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12/10/2012 DE: FERNANDO LIRA O NARIZ DA MADAME. Contatos

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12/10/2012 Contatos flira@ifce.edu.br

DE

:

FERNANDO

LIRA

O NARIZ DA MADAME

(2)

flira@ifce.edu.br 2 O NARIZ DA MADAME

PERSONAGENS:

ADÉLIA ADELAIDE DELLA MARE – A MADAME JOANA – (VOZ SEMPRE EM OFF) A GOVERNANTA

CENÁRIO:

UM QUARTO LUXUOSO: CAMA DE CASAL, PENTEADEIRA COM VÁRIOS FRASCOS DE PERFUME, TELEFONE E UMA MESA COM LIVROS E JORNAIS. VESTIDO DE NOIVA, NO CABIDE.

CENA 1

(Tudo escuro. Ouve-se a governanta batendo à porta)

JOANA: Madame... Madame, acorde, está na hora!

ADÉLIA: (Sonolenta) Ô, Joana, eu lhe pedi para não ser perturbada! JOANA: Mas, Madame, o seu casamento é daqui a meia hora!

(Adélia acende a luz do abajur. O quarto permanece na penumbra. Ela tem o nariz pintado de vermelho como de um palhaço)

ADÉLIA: Casamento!... Ai, meu Deus... Dormi demais!

(Adélia levanta-se rapidamente. E, enquanto se veste, dá as ordens à Joana)

ADÉLIA: Joana, peça ao Guilherme que retire a limusine azul da garagem e coloque as

malas no bagageiro... Ah! Entregue a ele os presentes, só pretendo abri-los em Veneza... Verifique com o Alfredo se todos da lista de convidados foram contatados... Veja com ele se o Governador e a esposa confirmaram presença. Fale com Henrique para pegar os príncipes de Mônaco no Hotel Trade Tower Center e levá-los até a igreja, na mercedes branca... Outra coisa, Joana... Joana, você ainda está aí?

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flira@ifce.edu.br 3 JOANA: Sim, madame!

ADÉLIA: Ótimo. Joana, não esqueça a dieta alimentar dos cães. Ração durante a

semana e filé só nos finais de semana... Esses cães estão muito gordos, precisam de um regimezinho... Nossa, as passagens, ia esquecendo!... Confirme com a agência de viagem o horário do meu voo.

(Adélia se penteia, perfuma-se, dá uma olhadela no espelho)

ADÉLIA: Estou estoteante!

(Vestida de noiva, encaminha-se à porta. Para e volta rapidamente ao espelho)

ADÉLIA: Ah! O que é isso no meu rosto?... Quem teria a petulância de fazer uma

brincadeira dessas?

(Tenta tirar a tintura do nariz com cuspe, com álcool e outros meios)

ADÉLIA: Arre! Que essa tinta não larga!

(Começa a cheirar as coisas)

ADÉLIA: Esquisito, não sinto cheiro de nada... Nem os perfumes da minha griffe eu

consigo identificar... (Fechando os olhos)... Vejamos... Este deve ser o Almiscar Noturno... Não, é o Crepúsculo da Tarde... E este é o Brisa Campestre... Colônia Matinal... Que droga é essa?

JOANA: Madame, o seu voo sai daqui às 18 horas e o Guilherme mandou avisar que a

limusine já está pronta...

ADÉLIA: Muito bem. Diga a ele que espere!... Escuta, Joana... JOANA: Sim, Madame!

ADÉLIA:Você não viu nenhum estranho rondando a casa, enquanto eu descansava?

JOANA: Não, Madame!

ADÉLIA:Tem certeza?

JOANA: Claro, Madame. A senhora sabe muito bem, ninguém entra nessa casa sem que os cães comecem a latir...

ADÉLIA: E você não viu ninguém entrando no meu quarto?... Você, Joana! Não entrou

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flira@ifce.edu.br 4 JOANA: Não, Madame! Eu não costumo desobedecer as suas ordens. E mesmo que

desejasse, como poderia? A senhora trancou a porta por dentro!

ADÉLIA:É verdade...

JOANA:Está acontecendo alguma coisa, Madame?

ADÉLIA: Não, não aconteceu nada... Agora vá! Logo estarei pronta... Isso tudo não faz sentido... Ainda ontem eu era capaz de identificar mais de 3000 aromas. Hoje me encontro nessa situação deplorável. Eu, Adélia Adelaide Della Mare, presidenta da maior griffe de perfumes do país, considerada o melhor nariz do continente... Isso, definitivamente, é um absurdo!... Com um nariz destes, eu estou falida!... Um momentinho... (Apalpando o nariz e se olhando no espelho)... Hum... Estes buracos estão muito estranhos, grandes... E este cravo não estava aqui antes... Arrá, eu sabia!... Você não é o meu nariz!... Está na cara que este nariz de palhaço jamais poderia pertencer a Adélia Adelaide Della Mare... Que falsificação mais barata!... Isto é coisa de amadores... E agora? Não posso casar nesse estado!... Um nariz falsificado e, como se não bastasse, um nariz de palhaço! É um prato cheio para minhas inimigas!... Por falar em inimiga... Este nariz está muito parecido com o nariz da palhaça Heloise Guidachi, aquela invejosa! Vive fazendo plástica para ver se consegue um nariz igual ao meu... Ah! Mais isso não vai ficar assim... (Discando um número no telefone) Ela vai ver só! Ou ela me devolve o meu nariz, ou eu faço um maior escândalo na sociedade!... Alô... Gostaria de falar com Heloise Guidachi... Diga-lhe que é Adélia Adelaide Della Mare... Tá pensando o quê? Que pode ir chegando, sem pedir licença e levar o nariz da gente, sem mais nem menos? Heloise?... Aqui é Adélia... Como que Adélia?... Adélia Adelaide Della Mare, é claro?... Ah! Lembrou, fingida!... Chamo, Chamo, porque você é uma fingida... Pensa que eu nunca iria descobrir, hein?... Como eu descobri? (Rindo) Você ainda pergunta!... Com pode ficar escondido uma coisa que está na cara?... O quê? Já faz três meses que você me faz de palhaça... Escuta aqui sua... Sua Perua... Perua, sim senhora! Ou você devolve o que é meu ou darei parte à polícia!... Como não está mais com ele? E quem é que está... Eu? Não seja ridícula! Eu tenho bom gosto, jamais andaria com algo tão horrível!... Como? Casar com o meu nariz?... Que disparate esse, sua louca?... Não está falando do meu nariz?... Mas do meu noivo?... Heloise, pare de rir, eu não estou para brincadeira!... Hein? Toda a sociedade já sabe que você e o meu noivo... Palhaça é você, sua cadela! Está pensando o quê?... Pare de rir, eu não admito que riam de mim! Alô, Heloise! Heloise!... Alô!... Aquele cachorro me paga!... Vou acabar com a raça dele... Não! Farei melhor: caso, junto a nossa fortuna e depois meto-lhe um par de chifres bem seguro! Ninguém engana Adélia Adelaide Della Mare... Mas antes, preciso saber quem trocou o meu nariz!... Ontem, foi a última vez que o vi... Eu estava jantando na mansão do Embaixador Castro Almeida... Quando resolvi ir ao banheiro, retocar a maquiagem... Lembro que brinquei de adivinhar o perfume de algumas senhoras... Até aí, eu ainda estava com o nariz... Dancei muito... Bebi... É isso!

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Eu me embriaguei e uma daquelas despeitadas aproveitou a situação para me trocar o nariz!

CENA 2

ADÉLIA: Vou dar parte à polícia! Terei que ir pessoalmente para mostrar o que me

fizeram!... Todavia, não posso sair assim, com esse nariz... Um lenço resolve tudo (Coloca um lenço no nariz)... Calma, Adélia, não vá se precipitar! Olhe o ridículo, Adélia! Olhe o ridículo!... Parece que estou vendo a cena: como sempre, o delegado não dará a mínima. Vai estar sentado em sua cadeira. (Senta-se na cadeira da penteadeira) Parecerá ocupado e fingirá interessado no meu caso... (Muda de tom)... Hum, muito estranho... Quer dizer que lhe trocaram o nariz e a senhora não sabe quem foi?... (Muda de tom toda vez que responde ao “delegado”) Isso mesmo, seu delegado!... E a única pista é este nariz de palhaço?... É, sim senhor! Quando a senhora viu seu nariz pela última vez?... Ontem à noite, na casa do Embaixador Almeida Castro... Ah! Detalhe muito importante! Então, trata-se de um nariz que frequenta as altas rodas... É óbvio que sim, eu não meto meu nariz onde não é chamado!... E ele estava só ou acompanhado?... Acompanhado... Comigo, é claro!... A senhora não percebeu nada de estranho no comportamento dele? Não... Como era a sua relação com seu nariz?... Não poderia ser melhor, nós nos dávamos perfeitamente bem. Ele sempre fazia questão de me acompanhar para os mais diversos lugares. Mesmo nos chás beneficentes, que costumo realizar com as mais distintas senhoras da sociedade, o meu nariz permanecia no seu lugar, quietinho o tempo todo, sem se queixar, era um amor de nariz!... O seu nariz tinha algum vício?... Um único vício, seu delegado! Ele gostava de cheirar... Ah! Como suspeitei desde o início... Um nariz viciado! Quê?... Isso mesmo, seu nariz é um dependente químico!... Dependente! O meu Nariz?! Fique sabendo o senhor, que meu nariz não depende de ninguém. Já muito cedo, ele aprendeu a se virar sozinho!... A senhora não percebeu nenhum comportamento estranho do seu nariz, durante o jantar?... Como assim?... Bem, ele poderia está empinado por algum outro nariz!... Não estou entendendo, delegado!... O seu nariz tem amantes?... Como ousa! O senhor sabe com quem está falando? Não?! Pois saiba que sou Adélia Adelaide Della Mare, o nariz mais respeitado do país... O senhor deveria se meter com as suas obrigações e não ficar bisbilhotando a vida privada de pessoas sérias! Quer saber de uma coisa? Vá cuidar do seu próprio nariz!

JOANA: Madame... Madame, o seu noivo no telefone, ele quer saber porque a senhora

está demorando tanto, ele disse que a igreja está lotada de autoridades e de repórteres.

ADÉLIA: Joana, diga-lhe que eu já saí de casa e que devo estar chegando!... E agora o que faço?... Com este nariz não há a mínima condição!... Se tivessem me trocado um seio ou a bunda, não seria tão grave. No entanto, um nariz não dá para disfarçar!... E se eu pedisse emprestado um nariz alguém, ninguém iria saber... Só teria de não me deixar fotografar e evitar falar olhando diretamente para as pessoas... Mas onde eu vou encontrar um nariz interessante numa hora dessas?... Nariz dos meus empregados, nem pensar! Imagina, uma pessoa sofisticada como eu, com o nariz de uma classe socialmente inferior! Não cai bem!... Posso abrir uma exceção para classe média! E olhe

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lá! Sei que, na classe média, é possível encontrar muitos narizes que passam perfeitamente como nariz de um rico!

CENA 3

(Adélia se encaminha para o público)

ADÉLIA: Talvez, se eu der uma volta pelo bairro, encontre um nariz que me sirva... Adélia, veja bem o que você vai fazer! Seja discreta, é muito feio olhar diretamente para o nariz dos outros... (Ela passa a mexer com o público num tom de fofoca)... Como tem nariz extravagante por aqui... Sssh, fala baixo, Adélia!... Olha aquele, parece uma pera!... E aquele, é mesmo que está vendo uma ameixa madura! Adélia! Olha só que jardim florido, cheio de cravos e espinhas... Fala baixo, mulher!... Eu não sei como as pessoas têm coragem de andar com uma coisa estapafúrdia dessas! Há muita gente nesse mundo que não tem senso do ridículo!... Hum, acho que avistei um nariz simpático... Adélia, olha os modos! (Adélia aproxima-se de uma pessoa da plateia, observa o nariz dessa pessoa, discretamente. Exagera na discrição, fica de costas e usa um espelho para ver o nariz, olha por baixo e por cima). Perdão, mas este nariz... É seu?... Tem certeza?... Quantos anos ele tem?... Que é isso, Adélia? A gente nunca deve perguntar a idade do nariz de uma mulher!... Pergunte outra coisa, a idade do nariz, jamais!... Desculpe!... O seu nariz é bom de cama? Ai! Meu Deus, você quer me matar de vergonha?... Ora, eu preciso saber se o nariz dela não entope ou costuma vazar quando está dormindo! Que grosseria, Adélia!... Ele lhe dá algum trabalho?... E prazer?... Você não estaria disposta a trocar por outro mais divertido, mais engraçado e mais espirituoso? Eu estou achando este seu nariz bem apagadinho. Uma pessoa bonita como você, merece coisa muito melhor! Um nariz extrovertido, que seja notado por onde você passar! Que faça você aparecer! Um nariz de dar inveja a qualquer mulher! Você não gostaria de trocar o seu nariz por este? Com este nariz, você será notada por todos, você sairá do anonimato... Por acaso, alguém conhece o seu nariz?... Então, o que você está esperando? Estou lhe dando a oportunidade de trocar seu insignificante, inexpressivo, tímido nariz por este vistoso, garboso, sarado e alegre nariz... Não quer, hein?... Pois eu vou levar na marra... (Adélia pega no nariz da pessoa como se tentasse arrancá-lo) Você será meu... Não adianta... Arre, está pregado, ele não quer sair... Adélia, olha os modos!... Que baixaria, Adélia!... Ah! Desculpe... Desculpe. (Voltando ao palco) Eu estou meio nervosa... Meu casamento, esta situação toda, sabe! Desculpe-me...

(Começa a fungar e a sentir coceira no nariz)

JOANA: Madame... Madame, seu noivo e um grupo de jornalista estão lá no portão

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flira@ifce.edu.br 7 ADÉLIA:Jo... Joana. (Ela está com a voz fanha)

JOANA: Madame, a senhora está se sentindo bem...

ADÉLIA: Tudo bem, Joana, só estou um pouco resfriada... Diga-lhes que já estou saindo... Minha nossa, que voz horrível! Que é que você tem? Pare com isso, já! Se é para ficar no meu rosto, tem que me obedecer. (Começa a espirrar, insistentemente, e a coçar o nariz com avidez) Quer parar!... (Tenta arrancá-lo)... Sai de mim, sai de mim... Ah, é assim?... (Pega uma revólver e aponta para o nariz)... Estou avisando, ou me obedece ou acabo com você... Muito bem... Assim está melhor! Que desgraça, meu Deus! A que ponto cheguei... Não consigo mais ser dona do meu próprio nariz... Quanta maldade me fizeram... Mas quem?... O jornal! (Pegando o jornal)... O jornal é minha última esperança!... Vejamos... Aqui está na coluna do Mário Morais... O Embaixador Castro Almeida abriu ontem as portas de sua mansão... Blá, blá, blá... Eu quero fotos!... Encontrei... Aqui estão elas todas!... Mas como eu estou ridícula neste vestido, onde eu estava com a cabeça que fui com uma roupa dessas?... Ah! Mas essas mulheres estão muito piores do que eu!... Que cabelos horríveis! E essas pinturas, pra que tanto exagero... Que roupas mais espalhafatosas!... O meu nariz! Tiraram foto minha com o nariz de palhaço! É o meu fim!... (Olhando jornal) Epa! Epa!... O que significa isto!... Como pode ser possível?... Todas têm um nariz de palhaço?!... (Começa a rir)... Ah! Então é isso... O que a bebida não faz com a gente... Olha só a confusão que fui arrumar!... (Rindo) Onde estava com a cabeça... (Sorrindo) Joana, deixe que todos entrem, o espetáculo vai começar!

(Ao som de uma música própria para casamento, Adélia caminha em direção à boca de cena, ou para plateia, sorrindo, emocionada como uma noiva indo ao altar)

(Apaga-se a luz)

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