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Academic year: 2021

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DT\882006PT.doc <NoPE>APP/3752/A

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Unida na diversidade

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PARLAMENTO EUROPEU 2009 - 2014

Comissão dos Assuntos

24.10.2011

DOCUMENTO DE TRABALHO

sobre as consequências políticas do conflito na Líbia para os países vizinhos ACP e os Estados da União Europeia

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<NoPE>APP/3752/A 2/5 DT\882006PT.doc

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Introdução

A morte de Muammar Khadafi e os seus 42 anos de autocracia revelam um país sem instituições governamentais sólidas nem partidos políticos, com rara, para não dizer nenhuma, administração pública independente ou sociedade civil, sem tradição de direitos civis, liberdade de expressão ou comunicação e com uma economia de via única dependente, na sua quase totalidade, das receitas da exportação de petróleo. Tentamos, de seguida, avaliar as consequências do conflito líbio para os Estados-Membros da União Europeia e os países ACP vizinhos da região em conflito. O documento apresenta duas partes: a primeira descreve as consequências para os Estados-Membros da UE, enquanto a segunda visa os efeitos para os países ACP.

A. As consequências políticas para os Estados-Membros da UE Efeitos sobre a segurança regional

A Primavera árabe, onde se inclui a revolução líbia, é uma oportunidade histórica única para a UE promover a estabilidade, a prosperidade e o pluralismo político numa região essencial para a estabilidade da Europa. A curto prazo, porém, esses desenvolvimentos políticos positivos a nível nacional podem ser acompanhados por um aumento das ameaças à segurança regional colocadas por actores não estatais, nomeadamente a disseminação de armamento convencional. A UE convidou todos os actores relevantes a garantirem a segurança de quaisquer arsenais de armas químicas, prosseguindo, ao mesmo tempo, o processo de destruição.

A UE realçou o seu compromisso de cooperar com os países da região Sara-Sahel e executar a sua estratégia para o Sahel de forma rápida e eficaz. A "Parceria para a Democracia e a Prosperidade Partilhada com o Sul do Mediterrâneo", que foi apresentada em 8 de Março pela Comissão Europeia e a Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (AR/VP), constitui também uma resposta positiva aos pedidos de apoio dos novos Estados em processo de reforma na vizinhança meridional da Europa.

Persistem, contudo, alguns obstáculos: os Estados-Membros mostram relutância em intervir e apoiar os governos que surgiram com a Primavera árabe, o acesso ao comércio continua a ser mais uma promessa do que uma realidade, tornar mais duras as medidas contra a imigração ilegal é uma exigência que encontra pouco eco junto dos reformadores árabes e, relativamente a alguns Estados árabes, continua a ser clara a escolha europeia a favor de estabilidade política e de uma reforma imposta do topo para as bases.

Efeitos sobre as politicas de migração

Um dos efeitos políticos mais significativos a curto prazo é, porventura, a vaga de imigração ilegal que se seguiu ao vazio político na Líbia. É um ponto que poderá resolver-se por si quando o país recuperar a estabilidade, mas o problema de longo prazo que a Líbia representa enquanto principal país de trânsito para os africanos que pretendem migrar para a Europa irá, provavelmente, manter-se, obrigando os Estados-Membros do sul da UE a enfrentar essa

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vaga.

Até ao início do conflito na Líbia, o país era ponto de partida de migrantes que pretendiam partir para a Europa, mas, ao mesmo tempo, era em si local de destino de migração. O Conselho Nacional de Transição (CNT) calcula que, neste momento, se encontrem na Líbia cerca de 3 milhões de imigrantes ilegais, quando o país tem uma população total de 6,4 milhões de habitantes. Os números da Organização Internacional para as Migrações (OIM) apontam para 1,5 milhões de imigrantes ilegais. É provável que, em resultado do conflito, tenha aumentado tanto a pressão económica para passarem para a Europa como a pressão política exercida sobre muitos africanos subsarianos suspeitos de serem mercenários a soldo de Khadafi.

Desde 2009 patrulhas costeiras conjuntas italo-líbias ajudam a reduzir o número de imigrantes que se aventuram na perigosa travessia marítima com origem na costa líbia rumo à Europa. No entanto, esse acordo de gestão de fronteiras dificilmente sobreviverá à transição política na Líbia e espera-se que a UE e o governo de transição do país negoceiem novo acordo.

Efeitos sobre a segurança energética

Um abastecimento energético seguro, sustentável e competitivo é fundamental para a sociedade e a economia da União e objectivo central da sua política externa e comercial (85% das necessidades de petróleo e 65% das necessidades de gás natural da UE são supridas através de importações). Aumentar a dependência das importações de energia torna cada vez mais complexa a tarefa da UE de garantir um abastecimento estável, em especial perante a procura crescente de energia por parte das economias emergentes.

O conflito líbio travou as exportações de petróleo para a UE ao mesmo tempo que representa uma ameaça para a segurança do abastecimento regional de energia, incluindo o fornecimento de gás natural da Argélia. Antes do conflito, as exportações de petróleo da Líbia equivaliam a cerca de 10% do total de importações de petróleo da UE. Há, porém, países como a Áustria, a Itália e a Irlanda que importam mais de 20% do seu petróleo da Líbia. Tão considerável dependência energética de uma zona em permanente instabilidade devia dar que pensar à UE. Os acontecimentos recentes são auspiciosos, em especial a vitória decisiva das forças do CNT sobre as tropas pró-Khadafi. Não obstante este facto permitir ao CNT reiniciar a produção de petróleo, não existe uma fórmula fiável para prever um calendário para tal, visto não ser possível ter uma ideia exacta dos danos causados às estruturas de exploração petrolífera. Se bem que a UE não tenha, de momento, qualquer razão para se preocupar com a segurança do seu abastecimento energético, a situação poderia alterar-se dramaticamente se a revolução líbia inspirasse um levantamento popular na Argélia, terceiro mais importante fornecedor de gás natural da UE, após a Rússia e a Noruega.

B. As consequências políticas do conflito líbio para os países ACP

O conflito na Líbia, cujos resultados são ainda incertos após a morte do Coronel Khadafi, terá pesadas consequências, que os governos dos países ACP, e, em especial, os da região Sahel-Sara (Mali, Níger e Chade, mas também, em menor grau, Mauritânia, Sudão, Somália e

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Eritreia), dificilmente poderão enfrentar.

Crise humanitária

Em Outubro de 2011, a Organização Mundial para as Migrações e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados calcularam em mais de 700 000 o número de pessoas que fogem da Líbia e procuram refúgio nos países vizinhos, nomeadamente no Níger (83 000), Chade (52 000) e Sudão (3 000). A estes há que acrescentar os milhares de cidadãos de países ACP (provenientes do Mali, Níger, Senegal, Gana, Nigéria, Sudão, Chade, Mauritânia, entre outros) que se encontram bloqueados nos centros de trânsito da Líbia em situação precária, injustamente acusados de serem mercenários a soldo de Khadafi.

Tal circunstância provocou uma situação de emergência humanitária que exige respostas rápidas, nomeadamente por parte da OIM, UNHCR e União Europeia, que devemos saudar pelo apoio já prestado perante os desafios humanitários que se colocam, tanto no território da Líbia como nos países vizinhos.

Reptos que se colocam à segurança e estabilidade na região Sahel-Sara

A insurreição popular na Líbia provocou a perda de controlo do enorme arsenal militar do exército líbio. Quantidades ingentes de armas irão realçar o perigo constituído pelos grupúsculos terroristas, os bandos de criminosos e os traficantes de droga, que fizeram da faixa Sahel-Sara o seu santuário. Acresce que a queda do regime líbio provocou o regresso de centenas de mercenários e combatentes, actualmente recrutas potenciais para os grupos com ligações à Al Qaida no Magreb Islâmico (AQMI) e, eventualmente, para outros grupos que grassam na África Central, como o Exército de Libertação do Senhor.

Na posse destes arsenais e podendo contar com reforços em recursos humanos, a AQMI poderia multiplicar os raptos de cidadãos estrangeiros e os ataques contra os interesses de países ocidentais.

Estes desafios no domínio da segurança são, de resto, amplificados pelo risco do ressurgimento do irredentismo tuaregue que, nos últimos anos, alimentou rebeliões com terríveis consequências em países como o Mali, o Níger e a Mauritânia. Tal risco acentua a fragilidade da região Sahel-Sara e pode atingir gravemente a estabilidade ou, mesmo, a soberania de países cujos governos têm já dificuldade em manter a autoridade em todo o território.

Perante estes dados, impõe-se a mobilização de todos os parceiros de desenvolvimento, e em primeiro lugar a União Europeia, para intensificar a luta contra o terrorismo, o banditismo e a actividade dos traficantes de drogas, nomeadamente através de um apoio financeiro e logístico ao Comité de Estado-maior operacional conjunto (CEMOC) criado para esse efeito em 2010 pela Mauritânia, o Mali, o Níger e a Argélia.

Efeitos socioeconómicos

No passado fonte de salutares transferências de fundos para os respectivos países de origem, os migrantes ACP que se encontravam a trabalhar na Líbia colocam agora, ao regressarem

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precipitadamente ao país, um duplo problema aos governos de origem: por um lado, o fim dessa fonte de receita desfere um rude golpe tanto no Estado como na subsistência de numerosas famílias; por outro, o repatriamento dos migrantes exige a criação, aliás onerosa, de estruturas de acolhimento para reinserir estes retornados.

Também o turismo que, com a agricultura, constitui um dos principais ramos de actividade económica em grande parte da zona sahelo-sariana como, por exemplo, a parte setentrional do Mali, está já a sofrer grande abrandamento devido às operações da AQMI. Qualquer deterioração ulterior da situação da segurança significaria a paragem total deste sector e uma grave perturbação da cadeia económica.

Finalmente, a queda do regime de Khadafi dá azo a outra dúvida fundamental: o que acontecerá aos múltiplos projectos de desenvolvimento ou de investimento em curso em numerosos países africanos a sul do Sara que contam com financiamento líbio?

Conclusão

Como se percebe a partir do exposto anteriormente, as consequências do desmoronamento da Jamahiriya para os países ACP são, em termos gerais, negativas, apesar de ser possível realçar alguns efeitos positivos, entre os quais a provável cessação dos apoios financeiros de que beneficiam alguns grupos terroristas como a organização Al-Shabab, na Somália, e o desaparecimento de um santuário importante para os grupos armados que utilizavam o território líbio como base de retaguarda.

É possível que a estratégia UE-Sahel apresentada em Bruxelas em 19 de Janeiro de 2011 pela Alta Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança constitua um dos meios para atenuar as consequências descritas. Tal estratégia articula-se em redor de quatro eixos: um compromisso a favor do desenvolvimento, da resolução dos conflitos e da boa governação; uma cooperação regional mais estreita; reforço das capacidades estatais no domínio da segurança (sobretudo no Mali, Mauritânia e Níger); luta contra os extremismos e a radicalização.

Referências

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