YES WE CAN RESERVA TINTO
2007
POR APENAS
+
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C' '" C' C CTEXTOAntónio Falcão _NOTAS DE PROVALuis Antunes e João Afonso _FOTOSRicardo Palma Veiga
Propriedade com pergaminhos
na Estremadura, a Quinta da Casaboa
teve os seus momentos
de glória vínica. Mas o mercado e o destino acabaram
por obrigar a uma mudança
de grande monta na estratégia da exploração ...
Felizmente para nós
,
consumidores
de vinhos.
Paes éuma mulher comga r-Estajovem de 32anos estava
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em Lisboa, vivendo uma:i
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ontem epor aífora. Mas tinha a sua carreira quando lhe surgiu a oportunidade de tomar as réde
-asde um negócio familiar. Mais concretamente a propriedade da família, na Estremadura, aopéda povoação deRuna, quefazvinhos com amarca Casaboa.
De Moçambique para Runa
Aquinta foi adquirida pelo avôde Joana - João Pereira dosSantos
-em 1958.Este senhor era empresá
-rio emMoçambiqueequeriaterum
poisoemPortugal.Apropriedade é composta por três quintas - Casa
-boa,Granja ePederneiras- cadauma
coma sua casaprópria. No entanto, apenas a casa daQuinta da Granja está operacionaleéaquique func
io-na a adega e os escritórios.
Abonita casa solarenga édo séc.
XVIII epossui magníficos jardins circundantes e,infelizmente, uma linha de comboio logo aolado. Mu
Lisboa
to perto está ainda o rio Sisandro.
_-o total falamos de uma área muito substancial para a Estremadura, cer-ca de120hectares. Mas só menos de metade está ocupado com vinha. João Pereira dos Santos utilizou a mesma estratégia de muitos dos seus proprietários conterrâneos: fazer grandes quantidades de vinho agranel, grande parte dele vendido à porta. Nos anos 90 o granel foi dando lugar ao garrafão. Estamos a falar de - em velocidade de pon-ta-de largas centenas de milhar de litros devinho!
_-o início da década de2000, o para-digma de negócio estava a mudar a alta velocidade. Os estabelecimentos deLisboa e do litoral onde se consu-mia o vinho começam a desaparecer e onegócio ... começa a deixar de ser negócio. Com quase uma centena de empregados e enormes custos fixos, a família de Joana teve que tomar
medidas drásticas. Um primo to-mou asrédeas da situação em 2003 efoi decidido mudar radicalmente omodelo de negócio. O vinho em
garrafão e granel foi abandonado e a opção passou para o vinho de qua-lidade. Para isso foi necessário fazer areestruturação da vinha, processo que seiniciou logo a seguir, em2004, eqne continua até hoje.
Oprimo de J oana é quem desenha a estratégia e a começa a executar. Com aajuda do técnico João Pedro Passarinho, que supervisiona a viti-enltnra eenologia desde 2005. Nes-te ano, aempresa faz a sua primeira acção externa, promovendo um con-crnso de rótulos junto dos alunos do IADE para o primeiro vinho da casa, oCasaboa.
Uma casa que em tempos teve uma centena de empregados passa a ter apenas cinco, três dos quais com formação superior. "Se tivéssemos continuado com a mesma estratégia teríamos entrado em colapso", garan-teJoana. O primo foi para Moçam-bique em 2007 e Joana passou para afrente do projecto. Em dois anos, estajovem com32anos e uma crian-çajá no mundo e outra a caminho,
procurou desde logo fazer formação em vinhos para aperfeiçoar os seus conhecimentos. Com uma parte da vinha já reestruturada, com obras na adega, faltava ainda estabele-cer marcas, estimular o marketing e iniciar contactos comerciais, cá e lá fora. Mas felizmente a máquina já estava a andar ...
Vinhas nas encostas A área to-tal de vinha não chega aos 60 hecta-res: há uma área de vinha mais velha - com cerca de17anos - mas a maior parte tem vindo aser reestruturada desde 2004. Algumas das plantas foram substituídas, especialmente em castas com menor interesse
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maioria do encepamento está co
Touriga Nacional, que ocupa quas metade da área. Mas há ainda Ti Roriz, Castelão, Alicante Bouschet
algumas outras castas para "temp e-ro", como a francesa Merlot. A eno
me percentagem de Touriga teve av
com a necessidade de exportação:
mais famosa casta nacional começ a ganhar prestígio e, já sem falar qualidade do vinho, a notorieda ajuda a vender.
As vinhas não são rega das porque diz-nos João Pedro Passarinho, água suficiente na terra. Apesar dis João Pedro escolheu as encostas pan plantar a vinha e não as zonas plana! de várzea, cheias de água e fertilida-de. Os solos são argilo-calcáreos co
pedra basáltica na rocha-mãe. E solo tem alguma fertilidade, que J0
-Pedro atenua com a ausência de fe r-tilizantes, o arrelvamento intensiv
e a colocação da vinha a uma distân -cia mais alto do que normal do so (cerca de 80 centímetros). Por is as produções nunca são altas.
Adega tradicional A adega
muito tradicional. O inox quase nã!: existe aqui e as fermentações sãc ainda feitas nos velhos depósitos cimento, agora revestidos a epo . para evitar contaminações. Mas f instalado o frio para as fermentaçõ
de temperatura controlada e o sisJ. tema foijá calculado para as.cub
que hão-de vir, destinadas ao vinil
branco. Também será adquirida Uilll!
prensa pneumática, porque as duas velhas (mas boas) prensas verticais oxidariam o branco. No entanto,
higiene impera aqui e toda a adega está já certificada. Joana e João Pe -dro sabem que, apesar de funcio
-nar bem, a adega está a precisar de modernização. Ejá há inclusive um
projecto mas está
à
espera de umfinanciamento - "o tempo não-es para grandes investimentos" garan -te Joana.
De resto, a vindima é feita de forma mecânica e o engarrafamento é con -tratado a terceiros. Contactos Quinta da Granja Torres Vedras - 2565-712 Runa www.casaboa.com Telefone: 261 314412 Telemóvel: 91 6462660
Apenas tintos por agora
O porta-estandart
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Ho-menagem Reserva
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um tributo ao avô
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Olhar para a exportação
Este
ano a Casaboa fez quase
100.000garrafas. Mas a tendência é para
au-mentar, à medida que as novas
vi-nhas vão entrando em produção
.
Mas a produção não é toda
engar-rafada. Uma parte do vinho vai para
bag-in-box, que, segundo os nossos
anftriões, tem muito boa aceitação
na região.
Uma das decisões de Joana foi a de
arranjar um distribuidor, escolha
que recaiu na empresa HFB. E de
promover vendas na restauração
lo-cal. A nível de exportação teve que
ir a várias feiras, onde foi
arranjan-do distribuiarranjan-dores em vários países
(Holanda, Suécia, Dinamarca,
An-gola e Estados Unidos da América).
Os volumes ainda são tímidos mas
o mais difícil é mesmo éntrar pela
primeira vez nos mercados.
J oana não descura também o site
Internet, que possui, aliás, todas as
indicações para chegar à Quinta da
Granja e inclui ainda muita
infor-mação sobre os vinhos.
36Janeirode2010
Finalmente, irá haver um projecto
de enoturismo. A localização da
ex-ploração, de fácil acesso por Lisboa
(45 minutos) e a proximidade de
hotéis de luxo irá ajudar. "já temos
tido solicitações para visitas e
pro-vas. As pessoas adoram os vinhos, o
ambiente e os jardins", comenta J
0-ana Paes. E para os amantes da
Na-tureza, a paisagem é também idílica,
mesmo que pontuada pelas enormes
ventoinhas de energia eólica,
colo-cadas de forma pouco conspícua ao
lado da própria vinha ou nos topos
das montanhas adjacentes.
Tanto Joana como João Pedro
sa-bem que o nome Estremadura não
é muito popular no mercado. Mas
acreditam que a nova designação
-Lisboa - vai ajudar na venda dos
vi-nhos. Mas, na verdade, nada substitui
o bom trabalho na vinha, na adega
e nos mercados. E é exactamente aí
em que esta equipa está a apostar.
Os resultados já começaram a chegar
mas irão certamente ir mais longe,
porque os vinhos merecem
.
O
TINTABOA
Reg. Lisboa
tinto 2006SOe. AGR. OTA. DA CASABOA
Aroma fresco com fruta escondida e boas notas de madeira, choco-late, algumas especiarias doces. Boa complexidade e alguma profundidade. Na boca a frescura é boa, mas impõe-se um pouco em excesso a madeira. Corpo médio,
boa textura, um pouco anónimo, mas um bom vinho, com finalde bom comprimento e bom sabor. (13.5%)
(LA)€30 15
CASABOA HOMENAGEM
Reg. Estremadura Reserva tinto 2005
SOe. AGR. QUINTA DA CASA BOA Um tinto bastante perfumado, com fruto bonito, leve floral com cacau, tabaco e baunilha, muito acetinado, com barrica excelente e muito bem integrada. Taninos polidos, afinado e a terminar longo e com alguma complexidade. (14%)