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CORPOREIDADE E HUMANESCÊNCIA NA FONTE DOS SABERES DA VIDA: A FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE VALORIZA O SER

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Academic year: 2021

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CORPOREIDADE E HUMANESCÊNCIA NA FONTE DOS SABERES DA VIDA: A FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE VALORIZA O SER

Tereza Cristina Bernardo da Câmara – Instituto Kennedy/RN

A presente dissertação é oriunda de inquietações de uma postura investigativa assumida por uma Professora Formadora de Educação Física perante sua ação educativa com professores em formação. A pesquisa foi realizada com dezesseis professores da Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental que lecionam em escolas da rede pública. Os referidos professores são alunos do Curso Normal Superior do Instituto de Educação Superior “Presidente Kennedy”, Natal/RN. A pesquisa busca investigar como vivências corporais que valorizam o Ser mobilizam o entrelaçamento dos saberes docentes na formação de professores. A análise e discussão do entrelaçamento dos saberes foram realizadas através dos quatro Pilares da Educação, na Fonte dos Saberes da Vida, metáfora especialmente criada para este estudo como estrutura epistemológica e metodológica norteadora de todo processo investigativo e que propiciou evidenciar a repercussão do banhar-se e do beber nessas águas humanescentes de uma prática pedagógica que valoriza o Ser, rumo a sua transcendência.

Palavras-chave: Corporeidade. Humanescência. Saberes da Vida. Formação de Professores.

Jorra uma fonte! Fonte de ludicidade de alegria, de humanescência! Nela, banham-se professores em formação. A água simboliza a vida e os saberes para bem viver. Apresenta-se tal como na epistemologia bachelardiana, como um Ser total, que tem um corpo, uma alma e uma voz, superando dicotomias. Ela é um elemento favorável para representar combinações, pois “assimila tantas substâncias! Traz para si tantas essências!”(BACHELARD, 1997, P. 97).

A água humanescente que jorra da fonte toca os corpos dos professores, despertando-lhes o sentido, sensibilizando-os para a vida. Banhando-se, reaprendem a brincar, brincar com o corpo, brincar com a alma. No corpo, reaprendem a viver um espaço de brincadeiras como uma experiência legítimas e fundamentalmente humana. Brincando, os sentimentos fluem e o ser toma consciência de si. Lowen (1995) afirma que, para estar consciente do eu, necessário se faz perceber as sensações produzidas pelo corpo.

A corporeidade no contexto de formação vivenciada na fonte dos saberes da vida deve ser percebida como integrada na unidade do Ser. Ela está presente e próxima do

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Ser e o constitui. O amor a Si e ao Outro é um caminho para harmonizar o Ser e toda sua existência cósmica. É o caminho para fazer florescer a corporeidade.

No Instituto de Formação de Professores “Presidente Kennedy”, a LDBEN 9394/96 já encontrou uma experiência de formação docente, uma pequena fonte de saberes da vida que jorrava desde 1994, ano em que iniciou sua primeira turma, em nível superior. Os pressupostos da Corporeidade começavam a ser conhecidos pelas Professoras Formadoras da disciplina de Educação Física, as quais, na prática educativa que desenvolviam procuravam dar vida a esse conceito.

A superação de dicotomias é uma das metas da disciplina Educação Física nesse contexto formativo: conhecer e fazer, conviver e ser, pessoal e profissional, corpo e mente. Esses elementos passam a ser trabalhados não como excludentes, mas como complementares e, investigar como vivências corporais que valorizam o ser mobilizam o entrelaçamento dos saberes docentes na formação de professores, é objetivo deste estudo.

Os Saberes da Vida que jorram da Fonte

O Terceiro Milênio tem provocado reflexões daqueles que acreditam que o importante na vida é evoluir vivendo-se em harmonia consigo mesmo, com os outros, com a Natureza, com a Sociedade, com o Planeta. O paradigma cartesiano já não pode mais dar conta da complexidade da vida humana. Muitos estudiosos, de diversas áreas do conhecimento têm procurado por novos paradigmas, como é o caso do paradigma da complexidade, concebido por Edgar Morin.

É importante, entretanto, que não se considere a complexidade como receita que nos dirá passo a passo “o que” e “como fazer” para superar as adversidades que nos apresenta a vida. Ela é, de outro modo, como afirma Morin (1998, p. 176), “uma motivação para pensar (...) um substituto eficaz da simplificação mas que, como a simplificação, vai permitir programar e esclarecer”. Programar e esclarecer, neste trabalho, as relações estabelecidas entre saberes e vida, saberes que vivem a vida, saberes e professores em formação, saberes e corporeidade. Essas relações não se dão de modo linear, uniforme, objetivamente apenas. As relações se estabelecem enquanto conexões, inter-relacionando-se, auto-formando-se e, no presente estudo, vão permitir

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que se reflita acerca do entrelaçamento de saberes que brotam da vida para a própria vida.

Os estudos acerca da complexidade e da articulação de saberes indaga: quem vai educar os educadores para esse novo ensino? Para um ensino que, nesse contexto, terá como foco, a humanização do Ser?

Na formação docente investigada neste estudo, a educação escolar aparece como um trunfo de que a humanidade lança mão, não como um “santo remédio” ou “salvação da pátria”, mas como um caminho autêntico que pode conduzir a um desenvolvimento humano1, verdadeiramente humanescente.

A Educação, compreendida como desenvolvimento humano, aceita a visão de totalidade e plenitude do ser e exige dos profissionais uma transformação no modo de pensar e agir. Faz-se necessário humanizar-se e humanizar, sendo necessário, para isso, como ressalta Cavalcanti (2001), transcender o individual para se unir à totalidade, converter-se em energia que ilumina.

Nesse contexto são necessários saberes de uma vida, em que todas as coisas estão conectadas. Régis de Moraes (2003, p. 107) refere-se à Maturana e Varela (1995), quando reconhece que “viver é conhecer. Conhecer é experimentar algo novo a cada minuto, a cada instante. Assim, vida e aprendizagem não estão separadas, já que a cognição envolve todo o processo da vida, incluindo a emoção, a percepção e o comportamento”.

Os saberes que jorram na fonte – metáfora símbolo dessa investigação – são saberes da vida, saberes que não se limitam somente a instruir, mas ousam despertar os sentidos, a emoção e a sensibilidade dos professores em formação, buscando oportunizar, também, a elevação do ser espiritual.

Os saberes apresentados no Relatório “Delors” (2003, p. 90) organizam-se como aprendizagens fundamentais que, “ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento”. Conhecimento necessário acredita-se, para a vida. Para o bem viver. São pilares que simbolizam “aprender a conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender a viver juntos” e “aprender a ser”. Pilares que conduzirão os saberes

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Que pode ser aqui compreendido, conforme apresenta o relatório da UNESCO, ou seja, como: “um processo que visa ampliar as possibilidades oferecidas às pessoas. Em princípio, estas possibilidades podem ser infinitas e evoluir com o tempo(...)as três principais(...)são ter uma vida longa e com saúde, adquirir conhecimentos e ter acesso aos recursos necessários a um nível de vida decente(...)” (DELORS, 2003, p.81)

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da corporeidade, que entrelaçados irão jorrar da fonte e banhar os professores que criam, brincam, sentem, pensam e humanizam-se2.

O caminho trilhado para compreender os Saberes da Vida que jorram na Fonte

Realizar uma pesquisa que tem como objeto de estudo o ser humano e seus saberes, numa perspectiva de educação centrada no presente, que oportunize viver num mundo mais harmonioso, isto nos faz caminhar por uma abordagem qualitativa de pesquisa, que não nasceu por acaso, mas do desejo voluntário de refletir e narrar o próprio trabalho em Educação. Um trabalho que não distancia sujeito e objeto de pesquisa.

Uma análise documental foi realizada para observar, principalmente, as reflexões desses professores com relação ao entrelaçamento dos saberes enfocados nas disciplinas “Educação Física” e “Arte”, mais especificamente àquelas provocadas pelas vivências corporais oportunizadas pela Educação Física. Esta pesquisa reflete, portanto, o que afirma Tardif (2002, p. 236): “Longe de se posicionar simplesmente do lado da teoria, a pesquisa na área da educação é regida e produzida por um sistema de práticas e atores”.

Desse modo, iniciamos uma busca para encontrar, nos Relatórios dos alunos, aqueles que evidenciavam em suas “falas”, a presença dos Saberes da Vida, aqui caracterizados pelos saberes apresentados pelo Relatório da UNESCO (2003). Os professores em formação deveriam fazer referência às transformações sentidas a partir do “banho que tomavam na fonte dos saberes da vida, dançando e brincando”, assim como dos “saberes por eles bebidos”, e como tais mudanças teriam afetado sua prática profissional e sua vida.

Depois de selecionar dezesseis relatórios que abordavam alguma reflexão acerca dos Quatro Pilares da Educação apresentados no Relatório “Delors” (2003), duas questões foram formuladas e aplicadas com o grupo com a intenção de analisar de que forma os professores percebiam o entrelaçamento dos saberes no ser do professor em formação, tendo como elemento sensibilizador dessa reflexão a vivência corporal na fonte dos Saberes da Vida.

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Para respaldar a análise das narrativas, foi de grande utilidade o trabalho do romeno Basarab Nicolescu (1999) intitulado “O Manifesto da Transdisciplinaridade”. Essa opção deu-se em função de reconhecer, assim como o autor, que “a abordagem transdisciplinar nos faz descobrir a ressurreição do indivíduo e o começo de uma nova etapa de nossa história” (NICOLESCU, 1999, p. 9), pois o “papel da transdisciplinaridade é trabalhar no sentido de sua escolha e mostrar em ato que a ultrapassagem das posições binárias e dos antagonismos é efetivamente realizável” (NICOLESCU, 1999, p. 132), considerando, para tanto, que o rigor, a abertura e a tolerância devem estar presentes na pesquisa e na prática de natureza transdisciplinar.

As “falas” que remetem a si próprios: o que dizem os professores em formação

A fonte dos Saberes da Vida jorra e banha os professores que bebem, desses saberes humanescentes. Tais saberes entrelaçam-se nas suas vidas enquanto seres. A professora ABPF ressalta que,

Nessas aulas, esquecíamos de tudo e mergulhávamos de cabeça e corpo naquilo que estávamos fazendo, deixando-nos levar pelo momento. Com isso reconhecemos melhor nosso próprio corpo e os outros que estão a nossa volta, tomando consciência dos meus avanços e esquecendo em alguns momentos a minha timidez. Ajudando também no meu entrosamento com os outros que estão a minha volta (ABPF, 2005).

Vivenciando momentos de ludicidade, brincando, jogando e dançando, a professora “mergulha” em si. Reflete sobre o que sente e pensa, imagina, fantasia e cria. Vive no respeito a si e ao outro, considera a qualidade do que oferece ao outro. Preocupa-se com e como faz a sua prática como profissional e pessoa que é.

ABPF evidencia os Saberes da Vida entrelaçados a partir da compreensão do próprio ser e o reflexo disso nas relações que estabelece com os outros e com seu entorno.

A professora EGF analisa:

Com certeza todos os saberes são essenciais na vida dos educadores que estão sempre buscando conhecimentos, trabalhando em equipe e aprendendo a conviver com o outro, ampliando e transformando o seu fazer pedagógico e fazendo do mesmo um momento de reflexão na ação, sempre em busca de novos horizontes e ampliando o seu universo de conhecimentos (EGF, 2005).

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Evoluir no coletivo e com o coletivo foi um ponto destacado por quem reconhece a presença e a importância do entrelaçamento dos Saberes da Vida. Saberes que podem levar a transformar a realidade em que vive, pois como afirma Maturana e Rezepka (2000, p. 9), “nós, os seres humanos, fazemos o mundo que vivemos em nosso viver”. Ele emerge com cada um e o grau de sensibilidade e envolvimento de cada ser refletirá o seu mundo.

Entrelaçar os saberes na vida do ser configura-se como manifestação humanescente desse ser. Estabelecer relação entre o ser-mundo é buscar evoluir e Ser. Só assim pode-se, como afirma Assmann (1995), criar e inventar o próprio mundo, sonhar-se próprio mundo e transformar o mundo real, visto que torna-se capaz de transformá-lo.

Referências

ASSMANN, H. Paradigmas educacionais e Corporeidade. São Paulo: Ed. Da UNIMEP, 1995

BACHELARD, G. A Água e os Sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. Trad. Antônio de Pádua Danesi. São Paulo: Martins Fontes, 1997

CAVALCANTI, K. B. Para a Unificação em Ciência da Motricidade Humana. Natal, RN: EDUFRN, 2001

DELORS, J. (org.) Educação: um tesouro a descobrir. 8 ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2003

LOWEN, A. A Espiritualidade do Corpo: Bioenergética para a Beleza e a Harmonia. 10 ed. Trad. Paulo César de Oliveira. São Paulo: Cultrix, 1995

MATURANA, H. REZEPKA, S. Formação Humana e Capacitação. Trad. Jaime A. Clasen. Rio de Janeiro: Vozes, 2000

MATURANA, H. VARELA, F. A Árvore do conhecimento. Trad. Jonas Pereira dos Santos. São Paulo: Editorial Psy II, 1995

MORIN, E. Ciência com Consciência. 2 ed. rev. e mod. Pelo autor. Trad. Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998

NICOLESCU, B. O Manifesto da Transdisciplinaridade. Trad. Lúcia Pereira de Souza. São Paulo: TRIOM, 1999

RÉGIS DE MORAES, J. Um caso de amor com a vida. São Paulo: Verus Editora, 2003 TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional. Rio de Janeiro: Vozes, 2002

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Esquema de Poster Logo do Evento Logo da Instituição Título Autora TEXTO SÍNTESE FOTO FOTO FOTO FOTO REFERÊNCIAS

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