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OS LAGOSTINS-DA-ÁGUA-DOCE DA BACIA DO GUAIBA UM CASO DE ENDEMISMO NO SUL DO BRASIL (CRUSTACEA, PARASTACIDAE)

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ÁREA TEMÁTICA: BIOLOGIA E ECOLOGIA

OS “LAGOSTINS-DA-ÁGUA-DOCE” DA BACIA DO GUAIBA –

UM CASO DE ENDEMISMO NO SUL DO BRASIL

(CRUSTACEA, PARASTACIDAE)

Ludwig Buckup1,2, Clarissa Köhler Noro1, Georgina Bond-Buckup1,2,

1Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Departamento de Zoologia, PPG_Biologia Animal,

Av.Bento Gonçalves 9500, prédio 43435 CEP 91501-970 Porto Alegre, RS

2IGRE-Associação Sócio Ambientalista, Caixa Postal 18550, CEP 90480-200 Porto Alegre, RS

Autor para contato: Ludwig Buckup: lbuckup@yahoo.com.br Fones: UFRGS 3316-7699, residencial 3328-4698

O trabalho é parcialmente inédito, ou seja, contém dados já publicados (*)e ainda, resultados recentemente obtidos em pesquisas em andamento

Referências bibliográficas de resultados já publicados:

BUCKUP, L. 1999. Família Parastacidae, p.319-327. In Ludwig Buckup e Georgina Bond-Buckup (organizadores) Os Crustáceos do Rio Grande do Sul, Ed.UFRGS.

BUCKUP, L. & GRALA, M. M. 2001. The burrows of Parastacus defossus Faxon, 1898 (Crustacea, Parastacidae). Fifth Internacional Crustacean Congress and Summer 2001 Meeting of the Crustacean Society, Melbourne, Austrália, 9-13 julho, 2001.

BUCKUP, L. & ROSSI, A. 1980. O gênero Parastacus no Brasil (Crustacea, Decapoda, Parastacidae). Revista Brasileira de Biologia 40 (4):663-681.

BUCKUP, L. & ROSSI, A. 1993. Os Parastacidae do espaço maridional andino (Crustacea,Astacidea). Revista Brasileira de Biologia 53(2):167-176.

FONTOURA, N. F. & BUCKUP, L. 1989. O crescimento de Parastacus brasiliensis (von Martens, 1869) (Crustacea, Decapoda, Parastacidae). Revista Brasileira de Biologia 49 (4): 897-909.

FONTOURA, N. F. & L. BUCKUP. 1989. Dinâmica populacional e reprodução em Parastacus brasiliensis (von Martens, 1869) (Crustacea, Decapoda, Parastacidae). Revista Brasileira de Biologia 49 (4): 911-921.

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RESUMO

Os autores reúnem as informações biológicas e ecológicas disponíveis sobre as espécies de “lagostins” da família Parastacidae que ocorrem na área de abrangência da bacia do Guaiba, no Rio Grande do Sul. Citam-se as espécies presentes, a natureza de seu habitat, seu hábito fossorial, sua distribuição espacial, a morfologia das habitações subterrâneas, os hábitos alimentares, o crescimento e o ciclo reprodutor.

Palavras chave: Parastacus, lagostins, freático

INTRODUÇÃO

Nas superfamílias Astacoidea De Haan,1841 e Parastacoidea Huxley,1879, ambas da infraordem Astacidea, estão reunidas as famílias de "lagostins" da água doce.

O laboratório de Crustacea do Departamento de Zoologia da UFRGS vem se ocupando, há vários anos, com as pesquisas sobre a história natural dos Parastacidae Sul Americanos, resultando em diversas publicações contendo os resultados das investigações. Assim, teve-se por objetivo dar seqüência às atividades de pesquisa desenvolvidas neste laboratório, investigando as diversas espécies do gênero Parastacus, com ocorrência registrada para o Brasil meridional e em especial para a bacia do Guaiba.

A presente comunicação visa relatar os conhecimentos existentes sobre a história natural dos “lagostins” do gênero Parastacus, buscando informações sobre: 1) a biologia reprodutiva das espécies; 2) o perfil ecológico das habitações; 3) os hábitos escavadores das espécies; 4) a fauna acompanhante no interior das galerias subterrâneas; 5) os hábitos alimentares e sua dieta; 6) a dinâmica populacional. e a 7) a distribuição geográfica das espécies

METODOLOGIA

Os trabalhos de campo, junto às comunidades de Parastacus, estão sendo desenvolvidos, desde 1975, em todo o Brasil meridional, com ênfase especial na bacia do rio Guaiba, onde ocorre a maior diversidade de espécies do gênero

Amostras de solo das regiões onde são encontrados os “lagostins” foram coletadas e analisadas quanto a granulometria

No espaço de ocorrência das aberturas, durante uma investigação com Parastacus defossus, foram demarcadas áreas de 100 m2, subdivididas em 100 quadrantes de 1m2. As aberturas foram mapeadas em cada quadrante e o tipo de distribuição espacial foi analisada através de testes estatísticos e matemáticos.

Mediu-se a temperatura do ar na profundidade de 0,5-0,75 m abaixo da superfície (nos túneis) e outra medição na superfície, junto ao solo. Também foram feitas a medição de temperatura da água no interior da galeria.

Para medir o nível da água no interior das galerias foram utilizados piezômetros, tomando-se como referência a superfície do terreno.. Para a medição do pH e da concentração de Oxigênio na água, usou-se sondas portáteis de campo. Moldes de gesso calcinado foram obtidos, para estudo complementar da morfologia das galerias

Foram coletadas amostras de água para análise dos parâmetros relativos ao: Na, K, Ca, Mg, Fé, Mn, Cu, Zn, Amônio, fosfato, sulfato, alcalinidade e condutividade elétrica.

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.A fauna presente nas galerias e junto ao corpo dos “lagostins” foi investigada detalhadamente, em especial, a ectofauna e o pholeteros (sensu LAKE, 1977), tanto qualitativa

como quantitativamente.

A curva de crescimento das espécies está sendo ser estimada, tanto por peso como por comprimento, segundo o modelo de vonBERTALANFFY (1938)

O ciclo sazonal de reprodução está sendo determinado pelo exame de animais vivos provenientes de amostragens mensais. Em fêmeas ovígeras, os ovos, ou juvenis, foram contados e seu estágio de desenvolvimento observado. Cada fêmea também terá registrado o estágio de desenvolvimento dos ovócitos, que foram classificados segundo critérios de tamanho e cor, seguindo as recomendações de HAMR & RICHARDSON (1994): grande/marrom, médio/marrom,

médio/amarelo, pequeno/branco, não visível.

Para a análise do conteúdo estomacal os animais foram pesados e logo após, extraido o estômago. Este foi pesado e seu grau de repleção estimado. O conteúdo foi removido com jatos de água e examinado com microscópio estereoscópico. O estômago vazio foi secado em papel absorvente e novamente pesado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na América do Sul os Parastacidae estão representados por apenas três gêneros (Parastacus Huxley,1879, Samastacus Riek,1971 e Virilastacus Hobbs,1991) e dez (10) espécies. Apenas o gênero Parastacus Huxley,1879 está representado no Brasil, com as espécies Parastacus pilimanus, P. brasiliensis, P. varicosus, P. saffordi, P. defossus e P. laevigatus.

Os Parastacidae brasileiros podem ser encontrados nos ambientes límnicos das planícies, preferencialmente em áreas pantanosas e em águas lóticas de pequeno volume e correnteza fraca, faltando nos cursos d'água mais correntosos do planalto sulbrasileiro. Gostam de ocultar-se sob detritos nos remansos dos arroios e junto aos barrancos marginais, entre as raízes da vegetação herbácea e arbustiva ciliar Parastacus brasiliensis, a espécie mais freqüentemente encontrada no Brasil, mais especialmente no Rio Grande do Sul, é formada por populações que ocorrem nos solos argilosos das margens dos rios e arroios, acima do nível da água. Nos banhados, muitos "lagostins" constróem habitações subterrâneas em forma de túneis inclinados, simples ou ramificados, de até 1 metro ou mais de profundidade, que ligam o nível do lençol freático com uma ou mais aberturas na superfície do solo. A periferia das aberturas é freqüentemente elevada pela construção de chaminés argilosas protetoras, que aparentemente visam impedir o alagamento excessivo das "tocas" com água das enchentes ou da chuva. Os animais têm hábitos noturnos, deixando as suas habitações subterrâneas para partir em busca de alimento no interior da água ou nos ambientes emersos paludosos mais próximos.

Estudos sobre os hábitos alimentares de Parastacidae mostram que estes animais são politróficos, sendo ao mesmo tempo herbívoros, onívoros e detritívoros, sendo que a dieta consiste principalmente de detritos de origem vegetal.

A análise do conteúdo gástrico de espécies de P. defossus do Uruguai, demonstrou o predomínio de fibras vegetais, sem evidências de alimento de origem animal.

Aspectos sobre o crescimento e dinâmica populacional da espécie Parastacus brasiliensis foram estudados em uma população no Município de Guaíba por FONTOURA & BUCKUP

(1989a,b). Os autores estimaram o recrutamento anual em 84,8 animais por metro de riacho. O crescimento foi determinado através do acompanhamento de animais marcados e da análise de distribuições de freqüências de comprimento, utilizando-se do modelo de Von Bertalanffy e o tamanho populacional foi estimado pelo método de Jolly (1965). Os autores verificaram que o

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período reprodutivo da espécie estende-se de setembro a fevereiro, existindo duas fases distintas, a fase de postura e incubação dos ovos, que ocorre de setembro a janeiro e a fase de eclosão dos juvenis, entre novembro e fevereiro. As fêmeas atingem a maturidade sexual com cerca de 3 anos de vida e o tempo de incubação dos ovos para a espécie em questão foi estimado em 41±15 dias.

Observações sobre P. defossus indicam que as habitações podem ser semelhantes às de P. pilimanus, descritas por BUCKUP & ROSSI (1980). Nesta última espécie, as habitações possuem

entre 3 a 7 aberturas na superfície do solo, de 5 a 10 cm de diâmetro, que convergem, 30cm a baixo, para uma galeria central única e de diâmetro maior, onde existe coexistência de indivíduos de diferentes gerações numa mesma habitação.

Estudos preliminares sobre a bio-ecologia de uma população de Parastacus defossus encontrada em Mariana Pimentel, no Rio Grande do Sul, foram realizados em 1999 e 2000 por GRALA & BUCKUP, do Laboratório de Crustáceos da UFRGS. Na área de estudo foram

encontradas 805 aberturas, portanto uma média de 8,05 aberturas por metro quadrado. Foram observados fechamentos de aberturas de acesso ao sistema de galerias durante os meses de verão e de abertura de novos acessos durante os meses de inverno, mais chuvosos.

Os exames granulométricos revelaram os seguintes resultados (%):

ARGILA SILTE AREIA FINA AREIA GROSSA

SOLO COM HABITAÇÕES 29 24 15 32

SOLO SEM HABITAÇÕES 25 15 18 42

Os dados acima confirmam a preferência por solos com maior parcela de argila e de silte por parte da Parastacus defossus para a construção de suas habitações subterrâneas.

Os moldes obtidos das galerias subterrâneas indicam que as habitações de Parastacus defossus são semelhantes às de Parastacus pilimanus, descritas por BUCKUP & ROSSI (1980).

Observa-se que um conjunto de galerias está ligado a várias aberturas na superfície do solo, com vários canais de acesso que convergem para galerias mais amplas que penetram até um metro, ou mais, no solo.

CONCLUSÃO

Quatro espécies de lagostins do gênero Parastacus estão presentes na área da bacia do Guaiba (Parastacus brasiliensis, P.pilimanus, P. defossus e P. varicosus), vivendo,

preferencialmente, em galerias cavadas nos solos úmidos e argilosos. Conclui-se que se trata de animais que necessitam de um ambiente aquático e edáfico livre de poluição, em especial nas águas subterrâneas, das quais dependem para a sua sobrevivência, alimentação e reprodução..

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, A. O. & BUCKUP. L. 1997. Aspectos anatômicos e funcionais do aparelho reprodutor de Parastacus

brasiliensis (von Martens) (Crustacea, Decapoda, Parastacidae). Revista brasileira de Zoologia 14 (2):

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ALMEIDA, A.O. & BUCKUP, L. 1999, Caracteres sexuais primários e secundários do lagostim Parastacus defossus Faxon, 1898 (Crustacea, Parastacidae). Nauplius 7: 113-126.

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