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CURSO CARREIRAS JURÍDICAS DATA 05/08/2016 DISCIPLINA DIREITO PENAL TEORIA DA NORMA PROFESSOR ALEXANDRE CARVALHO MONITOR UYARA VAZ.

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CURSO – CARREIRAS JURÍDICAS

DATA – 05/08/2016

DISCIPLINA – DIREITO PENAL – TEORIA DA NORMA PROFESSOR – ALEXANDRE CARVALHO

MONITOR – UYARA VAZ AULA 03 de 03

Ementa:

 Lei penal no espaço;  Prazo penal;

 Concurso aparente de normas penais.

2. LEI PENAL NO ESPAÇO

Princípios que regem a aplicação da lei penal no espaço

1. Territorialidade: por este princípio, a lei penal de um país deve ser aplicada a todo crime cometido no seu território. Nada mais é do que a manifestação da soberania do país sobre o território dele. O país, sendo qualquer deles, tem soberania sobre o seu território e o referido princípio expressa essa soberania.

O CP adotou o princípio da territorialidade em seu art. 5º. Contudo, adotamos esse princípio de forma mitigada, vez que, apesar de nossa lei dizer que se aplica a lei brasileira ao crime cometido no território nacional, há uma exceção, qual seja, “sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional”.

O princípio da territorialidade é excepcionado através das chamadas imunidades diplomáticas. O Brasil subscreveu a Convenção de Viena, na Áustria, sobre relações

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Página 2 de 14 diplomáticas. Por esta convenção os membros do corpo diplomático que atuam no Brasil têm imunidade penal. Ou seja, um embaixador da Argentina no Brasil não poderá ser atingido pela lei penal brasileira, pois há uma imunidade penal diplomática. O membro da missão diplomática que tem a imunidade penal no Brasil, se cometer um crime, não poderá responder pela lei penal brasileira. Também não poderá ser presa em flagrante delito, preventivamente. Poderá haver instauração de inquérito, mas não haverá nenhuma consequência deste inquérito sobre a pessoa, não sendo possível haver processo penal. Logo, tanto o CP quanto o CPP não poderão ser aplicados a este membro da missão diplomática que cometeu o crime.

Para que haja a imunidade penal de um embaixador da França no Brasil, por exemplo, exige-se reciprocidade. Ou seja, se o embaixador francês cometeu um crime no território brasileiro, o Brasil irá pedir à França que o puna pelo crime, nos termos da lei francesa. Se a França assim não agir, o Brasil poderá cortar as relações diplomáticas. Logo, a imunidade penal não gera impunidade.

A natureza jurídica dessa imunidade material dos membros de uma missão diplomática, segundo a maioria da doutrina, é uma causa de extinção da punibilidade e não uma causa de atipicidade ou excludente de ilicitude. A imunidade diplomática afeta a punibilidade, deixando intacto o crime. O fato será típico, antijurídico e culpável, não sendo punível pela lei penal do país em que o fato foi praticado.

Os familiares do diplomata também têm a mesma imunidade dele, desde que não sejam nacionais do país onde se cumpre a missão diplomática. Ex.: Um diplomata francês casou-se com uma brasileira e cumpre missão diplomática no Brasil. A esposa brasileira não terá imunidade.

Em caso de dupla nacionalidade, como por exemplo, um embaixador inglês casou-se com uma brasileira e tiveram filhos, que são ingleses e brasileiros. Eles não serão alcançados pela imunidade diplomática do pai, pois se uma das nacionalidades for a do país em que a missão exerce a sua atribuição, não haverá a imunidade para aqueles familiares.

Os cônsules não têm a mesma imunidade material que os diplomatas possuem. Os cônsules têm algumas prerrogativas, como, por exemplo, imunidade penal em relação aos crimes cometidos no exercício da função de cônsules. Os cônsules possuem prerrogativas processuais, por exemplo, só podem ser presos em flagrante delito se cometerem crimes graves. A Convenção de Viena diz que crime grave tem pena máxima

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Página 3 de 14 maior que 04 anos. Somete neste tipo de crime é que um cônsul poderá ser preso em flagrante delito. Ademais, os cônsules contam com outras prerrogativas processuais como os promotores, magistrados e advogados, tal como interrogatório em dia, horário e local marcados por eles.

Pelo princípio da territorialidade, a lei penal de um país aplica-se aos crimes praticados em seu território. O que se entende por território? Há duas acepções de território:

1. Território geográfico ou natural: é aquele espaço de terra, água e aéreo em que um país está localizado. Contudo, segundo a doutrina majoritária, a acepção de território não pode ficar restrita à ideia de território natural, surgindo a acepção seguinte.

2. Território jurídico: é aquele espaço também de terra, água e aéreo em que um país exerce soberania jurídica. Esse é um conceito melhor que o conceito de território natural. Ex.: Ilhas Maldivas é território da Inglaterra; Aruba é território Holandês.

Os §§ do art. 5º trazem hipóteses de extensão do território brasileiro:

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

 É território brasileiro por extensão qualquer aeronave ou embarcação de natureza pública. Assim, se uma aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira) estiver voando sobre territórios de outros países, será considerada território brasileiro. Da mesma forma ocorrerá com as embarcações, vez que onde estiverem serão território brasileiro.

 São território nacional as aeronaves e embarcações a serviço do governo brasileiro. São aeronaves ou embarcações privadas, mas contratadas pelo governo brasileiro para estarem a serviço seu.

 Também serão considerados territórios brasileiros por extensão as embarcações e aeronaves mercantes ou de propriedade privada de bandeira brasileira, se a embarcação estiver em alto-mar e a aeronave em espaço aéreo correspondente ao alto-mar. Isso pelo fato de o alto-mar ser território de ninguém, onde ninguém exerce soberania jurídica, bem

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Página 4 de 14 como o espaço aéreo correspondente ao alto-mar. Ressalta-se que se houver somente parte da embarcação flutuando, terá a mesma natureza jurídica da embarcação no todo, sendo território brasileiro.

Há muitos outros espaços no mundo em que país algum exerce soberania jurídica, como a Antártida. Lá existem bases científicas exploratórias de alguns países. Assim, indaga-se: se um navio de propriedade privada estrangeiro estiver navegando pelas águas da Antártida e dentro dele for cometido um crime, pode-se dizer que será aplicada a lei penal brasileira, com base no § 1º, art. 5º? Existem autores que dizem que sim, podendo fazer uma interpretação extensiva. Outros autores e pelo entendimento do Prof. Alexandre não se pode aplicar a lei penal brasileira pelo princípio territorialidade, pois a hipótese não seria de interpretação extensiva, mas de analogia in malam partem, o que não é admitido na lei penal.

No que tange ao § 2º, art. 5º, CP, se entender que só existe território brasileiro por extensão na hipótese de embarcações e aeronaves privadas em alto-mar e em espaço aéreo correspondente ao alto-mar, significa dizer que também se entenderá que às embarcações e aeronaves brasileiras em território estrangeiro não poderá se aplicar a lei penal brasileira pelo princípio da territorialidade. Se assim o for, como é, também se deve compreender que as embarcações e aeronaves de bandeira estrangeira que estiverem em nosso território devem ser consideradas como território brasileiro. Ex.: Navio privado de bandeira italiana no Brasil, em porto ou navegando, é considerado território brasileiro. As embaixadas/consulados são consideradas, para efeitos penais, território dos países que as mandam para o Brasil? Não, vez que são territórios brasileiros para efeitos penais, sejam que de países forem. Ex.: Jardineiro brasileiro que trabalha na embaixada da China no Brasil, mata, dentro da embaixada, um eletricista brasileiro que está prestando serviços para a embaixada. A lei penal brasileira será aplicada a este homicídio, pois a embaixada será considerada território brasileiro.

Tanto a embaixada quanto o consulado têm inviolabilidade e não podem ser adentrados sem autorização dos chefes das missões diplomáticas e consulares. Além da inviolabilidade das embaixadas e consulados, as malas e os veículos consulares e da embaixada também são invioláveis.

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Página 5 de 14 Princípios que admitem a extraterritorialidade das leis penais

1. Princípio da defesa (também chamado de princípio da proteção, real ou da tutela): esse princípio diz que a lei penal de um país pode ser aplicada a crime cometido em território estrangeiro se o bem jurídico lesionado pelo delito for de interesse do país. O que vale para aplicar a lei penal do país X em território do país Y é se a proteção ao bem jurídico afetado pelo crime interessar ao país X. O Brasil adota esse princípio do art. 7º do CP.

Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: I - os crimes:

a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;

c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;

d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;

II - os crimes:

a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; b) praticados por brasileiro;

c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.

§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:

a) entrar o agente no território nacional;

b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;

c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;

d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar

extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

b) houve requisição do Ministro da Justiça.

No que tange ao inciso I, alínea a, não se pode fazer uma interpretação extensiva para o Vice Presidente da República. Ainda, não se engloba neste inciso a honra do Presidente da República.

2. Princípio da nacionalidade ou da personalidade: esse princípio será dividido em duas espécies – nacionalidade ativa e nacionalidade passiva.

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Página 6 de 14 Pelo princípio da nacionalidade ativa, aplica-se a lei penal de um país a crime cometido no território estrangeiro por um nacional. O que vale é a nacionalidade do autor do crime. Esse princípio é adotado pelo art. 7º, I, d; II, b, CP.

Já pelo princípio da nacionalidade passiva, aplica-se a lei penal de um país a crime cometido em território estrangeiro contra um nacional do país. Logo, o critério aqui é que a vítima seja nacional do país para permitir a aplicação da sua lei penal. O art. 7º, § 3º adota esse princípio.

3. Princípio da justiça penal universal (princípio da universalidade ou cosmopolita): por este princípio, aplica-se a lei penal de um país a crime cometido em território estrangeiro em razão da natureza do delito. Há crimes que devem ser punidos por qualquer legislação, independentemente de onde tenham sido cometidos, de quem foram os autores, de quem são as vítimas. Isso pelo fato de serem crimes que, de uma forma bem coloquial, agridem qualquer tecido social do mundo; são crimes que lesam a humanidade como um todo. Ex.: Tráfico internacional de drogas; genocídio; tráfico de pessoas; tráfico de órgãos humanos; terrorismo; tortura. O CP adota esse princípio no art. 7º, I, d e II, a, CP.

4. Princípio da representação (princípio da bandeira ou pavilhão): aplica-se a lei penal de um país a crime cometido no interior de aeronave ou embarcação mercante ou de propriedade privada, de bandeira do país, que se encontre em território estrangeiro e ali o delito não tenha sido punido. É adotado no art. 7º, II, c, CP.

Ex.: Navio mercante de bandeira brasileira, que saia do porto de Santos/SP e a tripulação é predominantemente brasileira, mas há argentinos e uruguaios. Esse navio está ancorado no porto de Valparaiso no Chile. Nesse momento, dois brasileiros estão jogando pocker com um argentino e um uruguaio. Durante o jogo há um desentendimento entre o argentino e uruguaio, sendo certo que este último esfaqueia e mata o argentino. O comandante do navio brasileiro prende em flagrante o uruguaio e comunica às autoridades chilenas de terra sobre essa prisão e seu crime cometido contra o argentino. Imagina-se que os chilenos disserem que não têm nada com isso, pois não há punição para o referido homicídio no Chile. Se não fosse por esse princípio, o crime, pela lei penal brasileira, ficaria impune. Contudo, pelo princípio da representação pode-se aplicar a lei penal brasileira. O comandante do navio deverá manter preso o uruguaio, voltar para o Brasil e, no primeiro porto em que parar, chamar as autoridades de terra e entregar o

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Página 7 de 14 uruguaio preso à elas. Na comarca do referido porto é que haverá o processamento e julgamento do crime de homicídio, vez que o CPP dispõe que será competente para o processamento e julgamento do crime o primeiro porto em que houver a notícia do crime e a entrega do agente às autoridades.

Extraterritorialidade da lei penal brasileira Poderá ser incondicionada ou condicionada:

 Extraterritorialidade incondicionada: é aquela hipótese em que a lei penal brasileira poderá ser aplicada a crime cometido em território estrangeiro sem que se exija a presença de qualquer condição. Ex.: Todas as hipóteses do art. 7º, I, a, b, c e d, conforme dispõe o § 1º do art. 7º. Ora, quer dizer que se uma pessoa cometer o crime contra o patrimônio da União em país estrangeiro e for condenada pela lei penal do país que cometeu o crime, ainda assim ela pode ser processada, julgada e condenada pela lei penal brasileira? Sim. Ainda que tiver sido absolvida no estrangeiro poderá ser processada e condenada no Brasil. Ademais, se cumprir pena no estrangeiro, ainda assim poderá cumprir pena no Brasil, sem configurar bis in idem? Para mitigar esse bis in idem, tem-se a norma do art. 8º, CP, que reduz, de alguma forma, o bis in idem gerado pelo art. 7º, I, a, b, c e d e § 1º, CP.

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

Portanto, significa que se a pena cumprida no estrangeiro for diversa da pena imposta no Brasil, haverá uma atenuação. De outro modo, se a pena cumprida no estrangeiro for idêntica à pena imposta no Brasil, haverá um cômputo, ou seja, a pena cumprida no estrangeiro será computada à pena imposta no Brasil.

Ex.: Imagine um rapaz brasileiro de família carente que estudou apenas o ensino fundamental e deseja ganhar a vida fora do Brasil, pois entende que aqui não tem maiores condições de viver uma vida digna. Esse rapaz vai para a Europa, Itália. Vai para Roma, cidade turística, onde emprego, presumivelmente, é mais fácil. Contudo, esse rapaz não obtém emprego. Seu dinheiro acaba e passa a morar nas ruas, indo à embaixada brasileira tentar ajuda, mas não obtém. Nas ruas de Roma, um romano diz que ele não sobreviverá muito tempo na rua, pois será deportado ao Brasil. Ainda, fala para esse rapaz subtrair uma obra de arte da embaixada brasileira. Esse rapaz, munido de uma chave de fenda, vai à embaixada na parte

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Página 8 de 14 da noite e subtrai uma obra de arte, sendo abordado pelo vigia da embaixada que era italiano. O rapaz mata o vigia. Há um latrocínio contra o patrimônio da União em que a vítima do crime meio (morte) foi um italiano. O rapaz é descoberto, preso e processado pela justiça italiana. Ao mesmo tempo, no Brasil inicia-se um processo contra ele. Supunha-se que o Brasil peça sua extradição e a Itália negue, pois apesar de ser crime contra o patrimônio da União, ofendeu a vida de um italiano e a Itália quer processá-lo. Na Itália foi condenado à prisão perpétua e no Brasil a uma pena de 23 anos de reclusão.

Em todos os estados dos países que preveem a prisão perpétua, admite-se o livramento condicional após cumprir uma quantidade razoável de pena. Se descumprir as condições do livramento sem justa causa a pessoa volta para a prisão, sem poder obter livramento condicional novamente, ficando na prisão até morrer.

O rapaz brasileiro do exemplo acima ficou preso por 25 anos na Itália e obteve livramento condicional. Enquanto cumpria pena na Itália, a prescrição não correu no Brasil. O rapaz volta para o Brasil e é preso para cumprir a pena do latrocínio. Deste modo, indaga-se: a pena de 25 anos que cumpriu na Itália vai atenuar os 23 anos no Brasil ou será computada na pena do Brasil? A pena na Itália foi prisão perpétua e no Brasil reclusão. Se fizesse uma análise apenas literal, essas penas seriam diversas, devendo a pena da Itália apenas atenuar os 23 anos de pena impostos pela lei do Brasil.

Todavia, essa questão não é assim analisada – para verificar se as penas são idênticas, não se analisa a qualidade das penas em espécie, pois de fato são distintas. O que se examina é a qualidade das penas em gênero, as tornando idênticas, pois ambas são privativas da liberdade.

Portanto, o sujeito teria que ser solto no Brasil, proferindo uma decisão de extinção da punibilidade, pois a pena cumprida na Itália (25 anos) teria que ser computada na pena imposta no Brasil (23 anos).

Obs.: Se no estrangeiro a pessoa receber uma pena pecuniária e no Brasil uma pena privativa de liberdade, as penas são diversas, devendo haver uma atenuação.

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Página 9 de 14 Esta atenuação ficará a cargo do juiz, pois não há fração certa para tanto. Deverá ser feita com base em proporcionalidade e razoabilidade.

 Extraterritorialidade condicionada: suas hipóteses estão previstas no art. 7º, II e § 3º, CP. As condições exigidas estão no § 2º, art. 7º.

Têm-se duas espécies de condições:

 Condição de procedibilidade: é aquela sem a qual o processo penal não pode ser instaurado. Ex.: Representação nos crimes que a exigem.

 Condições objetivas de punibilidade: são aquelas que não integram o tipo penal. Portanto, não são abrangidas pelo dolo do agente, mas são necessárias para que o agente seja punido. Sem a presença desta condição, o autor do crime não poderá ser punido. Ex.: Crimes falimentares – a condição objetiva de punibilidade é a sentença que declara a falência. Sem ela não se pode punir o autor do crime. O crime falimentar existe mesmo antes da sentença, sendo este um fato real. Porém, se não houver a sentença que declara a falência não será possível punir.

A doutrina fala que ausente a condição de procedibilidade, a ação penal não poderá ser instaurada, o que é pacífico. Contudo, a doutrina entende que ausente a condição objetiva de punibilidade, a ação penal poderá ser instaurada, mas não admite a sentença condenatória ao final. Prof. Alexandre e outros doutrinadores entendem que ausente a condição objetiva de punibilidade também não poderá ser instaurada a ação penal, pois na denúncia, o MP vai narrar um fato criminoso e pedir uma condenação. Contudo, como será possível pedir uma condenação sem a presença da condição objetiva que é necessária para a punição? Seria admitir uma denúncia suicida, ou seja, o MP iria narrar um fato criminoso e iria pedir uma condenação impossível, pois não há a presença da condição objetiva de punibilidade.

Obs.: Sentença suicida é aquela em que a fundamentação não gera a procedência do pedido como foi julgado.

A primeira condição prevista pelo § 2º é a alínea a - “entrar o agente no território nacional”. O verbo entrar tem um sentido maior do que algo provisório. Aqui, o entrar tem um sentido de entrar com intuito de permanecer. Ex.: Crime de roubo praticado por um estrangeiro contra um brasileiro na Turquia. Se o estrangeiro não for trazido para o Brasil,

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Página 10 de 14 a eficácia da aplicação da lei penal brasileira seria zero. Para a maioria seria uma condição de procedibilidade da ação penal, enquanto que as demais seriam condições objetivas de punibilidade.

A alínea b determina “ser o fato punível também no país em que foi praticado”. Ex.: Brasileiro pratica fato que no Brasil seria estelionato, mas no estrangeiro é mero ilícito civil. Assim, não poderá ser condenado no Brasil por estelionato.

Obs.: A lei das contravenções penais no Brasil não possui extraterritorialidade. Assim, contravenção penal só poderá ser punida se praticada no Brasil. Contudo, se o fato for crime no Brasil, no estrangeiro não interessa o nome que se dê a ele, pois será punido no Brasil ainda que no estrangeiro seja tido como contravenção penal.

A alínea c prevê “estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição”. No Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80), art. 77, existe um rol dos crimes em relação aos quais a lei brasileira autoriza a extradição do estrangeiro que cometeu o crime. Para a extraterritorialidade da lei brasileira é preciso que o crime esteja nesse rol.

No que tange à alínea d, prevê “não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena”. Diferentemente da extraterritorialidade incondicionada, nas hipóteses de extraterritorialidade condicionada, se a pessoa for absolvida no estrangeiro não há mais como puni-la no Brasil. Ainda, se cumpriu pena no estrangeiro também não poderá ser processada, condenada e ter a pena executada no Brasil.

Por fim, a alínea e dispõe “não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável”. Só se instaura a ação penal se na lei estrangeira e na lei brasileira não houver nenhuma causa que extinga a punibilidade do autor do fato criminoso, pois se tiver a ação penal não poderá ser instaurada.

Resta a análise do § 3º do art. 7º, dispondo que:

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior: a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

b) houve requisição do Ministro da Justiça.

As cinco condições dispostas no § 2º devem estar presentes, incluindo as condições previstas no § 3º, quais sejam:

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Página 11 de 14  “Não foi pedida ou foi negada a extradição”: se o país estrangeiro pedir a

extradição e a pessoa for extraditada não há sentido de condená-la no Brasil.  “Houve requisição do Ministro da Justiça”.

Essas duas condições do § 3º são entendidas como condições de procedibilidade.

Lugar do crime

O exame do lugar do crime importa para saber se poderá aplicar a lei penal brasileira pelo princípio da territorialidade.

Com relação ao lugar do crime têm-se três teorias que a doutrina formulou:

1) Teoria da ação ou atividade: diz que o lugar do crime é aquele em que a ação ou a omissão ocorreu, no todo ou em parte. Essa teoria não é adotada de modo exclusivo.

2) Teoria do resultado/efeito ou evento: diz que lugar do crime é aquele em que o resultado se produziu ou deveria ter se produzido. Essa teoria também não foi adotada de modo exclusivo.

3) Teoria mista ou da ubiquidade: é a adotada pelo CP. Essa teoria mistura as duas teorias anteriores. O art. 6º do CP diz que adotamos a referida teoria - considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

Ex.: Antônio está em BH e quer matar José que está em Contagem, Antônio manda para José, de BH, uma correspondência que tem veneno. José se contamina e morre. Ação em BH e resultado produzido em Contagem. Qual a comarca competente para processar e julgar o crime? O art. 6º não se aplica para resolver problema de competência em crimes plurilocais (aquele que tem ação ocorrida em uma comarca e o resultado produzido em outra). Neste caso, usam-se as regras do CPP, arts. 69 e 70. A primeira regra de competência dispõe que a comarca competente será o lugar da infração, sendo o lugar onde o resultado de produziu. Portanto, a princípio, o lugar da infração seria Contagem, sendo esta a comarca competente para processar e julgar o referido crime. A

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Página 12 de 14 jurisprudência firmou posição de que em crimes plurilocais, para se determinar a competência, será necessário saber onde está a maioria dos elementos probatórios.

O art. 6º serve para resolver se o Brasil é o lugar do crime, se a lei penal brasileira será aplicada, com base no princípio da territorialidade, nos crimes à distância, ou seja, aquele que toca territórios de dois ou mais países. Ex.: Um brasileiro está no lado brasileiro da Ponte da Amizade entre Brasil e Paraguai e o paraguaio está do lado do Paraguai. Eles se desentendem e o paraguaio pega um revolver e atira no brasileiro. Perceba que atira do Paraguai e o brasileiro morre no Brasil. A lei brasileira poderá ser aplicada neste caso, pois adotamos a teoria mista.

Questões importantes

1. No crime permanente, quando parte do crime se der em território brasileiro, pode-se aplicar a lei penal brasileira, com base no art. 6º, pelo princípio da territorialidade. O mesmo ocorre no crime continuado. Entretanto, há um entendimento que é minoritário, no sentido de que não caberá a continuidade delitiva quando os crimes componentes dela forem praticados em países diferentes.

2. No crime habitual aplica-se a mesma regra – se parte do crime de curandeirismo for praticado no Brasil e outras partes no estrangeiro, a lei penal brasileira poderá ser aplicada.

3. Conexão entre crimes não leva à aplicação da lei penal brasileira apenas pela existência da conexão a crimes que não tocaram o território nacional.

3. PRAZO PENAL

O art. 10 do CP é o dispositivo que disciplina o tema do prazo penal.

Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.

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Página 13 de 14 O prazo penal é exatamente contado ao contrário do prazo do processo penal. Neste, não se conta o primeiro dia (dies a quo), contando-se o último dia. No prazo penal ocorre exatamente o contrário, haja vista que conta-se o primeiro dia e exclui-se o último.

O calendário comum é o chamado calendário gregoriano, que é este pelo qual janeiro tem 31 dias, fevereiro terá 28 ou 29 a depender do ano bissexto e assim por diante. O ano, portanto, terá 365 ou 366 dias.

Ex.: É possível que duas pessoas sejam punidas tendo praticado o mesmo crime. É possível que se um foi preso no dia 01/01, cumprirá 31 dias, e o outro, preso em 01/02, cumprirá 28 dias. Não há irregularidade, pois a questão toda foi o dia do início da prisão.

Quais são os prazos penais? São os prazos dos institutos penais por excelência (prescrição de 04 anos – ex.: 05/08/2016 até 04/08/2020).

No prazo penal não se leva em conta as frações de dia, que são as horas, nem a fração das horas, que são os minutos. Ex.: Cometeu crime dia 05/08/2016, às 23 horas e 59 minutos. O dia 05/08/2016 é contado na sua inteireza, prescrevendo os 04 anos em 04/08/2020, sendo este dia contado até as 24 horas.

O prazo de decadência também é um prazo penal.

A contagem do prazo no inquérito policial é processual penal se o investigado estiver solto, mas será penal se o acusado estiver preso.

Existem institutos de natureza mista (institutos penais e processuais penais) que têm prazo para ser contado, como a perempção (art. 60, CPP c/c art. 107, IV, CP). Será a contagem mais favorável ao acusado, ou seja, a do CP – conta-se o primeiro dia e exclui-se o último dia.

4. CONCURSO APARENTE DE NORMAS PENAIS

Existe o chamado concurso de crimes, em que o sujeito pode cometer dois ou mais crimes, praticando uma só ação ou duas ou mais ações. Nesses casos poderá ser o concurso formal do art. 70, CP, concurso material do art. 69, CP, ou ainda crime continuado do art. 71.

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Página 14 de 14 Entretanto, há hipóteses em que a pessoa pratica uma conduta e, aparentemente, essa conduta se amolda a mais de um tipo penal. Na verdade, cometeu um único crime, devendo os demais ser afastados. Para resolver esses casos existem princípios desenvolvidos pela doutrina – especialidade; subsidiariedade; consunção/absorção e alternatividade.

1. Princípio da especialidade: uma norma é especial em relação à outra geral quando contém todos os elementos desta e mais alguns que a tornam especial.

Ex.1: Homicídio – matar alguém. É uma norma geral, mas no infanticídio têm-se as elementares do homicídio e elementares que especializam esse crime em relação ao homicídio. O sujeito ativo será a mãe em estado puerperal, o sujeito passivo será o próprio filho e há circunstância de tempo, pois a mãe tem que matar o próprio filho durante o parto ou logo após, sob influência do estado puerperal. Logo, o infanticídio é norma especial em relação ao homicídio.

Ex.2: O tráfico de drogas ilícitas é norma especial em relação ao contrabando. No tráfico há as mesmas elementares do contrabando e mais algumas, que o tornam especial em relação ao contrabando.

Referências

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