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aze-Ios compreender
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da liberdade
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9 7885 9 788516 16 0130138828825 1 1 1
5 1 1 1
L L - - " " . . , , .. '"'" .... J.L1' J.L1'5 1 1 1
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Sumario
Sumario
••• • IIntntrrododucuc;;aoao,6,6 A
A sinagoga sinagoga ee00temtemplo, plo, 6; Um di6; Um divisvisor or de aguade aguas, s, 88
COOR
COORDENADENAeAo eAo EDITOEDITORIALRIAL Mari
Maria a LuciLucia a de Ade Arrudrruda a AranAranhaha PREP
PREPARAeAARAeAo o DO DO TEXTOTEXTO
Valter Valter A. A. Rodriguos Rodriguos
REVISAo REVISAo
CUlillMullill CUlillMullill
Marc Marcia ia DelDella Rosala Rosa EDl EDleAo eAo DE ADE ARTERTE
Ricard Ricard o o PostacPostac chinichini
oo
CAPACAPA lIustra
lIustrac;ao c;ao bas88da bas88da em auto·em auto·retratoretrato de
de EspinosaEspinosa.. nono qu qual al eleele SS88representarepresenta com
como o MasMasanieaniello. llo. urn urn pescpescador ador que /idque /iderouerou
aa(8vo(8voluflufao ao popupopular lar de Nde Napolapoleses PEsaU
PEsaUISA ISA ICONICONOGRAOGRAFICAFICA Mat
Mati/eni/ena a ChauChau;; TRATA
TRATAMENTO MENTO DE DE IMAGEIMAGENSNS
Ademir Ademir F. F. BaptistaBaptista
Marcos Marcos A.A. Affiant Affiant
DlAGRAMAeAo DlAGRAMAeAo Claudiner Claudiner Correa Correa Filho Filho
SAfDA SAfDA DE FILDE FILMESMES Edmundo Edmundo C.C. Canado Canado Hel
Helio io P.P. de de S Souza ouza FilhoFilho COO
COORDERDENAeNAeAo Ao DO DO PCPPCP Fer
Fernandnando o DaltDalto o DegaDegann
IMI'IlESSAOE ACAIIAMENTO IMI'IlESSAOE ACAIIAMENTO narUra
narUra Grtijlca Grtijlca e I:'tlitora e I:'tlitora Utili. Utili.
Ch:lUl.
Ch:lUl. Marilcna Marilcna lie SUUlU lie SUUlU
l:~rilllt!\;1;
l:~rilllt!\;1; WilliWilli filnsul';. filnsul';. till till Iilll'nlatic , Iilll'nlatic , Marikll'. Marikll'. ('h
('hllui. llui. SSl\lll'lllllul\lll'lllllu::Ml"kllm.ll"'~.Ml"kllm.ll"'~. IC·uh'\'lll.IIII'.1l\1IC·uh'\'lll.IIII'.1l\1
1. Filo
1. Filosolia solia holaholandcsndcsa a 2. Po2. PoJillcu Jillcu ). Rucio). Rucionalisnalismomo 4. Ral,aU 5. Spino/.a,
4. Ral,aU 5. Spino/.a, Bcncdklusdc,IBcncdklusdc,I6J2-1617-
6J2-1617-Crfti
Crftica c ca c inll'rinll'rprctmprctm;:lu ;:lu I.I. Tltulu. Tltulu. II. II. S~rjc.S~rjc.
Es
Espinpinososa a e e seseu teu tempmpo, o, 1414 A
A comunidade comunidade judaica judaica de de Amsterda, Amsterda, 14; 14; 0 0 Seculo Seculo de de O!JroO!Jro hola
holandendes, s, 23; 0 cfrcu23; 0 cfrculo lo de Espde Espinoinosa, sa, 29; Cr29; Cronolonologiaogia, , 3232
Co
Contntra ra a sa supupererststicic;a;ao o e a e a seservrvidaidao, o, 3434 Racion
Racionalismo alismo absoluabsoluto, to, 34; Da imagem34; Da imagem
a a
ideia de Deus, 43; ideia de Deus, 43; LiberdaLiberdade de e fe felicidadelicidade, e, 5252
A
A polltica, polltica, 7373 Dir
Direiteito o natnaturaural l e ese estadtado o de Natude Naturezreza, a, 73; Dire73; Direito ito civicivil l e Es-e Es-tad
tado o civicivil, 75; Os l, 75; Os regregimeimes s polfpolfticticos, os, 76; A dom76; A dominainagao gao dosdos esp
espfrifritos tos e a le a liberiberdade dade pollpolltictica, a, 7777 Con
Concluclusaosao: : EspEspinoinosa, sa, nosnosso so concontemtemporporaneaneo,o,
80
80
""
tndlc:olparac:at8logollslemAtlc:o:
tndlc:olparac:at8logollslemAtlc:o:
Parte
Parte II
II ANTOLO
ANTOLOGIA
GIA
II..ll''iill"",,,,,,lliiaahh,,,,llaannddmm 11''))''))..44''))22 ••
EDITOR
EDITORA A MODERMODERNA NA LTDA.LTDA. J{uaPadrl
J{uaPadrl' ' AddAddino, ino, 7'iH- Bl'k'nzi7'iH- Bl'k'nzinhonho S,io Paulo
S,io Paulo - Sp - IIrasil - CEP- Sp - IIrasil - CEP OjjO:\_I)O-\ OjjO:\_I)O-\ V""da
V""das,, s,, At""dAt""dim,,mim,,mo:o: Td.Td. <0__ 11) <0__ 11) (]Ol)I)-1 '00 (]Ol)I)-1 '00 Fax <0__ 1]) 6090-1 '01 Fax <0__ 1]) 6090-1 '01 www.l1lcKlerll;t.nml.1ll" www.l1lcKlerll;t.nml.1ll" LIIOI LIIOI 11Il1,rtts.WI 110 IJrtlsi! 11Il1,rtts.WI 110 IJrtlsi!
o
o
memetotododo, , 8585 1. 0 caminh1. 0 caminho o refreflexilexivo: vo: autautocooconhenhecimcimentento o do intdo intelecelectoto e de sua
e de suas forgass forgas, , 85; 2. 0 85; 2. 0 metmetodo odo refreflexlexivoivo: : a idea ideia ver-ia ver-dad
dadeiraeira, , fndfndice de si mesice de si mesma, ma, comcomo o ponponto to de parde partidtida a dodo metodo,86
•••
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88; 4. A poten
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9. Por que empreender
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ida politica,
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100;
11.
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e de expressao
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101;
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12. 0
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lismo
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os filoso
osofos
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ineptos em
tos em poll
polltica
tica, , 103
103
Gos
Gosto to de verde ver-te-te, , gragrave ve e soe solitlitariario,o, Sob
Sob 00funfundo do de esqde esqualualida ida cancandeideia,a, Nas maos
Nas maos a a ferferramramententa a de opede operarrario,io, Na c
Na cabeabeya ya a a corcoruscuscantante e ideideia.ia. E
E enquaenquanlonlo 00penpensamsamenlenlo o deldelineineiaia Uma
Uma filosofilosofia,fia, 00pao pao diaridiarioo A
A tua tua mao mao a a labutar labutar granjeia granjeia .. E ach
E achas as na independna independ€mCia€mCia 00leu leu salarsalario.io. Soe
Soem m ca foca fora agitara agitayoeyoes s e lue lutastas,, Sibila
Sibila 00bafbafo o aspasperrierrimo mo do invdo invernerno,o, Tu tra
Tu trabalbalhashas, , tu petu pensansas, s, tu extu execuecutastas S6b
S6briorio, , tratranqunquiloilo, , desdesvelvelado ado e e terterno,no, A
A lei lei comum, comum, e e morres morres e e transmutastransmutas
o
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suasuado do lablabor or em premem premio io eteeternorno..•••
•
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: mo
modos
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ar e de pens
e de pensar,
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92;
; 7. R
7. Raza
azao
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: a alm
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seus afetos e os e
tos e os encad
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interior
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mente,
e, 94;
94;
8. A fel
8. A felici
icidad
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da virtud
tude,
e, mas a
mas a pro
pro--pria vi
pria virtud
rtude,
e, 97
97
Las tr
Las traslasluciucidas das manmanos os del del judjudioio Lab
Labran ran en la pen la penuenumbrmbra a los clos crisristaltaleses Y la t
Y la tararde de quque e mumuerere e es mies miededo o y fry frioio (La
(Las tardes tardes s alaalas s tartardes des son igson igualuales)es).. Las man os y el espa
Las man os y el espacio cio de jacde jacintintoo Que palid
Que palidece ece en el cen el contontin in del ghedel ghettotto En sf n
En sf no exio existesten n parpara a el hoel hombrmbre e quiquietoeto Que esta sofia
Que esta sofiando ndo un clun claro aro lablaberierintonto.. Ni 10tur
Ni 10turba ba la glla glorioria, a, ese reflejese reflejo·o· De esp
De espejo ejo en el suen el suefiefio o de otrde otro o espespejoejo,, Ni el tene
Ni el tenebrobroso so am oam or de r de las donclas doncellellas.as. Lib
Libre re de de la metMla metMoraora yy del mito, del mito, Lab
Labra ra un ardun arduo uo cricristastal: l: el inel infinfinitoito Map
Mapa a de Aqude Aquel el que es todas que es todas sus estresus estrellallas.s.
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No dia 27 de jul
No dia 27 de julho ho de de 1651656,6, a As
a Assemsemblebleia ia de ancde anciaoiaos s da co-da co-mun
munidaidade de judjudaicaica a de Amde Amstesterdarda prom
promulga ulga a excoa excomunhmunhaoao (herem, (herem,
em hebr
em hebraicaico) o) do jodo jovevem m BaBaruruchch
de
de
Esp Espinoinosa, sa, com as com as segseguinuintestes palavras*:palavras*: "a
"as s SSSSreres. s. do Mahado Mahamamadd fazem saber a V[oss
fazem saber a V[ossas] as] M[erM[erce]sce]s como ha diaz q[ue] tendo como ha diaz q[ue] tendo noticnoticiasias das mas opin
das mas opinioinioins s e obre obras as de Ba-de Ba-ruch de E
ruch de Espinospinoza za procuprocurarao rarao p[or]p[or] dlffer
dlfferentes entes camicaminhos nhos e pre promesomesasas retlra
retlral-o l-o de seus maos de seus maos camicaminhosnhos
1 3
1 3nao podnao podendo endo remeremedial-adial-a, , anttesanttes pa
palo lo cocontntrararirio, o, tetendndo o cacad d a diaa dia may
mayoreores s notnoticiicias as das das horhorrenrendasdas horegi
horegias as que practique practicava cava e ene ensina- sina-va
va € I€ I yn ynormes ormes obras q[ue] obras q[ue] obravobrava,a, tondo disto
tondo disto muintmuintas as testetestemunhamunhass fld
fldedledlgnagnas s que depque depugeugerao rao e te tes-
es-temun
temunharao harao tudo em tudo em prezeprezensa nsa dodo dit
dito o EspEspinoinoza, za, do q[uedo q[ue] ] ficficou ou con con--ven
vensidsido; o; a qual a qual tudtudo o exaexaminminaraaraoo em preze
em prezensa nsa dos SSrsdos SSrs. . HahamHahamin,in, del
delibeiberarrarao ao com seu parecom seu pare~er ~er queque ditto Espinoz
ditto Espinoza a seja enhermseja enhermadoado € I€ I ap
aparartatado do da na~da na~am am de Ysde Ysraraelel como
como actuaactualmentlmentee 00poipoin n em he-em he-rem, com
rem, com 00herherem em segseguinuinte: te: ConCon se
sentntenensa sa dodos s AnAnjojos, s, cocom m didittttoo dos
dos SanSantostos, , nos emhenos emhermarmamosmos,, apa
apartartamos mos e mae maldildisoasoamomos s e pre pra- a-guejam
guejamos os a Baa Baruch de ruch de EspinEspinoza,oza, com
com 00coconsnsenentitimementnto o dedel l DiDioo Bendit
Benditto to e e consconsentimentimento ento de tode tododo est
este e K[aK[ahalhal] ] K[aK[adosdos], ], diadiante nte dosdos Sa
Santntos os SeSephphararinin, , esestetes s cacan n asas sei
seis centos centos s e tre treze eze prepreceiceitos tos queque est
estan an escescritrittos tos nelnellesles, , can a he-can a he-rem
rem que emhque emhereeremou mou JehJehosuosuah ah aa Ye
Yeririchcho, o, cacan a man a maldldisissasao o ququee ma
maldldisisse se ElElisisah ah aoaos s MoMossssos os ee can tod
can todas as as maas maldildisoisoins ns que es-que
es-ta6 esc
ta6 escrittas rittas na Ley. Malditna Ley. Malditto to sejaseja de dia e
de dia e mamaldldititto to seseja ja de noutde noute,e, mal
malditditto to sejseja a seu levaseu levantantar r e mal-e mal-ditto sej
ditto seja seu deytaa seu deytar, r, maldimalditto tto elleelle em seu sayr e maldit
em seu sayr e malditto to elle en seuelle en seu entra
entrar. r. N§.o N§.o quererquerera a A[donA[donai] ai] per- per-doar a ell
doar a elle que e que entoncentonces es fumeafumearara a fu
a furoror r de A[dde A[dononaiai] ] e see seu u zezelllloo ne
nesssse e h6h6memen n e ye yazazererananelelle le to to--das as ma
das as maldisldisoinoins s as esas escricrittattas s nono lib
libra ra de de esesta ta LeLey y e arree arrememetatarara Adonai
Adonai a a seu seu nome nome debaxo debaxo dosdos ceo
ceos s e ape apartartaloaloa a AdoAdonai nai parpara a malmal de toda
de todas s as trias tribos bos de Ysrde Ysrael ael concon to
todadas s as malas maldidissssoioins ns do firdo firma ma--men
menta ta as esas escricrittattas s no libno libro da Leyro da Ley es
estata. . E vE vas as as apas apegegadados os cocomm A[donai]
A[donai] voso voso D[eus], D[eus], vivos vivos todostodos vas oj
vas oje. Advie. Advitindtindo o que ningeque ningem m IheIhe pode
pode fallar bocfallar bocalmenalmente, te, nem p[nem p[or]or]
• 0
• 0 tetextxto o dodo herem herem est esta a redredigiigido do numnuma a mesmesda da arcarcaicaica a de porde portugtugues ues e ese espa- pa-nhol que
nhol que Irla tomIrla tomar-sear-se 00idiidioma oma falfalado ado pelpelos judeuos judeus s sefsefaraaradis dis da Peninda Peninsulsulaa Ibarlca,
Ibarlca, 00ladinoladino (h (hoje faladoje falado o pelas comupelas comunidadenidades s sefarsefaradis adis da Grda Grecia, Turquia,ecia, Turquia, Nort
Norte e da Africda Africa a e Ise Israel). rael). No secNo seculo ulo XVII, epoca XVII, epoca de redaQao dode redaQao do herem herem de Espi- de Espi-nosa,
nosa, 00ladladino ainda ino ainda nao estnao esta a padpadronronizaizado, do, motmotivo ivo pelpelo o quaqual varial variam m a gra grafiafia a ee Gcont
Gcontuayauayao o de uma mesma de uma mesma palavpalavra.ra.
EE
ass assim im que, por exemplque, por exemplo, o, a palaa palavra vra "mal "mal--dlQOodlQOos" s" apareaparece ce grafagrafada da "mal"maldisoidisoins/mns/maldisaldissoinssoins", ", a paa palavra "naQao" vem es-lavra "naQao" vem es-crl
crlts ts "na"naQanQan/na/naQamQam" " etcetc. . 0 0 pr6pr6priprio o nomnome e de Espinde Espinosa osa e grae grafadfado o de manede maneirairass dlvor
dlvorsas sas nos nos variovarios documents documentos os oficoficiais da comiais da comunidadunidade, e, durandurantete 00secuseculo lo XVIIXVII,, aparec
aparecendo endo ora ora como "de Escomo "de Espinozpinoza", a", ora ora como "de Espcomo "de Espinosainosa", ", "Spino"Spinosa", sa", "Es- "Es-pinos
pinosa". a". Em suaEm suas obras, s obras, escriescritas tas em latem latim,im, 00fil6sfil6sofo assinava "Benedicofo assinava "Benedictus tus dede Splno
Splnoza" za" ee
e e
des dessa sa manmaneireira a que seu nome que seu nome apaaparecrece e nos sonnos sonetoetos s de Machde Machadoado do Assdo Assls ls e Borge Borges. es. A convA convenQao atual, enQao atual, para a lingpara a lingua ua portuportuguesaguesa, , e "Ee "Espinospinosa",sa", o sor
o sora adotada a adotada por n6s neste livro.por n6s neste livro.
As
As quesloes quesloes religiosas religiosas e e leol6gicasleol6gicas per
perpaspassam sam as as disdiscuscussoesoes s filfilos6os6ficficas as ee polft
polfticas icas do secudo seculo lo XVII.XVII.
escr
escritto, itto, nen darnen darlhe lhe nenhunenhun n favorfavor,, ne
nen n dedebabaixixo o de tede tectcto o cocom m elellele,, nen ju
nen junto nto de cuade cuatro tro covcovadoados, s, nennen le
leer papeer papel l fefeitito o au escau escriritttto o papar r elle".
elle". Not Notta ta do Herdo Herem em que Se Pu-que Se Pu-bli
blicou da cou da TheTheba ba enen66de Ab de Ab con
con--tra B
tra Baruaruch ch de Espide Espinoznoza, a, LlBLlBRORO
DO
DOS S ACACCOCORDRDOS OS DA NADA NAyAyAN,N,
anno
anno 5398-55398-5440."440."
Bar
Baruch uch de Espide Espinosnosa a tintinha,ha, na apoc
na apoca a desdessa sa propromulmulgaggagao,ao, 24 anos.
24 anos. Em 1670
Em 1670, , aos 37 anosaos 37 anos, , Es- Es-pinos
pinosa a publicpublicaa 00TratadTratado o teo/6gteo/6gi- i-co-polftico,
co-polftico, imimprpresesssa a sesem am a
no
nome me do autdo autoror, , e em cuja e em cuja ababer er--tura
tura lemoslemos::
"Se, em todas
"Se, em todas as ciras circuns cuns--tan
tanciacias, s, os hoos homenmens s pudpudessessemem dec
decidir idir com segucom seguranranc;ac;a, , au se aau se a sor
sorte te IheIhes fosss fosse e semsempre pre favfavora ora--vel
vel, jama, jamais is serseriam iam vitvitimaimas s da su-da su-per
perstistic;ac;ao. o. MaMas s comcomo o se enconse encon--tram freq
tram freqQenteQentemente mente peranperante te taistais dif
dificuiculdaldades des que que nao sabemnao sabem, que, que dec
decisaisao o haohao-de -de tomtomar, ar, e coe como mo asas inc
incertertos os benbeneffeffciocios s da sorda sorte te queque de
desesenfnfrereadadamamenente te cobi~cobi~am am asas faz
fazem em oscoscilailar, r, a maia maiorioria a das ve-das ve-zes, entre
zes, entre a espea esperanc;ranc;a a e a medoe a medo,, estao sempr
estao sempre e prontoprontos s a aca acreditreditar ar sej
seja a no quno que for e for (...) A q(...) A que ponto ue ponto aa me
medo do enensasandndecece e as homas homenens! s! aa med
medo o e a caue a causa sa que originque origina, a, con con--ser
serva va e alime alimententa a a supa superserstictic;ao;ao (..
(...) Nao .) Nao ha nadha nada a mamais is efeficicaz az dodo que a 's
as multidoes. Por isso e que
as multidoes. Por isso e que
es-tas sac
tas sac leva
levadas, s
das, sob a
ob a capa de
capa de
religiao, ora a adorar os
religiao, ora a adorar os
gover-nantes como se fossem deuses,
nantes como se fossem deuses,
ora a execra-Ios e a detesta-Ios
ora a execra-Ios e a detesta-Ios
como se fossem uma peste para
como se fossem uma peste para
todo
todo
00ge
genero humano
nero humano. . Foi, de
Foi, de
rest
resto,
o, para preveni
para prevenir
r este perigo
este perigo
.. que houv
que houve sempre
e sempre
00cuidado de
cuidado de
rodear a religiao,
rodear a religiao, fosse ela verda-
fosse ela
verda-deira ou falsa, de culto e aparato,
deira ou falsa, de culto e aparato,
de modo a que se revestisse da
de modo a que se revestisse da
maior gravidade e fosse
maior gravidade e fosse escrupu-
escrupu-losamente obedecida por todos".
losamente obedecida por todos".
Se, em
Se, em
1656, 1656,os
os rabi
rabinos
nos
expulsaram Espinosa da
expulsaram Espinosa da
Sinago-ga, em
ga, em
1674 1674os pastores protes-
os pastores
protes-tan
tantes
tes exi
exigir
giram
am que ele
que ele fos
fosse
se
condenado pelos cristaos.
condenado pelos cristaos.
EE
as-
as-sim que, a
sim que, a
1919de julho de
de julho de
1674, 1674,trazendo
trazendo
00brasao e as armas de
brasao e as armas de
Guil
Guilherm
herme
e de Orange III, os
de Orange III, os Es-
Es-tados Gera
tados Gerais
is da Hola
da Holanda
nda,
, so
sob
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orientayao e exigelnciado Sinodo
orientayao e exigelnciado Sinodo
calv
calvinis
inista,
ta, prom
promulga
ulgam
m urn Mito
urn Mito
proibindo a impressao e
proibindo a impressao e
divulga-yao do
yao do
Tratado Tratado teo/6gicteo/6gico-po/ftio-po/ftico,co,ja
ja condenado na Alemanha:
condenado na Alemanha:
"Pa
"Para
ra pre
preven
venir
ir con
contra
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oste
oste veneno
veneno pernicioso
pernicioso e im
e impedir,
pedir,
na medid
na medida
a do possl
do posslvel,
vel, que al-
que
al-guem possa ser por ele induzido
guem possa ser por ele induzido
no orro, julgam
no orro, julgamos
os noss
nosso
o deve
dever
r
doc\
doc\arar
arar esseIivro
esseIivro de acord
de acordo com
o com
()quo foi
()quo foi desc
descrito
rito e reputa-
e reputa-Io
Io blas
blas--lom
lomnt6
nt6rio
rio e pe
e perni
rnici
cioso
oso par
para
a a
a
ulrnu, cheio de teses infundadas
ulrnu, cheio de teses infundadas
e perigosa
e perigosas
s e de
e de abom
abominay
inayoes
oes
em detrimento da verdadeira
em detrimento da verdadeira
reli-giao
giao. . Como con
Como consequ
sequenci
encia,
a, por
por
este
este ordenamento
ordenamento, interditamos a
, interditamos a
todos e a cada urn
todos e a cada urn imprimir, divul-
imprimir,
divul-gar ou
gar ou ven
vender tal
der tal liv
livro
ro e outro
e outross
que Ihe sejam semelhantes, sob
que Ihe sejam semelhantes, sob
pena de castigos previstos pelos
pena de castigos previstos pelos
editos do pais".
editos do pais".
bes
bes -,
-, cujas obras
cujas obras tambem
tambem foram
foram
con
conden
denad
adas
as com
como
o per
perigo
igosa
sass
para a ordem esta
para a ordem estabele
belecida
cida, , Es-
Es-pinosa nao foi execrado apenas
pinosa nao foi execrado apenas
por autoridades polfticas e
por autoridades polfticas e
ecle-sias
siastica
ticas, e sim tam
s, e sim tambem
bem pelo
peloss
pr6prios fil6sofos e cientistas de
pr6prios fil6sofos e cientistas de
seu tempo?
seu tempo?
Poucos pensadores foram
Poucos pensadores foram
tao odiad
tao odiados quanta ele.
os quanta ele. No
No enta
entan-
n-to, poucos tambem tern sido tao
to, poucos tambem tern sido tao
admirados e amados quanta ele.
admirados e amados quanta ele.
Que ha em seu pensamento para
Que ha em seu pensamento para
que ninguem se sinta indiferente
que ninguem se sinta indiferente
ao le-Io? Por que, ao ser Iida a
ao le-Io? Por que, ao ser Iida a
obra,
obra,
00homem Espinosa se faz
homem Espinosa se faz
tao presente e suscita
tao presente e suscita
sentimen-tos e ideias tao contrarios?
tos e ideias tao contrarios?
Dura
Durante
nte os secul
os seculos
os XVII,
XVII,
XVIII e XIX, Espinosa foi aquele
XVIII e XIX, Espinosa foi aquele
de quem nao
de quem nao se dev
se devia fala
ia falar
r ou
ou
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aquele
le que devia
que devia ser ataca
ser atacado,
do,
mesmo e sobretudo sem que sua
mesmo e sobretudo sem que sua
obra fosse Iida. "Espinosismo" e
obra fosse Iida. "Espinosismo" e
"esp
"espinos
inosista
ista"
" torn
tornaram
aram-se
-se pala
pala--vras acusat6rias. No entanto, ao
vras acusat6rias. No entanto, ao
mesmo tempo, sua obra
mesmo tempo, sua obra
naOces-sou de exercer uma atrayao
sou de exercer uma atrayao
insu-peravel, como se por ela
peravel, como se por ela
passas-se a decisao fundamental da
se a decisao fundamental da
filo-sof
sofia
ia mod
modern
erna.
a. Atr
Atraya
ayao
o de tal
de tal
modo f
modo forte que, a urn
orte que, a urn jove
jovem
m dis-
dis-clpulo que
clpulo que comeyaraa
comeyaraa ler a
ler a
Etica Eticae fora
e fora tor
tornad
nado
o de duvid
de duvidas,
as, seu
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mestre,
mestre,
00te6
te610go Padre
10go Padre Male
Male--branche
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(1638-1715), (1638-1715),recomen-
recomen-dava que nao a lesse porque "e
dava que nao a lesse porque "e
maqu
maquina
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infernal
rnal"
" e aquele
e aquele que
que
nela penet
nela penetra
ra e sequest
e sequestrado
rado por
por
Em
Em
1678, 1678,urn ana ap6s a
urn ana ap6s a
morte de Espinosa, urn novo
morte de Espinosa, urn novo
edi-to do governo da Holanda prolbe
to do governo da Holanda prolbe
a divulgayao de sua obra
a divulgayao de sua obra
p6stu-ma, public
ma, publicada
ada por seus
por seus amig
amigos
os
Jarig Jelles e Luiz Meijer.
Jarig Jelles e Luiz Meijer.
Afinal,
Afinal,
00que dissera 0 jo-
que dissera 0
jo-vem Esp
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em
16 1656 56 -,-, 00que escrevera
que escrevera
00f
filil6s
6sof
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1670-1670 -
e
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0 0que deixara escrito -
que deixara escrito
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1678 - 1678 -para qu·efosse expul-
para qu·efosse
expul-so da comunidade judaica e
so da comunidade judaica e
con-dena
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do pela
pelas
s auto
autorida
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cris--tas
tas?
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Que
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se passa
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seja considerado como veneno,
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Sata" e que seu nome,
Sata" e que seu nome,
Benedic-tus, em latim, deveria ser
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muda-do para Maledictus?
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Sobretudo,
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Descarte
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Hob- A
A concepc;:ao concepc;:ao da da imanencia imanencia entre entre Deus Deus ee a Na
a Naturtureza eza levleva a uma a a uma novnova a ideideia ia dada fel
feliciicidaddade e e de da liba liberdaerdade, de, ineineditdita a nono pensam
pensamento ento modernomoderno..
suas engrenagens, nao podendo
suas engrenagens, nao podendo
nunca mais Iibertar-se dela.
nunca mais Iibertar-se dela.
Atra-yaOtao poderosa que, no seculo
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XIX,
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00fil6
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Hegel dira que a .
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com Espinosa e que sem ele
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A
A inovayao
inovayao espinosan
espinosana
a
apare
aparece
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num conjunto
o de teses
de teses
que serao minucio
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samente
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de-mons
monstrad
tradas
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pelo filosof
osofo.
o. Que
Que
demonstra ele?
demonstra ele?
1.
1.
Que Deus e a Natureza
Que Deus e a Natureza
sac uma s6
sac uma s6 e
e mes
mesma cois
ma coisa
a
--Deus sive
Deus sive NaturaNatura
("Deus,
("Deus, ou
ou seja,
seja,
a Natureza").
a Natureza").
2. E, port
2. E, portant
anto,
o, que
que Deu
Deuss
nao e
do onlandlmonlo on/se/onto nem do vontado onlpolonle, nao age lando om vista tin s mlsteriosos e nao 6, como crO a Imaginaeao su-parlllclosa, uma Pessoa Trans-oondente, Monarca do Universo e Julz do homem.
3. Que 0 horn em e livre
nlo porque seria dotado de livre-arbltrlo para escolher entre alter-natlvas 19ualmente possiveis, mas por ser uma parte da Natu-raza dlvlna, dotado de forea in-lama para pensar e agir por si masmo.
4. Que a religiao e um im-pulso natural para dar sentido ao mundo e a vida humana, servin-do de consolaeao para a alma dos devotos e reduzindo-se a dais preceitos universais muito simples: crer na eXi~.tEmciade urn Deus born e justo; amar a Deus e ao pr6ximo. Par esse motivo, a verdadeira religiao e uma relaeao esplritual entre a consciencia in-dividual e a divindade, dispensan-do 0aparato de igrejas, cerima-n/as e teologlas.
5. Que 0poder politico nao nasce de urn contrato social das vontades individuais, mas da for-c;:acoletiva da massa reunida num s6 ate de decisao pelo qual insti-tui a si mesma como sujeito
polfti-co
detentor do poder; que esse poder e civil, nao devendo jamais subordinar-se ao poderio religio-so-teol6gico, sob pena detrans-formar-se em tirania sobre os cor-pos e as espiritos.
6. Que, portanto, a teologia difere da politica e difere tambem da filosofia. Esta ultima e um sa-ber Iivremente buscado pela razao humana, enquanto aquela forja misterios revelados por Deus que nao poderiam ser conhecidos por nosso entendimento. Em outras palavras, a teologia e uma ausen-cia de saber verdadeiro que pre-tende conseguir a obediencia e submissao das consciE'mcias a dogmas indemonstraveis, sendo por isso mesmo urn poder tiranico e·nao urn conhecimento.
No seculo XVII, Iida como a mais perniciosa forma de ateis-mo par afirmar a identidade entre Deus e Natureza, foi considerada fatalista porque demonstra que a realidade e regida par leis univer-sais, necessarias, imutaveis e eternas, as quais os seres huma-nos tambem se encontram sub-metidos, pais a noc;:aode Iivre-ar-bitrio
1 3
ilusoria, sinal de nossa ig-norancia quanta as causas ne-cessarias que determinam nos-sas aeaes, ideias e desejos. Hor-rorizados, as leitores cristaos de-clararam que a obra espinosana retira a liberdade de Deus (pois Este se confundiria com as leis necessarias da Natureza) e a res-ponsabilidade do homem (pois este simplesmente seguiria 0 cur-so necessario das leis naturais). No primeiro caso, teriam desapa-reeido as ideias de Providencia divina e de milagre; no segundo, as de recompensa e castigo numa vida futura.No seculo XVIII, porem, a afirmac;:ao de Espinosa "Deus ou Natureza" leva a interpretar e a valorizar sua obra como primeira doutrina sistematica do deismo, ou religiao natural, defendida pelo racionalismo da lIustracao. Para os deistas, Deus
1 3
a forca racio-nal e necessaria que rege a reali-dade segundo leis inteligiveis, co-nhecidas pela filosofia e pela eiE'meia,dispensando os misterios Com essas teses, afiloso-fia de Espinosa se apresenta como um divisor de aguas entre a Iiberdade (de pensamento, de ex-pressao e deaCao) e a servidao (etica, politica e teologica). Nisso reside seu enorme perigo para as ideias vi gentes e os poderes es-tabe/ecidos.
Por abalar poderes e pen-samentos instituidos, a obra espi-nosana foi Iida, no correr dos tres ultimos seculos, de uma maneira que a fez parecer contraditoria em si mesma, quando, na realida-de, contradiz 0estabelecido. Par essa razao, tem sido interpretada de formas tao variadas que pare-ce impossivel capta-Ia como filo-sofia coerente au dotada de algu-ma identidade.
teol6gicos e religiosos. Sob esse ponto de vista, Espinosa surgia como precursor da verdadeira ra-cionalidade moderna.
A partir do Romantismo, no entanto, 0secuJo XIX considerou Espinosa, nas palavras do poeta Novalis, "0homem embriagado de Deus" e sua obra, a forma mais profunda do misticismo pan-teista, porque, identificando Deus e Natureza, prometeria a felicida-de do sabio como fusao felicida-de nossa alma no seio do absoluto divino. Espinosa nao seria um naturalis-ta, como pretendera a Ifustrac;:ao, mas um espiritualista, e 0 maior de todos. Simultaneamente, po-rem, a filosofia do Idealismo ale-mao conservou a interpretac;:ao da obra tal como fora feita no se-culo XVII: 0espinosismo seria urn
ateismo fatalista que torna impos-sivel tanto a Iiberdade e onipoten-cia misericordiosa de Deus quan-to 0Iivre-arbitrio do homem. Es-pinosa seria urn naturalista e sua obra, um "frio materialismo".
Eis por que, em nosso se-culo, a obra espinosana, interpre-tada de inumeras maneiras, foi, na maioria das vezes, considerada incoerente e contraditoria, carre-gando em seu interior restos de fi-losofias opostas, isto e, restos de espiritualismo mistico e de natura-Iismo materialista. Fundamental-mente, tem sido considerada in-consistente porque pretenderia
A. M. C.
BIBLIOTECA
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C O O I G O E X E M P L A R C 6 0 lG O A C E R V OS~
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51-
if,
2
-conciliar duas perspectivas incon-clllaveis: a de uma filosofia da Na-tureza, na qual esta
e
entendida como sistema da necessidade ab-soluta, e como filosofia etica base-ada na plena Iiberdade humana, reunindo, assim, duas ideias que se excluiriam reciprocamente, a de necessidade (das leis da Natu-reza) e a de Iiberdade (como es-colha entre varias alternativas pos-siveis). Por que inconciliaveis? Porque, dizem os intarpretes, se tudo segue leis necessarias, nada ha no mundo que possa ser tido como meramente possivel, e sem a idaia de possibilidade nao pode haver a Iiberdade.Todavia, se nos acercar-mos da filosofia espinosana sem idaias pra-concebidas, descobri-remos por que, afinal, Espinosa foi excluido da comunidade
judai-I
I
I,
!
I
12ca, da sociedade crista e da reo publica dos sabios "coerentes".
Sua obra faz desabar os pHares que sustentam a supersti-9ao religiosa, a tirania politica e a servidao etica. Ao faze-Io, poe em questao as imagens tradicionais de Deus, da Natureza, do homem eda politica que serviam de fun-damento
a
religiao,a
teologia,a
metafisica e aos valores atico-po-Iiticos da cultura judaico-crista, isto a, da cultura ocidentaJ.E
0radicalismo da razao li-vre e da alegria de pensar sem submissao a qualquer poder constituido - seja este religioso, politico, moral ou te6rico - e a decisao de afastar tudo quanta nos cause medo e tristeza que torna Espinosa perigoso e odia-do, para uns, mas tambem tao amado, para outros.o
Espinosa e seu tempo
A COMUNIDADE JUDAICA DEAMSTERDA
Em 1492, ap6s a tomada de Granada pelos reis cat6licos Fer-nando e Isabel, os judeus, que ha s6culos viviam na Espanha, sac obrigados a escolher entre a con-versao forc;ada ao cristianismo e a expulsao, com a maior parte de seus bens confiscados para au-mentar os recursos da Coroa espa-nhola na corrida pelos mares e descobertas maritimas. A familia de Espinosa, como muitas outras, loge para Portugal. AIi, porem, seis nnos depois, pelas mesmas razoes que anteriormente as de Espanha, os judeus sac obrigados a escolher ontre a expulsao e a conversao for-ynda ao cristianismo.
Todavia, um fate ocorre em Portugal, diverse do que se passa-ro na Espanha: D. Manuel0 Ventu-roso faz com que todos os judeus Bo]am batizados antes mesmo que houvossem escolhido entre a ex-pulsno ou a conversao. Numa s6 nolto, nas praias portuguesas, ondo aguardavam barcos que os lovnrlum para longe, milhares de
ju-deus foram "convertidos". Torna-ram-se cristaos-novos, na lingua portuguesa, e marranos, na lingua castelhana. Forc;ados
a
nova fe, muitos, porem, guardaram em se-gredo a antiga, sendo por isso per-seguidos ininterruptamente em toda a Peninsula Iberica..A familia de Espinosa, con-vertida, permanece em portugal, mas, no final do seculo XVI, ao se iniciarem novas perseguic;oes, quando a Coroa portuguesa preci-sa de recursos para manter 0 im-perio colonial e usa a prisao e a morte dos judeus para confiscar suas fortunas, 0pai de Espinosa, Miguel, nascido nas cercanias de Beja, decide emigrar. Dirige-se pri-meiro para a cidade francesa de Nantes e, finalmente, para Ams-terda, numa das inumeras levas que procuravam a Holanda, tanto porque ali reinava maior tolerancia religiosa quanta porque nela se iniciava um novo poderio economi-co que iria suplantar 0de Portugal e Espanha, atraves da Companhia das fndias Orientais e da Compa-nhia das fndias Ocidentais.
No dia 24 de novembro de 1632, em Amsterda, nasce Baruch de Espinosa (Bento, em portugues;
Retrato de um jovem judeu. de
Rembrandt. No seculo XVII holandes os jude us linh am inle nsa parl icip ac;: ao na
vida cientifica e filos6fica da comunidade.
Benedictus, em latim), filho de Mi-guel e de sua segunda esposa, Debora. Tem dois irmaos, do pri-meiro casamento do pai.
Pouco sabemos da infancia de Espinosa. Sua familia pertencia ao grupo abastado da comunidade judaica e seu pai 0teria iniciado tanto no comercio quanta no apren-dizado de uma arte manual (polir lentes), de acordo com0costume judaico. Pelo menos ate os 14 an os
freqOentou uma das escolas da co-munidade, a Academia ANore da Vida, e, a seguir, os seminarios !i-vres da Academia da Coroa da Lei, onde eram estudados os textos
sagrados. Possivelmente, durante tais seminarios entrou em contato com as obras dos mais importantes pensadores hebraicos: Abrahao Ibn Ezra, com quem passou a duvidar de que 0 Pentateuco* pu-desse ter sido escrito pelo pr6prio Moises; Maimonides, no qual des-cobriu a primeira grande sistemati-zac;ao racionalista e escolastica da religiao e teologia hebraicas, sob a influencia do Arist6teles arabizado; Leao Hebreu, 0grande neoplat6ni-co da Renascenc;a, que propunha uma concepc;ao do mundo funda-da no amor como for9a c6smica; Chasdai Crescas, Delmedigo, Ger-sonides, com as quais aprendeu as questoes relativas
a
onipotencia, onisciencia e justic;a de Deus e a relac;aoentre a homem e a divinda-de. Tambem data dessa epoca seu contato com os dois grandes rabi-nos da comunidade de Amsterda, Saul Levi Morteira e Menasseh ben . Israel, este ultimo, provavelmente,responsavel pela leitura dos cflba-Iistas feita por Espinosa.
Esses poucos dad os nos permitem saber que Espinosa fala-va portugues, aprendera 0 hebrai-co e estava destinado a ser um hebrai- co-merciante culto e cultivado, e nao um rabino, como durante muito tempo se pensou.
*.Pent.ateuco: Iiteralmente, "cinco volumes". Designa a coleQao dos primeiros
cinco hvros do Antigo Testamento, atribufdos a Moises. Essa parte da Bfblia passou a ser conhecida pelos judeus como Torah (ver Glossario).
A comunidade judaica de Amsterda estava internamente di-vldldn, sob muitos aspectos. Eco-nOmlcae politicamente, estava constitulda por dois grupos anta-gonlstas: os favoraveis as rela-QOescomerciais da Holanda com Portugal (onde muitos possuiam familia e neg6cios) e os favora-vols as rela90es com a Espanha. Era uma comunidade diri-gldn palos sefaradis·, aristocratas quo a organizaram sob a forma de uma oligarquia baseada no snngue, no parentesco e na ri-queza. Por isso, dividia-se entre rlcos e pobres. Enquanto os ricos dlrlglam toda a vida da comunida-do, ocupando os postos
adminis-trativos e se encarregando das decisoes economicas, politicas e religiosas, os pobres eram U:io-somente seus empregados.
Dividia-se, por fim, religiosa e teologicamente, entre funda-mentalistas tradicionalistas e deis-tas racionalisdeis-tas, e entre talmudis-tas e cabalistalmudis-tas misticos. A divisao religiosa recobria e dominava as divergencias sociais e politicas, dadas as peculiaridades de uma comunidade que nao possuia au-tonomia polftica, nao constituia propriamente um Estado e cujos costumes eram regulados pela re-ligiao e por uma tradi9ao teocrati-ca. Assim, os conflitos sociais, econ6micos e politicos da comu-nidade sempre surgiram sobrede-terminados, isto e, sempre
apaceram sob a forma de conflitos re-Iigiosos e teol6gicos.
Desses conflitos, dois fo-ram dominantes durante a vida de Espinosa e explicam muito do que Ihe iria acontecer. 0primeiro deles ocorreu entre marranos e nao-marranos; 0segundo, entre talmudistas e cabalistas.
Marrano, palavra derivada do arabe mahram ("0 que e proibi-do", "0 que a ilfcito"), era 0 termo pejorativo, usado na Peninsula Ibe-rica, para referir-se a judeus e ara-bes conversos suspeitos de man-ter a fe original. Embora aparente-mente cristaos, eles continuariam seguindo os preceitos e proibi90es estabelecidos por suas antigas re-Iigioes. Como uma das proibi90es validas para judeus e arabes con-cernia ao interdito de comer carne de porco, "marrano" indicava aque-Ie que nao a comia e, gradualmen-te, passou a significar "porco".
Um marrano, pelas condi-90es em que fora obrigado a vi-ver na Peninsula Iberica, possuia dois tra90s principais: de um lado, fundira cristianismo e judaismo e, mesmo quando pensava estar sendo fieI ao segundo, introduzia nele cren9as cristas como as do. para iso, do inferno e do servi90 de Deus atraves do martirio; de outro lado, e contraditoriamente, por nao ter contato pleno com os ensinamentos judaicos, acabava defendendo-se do cristianismo A oOrlllJnldodo judaica de Amslerda eslava inlernamenle dividida par divergencias
rlliluionos, pollticas e sociais.
• Hr'tvt'trlas outras grafias para essa palavra: "sefardins", "sefaradins",
"se-ItHdltos". (N.E.)
elaborando uma visao racionalis-ta do judaismo, de sorte que este Ihe aparecia como desprovido de todas as crendices e supersti90es que reconhecia na religiao crista. Um marrano era, assim, ou um ju-deu cristianizado ou um deista ra-cionalista contra 0 cristianismo.
Um nao-marrano, isto e, um judeu que nao fora convertido ao cristianismo, nao via 0 marrano com bons olhos, tomando-o por al-guem que, para salvar a vida, trai-ra sua fa e sua na9ao, introduzitrai-ra no judaismo elementos do cristia-nismo e se tornara incapaz de pra-ticar leal e inteiramente os precei-tos da Lei, a Torah. Em suma, os que jamais se haviam convertido tendiam a considerar os conversos como impuros e indignos de con-fian9a, enquanto muitos ex-marra-nos, para provar sua fidelidade, tendiam a mostrar-se severos e duros com os conversos, tornando-se mais ortodoxos do que os outros e muito mais intolerantes.
Um dos temas mais can-dentes para a comunidade, du-rante os seculos XVI e XVII, refe-ria-se ao direito dos marranos
a
ressurrei9ao, prometida por Jeo-va aos que permanecessem fieisa
sua Lei. Teriam os marranos esse direito? Se tivessem, como justificar os que haviam sidotor-Illtttdotl 0 marioN pam defender
1 1 hW Su 11110 IIvol:Isom, como
ex-pllcmr f1 proloela do Isafas sobre It
IUllvnCl\o
do "resto de Israel", quu Ileum submelido aos pode-rOll nl1o-Judalcos? Nao have ria urnufJ nas Inllas, podendo algu-mils Bor perdoadas, como, por oxamplo, a dos que foram fon;a-daB II conversao, nao podendo Bar punldos por algo que nao fi-zeram voluntariamente? Essa dlscussao pouco a pouco trouxea
bail a uma outra que se encon-trava implfcita: a da imortalidade da alma, suas recompensas e castigos numa outra vida.Ora, muitos conversos ha-viam-se mantido Mis ao judais-mo, sob a aparencia de professar o cristianismo, justamente por nao aceitarem, entre outras
coi- A Lei Mosaica funda 0Estado hebraico sob a forma de teocracia.
sas, a ideia crista da imortalidade da alma e as nOyoes de ceu e in-ferno eternos. Em sua opiniao, a Lei Escrita ou a Lei de Moises ja-mais afirmara a imortalidade da alma e os suplfcios eternos.
Essa opiniao nao era nova. Na AntigQidade, no final do Reino de Juda, antes que os judeus fos-sem dispersados pelos poderes de Roma, uma divisao se estabe-lecera na sociedade judaica entre a classe dominante - os sadu-ceus - e os intelectuais populares - os fariseus.
as primeiros, racionalistas e materialistas, recusavam 0 es-piritualismo farisaico, declarando que a unica Lei sagrada para 0
povo era a Lei Escrita, redigida por Moises no Sinai, nao caben-do sacralidade alguma
a
Lei Oral, ensinada pelos fariseus.as fariseus, porem, afirma-yam que a Lei Oral fora dada por Moises aos seus descendentes ao voltar do Sinai, sendo ta~ sagrada quanta a Escrita. A Lei Oral tor-nou-se justamente aquela que, durante seculos, os rabinos de-senvolveriam atraves do Talmud, criando 0 judafsmo propriamente dito e dando-I he conteudos espiri-tualistas, entre os quais a cren9a na imortalidade da alma e numa vida futura com recompensa para os bons e castigos para os maus. Para os talmudistas, a Lei Oral era o complemento sagrado da Lei
Escrita, formando toda a jurispru-dencia que, em conformidade com as circunstancias vividas pelo povo judaico, regulava a religiao, os costumes, as rela90es sociais e as formula90es teoricas.
as ex-marranos talmudis-tas, assim como os nao-marranos tambem talmudistas de Amsterda, criticando 0racionalismo dos no-vos "saduceus" (isto e, dos marra-nos deistas que recusavam a vali-dade da Lei Oral), ensinavam a imortalidade da alma, penas e re-compensas futuras e a ressurrei-9ao dos mortos no Tempo do Fim.
Espalha-se, entao, pela co-munidade judaica uma discussao teologica sobre a imortalidade da alma que, na verdade, e tambem uma discussao polftica. De fato, questionar 0 valor dos ensinamen-tos da Lei Oral significa par em questao 0 poder dos rabinos so-bre os membros da nagao. Essa discussao, que come9ara tratando da imortalidade da alma e da vida futura, desloca-se, pouco a pou-co, desses temas para 0 da vali-dade da propria Lei Oral e, com isso, para a validade do Talmud, da Mishnah, de tudo, enfim, quan-to fora ensinado, escriquan-to e diquan-to du-rante seculos, desde0inicio da Di-aspora. A disputa poe em questao a autoridade dos rabinos. Ortodo-xos (talmudistas) e heterodoOrtodo-xos (deistas racionalistas) enfrentam-se na comunidade.
Essa oposiyao entre racio-nalistas heterodoxos e fundamen-talistas ortodoxos leva a aconteci-mentos que iriam marcar profun-damente a vida da comunidade de Amsterda: 0 caso de Uriel da Cos-ta, que se desenrola entre 1623 e 1647, eos casos de Juan de Pra-do, Daniel Ribera e Espinosa, en-tre 1654 e 1656.
Uriel da Costa, um marrano que estudara direito e filosofia em Coimbra e fugira de Portugal, abandonou 0 cristianismo para re-tornar ao judaismo. No entanto, foi submetido ao herem por afirmar que somente a Lei Escrita possuia valor sagrado e que, nesta, nao eram ensinados a imortalidade da alma nem os suplfcios eternos; que Deus nao era um super-ho-mem colerico e voluntarioso, mas a for9a racional e amorosa que cria, governa e harmoniza a Natu-reza; e que os preceitos divinos nao eram senao as leis da Nature-za, distorcidos pelos fariseus e ra-binos com a Lei Oral. .
a herem, em casos graves como 0de Uriel, significava a so-Iidao, pois 0 enhermado era ex-pulso do convivio com a comuni-dade,. e essa expulsao atingia suas atividades econamicas. Isso significava, para 0 excomungado, perder os meios de sobreviven-cia, pois nao poderia manter seus la90s comerciais, que dependiam de ul\la forte e intrincada rede de
relayoes familiares, comerciais e bancarias montada pelas diferen-tes comunidades judaicas por toda a Europa e0Oriente. Para sob reviver, Uriel precisava, por-tanto, suspender 0 herem. Para suspende-Io, num caso que dura-ria anos, Uriel foi obrigado a re-tratar-se perante a comunidade reunida na Sinagoga, submeter-se a flagelayao (quarenta vergas-tadas) e a humilhayao publica (seminu, 0corpo coberto de cin-zas, deitado a porta da Sinagoga para ser pisoteado por todos, conforme exigia 0ritual). Deses-perado com 0acontecido, Uriel se suicida algum tempo depois, dei-xando uma obra autobiografica, 0
Exemplo de uma vida humana, na qual expoe e defende suas ideias. Espinosa, desde os 8 anos, acompanha esse tango e tragico episodio.Tem 15anos quando Uriel comete suicfdio.
o
episodio aumenta 0zelo dos rabinos. 0 estudo da filosofia -16gica,fisica e metafisica - 1 3 consi-derado idolatria e blasfemia, instru-mento que obscurece a verdadeira Lei e a autoridade sagrada dos que ensinam a Lei Oral. A filosofia, ele-vando a razao contra a revelayao e a Natureza contra Deus,1 3 contra-ria a fe e aos seus fundamentos.. Em 1654, 0medico Juan de Prado e0poeta Daniel Ribe-ra, ambos ex-marranos espa-nh6is, iniciam seminarios
filosofi-cos em Amsterda. Espinosa fre-quenta 0grupo de estudiosos. 0 portugues Orobio de Castro, ex-marrano e medico, os acusa de heresia, declarando que ensinam uma religiao natural ou racionalis-ta, sem milagres nem revelayao ou profecias, negam que 0 povo judaico seja 0eleito de Deus e
afirmam que Este nao 130 Jeova descrito pela Torah. Juan de Pra-do e Daniel Ribera sao submeti-dos ao herem e foryasubmeti-dos a retra-ta<;ao publica, mas sem que seja cumprido todo0ritual, pois teme-se um episodio teme-semelhante ao de Uriei. Ambos se retratam, mas sao feitas novas denuncias de que prosseguem, as escondidas, os seminarios filosoficos. Em 1656, sao submetidos a novo he-rem e, dessa vez, nao se retra-tam.
E
nesse mesmo ana que 0jovem Espinosa 1 3 enhermado. Ele nao se retrata e abandon a a comunidade judaica.
verno do Povo Eleito. Os cabalis-tas, ao contrario, interpretam as Escrituras Santas como urn con- junto de segredos e misterios es-peculativos sobre Deus, 0 univer-so e 0homem, que, quando deci-frados, faraD com que0mundo se acabe e tudo regresse ao seio da divindade absoluta.
A Cabala espiritual ou mfs-tica distingue a letra e0 espfrito dos textos sagrados, que escon-dem segredos e misterios profun-dos sobre a Cria<;ao do mundo e 0
Reino Espiritual de Deus, Afirma que 0Reino de Deus sera restau-rado no fim dos tempos pelo Mes-sias, cuja vinda, como mestre e re-generador espiritual, suspendera a Lei de Moises e a Lei Oral, da-das aos homens apenas durante o perfodo de espera messianica. Em outras palavras, a Cabala re-cusa aquilo que os talmudistas ensinam: a validade eterna das leis hebraicas. Por conseguinte, um cabalista tende a minimizar 0
poder e a autoridade dos rabinos, presos a letra dos textos sagrados e incapazes de alcan<;ar seu espf-rito profundo e secreto. A essa Ca-bala mfstica corresponde uma ou-tra,
a
Cabalapratica, que, manten-do as ideias da primeira, acredita, porem, num Messias que instituira o Reino de Deus na Terra, Israel. Dois Ifderes da comunidade de Amsterda enfrentam-se nessa disputa: Menasseh ben Israel, um A segunda querela, comodissemos, estabelece-se entre talmudistas e cabalistas, isto 1 3 ,
entre duas maneiras diferentes de interpretar a Torah, ou Palavra de Deus. Os talmudistas interpre-tam as Sagradas Escrituras numa perspectiva jurfdica, legal e ritua-Ifstica, ou seja, como ordenamen-tos e decreordenamen-tos divinos para0
go-dos mestres de Espinosa, perten-ce ao grupo cabalista messianico, e Saul Levi Morteira, dirigente da Academia Arvore da Vida,
perten-ce ao grupo talmudista. Morteira escreve um Tratado sobre a ver-dade da Lei de Moises, defenden-do a posiyao jurfdica, legalista e ri-tualfstica dos rabinos. Menasseh, por seu turno, escreve uma obra messianica e profetica, Esta
e
a esperam;a de Israel, numa inter-preta<;ao salvffica das profecias de Daniel e Isafas.Era, na verdade, um tempo de profetas, profecias, esperas messianicas e esperan<;as mile-naristas. 0 judafsmo 1 3 essencial-mente profetico e messianico. Por sua vez, 0protestantismo, em sua formula<;ao popular, tamMm sempre teve um cunho profetico: ao desfazer a necessidade da media<;ao dos padres para a r,ela-gao do fiel com Deus, os protes-tantes afirmaram que cada um re-cebia 0 Espfrito Santo em seu proprio cora<;ao, e os plebeus ra-dicais, em busca de uma socieda-de igualitaria e justa, sentiam-se espiritualmente iluminados pelo espfrito profetico. Qual 0 tema profetico por excelencia? A vinda do Messias, para os judeus, e a Segunda Vinda de Cristo, para os cristaos. Em ambos os casos, as
proteclas se reteriam ao fim da servldao e da injustir;:ae ao come-'to da fellcidade.
Durante 0seculo XVII, na Inglaterra, a Revolur;ao Inglesa, em seu lado popular radical, era movida pelo milenarismo profetico dos Niveladores e dos Quakers, Inspirado nos profetas Daniel e Isafas, com a promessa do Reino de Deus na Terra, que duraria mil anos de felicidade e de abundan-cia, precedendo a Segunda Vinda .de Cristo para a luta final contra0
Anti-Cristo e 0Juizo Final. No Brasil, inspirando-se tambem nos profetas Daniel e Isaias, 0Padre Vieira
(1608-1697), que almejava Portugal li-vre do jugo espanhol, escrevia a
Hist6ria do futuro
ou
do QuintoImperio de Portugal, esperando a
volta de EI-Rei D. Sebastiao como 0Imperador dos lIltimos
Dias que restauraria a gl6ria de Portugal, e fundaria 0 Reino de Mil Anos, preparando a Segunda Vinda triunfal de Cristo.
Em 1656, vindo das Ameri-cas, chegava a Amsterda 0 viajan-te jUdeu Monviajan-tezinos, afirmando haver encontrado, entre a Peru e a Venezuela, as dez tribos perdi-das de Israel. Esse encontro era tido, segundo a interpretar;:ao ju-daica das profecias de Isaias, como a primeiro sinal da pr6xima vinda do Messias e do retorno dos judeus a Israel.
Enquanto isso, no Oriente, na cidade de Smirna, surgem a profeta Nathan e a messias Sabba-tai Sevi, chamando para0retorno do povo judaico a Terra Prometida. Os Quakers ingleses bus-cam cantata com Menasseh ben Israel em Amsterda, pois, do lado cristao, as profecias do Reino de Deus s6 podem realizar-se ap6s a conversao dos judeus ao cris-tianismo. Pelo mesmo motivo, Vieira dirige-se a Amsterda para encontrar-se com Menasseh (en-contro que vale ao primeiro um processo pela Inquisir;:ao e, ao se-gundo, a desconfianr;:a de toda a comunidade judaica). Par seu tur-no, Menasseh dirige-se a Inglater-ra paInglater-ra suplicar ao rei a reintegInglater-ra- reintegra-r;:aodos judeus e, na Holanda, in-siste para que os membros da co-munidade financiem viagens ao Brasil (as possessaes holandesas, em Pernambuco), duas atitudes que garantirao 0cumprimento das profecias de Isaias, pais0retorno a Israel s6 se fara depois que as jUdeus estiverem "espalhados na
direr;:ao dos quatro ventos". Enquanto isso, milhares de judeus de tad a a Europa e, entre eles, centenas de Amsterda, ven-dem todos os bens e se dirigem a Smirna para reunir-se ao messias, recebendo, no meio da jornada, a noticia de que Sabbatai Sevi rene-gara a judaismo e se convertera ao islamismo.
Em 1656, ao ser expulso de sua comunidade, Espinosa entra em cantata com os cristaos.
o
primeiro grupo cristao com a qual teria mantido relar;:aes e a dos Quakers ingleses, amigos de Menasseh ben Israel. 0 segundo grupo, que viria a ser seu circulo de amigos, e formado pelos "cris-taos sem igreja": alguns deles sao protestantes racionalistas, que conhecera nos seminarios de Juan de Prado, e outros sao mis-ticos milenaristas, que conhecera atraves de Menasseh ben Israel. Milenaristas misticos, com lar;:os que os Iigavam aos milenaristas ingleses, e racionalistas seguido-res da nova filosofia de Descartes, com lar;:osque as ligavam aos ra-cionalistas ingleses da Royal So-ciety (de Ci€mcias), esses cristaos holandeses heterodoxos torna-ram-se conhecidos como as Cole-giantes, porque formavam grupos de estudo (os colegios) para a dis-cussao das Sagradas Escrituras e das novas ideias filos6fico-cientifi-cas. Embora diferentes em suas convicr;:aes, milenaristas misticos e racionalistas conviviam pacifica-mente porque possuiam um trar;:o em comum: a defesa da liberdade de pensamento e da tolerancia re-Iigiosa e polftica. Afirmavam a va-lor da consci€mcia individual au lu zinterior, da Iiberdade de crenr;:a e
de opiniao, da igualdade entre ho-mens e mulheres, da justir;:a entre
as seres humanos, combatendo a tirania polftica, a desigualdade economica e 0fanatismo religioso.
Expulso da comunidade judaica como herege, a jovem
Espinosa penetra no mundo cris-tao pela porta da heterodoxia crista e, a sua volta, formar-se-a um novo grupo colegiante, 0 Cir-culo de Espinosa.
a SECULa DE aURa
HaLANDES
a
apogeu das Sete Provincias do NorteEm 1579, com a Uniao de Utrecht, nascem as Sete Provin-cias do Norte, que depois de longa guerra contra a catolicismo espanhol libertaram-se do juga da Espanha. Oligarquia republi-can a dirigida pelos Regentes (a nova burguesia comercial e fi-nanceira que domina a econo-mia, as magistraturas e as corpo-rar;:aes) e par uma frar;:ao da' an-tiga nobreza feudal (a Casa de Orange-Nassau, cujo chefe mili-tar, Guilherme a Taciturno, foi responsavel pelas vit6rias milita-res contra as espanh6is), as Sete Provincias do Norte consti-tuem uma federar;:ao de cidades e regiaes, organizadas em parla-mentos provinciais - as Estados - dirigidos par um membro eleito entre as pares, 0Pensionario; as