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REVITALIZAÇÃO DE CURSOS D ÁGUA

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Academic year: 2021

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Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Tecnologia da Edificação I

Prof. Anderson Claro

Acadêmicos: Bruno Jordão de Miranda, Eliza Back de Almeida e Guilherme Josef Lamarque 2013-1

REVITALIZAÇÃO DE CURSOS D’ÁGUA

SUMÁRIO

I - Introdução II - Histórico;

III - Impacto Social e Urbano;

IV - Exemplos de projetos - bons e ruins; V - Prevenção;

VI - Técnicas construtivas/Tecnologias usadas; VII - Conclusão;

VIII - Bibliografia.

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo analisar a importância da revitalização dos cursos d’água e seu impacto urbano, ambiental e social. Primeiramente, foi feito um histórico da relação do homem com a água, explicando como ela influencia, desde os tempos mais remotos, a distribuição do homem no cenário urbano. O próximo tópico remete ao seu impacto social e urbano, destacando a importância de sua utilização e conferindo aos cursos d’água uma função estruturadora de cidades. Assim, mostram-se exemplos de projetos de tratamento de margens de rios, tanto positivos quanto negativos. No tópico seguinte, abordam-se as medidas que devem ser tomadas para uma gestão bem-sucedida da água, assim como medidas preventivas para problemas gerados por ela, como poluição e enchentes. Em seguida, são explicadas as técnicas construtivas e as tecnologias usadas para uma efetiva preservação dos recursos hídricos de uma cidade. Por fim, lançamos, de modo despretensioso, diretrizes para a formulação de um espaço urbano onde os cursos d’água se integram na vida da cidade de forma harmônica e sustentável.

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HISTÓRICO

O desenvolvimento de cidades está, em geral, relacionado com as características naturais ou geográficas da sua região de implantação. Alguns pontos foram escolhidos por se situarem em rotas comerciais, ou então devido à presença de acidentes geográficos como montanhas ou planaltos. Muitas cidades também se situaram à margem de cursos d’água, pois estes possibilitavam fácil locomoção.

Gorski (2010) afirma que a proximidade da água, por razões funcionais, estratégicas, culturais ou patrimoniais, foi a lógica norteadora de inúmeras civilizações antigas para a eleição do local onde construir suas aldeias. A agricultura tornou possível a fixação do homem à terra, que encontrava, nas margens dos rios, terras férteis que proporcionavam as condições ideais para o seu desenvolvimento. As primeiras aldeias foram estruturadas às margens dos cursos d‟água pela facilidade de irrigação das lavouras e alimentação do rebanho. Os cursos d‟água foram agentes na transição do homem de hábitos nômades para um homem mais conectado ao território.

Nos textos bíblicos temos o rio Tigre e o Eufrates como formadores do território do Éden (GORSKI, 2010). Estes rios também foram atores na civilização da antiga Mesopotâmia, na qual as cidades de Nínive e Babilônia foram construídas.

As cidades medievais na Europa encontraram ao longo dos corpos hídricos o ambiente adequado para seu desenvolvimento. Exemplos são Paris e o rio Sena, Praga e o rio Vlatva, Londres e o rio Tamisa, além das diversas cidades que o rio Danúbio está conectado. Este último é o segundo rio mais longo do continente europeu, conecta cidades importantes e diversas capitais como Viena, Budapeste, Bratislava, Belgrado, Ulm, Linz e outras. Isto demonstra a importância dos cursos d‟água para a civilização ocidental (GORSKI, 2010).

GORSKI (2010) demonstra a importância de alguns rios no cenário nacional, como o rio São Francisco, o Tietê e o Amazonas. O primeiro conectou a região Nordeste à região Sudeste brasileira, auxiliando no desenvolvimento da região Nordeste. O segundo, que nos tempos remotos propiciava diversos momentos de lazer e recreação em suas margens, ficou conhecido por seus problemas de salubridade e constantes alagamentos na cidade de São Paulo. O último, junto com seus afluentes, ainda atua como fator determinante do crescimento das cidades, aldeias e vilarejos na região Norte do Brasil. As cidades ribeirinhas são dependentes do rio nas questões de locomoção, salubridade, higiene, alimentação, transporte de mercadorias etc.

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Para Lynch (1997) os cursos d‟água são elementos muito importantes da paisagem, atuando como eixos estruturadores do desenvolvimento urbano e também como limitadores e barreiras.

Segundo o Censo IBGE, em 2000 as favelas e “assemelhados” representavam aproximadamente 25% da superfície das cidades brasileiras. Sérgio Magalhães (2007) afirma que 80% das famílias brasileiras arcam inteiramente com os recursos para a construção da moradia. O autor apresenta o exemplo do município do Rio de Janeiro, no qual, entre 1980 e 2000, os domicílios irregulares passaram de 60% para 80% do total de domicílios construídos.

Uma das alternativas para a população que não tem acesso ao mercado imobiliário formal tem sido a ocupação de áreas onde a lei não permite a ocupação formal. Ermínia Maricato (2001), que muito bem estampou o abismo existente entre a “cidade legal” e a “cidade real”, mostra-nos a precariedade do controle urbanístico sobre os assentamentos ilegais, que não interessam ao mercado imobiliário. Grande parte das ocupações informais dá-se exatamente em áreas ambientalmente sensíveis como as margens de corpos d’água (Figuras 1.1 e 1.2).

Fig. 1.1. Rio Beberibe, Olinda/ Pernambuco. Fig. 1.2. Riacho Doce, Belém/ Pará.

Os processos de ocupação das “várzeas”, “baixadas”, “ribeiras” são constatáveis ao longo de nossa história, o que se reflete na origem dos nomes de muitos dos bairros populares ou de baixa renda de várias cidades, como assinala Andrey Schlee1. Esses processos, intensificados a partir de fins do século XX, não foram acompanhados por soluções compatíveis de saneamento e infra-estrutura, agravando os problemas socioambientais. No modelo que privilegia o transporte automotivo, tornou-se comum a ocupação dos fundos de vale por vias urbanas. Muitos dos espaços ribeirinhos de nossas cidades guardam ainda a degradação resultante da exploração econômica, do período industrial entre os séculos XIX e XX, quando eram os sítios mais propícios para a instalação de plantas industriais, estações de geração de energia e complexos portuários. Todos estes fenômenos se conjugam para caracterizar o quadro de graves impactos sobre essas áreas ambientalmente sensíveis.

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A interação entre cidade e corpos d’água possui duas maneiras bastante distintas. A primeira o corpo d’água é valorizado e é incorporado a paisagem urbana, geralmente com rios e lagos de maior porte. Na segunda, o corpo d’água é desconsiderado, as edificações e lotes lindeiros ficam de costas para ele; freqüentemente os cursos d’água de menor porte são recobertos, tornando-se dutos de esgoto. Esta o corpo d’água é desconsiderado, as edificações e lotes lindeiros ficam de costas para ele; freqüentemente os cursos d’água de menor porte são recobertos, tornando-se dutos de esgoto.

A primeira vertente – valorização dos corpos d’água. Os espaços em orlas aquáticas são abertos para a utilização pública, sendo apropriados para a qualificação do cenário urbano. Ocorre que, via de regra, os projetos são concebidos sob o enfoque estritamente urbanístico, fundamentado na adoção de tecnologias de engenharia civil e sanitária: predominam soluções de pavimentação de grandes faixas marginais, implantação de vias automotivas, contenção de encostas e alteração do perfil do leito com técnicas artificiais (canalização ou retificação), notadamente pela utilização do concreto armado.

A ocupação indiscriminada das margens de corpos d’água deve-se também à inadequação da legislação ambiental. O idealismo das regras – e a inobservância das especificidades do ambiente urbano – não garantindo as condições mínimas para sua aplicação nas cidades, acaba por ter efeito inverso à proteção dos recursos ambientais.

IMPACTO SOCIAL E URBANO

Em seu livro “Design with Nature” (desenho com a natureza, em tradução livre) Ian McHarg (1969) apresenta a necessidade de se trabalhar as propostas de intervenção na paisagem, compatibilizando os processos sociais e naturais. Desta forma, a urbanização deve ser definida pelas condições ambientais, de acordo com a hidrologia, o relevo, a geologia etc. O autor define a natureza como determinante na morfologia das cidades e também dos esforços do ser humano. Também define o planejamento ecológico como aquele que entende o processo biofísico e social através do tempo e de suas leis em determinada área.

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Segundo Porath, Afonso e Costa, “a qualidade dos espaços livres urbanos está vinculada à sua utilização pelo público. Quanto mais e melhor possa ser utilizado, desde que devidamente mantido, maior será sua aceitação social e por mais tempo será mantida a sua identidade morfológica.”. Com a desvalorização do rio como elemento simbólico e de composição paisagística, seu uso como canal natural de esgoto e a ocupação indisciplinada de suas margens a sua utilização pela população se tornou inviável, assim como a manutenção das suas características.

Como resultado, os rios perderam a sua função estruturadora das cidades e passaram a ser um problema que deve ser resolvido por estas, ao invés de um elemento na sua composição. Muitos rios tiveram seu curso modificado e foram canalizados nesse processo, desapar ecendo por completo da paisagem urbana.

As ações antrópicas devem considerar o mundo físico, o biológico e o social, conforme McHarg (1969), e devem ser restritas aos locais mais adequados, de acordo com os determinantes de cada um dos três fatores acima.

Avenida Hercílio Luz em Florianópolis, aprisionando o Rio da Fonte Grande. (antes da revitalização)

Tucci (2005) pondera que, em casos de populações ribeirinhas, as inundações são um processo natural e não uma reação das ações antrópicas. Neste caso podemos dizer que as condicionantes físico-ambientais não foram respeitadas. No entanto, mesmo sendo parte da cultura destas populações, as inundações frequentes geram perdas materiais e humanas, com a interrupção da produção agrícola, contaminação da água e do solo, destruição ou degradação das edificações. McHARG (1969) lembra que as forças da natureza devem ser respeitadas e consideradas como condicionantes para o assentamento humano.

As ações antrópicas podem despender grande energia na tentativa de controlar as reações do ambiente natural. No entanto, não há como dominar as forças da natureza, apenas respeitá-las (McHARG, 1969). Minimizar os impactos ambientais significa minimizar problemas futuros da urbanização, além de auxiliar a garantia da sustentabilidade da ocupação humana.

Ao longo dos anos, o planejamento urbano teve um grande enfoque nas soluções tecnológicas que propiciavam pouca ou nenhuma interação entre os espaços

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urbanos e os ambientes naturais. Porém, principalmente após a década de 70, o planejamento urbano começa a incorporar o rio no traçado das cidades, em virtude de uma maior consciência ecológica. Pontos positivos da inserção desse elemento na paisagem começam a ser reconhecidos. Como exemplo podemos citar o contato com a natureza, o acesso às águas do rio, a produção de energia elétrica, o potencial de lazer, transporte e turismo, a possibilidade de nadar e pescar, a sinuosidade do rio e a valorização da área como potencial de projeto.

Alguns pontos são destacados em projetos de revitalização de rios em ambientes urbanos, são eles:

O rio deve ter visibilidade. É importante que a população atribua valor à presença do rio na paisagem urbana e se conscientize da importância da sua preservação e isso só é possível com projetos que não “escondam” o rio nos fundos de lotes ou entre pistas expressas, mas que tirem partido da presença desse elemento ao elaborar as intervenções no espaço urbano.

Deve-se permitir o acesso ao rio pela população, de modo a torná-lo um espaço público de qualidade. Segundo Costa “Em algumas cidades, as iniciativas de requalificação urbana têm dirigido esforços no sentido de recuperar o potencial dos rios enquanto espaços livres públicos, e desta forma sua inserção paisagística prevê áreas de acesso de pedestres, jardins públicos e equipamentos culturais, além da recuperação ambiental”.

Em 1990 o Rio Don, citado como exemplo acima, passou por um intenso trabalho de recuperação, com o reflorestamento de áreas adjacentes e a construção de parques ao seu redor com acesso através de escadas e pontes para conectar as margens. Nesse projeto foram utilizados os conceitos acima em uma estratégia que integra o desenho, a biótica, tecnologia, interesses sociais e econômicos

Trilhas às margens do Rio Don. Fonte: HOUGH, 1995, p. 69

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EXEMPLOS DE PROJETOS - bons e ruins

A definição da qualidade dos cursos d’água em áreas urbanas, não se qualifica pela conservação do aspecto natural desse curso d’água e nem por qualquer tentativa de urbanização desse rio. Um rio urbano é considerado de boa qualidade pelos níveis de qualidade da água, dos usos dados a essas águas, mas principalmente pela forma que esse rio se integra a cidade. Um dos aspectos comuns entre os exemplos de bom tratamento de cursos d’água é a criação de espaços de lazer nas margens dos rios e ações para impedir a poluição dos rios.

Exemplos de bom tratamento de margens de rios:

> Tâmisa - Rio Tâmisa é um dos cursos d’água urbanos mais famosos do mundo. Mas suas águas já foram tão poluídas, que o rio era conhecido como O Grande Fedor. Em meados de 1610, a água do rio inglês já não era considerada potável. Todo esgoto Londrino era jogado no Tâmisa, o que pode ter sido um dos responsáveis por surtos de cólera e outras doenças que assolaram a capital inglesa entre 1850 e 1860. E foi por volta dessa época que se começou a construir um sistema de captação de esgotos em Londres.Inicialmente, os dejetos apenas eram captados da área metropolitana e jogados em uma região mais afastada do Tâmisa. Esse sistema não deu certo por muito tempo, e as águas do Tâmisa foram consideradas biologicamente mortas em 1950.Com a construção das primeiras estações de tratamento, principal rio da Inglaterra voltou a viver. Em 1979, cardumes de salmão foram repostos artificialmente no Tâmisa. Atualmente, pode-se velejar, remar e até pescar no rio.

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> Danúbio - O Rio Danúbio é um rio de ocupação muito remota e com grande importância econômica pelo seu grande potencial de navegação e passar por 10 países europeus e grandes regiões industriais. No seu curso pela cidade de Budapeste, na Hungria, o rio se valoriza pela sua integração e importância na cidade. O rio é utilizado para comércio, transporte, lazer e turismo. Ao longo do rio, existem parques, praças, ciclovias que criam maior ligação emocional entre a população e o rio.

>Sena - O Rio Sena é um cartão da capital francesa pela sua ligação direta com a vida parisiense. Esse rio é bordeado por arbustos e árvores ao nível da rua, mas uma linha de árvores inclina-se às águas, formando um parque linear que se relaciona com a arborização da própria cidade e apresenta uma ligação continua com os parques, jardins e praças da cidade. O Sena também é navegável e tem importante papel na navegação e comunicação por sua ligação com outros rios europeus.

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>Don - Com a industrialização e urbanização de Toronto, no século 19, inúmeros afluentes que desaguavam no rio Don foram enterrados, ocasionando um processo de degradação ambiental de sua bacia hidrográfica. O processo que lhe devolveu a vida teve início na década de 90, com recuperação de mata ciliar, represa para criação de lago e diques para contenção de inundações.

>Neva - O rio Neva localiza-se em São Petersburgo, na Rússia. Nas margens do rio localizam-se parques e jardins para recreação e contemplação do rio. Pela sua contante inundação, foram construídos canais para drenar o terreno baixo e pantanoso.

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>Barigui - O rio Barigui localiza-se em Curitiba, Brasil. A criação do parque foi uma alternativa inteligente para a não canalização de cursos d’água, responsáveis pelo desaparecimento e negação do potencial paisagístico dos rios. O represamento dos rios formando lagos, contribui para a contesão de cheias, além dos aspectos recreativos e paisagísticos.

>CheongGyeCheon - O rio Cheonggyecheon é um rio localizado em Seul na Coréia do Sul. Em 1940, com o crescimento, a população se fixou ao longo do córrego. Ao longo do tempo, o canal foi coberto com concreto, já que a economia sul coreana crescia e a demanda de veículos se tornava cada vez maior. Assim, o córrego se tornou um esgoto abaixo de uma movimentada via expressa. No início, isso foi visto como símbolo do desenvolvimento industrial de Seul, mas com o tempo se tornou um exemplo de degradação urbana. A prefeitura de Seul desenvolveu um projeto orçado em US$ 380 milhões para recuperar. Iniciado em meados de 2003, o projeto removeu a via que passava por cima do córrego e livrou as águas da poluição e ainda construiu parques lineares nas margens. Seus pouco mais de cinco quilômetros de extensão passaram a ser freqüentados pela população. Além disso, Seul também ampliou a malha de transporte público e fez mudanças no fluxo dos veículos que circulavam pelo centro da cidade. Como resultado, houve aumento do número de usuários optando por novos sistemas de transporte e na mudança de hábitos de viagem.

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Exemplos de mau tratamento de margens de rios:

>Rio Saône e Ródano - Esses rios se localizam em Lyon, França. Lyon é uma grande cidade do Renascimento. A atividade industrial e cultural transformou a cidade num dos principais núcleos urbanos da França. A cidade situa-se numa zona montanhosa do centro-leste do país, na confluência dos dois tios. Há uma carência de espaços com vegetação e grande impermeabilização do solo e das margens dos rios.

>Rio da Fonte Grande - Com o desenvolvimento da cidade de Florianópolis, o Rio da Fonte Grande foi transformado em local de despejos pela população e se tornou um problema grande para a cidade. O resultado encontrado pelos órgãos públicos foi a canalização do rio que esconde a sua poluição. Hoje, a Avenida Hercílio Luz e os edifícios aprisionam o rio. Sobre ele, há alguns trechos para passeio com arborização urbana e outros trechos para estacionamentos.

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> Rio Tietê - O RioTietê, localiza-se em São Paulo Brasil O rio possibilitou a fundação de cidades nas proximidades de suas margens. O rio sofreu retificação, canalização e hoje apresenta-se aprisionado entre avenidas, O Tietê é o rio mais poluído do país e o processo de purificação de suas águas foi iniciado em 1991. Na cidade de São Paulo há constantes enchentes e a ocupação intensa das suas várzeas traz inúmeros prejuízos à cidade e à população. Foi criado o Parque Ecológico do Tietê e Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê. Um projeto de conscientização de crianças têm sido realizado em São Paulo. Este projeto consiste em levar crianças para passear de barco sobre o rio e ensiná-las sobre a importância deste rio para o Estado e as necessidade de recuperá-lo e mantê-lo. O problema do Tietê é caracterizado pelo excesso de esgoto residencial e industrial não tratado que é lançado nele, bem como pelo projeto de retificação que desconsiderou seu curso natural e suas fases de cheia.

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PREVENÇÃO

A gestão bem-sucedida da água na cidade exigirá projetos abrangentes e muitas ações individuais. Mas primeiramente, deve-se compreender a importância de medidas como o controle das enchentes, o abastecimento e a conservação de água, a disposição do lixo e o tratamento de esgoto.

Os problemas da água e sua gravidade variam de cidade para cidade. Cada uma deve administrar seus próprios recursos hídricos, e o conhecimento daqueles mais significativos – que abastecem a cidade com água ou têm potencial para fazê-lo no futuro - podem ajudar na prevenção de enchentes e poluição das águas.

Assim, um plano abrangente para tal prevenção, a conservação e a recuperação da água da cidade deve:

 Tratar dos problemas de enchente, poluição da água e abastecimento mais críticos da cidade, principalmente nas áreas mais sujeitas a esses;

 Localizar novos parques e áreas verdes nas cabeceiras e nas várzeas nos rios, para preservar a capacidade de armazenamento das águas e para melhorar a recarga dos lençóis freáticos;

 Estimular a localização de novas indústrias, áreas para disposição do lixo e outros usos de áreas poluidoras fora das várzeas e das áreas de recarga dos mananciais, que são altamente vulneráveis à poluição das águas;

 Localizar novos edifícios públicos fora das áreas sujeitas a inundações;Explorar a proteção das cheias e a capacidade de recuperação dos alagadiços existentes;

 Aumentar a visibilidade da água na cidade, bem como o acesso do público a ela.

Além disso, cada novo edifício, rua, estacionamento e parque na cidade também deve ser projetado devendo:

 Cuidar para que o local do projeto não esteja em comprometimento com os problemas críticos da cidade e com os riscos específicos e recursos que existem em suas redondezas;

 Explorar a capacidade dos telhados, das praças, dos estacionamentos e dos solos para reter ou absorver o escoamento de aguaceiros;

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 Projetar parques nas várzeas capazes de estocar as águas e resistir aos danos das enchentes;

 Utilizar a água das grandes chuvas, desde que não estejam contaminadas demais;

 Explorar as propriedades estéticas da água, sem desperdiçá-la.

TÉCNICAS CONSTRUTIVAS/TECNOLOGIAS USADAS

Para uma efetiva preservação dos recursos hídricos de uma cidade, são necessárias tecnologias próprias para recuperação ambiental, através de estabilização de taludes, controle de erosão, drenagem, revegetação, entre outras.

As tecnologias ideais são aquelas que respeitam a necessidade e as características locais, sempre em atenção ao princípio da sustentabilidade, através de intervenções ecologicamente sustentáveis, socialmente justas e economicamente viáveis, a fim de contribuir com a melhoria de vida e com o meio ambiente que a sustenta.

Alguns exemplos de tecnologias:

Plantio e forração vegetal

Hidrossemeadura Vertical Green Plus – constituído por uma única pulverização com máquina de hidrossemeadura com bomba de alta pressão, composto por material orgânico e colantes naturais associados a sementes de espécies herbáceas, e eventualmente, sementes de arbustos, conforme o tipo do terreno, o clima e a composição da flora local.

Controle de erosão

Biomanta Geofiber - Constituída por fibras naturais e biodegradáveis de coco, ou sisal, ou ainda outros tipos de fibras vegetais, Possui diversas funções, dentre elas: proteção do solo contra os agentes erosivos, auxílio no desenvolvimento vegetal, agregar matéria orgânica do solo durante sua decomposição, etc.

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Drenagem e captação de águas

Canaleta em madeira e pedras – Canaleta para drenagem e direcionamento de águas superficiais, em fundos de vale, faixas de domínio em rodovias, parques ecológicos, áreas públicas, residenciais, onde seja necessária uma grande capacidade de vazão e baixo impacto visual, com integração total ao ambiente circundante através do uso de materiais naturais e vegetação, proporcionando grande efeito estético e paisagístico.

Revestimento antierosivo para recuperação de margens

Vertical Green Pack - Manta utilizada para se obter imediato revestimento vegetal, pré confecionada com fibras naturais e pré vegetada. Possui grande resistência e flexibilidade, adaptando-se às mais diversas superfícies. Preparada em laboratório, considerando as variáveis da flora local.

Técnicas de engenharia naturalística

Grade Viva - Estrutura construída com toras de madeira entrelaçadas e afixadas, revestida por uma biomanta antierosiva em sua superfície e sendo vegetada com gramíneas.

Essas técnicas geralmente não são aplicadas isoladamente, mas em conjunto, atuando para uma completa restauração do ambiente. Segue como exemplo os processos de recuperação de uma margem de rio em São Paulo:

Processos erosivos e escorregamentos na margem fluvial próxima ao aterro sanitário.

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Execução da fundação drenada, utilizando-se materiais geossintéticos e materiais inertes.

Utiliza-se materiais geossintéticos para a amarração e proteção antierosiva dos estratos compactados.

Utiliza-se materiais geossintéticos para a amarração e proteção antierosiva dos estratos compactados.

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Aplicação de Biomanta Antierosiva Geofiber®

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Vista da área, alguns meses após o término da execução do sistema Vertical Green Wall Water®.

É importante ressaltar ainda que, visando a equacionar os impactos da ocupação urbana, como processos erosivos e inundações, frequentemente são implementadas medidas estruturais que visam somente a redução dos efeitos danosos sobre o patrimônio construído, desconsiderando seus efeitos sobre as dinâmicas naturais. Assim, foi verificado que, muitas vezes, esses procedimentos implicam impactos negativos sobre o equilíbrio do meio ambiente.

A tabela abaixo apresenta exemplos de intervenções sobre os corpos d’água, com seus aspectos positivos e negativos:

Medidas estruturais Aspectos positivos Aspectos negativos Canalização/retificação do

leito (alteração do padrão do canal: aprofundamento, alargamento, aumento do gradiente)

- Aumento da velocidade de fluxo, da descarga da corrente e da vazão da água excedente, evitando que as águas atinjam o nível de inundação.

- Podem envolver elevados custos financeiros;

- Alteração da dinâmica do curso d’água, do ciclo natural de deposição e de transporte de sedimentos, provocando maior erosão das margens à montante e inundações a jusante;

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manutenção para conter a pressão nas seções do canal, evitar o assoreamento do fundo e manter o rio no novo leito (o curso d’água tende a reconstituir seus meandros naturais);

- Muito freqüentemente, após a canalização, o rio perde alguns de seus atributos originais, como a navegabilidade. Reservatórios laterais (tanques) de contenção -Retenção de parte do escoamento superficial, impedindo o lançamento imediato sobre o curso d’água;

- Os procedimentos podem não alterar as

características do curso d’água;

- Podem ter baixo custo.

- Necessidade de haver terras disponíveis;

- Necessidade de manutenção; há casos onde se observa o acúmulo de lixo e a atração de insetos (ex.: “piscinões” de São Paulo).

Contenção artificial das encostas (p.ex.: com técnicas de concreto, enrocamento)

- Evita o desbarrancamento das bordas e o

assoreamento do leito

- Pode ser de custo elevado de construção e manutenção, especialmente em rios largos e de forte dinâmica hídrica; - Em função da dinâmica do rio (pressão da vazão sobre as encostas, tendência de migração lateral) a obra é sujeita ao desmoronamento; nesse caso intensificam-se os danos de assoreamento sobre o leito. Diques marginais artificiais

ao longo do canal (elevação das encostas)

- Permitem que o nível de água possa subir, sem inundar as áreas vizinhas; - protegem edificações e benfeitorias próximas ao curso d’água.

-Ao impedirem que a água extravase para a planície de inundação, acumulam o volume da descarga para jusante, aumentando o risco de

inundação em outros locais, rio abaixo;

- Podem provocar o

assoreamento do canal, devido ao incremento da acumulação de sedimentos;

- No caso de o nível d’água ultrapassar o dique, a água pode ficar retida atrás do mesmo, impedida de escoar

naturalmente pelo curso d’água, prolongando os efeitos da

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inundação;

- Não impedem a tendência de um rio meandrar; caso o dique rompa ou desabe, os efeitos podem ser ainda mais

destrutivos, ameaçando vidas e propriedades.

Barragens - O excesso de volume

d’água é represado, podendo ser

posteriormente liberado de forma controlada, sem extrapolar a capacidade do canal abaixo;

- O aproveitamento de lagos artificiais associado ao represamento pode

viabilizar água para irrigação, geração de energia hidroelétrica e desenvolvimento de atividades de recreação.

- Podem criar algumas restrições, como à navegação, ao acesso de animais aquáticos;

- Provocam a inundação de grande parte do vale a

montante, destruindo habitats de vida silvestre ou

desabrigando populações e atividades;

- Se o rio carrega uma carga alta de sedimentos, esta é despejada no reservatório, sem condições de ser transportada

naturalmente pela correnteza abaixo; soluções de dragagem artificial, além dos custos, implicam outro problema: o que fazer com os sedimentos

dragados;

- a água represada constitui uma sobrecarga sobre a rocha de base, aumentando os esforços de ruptura e cisalhamento; -a construção de grandes reservatórios está associada a alguns tremores de terra.

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CONCLUSÃO

As margens dos cursos d’água são, historicamente, fonte de vida. Baseados na coleta de alimentos, na pesca e caça, na agricultura rudimentar, que exigia solos úmidos. As áreas das margens eram, então, valorizadas pela coletividade, que também tinha que conviver com seus riscos e aprender a controlá-los. Porém o que se viu nas últimas décadas foi um processo reverso. Uma desvalorização do símbolo Rio. Hoje não há vida sequer nos rios poluídos, esquecidos. E quando se pensa em revitalizar, o que se vê é a urbanidade aniquilando a ambientalidade.

Em vista disso, este trabalho tentou proporcionar novas possibilidades de projetos, com uma maior consciência ambiental. Entretanto, difere-se da visão ambientalista, pois se considera o urbano como papel fundamental para a garantia da qualidade de vida.

Diretizes despretenciosas pelo grupo foram lançadas após os estudos no decorrer do trabalho:

Primeiramente, deve-se despertar a familiriadade dos moradores próximos a margens, ou em situações de maior amplitude em toda uma cidade. Mostrando-o não só como uma barreira ambiental, que passamos e sequer notamos sua presença – dar visibilidade ao rio. É importante que a população atribua valor à presença do rio na paisagem urbana e se conscientize da importância da sua preservação e isso só é possível com projetos que não “escondam” o rio nos fundos de lotes ou entre pistas expressas, mas que tirem partido da presença desse elemento ao elaborar as intervenções no espaço urbano.

Projetando-se com tecnologias que possibilitem os resgates mais naturais das margens, bem como um tratamento de margem que possibilite o acesso ao rio pela população, de modo a torná-lo um espaço público de qualidade. Segundo Costa “Em algumas cidades, as iniciativas de requalificação urbana têm dirigido esforços no sentido de recuperar o potencial dos rios enquanto espaços livres públicos, e desta forma sua inserção paisagística prevê áreas de acesso de pedestres, jardins públicos e equipamentos culturais, além da recuperação ambiental”.

Um bom exemplo que agrega, integralmente, os aspectos citados é a revitalização do rio CheongGyeCheon, onde seu projeto possibilitou a volta do dominio daquela região pela população e criou uma área de lazer e passagem que se mistura com o ambiente urbano e entra em harmonia com o natural, caminhando juntos, e proporcionando uma boa qualidade de vida para os habitantes da capital sul-coreana.

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Bibliografia

O JARDIN DE GRANITO - Anne Whiston Spirn http://verticalgreen.com.br/

NA BEIRA DO RIO TEM UMA CIDADE: urbanidade e valorização dos corpos d’água TESE DE DOUTORADO EM ARQUITETURA E URBANISMO - Sandra Soares de Mello O CASO DA SUB-BACIA DO CÓRREGO GRANDE - FLORIANÓPOLIS E AS APPS URBANAS Mariana Fonseca Claro

REABILITAÇÃO DE AMBIENTES URBANOS SITUADOS ÁS MARGENS DE CORPOS D’ÁGUA Universidade de São Paulo - Escola Politécnica

Referências

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