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PERCEPÇÃO DE AMBIENTE E NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM IDOSOS DO NORDESTE BRASILEIRO

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PE R EI R A , D .S .; S IL V A , C .A .B . d a; S IL V A , J .R . d a; M O R EI R A , T .M .M .; P er ce pç ão d e a m bi en te e n ív el d e a tiv id ad e f ís ic a e m i do so s d o n or de st e b ra si le iro . C ol eçã o P es qu is a e m E du ca çã o F ís ica , V ár ze a P au lis ta , v .1 8, n .0 3, p .8 3-91 , 2 01 9. I SS N ; 1 98 1-43 13 .

Artigo original Recebido em: 12/07/2019 Parecer emitido em: 05/08/2019

PERCEPÇÃO DE AMBIENTE E NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA EM

IDOSOS DO NORDESTE BRASILEIRO

Déborah Santana Pereira1, 2, 3

Carlos Antonio Bruno da Silva2, 4

Juliana Rodrigues da Silva1

Thereza Maria Magalhães Moreira1,2 1Universidade Estadual do Ceará-UECE. 2Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva-PPSAC. 3Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE Campus Juazeiro do Norte.

4Universidade de Fortaleza – UNIFOR. RESUMO

Identifica-se o baixo nível de atividade física em idosos apesar das evidências sobre os benefícios do exercício na saúde e qualidade de vida. Objetivou-se analisar a associação entre Nível de Atividade Física e a percepção do ambiente em idosos de Canindé/CE. Estudo transversal de base populacional com 372 idosos. Aplicou-se questionário de caracterização sociodemográfica, a versão brasileira da Neighborhood

Environmental Walkability Scale e o International Physical Activity Questionnaire, analisados no SPSS 16.0.

Encontrou-se 41,1% da população suficientemente ativa, com média de idade de 71,01(+9,23) anos. A maioria dos suficientemente ativos residem próximo a ruas bem iluminadas (p=0,017), praças (p=0,028), clubes (p=0,034), mercadinhos/supermercados (p=0,009) e igrejas/templos (p=0,027), locais específicos para caminhar (p=0,004) e com segurança para se exercitar à noite (p=0,000). Estas duas últimas variáveis, juntamente com a idade entre 60-69 anos foram consideradas preditoras do adequado Nível de Atividade Física. Os idosos que apontaram tempo de caminhada de até dez minutos até um local específico para caminhar tiveram 6,034 vezes mais chances de serem suficientemente ativos; a segurança para caminhar, andar de bicicleta ou praticar esportes perto de casa durante a noite aumentou as chances em 5,258 vezes; e idosos jovens, na faixa etária de 60 a 69 anos tiveram aumento de 2,577 chances de serem suficientemente ativos. Os resultados apontam a necessidade de estratégias de promoção do estilo de vida ativo em idosos, com ênfase na construção e preservação de ambientes físicos e sociais que promovam saúde e qualidade de vida na comunidade.

Palavras chave: Saúde do Idoso. Meio Ambiente. Atividade motora.

PERCEPTION OF ENVIRONMENT AND LEVEL OF PHYSICAL

ACTIVITY AMONG THE ELDERLY IN THE NORTHEAST OF

BRAZIL

ABSTRACT

The low Level of Physical Activity in the elderly is identified despite the evidence on the benefits of exercise in health and quality of life. The objective was to analyze the association between Level of Physical Activity and the perception of the environment in the elderly of Canindé/CE. A cross-sectional population-based study with 372 elderly. A sociodemographic characterization questionnaire was applied, the Brazilian version of the Neighborhood Environmental Walkability Scale and the International Physical Activity Questionnaire, analyzed in SPSS 16.0. 41.1% of the population was sufficiently active, with an average of age 71.01 (+9.23) years. Most of the active enough live near well-lit streets (p= 0.017), public squares (p= 0.028), clubs (p= 0.034), supermarkets (p= 0.009), and churches / temples (p=0.027), specific walking sites (p= 0.004) and safely exercising at night (p= 0.000). These last two variables along with the age between 60-69 years were considered predictors of the appropriate Level of Physical Activity. Older adults who reported walking time of up to ten minutes to a specific walking location were 6.034 times more likely to be active enough; the safety of walking close to home at night increased the odds by 5,258 times; and young elderly in the 60-69 age group had an increase of 2.577 chances of being sufficiently active.The results point out the need for strategies to promote active lifestyle in the elderly, with emphasis on the construction and preservation of physical and social environments that promote health and quality of life in the community.

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INTRODUÇÃO

São inegáveis os efeitos positivos do exercício físico em médio e longo prazo nas pessoas idosas, a exemplo da preservação e manutenção da capacidade funcional (PEREIRA et al., 2011), aumento dos níveis de força e flexibilidade (ANJOS et al., 2012), elevação da autoestima e baixa ocorrência de sintomas depressivos (MEURER et al., 2012) e melhoria do sistema nervoso, incluindo funções cognitivas, estruturas e funções musculares e cardiovasculares, mobilidade e equilíbrio (SCIANNI et al., 2019).

Algumas pesquisas ainda apresentam peculiaridades quanto ao ambiente de prática, apontando a redução da pressão arterial, da frequência cardíaca e dos hormônios do estresse após a prática de exercícios físicos em ambientes abertos, com forte exposição à natureza (BARTON et al., 2016).

Apesar de todas essas evidências, ainda é baixa a frequência das pessoas que mantém uma rotina de exercícios físicos e atendem às recomendações exigidas para serem consideradas suficientemente ativas na terceira idade (SALLIS et al., 2016).

Considerada uma pandemia (KOHL 3rd, 2012), a inatividade física influencia muitas condições adversas à saúde e é também um potencial fator de risco para as chamadas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (LEE et al., 2012), que é a principal causa de morte no Brasil e no mundo (SCHMIDT et al., 2011).

No intuito de amenizar os seus efeitos, a Organização Mundial de Saúde estabeleceu uma meta global de redução de inatividade física das populações em 10% até 2025 e 15% até 2030. Para tanto, estabeleceu ações políticas universalmente aplicáveis em todos os países do mundo, tanto desenvolvidos como em desenvolvimento, que envolvem a criação de pessoas, sociedades, sistemas e ambientes ativos (WHO, 2018). Desta forma, é necessário que se tenha dados suficientes para diagnóstico e verificação da efetividade das estratégias adotadas por cada região dos diversos países.

É consenso que o ambiente em que se vive exerce grande influência no comportamento e estilo de vida das pessoas, especialmente no que se refere aos hábitos saudáveis (FLORINDO et al., 2011). Os diversos fatores ambientais englobam desde a localização geográfica, equipamentos, estruturas naturais e construídas, facilidades de acesso, manutenção, estabelecimentos e tempo de deslocamentos até eles, até a segurança e aspectos de socialização (GIEHL et al., 2012).

Os determinantes da saúde envolvem, além dos cuidados médicos, os fatores que influenciam sobremaneira a saúde e qualidade de vida das populações. Todavia, nem sempre os fatores de origem ambiental e social compõe a lista de prioridades na formulação de políticas e práticas relacionadas à saúde, o que repercute na falta de equidade nos acessos aos cuidados em saúde no Brasil (CARRAPATO; CORREIA; GARCIA, 2017).

Considerando o aumento da população idosa no mundo, torna-se necessária a criação de ambientes favoráveis ao envelhecimento ativo, que deve promover a manutenção da autonomia, independência e qualidade de vida, garantindo condições de respeito, dignidade, cultura e interação social positiva. Para que haja garantia de tais oportunidades aos idosos é importante que estejam envolvidos nesse processo os diversos serviços de atenção ao idoso (GONZÁLEZ; BARRETO; CASTAÑEDA, 2012; ARAÚJO et al., 2018).

Sobre a prática de atividade física e sua associação com a percepção de ambiente, as estruturas físicas específicas do ambiente comunitário, tais como praças, quadras, academias, igrejas/templos religiosos, uma boa percepção de segurança e convite de amigos estão relacionadas com a prática de atividade física durante o lazer de idosos (SALVADOR et al., 2009).

Atualmente existem estudos sobre o Nível de Atividade Física da população em vários lugares do mundo, todavia no Brasil ainda são escassos, considerando a extensão do país, que apresenta características sociais, econômicas e culturais distintas. Faz-se necessário fazer um mapeamento de todas as regiões do país para possíveis comparações com outros países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Diante desse cenário que envolve a saúde da pessoa idosa, o objetivo do presente estudo é analisar a associação entre a percepção de ambiente e o nível de atividade física de idosos no interior do Nordeste Brasileiro.

MÉTODO

Desenho e local do estudo

Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva, de base populacional, com delineamento transversal e utilização de dados primários e objetivos. O local definido com área de estudo foi a Canindé, município nordestino do interior do Ceará.

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Uma análise detalhada dos indicadores e situação de saúde do Estado do Ceará ao longo dos anos apresenta números alarmantes, apontando a necessidade de pesquisas e intervenções clínicas e educativas. Nesse Estado, a principal causa de morte na população são as Doenças Crônicas não Transmissíveis, representando 72% dos óbitos em 2015 (CEARÁ, 2017).

População e amostra

A população de 5.214 idosos foi representada por uma amostra de 372 pessoas mediante amostragem estratificada proporcional. O cálculo do tamanho da amostra considerou o nível de confiança, em números de desvios (95%); tamanho da população e proporção estimada da característica pesquisada na população (50%) e erro máximo admissível (5%). Foi feita a determinação do tamanho proporcional dos estratos pelos bairros da cidade para garantir a melhor representação possível do território, de acordo sua proporção na população.

Incluíram-se pessoas idosas de ambos os sexos, não institucionalizados, residentes na cidade por um período mínimo de seis meses. Excluíram-se os obesos mórbidos, cadeirantes, com condição neurológica grave e com intervenções cirúrgicas recentes.

Instrumentos e procedimentos

Para mensurar o desfecho, foi utilizado o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), versão longa, para classificar o Nível de Atividade Física em duas categorias (Suficientemente ativo e sedentário), de acordo com a recomendação da Organização Mundial de Saúde, bastante utilizada em cálculos de risco, com a contagem semanal de 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos de atividade física vigorosa, em sessões de no mínimo 10 minutos de duração (WHO, 2010).

As variáveis independentes avaliadas foram categorizadas, apresentando sexo (masculino; feminino); faixa etária (60-69 anos; acima de 70 anos), escolaridade (analfabeto, Ensino fundamental; Ensino Médio; Ensino Superior), renda mensal (até 2 salários mínimos; acima de 2 salários mínimos) e aposentadoria (sim; não). Além das características sociodemográficas, foi avaliada a percepção de ambiente pela versão brasileira da Neighborhood Environmental Walkability Scale, validada por Malavasi et al., (2007) e adaptada por Salvador et al., (2009), que avalia o ambiente em que o idoso vive, quanto à estrutura, segurança, lazer e prática de atividade física, trânsito, distância, clima e oportunidades.

A coleta de dados aconteceu na residência dos próprios participantes, e todas as informações obtidas foram autorreferidas.

Análise dos dados

O Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 16.0 foi utilizado para estatística descritiva (frequência, percentual, média, desvio-padrão) e inferencial (Teste Qui-quadrado de Pearson, Odds Ratio [OR- intervalo de confiança de 95%], adotando-se nível de significância de 5%. Os resultados obtidos foram expressados por meio de tabelas.

Para a análise multivariada, em Regressão Logística Binária (RLB), utilizou-se o método Backward for

Wald como critério de seleção das variáveis, considerando o nível de significância (p<0,05) para exclusão

de cada variável do modelo. A variável sexo foi utilizada como ajuste e adicionada ao modelo final.

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade (Parecer nº 244.796) e em todas as etapas procedeu-se conforme Resolução 466 de 2013 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2013), que considera o respeito à pessoa, a justiça e a beneficência. Todos os participantes foram questionados quanto à voluntariedade na participação desta pesquisa, sendo a autorização expressada pelo Termo de consentimento livre esclarecido (TCLE).

RESULTADOS

Dos 372 investigados, a média de idade foi de 71,01 (+ 9,23 dp) anos, com idade mínima e máxima de 60 e 96 anos, respectivamente. Ao todo 41,1% da população estudada foi considerada suficientemente ativa. Observou-se que a maioria das pessoas suficientemente ativas estão entre 60-69 anos (p= 0,000), são mulheres (p= 0,214), estudaram até o Ensino Fundamental (p= 0,032), possuem renda mensal <2 salários mínimos (p= 0,037) e são aposentados (p= 0,000), conforme apresentado na Tabela 1.

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Tabela 1 - Associação das variáveis sociodemográficas com o Nível de atividade física em idosos. VARIÁVEIS DE CARACTERIZAÇÃO N % P SEXO Masculino 51 33,3 0,214 Feminino 102 66,7 FAIXA ETÁRIA 60-69 anos 101 66,0 >70 anos 52 34,0 0,000* ESCOLARIDADE Analfabeto 23 15,0 Ensino Fundamental 107 69,9 0,032* Ensino Médio 14 9,2 Ensino Superior 09 5,9

RENDA MENSAL (Salário Mínimo)

< 2 SM 92 60,1

> 2 SM 61 39,9 0,037*

APOSENTADORIA

Sim 116 75,8

Não 37 24,2 0,000*

*p<0,05 pelo teste de Qui-quadrado. Fonte: Elaborada pelo autor.

Eles ainda contabilizam um tempo de caminhada de até dez minutos até locais específicos para caminhar (p= 0,004), praças (p= 0,028), clubes (p= 0,034), mercadinhos/supermercados (p= 0,009), igrejas/ templos religiosos (p= 0,027) e posto de saúde (p= 0,053).

Tabela 2 - Associação das variáveis de percepção de ambiente com o Nível de Atividade Física em idosos.

VARIÁVEIS AMBIENTAIS N % P

Tempo de caminhada até uma praça a 64 41,8 0,028*

Tempo de caminhada até uma local específico para caminhar a 63 41,2 0,004*

Tempo de caminhada até um clube a 28 18,3 0,034*

Tempo de caminhada até um posto de saúde a 67 43,8 0,053

Tempo de caminhada até uma igreja/templo religioso a 62 40,5 0,027*

Tempo de caminhada até um mercadinho/supermercado a 104 68,0 0,009*

Existência de fumaça e poluição perto de casa 48 31,4 0,065 Ruas perto de casa bem iluminadas à noite 99 64,7 0,017* Segurança para caminhar, andar de bicicleta ou praticar esportes

perto de casa durante a noite 48 31,4 0,000* Convite de parente para caminhar, andar de bicicleta, ou praticar

esportes no bairro 48 31,4 0,086 Possuir cachorro e levar para passear 40 26,1 0,058 Segurança ao atravessar a faixa de pedestre 08 2,2 0,137 Clima adequado para a prática de exercícios 70 45,8 0,127 * p<0,05 pelo teste de Qui-quadrado; aTempo de caminhada de até 10 minutos.

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As variáveis com valor de p<0,20 apresentadas nas Tabelas 1 e 2 foram selecionadas para a análise multivariada. Realizada a Regressão Logística Binária para verificar as variáveis preditoras da condição suficientemente ativa, encontrou-se modelo considerado significativo [X²(1) = 116,266; p=0,000; R²Negelkerke = 0,362].

Na análise bruta (Tabela 3), apresentaram associações positivas com a condição suficientemente ativa o tempo de caminhada de até dez minutos até um local específico para caminhar (OR 5,939; IC95%: 2,117-16,666); a segurança para caminhar, andar de bicicleta ou praticar esportes perto de casa durante a noite (OR 4,898; IC95%: 1,482-16,182) e a faixa etária de 60-69 anos (2,551; IC95%: 1,439-4,524).

Tabela 3 - Modelo de Regressão Logística (análise bruta e ajustada) com variáveis associadas à condição

suficientemente ativa em idosos.

VARIÁVEIS OR BRUTA (IC 95%) P OR AJUSTADA (IC 95%) p

- Tempo de caminhada de até 10 minutos

até uma local específico para caminhar (2,117-16,666)5,939 0,001* (2,145-16,975)6,034 0,001* - Segurança para caminhar, andar de

bicicleta ou praticar esportes perto de casa durante a noite

4,898

(1,482-16,182) 0,009* (1,566-17,654)5,258 0,007*

- Faixa etária de 60-69 anos (1,439-4,524)2,551 0,001* (1,451-4,577)2,577 0,001*

OR: Odds Ratio; IC: Intervalo de Confiança; *Critério de associação e permanência no modelo (p<0,05). Fonte: Elaborada pelo autor.

Após a inclusão da variável sexo como ajuste, os idosos que apontaram tempo de caminhada de até dez minutos até um local específico para caminhar tiveram 6,034 vezes mais chances de serem suficientemente ativos; a segurança para caminhar, andar de bicicleta ou praticar esportes perto de casa durante a noite aumentou as chances dos idosos serem suficientemente ativos em 5,258 vezes; e idosos jovens, na faixa etária de 60 a 69 anos tiveram aumento de 2,577 chances de serem suficientemente ativos.

DISCUSSÃO

A maioria dos participantes não atingiram os níveis recomendados de atividade física propostos pela Organização Mundial de Saúde. Dentre os suficientemente ativos encontrou-se associações com características específicas, como a menor idade e aspectos ambientais, como a proximidade a locais bem iluminados, seguros e específicos para a prática de exercícios, como a caminhada.

Os resultados são proeminentes, uma vez que o estilo de vida sedentário e a ausência de exercícios físicos regulares, trazem prejuízos à saúde do indivíduo independentemente da idade. Estudos sobre o comportamento sedentário e seus efeitos na saúde mental dos idosos apontam o longo tempo dedicado às atividades sedentárias como associado a sintomatologia depressiva (RAMALHO; PETRICA; ROSADO, 2018). Por outro lado, a prática de exercício físico, ainda que de intensidade moderada, pode trazer ganhos à saúde do idoso, como a redução dos níveis pressóricos e aumento da modulação parassimpática cardíaca, ocasionando significativos benefícios cardiovasculares (DORO et al., 2018). Outros benefícios podem ser reportados, como melhores índices de aptidão física e capacidade funcional (NOBRE et al., 2018) e a prevenção de quedas e fortalecimento muscular (STREIT et al., 2011).

Ao se avaliar o nível de atividade física em uma população rural do sul do Brasil, descobriu-se um nível elevado, especialmente no sexo masculino, todavia, com atividades desenvolvidas majoritariamente no trabalho, em detrimento das atividades de lazer (MARTINS; SILVA; HALLAL, 2018), ressaltando a importância da atenção à saúde das pessoas residentes também na área rural.

É imprescindível que se estimule a adoção de um estilo de vida ativo na população idosa com vistas à promoção da saúde e qualidade de vida.

Considerando os impactos da inatividade física nos sistemas de saúde e desenvolvimento econômico dos países, o novo plano de ação global da Organização Mundial de Saúde estabelece ações que podem ser desenvolvidas em todos os países do mundo, e envolvem, dentre outros fatores, as normas sociais, atitudes e a criação de ambientes ativos, quanto a espaço e lugares (WHO, 2018).

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Validando os resultados encontrados, nota-se que a percepção que os idosos têm dos aspectos ambientais que os rodeiam, tende a interferir no desenvolvimento de determinadas atividades, e pode contribuir para um estilo de vida ativo ou sedentário. Tais aspectos não englobam apenas as estruturas naturais e construídas, e podem estar associados a desfechos de saúde, como prevalência de obesidade (ARAÚJO et al., 2018; GIEHL et al., 2012).

Essa realidade também é encontrada em outras regiões do Brasil, em que os idosos considerados mais ativos no lazer são os que têm calçadas, vias e trilhas para pedestre, ciclovias nos bairros, incentivo de amigos e/ou vizinhos para a realização de atividades físicas e moradia perto de locais apropriados para caminhada, como a orla marítima (GIEHL et al., 2012; PAZIN et al., 2016), iluminação pública, boa percepção de segurança noturna, (SALVADOR; REIS; FLORINDO, 2009).

O cenário mundial também legitima esses achados, e ainda destaca o design de ambientes urbanos como influenciadores da atividade física em adultos, com ênfase para o maior número de parques, a densidade residencial líquida, densidade de interseção, densidade de transporte público (SALLIS et al., 2016).

De modo geral, percebemos a importância da qualidade do ambiente comunitário, apesar dos diferentes olhares e necessidades entre os sexos. Entre os homens idosos, a proximidade das suas residências a quadras esportivas, agências bancárias e posto de saúde são fatores que aumentam suas chances de serem ativos no lazer. Já para as mulheres, a proximidade a praças, academias e igrejas/templos religiosos aumentam essas chances em seis, quatro e duas vezes, respectivamente (SALVADOR et al., 2009).

Considerando os fatores externos como potenciais influenciadores do estilo de vida das pessoas, evidencia-se o papel do Estado, juntamente com a sociedade, na construção e manutenção de ambientes saudáveis, que favoreçam a promoção da saúde e da qualidade de vida (MATIAS, 2011). Um dos maiores desafios está na consolidação dos determinantes sociais da saúde no espaço construído, ou seja, a construção de habitats saudáveis, especialmente em áreas de vulnerabilidade socioambiental (COHEN et al., 2012).

De modo geral, outros estudos (WESTPHAL, 2000) apontam alguns fatores que ameaçam a saúde e qualidade de vida da população urbana do país, como a poluição do ar, as consequências do desemprego, depredação do meio ambiente e transporte urbano insuficiente e precário.

No Brasil existem diversos locais, cujo ambiente dificulta o estabelecimento da qualidade de vida e favorece o surgimento de doenças, especialmente as crônicas. Para a mudança nesse quadro, são necessárias ações coletivas por meio da formação de redes sociais, envolvendo a comunidade, e instrumentalização dos seus integrantes, para que se tornem capazes de refletir criticamente sobre seu estilo de vida e o ambiente em que vivem (MATTIONI et al., 2013).

Promover condições para que o indivíduo envelheça de forma saudável e satisfatória reflete uma garantia dos direitos humanos no que diz respeito à igualdade e dignidade, além de possibilitar ações que promovam a inclusão da pessoa idosa em ambientes urbanos (FORNASIER; LEITE, 2018).

Nessa perspectiva, não somente as redes de atenção ao idoso, mas também as demais estruturas organizacionais do país, devem ser capazes de proporcionar a promoção e manutenção da saúde, evitando e/ou minimizando a evolução de possíveis processos de saúde-doença, utilizando-se de diversos recursos, tempo e tecnologia disponíveis (TANAKA; TAMAKI, 2012).

Vale ressaltar que, ao mesmo tempo em que se deve oferecer ambiente e estrutura adequados física e socialmente, é importante também que se faça um reforço, junto à comunidade, para a adoção de uma postura pessoal positiva frente ao envelhecimento ativo e saudável, através das diversas estratégias possíveis, ocasionando o empoderamento dos indivíduos e coletividades.

Este estudo possui limitações, como o delineamento transversal, que impossibilita o estabelecimento da relação causa e efeito entre as variáveis. Todavia, para estudos como este, de base populacional, com número considerável de participantes, o delineamento transversal é o mais utilizado, além do baixo custo e rapidez na aplicação dos questionários.

Levantamentos de base populacional permitem a identificação de subgrupos populacionais que estão envoltos em situações de elevado risco, podendo auxiliar no desenvolvimento de intervenções possíveis e eficazes, que englobam o governo, a população e o indivíduo em sua singularidade (BARROS; NAHAS, 2001). A possibilidade de ter ocorrido viés de memória, também pode ter se configurado como uma fragilidade do estudo, já que o tempo de deslocamento dos idosos até determinados ambientes pode ter sido subestimado ou superestimado. Para minimizar este efeito, os resultados das respostas foram categorizados, sendo considerado o menor tempo de deslocamento (até 10 minutos) dentre os intervalos de tempo propostos (11-30 minutos; acima de 30 minutos).

Podemos enfatizar os pontos fortes do estudo, como o tamanho amostral representativo de uma população com escassez de indicadores socioambientais e de saúde, e a utilização de instrumentos

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reconhecidos internacionalmente. Tais resultados são indispensáveis para que se tenha parâmetros e subsídios que viabilizem a avaliação da efetividade das estratégias de redução da inatividade física a nível global, propostas para o ano de 2025 e 2030 pela Organização Mundial de Saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados apontam que a maioria dos idosos não atendem às recomendações de prática de atividades físicas, não alcançando o nível suficientemente ativo, o que pode comprometer sua saúde à curto e longo prazo. Aqueles considerados suficientemente ativos têm características peculiares, como a faixa etária jovem e, especialmente, a proximidade de ambientes que favorecem a prática de atividades físicas de lazer e de deslocamento.

Com base nesses resultados, vislumbramos o cumprimento do objetivo traçado ao apresentar a análise da associação entre o nível de atividade física (suficientemente ativo) e alguns aspectos que envolvem a percepção de ambiente da amostra estudada. Enfatiza-se, todavia, que esta associação entre as variáveis não dever ser vista como uma relação de causalidade, ainda que tenha sido uma relação razoavelmente forte. De modo geral, identificamos a necessidade de estratégias específicas de promoção do estilo de vida ativo em idosos, com ênfase na diminuição do comportamento sedentário e na prática de exercícios físicos. Para tanto, é fundamental que haja o empoderamento dessa população, além de investimentos e ações voltadas para construção e preservação de ambientes físicos e sociais que promovam a saúde e a qualidade de vida da comunidade.

REFERÊNCIAS

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