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MARILENA CHAUI - Espinosa - Uma filosofia da liberdade.pdf

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(1)

Es

Espin

pinos

osa

a -

- um

uma

a fi

filos

losof

ofia

ia

da liberdade

da liberdade

Baruch d

Baruch de

e Espino

Espinosa, expuls

sa, expulso

o pelos iu-

pelos

iu-deu

deus

s e

e des

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prezad

zado

o pelo

pelos

s cri

cristo

stoos,

os,

 e e

00

exe

exempl

mplo vivo da

o vivo da lib

liberd

erdade

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ment

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  r

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pr6p

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riaa

existe

existencia. Libertaros seres

ncia. Libertaros seres humano

humanos

s do

do

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 peso de

de suas

suas superstic;:oese

superstic;:oese precon-

precon-ceitos, f

ceitos, faze-Io

aze-Ios compreender

s compreender e aceitar 

e aceitar 

as causas das suas paixoes, convid6-los

as causas das suas paixoes, convid6-los

ao

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exer

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pr6p

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capa

paci-

ci-da

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pensa

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e agir,

r, ei

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s as

prin--cipais metas de Espinosa.

cipais metas de Espinosa.

. A vi

. A vida

da livr

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rvados

dos -

- por isso

por isso

Espin

Espinosa demo

osa demonstra

nstra que a

que a democr

democracia

acia

ee

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mais natural dos regimes politicos.

mais natural dos regimes politicos.

A

A li

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corpo e de nossa alma.

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(2)
(3)

Sumario

Sumario

••• • IIntntrrododucuc;;aoao,6,6  A

 A sinagoga sinagoga ee00temtemplo, plo, 6; Um di6; Um divisvisor or de aguade aguas, s, 88

COOR

COORDENADENAeAo eAo EDITOEDITORIALRIAL Mari

Maria a LuciLucia a de Ade Arrudrruda a AranAranhaha PREP

PREPARAeAARAeAo o DO DO TEXTOTEXTO

Valter  Valter  A. A.  Rodriguos  Rodriguos

REVISAo REVISAo

CUlillMullill CUlillMullill

Marc Marcia ia DelDella Rosala Rosa EDl EDleAo eAo DE ADE ARTERTE

 Ricard  Ricard o o PostacPostac chinichini

oo

CAPA

CAPA lIustra

lIustrac;ao c;ao bas88da bas88da em auto·em auto·retratoretrato de

de EspinosaEspinosa.. nono  qu  qual al eleele SS88representarepresenta com

como o MasMasanieaniello. llo. urn urn pescpescador ador que /idque /iderouerou

aa(8vo(8voluflufao ao popupopular lar de Nde Napolapoleses PEsaU

PEsaUISA ISA ICONICONOGRAOGRAFICAFICA Mat

Mati/eni/ena a ChauChau;; TRATA

TRATAMENTO MENTO DE DE IMAGEIMAGENSNS

 Ademir  Ademir F. F. BaptistaBaptista

Marcos Marcos A.A.  Affiant  Affiant

DlAGRAMAeAo DlAGRAMAeAo Claudiner  Claudiner   Correa  Correa  Filho  Filho

SAfDA SAfDA DE FILDE FILMESMES Edmundo Edmundo C.C.  Canado  Canado Hel

Helio io P.P. de de  S  Souza ouza FilhoFilho COO

COORDERDENAeNAeAo Ao DO DO PCPPCP Fer

Fernandnando o DaltDalto o DegaDegann

IMI'IlESSAOE ACAIIAMENTO IMI'IlESSAOE ACAIIAMENTO narUra

narUra  Grtijlca  Grtijlca  e I:'tlitora  e I:'tlitora  Utili.  Utili.

Ch:lUl.

Ch:lUl.   Marilcna  Marilcna   lie SUUlU  lie SUUlU

l:~rilllt!\;1;

l:~rilllt!\;1; WilliWilli  filnsul';.  filnsul';.  till  till  Iilll'nlatic ,  Iilll'nlatic , Marikll'. Marikll'. ('h

('hllui. llui. SSl\lll'lllllul\lll'lllllu::Ml"kllm.ll"'~.Ml"kllm.ll"'~.    IC·uh'\'lll.IIII'.1l\1IC·uh'\'lll.IIII'.1l\1

1. Filo

1. Filosolia solia holaholandcsndcsa a 2. Po2. PoJillcu Jillcu ). Rucio). Rucionalisnalismomo 4. Ral,aU 5. Spino/.a,

4. Ral,aU 5. Spino/.a, Bcncdklusdc,IBcncdklusdc,I6J2-1617-

6J2-1617-Crfti

Crftica c ca c inll'rinll'rprctmprctm;:lu ;:lu I.I. Tltulu. Tltulu. II. II. S~rjc.S~rjc.

Es

Espinpinososa a e e seseu teu tempmpo, o, 1414  A

 A comunidade comunidade judaica judaica de de Amsterda, Amsterda, 14; 14; 0 0 Seculo Seculo de de O!JroO!Jro hola

holandendes, s, 23; 0 cfrcu23; 0 cfrculo lo de Espde Espinoinosa, sa, 29; Cr29; Cronolonologiaogia, , 3232

Co

Contntra ra a sa supupererststicic;a;ao o e a e a seservrvidaidao, o, 3434 Racion

Racionalismo alismo absoluabsoluto, to, 34; Da imagem34; Da imagem

 a a

  ideia de Deus, 43;  ideia de Deus, 43; Liberda

Liberdade de e fe felicidadelicidade, e, 5252

 A

 A polltica, polltica, 7373 Dir

Direiteito o natnaturaural l e ese estadtado o de Natude Naturezreza, a, 73; Dire73; Direito ito civicivil l e Es-e Es-tad

tado o civicivil, 75; Os l, 75; Os regregimeimes s polfpolfticticos, os, 76; A dom76; A dominainagao gao dosdos esp

espfrifritos tos e a le a liberiberdade dade pollpolltictica, a, 7777 Con

Concluclusaosao: : EspEspinoinosa, sa, nosnosso so concontemtemporporaneaneo,o,

80

80

""

tndlc:olparac:at8logollslemAtlc:o:

tndlc:olparac:at8logollslemAtlc:o:

Parte

Parte II

II ANTOLO

ANTOLOGIA

GIA

II..ll''iill"",,,,,,lliiaahh,,,,llaannddmm 11''))''))..44''))22 ••

EDITOR

EDITORA A MODERMODERNA NA LTDA.LTDA. J{uaPadrl

J{uaPadrl' ' AddAddino, ino, 7'iH- Bl'k'nzi7'iH- Bl'k'nzinhonho S,io Paulo

S,io Paulo - Sp - IIrasil - CEP- Sp - IIrasil - CEP OjjO:\_I)O-\ OjjO:\_I)O-\ V""da

V""das,, s,, At""dAt""dim,,mim,,mo:o: Td.Td.  <0__ 11)  <0__ 11)  (]Ol)I)-1 '00  (]Ol)I)-1 '00 Fax <0__ 1]) 6090-1 '01 Fax <0__ 1]) 6090-1 '01 www.l1lcKlerll;t.nml.1ll" www.l1lcKlerll;t.nml.1ll" LIIOI LIIOI 11Il1,rtts.WI 110 IJrtlsi! 11Il1,rtts.WI 110 IJrtlsi!

o

o

memetotododo, , 8585 1. 0 caminh

1. 0 caminho o refreflexilexivo: vo: autautocooconhenhecimcimentento o do intdo intelecelectoto e de sua

e de suas forgass forgas, , 85; 2. 0 85; 2. 0 metmetodo odo refreflexlexivoivo: : a idea ideia ver-ia ver-dad

dadeiraeira, , fndfndice de si mesice de si mesma, ma, comcomo o ponponto to de parde partidtida a dodo metodo,86

(4)

•••

D

De

eu

uss,

, 8

88

8

3.

3. A ima

A imagin

ginaya

ayao

o fin

finali

alist

sta

a e a imag

e a imagem

em de Deus

de Deus com

como

o

mon

monarca

arca do univ

do universo

erso, , 88; 4. A p

88; 4. A poten

otencia

cia de Deus

de Deus nao

nao

 e e

sena

senao

o a liv

a livre neces

re necessida

sidade

de de Sua ess

de Sua essenci

encia,

a, 90

90

•••

A

As

s p

pa

aiixxo

oe

ess, 9

, 90

0

5.

5. A ori

A origem

gem e a nat

e a nature

ureza

za das pai

das paix6e

x6es:

s: os afe

os afetos

tos sac

sac

natu

naturais

rais aos se

aos seres humano

res humanos,

s, 90

90

•••

A

A p

po

ollllttiicca

a,

, 9

98

8

9. Por que empreen

9. Por que empreender

der a interp

a interpreta

retayao

yao hist

historic

orico-cr

o-critic

itica

a

da

das

s Sag

Sagrad

radas

as Es

Escri

critur

turas

as,

, 98; 10. Por qu

98; 10. Por que

e lei

leis

s so

sobre

bre a

a

opin

opiniao

iao sao inute

sao inuteis

is e per

e perigos

igosas

as para a v

para a vida politic

ida politica,

a, 100;

100;

11.

11. A

A Iibe

Iiberdad

rdade

e de pensam

de pensamento

ento e de express

e de expressao

ao

ee

es-

es-sen

sencia

cial l par

para

a a seg

a segura

uranya

nya e a paz

e a paz pol

politi

iticas

cas,

, 101

101;

; 12.

12. 0

 0

mora

moralism

lismo

o torn

torna

a os fil

os filoso

osofos

fos inep

ineptos em

tos em poll

polltica

tica, , 103

103

Gos

Gosto to de verde ver-te-te, , gragrave ve e soe solitlitariario,o, Sob

Sob 00funfundo do de esqde esqualualida ida cancandeideia,a, Nas maos

Nas maos a a ferferramramententa a de opede operarrario,io, Na c

Na cabeabeya ya a a corcoruscuscantante e ideideia.ia. E

E enquaenquanlonlo 00penpensamsamenlenlo o deldelineineiaia Uma

Uma filosofilosofia,fia, 00pao pao diaridiarioo  A

 A tua tua mao mao a a labutar labutar granjeia granjeia .. E ach

E achas as na independna independ€mCia€mCia 00leu leu salarsalario.io. Soe

Soem m ca foca fora agitara agitayoeyoes s e lue lutastas,, Sibila

Sibila 00bafbafo o aspasperrierrimo mo do invdo invernerno,o, Tu tra

Tu trabalbalhashas, , tu petu pensansas, s, tu extu execuecutastas S6b

S6briorio, , tratranqunquiloilo, , desdesvelvelado ado e e terterno,no,  A

 A lei lei comum, comum, e e morres morres e e transmutastransmutas

o

o

suasuado do lablabor or em premem premio io eteeternorno..

•••

A

A e

ettiicca

a,

, 9

92

2

6. Pe

6. Perfe

rfeiy

iyao,

ao, imp

imperf

erfeiy

eiyao

ao,

, bo

bom

m e mau

e mau:

: mo

modos

dos de ima

de

ima--gin

ginar

ar e de pens

e de pensar,

ar, 92

92;

; 7. R

7. Raza

azao

o e Iib

e Iiberd

erdade

ade:

: a alm

a alma

a

inte

interpre

rpreta

ta seus afe

seus afetos e os e

tos e os encad

ncadeia

eia inte

interior

riorment

mente,

e, 94;

94;

8. A fel

8. A felici

icidad

dade

e nao

nao

ee

00

pre

premi

mio

o da vir

da virtud

tude,

e, mas a

mas a pro

pro--pria vi

pria virtud

rtude,

e, 97

97

Las tr

Las traslasluciucidas das manmanos os del del judjudioio Lab

Labran ran en la pen la penuenumbrmbra a los clos crisristaltaleses Y la t

Y la tararde de quque e mumuerere e es mies miededo o y fry frioio (La

(Las tardes tardes s alaalas s tartardes des son igson igualuales)es).. Las man os y el espa

Las man os y el espacio cio de jacde jacintintoo Que palid

Que palidece ece en el cen el contontin in del ghedel ghettotto En sf n

En sf no exio existesten n parpara a el hoel hombrmbre e quiquietoeto Que esta sofia

Que esta sofiando ndo un clun claro aro lablaberierintonto.. Ni 10tur

Ni 10turba ba la glla glorioria, a, ese reflejese reflejo·o· De esp

De espejo ejo en el suen el suefiefio o de otrde otro o espespejoejo,, Ni el tene

Ni el tenebrobroso so am oam or de r de las donclas doncellellas.as. Lib

Libre re de de la metMla metMoraora yy  del mito,  del mito, Lab

Labra ra un ardun arduo uo cricristastal: l: el inel infinfinitoito Map

Mapa a de Aqude Aquel el que es todas que es todas sus estresus estrellallas.s.

••

••

Q

Qu

ues

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o, 1 0

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So

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, 1

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(5)

•••

IIn t

n tr o

r od u

d uc ;

c ;aaoo

No dia 27 de jul

No dia 27 de julho ho de de 1651656,6, a As

a Assemsemblebleia ia de ancde anciaoiaos s da co-da co-mun

munidaidade de judjudaicaica a de Amde Amstesterdarda prom

promulga ulga a excoa excomunhmunhaoao  (herem,  (herem,

em hebr

em hebraicaico) o) do jodo jovevem m BaBaruruchch

de

de

  Esp  Espinoinosa, sa, com as com as segseguinuintestes palavras*:

palavras*: "a

"as s SSSSreres. s. do Mahado Mahamamadd fazem saber a V[oss

fazem saber a V[ossas] as] M[erM[erce]sce]s como ha diaz q[ue] tendo como ha diaz q[ue] tendo noticnoticiasias das mas opin

das mas opinioinioins s e obre obras as de Ba-de Ba-ruch de E

ruch de Espinospinoza za procuprocurarao rarao p[or]p[or] dlffer

dlfferentes entes camicaminhos nhos e pre promesomesasas retlra

retlral-o l-o de seus maos de seus maos camicaminhosnhos

1 3

1 3nao podnao podendo endo remeremedial-adial-a, , anttesanttes pa

palo lo cocontntrararirio, o, tetendndo o cacad d a diaa dia may

mayoreores s notnoticiicias as das das horhorrenrendasdas horegi

horegias as que practique practicava cava e ene ensina- sina-va

va € I€ I  yn  ynormes ormes obras q[ue] obras q[ue] obravobrava,a, tondo disto

tondo disto muintmuintas as testetestemunhamunhass fld

fldedledlgnagnas s que depque depugeugerao rao e te tes-

es-temun

temunharao harao tudo em tudo em prezeprezensa nsa dodo dit

dito o EspEspinoinoza, za, do q[uedo q[ue] ] ficficou ou con con--ven

vensidsido; o; a qual a qual tudtudo o exaexaminminaraaraoo em preze

em prezensa nsa dos SSrsdos SSrs. . HahamHahamin,in, del

delibeiberarrarao ao com seu parecom seu pare~er ~er queque ditto Espinoz

ditto Espinoza a seja enhermseja enhermadoado € I€ I ap

aparartatado do da na~da na~am am de Ysde Ysraraelel como

como actuaactualmentlmentee 00poipoin n em he-em he-rem, com

rem, com 00herherem em segseguinuinte: te: ConCon se

sentntenensa sa dodos s AnAnjojos, s, cocom m didittttoo dos

dos SanSantostos, , nos emhenos emhermarmamosmos,, apa

apartartamos mos e mae maldildisoasoamomos s e pre pra- a-guejam

guejamos os a Baa Baruch de ruch de EspinEspinoza,oza, com

com 00coconsnsenentitimementnto o dedel l DiDioo Bendit

Benditto to e e consconsentimentimento ento de tode tododo est

este e K[aK[ahalhal] ] K[aK[adosdos], ], diadiante nte dosdos Sa

Santntos os SeSephphararinin, , esestetes s cacan n asas sei

seis centos centos s e tre treze eze prepreceiceitos tos queque est

estan an escescritrittos tos nelnellesles, , can a he-can a he-rem

rem que emhque emhereeremou mou JehJehosuosuah ah aa Ye

Yeririchcho, o, cacan a man a maldldisissasao o ququee ma

maldldisisse se ElElisisah ah aoaos s MoMossssos os ee can tod

can todas as as maas maldildisoisoins ns que es-que

es-ta6 esc

ta6 escrittas rittas na Ley. Malditna Ley. Malditto to sejaseja de dia e

de dia e mamaldldititto to seseja ja de noutde noute,e, mal

malditditto to sejseja a seu levaseu levantantar r e mal-e mal-ditto sej

ditto seja seu deytaa seu deytar, r, maldimalditto tto elleelle em seu sayr e maldit

em seu sayr e malditto to elle en seuelle en seu entra

entrar. r. N§.o N§.o quererquerera a A[donA[donai] ai] per- per-doar a ell

doar a elle que e que entoncentonces es fumeafumearara a fu

a furoror r de A[dde A[dononaiai] ] e see seu u zezelllloo ne

nesssse e h6h6memen n e ye yazazererananelelle le to to--das as ma

das as maldisldisoinoins s as esas escricrittattas s nono lib

libra ra de de esesta ta LeLey y e arree arrememetatarara  Adonai

 Adonai a a seu seu nome nome debaxo debaxo dosdos ceo

ceos s e ape apartartaloaloa a AdoAdonai nai parpara a malmal de toda

de todas s as trias tribos bos de Ysrde Ysrael ael concon to

todadas s as malas maldidissssoioins ns do firdo firma ma--men

menta ta as esas escricrittattas s no libno libro da Leyro da Ley es

estata. . E vE vas as as apas apegegadados os cocomm  A[donai]

 A[donai] voso voso D[eus], D[eus], vivos vivos todostodos vas oj

vas oje. Advie. Advitindtindo o que ningeque ningem m IheIhe pode

pode fallar bocfallar bocalmenalmente, te, nem p[nem p[or]or]

• 0

• 0 tetextxto o dodo  herem  herem  est  esta a redredigiigido do numnuma a mesmesda da arcarcaicaica a de porde portugtugues ues e ese espa- pa-nhol que

nhol que Irla tomIrla tomar-sear-se 00idiidioma oma falfalado ado pelpelos judeuos judeus s sefsefaraaradis dis da Peninda Peninsulsulaa Ibarlca,

Ibarlca, 00ladinoladino   (h  (hoje faladoje falado o pelas comupelas comunidadenidades s sefarsefaradis adis da Grda Grecia, Turquia,ecia, Turquia, Nort

Norte e da Africda Africa a e Ise Israel). rael). No secNo seculo ulo XVII, epoca XVII, epoca de redaQao dode redaQao do  herem  herem  de Espi-  de Espi-nosa,

nosa, 00ladladino ainda ino ainda nao estnao esta a padpadronronizaizado, do, motmotivo ivo pelpelo o quaqual varial variam m a gra grafiafia a ee Gcont

Gcontuayauayao o de uma mesma de uma mesma palavpalavra.ra.

EE

  ass  assim im que, por exemplque, por exemplo, o, a palaa palavra vra "mal "mal--dlQOo

dlQOos" s" apareaparece ce grafagrafada da "mal"maldisoidisoins/mns/maldisaldissoinssoins", ", a paa palavra "naQao" vem es-lavra "naQao" vem es-crl

crlts ts "na"naQanQan/na/naQamQam" " etcetc. . 0 0 pr6pr6priprio o nomnome e de Espinde Espinosa osa e grae grafadfado o de manede maneirairass dlvor

dlvorsas sas nos nos variovarios documents documentos os oficoficiais da comiais da comunidadunidade, e, durandurantete 00secuseculo lo XVIIXVII,, aparec

aparecendo endo ora ora como "de Escomo "de Espinozpinoza", a", ora ora como "de Espcomo "de Espinosainosa", ", "Spino"Spinosa", sa", "Es- "Es-pinos

pinosa". a". Em suaEm suas obras, s obras, escriescritas tas em latem latim,im, 00fil6sfil6sofo assinava "Benedicofo assinava "Benedictus tus dede Splno

Splnoza" za" ee

 e e

  des  dessa sa manmaneireira a que seu nome que seu nome apaaparecrece e nos sonnos sonetoetos s de Machde Machadoado do Ass

do Assls ls e Borge Borges. es. A convA convenQao atual, enQao atual, para a lingpara a lingua ua portuportuguesaguesa, , e "Ee "Espinospinosa",sa", o sor

o sora adotada a adotada por n6s neste livro.por n6s neste livro.

 As

 As quesloes quesloes religiosas religiosas e e leol6gicasleol6gicas per

perpaspassam sam as as disdiscuscussoesoes s filfilos6os6ficficas as ee polft

polfticas icas do secudo seculo lo XVII.XVII.

escr

escritto, itto, nen darnen darlhe lhe nenhunenhun n favorfavor,, ne

nen n dedebabaixixo o de tede tectcto o cocom m elellele,, nen ju

nen junto nto de cuade cuatro tro covcovadoados, s, nennen le

leer papeer papel l fefeitito o au escau escriritttto o papar r  elle".

elle".  Not  Notta ta do Herdo Herem em que Se Pu-que Se Pu-bli

blicou da cou da TheTheba ba enen66de Ab de Ab con

con--tra B

tra Baruaruch ch de Espide Espinoznoza, a, LlBLlBRORO

DO

DOS S ACACCOCORDRDOS OS DA NADA NAyAyAN,N,

anno

anno 5398-55398-5440."440."

Bar

Baruch uch de Espide Espinosnosa a tintinha,ha, na apoc

na apoca a desdessa sa propromulmulgaggagao,ao, 24 anos.

24 anos. Em 1670

Em 1670, , aos 37 anosaos 37 anos, , Es- Es-pinos

pinosa a publicpublicaa 00TratadTratado o teo/6gteo/6gi- i-co-polftico,

co-polftico, imimprpresesssa a sesem am a

no

nome me do autdo autoror, , e em cuja e em cuja ababer er--tura

tura lemoslemos::

"Se, em todas

"Se, em todas as ciras circuns cuns--tan

tanciacias, s, os hoos homenmens s pudpudessessemem dec

decidir idir com segucom seguranranc;ac;a, , au se aau se a sor

sorte te IheIhes fosss fosse e semsempre pre favfavora ora--vel

vel, jama, jamais is serseriam iam vitvitimaimas s da su-da su-per

perstistic;ac;ao. o. MaMas s comcomo o se enconse encon--tram freq

tram freqQenteQentemente mente peranperante te taistais dif

dificuiculdaldades des que que nao sabemnao sabem, que, que dec

decisaisao o haohao-de -de tomtomar, ar, e coe como mo asas inc

incertertos os benbeneffeffciocios s da sorda sorte te queque de

desesenfnfrereadadamamenente te cobi~cobi~am am asas faz

fazem em oscoscilailar, r, a maia maiorioria a das ve-das ve-zes, entre

zes, entre a espea esperanc;ranc;a a e a medoe a medo,, estao sempr

estao sempre e prontoprontos s a aca acreditreditar ar  sej

seja a no quno que for e for (...) A q(...) A que ponto ue ponto aa me

medo do enensasandndecece e as homas homenens! s! aa med

medo o e a caue a causa sa que originque origina, a, con con--ser

serva va e alime alimententa a a supa superserstictic;ao;ao (..

(...) Nao .) Nao ha nadha nada a mamais is efeficicaz az dodo que a 's

(6)

as multidoes. Por isso e que

as multidoes. Por isso e que

es-tas sac

tas sac leva

levadas, s

das, sob a

ob a capa de

capa de

religiao, ora a adorar os

religiao, ora a adorar os

gover-nantes como se fossem deuses,

nantes como se fossem deuses,

ora a execra-Ios e a detesta-Ios

ora a execra-Ios e a detesta-Ios

como se fossem uma peste para

como se fossem uma peste para

todo

todo

00

  ge

  genero humano

nero humano. . Foi, de

Foi, de

rest

resto,

o, para preveni

para prevenir

r este perigo

este perigo

.. que houv

que houve sempre

e sempre

00

cuidado de

cuidado de

rodear a religiao,

rodear a religiao, fosse ela verda-

fosse ela

verda-deira ou falsa, de culto e aparato,

deira ou falsa, de culto e aparato,

de modo a que se revestisse da

de modo a que se revestisse da

maior gravidade e fosse

maior gravidade e fosse escrupu-

escrupu-losamente obedecida por todos".

losamente obedecida por todos".

Se, em

Se, em

  1656,  1656,

  os

  os rabi

rabinos

nos

expulsaram Espinosa da

expulsaram Espinosa da

Sinago-ga, em

ga, em

  1674  1674

  os pastores protes-

  os pastores

protes-tan

tantes

tes exi

exigir

giram

am que ele

que ele fos

fosse

se

condenado pelos cristaos.

condenado pelos cristaos.

EE

as-

as-sim que, a

sim que, a

1919

  de julho de

  de julho de

  1674,  1674,

trazendo

trazendo

00

brasao e as armas de

brasao e as armas de

Guil

Guilherm

herme

e de Orange III, os

de Orange III, os Es-

Es-tados Gera

tados Gerais

is da Hola

da Holanda

nda,

, so

sob

b

orientayao e exigelnciado Sinodo

orientayao e exigelnciado Sinodo

calv

calvinis

inista,

ta, prom

promulga

ulgam

m urn Mito

urn Mito

proibindo a impressao e

proibindo a impressao e

divulga-yao do

yao do

 Tratado  Tratado teo/6gicteo/6gico-po/ftio-po/ftico,co,

 ja

 ja condenado na Alemanha:

condenado na Alemanha:

"Pa

"Para

ra pre

preven

venir

ir con

contra

tra

oste

oste veneno

veneno pernicioso

pernicioso e im

e impedir,

pedir,

na medid

na medida

a do possl

do posslvel,

vel, que al-

que

al-guem possa ser por ele induzido

guem possa ser por ele induzido

no orro, julgam

no orro, julgamos

os noss

nosso

o deve

dever 

doc\

doc\arar

arar esseIivro

esseIivro de acord

de acordo com

o com

()quo foi

()quo foi desc

descrito

rito e reputa-

e reputa-Io

Io blas

blas--lom

lomnt6

nt6rio

rio e pe

e perni

rnici

cioso

oso par

para

a a

a

ulrnu, cheio de teses infundadas

ulrnu, cheio de teses infundadas

e perigosa

e perigosas

s e de

e de abom

abominay

inayoes

oes

em detrimento da verdadeira

em detrimento da verdadeira

reli-giao

giao. . Como con

Como consequ

sequenci

encia,

a, por 

por 

este

este ordenamento

ordenamento, interditamos a

, interditamos a

todos e a cada urn

todos e a cada urn imprimir, divul-

imprimir,

divul-gar ou

gar ou ven

vender tal

der tal liv

livro

ro e outro

e outross

que Ihe sejam semelhantes, sob

que Ihe sejam semelhantes, sob

pena de castigos previstos pelos

pena de castigos previstos pelos

editos do pais".

editos do pais".

bes

bes -,

-, cujas obras

cujas obras tambem

tambem foram

foram

con

conden

denad

adas

as com

como

o per

perigo

igosa

sass

para a ordem esta

para a ordem estabele

belecida

cida, , Es-

Es-pinosa nao foi execrado apenas

pinosa nao foi execrado apenas

por autoridades polfticas e

por autoridades polfticas e

ecle-sias

siastica

ticas, e sim tam

s, e sim tambem

bem pelo

peloss

pr6prios fil6sofos e cientistas de

pr6prios fil6sofos e cientistas de

seu tempo?

seu tempo?

Poucos pensadores foram

Poucos pensadores foram

tao odiad

tao odiados quanta ele.

os quanta ele. No

No enta

entan-

n-to, poucos tambem tern sido tao

to, poucos tambem tern sido tao

admirados e amados quanta ele.

admirados e amados quanta ele.

Que ha em seu pensamento para

Que ha em seu pensamento para

que ninguem se sinta indiferente

que ninguem se sinta indiferente

ao le-Io? Por que, ao ser Iida a

ao le-Io? Por que, ao ser Iida a

obra,

obra,

00

  homem Espinosa se faz

  homem Espinosa se faz

tao presente e suscita

tao presente e suscita

sentimen-tos e ideias tao contrarios?

tos e ideias tao contrarios?

Dura

Durante

nte os secul

os seculos

os XVII,

XVII,

XVIII e XIX, Espinosa foi aquele

XVIII e XIX, Espinosa foi aquele

de quem nao

de quem nao se dev

se devia fala

ia falar

r ou

ou

aque

aquele

le que devia

que devia ser ataca

ser atacado,

do,

mesmo e sobretudo sem que sua

mesmo e sobretudo sem que sua

obra fosse Iida. "Espinosismo" e

obra fosse Iida. "Espinosismo" e

"esp

"espinos

inosista

ista"

" torn

tornaram

aram-se

-se pala

pala--vras acusat6rias. No entanto, ao

vras acusat6rias. No entanto, ao

mesmo tempo, sua obra

mesmo tempo, sua obra

naOces-sou de exercer uma atrayao

sou de exercer uma atrayao

insu-peravel, como se por ela

peravel, como se por ela

passas-se a decisao fundamental da

se a decisao fundamental da

filo-sof

sofia

ia mod

modern

erna.

a. Atr

Atraya

ayao

o de tal

de tal

modo f

modo forte que, a urn

orte que, a urn jove

jovem

m dis-

dis-clpulo que

clpulo que comeyaraa

comeyaraa ler a

ler a

 Etica Etica

e fora

e fora tor

tornad

nado

o de duvid

de duvidas,

as, seu

seu

mestre,

mestre,

00

 te6

 te610go Padre

10go Padre Male

Male--branche

branche

  (1638-1715),  (1638-1715),

  recomen-

 

recomen-dava que nao a lesse porque "e

dava que nao a lesse porque "e

maqu

maquina

ina infe

infernal

rnal"

" e aquele

e aquele que

que

nela penet

nela penetra

ra e sequest

e sequestrado

rado por 

por 

Em

Em

  1678,  1678,

  urn ana ap6s a

  urn ana ap6s a

morte de Espinosa, urn novo

morte de Espinosa, urn novo

edi-to do governo da Holanda prolbe

to do governo da Holanda prolbe

a divulgayao de sua obra

a divulgayao de sua obra

p6stu-ma, public

ma, publicada

ada por seus

por seus amig

amigos

os

Jarig Jelles e Luiz Meijer.

Jarig Jelles e Luiz Meijer.

 Afinal,

 Afinal,

00

que dissera 0 jo-

que dissera 0

jo-vem Esp

vem Espino

inosa -

sa - em

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  16  1656 56 -,-, 00

que escrevera

que escrevera

00

  f

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6sof

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o -

- em

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1670

-1670 -

e

e

 0 0

que deixara escrito -

que deixara escrito

-em

em

  1678 -  1678 -

  para qu·efosse expul-

  para qu·efosse

expul-so da comunidade judaica e

so da comunidade judaica e

con-dena

denado

do pela

pelas

s auto

autorida

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des cris

cris--tas

tas?

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Que

e se pass

se passa

a no sec

no seculo

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XVII para

XVII para que seu

que seu pens

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seja considerado como veneno,

seja considerado como veneno,

bla

blasfe

sfemi

mia

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e abomi

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ao? Por 

Por 

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que alguns

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te de "nova

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Sata" e que seu nome,

Sata" e que seu nome,

Benedic-tus, em latim, deveria ser

tus, em latim, deveria ser

muda-do para Maledictus?

do para Maledictus? Sobretudo,

Sobretudo,

porq

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ue, dife

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se

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-como Galil

como Galileu,

eu, Desc

Descarte

artes

s e

e Hob-

Hob- A

 A concepc;:ao concepc;:ao da da imanencia imanencia entre entre Deus Deus ee a Na

a Naturtureza eza levleva a uma a a uma novnova a ideideia ia dada fel

feliciicidaddade e e de da liba liberdaerdade, de, ineineditdita a nono pensam

pensamento ento modernomoderno..

suas engrenagens, nao podendo

suas engrenagens, nao podendo

nunca mais Iibertar-se dela.

nunca mais Iibertar-se dela.

Atra-yaOtao poderosa que, no seculo

yaOtao poderosa que, no seculo

XIX,

XIX,

00

fil6

fil6sofo

sofo Hegel dira que a .

Hegel dira que a .

mode

modernida

rnidade

de filo

filos6fi

s6fica

ca come

comeya

ya

com Espinosa e que sem ele

com Espinosa e que sem ele

ne-nhuma filosofia e posslve!.

nhuma filosofia e posslve!.

 A

 A inovayao

inovayao espinosan

espinosana

a

apare

aparece

ce num conjunt

num conjunto

o de teses

de teses

que serao minucio

que serao minuciosame

samente

nte de-

de-mons

monstrad

tradas

as pelo fil

pelo filosof

osofo.

o. Que

Que

demonstra ele?

demonstra ele?

1.

1.

Que Deus e a Natureza

Que Deus e a Natureza

sac uma s6

sac uma s6 e

e mes

mesma cois

ma coisa

a

--Deus sive

Deus sive NaturaNatura

  ("Deus,

  ("Deus, ou

ou seja,

seja,

a Natureza").

a Natureza").

2. E, port

2. E, portant

anto,

o, que

que Deu

Deuss

nao e

(7)

do onlandlmonlo on/se/onto nem do vontado onlpolonle, nao age lando om vista tin s   mlsteriosos e nao 6, como crO a Imaginaeao su-parlllclosa, uma Pessoa Trans-oondente, Monarca do Universo e Julz do homem.

3. Que 0  horn em e livre

nlo porque seria dotado de livre-arbltrlo para escolher entre alter-natlvas 19ualmente possiveis, mas por ser uma parte da Natu-raza dlvlna, dotado de forea in-lama para pensar e agir por si masmo.

4. Que a religiao e um im-pulso natural para dar sentido ao mundo e a vida humana, servin-do de consolaeao para a alma dos devotos e reduzindo-se a dais preceitos universais muito simples: crer na eXi~.tEmciade urn Deus born e justo; amar a Deus e ao pr6ximo. Par esse motivo, a verdadeira religiao e uma relaeao esplritual entre a consciencia in-dividual e a divindade, dispensan-do 0aparato de igrejas, cerima-n/as e teologlas.

5. Que 0poder politico nao nasce de urn contrato social das vontades individuais, mas da for-c;:acoletiva da massa reunida num s6 ate de decisao pelo qual insti-tui a si mesma como  sujeito

polfti-co

detentor do poder; que esse poder e civil, nao devendo jamais subordinar-se ao poderio religio-so-teol6gico, sob pena de

trans-formar-se em tirania sobre os cor-pos e as espiritos.

6. Que, portanto, a teologia difere da politica e difere tambem da filosofia. Esta ultima e um sa-ber Iivremente buscado pela razao humana, enquanto aquela forja misterios revelados por Deus que nao poderiam ser conhecidos por  nosso entendimento. Em outras palavras, a teologia e uma ausen-cia de saber verdadeiro que pre-tende conseguir a obediencia e submissao das consciE'mcias a dogmas indemonstraveis, sendo por isso mesmo urn poder tiranico e·nao urn conhecimento.

No seculo XVII, Iida como a mais perniciosa forma de ateis-mo par afirmar a identidade entre Deus e Natureza, foi considerada fatalista porque demonstra que a realidade e regida par leis univer-sais, necessarias, imutaveis e eternas, as quais os seres huma-nos tambem se encontram sub-metidos, pais a noc;:aode Iivre-ar-bitrio

1 3

  ilusoria, sinal de nossa ig-norancia quanta as causas ne-cessarias que determinam nos-sas aeaes, ideias e desejos. Hor-rorizados, as leitores cristaos de-clararam que a obra espinosana retira a liberdade de Deus (pois Este se confundiria com as leis necessarias da Natureza) e a res-ponsabilidade do homem (pois este simplesmente seguiria 0 cur-so necessario das leis naturais). No primeiro caso, teriam desapa-reeido as ideias de Providencia divina e de milagre; no segundo, as de recompensa e castigo numa vida futura.

No seculo XVIII, porem, a afirmac;:ao de Espinosa "Deus ou Natureza" leva a interpretar e a valorizar sua obra como primeira doutrina sistematica do deismo, ou religiao natural, defendida pelo racionalismo da lIustracao. Para os deistas, Deus

1 3

  a forca racio-nal e necessaria que rege a reali-dade segundo leis inteligiveis, co-nhecidas pela filosofia e pela eiE'meia,dispensando os misterios Com essas teses, a

filoso-fia de Espinosa se apresenta como um divisor de aguas entre a Iiberdade (de pensamento, de ex-pressao e deaCao) e a servidao (etica, politica e teologica). Nisso reside seu enorme perigo para as ideias vi gentes e os poderes es-tabe/ecidos.

Por abalar poderes e pen-samentos instituidos, a obra espi-nosana foi Iida, no correr dos tres ultimos seculos, de uma maneira que a fez parecer contraditoria em si mesma, quando, na realida-de, contradiz 0estabelecido. Par  essa razao, tem sido interpretada de formas tao variadas que pare-ce impossivel capta-Ia como filo-sofia coerente au dotada de algu-ma identidade.

teol6gicos e religiosos. Sob esse ponto de vista, Espinosa surgia como precursor da verdadeira ra-cionalidade moderna.

 A partir do Romantismo, no entanto, 0secuJo XIX considerou Espinosa, nas palavras do poeta Novalis, "0homem embriagado de Deus" e sua obra, a forma mais profunda do misticismo pan-teista, porque, identificando Deus e Natureza, prometeria a felicida-de do sabio como fusao felicida-de nossa alma no seio do absoluto divino. Espinosa nao seria um naturalis-ta, como pretendera a Ifustrac;:ao, mas um espiritualista, e 0 maior  de todos. Simultaneamente, po-rem, a filosofia do Idealismo ale-mao conservou a interpretac;:ao da obra tal como fora feita no se-culo XVII: 0espinosismo seria urn

ateismo fatalista que torna impos-sivel tanto a Iiberdade e onipoten-cia misericordiosa de Deus quan-to 0Iivre-arbitrio do homem. Es-pinosa seria urn naturalista e sua obra, um "frio materialismo".

Eis por que, em nosso se-culo, a obra espinosana, interpre-tada de inumeras maneiras, foi, na maioria das vezes, considerada incoerente e contraditoria, carre-gando em seu interior restos de fi-losofias opostas, isto e, restos de espiritualismo mistico e de natura-Iismo materialista. Fundamental-mente, tem sido considerada in-consistente porque pretenderia

(8)

 A. M. C.

BIBLIOTECA

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C O O I G O E X E M P L A R C 6 0 lG O A C E R V O

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51-

 if,

2

-conciliar duas perspectivas incon-clllaveis: a de uma filosofia da Na-tureza, na qual esta

e

  entendida como sistema da necessidade ab-soluta, e como filosofia etica base-ada na plena Iiberdade humana, reunindo, assim, duas ideias que se excluiriam reciprocamente, a de necessidade (das leis da Natu-reza) e a de Iiberdade (como es-colha entre varias alternativas pos-siveis). Por que inconciliaveis? Porque, dizem os intarpretes, se tudo segue leis necessarias, nada ha no mundo que possa ser tido como meramente possivel, e sem a idaia de possibilidade nao pode haver a Iiberdade.

Todavia, se nos acercar-mos da filosofia espinosana sem idaias pra-concebidas, descobri-remos por que, afinal, Espinosa foi excluido da comunidade

judai-I

I

I

,

!

I

12

ca, da sociedade crista e da reo publica dos sabios "coerentes".

Sua obra faz desabar os pHares que sustentam a supersti-9ao religiosa, a tirania politica e a servidao etica. Ao faze-Io, poe em questao as imagens tradicionais de Deus, da Natureza, do homem eda politica que serviam de fun-damento

a

  religiao,

a

  teologia,

a

metafisica e aos valores atico-po-Iiticos da cultura judaico-crista, isto a, da cultura ocidentaJ.

E

0radicalismo da razao li-vre e da alegria de pensar sem submissao a qualquer poder  constituido - seja este religioso, politico, moral ou te6rico - e a decisao de afastar tudo quanta nos cause medo e tristeza que torna Espinosa perigoso e odia-do, para uns, mas tambem tao amado, para outros.

(9)

o

Espinosa e seu tempo

 A COMUNIDADE JUDAICA DEAMSTERDA

Em 1492, ap6s a tomada de Granada pelos reis cat6licos Fer-nando e Isabel, os judeus, que ha s6culos viviam na Espanha, sac obrigados a escolher entre a con-versao forc;ada ao cristianismo e a expulsao, com a maior parte de seus bens confiscados para au-mentar os recursos da Coroa espa-nhola na corrida pelos mares e descobertas maritimas. A familia de Espinosa, como muitas outras, loge para Portugal. AIi, porem, seis nnos depois, pelas mesmas razoes que anteriormente as de Espanha, os judeus sac obrigados a escolher  ontre a expulsao e a conversao for-ynda ao cristianismo.

Todavia, um fate ocorre em Portugal, diverse do que se passa-ro na Espanha: D. Manuel0 Ventu-roso faz com que todos os judeus Bo]am batizados antes mesmo que houvossem escolhido entre a ex-pulsno ou a conversao. Numa s6 nolto, nas praias portuguesas, ondo aguardavam barcos que os lovnrlum para longe, milhares de

ju-deus foram "convertidos". Torna-ram-se  cristaos-novos, na lingua portuguesa, e marranos,  na lingua castelhana. Forc;ados

a

  nova fe, muitos, porem, guardaram em se-gredo a antiga, sendo por isso per-seguidos ininterruptamente em toda a Peninsula Iberica.

.A familia de Espinosa, con-vertida, permanece em portugal, mas, no final do seculo XVI, ao se iniciarem novas perseguic;oes, quando a Coroa portuguesa preci-sa de recursos para manter 0 im-perio colonial e usa a prisao e a morte dos judeus para confiscar  suas fortunas, 0pai de Espinosa, Miguel, nascido nas cercanias de Beja, decide emigrar. Dirige-se pri-meiro para a cidade francesa de Nantes e, finalmente, para Ams-terda, numa das inumeras levas que procuravam a Holanda, tanto porque ali reinava maior tolerancia religiosa quanta porque nela se iniciava um novo poderio economi-co que iria suplantar 0de Portugal e Espanha, atraves da Companhia das fndias Orientais e da Compa-nhia das fndias Ocidentais.

No dia 24 de novembro de 1632, em Amsterda, nasce Baruch de Espinosa (Bento, em portugues;

Retrato de um jovem judeu. de

Rembrandt. No seculo XVII holandes os  jude us linh am inle nsa parl icip ac;: ao na

vida cientifica e filos6fica da comunidade.

Benedictus, em latim), filho de Mi-guel e de sua segunda esposa, Debora. Tem dois irmaos, do pri-meiro casamento do pai.

Pouco sabemos da infancia de Espinosa. Sua familia pertencia ao grupo abastado da comunidade  judaica e seu pai 0teria iniciado tanto no comercio quanta no apren-dizado de uma arte manual (polir  lentes), de acordo com0costume  judaico. Pelo menos ate os 14 an os

freqOentou uma das escolas da co-munidade, a Academia ANore da Vida, e, a seguir, os seminarios !i-vres da Academia da Coroa da Lei, onde eram estudados os textos

sagrados. Possivelmente, durante tais seminarios entrou em contato com as obras dos mais importantes pensadores hebraicos: Abrahao Ibn Ezra, com quem passou a duvidar de que 0  Pentateuco* pu-desse ter sido escrito pelo pr6prio Moises; Maimonides, no qual des-cobriu a primeira grande sistemati-zac;ao racionalista e escolastica da religiao e teologia hebraicas, sob a influencia do Arist6teles arabizado; Leao Hebreu, 0grande neoplat6ni-co da Renascenc;a, que propunha uma concepc;ao do mundo funda-da no amor como for9a c6smica; Chasdai Crescas, Delmedigo, Ger-sonides, com as quais aprendeu as questoes relativas

a

  onipotencia, onisciencia e justic;a de Deus e a relac;aoentre a homem e a divinda-de. Tambem data dessa epoca seu contato com os dois grandes rabi-nos da comunidade de Amsterda, Saul Levi Morteira e Menasseh ben . Israel, este ultimo, provavelmente,

responsavel pela leitura dos cflba-Iistas feita por Espinosa.

Esses poucos dad os nos permitem saber que Espinosa fala-va portugues, aprendera 0 hebrai-co e estava destinado a ser um hebrai- co-merciante culto e cultivado, e nao um rabino, como durante muito tempo se pensou.

*.Pent.ateuco: Iiteralmente, "cinco volumes". Designa a coleQao dos primeiros

cinco hvros do Antigo Testamento, atribufdos a Moises. Essa parte da Bfblia passou a ser conhecida pelos judeus como Torah (ver Glossario).

(10)

 A comunidade judaica de  Amsterda estava internamente di-vldldn, sob muitos aspectos. Eco-nOmlcae politicamente, estava constitulda por dois grupos anta-gonlstas: os favoraveis as rela-QOescomerciais da Holanda com Portugal (onde muitos possuiam familia e neg6cios) e os favora-vols as rela90es com a Espanha. Era uma comunidade diri-gldn palos sefaradis·, aristocratas quo a organizaram sob a forma de uma oligarquia baseada no snngue, no parentesco e na ri-queza. Por isso, dividia-se entre rlcos e pobres. Enquanto os ricos dlrlglam toda a vida da comunida-do, ocupando os postos

adminis-trativos e se encarregando das decisoes economicas, politicas e religiosas, os pobres eram U:io-somente seus empregados.

Dividia-se, por fim, religiosa e teologicamente, entre funda-mentalistas tradicionalistas e deis-tas racionalisdeis-tas, e entre talmudis-tas e cabalistalmudis-tas misticos. A divisao religiosa recobria e dominava as divergencias sociais e politicas, dadas as peculiaridades de uma comunidade que nao possuia au-tonomia polftica, nao constituia propriamente um Estado e cujos costumes eram regulados pela re-ligiao e por uma tradi9ao teocrati-ca. Assim, os conflitos sociais, econ6micos e politicos da comu-nidade sempre surgiram sobrede-terminados, isto e, sempre

apaceram sob a forma de conflitos re-Iigiosos e teol6gicos.

Desses conflitos, dois fo-ram dominantes durante a vida de Espinosa e explicam muito do que Ihe iria acontecer. 0primeiro deles ocorreu entre marranos e nao-marranos; 0segundo, entre talmudistas e cabalistas.

Marrano, palavra derivada do arabe  mahram  ("0 que e proibi-do", "0 que a ilfcito"), era 0 termo pejorativo, usado na Peninsula Ibe-rica, para referir-se a judeus e ara-bes conversos suspeitos de man-ter a fe original. Embora aparente-mente cristaos, eles continuariam seguindo os preceitos e proibi90es estabelecidos por suas antigas re-Iigioes. Como uma das proibi90es validas para judeus e arabes con-cernia ao interdito de comer carne de porco, "marrano" indicava aque-Ie que nao a comia e, gradualmen-te, passou a significar "porco".

Um marrano, pelas condi-90es em que fora obrigado a vi-ver na Peninsula Iberica, possuia dois tra90s principais: de um lado, fundira cristianismo e judaismo e, mesmo quando pensava estar  sendo fieI ao segundo, introduzia nele cren9as cristas como as do. para iso, do inferno e do servi90 de Deus atraves do martirio; de outro lado, e contraditoriamente, por nao ter contato pleno com os ensinamentos judaicos, acabava defendendo-se do cristianismo  A oOrlllJnldodo judaica de Amslerda eslava inlernamenle dividida par divergencias

rlliluionos, pollticas e sociais.

• Hr'tvt'trlas outras grafias para essa palavra: "sefardins", "sefaradins",

"se-ItHdltos". (N.E.)

elaborando uma visao racionalis-ta do judaismo, de sorte que este Ihe aparecia como desprovido de todas as crendices e supersti90es que reconhecia na religiao crista. Um marrano era, assim, ou um ju-deu cristianizado ou um deista ra-cionalista contra 0 cristianismo.

Um nao-marrano, isto e, um  judeu que nao fora convertido ao cristianismo, nao via 0 marrano com bons olhos, tomando-o por al-guem que, para salvar a vida, trai-ra sua fa e sua na9ao, introduzitrai-ra no judaismo elementos do cristia-nismo e se tornara incapaz de pra-ticar leal e inteiramente os precei-tos da Lei, a Torah. Em suma, os que jamais se haviam convertido tendiam a considerar os conversos como impuros e indignos de con-fian9a, enquanto muitos ex-marra-nos, para provar sua fidelidade, tendiam a mostrar-se severos e duros com os conversos, tornando-se mais ortodoxos do que os outros e muito mais intolerantes.

Um dos temas mais can-dentes para a comunidade, du-rante os seculos XVI e XVII, refe-ria-se ao direito dos marranos

a

ressurrei9ao, prometida por Jeo-va aos que permanecessem fieis

a

  sua Lei. Teriam os marranos esse direito? Se tivessem, como  justificar os que haviam sido

(11)

tor-Illtttdotl 0 marioN pam defender 

1 1 hW Su 11110  IIvol:Isom, como

ex-pllcmr f1  proloela do Isafas sobre It

  IUllvnCl\o

  do "resto de Israel", quu Ileum submelido aos pode-rOll nl1o-Judalcos? Nao have ria urnufJ nas Inllas, podendo algu-mils   Bor perdoadas, como, por  oxamplo, a dos que foram fon;a-daB II  conversao, nao podendo Bar punldos por algo que nao fi-zeram voluntariamente? Essa dlscussao pouco a pouco trouxe

a

  bail a uma outra que se encon-trava implfcita: a da imortalidade da alma, suas recompensas e castigos numa outra vida.

Ora, muitos conversos ha-viam-se mantido Mis ao judais-mo, sob a aparencia de professar  o cristianismo, justamente por  nao aceitarem, entre outras

coi- A Lei Mosaica funda 0Estado hebraico sob a forma de teocracia.

sas, a ideia crista da imortalidade da alma e as nOyoes de ceu e in-ferno eternos. Em sua opiniao, a Lei Escrita ou a Lei de Moises ja-mais afirmara a imortalidade da alma e os suplfcios eternos.

Essa opiniao nao era nova. Na AntigQidade, no final do Reino de Juda, antes que os judeus fos-sem dispersados pelos poderes de Roma, uma divisao se estabe-lecera na sociedade judaica entre a classe dominante - os sadu-ceus - e os intelectuais populares - os fariseus.

as primeiros, racionalistas e materialistas, recusavam 0 es-piritualismo farisaico, declarando que a unica Lei sagrada para 0

povo era a Lei Escrita, redigida por Moises no Sinai, nao caben-do sacralidade alguma

a

  Lei Oral, ensinada pelos fariseus.

as fariseus, porem, afirma-yam que a Lei Oral fora dada por  Moises aos seus descendentes ao voltar do Sinai, sendo ta~ sagrada quanta a Escrita. A Lei Oral tor-nou-se justamente aquela que, durante seculos, os rabinos de-senvolveriam atraves do Talmud, criando 0 judafsmo propriamente dito e dando-I he conteudos espiri-tualistas, entre os quais a cren9a na imortalidade da alma e numa vida futura com recompensa para os bons e castigos para os maus. Para os talmudistas, a Lei Oral era o complemento sagrado da Lei

Escrita, formando toda a jurispru-dencia que, em conformidade com as circunstancias vividas pelo povo judaico, regulava a religiao, os costumes, as rela90es sociais e as formula90es teoricas.

as ex-marranos talmudis-tas, assim como os nao-marranos tambem talmudistas de Amsterda, criticando 0racionalismo dos no-vos "saduceus" (isto e, dos marra-nos deistas que recusavam a vali-dade da Lei Oral), ensinavam a imortalidade da alma, penas e re-compensas futuras e a ressurrei-9ao dos mortos no Tempo do Fim.

Espalha-se, entao, pela co-munidade judaica uma discussao teologica sobre a imortalidade da alma que, na verdade, e tambem uma discussao polftica. De fato, questionar 0 valor dos ensinamen-tos da Lei Oral significa par em questao 0 poder dos rabinos so-bre os membros da nagao. Essa discussao, que come9ara tratando da imortalidade da alma e da vida futura, desloca-se, pouco a pou-co, desses temas para 0 da vali-dade da propria Lei Oral e, com isso, para a validade do Talmud, da Mishnah, de tudo, enfim, quan-to fora ensinado, escriquan-to e diquan-to du-rante seculos, desde0inicio da Di-aspora. A disputa poe em questao a autoridade dos rabinos. Ortodo-xos (talmudistas) e heterodoOrtodo-xos (deistas racionalistas) enfrentam-se na comunidade.

Essa oposiyao entre racio-nalistas heterodoxos e fundamen-talistas ortodoxos leva a aconteci-mentos que iriam marcar profun-damente a vida da comunidade de  Amsterda: 0 caso de Uriel da Cos-ta, que se desenrola entre 1623 e 1647, eos casos de Juan de Pra-do, Daniel Ribera e Espinosa, en-tre 1654 e 1656.

Uriel da Costa, um marrano que estudara direito e filosofia em Coimbra e fugira de Portugal, abandonou 0 cristianismo para re-tornar ao judaismo. No entanto, foi submetido ao   herem   por afirmar  que somente a Lei Escrita possuia valor sagrado e que, nesta, nao eram ensinados a imortalidade da alma nem os suplfcios eternos; que Deus nao era um super-ho-mem colerico e voluntarioso, mas a for9a racional e amorosa que cria, governa e harmoniza a Natu-reza; e que os preceitos divinos nao eram senao as leis da Nature-za, distorcidos pelos fariseus e ra-binos com a Lei Oral. .

a   herem,   em casos graves como 0de Uriel, significava a so-Iidao, pois 0 enhermado  era ex-pulso do convivio com a comuni-dade,. e essa expulsao atingia suas atividades econamicas. Isso significava, para 0 excomungado, perder os meios de sobreviven-cia, pois nao poderia manter seus la90s comerciais, que dependiam de ul\la forte e intrincada rede de

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relayoes familiares, comerciais e bancarias montada pelas diferen-tes comunidades judaicas por  toda a Europa e0Oriente. Para sob reviver, Uriel precisava, por-tanto, suspender  0 herem.   Para suspende-Io, num caso que dura-ria anos, Uriel foi obrigado a re-tratar-se perante a comunidade reunida na Sinagoga, submeter-se a flagelayao (quarenta vergas-tadas) e a humilhayao publica (seminu, 0corpo coberto de cin-zas, deitado a porta da Sinagoga para ser pisoteado por todos, conforme exigia 0ritual). Deses-perado com 0acontecido, Uriel se suicida algum tempo depois, dei-xando uma obra autobiografica, 0

Exemplo de uma vida humana, na qual expoe e defende suas ideias. Espinosa, desde os 8 anos, acompanha esse tango e tragico episodio.Tem 15anos quando Uriel comete suicfdio.

o

  episodio aumenta 0zelo dos rabinos. 0 estudo da filosofia -16gica,fisica e metafisica - 1 3  consi-derado idolatria e blasfemia, instru-mento que obscurece a verdadeira Lei e a autoridade sagrada dos que ensinam a Lei Oral. A filosofia, ele-vando a razao contra a revelayao e a Natureza contra Deus,1 3  contra-ria a fe e aos seus fundamentos.

. Em   1654, 0medico Juan de Prado e0poeta Daniel Ribe-ra, ambos ex-marranos espa-nh6is, iniciam seminarios

filosofi-cos em Amsterda. Espinosa fre-quenta 0grupo de estudiosos. 0 portugues Orobio de Castro, ex-marrano e medico, os acusa de heresia, declarando que ensinam uma religiao natural ou racionalis-ta, sem milagres nem revelayao ou profecias, negam que 0 povo  judaico seja 0eleito de Deus e

afirmam que Este nao 130  Jeova descrito pela Torah. Juan de Pra-do e Daniel Ribera sao submeti-dos ao   herem   e foryasubmeti-dos a retra-ta<;ao publica, mas sem que seja cumprido todo0ritual, pois teme-se um episodio teme-semelhante ao de Uriei. Ambos se retratam, mas sao feitas novas denuncias de que prosseguem, as escondidas, os seminarios filosoficos. Em 1656,   sao submetidos a novo he-rem  e, dessa vez, nao se retra-tam.

E

  nesse mesmo ana que 0

 jovem Espinosa 1 3   enhermado. Ele nao se retrata e abandon a a comunidade judaica.

verno do Povo Eleito. Os cabalis-tas, ao contrario, interpretam as Escrituras Santas como urn con- junto de segredos e misterios es-peculativos sobre Deus, 0 univer-so e 0homem, que, quando deci-frados, faraD com que0mundo se acabe e tudo regresse ao seio da divindade absoluta.

 A Cabala espiritual ou mfs-tica distingue a letra e0 espfrito dos textos sagrados, que escon-dem segredos e misterios profun-dos sobre a Cria<;ao do mundo e 0

Reino Espiritual de Deus, Afirma que 0Reino de Deus sera restau-rado no fim dos tempos pelo Mes-sias, cuja vinda, como mestre e re-generador espiritual, suspendera a Lei de Moises e a Lei Oral, da-das aos homens apenas durante o perfodo de espera messianica. Em outras palavras, a Cabala re-cusa aquilo que os talmudistas ensinam: a validade eterna das leis hebraicas. Por conseguinte, um cabalista tende a minimizar 0

poder e a autoridade dos rabinos, presos a letra dos textos sagrados e incapazes de alcan<;ar seu espf-rito profundo e secreto. A essa Ca-bala mfstica corresponde uma ou-tra,

 a

Cabalapratica, que, manten-do as ideias da primeira, acredita, porem, num Messias que instituira o Reino de Deus na Terra, Israel. Dois Ifderes da comunidade de Amsterda enfrentam-se nessa disputa: Menasseh ben Israel, um  A segunda querela, como

dissemos, estabelece-se entre talmudistas e cabalistas, isto 1 3 ,

entre duas maneiras diferentes de interpretar a Torah, ou Palavra de Deus. Os talmudistas interpre-tam as Sagradas Escrituras numa perspectiva jurfdica, legal e ritua-Ifstica, ou seja, como ordenamen-tos e decreordenamen-tos divinos para0

go-dos mestres de Espinosa, perten-ce ao grupo cabalista messianico, e Saul Levi Morteira, dirigente da  Academia Arvore da Vida,

perten-ce ao grupo talmudista. Morteira escreve um   Tratado sobre a   ver-dade da Lei de Moises,   defenden-do a posiyao jurfdica, legalista e ri-tualfstica dos rabinos. Menasseh, por seu turno, escreve uma obra messianica e profetica,   Esta

e

a esperam;a de Israel,   numa inter-preta<;ao salvffica das profecias de Daniel e Isafas.

Era, na verdade, um tempo de profetas, profecias, esperas messianicas e esperan<;as mile-naristas. 0 judafsmo 1 3  essencial-mente profetico e messianico. Por  sua vez, 0protestantismo, em sua formula<;ao popular, tamMm sempre teve um cunho profetico: ao desfazer a necessidade da media<;ao dos padres para a r,ela-gao do fiel com Deus, os protes-tantes afirmaram que cada um re-cebia 0 Espfrito Santo em seu proprio cora<;ao, e os plebeus ra-dicais, em busca de uma socieda-de igualitaria e justa, sentiam-se espiritualmente iluminados pelo espfrito profetico. Qual 0 tema profetico por excelencia? A vinda do Messias, para os judeus, e a Segunda Vinda de Cristo, para os cristaos. Em ambos os casos, as

(13)

proteclas se reteriam ao fim da servldao e da injustir;:ae ao come-'to da fellcidade.

Durante 0seculo XVII, na Inglaterra, a Revolur;ao Inglesa, em seu lado popular radical, era movida pelo milenarismo profetico dos Niveladores e dos Quakers, Inspirado nos profetas Daniel e Isafas, com a promessa do Reino de Deus na Terra, que duraria mil anos de felicidade e de abundan-cia, precedendo a Segunda Vinda .de Cristo para a luta final contra0

 Anti-Cristo e 0Juizo Final. No Brasil, inspirando-se tambem nos profetas Daniel e Isaias, 0Padre Vieira  

(1608-1697), que almejava Portugal li-vre do jugo espanhol, escrevia a

Hist6ria do futuro

ou

  do Quinto

Imperio de Portugal,  esperando a

volta de EI-Rei D. Sebastiao como 0Imperador dos lIltimos

Dias que restauraria a gl6ria de Portugal, e fundaria 0  Reino de Mil Anos, preparando a Segunda Vinda triunfal de Cristo.

Em 1656, vindo das Ameri-cas, chegava a Amsterda 0 viajan-te jUdeu Monviajan-tezinos, afirmando haver encontrado, entre a Peru e a Venezuela, as dez tribos perdi-das de Israel. Esse encontro era tido, segundo a interpretar;:ao ju-daica das profecias de Isaias, como a primeiro sinal da pr6xima vinda do Messias e do retorno dos  judeus a Israel.

Enquanto isso, no Oriente, na cidade de Smirna, surgem a profeta Nathan e a messias Sabba-tai Sevi, chamando para0retorno do povo judaico a Terra Prometida. Os Quakers ingleses bus-cam cantata com Menasseh ben Israel em Amsterda, pois, do lado cristao, as profecias do Reino de Deus s6 podem realizar-se ap6s a conversao dos judeus ao cris-tianismo. Pelo mesmo motivo, Vieira dirige-se a Amsterda para encontrar-se com Menasseh (en-contro que vale ao primeiro um processo pela Inquisir;:ao e, ao se-gundo, a desconfianr;:a de toda a comunidade judaica). Par seu tur-no, Menasseh dirige-se a Inglater-ra paInglater-ra suplicar ao rei a reintegInglater-ra- reintegra-r;:aodos judeus e, na Holanda, in-siste para que os membros da co-munidade financiem viagens ao Brasil (as possessaes holandesas, em Pernambuco), duas atitudes que garantirao 0cumprimento das profecias de Isaias, pais0retorno a Israel s6 se fara depois que as  jUdeus estiverem "espalhados na

direr;:ao dos quatro ventos". Enquanto isso, milhares de  judeus de tad a a Europa e, entre eles, centenas de Amsterda, ven-dem todos os bens e se dirigem a Smirna para reunir-se ao messias, recebendo, no meio da jornada, a noticia de que Sabbatai Sevi rene-gara a judaismo e se convertera ao islamismo.

Em 1656, ao ser expulso de sua comunidade, Espinosa entra em cantata com os cristaos.

o

primeiro grupo cristao com a qual teria mantido relar;:aes e a dos Quakers ingleses, amigos de Menasseh ben Israel. 0 segundo grupo, que viria a ser seu circulo de amigos, e formado pelos "cris-taos sem igreja": alguns deles sao protestantes racionalistas, que conhecera nos seminarios de Juan de Prado, e outros sao mis-ticos milenaristas, que conhecera atraves de Menasseh ben Israel. Milenaristas misticos, com lar;:os que os Iigavam aos milenaristas ingleses, e racionalistas seguido-res da nova filosofia de Descartes, com lar;:osque as ligavam aos ra-cionalistas ingleses da Royal So-ciety (de Ci€mcias), esses cristaos holandeses heterodoxos torna-ram-se conhecidos como as Cole-giantes, porque formavam grupos de estudo (os colegios) para a dis-cussao das Sagradas Escrituras e das novas ideias filos6fico-cientifi-cas. Embora diferentes em suas convicr;:aes, milenaristas misticos e racionalistas conviviam pacifica-mente porque possuiam um trar;:o em comum: a defesa da liberdade de pensamento e da tolerancia re-Iigiosa e polftica. Afirmavam a va-lor da consci€mcia individual au lu z

interior,  da Iiberdade de crenr;:a e

de opiniao, da igualdade entre ho-mens e mulheres, da justir;:a entre

as seres humanos, combatendo a tirania polftica, a desigualdade economica e 0fanatismo religioso.

Expulso da comunidade  judaica como herege, a jovem

Espinosa penetra no mundo cris-tao pela porta da heterodoxia crista e, a sua volta, formar-se-a um novo grupo colegiante, 0 Cir-culo de Espinosa.

a SECULa DE aURa

HaLANDES

a

apogeu das Sete Provincias do Norte

Em 1579, com a Uniao de Utrecht, nascem as Sete Provin-cias do Norte, que depois de longa guerra contra a catolicismo espanhol libertaram-se do juga da Espanha. Oligarquia republi-can a dirigida pelos Regentes (a nova burguesia comercial e fi-nanceira que domina a econo-mia, as magistraturas e as corpo-rar;:aes) e par uma frar;:ao da' an-tiga nobreza feudal (a Casa de Orange-Nassau, cujo chefe mili-tar, Guilherme a Taciturno, foi responsavel pelas vit6rias milita-res contra as espanh6is), as Sete Provincias do Norte consti-tuem uma federar;:ao de cidades e regiaes, organizadas em parla-mentos provinciais - as Estados - dirigidos par um membro eleito entre as pares, 0Pensionario; as

Referências

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