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Academic year: 2021

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DIALÉTICA DA PULSÃO

André Oliveira Costa

O

título deste trabalho faz referência a dois pensadores: Freud e Hegel, os quais puderam se encontrar através de um terceiro, Jacques Lacan. Este trabalho tem como objetivo maior tentar realizar possí-veis aproximações desses dois pensadores através do conceito de pulsão (Trieb).

1. DIALÉTICA: A dialética de Hegel pode compreender três etapas: (1) conceitos ou categorias são considerados fixos e definidos, diferencian-do-se um dos outros, (2) a partir da reflexão sobre tais conceitos ou catego-rias surgem contradições neles e (3) resulta uma nova categoria ou conceito, superior à anterior, que “engloba as categorias anteriores e resolve as contra-dições nelas”. Assim, essa dialética não se coloca apenas como um méto-do no qual o filósofo procede sobre o objeto de estuméto-do, mas como a “estrutu-ra e o desenvolvimento intrínseco do próprio objeto”. Nas palav“estrutu-ras de Hegel, “o dialético, em geral, é o princípio de todo o movimento, de toda a vida, e de toda a atividade na efetividade.”1

2. NEGAÇÕES: Se tomarmos a dialética a partir do ponto de vista da Lógica, podemos formular esses três momentos com as seguintes caracte-rísticas: (1) a primeira etapa como Afirmação (Bejahung) determinante do conceito ou do objeto, (2) a segunda etapa como Negação (Verneinung) sobre a primeira afirmação e (3) a terceira etapa como a Negação da nega-ção, ou seja, não se trata de uma volta ao ponto de partida, mas numa nova afirmação, diferente da primeira, originalmente negada.2 A negação da

nega-1 HEGEL, G.W.F. (1830) Enciclopédia das Ciências Filosóficas em compêndio. Volume I – A Ciência da Lógica. São Paulo: Edições Loyola, 1995, adendo do §81, pg. 163.

2 De acordo com a lógica formal clássica, a sentença “a rosa é vermelha” equivale logicamente à negação da negação desta sentença, “a rosa é não vermelha”, ou seja, “a rosa é verme-lha” equivale a “a rosa é não não vermeverme-lha”. Entretanto, segundo a dialética hegeliana, a negação da negação forma outra afirmação diferente daquela primeira pela qual se partiu.

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ção, então, mostra o infinito do processo de desenvolvimento e constituição de um conceito ou objeto, ou seja, o que era afirmação foi duplamente nega-do, tornando-se outra afirmação, que virá a ser duplamente negada. Para Hegel, cada momento desta lógica complexifica-se, passando da “imediatez” do conceito e do objeto, para, a “reflexão” e “mediação” no ser-para-si, e encerrando no “ser-retornado sobre si mesmo”, ou, em sua linguagem, ser “em-si e para-si”.3

A negação, na filosofia de Hegel, é compreendida como a força condutora da atividade espiritual de cisão e reconciliação, encontradas, respectivamen-te, na primeira negação e na segunda negação. O processo da negação, des-sa forma, ocorre através do movimento de auto-negação, auto-contradição e auto-reconciliação, voltando a si mesmo. Trata-se, portanto, de fases “lógica e não temporalmente ordenadas, de um processo eterno, e que cada uma de-las, tomada isoladamente, é uma abstração carente de significado.”4,5

3. SUSPENSÃO: A essência do movimento dialético aparece, em muitos momentos, na forma lógica triádica e nas lógicas das negações pri-meira e segunda. Para explicar essa força do espírito que se aliena e retorna novamente a si mesmo, Hegel toma como base um conceito: Suspensão (Aufhebung)6. O uso deste termo, na língua alemã, traz consigo três

senti-3 HEGEL, 1830/1995, §83, pg. 169.

4 MURE, G.R.G. (1965). La filosofia de Hegel. Madrid: Cátedra, 1998, 3ª edição.

5 “O botão desaparece no desabrochar da flor, e poderia dizer-se que a flor o refuta; do mesmo modo que o fruto faz a flor parecer um falso ser-aí da planta, pondo-se como sua verdade em lugar da flor: essas formas não só se distinguem, mas também se repelem como incompatíveis entre si. Porém, ao mesmo tempo, sua natureza fluida faz delas momentos da unidade orgânica, na qual, longe de se contradizerem, todos são igualmente necessários.” (HEGEL, 1807/2003, §2, pg. 26)

6 A tradução do conceito Aufhebung por Paulo Meneses na tradução da “Fenomenologia do Espírito” (1807) e da “Enciclopédia das Ciências Filosóficas” (1830) é “suprassunção”. Para a discussão da tradução deste conceito ver “Para ler a Fenomenologia do Espírito – Roteiro”, de Paulo Meneses, editora Loyola, e a tese de doutorado de José Pinheiro Pertille, “Faculda-de do Espírito e Riqueza Material: face e verso do conceito “Vermögen na filosofia “Faculda-de Hegel”, pela UFRGS, em 2005. Nesta ultima, o autor propõe traduzir o conceito de Aufhebung por “suspensão” – e seu verbo Aufheben por “suspender” –, visto que esta tradução para o português mantém os três sentidos do termo em alemão: negar, conservar e elevar. Segui-mos neste trabalho a tradução de Aufhebung por suspender.

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dos: (1) levantar, sustentar e erguer; (2) anular, abolir, destruir, cancelar e suspender; e (3) conservar, poupar e preservar7. Segundo Inwood8, “Hegel

usa regularmente Aufhebung em todos os três sentidos”, além de afirmar que “Aufhebung é semelhante à Negação determinada que tem um resulta-do positivo”. Trata-se, também, de um termo que se refere aos conceitos e às coisas, por exemplo, na Lógica, os conceitos de ‘ser’ e ‘nada’ são sus-pendidos (segundo os sentidos 1, 2 e 3) em ‘determinações’ para o ‘devir’, assim como, na fenomenologia da consciência, os estágios iniciais são sus-pendidos (segundo os sentidos 1, 2 e 3) para estágios superiores.

4. EXPERIÊNCIAS: Hegel, na “Fenomenologia do Espírito”, apresenta o percurso da consciência em seu desenvolvimento da Certeza Sensível, estágio mais primitivo da consciência no qual a essência está colocada no objeto, até o Saber Absoluto, no qual mundo externo e mundo interno, sub-jetividade e obsub-jetividade, conceito e objeto, não são mais totalmente distin-tos. Para chegar ao Saber Absoluto, a consciência passa por diversas expe-riências, buscando superar cada uma delas através do movimento dialético da Aufhebung. As experiências pelas quais passa a consciência formam a sucessão de figuras – etapas do desenvolvimento fenomenológico da cons-ciência – apresentadas na “Fenomenologia do Espírito”. Em cada figura, que é um representante singular da totalidade, a consciência deve parar e perma-necer, indo até os Fundamentos deste momento, atingindo um impasse que só é resolvido pela dissolução dos termos que se contrapõem, resultando, assim, em uma nova figura que surge da superação da anterior.9

7 “Por Aufhebung entendemos primeiro a mesma coisa que ‘hinwegräumen’ [ab-rogar], ‘negieren’ [negar], e por conseguinte dizemos, por exemplo, que uma lei, um dispositivo são ‘aufgehoben’ [ab-rogados]. Mas além disso significa também o mesmo que aufbewahren [conservar], e nesse sentido dizemos que uma coisa está ‘wohl aufgehoben’ [bem conser-vada].” (HEGEL, 1830/1996, §96, adendo, pg.194)

8 INWOOD, 1992, pg. 303.

9 “A impaciência exige o impossível, ou seja, a obtenção do fim sem os meios. De um lado, há que suportar as longas distâncias desse caminho, porque cada momento é necessário. De outro lado, há que ”demorar-se” em cada momento, pois cada um deles é uma figura indivi-dual completa, e assim cada momento só é considerado absolutamente enquanto sua determinidade for vista como todo ou concreto, ou o todo [for visto] na peculiaridade dessa determinação.” (HEGEL, 1807/2003, §29, pg. 42)

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5. NEGAÇÃO DA NEGAÇÃO: Para Hegel, uma consciência só pode vir-a-ser autoconsciência se houver a mediação de outra consciência, quer dizer, ela só vai ter consciência de si como autônoma e que conhece as coisas do mundo, apenas se outra consciência a reconhecer como tal.10

Dessa forma, o outro é condição de possibilidade para que uma consciência seja conhecedora e, ao mesmo tempo, reconhecedora. Para Hegel, portan-to, o processo de conhecimento do homem sobre o mundo é, também, um processo de reconhecimento que se constitui nas relações intersubjetivas.

A partir da lógica na qual Hegel utiliza para compreender o movimento dialético, tanto dos conceitos quanto das coisas, podemos fazer algumas considerações em relação à psicanálise, e em específico ao conceito de pulsão.

1. INSISTÊNCIA: Na lição VI do Seminário 2, “Freud, Hegel e a máqui-na”, Lacan faz a seguinte pergunta: “Por que será que o sistema recalcado se manifesta com isto que da última vez chamei de insistência?”11 Esta

per-gunta nos dirige diretamente ao inconsciente [o sistema recalcado] e à sua dinâmica [ser insistente]. Sabemos que Freud operou uma “revolução coperniciana” ao desfazer a autonomia da consciência, atribuindo ao incons-ciente a verdadeira essência do sujeito. Então, “o que interessa a Freud é saber por que fios a marionete é conduzida. É disto que fala ao falar de instinto de morte ou de instinto de vida.”12 Essa pergunta nos conduz, junto

com Lacan, diretamente à relação de Freud e Hegel. O que há entre Freud e Hegel?

2. PULSÃO: A resposta de Lacan para esta pergunta é direta: “Há algo de que se fala, em Freud, e de que não se fala em Hegel, é a energia”13.

É justamente o surgimento da máquina, da energia a vapor, que permite

10 “A consciência-de-si é em si e para si quando e por que é em si e para si para uma Outra; quer dizer, só é como algo reconhecido”. (HEGEL, 1807/2003, §178, pg. 142)

11 LACAN, Jacques. (1954) Seminário 2. O eu na teoria de Freud e na técnica da psicaná-lise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985, pg. 87.

12 LACAN, 1955/1985, pg. 90. 13 LACAN, 1955/1985, pg. 99.

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conjugarmos Freud e Hegel. Não que a energia tenha sido criada ex-nihilo, mas a concepção energética se faz necessária pela invenção das máquinas. A máquina freudiana é precisamente aquilo pelo qual denominamos aparelho psíquico. Composta de lugares que se determinam, essa máquina psíquica tem como energia fundamental a libido. A pulsão e o seu representante libidinal são os responsáveis pelo movimento desta máquina e do seu modo de rela-ção com o mundo e com os diversos tipos de objetos.

3. A NEGATIVIDADE DA PULSÃO: No texto “Pulsão e destinos da Pulsão”, de 1915, Freud coloca quatro características essenciais da pulsão, a saber, a Pressão (Drang), a Fonte (Quelle), o Objeto (Objekt) e o Alvo (Ziel). Tomemos o primeiro elemento. Segundo Freud, “por pressão (Drang) de uma pulsão compreendemos seu fator motor, a quantidade de força ou a medida da exigência de trabalho que ela representa. A característica de exercer pressão é comum a todas as pulsões; é, de fato, sua própria essên-cia.”14 Para Freud, a pressão da pulsão não se assemelha à da necessidade,

da fome ou da sede, que é negada logo no momento em que é satisfeita. O que quer dizer, então, uma satisfação da pulsão? E podemos realmente falar em satisfação da pulsão? Segundo Lacan, falar em satisfação da pulsão é, no mínimo, paradoxal, pois “entra em jogo algo de novo – a categoria do impossível.”15 Esta forma negativa da satisfação da pulsão, porém, não deve

ser compreendida sem reflexão. Retomamos Lacan antes de seguirmos nosso pensamento: “Eu quereria simplesmente sugerir-lhes que a melhor maneira de abordar essas noções não é tomá-las pela negação. Este método nos levaria aqui à questão sobre o possível, e o impossível não é forçosamente o contrário do possível, ou bem ainda, porque o oposto do possível é segura-mente o real, seremos levados a definir o real como o impossível.”16

14 FREUD, Sigmund. (1915). Os instintos e suas vicissitudes. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Volume XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1991, pg. 142. (tradução modificada).

15 LACAN, Jacques. (1964). Seminário 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicaná-lise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985, pg. 158.

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4. NEGAÇÃO DA NEGAÇÃO: Se o movimento da pulsão e a sua satisfação não podem ser tratados na ordem da oposição entre possível e impossível, o que levaria a uma lógica binária com apenas dois valores de verdade, o verdadeiro e o falso, ou o possível e o impossível, então, devemos colocá-la segundo a ordem trinaria. Se apenas afirmamos a possibilidade de sua satisfação, corremos o risco de igualá-la à necessidade; se apenas negamos esta primeira afirmação, colocamos sua satisfação na ordem do impossível, recusando suas características essenciais: pressão, fonte, obje-to e finalidade. Esta última é assim definida por Freud: “A finalidade (Ziel) de uma pulsão é sempre a satisfação, que só pode ser obtida eliminando-se o estado de estimulação na fonte da pulsão.”17 Chegamos, então, à hipótese

de que a dinâmica da pulsão não se dá conforme a negação, mas sim con-forme a negação da negação, ou seja, segundo a dialética da negação da negação. Se voltarmos às afirmações referentes à lógica hegeliana da dialética, verificamos que a negação da negação mostra o infinito do processo de desenvolvimento. Neste caso, a dinâmica pulsional não se coloca na ordem do impossível, mas na do processo infinito. A negação da negação, então, explica a força constante que existe na exigência pulsional pela busca de satisfação. Trata-se, portanto, de uma explicação lógica sobre a caracterís-tica imanente da pulsão de eterno movimento.

5. CIRCUITO DA PULSÃO: O objeto da pulsão é caracterizado por Freud do seguinte modo: “O objeto (Objekt) de uma pulsão é a coisa em relação à qual ou através da qual a pulsão é capaz de atingir sua finalidade. É o que há de mais variável numa pulsão e, originalmente, não está ligado a ela, só lhe sendo destinado por ser peculiarmente adequado a tornar possí-vel a satisfação.”18 Desse modo, a apreensão da pulsão sobre o objeto não

significa sua satisfação, pois não é no objeto que ela vai satisfazer-se. Essa característica já distingue a pulsão da necessidade, cuja satisfação pode ocorrer por um objeto determinado. Quando Freud afirma que o objeto da

17 FREUD, 1915/1991, pg. 142. (tradução modificada). 18 FREUD, 1915/1991, pg. 143. (tradução modificada).

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pulsão é o que há de mais variável, é justamente porque a determinação deste objeto não tem importância. A esse objeto da pulsão, causa do dese-jo, Lacan nomeia de objeto a. A ele, diz Lacan, “devemos dar uma função tal que pudéssemos dizer seu lugar na satisfação da pulsão. A melhor fórmula nos parece ser esta – que a pulsão o contorna.”19 Apresenta-se, assim,

aquilo que ficou conhecido como o “circuito da pulsão”.

Lacan denomina este movimento da pulsão como uma “dialética do arco”20. Este movimento de saída e retorno ou de vaivém, acompanhando o

terceiro movimento da dialética hegeliana, de reflexão ou retorno a si mes-mo, mostra três momentos pulsionais, a saber, o ativo, o passivo e o reflexi-vo. Ver, ser visto e ver-se, por exemplo, são momentos circulares da pulsão. Encontramos, então, mesmo no par sadismo-masoquismo, três termos da pulsão. Citamos Lacan:

“É preciso bem distinguir a volta em circuito de uma pulsão do que aparece – mas também por não aparecer, – num terceiro tempo. Isto é, o aparecimento de ein neues Subjekt que é pre-ciso entender assim – não que ali já houvesse um, a saber, o sujeito da pulsão, mas que é novo ver aparecer um sujeito. Esse sujeito, que é propriamente o outro, aparece no que a pulsão pôde fechar seu curso circular. É somente na aparição do nível do outro que pode ser realizado o que é da função da pulsão.”21

Trataremos agora sobre esse novo sujeito que advém deste circuito pulsional.

6. O VIR-A-SER DO SUJEITO: A psicanálise nos mostra que as idéi-as de finito e infinito estão presentes na sua concepção de sujeito. Ao tratar

19 LACAN, 1964/1985, pg. 160. 20 LACAN, 1964/1985, pg. 168. 21 LACAN, 1964/1985, pg. 169.

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sobre o aspecto econômico, este tema nos leva diretamente a pensar sobre a dinâmica do sujeito do inconsciente, daquela máquina-marionete que vive sob as exigências de princípios. Lacan nos mostra que “a máquina se man-tém, ela desenha uma certa curva, uma certa persistência.”22 É esta

corren-te, essa insistência, que nos leva a compreender o Eu como sendo o sujeito do inconsciente. Mas porque é necessário esse eterno retorno? É certo que Freud nos mostrou que o Eu é resultado sólido da soma de identificações. Mas também foi ele quem colocou que o Eu do inconsciente se apresenta na “outra cena”, alhures, para além do sujeito, ou melhor, na intersecção das representações.

Assim, se o ser fosse apenas o que é, não se poderia falar dele en-quanto sujeito do inconsciente. O ser, então, se põe a existir em função da falta, mas de que falta se fala? Creio que a falta é justamente a da determina-ção do ser. Lacan aponta que “nesta falta de ser, ele se dá conta de que o ser lhe falta, e que o ser está ai, em todas as coisas que não sabem que são.”23

Não se trata, portanto, apenas da falta no ser, mas da falta de ser, de deter-minação estática que leve o Eu a dizer o que ele realmente é, assim como fez Descartes com o “Eu pensante”, ou Kant com o “Eu transcendental”. O sujeito da psicanálise, o sujeito do- inconsciente, então só pode ser encon-trado no seu devir.

7. EXPERIÊNCIAS DA PULSÃO: Ao falarmos sobre a noção de expe-riência na filosofia de Hegel, colocamos que a consciência, agindo com um fim (telos) deve passar por um percurso, realizado através da dinâmica da “suspensão”. Também encontramos uma meta no percurso da pulsão. Este fim pulsional, como o da consciência (o Saber Absoluto), é um retorno ao início. O alvo (Ziel) da pulsão, no diz Lacan, “não é outra coisa senão esse retorno em circuito.”24 Só que, para ela alcançar esse fim, deve suspender

(conservar, negar e elevar) as fases anteriores. A “imediatez” do narcisismo

22 LACAN, 1955/1985, pg. 108. 23 LACAN, 1955/1985, pg. 281. 24 LACAN, 1964/1985, pg. 170.

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deve ser suspensa pela formação de um objeto, presença de um vazio e de um furo, perdido. Já percebemos, então, uma simples “mediação”, e uma conseqüente “reflexão auto-erótica”, ou, para Hegel, num simples ser-para-si. Este, por sua vez, é suspenso ao Ser-retornado, terceiro tempo da pulsão, onde se dá a construção do sujeito do inconsciente que já alcançou a dimen-são do Outro. Podemos, inclusive, situar o autismo, como uma falha nesta primeira negação (da imediatez para a mediação simples), no qual o proces-so de alienação (Entfremdung) não fora bem fundamentado, enquanto que a paranóia pode ser resultada da falha na segunda negação – terceiro momen-to do circuimomen-to da pulsão –, no qual é a separação (Äusserung) que não fora fundamentada.

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