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A MATEMÁTICA PRESENTE NOS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE PEDAGOGIA DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS DO RIO GRANDE DO SUL

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A MATEMÁTICA PRESENTE NOS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE

PEDAGOGIA DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS DO RIO GRANDE DO

SUL

Eixo Temático 6 – Aspectos relacionados aos processos de Ensino e Aprendizagem de Matemática no Ensino Superior

Luana Leal Alves Leila de Souza Mello Antônio Maurício Medeiros Alves

Resumo

O presente artigo apresenta um estudo sobre a Matemática presente nos currículos dos Cursos de Pedagogia ofertados em Universidades públicas no estado do Rio Grande do Sul, problematizando, a partir de diferentes autores, a formação dos professores que ensinam Matemática sem ter formação específica na área. O objetivo do mesmo é apresentar uma reflexão a partir de uma breve análise do número de disciplinas com foco na Matemática presente nos Cursos de Pedagogia, aproximando os dados encontrados a pesquisas realizadas na área de Educação Matemática, versando sobre o tema. A partir de um estudo de caso focado na problemática apresentada, procurou-se refletir sobre as necessidades e potencialidades das formações continuadas na prática dos professores que ensinam Matemática.

Palavras-chave: Curso de Pedagogia; Professores que ensinam Matemática; Educação Matemática; Anos iniciais.

1. Introdução

Pretende-se abordar aqui, alguns desafios e reflexões acerca da formação inicial e continuada dos professores que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, denominados nesse trabalho como professores que ensinam Matemática (PEM) ou professores polivalentes, os quais, em sua grande maioria, não possuem Licenciatura em Matemática, mas formação em Pedagogia, Magistério ou no curso Normal. Sobre essa formação, Moura (2004) manifesta-se:

Na história de formação desses professores em nosso país, até o momento atual, ainda é dominante a formação com terminalidade no magistério secundário, onde a Matemática é, via de regra, abordada do ponto de vista da didática dos conceitos aritméticos elementares, deixando a desejar um maior aprofundamento dos conceitos fundamentais da Matemática e de suas relações com outras áreas (MOURA, 2004, p. 18).

Esta realidade, citada por Moura, não está presente apenas nos cursos de Magistério, mas também ocorre na Licenciatura em Pedagogia, na qual a carga horária que destina-se a

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trabalhar com conteúdos matemáticos, que servirão de suporte a esses futuros professores, é tratada de forma reduzida em seus currículos, sobressaindo as questões metodológicas e deixando de lado as práticas para o ensino da Matemática.

Não objetiva-se analisar a qualidade da formação realizada nos cursos Normal ou na Pedagogia, mas repensar sobre como a Matemática é abordada nessas instituições, pois essa abordagem pode garantir diversas competências necessárias aos estudantes.

Assim, a partir deste trabalho, busca-se uma reflexão sobre a importância da participação dos PEM em cursos de formação continuada, visto a fragilidade da formação inicial desses docentes, no que se refere à Matemática, possivelmente contribuindo pouco para o domínio de conceitos dessa área, necessários à sua prática docente.

2. Formação dos Professores que ensinam Matemática no contexto brasileiro

O tempo de formação que o futuro professor dos anos iniciais dedica para cumprir sua formação, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (2006), deve ser de, no mínimo, “3.200 horas de trabalho acadêmico” (BRASIL, 2006, p. 14). Entretanto esse tempo, no caso da Pedagogia, é destinado ao trabalho com todos componentes curriculares com os quais o professor atuará posteriormente, além das disciplinas de formação pedagógica geral, sendo dedicado um tempo, a nosso ver, muito restrito para o aprofundamento em questões relacionadas a Matemática, matéria que deverá ser um dos objetos de ensino futuro dos egressos desse curso.

Para ter uma ideia do espaço ocupado pela Matemática nos Projetos dos Cursos de Pedagogia oferecidos em algumas Universidades públicas do estado do Rio Grande do Sul, realizou-se uma breve análise do número de disciplinas com foco na Matemática presente nesses cursos, mais especificamente em seis Universidades gaúchas.

Essa breve análise dos currículos do Curso de Pedagogia de cada Universidade, nos revelou o seguinte quadro:

a) Universidade Federal do Rio Grande1 (FURG), das 3.250 horas do curso de Pedagogia,

90 horas são dedicadas às disciplinas, “Metodologia do Ensino em Matemática para Crianças, Jovens e Adultos” (30h) e “Metodologia do Ensino em Matemática para Crianças, Jovens e Adultos II” (60h);

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b) Universidade Federal do Rio Grande do Sul2 (UFRGS), o curso de Pedagogia dispõe de 3.200 horas para formação do pedagogo, dentre as quais estão duas disciplinas obrigatórias que abordam a Matemática: “Educação Matemática I” (75h) e “Educação Matemática II” (45h);

c) Universidade Federal de Pelotas3 (UFPel), possui 3.203 horas ao total para formação do

pedagogo, mas não há na grade curricular nenhuma disciplina obrigatória cujo título remeta ao estudo específico de Matemática, porém, segundo o projeto pedagógico do curso (2012, p. 38 e 39), a Matemática está no quarto e sexto semestre, nas disciplinas de “Ensino-Aprendizagem, Conhecimento e Escolarização IV” (68h) e “Teoria e Prática Pedagógica IV” (85h);

d) Universidade Federal de Santa Maria4 (UFSM), possui carga horária de 3.465 horas,

apresenta duas disciplinas obrigatórias com relação a Matemática, com cargas horárias de 60h cada, sendo uma no quarto semestre “Educação Matemática I” e outra no quinto semestre “Educação Matemática II”;

e) Universidade Estadual do Rio Grande do Sul5 (UERGS), apresenta 3.435 horas/aula,

nas quais contempla 03 componentes voltados ao ensino de Matemática: “Conceitos e relações matemáticas na Educação Infantil” (5º semestre), “Educação Matemática: Anos Iniciais” (6º semestre) e “Educação Matemática: EJA” (7º semestre), cada componente com 30h, totalizando 90h destinadas a Matemática;

f) Universidade Federal do Pampa6 (Unipampa), com carga horária de 3.220 horas, traz

duas disciplinas, no sexto semestre a disciplina “Ensinar e aprender a Matemática I” com carga horária de 60 horas e no sétimo semestre “Ensinar e aprender a Matemática II” com carga horária de 60 horas.

Essa breve análise aos projetos ou currículos dos cursos de Pedagogia das instituições públicas de ensino superior do Rio Grande do Sul, possibilitou constatar que há pouco espaço para a Matemática na formação inicial dos futuros professores, os quais terão, entre os objetos 2 https://www.ufrgs.br/pedagogia/wp-content/uploads/2018/05/grade-curricular-pedagogia-2018-1.pdf 3 https://wp.ufpel.edu.br/pedagogia/files/2014/10/ORGANIZA%C3%87%C3%83O-CURR%C3%8DCULAR-PEDAGOGIA.pdf 4 http://www.pedagogia.diurno.ufsm.br/index.php/curso/ppc-do-curso# 5 http://www.uergs.rs.gov.br/upload/arquivos/201607/06112315-grade-curricular-pedagogia2014.pdf 6 http://dspace.unipampa.edu.br/bitstream/riu/125/4/PPC_Pedagogia_Jaguar%C3%A3o.pdf

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de ensino, que desenvolver em sua prática docente. Outros estudos mostram que essa não é uma realidade apenas dessas Universidades ou do estado do Rio Grande do Sul. É uma situação recorrente e que vem sendo discutida por vários educadores, como é o caso de Curi (2004), que ao investigar como os cursos de Pedagogia abordavam o ensino de Matemática na formação inicial, constatou que 90% desses cursos destacam a importância de conteúdos metodológicos matemáticos à formação desses profissionais, no entanto as disciplinas que abordam estas questões tem uma carga horária reduzida, com foco ainda menor no conhecimento do conteúdo matemático.

Há de se destacar a importância do conhecimento dos diversos conteúdos escolares, por parte dos pedagogos, com destaque, nesse texto, para um dos objetos que irá fazer parte de sua prática docente: o conhecimento matemático. Acerca da questão do domínio do conhecimento do conteúdo das diferentes áreas que competem aos egressos de Pedagogia desenvolverem enquanto docentes, nos baseamos em Shulman (2014), que argumenta que se o conhecimento fosse organizado em categorias, elas seriam:

• conhecimento do conteúdo;

• conhecimento pedagógico geral, com especial referência aos princípios e estratégias mais abrangentes de gerenciamento e organização de sala de aula, que parecem transcender a matéria;

• conhecimento do currículo, particularmente dos materiais e programas que servem como “ferramentas do ofício” para os professores;

• conhecimento pedagógico do conteúdo, esse amálgama especial de conteúdo e pedagogia que é o terreno exclusivo dos professores, seu meio especial de compreensão profissional;

• conhecimento dos alunos e de suas características;

• conhecimento de contextos educacionais, desde o funcionamento do grupo ou da sala de aula, passando pela gestão e financiamento dos sistemas educacionais, até as características das comunidades e suas culturas;

• conhecimento dos fins, propósitos e valores da educação e de sua base histórica e filosófica (SHULMAN, 2014, p. 206).

O autor ainda destaca que:

Entre essas categorias, o conhecimento pedagógico do conteúdo é de especial interesse, porque identifica os distintos corpos de conhecimento necessários para ensinar. Ele representa a combinação de conteúdo e pedagogia no entendimento de como tópicos específicos, problemas ou questões são organizados, representados e adaptados para os diversos interesses e aptidões dos alunos, e apresentados no processo educacional em sala de aula (SHULMAN, 2014, p. 207).

Sendo o conhecimento pedagógico do conteúdo tão especial, pois traz os corpos de conhecimentos necessários ao ensino, para aprofundar esse tema, que os cursos de formação continuada são tão necessários. Shulman (2014), salienta que:

Só a compreensão não é suficiente. A utilidade desse conhecimento está no seu valor para julgamento e ação. Portanto, em resposta ao meu aforismo, “os que podem fazem;

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os que compreendem ensinam” (SHULMAN, 1986b, p.14), Petrie (1986) corretamente observou que eu não avançara o suficiente. A compreensão, disse ele, deve ser ligada ao julgamento e à ação para que possa ser usada apropriadamente a fim de forjar sábias decisões pedagógicas (SHULMAN, 2014, p. 215).

Apoiados em Shulman, entendemos que, para chegar a “sábias decisões pedagógicas”, só a compreensão não é suficiente; ela deve estar ligada ao julgamento e à ação. Os professores só podem ensinar aquilo que compreenderam e julgam ser necessário colocar em prática e, para essa prática, é necessário um investimento maior na exploração do conhecimento do conteúdo matemático, nos cursos de Pedagogia, na formação dos professores para os anos iniciais.

Somando a prioridade para as questões metodológicas, além da carga horária reduzida das disciplinas de formação Matemática dos pedagogos, ficam evidentes os múltiplos desafios que os professores que ensinam Matemática enfrentam no seu trabalho. A formação inicial parece, numa breve análise, não dar conta de toda a demanda de conceitos, noções e conteúdo de Matemática que precisam ser bem compreendidos pelos futuros professores, para que possam construí-los com as crianças, quando estiverem a frente da sala de aula.

Essa constatação é evidenciada nos estudos de Nacarato, Mengali e Passos:

Podemos, então, dizer que as futuras professoras polivalentes têm tido poucas oportunidades para uma formação matemática que possa fazer frente às atuais exigências da sociedade e, quando ela ocorre na formação inicial, vem se pautando nos aspectos metodológicos (NACARATO, MENGALI e PASSOS, 2011, p. 22).

Além da carência Matemática presente na formação inicial dos PEM, outras dificuldades se somam à sua atuação nessa área na sua prática, como outros fatores resultantes de suas vivências, enquanto estudantes, envolvendo seus sentimentos e crenças sobre a Matemática.

Antes de entrar numa sala para “dar aula”, os professores que ensinam Matemática passaram muitos anos como estudantes e essa experiência, muitas vezes, deixa marcas profundas que, mesmo inconscientemente, podem prejudicar o seu ensino e, consequentemente, a aprendizagem dos estudantes. Lembranças sobre a forma com que seus antigos professores ensinavam ou se relacionam com os alunos pode ter uma influência direta nas suas crenças e na sua prática.

Thompson nos remete a ideia do papel dessas crenças:

Crenças, visões e preferências dos professores sobre a matemática e seu ensino, desconsiderando-se o fato de serem elas conscientes ou não, desempenham, ainda que sutilmente, um significativo papel na formação dos padrões característicos do comportamento docente dos professores (THOMPSON, 1997, p. 40).

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Essas crenças e visões acabam influenciando o comportamento docente dos professores, que muitas vezes, mesmo sem ter plena consciência disso, repetem antigas práticas, imitam posturas e reproduzem discursos que reforçam visões deformadas da Matemática, como uma linguagem de poder, um sistema perfeito, infalível e exato, mas não acessível a todos, só aos mais inteligentes. O supracitado é ratificado na pesquisa de Alves (2019), que salienta que o ensino de Matemática, muitas vezes, é conduzido com superioridade para os que “são bons”, e deixado de lado o alunos que tem dificuldades, o que fomenta lembranças negativas que se perpetuam, como bloqueios ao ensinar conteúdos matemáticos.

A visão que os PEM apresentam sobre a Matemática influenciam, não só as aulas, mas a perspectiva com que seus alunos percebem o ensino desta disciplina. As crenças são atitudes peculiares de cada indivíduo, mas que, quando exploradas, podem ser modificadas.

Assim, acredita-se que a formação continuada desses professores é uma alternativa para reduzir as possíveis dificuldades enfrentadas por eles, além de tornar possível que novos saberes sejam construídos e incorporados às crenças que poderão ser modificadas ao longo dessa formação.

3. A importância da formação continuada

A fim de superar as lacunas da formação inicial no que tange ao conhecimento matemático, é viável que os egressos dos cursos de Pedagogia, em atuação nas escolas, os PEM, estejam em um processo contínuo de formação realizado na docência, ou seja, que os professores estejam sempre refletindo sobre suas decisões, num espaço formativo que, para além de proporcionar compreensões sobre conteúdos ou teorias, seja um espaço dialógico, de trocas e reflexões sobre experiências e estratégias utilizadas em sala de aula, num ambiente colaborativo, onde as decisões e as responsabilidades competem a todos os envolvidos e o professor fique cada vez mais consciente de sua identidade profissional e do seu protagonismo no processo educativo, como confirma a pesquisa de Mello (2020).

Também é possível afirmar que se as verdadeiras mudanças na educação partem da prática dos professores, também não é possível pensar nelas, sem repensar os processos formativos. Antigos modelos de formação em massa, que não levavam em conta os anseios dos professores, que eram decididos e propostos por “expert’s”, de forma vertical, trazendo soluções genéricas para os mais diversos problemas, fora do contexto das escolas, não funcionam mais, se é que algum dia foram úteis. Diversos processos formativos foram

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realizados nestes moldes, no qual predominava a transmissão de teorias e técnicas que não tinham eco na prática dos professores e, por isso, apesar de muitas formações, houve poucos avanços. Por isso, Imbernón (2009) recomenda que se repense os processos formativos, indicando que:

A formação permanente deverá gerar modalidades que ajudem o professorado a descobrir sua teoria, organizá-la, fundamentá-la, revê-la e destruí-la ou construí-la de novo. Isso abrange uma mudança radical da forma de pensar a formação, já que não supõe tanto o desenvolvimento de modalidades centradas nas atividades da aula, nem ver o(a) professor(a) como um aplicador de técnicas, mas privilegia o comprometimento com uma formação orientada para um sujeito que tem capacidades de processamento da informação, análise e reflexão crítica, decisão racional, avaliação de processos e reformulação de projetos, tanto trabalhistas como sociais e educativos em seu contexto e com seus colegas (IMBERNÓN, 2009, p. 48).

Esta proposta de processo formativo reconhece as capacidades dos professores, dando-lhes o protagonismo de sua formação, propondo uma enorme mudança nas modalidades de formação existentes, ao inverter a lógica de que só um expert poderia transmitir teorias e informações, bem como, apontar soluções para os desafios enfrentados pelos professores. Além disso, um processo formativo deve levar em conta que os professores lidam com diversas situações que influenciam suas atitudes, como o contexto ao qual estão inseridos.

Pelo exposto, pode-se perceber a necessidade da oferta de cursos de formação continuada para a prática dos PEM. Concorda-se que é imprescindível repensar o currículo dos cursos de formação inicial mas, enquanto essas importantes alterações não são realizadas, é necessário oportunizar, a esses professores, saberes docentes necessários à sua prática, o que é possível por meio de ações de formação continuada. Entretanto, para isso, é necessário ouvi-los como protagonistas desse processo, como apontam Nacarato e Paiva:

As pesquisas vêm destacando o protagonismo do professor no que diz respeito aos processos de desenvolvimento profissional e de formação: o professor tem tido voz e vem sendo ouvido; as pesquisas não têm sido sobre o professor mas, principalmente, com o professor: há uma preocupação com o repertório de saberes do futuro profissional, considerando que esse não pode ser reduzido aos saberes do conteúdo matemático apenas; é enfatizada a importância da aprendizagem compartilhada e dos grupos colaborativos para o desenvolvimento profissional, dentre outros (NACARATO e PAIVA, 2013, p. 24).

Assim, a formação continuada deve se constituir num espaço onde os saberes docentes podem ser compartilhados, permitindo aos PEM não apenas a troca de “receitas prontas”, mas como (re)construir conceitos com os estudantes, com a oportunidade de refletir sobre diferentes ações, pensando se são ou não adequadas a uma determinada turma e ao momento atual, ou

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seja, refletir sobre suas práticas. Pois é necessário saber o que se está fazendo, por que deve ser feito de determinada maneira e onde se quer chegar, como afirmam Nacarato e Paiva:

Saber por que se ensina, para que se ensina, para quem e como se ensina é essencial ao fazer em sala de aula. O professor precisa estar em constante formação e processo de reflexão sobre seus objetivos e sobre a consequência de seu ensino durante sua formação, na qual ele é o principal protagonista, assumindo a responsabilidade por seu próprio desenvolvimento profissional (NACARATO e PAIVA, 2013, p. 92). Esse processo de constante formação permite ao professor uma maior consciência sobre a importância do seu papel, além de auxiliar na construção da sua identidade profissional, que irá conduzir suas ações. São essas concepções, baseadas num aporte teórico coerente, além da prática acompanhada de permanente reflexão, ou seja, da práxis, que constituem a identidade profissional de um professor.

Essa ação pedagógica exige uma base teórica que a sustente e apoie a atividade, ou seja, teoria e prática reflexiva precisam estar imbricadas, pois estão relacionadas com as reflexões advindas delas e serão mais ponderadas se o docente se embasar nos preceitos que acredita. A ação do professor está imbuída de suas crenças, de sua identidade profissional, que é determinada pela sua escolha, consciente ou não, das teorias existentes, como indica Gimeno:

A importância da teoria (cultura objetiva) na formação docente, uma vez que, alémde seu aprendizado ter poder formativo, dota o sujeito de pontos de vista variados para uma ação contextualizada. Os saberes teóricos propositivos se articulam aos saberes da prática ao mesmo tempo ressignificando-os e sendo, por sua vez, re-significados. Assim, o papel da teoria é oferecer aos professores perspectivas de análise para compreenderem os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais e de si mesmos como profissionais, nos quais se dá sua atividade docente, para nele intervir, transformando-os (GIMENO apud PIMENTA, 2000, p. 92).

Portanto, acredita-se que, se os PEM estiverem em constante formação, terão mais oportunidades de refletir quais saberes teóricos estão sustentando sua prática e se eles estão dando conta ou não das demandas do processo ensino-aprendizagem ou o que poderão fazer para potencializar esse processo, transformando-o, sempre que considerarem necessário, além de terem a oportunidade de complementar sua formação matemática, principalmente aprofundando o estudo dos conceitos próprios dessa área fundamentais para uma prática profissional de qualidade.

4. Metodologia

Conforme anunciado no resumo, o presente texto apresenta, em linhas gerais, uma breve análise, a partir dos currículos dos cursos de Pedagogia ofertados em Universidades públicas

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do Rio Grande do Sul, buscando problematizar, através de diferentes autores, a formação dos professores que ensinam esta Matemática nos anos iniciais do ensino fundamental, sem ter a formação específica na área.

Para esse trabalho a metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, cujo objetivo foi apresentar uma reflexão a partir de uma breve análise do número de disciplinas com foco na Matemática, presentes nos cursos de Pedagogia analisados.

Além disso, utilizou-se do estudo de caso, tendo como foco a problemática já mencionada, a fim de refletir sobre a necessidade e potencialidades das formações continuadas para a prática dos PEM.

5. Considerações finais

A partir do estudo feito, foi possível perceber a importância da pesquisa sobre a formação inicial dos PEM, pois são estes os responsáveis pelo ensino da Matemática nos primeiros anos do Ensino Fundamental.

Ao ensinar a Matemática, o professor deve ir além de orientar os alunos a fazer contas ou a copiar atividades propostas, como meros reprodutores de modelos, deve propiciar momentos para que o estudante possa formular suas estratégias, buscar os resultados, reconstruindo conceitos, redescobrindo conteúdos. Mas, para isso, é necessário, que os cursos de formação inicial dos PEM sofram mudanças, pelas quais esses futuros professores sejam incentivados a continuar se aprimorando, pois pela forma que os currículos estão organizados, esses docentes deixam as Universidades sem conhecimento suficiente da área para ensinar Matemática.

No entanto sabemos que, enquanto esse processo de reformulação dos currículos não se efetiva, é preciso que se ofereçam cursos de formação continuada, pensando em auxiliar os PEM nos desafios enfrentados em sua prática, instrumentalizando-os, dando subsídios necessários a sua atuação na sala de aula. É necessário oportunizar momentos em que possam refletir sobre suas práxis, repensar metodologias, pensar em teorias, mudar paradigmas, buscando uma atualização. Por tudo isso, acreditamos que, devido a situação atual, os cursos de formação continuada são imprescindíveis para uma melhor atuação dos PEM na sala de aula.

6. Referências

ALVES, L. L. O papel da formação e das crenças no desenvolvimento da professoralidade de professoras polivalentes para o ensino de Matemática. 2019. Dissertação (Mestrado em

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Ensino de Ciências e Matemática - Mestrado Profissional) - Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2019.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº 5/2005. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia. 2006.

CURI, E. FORMAÇÃO DE PROFESSORES POLIVALENTES: uma análise de conhecimentos para ensinar Matemática e de crenças e atitudes que interferem na constituição desses conhecimentos. 2004. 278f. Tese (Doutorado em Educação Matemática) – PUC, São Paulo, 2004.

IMBERNÓN, F. Formação permanente do professorado: novas tendências. Tradução de Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Cortez, 2009.

MELLO, L. de S. Campo Conceitual Multiplicativo: reflexões sobre o ensino de Matemática em um curso de formação continuada com professoras dos anos iniciais. 2020. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática - Mestrado Profissional) - Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2020.

MOURA, A. R. L. de. Conhecimento matemático de professores polivalentes. Encontro Paulista de Educação Matemática, 7, 2004, São Paulo.

NACARATO, A. M.; MENGALI, B. L. S.; PASSOS, C. L. B. A matemática nos anos iniciais do ensino fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

NACARATO, A. M.; PAIVA, M. A. V. A formação do professor que ensina matemática: perspectivas e pesquisas. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

PIMENTA, S. G. A pesquisa em didática 1996 a 1999. In: ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO 10, 2000, Rio de Janeiro, Anais: Didática, currículo e saberes escolares. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p.78-106.

SHULMAN, L.S. Conhecimento e ensino: fundamentos para a nova reforma. Cadernos Cenpec. v.4, n.2, p.196-229, 2014.

THOMPSON, A. F. A relação entre concepções de matemática e ensino de matemática de professores na prática pedagógica. Zetetiké, Unicamp/Fac. Educação, CEMPEM, v.5, n.8, jul/dez.1997. p. 9-44.

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