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DISCREPÂNCIA ENTRE USO E CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS DO MUNICÍPIO DE ITAPURANGA-GO Adriana Aparecida Silva 1

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DISCREPÂNCIA ENTRE USO E CAPACIDADE DE USO DAS TERRAS DO MUNICÍPIO DE ITAPURANGA-GO

Adriana Aparecida Silva1

1 Professora do Curso de Geografia/Unidade Cora Coralina/UEG

RESUMO

Localizado na micro-região de Ceres, o município de Itapuranga possui uma área de 1.343.08 Km2, sendo constituído por pequenas propriedades, apresenta economia voltada basicamente

para a agricultura de baixa tecnologia. Mesmo sem grande aplicação tecnológica, com intuito de abertura de novas áreas agricultáveis, este município vem crescentemente dizimando sua vegetação natural. Como resultado deste quadro de uso e intensificação na forma de ocupação, existe hoje instalado diversos processos de degradação ambiental, dentre os quais: ocorrências erosivas lineares, sedimentação dos canais de drenagem, principalmente do rio Canastra, além do depauperamento dos solos. Corroborando para a transformação no uso da terra o município possui uma Cerâmica, situada às margens do Rio Canastra, além da Usina de Cana-de-açúcar Vale Verde- Itapuranga que têm promovido a substituição crescente da agricultura familiar de subsistência pelo plantio da cana-de-açúcar, tipo de cultivo recente nestas terras o qual ainda não sabemos se adequado. Diante deste quadro foi realizado um diagnostico com fins de observação do grau de Discrepância existente entre o Uso e a Capacidade de uso das terras, através do cruzamento dos mapas multitemáticos (mapa de uso da terra; mapa de capacidade de uso), onde foi possível construir um mapeamento das discrepâncias observadas. Este município apresenta diferentes graus de discrepância em sua forma de uso, sendo que esta se apresenta em maior grau na faixa central, que segue de nordeste a sudoeste, justamente onde se encontram as principais áreas com uso agrícola. Tal quadro evidencia uma fragilidade e potencialidade para instalação de impactos que tende a agravar o quadro de equilíbrio ambiental do município. Como forma de mitigação recomenda-se uma mudança planejada nas formas de uso da terra, e que estas estejam em acordo com o recomendado pela lei ambiental.

Palavras-chave: discrepância; uso da terra; capacidade de uso da terra.

INTRODUÇÃO

Ao longo das últimas três décadas o cenário de ocupação das terras do cerrado goiano sofreu diversas transformações que se iniciaram com a retirada de parte considerável

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até os dias atuais, embora em ritmo menos intenso. Recentemente, sobretudo desde 2005, uma nova mudança vem sendo observada, esta se refere à substituição de áreas destinadas ao cultivo de grãos e pastagem para o cultivo da cana-de-açúcar, visando à produção de bicombustíveis, no caso o etanol.

É sabido que a agricultura pode levar à perda da capacidade produtiva do solo em médio e longo prazo, possibilitando a instalação de processos de degradação relacionados ao desequilíbrio de suas propriedades, tais como a instabilidade estrutural dos agregados dos solos, que é considerada por numerosos autores como “um dos primeiros fatores no processo de erosão dos solos” (GUERRA, 2007, p.21).

Localizado na micro-região de Ceres, o município de Itapuranga possui uma área de 1.343.08 Km2, trata-se de um município que se constituí por pequenas propriedades e,

historicamente, teve sua economia voltada basicamente para a agricultura familiar, onde se destacam o cultivo do arroz, banana, feijão, milho, maracujá, mamão papaia, guariroba, melancia, além da pecuária leiteira. Nos últimos anos, no entanto, este quadro tem apresentado mudanças que se associam principalmente à reativação da Usina de cana-de-açúcar (Vale Verde-Itapuranga), localizada bem próxima à área urbana do município, às margens da GO 156, principal via de acesso. Está usina, de médio porte, além de servir como um elemento de rearticulação da economia local tende a impor um novo tipo de produção agrícola, que não sabemos se tratar da mais adequada para a região, caracterizando o que foi definido por ROSS (1993) como formas de mudanças imprimidas na paisagem, mudanças estas que podem vir acompanhadas por processos de degradação.

A expressão "uso da terra" segundo ROSS (1993) pode ser entendida como sendo “a forma pela qual o espaço esta sendo ocupado pelo homem”, esta ocupação para o ano de 2006 no município de Itapuranga apresentou um percentual de 62,17% para as formas de uso do solo relacionadas à agricultura e pastagem (MOREIRA; MENEZES, 2006). Considerando a correlação desta com os principais tipos de solos Latossolos Vermelhos (LV) e Cambissolos (C), temos: a agricultura se encontra sobre os LV, solos mais profundos, de relevo mais aplainado, onde inexiste o horizonte O, sendo o B rico em óxidos de ferro, bem drenado e friável, já a pastagem se encontra nos C, solos jovens, pouco desenvolvidos e muitas vezes cascalhentos. Em relação às outras formas de uso temos que 32,63% referem-se a áreas de cerrado preservado e outros 5,2% se referem aos espelhos d’água (aqui interpretados como represas) e corpos d água (canais de drenagem). É importante ressaltar a presença de um pivô abrangendo 0,02% da área, valores não expressivos, porém, representativos da inserção desta

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nova forma de uso da terra, e, por conseguinte, dos recursos hídricos, cada vez mais presente nesta região.

Em contrapartida ao uso, temos que a capacidade de uso das terras, que se relaciona ao potencial agrícola levando em consideração as limitações naturais da região. A partir destas características LEPSCH (1991) estabeleceu as categorias de capacidade de uso das terras, a saber: Grupos de capacidade de uso (A, B, C) que estabelecidos com base nos tipos e intensidades de usos das terras; Classes de capacidade de uso (I a VIII): baseados no grau de limitação de uso; Sub-classes de capacidade de uso (IIe, IIIe, IIIa, etc) baseados na natureza da limitação de uso; Unidades de capacidade de uso (IIe-1, IIe-2, IIIe-1, etc) baseado em condições específicas que afetam o uso ou manejo da terra.

Em mapeamento da Capacidade de uso das terras, obtido através do cruzamento das características físicas com as formas de uso, foram considerados os grupos e classes de capacidade de uso (SILVA, 2007). Deste modo, para o município de Itapuranga foram isoladas cinco grandes porções, sendo denominadas de: região norte, região nordeste, região central, região sul e região sudoeste, as quais em acordo com o observado na literatura foi identificado em dois grupos de capacidade de uso, sendo: Grupo A de Classe de capacidade de uso II, para as regiões norte, nordeste e central, que hoje são utilizadas para a agropecuária. Nestas o uso é permitido para as culturas perenes, pastagens e reflorestamento, desde que observadas as especificidades em relação às limitações moderados para o seu uso. Seu uso está sujeita a riscos moderados de depauperamento, sendo boa para serem cultivadas desde que lhes sejam aplicadas práticas especiais de conservação do solo.

Para as regiões sul e sudoeste deste município foram estabelecidos o Grupo C com a Classe de capacidade de uso VIII. Optamos por esta classe em virtude de se tratar de uma região de serras e por já possuírem algumas áreas preservadas, as quais consideramos não adequadas para cultivos, pastagem ou reflorestamento. Nesta classe as terras são impróprias para serem utilizadas com qualquer tipo de cultivo, inclusive o de florestas comerciais ou para produção de qualquer outra forma de vegetação permanente. Prestam se apenas para proteção é abrigo de fauna e flora silvestre e para fins de recreação e turismo.

Contribuindo na análise, conforme pesquisa anterior, onde foram analisadas as micro-regiões de Ceres e de Anápolis, temos que em relação às áreas de remanescentes de Cerrado, apesar de predominarem as pequenas propriedades e a agricultura se apresentar, na maioria dos casos, desassociada do uso intenso de tecnologia, a vegetação natural vem crescentemente sendo dizimada. Existem áreas onde nem mesmo a vegetação ciliar foi

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plantio. Esta situação de ausência de vegetação e uso do solo sem diagnostico prévio da capacidade tem deflagrado processos de degradação ambiental, dos quais os principais podem citar como as ocorrências erosivas. A aceleração dos processos erosivos é freqüentemente deflagrada pela ocupação irracional do solo, onde não se obedece nem mesmo aos critérios básicos de conservação dos solos.

É com base nos dados acima apresentados que podemos justificar a necessidade de uma avaliação da compatibilidade entre o uso e a capacidade do uso das terras. Neste sentido, foi realizado um mapeamento para fins de análise de Discrepância entre o uso e a capacidade de uso das terras do município de Itapuranga-GO.

MATERIAL E MÉTODOS

No que se refere aos materiais, foram utilizados nesta pesquisa: Programa de Geoprocessamento Spring, onde se encontra banco de dados do município; Programa de finalização de produtos cartográficos Corel Draw; Imagens de sensoriamento remoto do satélite Landsat 5 ETM+ de 2007;

As etapas de realização da pesquisa seguiram o seguinte roteiro: 1. Revisão bibliográfica teórica sobre os temas eixo da pesquisa; 2. Revisão de leitura junto a trabalhos de pesquisa realizado na área de estudo; 3. Compilação dos produtos cartográficos, Mapa de uso e Mapa de capacidade de uso da terra; 4. Sobreposição dos mapas de uso e capacidade de uso em mesa de luz e subseqüente delimitação das áreas por classe de discrepância, obtendo assim zonas de maior e menor grau de discrepância; 5. Identificação de áreas discrepantes e estabelecimento de grau de discrepância, sendo eles: alta, baixa e nula; 6. Elaboração de esboço do mapa de Discrepância entre uso e capacidade de uso das terras; 7. Elaboração final de produtos cartográficos em programas de geoprocessamento e finalização de mapas; 8. Identificação de processos de degradação já existentes no município;

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando que o objetivo da pesquisa foi o estabelecimento das discrepâncias, reforçamos que o entendimento de discrepância diz respeito a “divergência ou disparidade” entre a forma de uso e a de capacidade de uso dos solos. Assim, o mapa de discrepância entre uso e capacidade de uso das terras do município de Itapuranga revelou três zonas distintas, que aqui foram hierarquizadas de acordo com o grau de e discrepância que apresenta (Figura 01), sendo: Alta discrepância; Baixa discrepância; Nula discrepância.

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Estes diferentes graus de discrepância foram analisados levando em consideração o uso das terras, onde observamos que:

o Alta discrepância representa áreas com o uso agrícola sem nenhuma prática preventiva de conservação, reforça este fato a inserção da cana e a presença de pivô de irrigação; são áreas onde exista uma incompatibilidade entre uso e capacidade de uso, com presença de consorcio entre agricultura e pastagem, porém com predomínio da agricultura;

Figura 01: Mapa de Discrepância

o Baixa discrepância diz respeito as áreas com predomínio de pastagem, com pequenas áreas de cerrado, sendo áreas de baixo declive e solos que permitem o uso racional das terras mediante o uso de técnicas de preservação; são áreas com baixa declividade, utilizadas com pastagem, com capacidade para o uso, ainda que apresente restrições ao uso intensivo e exigência de cuidados específicos no trato com o solo;

o Nula discrepância refere-se a áreas de vegetação preservada ainda que com alta declividade. São áreas destinadas a preservação onde existe um predomínio de vegetação natural, em suas diversas fitofisionômias associado com elevada declividade.

CONCLUSÕES

Itapuranga é um município, aos moldes de outros no Estado de Goiás, que tem sido alvo de grandes mudanças na forma de uso da terra, historicamente agricultura familiar, hoje a inserção da monocultura da cana-de-açúcar. Este fato associado a discrepância já

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observada leva a demanda pelo planejamento do uso das terras, com base em práticas conservacionistas severas e em acordo com o que reza a lei.

Apesar das condições naturais em princípio não se apresentarem como inadequadas para a produção agrícola, o fato é que o município, além de não possuir um histórico na produção da cana-de-açúcar, apresenta problemas ambientais que inibem a intensificação do uso das terras. São exemplos: solos degradados pelo cultivo de pastagem e outros cultivos desassociados de medidas preventivas de impacto, razão da qual já se observam instalados processos de erosão laminar e linear; vazão diminuída dos mananciais d’água pelo uso para irrigação, estando associado a ausência de vegetação ciliar em quase todos os canais, o que ocasiona o assoreamento dos leitos e a erosão dos taludes; e finalmente, pelo fato da colheita ser realizada pelo modo tradicional, com uso da queimada e por conseqüência a emissão de fuligem, além da perda de umidade e matéria orgânica dos solos.

Faz-se necessário, portando, uma política de recuperação das áreas degradada e de reordenamento do uso e manejo dos solos, o que poderia reverter, em grande parte, o quadro de discrepância constatado, promovendo o reequilíbrio entre uso e capacidade de uso das terras do município de Itapuranga/GO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GUERRA, A. J. T. O início do processo erosivo. In GUERRA, A.J.T.; SILVA, A. S. da; BOTELHO, R. G. M. Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand, 2007.

LEPSCH, I. F. (org) Manual para levantamento utilitário do meio Físico e Classificação de Terras no Sistema de Capacitação de Uso, 2ª impressão. São Paulo: Ed. FAPESP, 1991.

MOREIRA, C. P. e MENEZES, E. de. Geoprocessamento aplicado no estudo do uso da terra no município de Itapuranga – GO. Monografia de graduação. Itapuranga, 2006.

ROSS, J. L. S. Análises e síntese na abordagem geográfica da pesquisa para o planejamento ambiental. Laboratório de Geomorfologia – Departamento de Geografia – FFLCH/USP, 1993.

SILVA, A. A.. Levantamento das características físicas e elaboração de Mapa de Capacidade de Uso das terras do município de Itapuranga - Goiás. Relatório de Pesquisa e Pós-Graduação PRP/UEG. Anápolis, 2007.

Referências

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