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SETOR EQÜINO MOVIMENTA R$ 7,3 BILHÕES POR ANO

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Academic year: 2021

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SETOR EQÜINO MOVIMENTA R$ 7,3 BILHÕES POR ANO

Pio Guerra1, Sidney Almeida Filgueira de Medeiros2

A importância dos eqüinos para o desenvolvimento do Brasil pode ser observada desde os tempos do Brasil-Colônia, quando da contribuição do cavalo em todos os ciclos extrativistas, agrícolas e de mineração. Paralelamente, participou das incursões do homem no interior do território brasileiro e serviu como aparato armamentista para as Forças Armadas. Como meio de locomoção sempre mereceu destaque especial, já que o século XXI é o primeiro da história em que o cavalo não é o principal meio de transporte do homem. Hoje, o uso do cavalo está associado a atividades rurais e urbanas, de trabalho, esporte ou lazer.

O Brasil possui atualmente o terceiro maior rebanho de eqüinos do mundo, com 5,9 milhões de animais, superado apenas pela China e pelo México, que têm 7,9 milhões e 6,3 milhões de cabeças, respectivamente. Da tropa nacional, cinco milhões de animais são utilizados para lida nas propriedades rurais, principalmente do gado bovino. Os 900 mil cavalos restantes, com maior valor agregado devido a usos mais nobres, são agrupados em 23 associações de criadores das mais diferentes raças. Na região sudeste encontra -se 26,6% do rebanho eqüino brasileiro, onde o Estado de Minas Gerais possui especial destaque. Com um plantel de 860 mil animais, esse Estado possui o maior rebanho, seguido de Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Diferentemente da estrutura tradicional das cadeias produtivas, o agronegócio cavalo está caracterizado por duas peculiaridades que o distingue da maioria dos setores da agropecuária. A primeira delas diz respeito a elos que exercem papéis duplos no setor eqüino. Uma escola de equitação, por exemplo, representa o consumidor final na cadeia produtiva do cavalo vivo, mas também

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engenheiro-agrônomo, produtor rural, vice-presidente executivo da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA, presidente da Comissão Nacional do Cavalo da CNA.

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2 pode ser o elo anterior ao do frigorífico na cadeia produtiva da carne eqüina. O segundo fator está ligado à quase total inexistência de transformação agroindustrial do produto cavalo, ou seja, na maioria das vezes o cavalo produzido na fazenda está pronto para o “consumo” final. Excetuando-se os animais destinados à produção de carne, que ocorre ocasionalmente no agronegócio cavalo, não existe uma transformação física dos animais, acontecendo apenas a transferência de posse do animal vivo entre os diversos segmentos que compõem o setor. Essa característica faz com que segmentos ligados à área de insumos permeiem por diversos outros elos que fazem uso do cavalo. O segmento de rações, por exemplo, não só fornece para o produtor de cavalos, mas também para o treinador dos animais e em seguida para quem os adquirir como usuário, seja para esporte, trabalho ou lazer. É esse emaranhado de cadeias entrelaçadas que faz com que o setor eqüino seja conceituado como um complexo, aqui denominado de complexo do agronegócio cavalo. O estudo desse complexo, encomendado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – Esalq/USP, buscou mensurar dados sócio-econômicos do setor, além de fornecer informações sobre os principais entraves inerentes a cada segmento que o compõe.

Dentre as várias dezenas de componentes mapeados, 25 puderam ser quantificados e classificados de acordo com a função dentro do complexo. As

atividades antes da porteira englobam os agentes que fornecem insumos,

produtos e serviços necessários à criação e ao uso de cavalos. As atividades

dentro da porteira representam os agentes que utilizam o cavalo diretamente em

suas atividades. As atividades fora da porteira são compostas pelos agentes que encerram o ciclo do cavalo. Por fim, das atividades de apoio participam os agentes que contribuem ao adequado desempenho do complexo, atuando ao longo de toda a sua estrutura. Devido ao pioneirismo do estudo e à insuficiência de dados primários, a avaliação econômica foi medida acumulando-se o produto gerado nas diversas atividades (valor bruto da produção).

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Os sete segmentos mapeados que compõem as atividades antes da

porteira movimentaram, em 2005, mais de R$ 523 milhões, gerando 14.785

empregos diretos. O estudo do segmento de selaria e acessórios mostra que 100% das selarias do país são micro e pequenas empresas e que 70% do valor de cada sela produzida diz respeito à mão-de-obra. O segmento movimenta R$ 174,6 milhões por ano e emprega diretamente 12 mil pessoas. O segmento de casqueamento e ferrageamento também apresenta forte caráter social, já que 60% do custo de ferrageamento é composto pelo uso de mão-de-obra. Esse segmento movimenta R$ 143,6 milhões ao ano e gera 2.100 empregos diretos. A elevada importância dos segmentos de casqueamento e de selaria na geração de mão-de-obra já é bastante explorada em outros países, como China e Índia, que têm se empenhado bastante para aproveitar o apelo social inserido nesses setores.

Com relação aos segmentos de medicamentos veterinários e de rações, que movimentam, juntos, R$ 107,5 milhões, o estudo mostra a existência de grande potencial de crescimento, pois se estima que apenas 360 mil animais consomem ração industrializada e 250 mil animais utilizam medicamentos veterinários. Além disso, muitos produtos veterinários utilizados em eqüinos são registrados e, conseqüentemente, contabilizados para bovinos, acarretando um subdimensionamento dos números.

Outro segmento de bastante rele vância é o de educação e pesquisa. De acordo com o estudo, existem 270 cursos de graduação e 68 programas de pós-graduação relacionados à eqüinocultura, além de 34 grupos de pesquisa envolvendo mais de 650 pessoas. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR, vinculado à CNA, possui grande destaque nesse segmento, tendo realizado em 2005 mais de 1.100 cursos para 17.400 pessoas. Ainda compõem as

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4 atividades antes da porteira os segmentos de transporte e de mídia, que somados faturaram R$ 96,4 milhões.

Nas atividades dentro da porteira foram analisados 12 segmentos, dentre os quais o de lida merece especial atenção. Tal atividade movimenta aproximadamente R$ 4 bilhões por ano e gera mais de 500 mil empregos diretos nas propriedades rurais, 85,26% deles formais. Esse segmento está representado por cinco milhões de animais ou 85% do rebanho nacional. Tais números são importantes o suficiente para desmistificar a idéia de que a criação e o uso do cavalo estão ligados apenas a uma elite distante da realidade brasileira.

Outro elo bastante significativo, chamado de segmento consumidor, engloba agentes que produzem animais para três diferentes finalidades: comerciais, para vender produtos; profissionais, para prestar serviços a terceiros; e particulares, para uso próprio. Tal segmento movimentou mais de R$ 1,65 bilhão em 2005, ocupando diretamente a mão-de-obra de 91,4 mil pessoas. A partir desses agentes são produzidos os animais que farão parte de todos os outros segmentos das atividades dentro da porteira, a exceção da lida. São nesses segmentos que estão representados o uso militar, o turismo eqüestre, os jockey clubes, as exposições e eventos, as escolas de equitação, a equoterapia, os esportes hípicos e outras modalidades de esporte, como o pólo, o trote e a vaquejada (só ela movimentou R$ 164 milhões em 2005). Todos os atores que compõem as atividades dentro da porteira movimentaram R$ 6,6 bilhões em 2005, ofertando cerca de 625 mil empregos diretos.

Já nos quatro segmentos classificados como fora da porteira, 1.360 empregos foram ocupados em 2005, movimentando R$ 123 milhões. Números relevantes ficam por conta do segmento de carne eqüina, cujas exportações saíram de R$ 11,7 milhões em 1990 para R$ 80 milhões no ano passado. Ao se comparar o comércio internacional de carne eqüina com a exportação de outros

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5 produtos do agronegócio brasileiro, verifica-se que em 2005 o segmento faturou mais do que banana, bovinos vivos, mamão, flores e plantas, mel de abelha, trigo e cachaça. De acordo com o estudo, o Brasil é o quinto maior exportador do produto, possuindo sete frigoríficos habilitados para este tipo de abate e a inauguração de um oitavo prevista para 2007. A exportação de animais vivos também apresentou um aumento significativo, saltando de US$ 260 mil em 1996, quando foram exportados 139 animais, para US$ 2 milhões em 2005, resultado da exportação de 861 cavalos. O segmento de leilões também apresentou forte expansão nos últimos anos. Entre 1995 e 2004, o número de remates aumentou 103%, subindo de 133 para 270 leilões por ano; o número de animais, embriões e coberturas leiloados somou 10.374, em 2004, registrando crescimento de 123% no período; o volume financeiro apurado aumentou 430% (R$ 111,4 milhões em 2004) e o valor médio dos negócios subiu 138% (R$ 11.500,43 em 2004, contra R$ 4.827,23 em 1995). O segmento de curtume apresentou um faturamento de R$ 15 milhões em 2005. Aparecem ainda como atividades de apoio ao agronegócio cavalo, os serviços de medicina veterinária, as seguradoras de animais e as instituições financeiras.

Os 25 segmentos avaliados somaram em 2005 um faturamento da ordem de R$ 7,3 bilhões, gerando 641 mil empregos diretos, seis vezes mais do que a indústria automotiva e 20 vezes mais do que a aviação civil, outros importantes setores da economia brasileira. Somando-se as ocupações diretas e indiretas, o agronegócio cavalo gera 3,2 milhões de postos de trabalho.

As informações até então inéditas agrupadas pelo Estudo do Complexo do Agronegócio Cavalo consolidam a imagem de um setor de expressão econômica e social, ao lado de complexos já conhecidos, como o da soja e o da carne. Ao mesmo tempo, identificam uma série de atores públicos e privados a serem mobilizados e articulados. A partir dos vários entraves mapeados, propostas podem ser priorizadas para que se possibilite um melhor direcionamento de ações

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6 estratégicas em favor da eqüinocultura brasileira, visando a melhoria da eficiência sistêmica ao longo de todo o complexo e facilitando o estabelecimento políticas públicas setoriais.

No ambiente organizacional, a recente estruturação política do setor no âmbito da Comissão Nacional do Cavalo da CNA e da Câmara Setorial de Eqüideocultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA já vem proporcionando o alcance de resultados positivos, como a construção de um terminal para transporte aéreo de animais vivos, a desburocratização na exportação de animais, o diálogo para a revitalização dos jockey clubes e a mobilização em torno de um plano eficiente de sanidade eqüina e de controle de resíduos da carne.

Como não se tinha um conjunto de políticas públicas consolidado para o setor, qualquer ação do governo voltada para a eqüinocultura será de grande valia para o seu desenvolvimento. Cabe destacar ainda o potencial de expansão dessa atividade, visto que ainda existem no Brasil 100 milhões de hectares possíveis de utilização na agropecuária, além de peculiaridades edafoclimáticas regionais que propiciam formas de interação das diferentes raças eqüina com o meio ambiente e a tendência de reciprocidade da população urbana com a natureza, onde o cavalo é um importante elo de ligação.

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Referências

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