Warren Allen,
presidente da Federação
Internacional de Contadores (Ifac)
O neozelandês Warren Allen assumiu a Presidência da Federação Internacional de
Contadores (International Federation of Accountants – Ifac), em novembro de 2012,
para um mandato de dois anos. Membro do Conselho Diretor da Ifac desde 2006,
anteriormente o contador fez parte, por mais de dez anos, do Comitê Internacional
de Normas de Educação (International Accounting Education Standards Board –
IAESB), do qual foi presidente de 1998 a 2004.
ENTREVISTA
Maristela Girotto
A Federação Internacional de Contadores é composta, atualmen-te, por 172 entidades associadas de 129 países. Do Brasil, fazem parte da Ifac o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), que são representados no Conselho Diretor da Ifac por Ana María Elorrieta.
A Ifac foi fundada em 1977, na Alemanha, durante o 11º Congres-so Mundial de Contadores, com a missão de fortalecer a profissão contábil no mundo, por meio do desenvolvimento de normas in-ternacionais de alta qualidade nas áreas de auditoria, contabilidade pública e educação profissional.
Além disso, a Ifac tem por objeti-vo facilitar a cooperação entre os órgãos-membros, colaborar com outras organizações internacionais e servir de porta-voz da profissão no mundo.
No dia 1º de março deste ano, o presidente do CFC, Juarez Do-mingues Carneiro, e o do Ibracon, Eduardo Pocetti, reuniram-se com Warren Allen na sede da Ifac, nos Estados Unidos, para tratar dos rumos da profissão no Brasil e no mundo, entre outros assuntos.
Além disso, as vice-presidentes do CFC das áreas de Desenvolvi-mento Profissional e Institucional, Maria Clara Cavalcante Bugarim; e Técnica, Verônica Souto Maior; e a
diretora-executiva, Elys Carvalho, participaram do Fórum de Estraté-gias de Diretores Gerais, em Nova York (EUA), realizado em fevereiro passado, para discutir, entre os vários temas pautados, a Revisão Constitucional da Ifac.
Nesta entrevista à RBC, Warren Allen anuncia que pretende vir ao Brasil, fala dos desafios mais relevantes da profissão no mundo, apresenta suas principais metas, opina sobre o processo de conver-gência às Normas Internacionais de Contabilidade (International
Finan-cial Reporting Standards – IFRS) e,
entre outras questões, traça um panorama da realidade da profissão no mundo.
RBC – O sr. assumiu o cargo em novembro de 2012 como pre-sidente da Ifac. Quais são suas principais metas para os dois anos de seu mandato?
Warren Allen – Minhas metas
principais vão ao encontro das iniciativas-chave documenta-das no Plano Estratégico 2013-2016, aprovado na assembleia do Conselho da Ifac em novem-bro de 2012.
Há sete iniciativas-chave, sen-do as quatro primeiras minhas prioridades pessoais:
• Apoiar a capacidade dos con-selhos de padronizações de normas de responder mais rapidamente e de modo pro-ativo às questões do público. • Trabalhar com os órgãos--membros da Ifac e empre-sas para conferir o avanço apropriado da gestão fi-nanceira do setor público e apoiar uma implementação eficaz de Normas Contábeis Internacionais do Setor Pú-blico (IPSAS).
• Assistir os órgãos-mem-bros ao promover capaci-tação, especialmente em economias em desenvol-vimento e emergentes, onde uma forte profissio-nalização em Contabili-dade poderá auxiliar na contemplação sólida da infraestrutura financeira e apoiar o crescimento e de-senvolvimento econômico. • Fortalecer o fundo da Ifac, com a finalidade de assegu-rar que existam recursos su-ficientes e sustentáveis para realizar todas as atividades de nosso plano estratégico; continuar a satisfazer às ex-pectativas do público e acio-nistas-chave da Ifac e, ainda, trabalhar em prol do interes-se público.
• Otimizar o foco sobre a re-gulamentação e as políti-cas públipolíti-cas. Creio que a Ifac esteja, de modo espe-cial, orientada à pesquisa e que apresenta as visões da profissão e de seus acionis-tas, em um nível global, e que tenha expressão quan-to a questões de interesse público. Continuaremos a empreender o foco sobre a identificação de questões de políticas de ação às quais a Ifac esteja particularmen-te qualificada a tomar uma posição e a se expressar em nome da profissão.
• Continuar com o foco em Relatórios Integrados, os quais surgiram como uma iniciativa de grande valor e importância para facilitar a transparência e a respon-sabilidade final e, acima de tudo, para aprimorar a confiança resultante de investidores e acionistas. Os Relatórios Integrados também contribuem para o desenvolvimento de eco-nomias sustentáveis e esta-bilidade financeira.
• Por fim, tomar a liderança ao fortalecer iniciativas atuais.
RBC – Quais são as questões e os desafios mais relevantes de hoje para a profissão contábil no mundo?
Allen – Além das iniciativas-chave
identificadas em minha resposta inicial, creio que as seguintes ques-tões e desafios sejam relevantes:
• Recrutamento e retenção dos profissionais mais habilitados em face de crescentes regula-mentações.
• Conformidade com o conjun-to, crescentemente exigente, do público ao qual servimos. • Mobilidade global e reco-nhecimento dos contado-res profissionais para pos-sibilitá-los trabalhar além das fronteiras.
RBC – Em 25 e 26 de feverei-ro, o Fórum de Estratégias de Diretores Gerais foi realizado na Ifac, Nova York, EUA, com representantes de entidades associadas de todo o mundo, incluindo o Conselho Federal de Contabilidade. Qual a sua avaliação dos resultados des-se fórum?
Allen – Ficamos lisonjeados em
receber o Conselho Federal de Contabilidade, bem representado
Divulgação If
no Fórum de Estratégias de Dire-tores Gerais (CE Forum) deste ano. Essa foi a décima vez que a Ifac promoveu este evento anual, que inclui os diretores gerais de nossos órgãos-membros principais, orga-nizações regionais, associações e grupos contábeis.
O evento deste ano ficou predo-minantemente concentrado no fu-turo, em particular, em buscar con-tribuições detalhadas, como parte da Revisão Constitucional da Ifac, atualmente em vigência. Também estávamos buscando contribuições para a estratégia futura da Federa-ção, para o período até 2020, para auxiliar na determinação de qual posição a Ifac necessita assumir, no intuito de continuar a servir o inte-resse público e a área profissional global de Contabilidade.
Recebemos excelentes partici-pações e contribuições por meio dessas atividades, que serão mais úteis aos oficiais da Ifac e aos grupos de revisões ao trabalha-rem nessas questões. Em geral, sinto que foi um evento de má-ximo êxito.
RBC – A Ifac está conduzindo uma revisão de seu estatuto constitucional. No Fórum rea-lizado em 25 e 26 de fevereiro, quais foram os principais pontos levantados pelos participantes em relação à revisão do estatuto da entidade?
Allen – O aconselhamento
direcio-nado principal que recebemos do Fórum CE, em relação à Revisão Constitucional atual, foi que a Ifac necessitava de um conjunto moder-no de documentos constitucionais que a possibilitasse estar “prepa-rada para o futuro” e mais “ágil“ quanto às circunstâncias de mudan-ça, diferentemente do que, talvez, a presente Constituição permita.
O Grupo de Trabalho de Revi-são da Constituição, presidida por Olivia Kirtly, da Ifac, está
conduzin-do essa atividade e deve emitir um documento de pesquisa detalhado em abril, para solicitar contribui-ções de órgãos-membros da Ifac, de associados, afiliados, organiza-ções regionais e grupos contábeis.
RBC – Do Brasil, o Conselho Fe-deral de Contabilidade (CFC) e o Instituto dos Auditores Indepen-dentes do Brasil (Ibracon) são membros-associados. O sr. tem plano de vir ao Brasil durante seu mandato?
Allen – A Ifac está muito
satisfei-ta em ter satisfei-tanto o CFC quanto o Ibracon como membros plenos e, também, por ter Ana María Elor-rieta como representante (das en-tidades brasileiras) no Conselho da Federação.
A importância do Brasil para a economia global e o rápido cresci-mento que o país está vivenciando tornam vital que o CFC e o Ibracon sejam membros ativos da Ifac. As perspectivas da América do Sul e do Brasil são essenciais a todo o trabalho que a Federação Interna-cional de Contadores realiza. A Ifac aprecia os esforços passados e pre-sentes de voluntariado do Brasil.
Já tive debates preliminares com os presidentes Juarez Domin-gues Carneiro e Eduardo Pocetti (Ibracon) a respeito de uma visita em 2013. Terei empenho em visitar e obter uma melhor compreensão do excelente trabalho feito pela área contábil profissional no Brasil.
RBC – O Brasil está, desde 2007, em processo de con-vergência com as Normas In-ternacionais de Contabilidade (IFRS), as Normas Internacio-nais de Contabilidade do Setor Público (IPSAS) e as Normas Internacionais de Auditoria (ISAs). Qual é a visão do sr. so-bre o modelo de convergência de normas que está sendo uti-lizado no Brasil?
Allen – Parabenizo o Brasil por seus
esforços de convergência das nor-mas contábeis internacionais, de auditoria e de contabilidade do se-tor público.
É essencial capacitar a profis-são contábil internacional para que permaneça relevante às co-munidades para as quais tra-balhamos e que essas normas internacionais sejam plenamen-te implementadas em todas as economias do mundo, a fim de possibilitar níveis apropriados de responsabilidade final e transpa-rência nas atividades de negócios do mundo.
Isso, unido a um conjunto de normas nacionais de ética, que te-nham conformidade com o Código de Ética do Conselho Internacional de Normas Éticas para Contadores, deverá colocar, de forma ideal, a profissão contábil brasileira em uma forte posição de servir e
be-neficiar-se do futuro crescimento econômico do país.
RBC – De acordo com um estudo publicado pela Forbes e condu-zido por CareerBuilder (Desen-volvedor (a) de Carreiras) e a EMSI – Especialistas de Modela-gem Econômica, Internacional (Economic Modeling Specialists Intl.) (http://www.forbes.com/si-tes/jacquelynsmith/2012/12/06/ the-top-jobs-for-2013/), a pro-fissão contábil está em segun-do lugar entre as três melhores profissões, nos Estados Unidos, para se procurar empregos em 2013. Como o sr. analisa a situ-ação atual da profissão em seu país (Nova Zelândia), nos Esta-dos UniEsta-dos e no mundo? Allen – Esta é uma descoberta
mui-tíssimo interessante e apoia forte-mente uma visão pessoal que tive por muitos anos.
Acredito que uma pessoa apropriada-mente escolarizada e detentora de expe-riência na profissão contábil, além de pos-suidora de habilida-des interpessoais for-tes, deve ter acesso a oportunidades de car-reia compensadoras.
Em contraste a descobertas de estu-dos, é surpreenden-te, para mim, que a profissão contábil global tenha apenas 2,5 milhões de con-tadores profissionais. Intuitivamente, isso
parece um número pequeno, con-siderando-se o papel crucial que exercemos na sociedade global.
Ainda, quando alcançarmos os resultados desejados acerca das melhorias na administra-ção financeira do setor público, como também a implementação de Relatórios Integrados, haverá uma pressão quanto à necessi-dade de mais contadores profis-sionais. Isto irá beneficiar a área profissional na maioria dos paí-ses do mundo.
É muito interessante estudar o que aconteceu em meu país, a Nova Zelândia, no início dos anos 1990, com a implementação de reformas que observaram a intro-dução de acréscimos contábeis integrais em todas as partes do setor público.
A população da Nova Zelândia é de pouco mais de 4 milhões de pessoas, e, anteriormente às re-formas do setor público, tínhamos aproximadamente 18 mil contado-res profissionais, com menos de 3% empregados no setor público. Atualmente, a Nova Zelândia tem 35 mil contadores profissionais, com quase 30% empregados no setor público.
RBC – Qual é o perfil profissio-nal ideal para suprir as novas demandas do mercado de tra-balho? As habilidades e compe-tências dos contadores mudarão nos anos que virão?
Allen – As Normas Internacionais
de Educação (IES), emitidas pelo normatizador independente Con-selho Internacional de Educação Contábil, são idealmente
estrutu-Divulgação If
radas para prover o conjunto ideal de habilidades e competências ne-cessárias a um contador profissio-nal, para cumprir as demandas va-riáveis (em mudança) do mercado de trabalho.
Contadores profissionais têm uma responsabilidade pessoal de permanecerem atualizados e to-talmente em dia com todos os as-pectos de suas áreas particulares de expertise. A fim de, apropriada-mente, satisfazer ao nosso dever com o interesse público, temos que empreender um nível suficiente e apropriado de educação e capaci-tação profissional contínua. Essa é uma parte importante de nosso dever profissional e não podemos ignorar esse aspecto, sob pena de nosso próprio prejuízo.
RBC – O sr. acredita que a profis-são de contador continuará a ser
uma opção atrativa para pessoas jovens no futuro?
Allen – A Contabilidade é a única
profissão verdadeiramente glo-bal e, com prospectos excelen-tes no futuro, para altos níveis de empregos recompensadores, considero que a profissão este-ja bem posicionada a oferecer grandes oportunidades às pes-soas jovens.
Se uma pessoa tiver competên-cia em várias línguas, isso melhora o seu poder de negociação e a ca-pacidade de ultrapassar fronteiras e trabalhar em várias economias, algo que é atrativo à maior parte da geração mais jovem.
Todos nós temos a responsa-bilidade profissional de encorajar pessoas jovens, competentes e mo-tivadas, a se incluírem nessa pro-fissão – que irá propiciá-los uma carreira compensadora.
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ac
RBC – O Conselho Federal de Con-tabilidade, em conjunto com vá-rias entidades contábeis brasilei-ras, lançou este ano a campanha “2013: Ano da Contabilidade no Brasil”, com a finalidade de di-vulgar amplamente o real papel e a contribuição dos profissionais contábeis para o desenvolvimen-to da economia brasileira. Como o sr. avalia esse tipo de iniciativa? Allen – Parabenizo a profissão
bra-sileira por esta iniciativa importan-te e valiosa. Exercícios similares, em outros países, têm tido grandioso êxito ao promover a profissão. Às vezes, não fomos tão proativos nis-so como deveríamos ter sido.
Temos muito do que nos orgu-lhar, porém, muito frequentemen-te, a publicidade que recebemos é negativa. Desejo que continuem seu sucesso nessa iniciativa, e, de fato, em todas as suas lutas e esforços.