Estado e
Desenvolvimento Econômico
no Brasil Contemporâneo
DAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB
(4-0-4)
Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI demetrio.toledo@ufabc.edu.br
UFABC – 2017.II (Ano 2 do Golpe)
Aula 6
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Para falar com o professor:
• São Bernardo, sala 322, Bloco Delta, 3as-feiras, 19-20h, e 5as-feiras, das 15-16h (é só chegar)
• Atendimentos fora desses horários, combinar por email com o professor: demetrio.toledo@ufabc.edu.br
Módulo I:
Aula 6 (3ª-feira, 20 de junho): 2º Governo Getúlio Vargas (I)
Texto obrigatório:
PIRES, Marcos Cordeiro (2010). “Cap. 4: As estratégias de desenvolvimento (1954-1960)”, p. 95-131.
Texto complementar:
DRAIBE, Sônia (2004) “Cap. 3: O segundo governo de Vargas: avanços e resistências”, p. 167-218.
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2º Governo
Getúlio Vargas,
1951-1954 (I)
O Estado Novo (1937-1945)
Em 1937, Vargas rompe com o arranjo político do
estado de compromisso, dá um autogolpe e estabelece o Estado Novo, centralizando o poder,
criando novas agências governamentais e
aumentando o controle e planejamento estatal sobre
economia, resultando no aprofundamento do
processo de industrialização por substituição de importações.
Há quem diga que o “Brasil moderno” nasce com
O Estado Novo (1937-1945)
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O Estado Novo representou um aprofundamento do
projeto de Vargas de acelerar o processo de industrialização por substituição de importações.
É a partir de 1937 que começa a ficar mais clara a
transição de uma industrialização espontânea para
uma industrialização planificada e
capitalizada/bancada pelo Estado.
No Estado Novo Vargas procede a uma centralização
do poder nacional em torno do governo federal, reduzindo ainda mais o poder político das oligarquias regionais.
O Estado Novo (1937-1945)
Por meio da suspensão das garantias do estado
democrático de direito (lembrem-se que o Estado Novo é uma ditadura) e da centralização do poder,
Vargas iniciou um processo de construção
institucional que deu ao Estado os meios para o planejamento do processo de desenvolvimento econômico.
Grande parte da estrutura institucional e produtiva do
Brasil contemporâneo foi construída ao longo dos dois governos Vargas (1930-1945 e 1951-1954), como Volta Redonda, CLT, Petrobrás, CNPq e BNDE.
Debate Simonsen-Gudin (1944-1945)
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Debate Simonsen e Gudin (industrialização vs.
Liberalismo):
– Roberto Simonsen (1944) defendia a industrialização
liderada pelo estado planejador, com tarifas
protecionistas, apoiada na agricultura e financiada pelos EUA.
– Eugênio Gudin (1945) defendia a modernização agrícola, uma industrialização mais equilibrada, a abertura econômica e a não intervenção do Estado na economia para evitar desequilíbrio nos preços e inflação.
O Estado Novo (1937-1945)
Com a eclosão da II Guerra Mundial em 1939, as
importações são pesadamente limitadas,
principalmente de bens de capital, o que limitava o crescimento industrial.
Mesmo assim a indústria cresceu à taxa média de
O Estado Novo (1937-1945)
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O ano de 1942 foi um ponto de inflexão da
industrialização por substituição de importações. A ISI deixa de se basear na capacidade instalada e começa-se a investir em nova capacidade.
Por conta da II Guerra o crescimento industrial
acelerou-se e as reservas cambiais aumentaram significativamente, além de haver um acréscimo da entrada de capitais dos EUA.
As políticas fiscal, monetária e cambial foram
O Estado Novo (1937-1945)
Durante a II Guerra os EUA sustentaram os preços
elevados das nossas exportações.
A decisão dos EUA de fornecer créditos, via Eximbank,
e materiais para a construção da Siderúrgica de Volta Redonda (criada em 1941, início de operações em 1947) foi um dos mais importantes acontecimentos daquele período. A II Guerra favoreceu essa decisão e o governo foi oportunista, pois ao final da guerra houve uma forte reversão da política dos EUA em relação às atividades substitutivas de importações.
O Estado Novo (1937-1945)
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• Em 1945, Vargas convoca eleições gerais e uma Assembleia Constituinte para o ano seguinte.
• São formados, ou volta a existir, os partidos que dominariam a política nacional nos vinte anos seguintes, o chamado período democrático (1945-1964):
– Partido Trabalhista Brasileiro, getulista, de esquerda;
– Partido Social Democrata (PSD), que estava sempre junto aos vencedores, sem muitas veleidades ideológicas;
– União Democrática Nacional (UDN), antigetulista, de direita;
– Partido Comunista Brasileiro (PCB), fundado em 1922, legalizado em outubro de 1945 e cassado em abril de 1947.
Governo Dutra (1946-1950)
• Vargas, contudo, é deposto ainda em 1945, substituído por José Linhares, presidente do TSE, que ocuparia o cargo até as eleições de 1946.
• Em 1946, o marechal Eurico Gaspar Dutra, candidato apoiado por Vargas, é eleito presidente. Vargas é eleito senador por RS e SP e deputado federal por nove estados, mostrando a persistência de sua força política, malgrado de sua recente deposição.
• O governo Dutra é um governo eclético em termos de
orientação da política de desenvolvimento:
inicialmente, adota uma postura claramente liberal, mas a partir de 1947 adota medidas para combater o desequilíbrio externo que vinha afetando o país.
Governo Dutra (1946-1950)
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Num contexto pós guerra fria, o Brasil comprou a tese de que,
com o fim da guerra, os fluxos internacionais de capital e o livre comércio voltariam aos níveis do pré-guerra.
O processo de reorganização do capitalismo sob hegemonia
estadunidense, no entanto culminou com a reunião de Bretton Woods que, entre outras coisas:
– Criou o FMI, BM, GATT;
– Tornou o dólar moeda mundial;
– Fixou as taxas de câmbio com certa paridade ao dólar.
A situação precária das economias centrais mais a condição de
superávit dos EUA (escassez de dólares), contudo, não favoreceram o livre comércio.
Governo Dutra (1946-1950)
• Dutra, em uma leitura que se mostraria completamente equivocada a respeito do política internacional, contava com que os EUA continuariam a considerar o Brasil um parceiro preferencial, investindo na industrialização do país. Os EUA, no entanto, estavam preocupados com a reconstrução da Europa e do Japão e com o avanço do comunismo. A América Latina havia passado para o segundo plano das preocupações dos EUA.
• O investimento externo capaz de sustentar o PSI não se realizou, levando a um novo ciclo de estrangulamento externo seguido de... substituição de importações!
Governo Dutra (1946-1950)
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• Dutra extinguiria muitas das agências de planejamento e as restrições às importações estabelecidas por Vargas, abrindo o mercado nacional às importações. • Essas últimas medidas causariam em 1947 um
estrangulamento externo (lembrar de Tavares e do modelo PSI), aprofundado em 1949.
Governo Dutra (1946-1950)
• A partir de 1947, Dutra instituiu uma série de mecanismos de controle seletivo de importações e estabeleceu uma taxa de câmbio fixa que resultou, segundo Souza (2008: 20-21), na:
1. Redução das importações de manufaturas
acabadas de consumo, protegendo, portanto, a
indústria nacional da concorrência com
importados;
2. Elevação das importações de bens de capital e
intermediários, uma vez que câmbio fixo
Governo Dutra (1946-1950)
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• Ou seja, o governo Dutra, cuja política econômica inicial é liberal (voltada a combater a inflação e a dívida pública), retoma, em 1947 - mais por força da situação econômica do que por escolha intencional – uma política de industrialização por substituição de importações.
• Essa mudança de política econômica no governo Dutra é um exemplo claro do modelo de PSI de Tavares, em que um estrangulamento externo gera um ciclo de PSI.
Governo Dutra (1946-1950)
• Dutra também manteve os investimentos do governo iniciados no Estado Novo (concluiu a CSN em 1949).
• O planejamento econômico também não foi completamente abandonado, como no caso do Plano Salte (saúde, alimentação, transporte, energia), que tentou retomar o planejamento econômico de antes, mas foi apenas a manutenção desses gastos com novo nome, não dando bons resultados ao final.
2º Governo Getúlio Vargas, 1951-1954
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• Queda dos salários reais, ou seja, crescimento sem distribuição (Dutra manteve o s.m. congelado durante todo seu governo).
• Perseguição ao PCB e consequente crescimento do PTB.
• Vargas volta com discurso trabalhista e industrialista crítico à política liberal de Dutra.
• Vargas foi eleito em 1950 pela coligação PTB/PSP (48,7% dos votos), com Café Filho como vice e apoio de Ademar de Barros, do PSP, partido muito forte em São Paulo, o que garantiu expressiva votação à coligação PTB/PSP, contra 29,7% dos votos para a UDN e 21,5% para o PSD.
2º Governo Getúlio Vargas, 1951-1954 : o projeto de governo
• A plataforma de governo de Vargas era claramente
desenvolvimentista, industrializante e nacionalista,
mas esses elementos não implicavam negligência do
setor agrário-exportador nem anti-imperialismo.
• Vargas atribuía ao setor agrário-exportador e ao
capital externo grande importância em seu projeto de
desenvolvimento nacional, pois eram as fontes
interna e externa de acumulação de capital que
sustentariam a industrialização.
• Plano Lafer, ou Plano Quinquenal, lançado em 1951, previa investimentos de US$ 1 bi (viabilizados por empréstimos estrangeiros) na indústria de base, transporte e energia
2º Governo Getúlio Vargas, 1951-1954: o projeto de governo
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• No plano doméstico os principais problemas eram a volta do processo inflacionário e o desequilíbrio financeiro do setor público.
• Já no setor externo, as perspectivas eram mais favoráveis, decorrentes da alta do café e da mudança de atitude dos EUA em relação à América Latina (desenvolvimento vs. comunismo).
• A expressão dessa mudança de postura se deu com a instituição da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos que propunha elaborar projetos para a superação de
gargalos da infraestrtura (energia, portos e
transportes) a serem financiados pelo Eximbank e o Banco Mundial.
2º Governo Getúlio Vargas, 1951-1954: o projeto de governo
• Do ponto de vista da política econômica, o projeto teria duas fases:
– Na primeira, o governo buscaria a estabilização econômica, equilibrando as finanças públicas
(comprimindo as despesas, aumentando a
arrecadação) e permitindo dessa forma a adoção de uma política monetária restritiva (contraindo crédito e emissão);
– A segunda fase seria a dos empreendimentos e realizações (entre elas a criação de duas empresas estatais importantes, o BNDE e a Petrobras).
2º Governo Getúlio Vargas, 1951-1954: o governo
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• A política de comércio exterior manteve a taxa de câmbio fixa e valorizada e o regime de concessão de licenças para importar foi parcialmente liberalizado.
• Essa liberalização parcial das licenças tinha dois objetivos principais:
– Estocar produtos essenciais por conta da guerra da Coreia.
– Combater a inflação com mais importação.
• Como resultado, as importações explodiram, mas com um viés industrializante, sendo 55% do aumento das importações na categoria bens de capital e 28% em outros bens de produção (ver tabela Pires).
2º Governo Getúlio Vargas, 1951-1954: o governo
• Essa orientação liberalizante foi sendo modificada progressivamente. Ao contrário do esperado, a receita com exportação caiu 20% em 1952, o que fez o governo apertar as licenças (as licenças mais antigas, no entanto, tinham prazos entre 6 e 12 meses).
• O resultado foi um déficit abrupto da balança comercial, o esgotamento das reservas de moedas conversíveis e o acúmulo de atrasados comerciais, ou seja, um novo estrangulamento externo.
2º Governo Getúlio Vargas, 1951-1954
• Apesar da indústria já ser o setor dinâmico, e das classes urbanas terem mais força política, o projeto liberal calcado na abertura econômica e na agricultura ainda tinha muitos adeptos.
• As oligarquias passaram a articular-se e atuar em âmbito nacional via PSD e UDN e a se tornar cada vez mais radical e recrudescer.
• Oposição udenista era um caso à parte, a UDN esteve por trás do golpe em Vargas em 1945 e 1954.
• Parte da explicação se deve ao horror da burguesia ao populismo.
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “A queda do Estado Novo não significou, como já foi assinalado, o fim político de Vargas e de seu projeto
desenvolvimentista. Vargas saiu prestigiado do poder,
apesar da queda da ditadura e do clima ideológico e político marcadamente liberal dos anos seguintes”. (Corsi, in: Pires, 2010: 111).
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
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• “Vargas (...), embora tivesse razão ao dizer que segmentos de classe vinculados ao capital estrangeiro eram contrários à industrialização, contribuiu para a
criação de uma interpretação histórica segundo a
qual industrialização e nacionalismo eram indissociáveis à época. Dessa forma, ele teria sido o mentor de um desenvolvimento nacional autônomo”.
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “Entretanto, esse discurso escamoteava o fato de que
sua proposta de desenvolvimento, durante o Estado
Novo, tinha no financiamento externo um de seus
pilares fundamentais. No tocante a esse tema, não
parece ter ocorrido alterações de sua posição nesse novo período”. (Corsi, in: Pires, 2010: 112).
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
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• “O crescimento da oposição (...) se deu, sobretudo, a partir de 1953, quando passou a atrair amplos setores da burguesia (até então próximos a Vargas) das classes médias e dos militares. Por que setores da burguesia
beneficiados pela política desenvolvimentista passaram a se opor ao presidente? Fonseca (1989) e
Boito Jr. (1984) assinalam que a resposta a esse
aparente paradoxo encontra-se na postura
antipopulista da burguesia, que teria horror à mobilização popular”. (Corsi, in: Pires, 2010: 113)
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “O populismo, segundo Fonseca (1987, p. 429-431), teria duplo caráter. De um lado, representava uma
forma de ideologia e de controle e de conflitos de classe que assegurava a dominação da burguesia, do
outro, ‘supunha atendimento a determinadas
reivindicações operárias e sindicais e certo grau de mobilização e inserção das massas no sistema político
muito além das admitidas comumente nos meios empresariais”. (Corsi, apud Fonseca, 1987, in: Pires, 2010: 113)
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
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• “(...) A participação da classe trabalhadora na vida
política do país era a questão central naquela conturbada conjuntura. (...) As fortes mobilizações dos
trabalhadores em 1953 e 1954, cujo ímpeto assustou os empresários, e a tentativa de Vargas de impedir o crescimento de um sindicalismo independente, por meio da satisfação de algumas de suas reivindicações, levaram o grosso da burguesia a se aglutinar em torno
da UDN contra o populismo trabalhista, o que foi decisivo para a derrubada de Vargas”. (Corsi, in: Pires,
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “Em 1951, quando volta ao poder, Vargas, segundo Fonseca (1989), retomou o programa econômico do
Estado Novo, só que em outros contextos interno e
internacional. O novo programa não era mera
continuidade do anterior. (...) Ao mesmo tempo em
que procurava enfrentar a delicada situação do
balanço de pagamentos e o surto inflacionário,
implementando uma política monetária, creditícia e fiscal moderadamente restritiva, buscou implantar um
programa de desenvolvimento centrado nas áreas de
transporte e energia, consideradas pontos de
estrangulamento da economia”. (Corsi, in: Pires, 2010: 117)
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
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• “O desenvolvimento da indústria pesada era outro ponto central a ser atacado. Tudo isso exigia
planejamento, ampla ação estatal e investimentos ‘complementares de grande monta, muitos dos quais
antecipadores da própria demanda’”. (Corsi, in: Pires, 2010: 117)
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “A política industrializante de Vargas tomaria corpo nos três grandes projetos de desenvolvimento de sua gestão: o Plano Nacional de Reaparelhamento
Econômico (PNRE), o Plano Nacional de Eletrificação e o projeto de criação da Petrobras”. (Corsi, in: Pires,
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
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• “Lançado em 1951, o PNRE previa investimentos na indústria de base, na modernização da agricultura e, principalmente, nos setores de energia e transporte. Esse plano incorporava uma série de projetos
elaborados pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos orçados em 380 milhões de dólares. Vargas esperava conseguir empréstimos da ordem de 500
milhões de dólares dos Estados Unidos”. (Corsi, in: Pires, 2010: 117)
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “Ou seja, a viabilidade financeira do plano e, por
conseguinte, de grande parte da estratégia de desenvolvimento dependiam do financiamento externo, o que denota que, nesse importante aspecto
se observa uma continuidade em relação ao projeto
do Estado Novo. Vargas continuava, portanto,
propondo um desenvolvimento fortemente
articulado ao capital estrangeiro. (...) O nó górdio da
questão continuava sendo, como na época do Estado Novo, o problema do financiamento externo, sem o qual o plano ruiria”. (Corsi, in: Pires, 2010: 117)
2º Governo Getúlio Vargas, 1951-1954 (I)
39 • 1951: criação do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq),
do Programa Nuclear Brasileiro - liderado pelo Almirante Álvaro Alberto, também presidente do CNPq -, da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes) e da Comissão de
Desenvolvimento Industrial (CDI).
• 1952: criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA); início da prospecção de minérios radioativos no Brasil.
• 1953: cinco anos após o lançamento da campanha “O Petróleo é Nosso”, a Petrobrás é fundada.
• 1954: criação do IPD – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, vinculado ao CTA.
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “A política externa de Vargas de forma alguma
pretendia romper com o bloco ocidental. A sua
proposta de desenvolvimento não implicava uma via de desenvolvimento alternativa às linhas de expansão da economia mundial. Seu nacionalismo não era
anti-imperialista. Vargas, em 1951-1954, a exemplo do que
tinha ocorrido durante o Estado Novo, procurou incessantemente articular a acumulação interna de
capital à participação do capital estrangeiro”. (Corsi,
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
41
• “Porém, seu programa de desenvolvimento pretendia
conferir maior autonomia para o país, e isso seria
alcançado pela prioridade dada à expansão do setor
de bens de capital, bens intermediários e infraestrutura e pela forma proposta de financiamento
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “Diferente seria a estratégia seguida por Kubitscheck, calcada na larga entrada de empresas estrangeiras
como forma de contornar os problemas de
financiamento e acesso à tecnologia. O tipo de
associação com o capital estrangeiro proposto pelo Governo Vargas era bastante diferente da que foi proposta pelo Governo Juscelino”. (Corsi, in: Pires, 2010: 120)
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
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• “A radicalização da postura e do discurso nacionalistas
de Vargas, a partir de 1952-1953, foi, em parte, uma reação à reticência norte-americana em colaborar com o desenvolvimento brasileiro e à deterioração das
contas externas”. (Corsi, in: Pires, 2010: 120)
• “O nacionalismo era fundamental para a sustentação
política do governo e de seu projeto, pois as medidas
desenvolvimentistas e nacionalistas aglutinavam o
apoio de trabalhadores, de setores das classes médias, de setores da burguesia industrial e da corrente nacionalista do exército”. (Corsi, in: Pires, 2010: 120)
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “O nacionalismo de Vargas não pode ser entendido sem levarmos em conta o contexto internacional. A Grande
Depressão, a Segunda Guerra Mundial e a prioridade dada pelos Estados Unidos à Europa e ao Japão no
pós-guerra interromperam a entrada de capital estrangeiro
no país no período que vai de 1930 a 1955. Esse fato
permitiu, e até obrigou, um desenvolvimento mais
autônomo, apesar dos incessantes esforços de Vargas em
articular, desde a época do Estado Novo, ampla participação do capital estrangeiro na nossa economia (até em setores considerados estratégicos)”. (Corsi, in: Pires, 2010: 121-122)
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
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• “Não por acaso, Vargas não conseguia equacionar esse problema central para a viabilidade de seu projeto desenvolvimentista. Desde o Estado Novo, ele tinha
clara a necessidade de recursos externos para impulsionar a industrialização, dada a acanhada produção de bens de capital na economia brasileira. A
política de alinhamento aos Estados Unidos (1939-1945) e a política de não-alinhamento automático (1951-1954) buscaram aproveitar, com resultados distintos, as brechas existentes naquele contexto de minguados fluxos de capital externo”. (Corsi, in: Pires, 2010: 122)
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “Entretanto, esses problemas só seriam parcialmente
contornados a partir da retomada dos fluxos de capital para a periferia, em meados da década de 1950. A expansão das multinacionais em direção a essa região
abriria novas possibilidades, mas colocaria outras questões ao redefinir a divisão internacional do
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
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• “O padrão de desenvolvimento, calcado nos setores de
bens de capital e intermediários e na expansão da infraestrutura, foi apenas parcialmente implementado,
devido à ausência de um esquema consistente de
financiamento e acumulação e também em virtude da falta de um decidido apoio das classes dominantes a uma ação mais abrangente do Estado na economia
Corsi, in: Pires (2010) – 4.2 O retorno de Vargas
• “A fragilidade do desempenho do setor exportador, em uma situação de baixos fluxos externos de capital, associado à posição do governo norte-americano de restringir o auxílio oficial para o desenvolvimento da América Latina, foi outro elemento que criou dificuldades para o programa de Vargas. Articulado a essas questões, no centro do palco, estava o problema da inserção da
classe trabalhadora na vida política do país”. (Corsi, in:
Para pensar...
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1. Segundo Corsi (in: Pires 2010), por que o projeto desenvolvimentista de Vargas não era de tipo nacionalista/anti-imperialista?
2. Na opinião de Corsi (in: Pires 2010), qual o papel desempenhado pelo populismo na sustentação política de Vargas e na sua derrubada? E o papel desempenhado pelo nacionalismo?