativizaria. O iter criminis é essencialmente o caminho do crime, é o conjunto de vários passos, de várias etapas do cometimento do delito doloso. Começa com a fase de cogitação, que é interna, o agente pensa em cometer o delito, a ideia do crime entra na sua cabeça e ele reflete sobre. De acordo com Costa (2016), pelo cogitationis poenam nemo patituro indivíduo não é passível de punição. A simples cogitação de um crime não significa o seu cometimento. O crime encontra-se ainda no âmbito interno da pessoa, não foi reproduzido no mundo, portanto não feriu bens jurídicos, não necessitando da

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intervenção do direito penal. “O passo seguinte é a preparação da ação delituosa que constitui os chamados atos preparatórios, os quais são externos ao agente, que passa da cogitação à ação objetiva” (BITENCOURT, 2018, p. 543, grifo do autor), o agente procura por instrumentos que o auxiliem na prática do delito, ele verifica a possibilidade de cometer o crime, em como o crime poderia vir a ser cometido, justamente ele está se preparando, em regra, esta fase não é punida, pois a pessoa pode ou não cometer o crime, ela pode ter se preparado e depois se arrependido (mas em alguns casos, dependendo do crime, o meio preparatório pode ser ilícito), as duas etapas anteriores não são obrigatórias para o cometimento de um crime, pois elas são premeditadas7.

Continuando a parte externa, “dos atos preparatórios passa-se, naturalmente, aos atos executórios” (BITENCOURT, 2018). É aqui que o agente põe em prática o seu intento, é aqui que propriamente vê-se o início da prática do crime, ele está executando a conduta reprimida, e daqui ele pode ir para a próxima fase que é a consumação do delito, ele vai realizar o almejado (e se possível, após esgotar o seu potencial lesivo, se arrepender e remediar a situação), ou suas ações serão interrompidas e ele irá estancar na tentativa, a qual pode ser que por forças alheias a sua vontade o agente não conseguiu consumar o crime, ou durante a prática ele pode ter desistido voluntariamente (em uma tentativa imperfeita), seja como for, com a possibilidade de lesão ao bem jurídico, ele será punido pelos atos já praticados.

Dito isto, é notável que os crimes normalmente são punidos quando a sua prática é iniciada, com várias possibilidades do resultado, tudo depende da escolha do agente, de como ele irá desenvolver os seus atos. No caso do filme, quando os precogs fazem a sua previsão, é emitida uma esfera com o nome da futura vítima, sendo que se for da cor vermelha significa que o crime é impulsivo e estaria prestes a acontecer, e se for da cor marrom significa que o assassinato é premeditado, o agente cogitou, preparou e iria executar. Quando o detetive descobre que ele é o próximo assassino, a esfera emitida é da cor marrom, demonstrando que o crime seria calculado, mas, naquele momento Anderton nem conhecia a vítima, e ele acreditava que não seria um assassino, o que o leva a começar a duvidar do sistema, então na sua busca em provar a sua inocência (mais um conceito que foi alterado pelo sistema trazido, inocente não é mais aquele que não cometeu o crime, pois como o crime será impedido, só restam culpados), em provar que ele não vai cometer o crime, ele desencadeia uma série de eventos, o personagem busca tanto não cometer o crime que ao final o comete.

Só que ao ser analisado o contexto da cena em que a vítima morre, o agente se depara com fotos de seu filho que havia sido sequestrado, e acreditando que a vítima o tinha matado, agiu sob violenta emoção, causando o assassinato, o que faria o crime não ser premeditado e sim praticado por um impulso. Porém, pela coloração marrom da esfera, tem-se a indicação que o crime seria premeditado, e

7 Günther Jakobs (2018) traz um fato interessante, em que o Código Penal da Prússia, de 1851 e o Código Penal do Reinado Alemão de 1871 instituíram penalidade para a preparação de delitos graves, por acreditarem que já havia um ato sendo realizado contra a segurança pública, o que se inclina a um direito penal do inimigo.

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foi premeditado visto que o próprio anúncio de um futuro assassinato já incutiu a ideia na cabeça do agente, indicando que ele estaria destinado a matar, só que na cena verdadeira, ele tem este impulso assassino, mas ele acredita que tem o direito de escolha e decide pela justiça e não pela vingança, ele tenta prender o sujeito, só que por um acidente, o gatilho é disparado e a pessoa morre, mostrando que os

precogs não fariam uma distinção entre dolo e culpa, e se o homicídio foi por culpa,

já que foi um acidente, não teria como ser premeditado, apesar da esfera apontar para a premeditação, entretanto a sucessão de eventos e fatos leva ao assassinato. Aqui exsurgem alguns questionamentos: o que aconteceria se ele não soubesse de antemão? Será que teria cometido o homicídio? Seria premeditado? Será que teria dolo ou culpa? De qualquer modo, aqui se vê mais uma vez a dubiedade do sistema em querer determinar as coisas e em quebrar com o iter criminis ao punir antes mesmo de existir um crime, de existir uma tentativa, em punir antes ou durante a fase de cogitação, inferido que não existe um direito de escolha e o que vai ser será.

Em tese a pena seria uma resposta estatal ao infrator da norma incriminadora, pois o Estado é detentor de um poder punitivo, e a pena acaba sendo vista como algo com várias finalidades, existem muitas teorias tentando justificar a presença dela, além de não conseguir-se pensar no direito penal sem pensar em uma pena, Salo de Carvalho (2013) diz que na modernidade, a pena é vista como a única resposta ao crime. A construção dos discursos punitivistas que tratam o direito penal como um instrumento de coação e punição vão consolidando uma sociedade punitiva, pois vai visando o direito penal ao seu máximo, com a criminalização, com a sua aplicação, com a estigmatização, e a mídia ajuda a alimentar o credo, o senso comum, com a ideia de que o sistema penal é controle, punição, castigo, e o fenômeno criminal é uma disputa entre o bem e o mal (GOMES, 2015, p. 20). Tradicionalmente, pelos modelos legitimantes do poder punitivo, a finalidade da pena costuma ser dividida em duas: a função de retribuir e a de prevenir (discursos de justificação da pena – finalidade positiva atribuída à pena).

Na retribuição, a qual seria uma teoria absoluta, quando um crime é praticado e um bem jurídico é lesionado, a ideia de tal teoria é que o agente terá um bem jurídico lesionado, é retribuir o mal com o mal. Segundo Zaffaroni e Pierangeli (2018), a ideia de retribuição é baseada em Kant, em que a pena não pode ter uma função preventiva, pois ela não deve ser um meio, e sim um fim em si mesma e Hegel, em que a pena seria aplicar um mal justo como forma de restabelecer o equilíbrio de um mal injusto, pois o delito é uma violação do contrato da sociedade.

Já a prevenção, a qual seria uma teoria relativa, se divide em duas, a geral e a especial, as quais se subdividem em positiva e negativa.

A prevenção geral é aquela direcionada para aqueles indivíduos da sociedade que não delinquiram, ela não é direcionada ao condenado. Sua função é prevenir o cometimento do delito por outras pessoas, podendo se dar de duas formas, uma negativa, que seria a dissuasão por meio da intimidação, para causar medo nos indivíduos, para que eles não se comportem como o condenado se comportou, para que eles não incidam em condutas criminosas, de modo a tratar o ser humano como

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exemplo, punindo alguém, para mostrar para os outros quais as consequências, e uma forma positiva que seria para reafirmar a validade e eficácia da norma, como colocado por Rogério Sanches Cunha (2018, p. 444):

Na perspectiva da prevenção geral positiva, o objetivo da pena é demonstrar a vigência da lei (existência, validade e eficiência). A intenção, aqui, não é intimidar, mas estimular a confiança da coletividade na higidez e poder do Estado de execução do ordenamento jurídico.

A prevenção especial é voltada para a figura do próprio condenado. Ela atua sobre os que cometeram o delito, em uma tentativa de evitar a reincidência. Em sua forma negativa tem-se a punição para que o indivíduo a partir do que ele sofreu não queira voltar a sofrer. Seria propriamente afastar o criminoso da sociedade por meio do cárcere, e sua forma positiva a função da pena é ressocialização, corrigir o preso, e transformá-lo em uma pessoa de bem, para tal teoria: “somente a recuperação do condenado faz da pena um instituto legítimo.” (CUNHA, 2018, p. 444).

Já no caso do sistema retratado no filme, aqui se entra em debate sobre qual seria a finalidade da pena trazida, de início já se pode descartar a teoria da retribuição, pois nenhum “mal injusto” (homicídio) foi cometido para que fosse retribuído com um “mal justo” (aprisionamento), também se pode descartar a teoria da prevenção especial em sua forma positiva, por não ser possível ver a presença do correcionalismo penal, já a forma negativa poderia ser uma possibilidade, posto que se tenha a contenção da periculosidade na configuração da custódia dos agentes ao neutralizá-los por meio da segregação, bem como poder-se-ia ter a presença da teoria da prevenção geral, ao apresentarem o sistema como infalível buscando a confiança da população e passando a mensagem de que eles não deveriam pretender cometer um assassinato, pois o departamento de pré-crime os surpreenderia.

De qualquer modo, o que se pode perceber é que, na realidade, o instituto da pena é justamente uma punição por um crime praticado, quando o legislador criminalizar uma conduta, tem-se a existência do preceito primário que é justamente a conduta, e o preceito secundário que é a pena atribuída a quem praticar a conduta, portanto visualiza-se um vínculo crime-pena, este é o “normal” da sociedade. Porém, o sistema apresentado pelo filme quebra completamente com o padrão de conduta criminalizada para a qual se tem uma pena a ser aplicada se ela vir a ser realizada, pois tecnicamente nenhum crime foi cometido, o departamento de pré-crime consegue impedir os homicídios de virem a acontecer, mas ainda assim o sujeito vai preso pelo crime que ele não cometeu, a punição é atribuída pelo futuro vislumbrado pelos precogs, o que violaria o princípio garantista da nulla poena sine

crimine, que segundo Ferrajoli (2002, p. 75) seria o “princípio da retributividade ou

da conseqüencialidade (sic) da pena em relação ao delito”, em que não há pena se não houver um crime, pois o que está sendo punido é uma conduta, juntamente com outra garantia jurídica que seria a nullum crimen sine conducta que segundo

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Zaffaroni e Pierangeli (2018, p. 372 e 373) “se fosse eliminado, o delito poderia ser qualquer coisa, abarcando a possibilidade de penalizar o pensamento, a forma de ser, as características pessoais etc”, e no caso do filme tem-se uma pena por uma conduta não realizada e por consequência, a pena por um crime não cometido.

Além de que ainda para Zaffaroni e Pierangeli (2018, p. 374):

Uma séria tentativa de burlar o nullum crimen sine conducta é o chamado “direito penal de autor”, que considera a conduta como um simples sintoma de uma personalidade inimiga, ou hostil ao direito. É uma das mais perigosas manifestações do direito penal autoritário, que repugna nossos mais elementares princípios constitucionais.

Com isto pode-se perceber o perigo de um sistema que relativiza princípios penais, ao cortejar com um direito penal do autor e um direito penal do inimigo, visto que para Günther Jakobs (2018) “a punibilidade avança um grande trecho para o âmbito da preparação, e a pena se dirige à segurança frente a fatos futuros, não à sanção de fatos cometidos”, que é o que pode-se presenciar no filme, se os precogs apontam que tal pessoa é uma assassina em potencial, então tal pessoa oferece perigo, levando a agência policial contê-la para prover a segurança pública, e puni-la em face de suposto fato futuro, confiando em um sistema de firme determinismo, que acaba se mostrando inconveniente.

Para tratar do modelo punitivo retratado no filme, é significativo fazer uma síntese do processo punitivo, do arcaico até a consolidação da prisão como principal meio de punição.

Nos primórdios como forma de punição, tinha-se a lei de talião, “olho por olho, dente por dente”, em que a justiça assumia a forma de vingança, em um modo puramente retaliativo, consistido em retribuir, na mesma medida do que foi causado, o mal com o mesmo mal, representando o modo primitivo de punir. Pode-se ver a lei de talião como um dos modelos de punição provenientes dos princípios em que o criminoso figura como o inimigo da sociedade exposto por Foucault (2015, p. 63 e 64):

Trata-se de uma pena que tem correlação exata com a ofensa, no que se refere a natureza e a força; com ela, a sociedade consegue voltar contra o criminoso o ataque feito contra ela. Assim, tem-se a certeza de que a pena está efetivamente dosada em função do ato, e de que não haverá abuso de poder, pois a sociedade só está respondendo com aquilo que lhe foi efetivamente feito: é puro e simples contra-ataque social.

Podem-se tirar outras formas de táticas punitivas da sociedade das aulas que Foucault (2015) lecionou no Collège de France. Ele aborda quatro métodos, em primeiro

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tem-se o de “excluir”, em que o indivíduo será rejeitado dos círculos sociais, ele não faz mais parte daquela sociedade, ele é banido, um tipo de punição vista na Grécia antiga, não deve ser confundida com a segregação proveniente das penas privativas de liberdade; em segundo tem-se o método de “organizar um ressarcimento, impor uma compensação”, se tem um dano, este precisa ser reparado, a vítima deve ser ressarcida, será imposto ao indivíduo diversas obrigações a serem cumpridas; “marcar”, ou pode ser uma forma de punição física, ou simbólica, qualquer que seja, “o indivíduo que tiver cometido a infração ficará assim marcado por um elemento de memória e reconhecimento” (p. 8), punição que prevaleceu do fim da Alta Idade Média até o século XVIII; “encarcerar”, o método de punição consolidado na sociedade, que envolve privar a liberdade do indivíduo.

Foucault (2015) também aborda quatro princípios gerais das penas em que o criminoso é o inimigo social que a sociedade precisa ser protegida de, e disso resultam três modelos de punição efetiva, um dos modelos é o de talião, previamente abordado, o outro é o modelo da infâmia8, em que é a sociedade que está julgando

o indivíduo, ele carrega temporariamente a vergonha por ser culpado, sem precisar de tribunais, e o modelo da escravidão, que seria o trabalho forçado como punição.

A sociedade passou por penas cruéis, pela tortura, pessoas eram queimadas vivas, afogadas, empaladas, linchadas, apedrejadas, esquartejadas, essas eram as penas corporais que a sociedade aos poucos foi abolido por serem desumanas, imagine políticos querendo trazer esses tipos de pena para a atualidade, não se tem espaço para métodos arcaicos, não se pode retroceder para tal parte da história, lá no século XVIII, Beccaria (2015) expressa que tais abusos não devem ser tolerados. A pena de morte também figurou como forma de punição, em uma literal exclusão do indivíduo da sociedade, ela foi paulatinamente abandonada, porém ainda é presente na sociedade moderna.

Nos Estados Unidos, em um período pós-escravidão, era possível encontrar penas e modos de punição que remetiam ao próprio período escravocrata, como a do trabalho forçado, penas corporais semelhantes às chibatadas, e acorrentamento de presos uns aos outros e como grande parte de pessoas negras eram o alvo do sistema criminal, era como se eles estivessem passando novamente pela escravidão, só que dessa vez como punição criminal9.

Por fim, chega-se na consolidação da prisão como forma de punição, que em comparação com os métodos arcaicos, representou uma grande mudança no campo

8 Beccaria (2015) coloca que em caso de crimes contra a honra, como a injúria, a punição ideal seria justamente a infâmia.

9 De acordo com Angela Davis (2018, p. 33): “As pessoas negras eram aprisionadas em cumprimento das leis reunidas nos vários Códigos Negros dos estados sulistas, que, por serem rearticulações dos Códigos Escravagistas, tendiam a racializar a punição e ligá-la intimamente a regimes anteriores de escravidão. A expansão do sistema de arrendamento de condenados e dos grupos de prisioneiros acorrentados realizando trabalhos forçados nos condados significava que o sistema de justiça criminal do período pré-guerra civil, que se concentrava com muito mais intensidade em pessoas negras do que em pessoas brancas, definia a justiça criminal sulista, essencialmente, como uma maneira de controlar a força de trabalho negra.”

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criminal. No histórico prisional, como exemplo é interessante a relação entre prisão e religiosidade, a penitenciária que vem de penitência, seria o criminoso como pecador que está pagando pelos seus pecados, o tempo isolado, o tempo em solidão é para ele refletir pelos seus atos, ou, o modelo panóptico de Jeremy Bentham, de constante vigilância dos condenados, e também a prisão moderna assumiu um caráter de ressocialização, ou seja, com uma pauta correcionalista. A prisão é mais do que uma privação da liberdade do indivíduo criminoso como forma de punir a sua conduta, ela representa segregação e controle social, deixando demonstrar a discriminação pelo encarceramento de massas que não se encaixam no padrão, o que leva a movimentos sociais pedirem pela abolição de tal forma de sanção.

Em determinada cena, quando o personagem procura saber mais sobre o caso de Anne Lively, que foi uma das primeiras pessoas a ter seu assassinato impedido pelas previsões dos precogs, ele visita o departamento de contenção que abriga os considerados culpados por um futuro assassinato, lá se tem a figura do sentinela, que seria o indivíduo que vigia os presos, que está tocando piano e diz para Anderton que “a música acalma os prisioneiros”, e então eles avançam para uma volta no complexo. A cena é estarrecedora, uma vez que se deparam com diversos corpos mantidos como em um coma induzido, em cápsulas de contenção com capacetes que transmitem continuamente o crime a ser cometido, eles são identificados pelo futuro crime, Anderton fica surpreendido por serem muitos, já o sentinela diz que se não fosse pelo trabalho de Anderton, eles estariam lá fora cometendo assassinatos, e que daquele jeito eles parecem inofensivos, mas por dentro estavam agitados.

É perceptível que se está diante de um novo modelo de punição, não apenas pela tecnologia trazida, mas também pelo próprio sistema trazer penas para crimes não cometidos, e pelo o que é retratado, leva-se a entender que as penas são indeterminadas, não tem-se uma definição da quantidade de tempo que as pessoas serão punidas, além do mais, em uma cena quase no fim do filme, quando o personagem de Tom Cruise é preso por assassinato, não vê-se um julgamento (o que até faria sentido para o contexto do filme, pois no processo penal deve-se fazer uma reconstrução de fato passado, em uma tentativa de configurar a polêmica verdade real como parte do convencimento do magistrado, para que fique comprovado a materialidade e a culpa do agente por algo que ele cometeu, e como no filme ele ainda não cometeu mas supostamente ia cometer, sendo a prova disso a previsão dos precogs, que é tida como verdade, levando a não precisar ter um processo penal eficiente, por eles já serem considerados culpados)10, apenas ele sendo detido e logo

levado para o departamento de contenção, para fazer parte do “rebanho” do sentinela, a tecnologia domina o processo punitivo, por causa dela que há a punição e por meio dela que serão punidos.

10 Segundo Aury Lopes Jr (2017, p. 341): “Isso decorre do paradoxo temporal ínsito ao rito judiciário: um juiz julgando no presente (hoje) um homem e seu fato ocorrido num passado distante (anteontem), com base na prova colhida num passado próximo (ontem) e projetando efeitos (pena) para o futuro (amanhã). Assim como o fato jamais será real, pois histórico, o homem que praticou o fato não é o mesmo que está em julgamento e, com certeza, não será o mesmo que cumprirá essa pena, e seu presente, no futuro, será um constante reviver o passado.”

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Conforme Foucault (2009, p. 192):

Bentham se maravilha de que as instituições panópticas pudessem ser tão leves: fim das grades, fim das correntes, fim das fechaduras pesadas: basta que as separações sejam nítidas e as aberturas bem distribuídas. O peso das velhas “casas de segurança”, com a sua arquitetura de fortaleza, é substituído pela geometria simples e econômica de uma “casa de certeza”.

O exposto no filme leva a constatar que em parte tem-se a presença do modelo panóptico de prisão, com um formato de 360º em que cada prisioneiro disposto ao redor de uma torre central (só que sem estar à plena luz, pois como mostrado, eles geralmente ficam no solo, podendo ser suas cápsulas levantadas), onde se tem a figura do sentinela como aquele que guarda os presos e os vigia, com a vigilância também apoiada nas identificações, além de que o lugar em que os detentos estão não mostra rígida segurança, é apenas um departamento dentro da sede de pré-crime. Contudo, tem-se o não contato entre os presos, mas não por conta do sistema circular, mas sim por causa que eles estão em um coma, com a imagem do suposto futuro crime sendo passada em suas cápsulas, dando a entender que estariam conectadas às suas mentes, portanto sendo transmitidas a eles, em uma espécie de modelo de penitenciária em que eles refletirão sobre os seus atos e em espécie solitária.

O que se vê é que mesmo no mundo imaginado de 2054, a prisão ainda está consolidada como o principal sistema punitivo, não importando a forma que ela tome, mas ainda serve como instrumento para isolá-los de tudo e de todos, mesmo que nenhum crime tenha sido cometido.

Questiona-se ser justo ou não, primeiramente se “apropriar” da vida de outros seres para que mantenha o sistema de pré-crimes, e com a utilização desse sistema é justo a prisão dos indivíduos uma vez que estes não chegaram a cometer o crime de fato? Entra-se aqui numa discussão filosófica do que é a justiça segundo Aristóteles a justiça não chega a ser parte da virtude, mas é ela como um todo, em sua obra Ética a Nicômaco ele reserva o livro V de sua obra para falar sobre justiça (2001, p. 97):

[...] a justiça não é uma parte da virtude, mas a virtude inteira; nem seu contrário, a injustiça, é uma parte do vício, mas o vício inteiro. O que dissemos torna evidente a diferença entre a virtude e a justiça neste sentido: são elas a mesma coisa, mas sua essência não é a mesma. Aquilo que é praticado em relação ao próximo, como uma determinada disposição de caráter e em si mesmo, é virtude.

Logo, pode-se dizer segundo o que assegura o filósofo, que a justiça deve ser pensada e praticada em relação ao próximo, não de maneira egocêntrica. Pensa-se na justiça levando em consideração o outro considerando como igual.

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Pode-se perceber que ao falar de justiça, não pode simplesmente se submeter às legislações, é necessário trazer para análise um fato, um caso concreto e com isso as vertentes incutidas no mesmo, é preciso analisar o “crime” de diversos ângulos, épocas e situações o que não deixa de ser uma análise feita através do Direito uma vez que este é pluridimensional. Para o personagem de Tom Cruise, não seria justo ele ser preso sendo que não cometeu crime algum, não seria justo receber o “título” de assassino, neste momento depara-se com a queda da confiabilidade no sistema que era considerado, até então, à prova de falhas. Tem-se o conflito vivido pelo protagonista, em ter que lutar para provar a sua inocência e assim constatar que o sistema, ao qual defendia inegavelmente, é suscetível de falhas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação entre a tecnologia e o homem é complexa e conflitiva. Por um lado, o avanço tecnológico facilita muitos aspectos da vida; por outro, em nome de um ideal coletivista, acaba-se por infringir direitos individuais. É importante considerar os avanços e também os custos do desenvolvimento tecnológico nas relações humanas. Nesse contexto, as atraentes narrativas de ficção científica auxiliam na reflexão sobre a realidade a partir da gradativa tecnologização da vida.

O longa-metragem Minority Report é um drama de ficção científica que revela a fragilidade da fronteira entre utopia e distopia e a necessidade de refletir sobre a interlocução entre ficção e realidade. Trata-se de uma narrativa do paradoxo da modernidade ao projetar a utilização de um sistema de vigilância tido como infalível que realiza visões antecipadas do futuro para que os criminosos sejam punidos antes mesmo que o crime se materialize.

Nesse sistema, os precogs têm a previsão do crime que ocorrerá e, por meio do uso de monitoramento de segurança, o crime é impedido e o “criminoso” preso. Não são levados em consideração os possíveis erros dos meios utilizados para a realização da prisão, pois se acredita que o sistema é infalível. Essa ficção é a base da confiança dessa estrutura punitiva que burla direitos e garantias fundamentais.

Como muito bem abordado por Loiane Verbicaro (2016, p. 109):

[...] a desilusão das utopias e otimismo libertador da racionalidade que, em vez de permitir a construção de uma era verdadeiramente humana, proporcionou o fundamento da humanidade esclarecida em uma nova espécie de barbárie, com a coisificação do homem, o distanciamento dos valores, a incapacidade de reflexão e a abstração da individualidade, ao se compreender o indivíduo como simples engrenagem do processo tecnológico [...].

Para provar sua inocência, Anderton inicia uma jornada contra o tempo fugindo daqueles que antes eram seus companheiros. Faz cirurgia para trocar os

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olhos e assim poder se locomover pela cidade, sem que houvesse sua identificação pela íris, ele volta ao departamento para resgatar um dos precogs, conhecida como

Agatha (Samantha Morton), que é a chave para solução do seu problema, uma vez que

ela é a única que possui informações das visões dissonantes (minorities reports), que seriam as outras possibilidades de término das visões obtidas pelos precogs, as quais são normalmente descartadas pelos agentes por pensarem se tratar da repetição da mesma cena, apesar de os criadores do sistema de pré-crime saberem que na verdade é algo que impactaria na “perfeição” do sistema.

Anderton acaba por descobrir que o encadeamento de diversos acontecimentos

o levaria ao momento previsto, ou seja, ao local do crime que estava predestinado a cometer, entretanto, descobre que possui escolha, ainda que seja levado a pensar o contrário, acidentalmente comete o crime, e se direciona à casa de sua ex-esposa onde busca refúgio, mas o esquadrão de busca do departamento cerca o local e o prende, porém, sua ex-esposa o retira da prisão. Anderton então arma um plano para mostrar a todos que o sistema é falho e que o crime cometido por ele na verdade foi arquitetado por Lamar Burgess (interpretado por Max von Sydow), o fundador do sistema pré-crimes.

Tem-se aqui o dilema de Lamar, pois durante a ação de Anderton, os precogs tiveram a visão de que Lamar o mataria, e então se vê uma situação em que ou ele é obrigado a matar um homem como foi previsto pelos precogs para que ficasse comprovado que o sistema realmente funciona, mas então ele seria um assassino, o que colocaria em xeque a sua figura de cidadão de bem, ou ele não mataria Anderton pelo livre arbítrio e assim demonstraria a falha do sistema, uma vez que todos têm escolha frente a uma situação. Lamar decide se suicidar, afinal aquele era o projeto da sua vida e já havia feito coisas horrendas (como por exemplo, o assassinato de

Anne Lively, que foi uma das primeiras a ter sua morte prevista pelos precogs, ela era

a progenitora deles e queria reaver seus filhos, mas isso arruinaria o sistema de pré-crime, o que levou Lamar a matá-la, o que mostra que o sistema já nasceu corrupto por causa da pessoa que estava em seu controle), sendo assim não suportaria a vergonha de vê-lo arruinado e nem o fato de ter que ir para prisão.

Assevera-se, assim, o paradoxo da modernidade, o homem frente à racionalização se deixa levar pelo que ela oferece a esperança emancipatória das utopias. Não percebe que está cada vez mais equipado e dependente da tecnologia, que a acompanha, sendo que essa tal esperança oferecida é na verdade nada mais que uma ilusão criada pela modernidade. O sistema precogs é uma distopia disfarçada de utopia. Como pode o homem prever o futuro e determinar certos e imutáveis os atos cometidos sem levar em consideração o livre arbítrio? A ideia de racionalização e o apreço pela tecnologia fez com que os indivíduos se distanciassem de valores básicos, com a violação aos direitos fundamentais, à liberdade e dignidade. Vê-se uma desumanização e uma coisificação do homem que se realizam com a ilusão das promessas emancipadoras da tecnologização da vida.

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