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RUMO À AÇÃO PEDAGÓGICA: UM PANORAMA DA PRODUÇÃO DE PESQUISAS EM ETNOMATEMÁTICA

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RUMO À AÇÃO PEDAGÓGICA: UM PANORAMA DA PRODUÇÃO

DE PESQUISAS EM ETNOMATEMÁTICA

Diego Pereira de Oliveira Cortes¹ Milton Rosa²

Daniel Clark Orey³

¹Universidade Federal de Ouro Preto, diegomestradoufop@gmail.com ²Universidade Federal de Ouro Preto/ CEAD, milton@cead.ufop.br ³Universidade Federal de Ouro Preto/ CEAD, oreydc@gmail.com

Resumo:

Este artigo se originou de uma pesquisa realizada em uma disciplina do Mestrado Profissional em Educação Matemática da Universidade Federal de Ouro Preto. Para o desenvolvimento desse artigo apresenta-se o levantamento de 7 investigações de um total de 83 dissertações e teses desenvolvidas no Brasil entre e inclusive os anos de 2005 e 2015, que continham o tema Etnomatemática. Primeiramente, objetivou-se determinar um método de busca que atendesse aos objetivos propostos para a realização dessa pesquisa. Nesse sentido, realizou-se um levantamento bibliográfico no Banco de Teses da Capes, no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPQ e no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Neste levantamento, verificou-se que no período observado existe uma lacuna na condução de pesquisas que relacionam a etnomatemática com a sua ação pedagógica. Porém, independentemente dessa lacuna há a constatação de um avanço na qualidade das investigações conduzidas nesta área de estudo. Como resultado, essa pesquisa teórica possibilitou uma reflexão crítica sobre a possibilidade da utilização da ação programa etnomatemática em salas de aula.

Palavras chaves: Etnomatemática, Ação Pedagógica.

Introdução

Nas últimas três décadas, uma quantidade significante de pesquisas em Etnomatemática tem sido desenvolvida no Brasil por um grande número de pesquisadores, mestrandos e doutorandos, que vem contribuindo para o desenvolvimento de investigações relacionadas nesse campo educacional. Dessa maneira, com o intuito de descrever mais contribuições para o programa etnomatemática, objetivou-se realizar um levantamento bibliográfico visando verificar a proximidade deste programa com o ambiente escolar. Nesse sentido, o principal objetivo desse artigo teórico, é verificar como está o desenvolvimento da ação pedagógica do programa etnomatemática no Brasil.

Nesse direcionamento, a etnomatemática deve ser entendida como um programa de pesquisa que tem um papel mediador entre os conhecimentos desenvolvidos nos diversos contextos socioculturais e nos ambientes escolares. Assim, a etnomatemática pode ser definida como a:

Matemática encontrada entre os grupos culturais identificáveis, tais como: sociedades tribais nacionais, grupos de obreiros, crianças de uma

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certa categoria de idade, classe profissionais, etc. Sua identidade depende amplamente dos focos de interesse, da motivação e de certos códigos e jargões que não pertencem ao domínio da Matemática acadêmica (D’AMBROSIO,1994, p. 89).

De acordo com essa asserção, para que a ação pedagógica do Programa Etnomatemática seja implementada em salas de aula, existe a necessidade da incorporação dos aspectos culturais da Matemática, da contextualização de seus conteúdos e da utilização da tecnologia em seu ensino e aprendizagem (D’AMBROSIO, 2009). Esta abordagem é necessária para orientar os alunos no processo de transição da subordinação para a autonomia, direcionando-os para o amplo exercício da cidadania (ROSA, 2010).

Assim, a perspectiva Etnomatemática assume uma postura para a ação pedagógica que adota um conceito de:

(...) currículo que considera os componentes tradicionais – objetivos, conteúdos e métodos -, porém de forma integrada. É impossível considerar cada um separadamente e, provavelmente, a principal razão das falhas identificadas na chamada matemática moderna tem suas raízes na quebra dos componentes do currículo em domínios independente de pesquisa (D’AMBROSIO, 1998, p. 63).

Essa ação pedagógica pode ser considerada como a proposição de uma Educação Matemática inovadora, que procura trazer a bagagem cultural dos alunos para a prática pedagógica que é desencadeada nas salas de aula por meio de situações contextualizadas com a utilização de projetos de natureza global, como, por exemplo, a construção de uma cabana ou o mapeamento de uma cidade ou a avaliação de consumo de água, pois esses elementos fornecem informações que exigirão o manejar de problemas e modelos.

Essa abordagem aberta da educação matemática é realizada com a elaboração de atividades orientadas, motivadas e induzidas a partir do meio, e, consequentemente, refletindo conhecimentos anteriores, que restabelece a matemática como uma prática natural e espontânea (D’AMBROSIO, 1998).

Dessa maneira, para a busca de informações para auxiliar no entendimento dessas asserções, a ação inicial desta pesquisa foi buscar informações sobre a produção brasileira no período compreendido de 2005 a 2015 com relação ao Programa Etnomatemática como uma Ação Pedagógica para as atividades curriculares desencadeadas em salas de aula. Portanto, espera-se que o desenvolvimento desta pesquisa possa contribuir para o reconhecimento da qualidade das investigações conduzidas nessa área de estudo, permitindo, assim, identificar as suas potencialidades para ação pedagógica no processo de ensino e aprendizagem em matemática.

Metodologia

Para o desenvolvimento desta pesquisa realizou-se, no período de 1 a 10 de junho de 2015, um levantamento bibliográfico no Banco de Teses1 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no Diretório de Grupos de Pesquisa2 do CNPQ e no sitio do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e

1

http://bancodeteses.capes.gov.br/ 2

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Tecnologia3 (IBICT). A palavra chave utilizada foi Etnomatemática, que foi pesquisada por meio dos seguintes critérios para a seleção dos trabalhos:

a) Para o portal do Banco de Teses da CAPES foi utilizado o mecanismo de busca avançado, onde foi selecionada a opção Título: Etnomatemática, Resumo:

Etnomatemática e Período: 2005-2015. Essa busca disponibilizou um total de 18

dissertações e teses.

b) Para o portal do Diretório de grupos de pesquisa do CNPQ foi utilizado o mecanismo de busca simples por meio da inserção da palavra-chave Etnomatemática, que originou um total de 62 grupos de pesquisa em diversas instituições públicas e privadas. Desses 62 grupos, foram selecionados 52 que estão relacionados com as áreas de Matemática e Educação. Dessa maneira, foram descartados 10 grupos que não continham trabalhos relacionados com a Etnomatemática. Após a seleção, esses 52 grupos de pesquisa foram acessados por meio dos sítios das instituições educacionais que os hospedam. Por meio dessa busca foram encontradas um total de 53 dissertações e teses.

c) No portal do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) foi inserida no mecanismo de busca simples a palavra-chave Etnomatemática, período

2005 a 2015 e Campo Assunto, que disponibilizou um total de 79 dissertações e teses.

Após essa primeira fase, realizou-se um refinamento das dissertações e teses que apareciam em mais de um dos mecanismos utilizados para a busca. Dessa maneira, após esse refinamento, a quantidade de teses e dissertações foi reduzida de 150 para 83 trabalhos de investigação que continham temas relacionados com o Programa Etnomatemática. Desses 83 trabalhos selecionados, somente 7 investigações estavam relacionadas com a ação pedagógica do programa etnomatemática.

Durante a realização da busca destes trabalhos foi elaborada uma tabela na qual foram classificados todos os trabalhos com relação a: Instituição, Ano de Defesa, Título, Autor, Modalidade (Mestrado ou Doutorado), Banca Examinadora, Orientador, Questão de Pesquisa, Referenciais Teóricos (mais utilizados), Metodologia, Resultados ou Conclusão.

Resultados

Das oitenta e três investigações disponibilizadas pelos sites de busca pesquisados, quinze eram teses de doutorado e sessenta e oito eram dissertações de mestrado. As primeiras pesquisas localizadas foram defendidas no ano de 2005, sendo que compreendendo a maior quantidade de investigações no período observado. O gráfico 1 mostra que a partir de 2005, de acordo com os sites investigados, houve uma queda na produção de dissertações e teses em Etnomatemática no Brasil.

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Gráfico 1. Número de produções em Etnomatemática, por ano, nos sites pesquisados.

Fonte: Dados da pesquisa.

Os resultados dessa análise mostram que há uma opção significativa pela utilização da metodologia qualitativa e etnográfica, que são muito comuns na área da educação matemática. Esses resultados também mostram que os principais referenciais teóricos referenciados nessas investigações foram D’Ambrosio, Knijnik, Ferreira e Gerdes.

Das dezenove instituições pesquisadas, 15 são públicas e 4 (quatro) são privadas. A análise dos dados mostra que a região Sudeste se destaca na quantidade de pesquisas realizadas, destacando-se para as instituições Universidade Estadual Paulista “Julio de

Mesquita Filho” (UNESP) e a Universidade de São Paulo (USP) com, respectivamente, 18

e 12 investigações.

É importante ressaltar que as regiões Sul e Nordeste apresentam um bom quantitativo na realização de pesquisas enquanto as regiões Norte e Centro-Oeste apresentam o menor número dessas produções. A figura 1 mostra a concentração dos trabalhos pesquisados, bem como a apresentação do quantitativo por instituição.

Figura 2: Concentração dos trabalhos em Etnomatemática por região.

Fonte: Dados da Pesquisa

UFRN (11) UFPE(1) UFRPE (1) UFU (1) UNESP (18) UFPA (3) USP (12) PUC-SP (7) UFES (1) UFMG (5) UFMT (2) UFOP (1) UFMS (2) UFG (3) Univates (3) PUC-RS (8) UFRGS (2) UEPG - PR (1) Unisinos (1)

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Análise das investigações selecionadas

Neste tópico apresenta-se um breve relato dos 7 estudos selecionados para a análise proposta neste estudo que se aproximam da Ação Pedagógica do programa Etnomatemática.

Velho (2014) conduziu a pesquisa intitulada Aprendizagem da Geometria: a

etnomatemática como método de ensino, cujo o objetivo geral foi analisar as contribuições

da Etnomatemática como um método de ensino para a aprendizagem da Geometria. Para o desenvolvimento de sua pesquisa, a autora utilizou os conhecimentos etnomatemáticos de uma comunidade escolar e de um profissional da marcenaria. Essa pesquisa foi desenvolvida com um público de 24 alunos do 7º ano do ensino fundamental de uma escola pública.

A análise dos dados que emergiram durante o trabalho de campo mostrou que a Etnomatemática pode ser utilizada em sala de aula como um método que favorecendo o ensino de conteúdos matemáticos a partir da interpretação, da construção e da verbalização do conhecimento que os alunos possuem. Assim, essa abordagem possibilita o desenvolvimento de uma aprendizagem substancial e de cunho crítico por meio da interação sociocultural entre os alunos. Os resultados desse estudo corroboram com o ponto de vista de D’Ambrosio (2008), pois a:

(...) etnomatemática propõe uma pedagogia viva, dinâmica, de fazer o novo em resposta a necessidades ambientais, sociais, culturais, dando espaço para a imaginação e para a criatividade. É por isso que na pedagogia da etnomatemática, utiliza-se muito a observação, a literatura, a leitura de periódicos e diários, os jogos, o cinema, etc. Tudo isso, que faz parte do cotidiano, tem importantes componentes matemáticos (D’AMBROSIO, 2008, p.10).

Bortollini (2012) conduziu a pesquisa intitulada Aprendizagem de geometria a

partir de saberes, vivencia e interação de alunos da EJA numa escola pública. Esse

trabalho foi desenvolvido com alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e visava compreender como o reconhecimento e a valorização dos saberes prévios, em geometria podem contribuir para ampliação dos conhecimentos dos alunos. Os alunos participaram ativamente de atividades como o planejamento da obra, o esboço da planta-baixa, a pesquisa de custos e a construção de uma maquete.

Os resultados obtidos neste estudo evidenciaram que é importante a utilização de estratégias de ensino que desafiem os alunos a relacionarem os conhecimentos construídos ao longo de suas vivências àqueles desenvolvidos na prática escolar, pois permite o desenvolvimento de uma aprendizagem significativa. Além disso, a motivação, o protagonismo e a interação entre os alunos mostraram que as estratégias de ensino utilizadas em sala de aula contribuíram para o desenvolvimento do espírito crítico e da autoestima dos educandos, possibilitando que compreendessem melhor a sua realidade.

Essa ação pedagógica que visa o desenvolvimento da criticidade dos alunos está de acordo com as ideias de D’Ambrósio (2003) citado por Passos (2008) quando enfatiza a necessidade de mudanças na atual estrutura escolar, pois:

(...) a adoção de uma nova postura educacional, na verdade a busca de um novo paradigma de educação que substitua o já desgastado ensino-aprendizagem, baseada numa relação obsoleta de causa-efeito, é essencial para o desenvolvimento de criatividade desinibida e conducente as novas formas de relação interculturais, proporcionando o espaço adequado para preservar a diversidade e eliminar a desigualdade

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numa nova organização da sociedade (D’AMBROSIO, 2003 apud PASSOS, 2008, p.78).

A pesquisa intitulada O uso de porcentagem no cotidiano dos alunos conduzida por Dias (2008) apresentou um trabalho desenvolvido com alunos da 2º série do ensino médio que eram provenientes de famílias plantadoras de fumo. A análise dos resultados dessa pesquisa mostrou que a construção dos conceitos de porcentagem estava associada à aplicabilidade dos conteúdos curriculares no cotidiano dos alunos. Esse resultado foi possível visto que os espaços criados para discussões em sala de aula proporcionaram a aprendizagem matemática e o desenvolvimento da autonomia, da criatividade e do senso crítico dos alunos. Portanto, essa abordagem pedagógica concatena com o ponto de vista de D’Ambrósio (2007) citado por Orey (2015) que afirma que a problematização e a criatividade são os eixos centrais do fazer matemático, pois auxiliam os alunos a se realizarem à medida que ampliam as suas potencialidades de aprendizagem.

Gonçalves (2013) conduziu a pesquisa intitulada A etnomatemática dos

trabalhadores das cerâmicas de Russas- CE e o contexto escolar. Esse estudo foi

desenvolvido com uma turma de alunos do 6º ano do ensino fundamental que eram provenientes de uma comunidade de trabalhadores de indústrias de cerâmica vermelha do município de Russas no estado do Ceará. Nessa pesquisa, os resultados mostraram que existe a necessidade de ampliar o debate sobre as maneiras pelas quais a Etnomatemática possa contribuir para o desenvolvimento da ação pedagógica no contexto escolar, trazendo propostas mais próximas à realidade dos professores da educação básica. O objetivo dessa abordagem é auxiliar os professores na promoção de uma educação que valorize a diversidade cultural, mas que possibilite que os alunos também tenham acesso ao conhecimento acadêmico. A esse respeito Monteiro e Pompeu Jr. (2003) argumenta que os professores devem:

Basear-se em propostas que valorizem o contexto sociocultural do educando, partindo de sua realidade, de indagações sobre ela, para a partir daí definir o conteúdo a ser trabalhado, bem como o procedimento que deverá considerar a matemática como uma das formas de leitura de mundo (MONTEIRO e POMPEU JR., 2003, p. 38).

O objetivo principal do estudo conduzido por Strapasson (2012) intitulado

Educação matemática, culturas rurais e etnomatemática: possibilidades de uma prática pedagógica foi investigar os jogos de linguagem que emergem da cultura camponesa de

alunos da 7º série do ensino fundamental de uma escola pública gaúcha. Nessa pesquisa, a análise dos dados mostraram que quando os alunos resolvem questões vinculadas ao estilo de vida camponesa se expressam por meio de regras próprias desenvolvidas pelos membros daquela cultura. Porém, ao resolverem as mesmas questões no ambiente escolar, os alunos utilizam regras usualmente presentes na matemática escolar.

Nesse direcionamento, existe a necessidade de que os professores e educadores valorizarem o conhecimento que os alunos trazem para a sala de aula para aproveitá-los na elaboração de atividades matemáticas curriculares. Dessa maneira, é importante que esses profissionais da educação entendam que o:

(...) aprendizado dos alunos depende das conexões efetuadas com o conhecimento prévio que trazem para o sistema escolar. Nesse sentido, o ensino e a aprendizagem são atividades inerentes às atividades culturais das comunidades nas quais os alunos participam e interagem. Dessa maneira, é importante compreendermos como a cultura influencia o aprendizado dos alunos e como podemos utilizar o conhecimento cultural que trazem para as salas de aula como um recurso pedagógico para

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auxiliá-los na aprendizagem dos conteúdos matemáticos (ROSA e OREY, 2013, p. 557).

O principal objetivo da pesquisa intitulada Educação matemática, etnomatemática

e vitivinicultura: analisando uma prática pedagógica conduzida por Grasseli (2012), com

alunos que cursavam a 3º série do ensino médio de uma escola pública do município de Monte Belo do Sul no estado do Rio Grande do Sul, foi examinar quais são as regras matemáticas que emergem quando um grupo de alunos analisa questões vinculadas à cultura da viticultura. Outro objetivo foi verificar quais os significados atribuídos pelos alunos para essas regras que estão em código diferente daquelas usualmente utilizadas na matemática escolar.

A análise dos resultados desse estudo mostra que houve a elaboração de três unidades de análise relacionadas com:

a) as regras matemáticas que emergiram das práticas laborais dos entrevistados aludem a estimativas e a arredondamentos;

b) na análise das práticas matemáticas não escolares, os alunos, durante as apresentações dos trabalhos, estabeleciam relações por meio de regras presentes na matemática escolar; e

c) o professor e os alunos tornaram-se pesquisadores durante o processo investigativo. (GRASSELI, 2012, p.51.)

Alves (2014) conduziu a pesquisa intitulada As contribuições da etnomatemática e

da perspectiva sociocultural da história da matemática para a formação da cidadania dos alunos de uma turma do 8.º ano do ensino fundamental por meio do ensino e aprendizagem de conteúdos da educação financeira”, que foi realizada com uma turma de

35 alunos que frequentavam o 8º ano do ensino fundamental de uma escola pública do município de Sete Lagoas no estado de Minas Gerais.

O principal objetivo dessa pesquisa foi investigar quais são as possíveis contribuições que a Etnomatemática e a perspectiva sociocultural da História da Matemática poderiam trazer para a formação da cidadania dos alunos por meio do ensino e aprendizagem de conteúdos da Educação Financeira. Os resultados desse estudo mostram que existe a:

(...) necessidade dos professores desenvolverem atividades relacionadas com a Educação Financeira fundamentadas pelo Programa Etnomatemática e pela perspectiva sociocultural da História da Matemática para o desenvolvimento da cidadania dos alunos, para que possam superar os assédios das propagandas e do marketing (ALVES, 2014, p. 7).

Dessa maneira, a utilização do programa etnomatemática contribuiu para o desenvolvimento de alunos críticos, reflexivos e capazes de tomarem decisões racionais diante de situações-problema enfrentadas no cotidiano.

Breve comentário sobre os estudos selecionados

Na breve descrição dos estudos selecionados buscou-se apresentar de maneira sucinta alguns aspectos que podem ser relevantes para os objetivos que devem ser alcançados com a utilização da ação pedagógica do programa etnomatemática em sala de

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aula. Essa ação pedagógica tem como objetivo facilitar a luta dos integrantes de grupos sociais distintos pelo direito à cidadania (KNIJNIK, 1993).

Nesse sentido, os educadores têm como responsabilidade favorecer o estabelecimento de relações entre a matemática acadêmica e o conhecimento adquirido informalmente pelos alunos para auxiliá-los na percepção da presença da matemática nas atividades e tarefas realizadas diariamente. Esse objetivo pode ser alcançado com a utilização da modelagem matemática como ação pedagógica para o programa etnomatemática (ROSA E OREY, 2006).

Assim, esses estudo mostram que ensino e aprendizagem em matemática devem considerar a matemática construída nas práticas culturais da comunidade como um instrumento para se alcançarem os objetivos propostos. Essa perspectiva possibilita a caracterização de ações pedagógicas desenvolvidas por meio de atividades contextualizadas, que são originadas no contexto sociocultural dos alunos. Nesse sentido, é possível a exploração das ideias, procedimentos e práticas matemáticas locais, respeitando os valores culturais dos alunos e os conhecimentos adquiridos através da vivência em comunidade e em sociedade.

Conclusão

Neste artigo teórico buscou-se descrever e elucidar uma pesquisa desenvolvida no âmbito do Mestrado Profissional em Educação Matemática da UFOP que teve como objetivo principal apresentar algumas pesquisas produzidas no Brasil sobre o tema Programa Etnomatemática.

Nesse direcionamento, foram apresentadas 7 (sete) pesquisas que se aproximaram da ação pedagógica da Etnomatemática para verificar as contribuições e as potencialidades pedagógicas que esse programa pode oferecer para a sala de aula de nossos leitores.

Além disso, os resultados verificados neste estudo mostra que em todas as pesquisas relatadas, os resultados apontaram para um despertar crítico e reflexivo dos professores e alunos para o conhecimento matemático presente nas práticas cotidianas.

Nessa ação pedagógica, os alunos devem ser orientados a criarem o conhecimento matemático por meio da problematização de situações vivenciadas no cotidiano, oportunizando o desenvolvimento de habilidades e competências gerais, cujos objetivos estão além do aprendizado do conteúdo matemático estabelecido nos programas curriculares.

Nessa perspectiva, o conhecimento etnomatemático pode ser utilizado por meio da observação, interpretação ou descrição de uma ação que originou uma prática matemática necessária para resolver uma situação-problema enfrentada no cotidiano (ROSA e OREY, 2006). Nesse sentido, concebemos a etnomatemática como uma forma de linguagem utilizada para comunicar, descrever, mediar, traduzir e modelar uma ação.

Para D’Ambrosio (1990), o programa etnomatemática visa a organização intelectual e social do conhecimento matemático cuja difusão ocorre a partir das relações interculturais que se manifestam no decorrer da história. No entanto, existe a necessidade da elaboração de atividades matemáticas curriculares contextualizadas para auxiliar no entendimento de práticas matemáticas da linguagem cotidiana para a acadêmica por meio de um processo dialógico entre educadores e alunos.

Em conclusão, os estudos aqui apresentados evidenciam que a opção pela utilização do programa etnomatemática em sala de aula é um recurso útil para retirar o aluno da posição de espectador passivo e colocá-lo em um lugar de ação por meio do qual os

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conhecimentos oriundos de suas experiências culturais sejam compartilhados no ambiente escolar para auxiliá-los no processo de ensino e aprendizagem em matemática.

Referências

ALVES, G. M. As contribuições da etnomatemática e da perspectiva sociocultural da história da matemática para a formação da cidadania dos alunos de uma turma do 8.º ano do ensino fundamental por meio do ensino e aprendizagem de conteúdos da educação financeira.2014. 357.f. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Matemática) – Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto. 2014.

BORTOLLINI, V. R. Aprendizagem de geometria a partir de saberes, vivencia e interação de alunos da EJA numa escola pública. 2012. 70. f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Matemática)- Faculdade de Física, PUCRS. Porto Alegre. 2012. D’AMBRÓSIO, U. Transdisciplinaridade. 2. ed. São Paulo: Palas Athena, 2009. D’AMBRÓSIO, U. Etnomatemática: Arte ou técnica de explicar ou conhecer. 5ª. ed. São Paulo: Ática, 1998.

D’AMBROSIO, U. Ação Pedagógica e Etnomatemática como Marcos Conceituais para o Ensino de Matemática. In: BICUDO, Maria Aparecida Viggiani (Org). Educação Matemática. São Paulo: Moraes, 1994.

D’AMBROSIO, Ubiratan. O Programa Etnomatemática: uma síntese/The Ethnomathematics Program: A summary. Acta Scientiae, v. 10, n. 1, p. 07-16, 2008.

D'AMBROSIO, Ubiratan. Etnomatemática: arte ou técnica de explicar e conhecer. Editora Ática, 1990.

DIAS, R. V. O Uso de porcentagem no cotidiano dos alunos. 2008. 120. f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Matemática)- Faculdade de Física, PUCRS. Porto Alegre, 2008.

GONÇALVES, P. F. A etnomatemática dos trabalhadores das cerâmicas de Russas-Ce e o contexto escolar: delineando recomendações pedagógicas a partir de uma experiência educacional. 2013. 124 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências Naturais e Matemática) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2013.

GRASSELI, F. Educação matemática, etnomatemática e vitivinicultura: analisando uma prática pedagógica. 2012. Dissertação (Mestrado) – Curso de Ensino de Ciências Exatas, Centro Universitário UNIVATES, Lajeado, 09 abr. 2012. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10737/277>. Acesso em: 06 abr. 2015.

KNIJNIK, G. Currículo, etnomatemática e educação popular: um estudo em um assentamento do movimento sem-terra. Currículo sem fronteiras, v. 3, n. 1, p. 96-110, 2003.

LUCENA, I. C. R. Educação matemática, ciência e tradição: tudo no mesmo barco. 2006. 223 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2006.

MONTEIRO, A; POMPEU JR, G. A Matemática e os Temas Transversais. São Paulo. Editora Moderna, 2001.

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OREY. D.C. Insubordinações criativas relacionadas com a ação pedagógica do programa Etnomatemática. In: D’AMBRÓSIO. B. S, LOPES. C. E. Ousadia criativa nas práticas de educadores matemáticos. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2015. p.247-268.

PASSOS, C. M. Etnomatemática e educação matemática crítica: conexões teóricas e práticas. 2008. 150. f. Dissertação (Mestrado em Educação) - FAE, UFMG. Belo Horizonte. 2008.

ROSA, M. (2010). A mixed-methods study to understand the perceptions of high-school leaders about ELL students: The case of mathematics. California State University, Sacramento. College of Education. (Tese de Doutorado não publicada).

ROSA, M; OREY, D.C. Abordagens atuais do programa etnomatemática: delineando um caminho para a ação pedagógica. 2006.

ROSA. M;OREY, D.C. Uma base teórica para fundamentar a existência de influências etnomatemáticas em salas de aula. Currículo sem Fronteiras, v.13, n.3, p. 538-560. set./dez. 2013.

STRAPASSON, A. G. Educação matemática, culturas rurais e etnomatemática: possibilidades de uma prática pedagógica. 2012. Dissertação (Mestrado) – Curso de Ensino de Ciências Exatas, Centro Universitário UNIVATES, Lajeado, 30 mar. 2012. Disponível em: <http://hdl.handle.net/10737/283>. Acesso em: 06 Abr. 2015.

VELHO, E. M. H. Aprendizagem da Geometria: a etnomatemática como método de ensino. 2014. 152. f. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Matemática)- Faculdade de Física, PUCRS. Porto Alegre. 2014.

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