• Nenhum resultado encontrado

A dialogicidade habermasiana: algumas considerações sobre a inserção de uma instância pública na disciplina sociologia das organizações. / The Habermasian dialogism: some considerations about the insertion of a public instance in the discipline sociology

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A dialogicidade habermasiana: algumas considerações sobre a inserção de uma instância pública na disciplina sociologia das organizações. / The Habermasian dialogism: some considerations about the insertion of a public instance in the discipline sociology "

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

A dialogicidade habermasiana: algumas considerações sobre a inserção de

uma instância pública na disciplina sociologia das organizações.

The Habermasian dialogism: some considerations about the insertion of a

public instance in the discipline sociology of organizations.

Recebimento dos originais: 15/02/2019 Aceitação para publicação: 11/03/2019

Reynaldo Josué de Paula

Instituição: Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Endereço: Av. Adhemar de Barros, s/nº - Ondina, Salvador - BA, 40170-110 E-mail: rjpadm@hotmail.com.

Jerry Adriane Pinto de Andrade

Instituição: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Endereço: Estrada Itapetinga, s/n, Itapetinga - BA, 45700-000

E-mail: jerrypa@uesb.edu.br

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo a inserção da dialogicidade habermasiana no ensino da disciplina Sociologia das Organizações em uma Universidade na cidade de Salvador, na qual temos vivenciado contradições na dinâmica do ensino-aprendizagem propiciando o emergir de manifestações autoritárias, fato lamentável num contexto que emtese deveria ser denatureza emancipatória. O corpo docente e discente tem demonstrado profundo respeito e preocupação em relação ao assunto, sinalizando interesse pelo seu aprofundamento teórico e pela criação de mecanismos de aperfeiçoamento e democratização da práxis educativa. Nesse sentido, é pertinente os seguintes questionamentos: Como instaurar espaços democráticos na dinâmica educativa? Como desenvolvermos uma pratica docente pautada pela dialogicidade? Para tanto, buscou-se embasamento teórico naTeoria da Ação Comunicativa de Habermas. Para tanto, utilizou-se um delineamento metodológico de natureza qualitativa adotando como instrumentos da pesquisa: o questionário e a observação participante. Os dados foram coletados durante o primeiro semestre de 2017, junto a 26 discentes da matéria Sociologia das Organizações. Com base na pesquisa realizada pode-se concluir que foi plausível a instauração da dialogia no ensino da disciplina Sociologia das Organizações.

Palavras-Chave: Instância pública, dialogicidade, ensino de sociologia das organizações.

ABSTRACT

This paper aims to introduce the Habermasian dialogism in the teaching of Sociology of Organizations at a University in the city of Salvador, where we have experienced contradictions in the dynamics of teaching and learning, propitiating the emergence of authoritarian manifestations, an unfortunate fact in a context that should be emancipatory denature. The faculty and students have shown deep respect and concern about the subject, signaling their interest in their theoretical deepening and the creation of mechanisms to improve and democratize the educational praxis. In this sense, the following questions are

(2)

pertinent: How to establish democratic spaces in the educational dynamic? How can we develop a teaching practice guided by dialogue? In order to do so, we sought theoretical basis in Habermas's Communicative Action Theory. For that, a methodological design of a qualitative nature was adopted adopting as research instruments: the questionnaire and participant observation. Data were collected during the first semester of 2017, together with 26 students of Sociology of Organizations. Based on the research carried out, one can conclude that it was plausible to establish a dialogue in the teaching of Sociology of Organizations.

Keywords: Public instance, dialogue, teaching of sociology of organizations.

1 INTRODUÇÃO

Uma das manifestações da economia globalizada é a disseminação da tecnologia da informação, a qual trouxe à tona uma nova fonte de riqueza o conhecimento, fato que demanda a polivalência cognitiva dos indivíduos, a qual compreende a capacidade de pensar, de abstrair, e de realizar inferências imaginadasao invés da destreza manual.

Essa realidade tem obrigado a reflexão sobre os desafios metodológicos do ensino-aprendizagem pois, o saber parte do fato de “que aprender” não significa a mesma coisa para todos os discentes, uma vez que exprime as condições sociocultural do discente a relação econômica e política que estrutura a sociedade na qual o mesmo está inserido.

Portanto, a práxis educativa pressupõeampliar a visão sobre o dia a dia da escola e, [a] temporalmente, delineia seus efeitos sobre os sujeitos dessa escola, mostrando que reflexões desses alunos podem e devem ser ouvidas se quisermos cumprir a tarefa máxima da escola que é a de promover conhecimento, cultura, socialização e, acima de tudo, de promover a autonomia.

Esta abordagem didática pedagógica exigedas Instituições de ensino Superior uma práxiseducativa democrática-emancipatória que tem como fundante interações dialógicas, isto é a dialogicidade.

Outros sim, é necessário ter-se um conceito funcional do dialogicidade, que dê conta das contingências e das particularidades da atividade educativa, em geral composta por uma pluralidade de sub-razões. Ao estabelecer as bases dessa funcionalidade, deve-se considerar as tradições que perpassam a cultura da Instituição na qual está inserida o grupo em estudo. Nesse caso, as tradições não devem ser consideradas somente como um patrimônio de crenças e valores, aceitos de modo acrítico. Elas devem ser consideradas como um acervo de construções sociais, cuja função é a integração social, contribuindo de maneira decisiva para a compreensão dos valores que mediam as relações sociais.

(3)

A Dialogicidade equivale ao exercício do diálogo e à construção coletiva de sentido das coisas, fatos ou objetos. No diálogo existe a busca do entendimento entre os indivíduos através da argumentação discursiva dos conflitos ou questões que sejam problematizadas. Neste sentido, este artigo tem como objetivos: a) Promover a inserção da dialogicidade habermasiana no ensino da disciplina Sociologia das Organizações; b) Averiguar qual a contribuição da disciplina Sociologia no cotidiano profissional do discente.

Para tanto, adotou-se uma pesquisa de natureza qualitativa utilizando um questionário e a observação participante, contando com a participação de 26 estudantes da disciplina Sociologia das Organizações, no curso de administração, durante o 1º semestre de 2017, em uma Universidade situada na cidade de Salvador. A dinâmica do trabalho observou o seguinte esquema:1ª) Aplicação de questionário; 2ª) Análise do questionário e elaboração de uma proposta das atividades a serem realizadas durante o semestre; 3ª) Discussão e aprovação da proposta definitiva; 4ª) Seleção dos alunos que participaram da pesquisa e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido; 5ª)Realização de 06 seminários; 6ª) avaliação da disciplina.

Desta maneira, a inserção da dialogicidade no ensino de Sociologia das Organizações tem como pressuposto básico a instauração de uma Instância Pública1que deve ser um contexto isento de repressões e em igualdade comunicativa, cujo objetivo é substituir uma intersubjetividade hierárquica por uma intersubjetividade cooperativa na qual todos os participantes potenciais de um dialógo tenham a mesma oportunidade de: atos de fala, interpretar e justificar enunciados, problematizar questões, refutar pretensões de validade, expressar atitudes, sentimentos e desejos, dar razões ou exigi-las.

Nessa perspectiva, é possível se pensar em um contexto emancipatório, sem, contudo, tornar-se utópico. Isso é viável ao se considerar a coexistência das Ações Comunicativas2 e Estratégicas3 nas interações sociais que emergem na práxis educativa.

1 É o emergir de uma instancia pública que possibilitara a instauração de um Espaço Público, na perspectiva

habermasiana é um espaço (interlocução) de relações intersubjetivas no qual são discutidas questões problematizadas para a obtenção do consenso que deve contemplar todos os participantes.

2Ação comunicativa é aquela cuja fundamentação normativa é o respeito aos interesses individuais e

coletivos, e por intermédio da prática argumentativa resulta numa força consensual de entendimento entre sujeitos capazes de linguagem e ação. Em situação que não haja consenso, essa ação requer um processo cooperativo de interpretações pautado numa prática argumentativo, sem nenhuma forma de coação, para obtê-lo, dessa forma, a ação comunicativa é isenta de manipulação e de ações estratégicas encobertas, ou seja, são ações nas quais “pelo menos um dos participantes se comporta estrategicamente. (Habermas 1989 b:386).

3Ação estratégica é aquela cuja fundamentação normativa é a maximização de utilidade e dos interesses

(4)

Em Habermas (1989b) a dialogicidade deve englobar a questão da solidariedade e da justiça, até então dicotomizados na tradição ética, a partir do diagnóstico de que a complexidade e diversidade da sociedade contemporânea fomentam uma crescente vulnerabilidade do indivíduo em sua inserção na sociedade e no seu processo de individuação. Então, por um lado, faz-se necessário uma Instância Pública, que pressupõe a competencia comunicativa, para lidar com essa fragilidade, neste caso o sujeito precisa reagir com deferência e consideração à vulnerabilidade do outro. Já, que, por outro lado, a individuação não é regulada por um dispositivo genético que faça transição imediata da espécie para o organismo individual, mas sim por intermédio de suas interações sociais, isto é, os seres humanos necessitam de proteção para conseguirem individualizar-se, por via da socialização.

Desse modo, Instância Pública requer um processo de mudança cultural que implica boa vontade dos indivíduos (do homem de “boa vontade” no sentido kantiano). Levando os indivíduos a incorporarem o respeito às diferentes condutas obtido através de um consensoqualificado pela argumentação, evitando arbitrariedades que podem incidir numa agressão ao outro, e, consequentemente, num processo de relativização da sua humanidade. Com base no itens descritos acima, pode-se fazer os seguintes questionamentos: Como instaurar espaços democráticos na dinâmica educativa? Como desenvolvermos uma pratica docente pautada pela dialogicidade? Essa realidade é plausível através da abertura de uma Instância Pública, a qual remete a uma prática dialógica que encontra suporte teórico na Ação Comunicativa de Habermas.Neste interim, o trabalho apresenta as seguintes fases: a) delimitação dos objetivos do trabalho; b)delineamento metodológico; c)resultados da pesquisa e d)as considerações finais

2 DELINEAMENTO METODOLÓGICO

O delineamento metodológico desta pesquisa é de natureza qualitativa utilizando-se um questionário e a observação participante. O trabalho foi realizado no primeiro semestre de 2017 contando com a participação de 26 estudantes da disciplina Sociologia das Organizações no curso de administração em uma Universidade na cidade de Salvador. A seleção dos participantes foi a partir da lista de frequência dando-se ao aluno a opção de participar ou não da pesquisa. Para a coleta dos dados, incialmente utilizou-se um

agem cooperativamente, apenas para a obtenção egocêntrica de seus interesses, fomentando o surgimento de uma interação social não emancipatória(Habermas 1989 b:386).

(5)

questionário cujo os resultados foram debatidos num processo interativo, no qual as palavras são o meio principal de troca propiciando o intercambio de ideias e de significados, em que várias realidades e percepções são exploradas e desenvolvidas. Deste modo, tanto o professor como o aluno estão envolvidos, dialogicamente, na produção de conhecimento. Para a operacionalização da pesquisa observou-se o seguinte roteiro: 1ª) Aplicação de questionário para levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos sobre sociologia; 2ª) Análise do questionário e elaboração de uma proposta das atividades a serem realizadas durante o semestre; 3ª) Discussão e aprovação da proposta definitiva; 4ª) Seleção dos alunos que participaram da pesquisa e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido; 5ª)Realização de 06 seminários; 6ª) avaliação da disciplina.

Quadro 1: Relação dos seminários realizados

Temática Textos e Filmes 1ª) Ciencia e

racionalidade

TEXTO:

1º) SERVA, M. A racionalidade substantiva demonstrada na

prática administrativa -RAE- Revista de Administração de

Empresas São Paulo. 37, n. 2, p. 18-30 Abr./Jun. 1997.

2ª) O pensamento de Durkheim no contexto organizacional.

TEXTOS:

1º) SERVA, Maurício. O fato organizacional como fato social

total. Rio de Janeiro. 35(3): 131-52, mai. /jun., 2001.

2º). QUITANEIRO, M. e BARBOSA, O.M. L. Um toque de clássicos. Ed. UFMG. Minas Gerais, 2002.FILME: Carandiru

3ª) Weber, burocracia e poder nas organizações

TEXTOS:

1º) MOTTA Gustavo da Silva. Por uma abordagem weberiana

nos procedimentos de pesquisa em estudos organizacionais

CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração. 2. QUITANEIRO, M. e BARBOSA, O.M. L. Um toque de clássicos. Ed. UFMG. Minas Gerais, 2002.FILME: Escritores da liberdade

4ª) O pensamento de Karl Marx nas organizações.

TEXTOS:

1º).THIRY-CHERQUES, H.R. Revisitando Marx: Alienação,

sobre trabalho e racionalidade nas organizações contemporâneas.

(6)

2º). QUITANEIRO, M. e BARBOSA, O.M. L. Um toque de clássicos. Ed. UFMG. Minas Gerais, 2002. FILME: O lobo de Wall Street 5ª) Poder, ideologia e alienação: a construção do real e do imaginário na organização TEXTOS:

1º).FREDDO, Antônio Carlos. O discurso da alienação nas

organizações. RAP - Rio de Janeiro 211(1), 24·33, jan./mar. 1994.

2º). RAMOS, Cinthia Leticia & FARIA, José Henrique de. Poder, ideologia e alienação nas organizações. XXXVIII – ENANPAD. Rio de Janeiro, 2013

FILME: O Doador de Memória

6ª)O exercício do poder nas organizações.

TEXTOS:

1º)MAX, Pagés – O poder das organizações. Atlas. São Paulo. 2002

2º).FILHO, N.S. O poder nas organizações: vertentes de análise. Cientifico. Ano II, v. I. Salvador, agosto/dezembro 2002.FILME: Fome do poder

Fonte: elaborado pelos pesquisadores

3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Na análise dos resultados opesquisador adotou uma postura de acolher todas as falas com naturalidade sem preconceitos ou juízos de valor, isto requereu a criação de um campo

de percepção, pois, é indispensável não se ater apenas às “falas” do pesquisado, mas também

para as suas respostas não-verbais, tais como, gestões, expressões corporais etc.

Assim, com base as respostas ao questionário e na observação foram analisadas as tabelas 1, 2 e 3 que versa sobre a disciplina da Sociologia das Organizações e avaliação da abordagem:

(7)

Tabela 1: Respostas dos discentes (A, B, C, D e E) a pergunta do questionário de avaliação- Qual a contribuição da disciplina Sociologia das Organizações para sua vida profissional?

DISCENTE REPOSTAS DOS DISCENTES

A O conhecimento sociológico auxilia na compreensão do meu comportamento e das relações sociais no meio profissional.

B O estudo da sociologia a desenvolver minha compreensão da sociedade que nos cerca e também do exercício da cidadania.

C Mudou meu modo de observação sobre o comportamento das pessoas na empresa e também na sociedade.

D Melhorou minha reflexão dos aspectos sociais e políticos nas organizações dando, uma nova visão crítica das relações de trabalho e também das interações na vida social.

E A sociologia mostra uma outra visão acerca do relacionamento entre os grupos externos, famílias, amigos e isto beneficia muito, pois foi uma tomada de consciência e do reconhecimento do meu papel de cidadão.

Fonte: dados da pesquisa

Foi uma constante o discente enfatizar o mérito da disciplina em despertar a reflexão crítica, isto é muito importante, mas como base em nossa experiência é preciso muito cuidado com este fato, pois, o ensino de Sociologia das Organizações focando apenas o processo de estranhamento e desnaturalização da realidade social, considerando que a simples utilização do clichê “formar para a cidadania”, “despertar a reflexão crítica” mostra-se insuficiente, não apenas para justificar a existência da disciplina, como também para uma processo formativo de indivíduos que vão despenhar funções de Gestão em empresas públicas e/ou privadas num contexto globalizado de extrema complexidade.

Outra coisa, justificar a sociologia em virtude da formação para a crítica e para a cidadania, sem a devida contextualização, pressupõe preparar o estudante para "um depois". E o convívio na Universidade não faz parte da trama social atual? Nela não se exerce a crítica e a cidadania? Argumentar a importância do conhecimento sociológico segundo aquele horizonte pode negar aos discentes a participação política; protela-se essa possibilidade em vista dos seus “desinteresses, descompromissos, apatias”, como frequentemente são caracterizados por professores (MOTA, 2005), principalmente no momento em que a Universidade, a qual pertencem, realizam no momento mudanças nas áreas: curricular, didático-pedagógico e de gestão.

(8)

Além disso, o ensino de sociologia implica, instaurar um habitus4 sociológico no espaço educativo, para tanto é preciso considerar não apenas o que o professor realiza em sala de aula, sua formação, sua trajetória docente, suas condições de trabalho, mas também os significados socialmente construídos dentro das trajetórias individuais e familiares dos discentes e principalmente a sua inserção consciente no mundo.

Tabela 2: Respostas dos discentes (F, G,H, I e J) pergunta do questionário de avaliação- Quais os pontos positivos e negativos de uma metodologia baseada em uma praticam dialógica?

DISCENTE RESPOSTAS DOS DISCENTES

F Como sou muito tímida, participar foi difícil, mas acredito que superei muito dos meus medos e sinto-me gratificada, mas repito exige muito, é sofrido.

G Muitas vezes, discordei desta abordagem, achando que é ruim, mas é preciso discutir para se conhecer a realidade e não julgar somente a partir da nossa opinião sem considerar o que os outros pensam, e refletir sobre as consequências das nossas decisões sobre os outros.

H Foi positivo, porque ali teve oportunidade colocar meus pontos de vista discutindo e chegando a um ponto comum, é uma coisa muito interessante, levando todos a aprender, mesmo sem perceber.

I Os assuntos discutidos foram nota 10. A proposta foi estudar a sociologia de maneira participativa e como autonomia, mas, foi além disso tivemos aulas de ética, de liberdade! Cabe a cada um saber como usar o que aprendeu em sala de aula. Eu gostei bastante.

J A declamação e análise do poema de Brecht sobre Analfabeto Político foi o ponto alto, misturou poesia, politica, alienação de uma forma muito descontraída.

Fonte:dados da pesquisa

A partir da tabela 2 é possível afirmar que as aulas de Sociologia das Organizações pautou-se num procedimento discursivoconstituído na intersubjetividade comunicativa propiciando relações simétricas, ou seja, procurou-se negar: o saber absoluto e doutrinário; a

4Bordieu conceitua habitus como : “[...] sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas

estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, ou seja, comoprincípios geradores e organizadores de práticas e de representações que podem ser objetivamente adaptadas ao seu objetivo sem supor a intenção consciente de fins e o domínio expresso das operações necessárias para alcança-los, objetivamente 'reguladas' e 'regulares' sem em nada ser o produto da obediência a algumas regras e, sendo tudo isso, coletivamente orquestradas sem ser produto da ação organizadora de um maestro”.

(9)

ignorância dos conhecimentos prévios e experiências vividas dos alunos; a ignorância da diversidade; a inibição de posturas autoritárias; a fragmentação dos conteúdos, fomentando um enriquecimento individual e coletivo tanto dos discentes quanto do docente, bem na proposta dialógica de Habermas.

Nesta mesma lógica, Menezes (2014) afirma que: “toda ação educativa deveria ser uma ação comunicativa, quando concebida e permeada pelo diálogo incondicional”...

No sentido de que a linguagem já não é utilizada na busca do entendimento, mas para finalidades como o constrangimento, a imposição e a manipulação, cerceando os espaços de comunicação [...] Educação e emancipação passam a ocupar um lugar fundamental nas discussões voltadas ao âmbito educacional no próprio pensamento habermasiano, mediante a sua via crítico-reconstrutiva, enquanto proposta para a formação de cidadãos mais esclarecidos e engajados na esfera pública (MENEZES, 2014, p. 67).

Desta maneira, foi desencadeada uma interação social fundada num processo de descentração que leva o indivíduo a ter uma visão mais ampla e objetiva da questão em vias de problematização, considerando vários pontos de vista, e isto, como resultado de diferentes perspectivas em jogo. A interação social proporcionada sob esta premissa é um dos elementos predominantes na cooperação social e, portanto, primordial no desenvolvimento das atividades educativas emancipatórias.

(10)

Tabela 3: Respostas dos discentes (L, M, N e O) a terceira pergunta do questionário de avaliação- Quais as limitações desta abordagem dialógica?

DISCENTES RESPOSTAS DOS DISCENTES

L Antes de usar uma abordagem tão livre o Professor deve avaliar a mentalidade da turma, tivemos uma turma muito infantil e professor acabou confiando em Crianças, faltou pulso firme, por exemplo, quando passou a responsabilidade de decidir as datas das aulas do sábado e as escolhas dos temas de trabalho, fez a maioria acreditar que podiam fazer o que quisesse, é difícil dar liberdade a crianças elas precisam ser direcionadas.

M Cada um tem sua visão de mundo e acho que devemos respeitar, acho complicada esta busca de consenso, exige muito ficando estressante

N Hámuita ideologia na cabeça de alguns alunos que prolongavam desnecessariamente as discussões prejudicou o andamento do curso.

O A abordagem exige muita leitura, dedicação, tempo é difícil conciliar com outras disciplinas e com o trabalho.

Fonte:dados da pesquisa

As falas da tabela 3 evidenciam a dificuldade dos alunos nas situações de negociação de significados tal fato ocorre na dificuldade em compreender ou aceitar diferentes enunciados argumentativos proferidospor seuspares sinalizando para a possibilidade de diminuição da expansão dialógica, por exemplo a fala do Discente (L) é bastante contundente. Esta situação foi uma das grandes limitações encontradas na inserção da abordagem dialógica. Na análise desta situação aponta-se 03 causas básicas: a) a questão da autonomia; b) a questão da competência comunicativa; c) resistências autoritárias.

Na questão da autonomia pode-se buscou-se o pensamento de Kamii (1998) que afirma, só há autonomia, quando se consegue levaremconsideraçãotodos os pontos de vista dos envolvidos. Portanto, autonomianão equivale à liberdadecompleta, pois se trata da melhordecisãodiante de outrospontos de vistaigualmenterespeitáveis.Porcerto, não se trata de aceitarpontos de vista considerados errados, massim de aderir a umponto de vistaque considere outros, de modo a nãolesar as pessoas representadas poreles. Mesmo se houver a decisão de ignorar uma posição, é precisoterumargumentoparaisso.

A autonomia deve estar ancorada numa dimensãopessoalsem, contudo, desprezar os componentessociais, que o emergir da individuação precisaencontrar, paraqueela ocorra.

(11)

Assim, a autonomia é uma capacidade de decidircomoutros e nuncasozinho. Uma decisãosolitárianunca será autônoma, poisnão se podem anteciparoutrospontos de vista. Com relação a questão da competência competitiva é interessante observar o dizer de Freitag:

Paraque haja ‘açãocomunicativa’, paraque se possa falarem ‘razãocomunicativa’, é precisoconhecer ‘euscompetentes’. Trata-se, como vimos, de sujeitos dotados de competênciainterativa (cognitiva, linguística, moral e motivacional), capazes de conhecer o mundo da naturezaexterna, diferenciada de suanaturezainterna, de compreender o mundosocial, de utilizar-se de uma linguagem intersubjetiva. Graças a essas competências, essessujeitos tornam-se capazes de reconstruir as leis, que regem o mundonatural, através da busca argumentativa e processual da verdade. Trata-se de sujeitos, quenão se conformam com o sistema de normas, que vigoram na sociedade, tendo condições de questioná-las, buscando, no interior de uma ética discursiva, à base do melhorargumento. Trata-se de sujeitosautônomos, criativos, capazes de argumentar e aceitarumargumentomelhor, maisfundamentado. (FREITAG, 1986).

Portanto, o desenvolvimento da competência comunicativa é necessário o desenvolvimento de uma práxis educativa ancoradas em interações pautadas na dialogicidade e por sua vez isentas de qualquer manifestação de qualquer tipo de coação ou pressão interna ou externa.

Já no tocante a resistência autoritária convém lembrar que a dialogia é permeada por uma relação conflituosa gerando desconfortos os participantes da pratica discursiva e muitos preferem não sair da sua zona de conforto, como foi expresso na fala do discente (M). Neste âmbito o docente terá o papel de mediador para minimizar esta resistência muitas vezes inconsciente, e também para o alunado enfim é familiarizar o não familiar.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo de promover a inserção da dialogicidade habermasiana no ensino da disciplina Soiologia das Organizações foi alcançado como bem evidencia a fala do Discente ( I) –“Os assuntos discutidos foram nota 10. A proposta foi estudar a sociologia de maneira participativa e como autonomia, mas, foi além disso tivemos aulas de ética, de liberdade! Cabe a cada um saber como usar o que aprendeu em sala de aula. Eu gostei bastante”.Isto demonstraa construção de novas relações sociais pautadas no entendimento levando a um processo da busca da autonomia dos seus concernidos, saindo do escopo das ações estratégicas encobertas, vistoque, no parecer de Habermas (1889a), essas ações apresentam

(12)

uma proposta emancipatória, masque na realidade, resume-se a uma pseudodemocratização, pois é mais uma forma de manipulação e dominação.

No que se refere ao objetivo de identificar a contribuição da sociologia para a vida profissional do aluno? A fala do Discente(D)“Melhorou minha reflexão dos aspectos sociais e políticos nas organizações dando uma nova visão crítica das relações de trabalho e também das interações na vida social”, demonstra a importância do conhecimento sociológico ao propiciar uma reflexão crítica para seu estar no mundo e também para a compreensão da sociedade e da complexidade da vida social. Apesar deste aspecto positivo ressaltamos a existência de um certo distanciamento do discente no sentido de maior participação no processo de mudança na Instituição a qual pertence negando o seu protagonismo social

Ainda é possível afirmar que a inserção da dialogicidade no ensino de Sociologia das Organizações contribuiu para a construção de uma cidadania ativa dos discentes, tendo em vista a participação destes durante toda a pesquisa tornando-osatores constitutivos na dinâmica de ensino-aprendizagem evidenciando que a dialogia estimula a participação individual e coletiva fomentando o emergir de um contexto emancipatório. .

Contudo é salutar ressaltar a dificuldade dos discentes na dinâmica de negociação de significados, tal fato ocorre na dificuldade em compreender ou aceitar diferentes enunciados argumentativos proferidos por seus pares sinalizando para a possibilidade de diminuição da expansão dialógica.

Neste interim, o docente terá o papel de mediador tendo como objetivo precípuo resolver controvérsias, contradições e conflitos que emergem na dinâmica ensino-aprendizagem chegando a um entendimento e posteriormente ao consenso obtido através do que Habermas denomina de “situação ideal de fala’.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. O senso prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

CARANDIRU. Direção: Hector Babenco. Brasil: Sony Pictures, 203. Filme (147min).

ESCRITORES da liberdade. Direção:Richard LaGravenese.EUA: Paramount Pictures, 2007. Filme (122 min

FREDDO, Antônio Carlos. O discurso da alienação nas organizações. RAP - Rio de Janeiro 211(1), 24·33, jan./mar. 1994.

(13)

FREITAG, Bárbara. Piaget: Encontrose Desencontros. Rio de Janeiro: TempoBrasileiro,1985.

FOME do poder. Direção: John Lee Hancock. EUA. Diamond Films, 2016. Filme (115 min.)

HABERMAS, Jurgen, Teoria de La Acción Comunicativa. Tomo I. Madrid: Taurus, 1989 a.

HABERMAS, Jurgen. Pensamento Pós-Metafísico, Estudos Filosóficos. Rio de Janeiro.

Tempo Brasileiro, 1990 b.

HABERMAS, J. A Ética da Discussão e a Questão da Verdade. São Paulo,Martins Fontes, 2007.

KAMII, Constance. A Criança e o Número. Campinas: Papirus, 2008. São Paulo: Cortez, 2000.

O LOBO de wallstreet. Direção: Martim Scorsese. EUA: Abril Vídeo, 2013. Filme (180mim).

MENEZES, Anderson de Alencar. Educação e emancipação: por uma racionalidade

ético-comunicativa. Maceió: EDUFAL, 2014.

MAX, Pagés– O poder das organizações. Atlas. São Paulo. 2002

MOTTA Gustavo da Silva. Por uma abordagem weberiana nos procedimentos de pesquisa

em estudos organizacionais CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração.

QUITANEIRO, M. e BARBOSA, O.M. L. Um toque de clássicos. Ed. UFMG. Minas Gerais, 2002

RAMOS, Cinthia Leticia & FARIA, José Henrique de. Poder, ideologia e alienação nas

organizações. XXXVIII – ENANPAD. Rio deJaneiro, 2013

SERVA, M. A racionalidade substantiva demonstrada na prática administrativa -RAE- Revista de Administração de Empresas São Paulo. 37, n. 2, p. 18-30 Abr./Jun. 1997.

SERVA, Maurício. O fato organizacional como fato social total. Rio de Janeiro. 35(3): 131-52, mai. /jun., 2001.

(14)

THIRY-CHERQUES, H.R. Revisitando Marx: Alienação, sobre trabalho e racionalidade

Referências

Documentos relacionados

Para analisar as Componentes de Gestão foram utilizadas questões referentes à forma como o visitante considera as condições da ilha no momento da realização do

Unlike Mary (and Ruth), Esther's split with her family is voluntary, a fact that deeply hurt her sister Mary Barton, mother of the protagonist, whose death John Barton thinks

71 John Chrysostom, “The Second Baptismal Instruction,” 18, the original text states: εἰσάγοντες γὰρ ὑμᾶς οἱ ἱερεῖς πρότερον μὲν κελεύουσι τὰ γόνατα κλίναντας

Foi membro da Comissão Instaladora do Instituto Universitário de Évora e viria a exercer muitos outros cargos de relevo na Universidade de Évora, nomeadamente, o de Pró-reitor (1976-

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

O soro dos animais vacinados com lipossomo, EBS e proteolipossomos foram coletados semanalmente antes e após a infecção experimental para a detecção da produção de anticorpos IgG,

Os antidepressivos de segunda geração, inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), como por exemplo a fluoxetina (Figura 4A) e a paroxetina (Figura 4B) e

dois gestores, pelo fato deles serem os mais indicados para avaliarem administrativamente a articulação entre o ensino médio e a educação profissional, bem como a estruturação