0s
clássicos
na
literatura
da Restauração:
0s
Applausos
da Universidade de Coimbra
Andre
$imões.
Foi numa terçaJeira, dia 4 de Dezembro de 1640, que chegou a Coimbra o rumor dos
sucessos ocorridos três dias antes, em Lisboa: a restauração da monarquia portuguesa
na pessoa de D. Joã0, oitavo duque de Bragança, neto de D. Catarina, a neta de D.
Manuel, que disputara, sem sucesso, em 1580 a coroa de Portugal com Filipe
ll
deEspanha. 0 rumor era incerto, vago, duvidoso, demasiado extraordinário para que todos
nele acreditassem num primeiro momento.
0
optimismo era, ainda assim, dominante.ConÍiava-se na nobreza, que se uniria para sacudir o jugo castelhano. Tinha-se por certo
o apoio estrangeiro e a fragilidade espanhola, a braços com a revolta da Catalunha, e em
guena Íeroz com a França, no contexto da Guerra dos 30 Anos. Não havia dúvidas de que
as Íronteiras se deÍenderiam com Íacilidade, e de que os presídios castelhanos em
território português se tomariam sem diÍiculdade, por mal deÍendidos. Esperanças até
certo ponto bem Íundadas, mas demasiado optimistas, como se sabe, pois haveriam de
passar três décadas quase completas de guerra e grandes diÍiculdades, nem sempre
com apoio estrangeiro, até se chegar à paz de '13 de Fevereiro de 1668.
No dia 5 de Dezembro, chegou por Íim às margens do Mondego a conÍirmação oÍicial, sob
a Íorma de uma carta endereçada ao reitor Manuel de Saldanha, e assinada pelos
arcebis-pos de Lisboa e de Braga, encanegados da governação do reino até à aclamação de D.
João lV que ocorreu apenas a 15 de Dezembro. Contagiada pelo júbilo dos estudantes, que
.
asimoes@campus.ul.pt. Universidade de Lisboa: Faculdade de Letras; CentÍo de Estudos Clássicos.
AndÍ6 lìlrn0ãi
largaram as capas e percorreram a cidade aos gritos de "Viva el+ei D, João o 0uarto", logo
a Universidade tratou de celebrar condignamente a Restauraçã0. Assim, no dia 1 de Janeiro
de 1 641 houve cortejo académico, de capelo e borla, e no dia 6, após as Íestas do Dia de
Reis, decretaram-se prémios a quem melhor louvasse 0 novo rei em poemas em latim,
mas também em canções, sonetos e outros versos em linguagem portuguesa, castelhana
e italiana. A
I
de Fevereiro fez-se a cerimónia de entrega dos prémios na Sala dos Autos,que se achava Íonada de tapeçarias e onde estavam expostos os poemas a concurso. 0 que acabámos de relatar de Íorma resumida foi nanado na introdução do volume conhecido comoApplausos da Universidade, mas que na verdade apresenta na capa olíÍulo lnuictissino
Regi Lusitaniae loanni lV Academia Coninbricensís lÌbellum dicat
in
felicissima suaacclanatione (1641, Coimbra).
0
título por que Íicou conhecido surge no cabeçalho doverso das páginas interiores. lmpresso em Coimbra em Novembro ou Dezembro de 16411, recolhe quase uma centena de composições poéticas em louvor de D. João lV, apresentado
como salvador e libertador do reino. 0 até então pacato e indeciso senhor do paço de Vila
Viçosa surge transÍigurado em herói e em deus antigo: ele é Aquiles e Heitor, ele é Alexandre,
Xexes, Rómulo e César, ele é Marte e Júpiter Tonante. Folheemos, entã0, estes /pplausos.
0 volume abre com um sermão em língua portuguesa, pregado por frei Filipe Moreira, que,
a partir de um versículo do primeiro Livro dos Reis2, exalta D. João lV, novo David, instrumento de Deus para retirar o reino a Filipe lV, equiparado ao Saul bíblico
-
tópico tão glosado, nãosó neste mesmo volume, mas também na literatura de propaganda ao longo dos anos que
se seguiram, Mas também as imagens da Antiguidade surgem neste sermã0, misturadas por
vezes sem distinçáo clara com as referências bíblicas. Vejamos um exemplo signiÍicativo,
na medida em que, como ao longo de todo o volume [e da generalidade da literatura da
época), harmoniza as reÍerências bíblicas com as leituras dos autores antigos3:
Multiplicasti gentem, et non magnificasti laetitiam (lsaías 9)4. Muitos podem servir
de estorvo, e de embaraço a mais importante impresa, principalmente sendo
tími-dos, e com pouco desejo de perder a vida, por quem lha tira com opressÕes. Com
trinta e sete mil homens começou Alexandre Magno a conquistar o mundo; e o
1 A licença do Santo 0fíci0 está datada de 23 de Novembro de 1641.
2 Vnxit eun Samuel in nedio íratrum eius, et dhectus est sphitus Dominì a die
illa in Dauid (1 Reg.16:13).
3 Modernizámos nesta e nas restantes transcriçÕes a oÍtograÍia, excepto nos casos srn que pode revelar uma realizaçáo f 0nética diferente da contemporânea.
a Nota à margem. A referência completa é /s. 9:3.
0ãclâãâ1008n€llloÌãltllËtl€R6ãlBllfâqâ00c/pBlâUfosdâUl/l,6r.ldfldêrlàCllmbrâ
grã0 capitâg dizia, que com trinta mil bem unidgs Se atrevia a o render todo.
Bas-tam tão pgucgs pera conquistar, e render um mundo inteiro; não bastaráo centg e
cinquenta mil soldados de Portugal peÍa deÍender o seu Rei, o seu reino, as
Íazen-das, os Íilhos, os altares? Menos bastam, e se parecerem pgucgs os Portugueses,
unidos irmanamente, e cerrados em üa esfera de amor como honrados Íiéis, são
mais que as aÍeas do mar. Nimis honorati sunt amici tui, Deus; (Psal. 138)5 que
bons amigos tendes, Senhor (dizia o santo Rer David a Deus), que honrados, que
fiéis? Si, mas serão poucos: não são senão finitos. Contai-mos ora, dinumerabo
eos6; e quantos achais? super arenam multiplicabunturT: perdem-se os nÚmeros,
e o algarismo todo pera os haver de somar. Pois como tantos são os amigos de
Deus?
Si,
porque não se contam pela quantidade dos nÚmeros, senáo pelagrandeza do valor, e pelo amor cgm que Servem. Esta esÍera de irmãos unidos
serve de muro de metal, que cerca e segura o Rei e o reino.
0
que não temPor-tugal fortaleza nas fronteiras, e estão os lugares desmantelados, e Sem reparos
com que se deÍendam. Fora esse inconveniente grande se os Portugueses se
hou-veram de deÍender Íechados, e dentro dos muros: as Íortalezas são os peitos fortes,
e 0s repargs são os braços Portugueses, Perguntado Agesilau porque não havia em
Lacedemónia muÍos, resp6ndeu que si havia, e muito Íortes; e mostrando uns
sol-dados disse: Hisunt urbis moenia (Plutarco in Apoph.)8, 0s muros que defendem
Lacedemónia são os soldados valerosos que tem. E esses muros, e mais Íortes,
tem o nosso reino, 0s peitos Portugueses são 0s muros de Portugal'
(AU 1, Íf.7v-Br)'g
Seguem-se os discursos proÍeridos em latim por JerÓnimo da Silva de Azevedo,
durante a cerimónia de entrega dos prémios literários, a 8 de Fevereiro, e por Manuel
Álvares Carrilho, a 3 de Janeiro (AU
2-3).
Só apÓs as oraçÓes destes dois doutoshomens Se começam a publicar os resultados do certame poético, constituído por
quase uma centena de composiçÓes anónimas, e logo começam a surgir de Íorma
5 Nota à margem. A referência completa é Sa/. 1 38:1 7. 6 Sa/. 1 38: 1 8.
I Sa/.138.18, 8 Nota à margem.
e para o eìenco de t0das as composiçóes literárias dos /pplausos, com respectivo nclplÍ, veja-se o anexo a0 texto deste estudo.
ÂÌrrlrô Slmônr
evidente os modelos clássicos.
A
primeira composiçâo é nada menos do que umpoema épico em
latim,
intitulado Sceptrum Renouatum. Com apenas um canto,desenrola em 535 hexâmetros o seguinte argumento:
Lusitania tot calamitatibus oppressa, habitu lugubri induta nocte intempesta
Duci apparet Brigantino, eique omnes Regni enunerat ruinas:
ad
illius pedessupplex
auxiliun
rogat:sceptrun
tradit haereditarium: tandem laeta recedit:conÍestim
noui
Regisfama uolitat:
exultatregnum:
triumphat Lusitania:Conimbricensis superbit
AcadenÍa1|.
(AU 3)
0 volume prossegue com mais dois longos poemas em hexâmetros latinos, o primeiro
dos quais declara a Íundamentação jurídica da legitimidade de D. João lV (AU 4). Outro
poema, intitulado Cloris: Poema Panegyricun (AU 5), celebra a imposição da coroa
portuguesa na cabeça de D. João lV. 0 título alude à ninfa Clóris, divindade associada à
Primavera, ao renascimento da natureza. A intenção do autor é evidente, mesmo se não
explÍcita no texto: ao estóril lnverno do domínio castelhano sucede a Restauraçã0, o
renasceÍ de Portugal. Esta primeira secção dos Applausos termina com mais três
panegíricos em hexâmetros latinos, mais curtos, porém, do que os anteriores.
A seguinte secção contém 51 composiçoes breves, em língua latina, de genero variado:
epigramas, elegias, odes. A esta segue-se uma última parte com composiçoes em português, castelhano, e italiano
-
por vezes numa mesma composiçáo até, como é o caso de AU 83, soneto dedicado à chegada de D. Luísa de Gusmão a Lisboa, a25 de Dezembro de '1640, eno qual cada estroÍe está escrita numa língua diÍerente: latim, italiano, castelhano, português.
Entre os poemas latinos, os epigramas sáo os mais abundantes, com mais de três dezenas
de composiçoes. Clássicos na forma e na língua, estes epigramas estã0, contudo, bem
ancorados nos dias que então se viviam, desde logo pelo teúa, já que praticamente todos
fazem o panegkico de D. João lV. Também na construção.literária fogem frequentemente
aos modelos clássicos, ao preferirem as referências cristãs, mais próprias para celebrar
um novo soberano e uma Restauração que se acreditava estar predita desde a célebre
visão de Campo de Ourique. Assim, uma parte muito signiÍicativa alude, de Íorma umas
vezes mais explícita do que outras, ao alegado milagre da mão de Cristo que, quando no
dia da aclamação se fazia a procissão de acção de graças que partiu da Sé de Lisboa, se
desprendeu da cruz, o que logo se interpretou como a maniÍestação da protecção divina
10 A Lusitânia, poÍ tantas calamidades opressa, de luto vestida, aparece a
meio da noite ao duque de Bragança, e lhe enumera todas as desgraças do reino. Arrojada a seus pés, impl0ra-lhe, suplicante, auxí|i0. Apresenta-lhe 0 ceptro hereditário. P0r Íim
se afasta feliz. ljgo se espalha a fama do novo rei. Exulta o rein0. TÍiunÍa a Lusitânia. 0rgulha-se a Universidade de Coimbra.
0R eláBBlcos n6 lllârslurs ílã tl€ãlÃÌlr8q8ol 0â/4BB/áuâoÊ dà An/l!/,ilìdâdê da C1mhÍâ
a Portugal. Dizemos alegado milagre sem receio de que nos caia uma parede em cima,
como Se conta na primeira página da primeira Gazeta da Restauraçá0, datada de Dezembro
de 1 64111, que aconteceu a um homem que teve a gusadia de duvidar do prodígiol2. É que
até o insuspeito GregÓrio de Almeida, na sua BesÍaura ção Prodigiosa de Portugal' declara
prudentemente que ninguém viu a mão desprender-se, apenas a viu iá soltal3.
Mas regressemos ao tema deste volume. convivem, já o dissemos, com as imagens
cristãs as reÍerências mitolÓgicas. Assim, D. João lV é frequentemente comparado a
divindades, sobretudo Júpiter ou Marte
-
escolha natural, dada a sua natureza real' noprimeiro caso, e o clima de guerra iminente, no segundo'
0
Marte PoiluguêsÉ o caso do epigrama 36, em latim, no qual o rer desejado, a esperança rediviva da terra
lusa, é convocado por JÚpiter, e disputado c0m0 seu pela Europa, por Africa, pela Arábia
e pela Asia.
0
poema termina com Marte a reconhecer em D. João um seu gémeo, eJúpiter a declarar ter gerado novo Marte. Também a canção V, em português, declara
triunfal, a fechar a terceira estroÍe, que
Saiba-se em toda a Parte
que reina o Quarto Joã0, Primeiro Marte'
(AU 65, w. 34-35)
"c"'^*s-"relatamasnovastodas,queo{venestacorte,equeVierumdevariaspartes...164l.
r2 ,,Num lugar da Beira se afirma que houve um homem, que ouvindo dizer numa conversaçáo de amìgos que na felice acla-mação d'el-Rei nosso senhor Íizera o cruciÍixo da sé o milagre, que a todos é notório Disse que 'podia acaso a imagem do Senhor despregar o braço'; e assim como acabou de dizer estas palavras caiu uma parede iunto da qual estavam t0d0s os da conversaçã0, e só a ele matou." Gueta de 1641,1
13 ,,Saindo o Arcebispo da sé na manhá do sábado com os cÓnegos, f idalgos, e inumerável gente, que se.ajuntou em um m0-ment6, levava diante um crerigü Cruinrquiepisc6pal, chegãndo a iunto da porta da lgreja de Santo AntÓnio' lhe pediram algúas pessgas tançasse a ncnçao, eìt ponOo
*
olhos no òruciÍixo lhe pediu quisesse bendiçoar aquelePovo Drzem al-güas pessoas que entáo orWngo, ; únto CÍucifìxo a mã0 direita que tinha pregada na Cruz Porém o que tgdos viram olhando pera o Senho1 nrr,, purü úi lue a mão direita estava despÍegada, e com o braçg em algüa dìstância da Cruz' d0 que dantes ninguém oera te saoenoo-se, que da sé sairam pregadas ambas as máos com tanaxas com esta admtrável de-monstÍaçáo do senhor, c0nceberam 0s presentes muì grande consolaçáo em suas almas, e a tiveram por claras prendas deoSenhoroshaverOeOetenOei,eperpetuarnaliberdadìprincipiada Noscamposde0uriquemostrouCristoSenhornosso claramente, que o levantamento'de Portugal a Reino era obra srn, como dissemos no capítulo quinto da primeira paÍte' quandg esc0lheu o tnvictisslmo Reì oom ÀÍonso Henriques para Rei de Portugal, e empenhou sua divina palavra' que nele'
e seus descendentes esÌabeleceria seu lmpério, e na décima sexta geração atenuada tornaria a pôr 0s 0lh0s de sua mise-ricórdia. Nesta cidade de Llrnoã, ,unrçu ào Reing desprega da cruz o mesmg senhgÍ em público sua mão direita levan-tando cgm ela a Portugal utrnuãoo, trìoo, e prostrado por tena, desempenhando desta soÍte a palavÍa' que dera a seu primeìro Rei, pois em principe poiüguês herdbiro de seu Real sangue
qt.** u9:t,t:I
livrnos
olhos,estabelecend0' e
confiÍmand0 nele o lmperro Lusiüno, c;nr0rme 0 prometera pelo sancto Job, operl m anuun tuarun porriges dexteran
(
)A este admirável sinat oa mao oireiã oo senhoÍ podemos atribuir a paz, e quietaçáo, em que tudo Íicou despois de sua
Ma-jestade aclamado Rei, e náo haver mais sangue, nem mais morte em üa tam súbita e nunca vista mudança de um Reino' estando vÌvo o possuidor dele" (Almeida 1643, 272-273)'
Ând16 Slm06Ë
A mesma ideia surge na Canção X (AU 71), em português, que na quinta estroÍe refere a
chegada de D. João lV a Lisboa, na noite de 6 de Dezembro, como sendo a vinda do Marte
Português, que com seus raios distribui alento aos apoiantes, desmaio aos inimigos:
Logo no quinto dia (porque Marte
é radiante senhor da quinta esfera)
o Marte Português mostrou seus raios:
sua vista nos ânimos reparte
alentos ao amor de quem o espera,
e à emulação (se a houve) mil desmaios.
(4U71,w.77-82)
0
tenot
dos bosques e das brenhasAs imagens não se restringem à esÍera divina. Também os reis e heróis antigos são chamados
para serem comparados e, naturalmente, denotados pelo rei português. A Canção Xl
(
U72),em português, compara, sempre com vantagem, D. João lV a vários príncipes da Antiguidade.
Em primeiro lugar, Alexandre, o Grande
(
U72,w.23-44).0
autor alude a um sonho darainha 0límpia, no qual a mãe do Macedónio via no seu ventre (o "materno arquivo", AU 72, v.27)
un
leáo que aterrorizava as gentes, 0 autor pensará, porventura, no sonho que Filipeda Macedónia teve, no qual ele impunha um selo com um leão no ventre da mulher, o que
foi interpretado c0m0 uma premonição do nascimento de Alexandre (Plu.,Alex.2). Mas
"cale Alexandre já" (AU 72,u.29), canta o texto, pois D. Joã0, o "terror dos bosques e das brenhas", Íaz medo à mais medonha das feras
(
U 72,w.
31-39)."Cale Rómulo", insiste o autor, pois 0 "n0v0 Mavorte"
(
U72,
v. 83) em tudo se lheavantaja, ele que é aclamado por povo e nobreza, ele que refunda um reino.
Também o persa Xerxes perde na comparação com as proezas de D. João lV e o Hércules
antigo, que só conseguiu matar um leã0, nada é comparado com este novo Hércules, que
há-de vencer "não a um, mas a
mil
leoes hispanos", e que não necessita de dozetrabalhos para ser "do mundo encanto, beneÍício do Céu, da Íama espanto":
Entre os Hercúleos braços violentado
o Nemeu animal mais bruto, e forte,
o peito irado, o gesto embravecido, vorazmente atrevido
ameaçando estava a mesma morte:
0sclôü81e0ãnôlllãÌâlursdâBôêlâur6!â0 0iÁpp/€i/s0sdéUr/v6lsldã(ladaCllmbft
quand0 entre tosca púrpura banhado,
rugindo altivo, e remetendo fero,
acabou Presumido,
pareceu triste, agonizou vencido.
Tal vos estou iá vendo
novos Leoes vencendo,
com gesto mais furioso, vendo-vos venturoso, entre esses Lusitanos
ir rendendo severo,
não a um, mas a mil Leoes HisPanos.
0 queira o Íado vosso, e o destino,
que sejais rePutado Por divino,
e se Hércules deixou tão grande glÓria
com seus doze trabalhos à memÓria,
vós, sem ele sejais do mundo encanto,
benefício do Céu, da Íama esPanto.
(AU 72, w. 111-132)
0
autor tem em mente o leão heráldico das armas de Leão e Castela, imagem tantasvezes usada durante o período da Restauraçã0, e de que um dos exemplos mais bem
conseguidos é a estampa da Lusitania Liberata, de AntÓnio de Sousa de Macedo (1645),
representando o dragão português a subjugar um híbrido leão-ovelha espanhol, e que por
Sua vez respondia à magníÍica estampa que abre o Philippus Prudens, de Juan Caramuel
Lobkowitz, que em"1639 explanava em mais de 400 soberbas páginas a justiça da
en-trada de Filipe
llno
reino, em 1580 (Caramuel 1639),No mesmo registo,
o
epigrama AU 38, em latim, com claras ressonânciasQuinto--imperistas, exalta um rei pai e glÓria do reino, que artasarâo Turco e dominará o Mouro,
que aterrorizará todo o mundo de modo a implantar em todo o lado a fé cristã. Não é
nenhum Aquiles, náo é nenhum Heitor, é a uniáo dos dois em um sÓ:
Suadrupedante potens quisnan teret agnina Turcae?
Et prenet horrendo Punica regna iugo?
Suisue procul uastun
generlsl
terreat orbemnilite,
quo Christi regnet ubique Íides?Andíá 8lmô€ã
nunquid? An alatis hic erit Hector equis?
Non: imo Alphonsi magna de stirpe loannes,
Rex, pater, et regni gloria Lysiaci.
Hunc cole ductoren
pia
Lysia: uerus Achiileshic: Venus, qui te protegat Hector erit|4.
Fénix de Portugal, Gésar de Espanha
lnevitáveltambém a imagem da Fenix renascida, por vezes aplicada em abstracto ao
reino, como na Canção Panegírica ll (AU 62):
Estala a paciência de oprimida
e rebentando a mina o eco soa,
que enÍim tem seu limite o soÍrimento,
custa a vingança justa üa só vida
(Viva el-rei D. Joã0, o reino entoa,
Viva el-rei D, Joã0, responde o vento).
Como após do ruÍdo turbulento de negra tempestade
sai o Sol revestido em claridade,
como às cinzas da Fénix verdadeira
outra Fénix sucede pululante;
sendo tumba e mais berço úa fogueira
de üa Fénix caduca, e doutra inÍante,
como despois do lnverno rigoroso
mostra a rosa o capucho vergonhoso,
e após de üa que murcha outra rénace,
assi de Portugal, Portugal nace;
naça pois, porque a idade mais ditosa
nace Sol, nace Fénis, nace rosa.
Ía
Quem, poderoso em cavalaria, desbaratará as tropas do Turco, e 0s reinos Púnicos com h0rrendo jug0 esmagaÍá?
E quem de lon0e 0 vasto orbe atenará com nobre soldado,
para que em toda a parte a fé de Cristo reine?
E quem, por fim, os lísios coraçÕes Íirmará? Aquiles, porvenlura? 0u será este HeitoÍ em cavalos alados?
(AU 62, w. 41-59)
Não: ele é Joã0, da magna estirpe de Afonso, rei, pai e glória do reino lisíacol Venera, pia Lísia, este cheÍe! VeÍo Aquijes
ele será, um Heitor, Vénus, para te pÍotegerl
0Ë 0lâô8100Ë ns lll€r€lurâ dá BãôlËuígçloi 0rÁpp lruúos de l)n4ersldedê dâ Colmbru
Mas mais Írequentemente Se aplica a imagem ao prÓprio rei. Assim, o Soneto "Batendo
aS aSaS" (AU 85) apresenta de forma explÍcita a comparação
-
tal como a Fénix que, a0Sentir-Se morrer, Se lança na pira de aÍomas e ressuscita por intervenção divina, também
Portugal, m0rt0 no "triste incêndio Mauritano" de Alcácer Quibir, por intervenção do Céu
Íenasce das cinzas pela mão de D. João lV:
Batendo as asas de sua luz dourada,
tanto que a Fénis vê Íaltar-lhe a vida,
nüa Pira de Aroma constÍuída,
holocausto do Sol, morre abrasada:
mas do inÍluxo do Céu sendo animada
acinza, que Íicou da luz Perdida,
ressuscita com PomPa mais luzida,
geradora de si, de si gerada'
Desta sorte Joã0, com justos Íados, despois do triste incêndio Mauritano,
onde o Reino ficou com perda estranha:
nasce das cinzas dos anos Passados,
com influxo do Céu mais soberano,
Fénis de Portugal, César de Espanha.
A mesma ideia se acha no engenhoso soneto "suspende lberia indigna" (AU 87), que
se anuncia poder ser lido em latim, português e castelhano, graças a uma habilíssima
escolha de palavras e organização sintáctica. A abrir o primeiro terceto, o autor exclama
"Vive tu, Phoenis clara Brigantina", eSSa Fénix que, prossegue, pacificamente ressuscita
a pátria da sepultura estrangeira.
Suspende, lberia indigna, iniurias tantas,
qu antas p rlcu r as, Íe r a, scan d alosas
contra innocenÍes gentes tan Íamosas,
contra Quinas tan celebres, tan sanctas,
lanenta exequias, tu que glorias cantas: conf u sa aesti m a histo ri as g I o ri osas :
tu quae palmas acclamas victoriosas,
clamando adoras Lusitanas plantas.
ÂRdrd slm0Bi
Vive
tu
Phoenis clara Brigantina,q u ae p aci li cane nte resu scitas
tantas casas deíunctas, tantas fanas:
Quando de sepultura peregrina
patrÌas reliquias
amlrlsa
excitas,amando animas, animando inílannas.15
A imagem é também recorrente nos epigramas latinos. Assim, o epigrama AU 22,aposdebuxar
um quadro de decadência e morte da casa de D. AÍonso Henriques, exclama esperanç0s0.
Eggredere o
preclr
e sopÌto cinere PhaenixRegius, et late populis assuesce
tineri:
aggredere, et sacros patriae meditare triunphoslï,
(AU 22, w. 6-8)
A ode AU 23, por sua vez, convoca uma Fénix resplandecente com asa régia, que há-de
esmagar os mouros em África:
0 Phaenix nitidus qui alite regio
exurgis patriae non sine nuninelTl
(AU 23, w.1-2)
Perseu, o
Matadu
do MonstroFénix renascida, Hércules matador de leÕes, Aquiles, Heitor, Marte poderoso, Alexandre
invencível. Mas náo podiam Íaltar os ataques a Castela, e com eles uma nova Íaceta de
D. João lV: o libertador, o matador do monstro que durante 60 anos subjugou portugal.
Assim, o epigrama AU 37, em latim, apresenta um homem misterioso que consegue
sozinho quebrar o poder castelhano, e aÍastar a verg iliarra auri sacra íanes (Aen . 3.57),
o iníquo exactor, a peste que devora as casas portuguesas, o grifo que abre as goelas em
direcção a0 ouro luso, o monstro tremendo. Retórica abundante para pintar um quadro
que nos é demasiado Íamiliar: a sobrecarga Íiscal imposta por Filipe lV sobretudo a partir
dos anos 1630, e que contribuiu em grandíssima medida para criar o ambiente Íavorável
à Restauraçã0, depois de ter sido já pretexto para, entre outras revoltas, as importantes
Alteraçoes de Évora, nos an0s de 163/-1638. Quem dominou este tremendo monstro?.
15 Conservámos neste caso a graÍia original, de modo a
dar conta da tripla leitura possível.
l6 Ergue-te, implor0, da cinza dormente, ó Fénix Régio, e acostuma{e a ser pel0s povos mui temid0: vem,
e para a pátria prepara
sacros triunfos!
l7 Ó Fénix resplandecente, que com régia asa te ergues para a pátria não
sem divindadel
72
0Ë üláËcl00B ns lll0rültllã dd lì€Etâursqâo: 0r /pBlâus1s dâ Unlvítshlá,dï h C\Inlttu
pergunta o autor, E num registo que não deixa de Íazer lembrar uma célebre tirada da
cultura popular americana do século XX, pergunta-se se terá sido Apolo, ou Hércules, ou
Atena
-
para revelar que não Íoi nenhum deles, mas sim um rei temível, D. João lV, aquem Hércules deu a clava, Atena a lança, Apolo o arco.
Cernitis, ut dirae Castellae iussa quiescant?
Atque ut sacra auri sit procul acta fanes?
Non íurit, ut nuper sceptrum exactoris iniqui;
Lysiadumque domos non uorat illa lues.
Suae noua tam subitae íuit huius causa quietis? Nostro auro, cur non griphus auarus hiat? lmmane hoc monstrum quisnam fraenauit? Apollo
nunquid? An Alcides? An Dea Pallas erit?
Non est Alcides: non est hic Apollo: loannes
hic est: non Pallas Gorgone terribilis. Dat clauan Alcides, hastam Tritonia Pallas,
subdit Apollo arcum, Rex netuende, tibi1ï.
Uma palavra ainda para a
auri
sacra fames,
aquijá
não referida ao trácio Po limestor,assassino de Polidoro e ladrão do ouro que Príamo lhe confiara para o educar, mas aos
Filipes, matadores do reino que lhes Íora conÍiado em '1580, sorvedores do ouro nacional
sob a Íorma de impostos injustos e ilegais, à luz dos compromissos assumidos no sentido
de não se lançarem impostos sem aprovação em cortes portuguesas. Este Íoi, de resto, um
dos argumentos usados pelo partido português durante 0s angs de guerra com Castela: o
povo português tinha o direito de retirar do poder Filipe lV e escolher novo rei, devido ao
mau governo dos Habsburgos. Segundo esta tese, o poder reside originalmente nos povos,
que o delegam nos prÍncipes. Ouando estes violam os pactos estabelecidos e se tornam
tiranos, o poder retorna aos seus possuidores originais (Torgal 1 981 -1 982 1, 21 ss,).
A
Cançáo AU70
retoma esta imagem de Castela enquanto monstro clevorador dePortugal. Mas o monstro tem agora um ngme: sáo as "estinfálides aves", do mito de
Hércules, as aves que tudo comiam em redor do lago Estínfalo (nova alusáo à depredaçáo
fiscal castelhana) até, em algumas versoes, homens
-
e nesse caso difícil será não veruma referência
à
chamadade
portugueses para combaterao
lado dos
exércitosJB Vedes como sossegam da terrÍvel Castela as 0rdens?
E como está longe a antiga maldita Íome de ouro?
Náo se assanha, como antes, 0 ceptro do iníquo exactor,
e as casas portuguesas lá aquela peste nã0 devoral 0ual foi a causa nova de tão súbito sossego?
Ao nosso ouro, porque nã0 lhe abre as goelas o ganancioso grifo?
Quem reÍreou este tÍemendo monstro? Apolo, porventura? Acaso Alcides? Terá sido a deusa Palas? Não é Alcides, não é ele Apolo: João é
ele, não Palas terrível com a Górgonal A clava te dá AIcides, Palas Tritónia a lança, 0 arco te estende Apolo a ti, rei temívelì
Andrô Slmô€s
castelhanos na Catalunha e em outras Írentes de guerra, que nada diziam respeito ao
reino, como então se protestava. Mas nâo se Íica por aqui a Íerocidade do autor, que, a
não ser que se entenda "Estinfálides"
e
"aves de Taumanto" como dois sintagmascoordenados assindeticamente, associa estas aves vorazes a Ocípete, Aelo e Celeno
-ou seja, as terríveis harpias, filhas de Electra e Taumas, as raptoras de crianças e de
almas. Mas o autor estaria provavelmente a pensar na lenda de Fineu, rei da Trácia, a
quem as Harpias arrebatavam ou conspurcavam toda a comida, castigo imposto pelo
Sol. Também Castela, a grande harpia, rouba tudo o que pode a Portugal.
A estes inimigos "contra apáttria(...)tão conjurados" (AU 70, v. 17)prevê soÍrimento e
morte, às mãos da parca Atropo, como paga dos males Íeitos.
StinÍálides aves de Taumanto,
ministros Cães de Júpiter danados,
Occípite, Aelo e mais Celeno,
se vossa crueldade causa espanto,
se contra a pátria estais Ìáo conjurados sendo dos vossos imortal veneno, neste dia sereno
dará Íim vossa vida,
que Atropo no desevido embravecida de tanto sofrimento,
redobrando na morte mais tormento
tal morte e tal tormento vos ordena
que Íique igual a culpa com a pena.
(AU i0, w.13-25)
A Íúria do autor não se fica, no entanto, por esta alusã0. Na estroÍe seguinte surge a Íigura
da Lusitânia, comparada à formosa Cassiopeia. Também ela pecou contra os Céus, e também
ela Íoi castigada com um monstro honendo que lhe devasta o território. Esta era, com eÍeito,
uma interpretação corrente na literatura providencialista da época, que via na sujeição a
Castela um castigo divino, e na Restauração a redenção proÍotizada no Campo de Ourique a
D. Afonso Henriques, mas também por São Bernardo de Claravalls. Mas -o paralelismo com
1e Padre António VieÍa, Histótia do futuro, LB: "S. Bernardo, em uma carta escrita a El-Rei D. AÍonso Henriques, com quem tinha particular e íntima amizade e correspondência, a respeito das c0usas presentes e futuras do Rein0, proíetizou com admirável cla-rezaotermodossessentaanosdecastigoeacontinuaçãoesucessãodeÍeisportugueses,antesedepoisdela.Acartaéaque se segue, conservada em muitos arquivos deste Reino e divulgada Íora dele muitos anos antes da nossa restauraçã0: 'Dou as graças a Vossa Senhoria pela mercê e esmola que nos Íez do sÍtio e tenas de Alcobaça para 0s frades ÍazeÍem mosteiro em que sirvam a Deus, o qual em recompensação desta, que n0 Céu lhe pagará, me disse lhe certiÍicasse eu da sua parte que a seu Reino
de Portugal nunca faltariam reis portugueses, salvo se pela graveza de culpas por algum tempo 0 castigar; não será porém tão comprido 0 prazo deste castigo, que chegue a termos de sessentaanos. De Claraval, 13 de Março de 1136. Bernardo'."
0E clôs3h0s ns lll6rôlilm (lf lldEluilÌüqôor 0s /4pplausls {ltì UttlvãtshJâdà dd \\hnbtt
o mito grego vai mais longe. Se Portugal é Cassiopeia, que pela suahybris é castigada,
Lisboa é a Íilha Andrómeda, oÍerecida ao monstro destruidor como paga pelo excesso da
mãe. 0 monstro é, evidentemente, Castela, opressora e depredadora das riquezas do reino.
Mas eis que vem um salvador, eis que surge Perseu, "voando em asas do desejo", para
libertar Lisboa. 0 autor não precisa de mais explicaçoes, já todos percebemos que Íala de
D, João lV. E o novo monarca não é só Perseu libertador: a imagem vai mais longe, e ele é
também o Júpiter, raptor de Europa e progenitor de Perseu com a chuva de ouro que no mito
fecundou Dánae, mas que agora tem certamente Íunçoes mais prosaicas e pragmáticas:
encher o depauperado erário público, tão necessitado de Íundos para a longa e Íeroz guerra
que haveria de travar com Castela, e que já então travava com a Holanda, nas Conquistas.
E tu ó Lusitâna pátria amada,
se qual Cassiopea de Íermosa
contra o Céu conspirada te atreveste,
tua Lisboa, Andrómeda presada,
se a chegaste a olhar tão lastimosa
que presa ao horrível monstro oÍreceste: o Perseu que tiveste
e a quem Minerva segue,
pera que a liberdade lhe não negue,
tal amor nele vejo,
que vem voando em asas de desejo
e, qual ladrão de Europa, em chuva de ouro
rica te deixa só com seu tesouro.
(AU 70, w. 26-38)
0s
autores clássicosMas náo sáo só os géneros poéticos e as imagens a reÍlectir o mundo clássico. Também
os autores antigos espreitam aqui e ali, sob a Íorma de citaçÕes directas e devidamente
adaptadas aos tempos que entáo se viviam. Vejamos apenas um exemplo.
0
primeiro verso do epigrama AU 53 copia quase integralmente o primeiro verso doepigrama 6.60 de Marcial:
Lauda[
ana[
cantat te Lusitania (. ..)
kudat, amat, cantat nostros mea Roma libellos (. . .)Mas se o bilbilitano Íaz no seu epigrama uma aÍirmação de orgulho na sua obra e um ataque
AndÌó SlÌnô6s
lmposslvel esgotar em
tão
pouco tempoo
conteúdo dos Applausos, Ainda assimesperamos ter deixado uma impressâo breve da inventiva destes proÍessores e alunos da
Coimbra de 1641 , que em pouco mais de dois meses tiveram o engenho de encher um
volume considerável de literatura, mesmo se de valor desigual, como desiguais são os
géneros e as Íormas: épica, elegia, epigramas, lírica, soneto, cançã0. Uma coisa, no
entanto, é comum a quase todas as composiçoes: 0 recurso aos temas clássicos para
fazer o elogio do novo rei, "Fénix de Portugal, César de Espanha".
BibliograÍia
Almeida, Gregório de. 1 643. Restauração de Portugat prodigìo.sa. . . Lisboa: António Álvarez. Caramuel, Juan. 1 639. Phìlippus Prudens Caroli V lnp. Filius Lusitaniae Algarbíae, lndiae, Brasiliae
le-gitinus rex.., Antuérpia: 0ÍÍicina Plantiniana.
Gueta em que se relatam as nlvas todas. ..1 641. Lisboa: Oïficina de Domingos Lopes Rosa. lnuictissimo Regi Lusitaniae loanni lV Acadenia Coninbricensis libellum dicat in íelicissima sua
accla-matione.l 641 . Coimbra: Typographia de Diogo Gomez de Loureiro.
Macedo, António de Sousa de. 1645. Lusitania Liberata ab iniusto dominio Castellanorum... Londres:
0Íicina Rrchardi Heron.
Sérgio, António e Hernâni Cidade, eds. 1953. P' António Vieira, )bras Esco/hldas. Lisboa: Sá da Costa. Torgal, Luís Reis. 1981-1982. ldeologia Política e Teoria do Estado na Restauraçã0.2 vols., Coimbra; Biblioteca Geral da Universidade.
Vieira, F António. s.d. História do Futuro.2 vols., Lisboa; Sá da Costa.
Anexo
Elenco das
composiçoes
dosApplausos
A
numeraçãodas
páginasdeste
impresso apresentamuitos
problemas. Assim,apresentamos entre parênteses rectos a numeração sequencial correcta, quando diÍerente
da apresentada n0 cabeçalh0 da página.
tó1io N,0 Géneto lncipit Autoria e
obseruaçoes Línguas
'lt
AU1 serma0 Muito alto, e muito poderoso Rey da gloriaFr, Filipe lVoreira
poÍtuguês
13v AU2 panegÍrico En pancraciastes ego in hoc celeberrimo plusquam olympiaco
Jerónimo da Silva de
Azevedo
latim
27r-06v AU3 épico Lysiadum lmperium tot iam labentibus annos latim $õv.41 r AU4 carmen quae noua íama ruens studiosas implet Athenas latim {1 r-48r AU5 pane0Írico Vrbis Vlyssea regalia moenia contra latim
0s 0lásslc0$ nfl lllãmllltá dn R08l8unq8o 0â APPIâïâ1â de lklv\tÊldãdô d6 cÕhnhrà
Fóllo N.0 Gónero lnclpit Autoria e
observaçoes Línguas 43r-46r AU6 carmen 'fandem prona diu grauibusque coercita uincli: latim 46r-48r AU7 carmen Respexit tandem et caelo miseratus ab alt, esl latim 48v-50v AUB carmen Suae facies diuina oculis? Quae dignae surgit? latim
51t AU9 eprgrama Alphonso Regnum Primo pro stignate quinque Autor: um uates latim 51r AU 1O eprgrama tspice, qui plausus, quae gaudia! Totatriumphat latim 51v AI.J epigrama Pro duplici loanne duplex concordia surgit latÍm
52t AU 2 decástico ftrpetuum tibi iam sceptrum dent sydere firmam latim 52v AU t cantilena Cur non uoce pia fatur lesus latim 52v AU 4 eprgÍama Cum te conspìciunt redimitun íronte corona latim 52v AU 5 eprgrama Pnecursor Chrisfum gaudet monst[r]are l1annes latim 53r AU 16 epigrama Cum celebrat ChrisÍus socÍs conuiuia Caenae latim
53t AU 7 eprgrama Non poterant celsum dominum traüare seraphim latim 53r AU 1B eprgrama 0 iuuenis regum soboles, o sydere dextro Iatim 53v AU 19 ode Flora dulcis florea serta mitte latim 53v AU 20 octástico Sis íelix nimium precoí et tua stamina Parcae latim 54r AU 21 hexastico Regali redimitur ouans Crucis arce corona latim
54Í AU22 epigrama Alphonsi radiosa domus resoluta iacebal latim
54t AU 23 ode 0 Phaenix nitidus qui alite regio latim 54v AU 24 decástico Cum te regali redimitum fronte corona latim 54v AU 25 canli lena Sol sat conspicuus thoro superno latim
55Í AU 26 cantì lena Vates Threicius potent "g l iconica canti lena"
latim
55t AU 27 elegia Libera iam maestum deponl Lysia cultum Sem indicaçáo de género
latim
57t AU 28 elegia Quae Íueram, non dum uersis Hispania satis latim 59v AU 29 elegia Vos Solimae ciues, supero gens grcta Tonanti Sem indicaçáo
de género
latim
161 Íl AU 30 eprgrama lmber erat, caelum pice nigius, et freta uentis Sem ìndicação
de género
latim
t61rI AU 31 eprgrama En tibi Lusitana Sacer Prouincia sceptrum Sem indicação de género
latim
[61v] AU 32 eprgrama Pendenti Regis titulum dat turbaïonanti latim
62t AU 33 epigrama Cum maesta ertremam recolunt altaria lucem lalim
62t AU 34 epigrama Regibus ertinctis, ertincta es Lysia: bustum Sem indicação de género
latim
62u AU 35 ode 0 Lysiatristes tot lacrymas genis latim 63r AU 36 eprgrama luppiter ad Lusos: optatum ostendite Regem latim
Andíô Slrïì0ôg
N.0 Género .Aulorla
-e
I
lÍnouas0D80rvaç0e8 | Fólio 03v 64t 64r 64v 64v 64v 65t 65r 65r 65r 65v 65v 66t ô6r 66v 6ôv 67t 67r 67v latim latim latim latim latim 63v Idesdo-brável 1l Idesdo-btável 4l 74u 76v latim latim latim latim latim latim latim latim latim latim latim latim latim latim latim ldesdo-brável 2l [desdo-brável 3l latim português porluguês português 68r 71t 78v
Cernitis, ut dirae Castellae iussa quiescant? Quadrupedante potens quisnan teret agmina Turcae?
Candida ÍloriÍeris redimitus tempora sertis Certatìm titulum properat tibi redderc mundus Frcnduerat, patulosque uirens extenderat arbot Exigit annatam loanne abs Èege Philippus Lysica dum tenuit sceptrc lmperiosa Philipus Venit ab Hesperio turba infestissima tractu Ciuita casurum redimenti a funere ciuem Pallia significant regnum compacta quietum
sterilis dinisit in aethera mater Sat Bona Venturae magno inclamasse loanni Empyrei rutilos íingit Coilinbria uultus
Regis, quem colimus fatale est nonen, et ordl
lgnea Íamosi uideant miracula fontis
Laudat, amat, cantat te Lusitania: laudat Sem indicação de género Bella Phelisthaeos Dauid gesturus in hostes
loannem cemo nostrum, et cum cemo Philippum Sem indicação de género Flora dulcis florea serta mitte
lmpia lurida uox populi clamantis! Amantis
lam iuuat introitus iuuenes includere lani Dulcia decanto ductus dulcedine Deli
Ja que do Luso o Heroe generoso
Para quen teceis de ouro essa Se por ordem do Ceo, e acção divina Ditoza Lusitania, a quem promete Augusto Rey, a quem o Reyno acclama
81t português
0s 0láÉË100i nâ lllËrclilra rlá RnÈlâtlràtã01 0rápplâilsls de llttlvâtÊldadè d6 AíttÌfira
Fóllo N,O 0ánolo lnclptt
Aulorla e
obseÍvaçoes Lin0uas
83v AU 67 canção Despois da proceloza tempestade Cançáo Vll poÍtuguês
8õt AU 68 canção Soavão pellas torres de diamante Canção Vlll português 87v AU 69 canç40 Vibrando de Vulcano udentes rayos Canção
Pane-gÍrica lX
português
90t AU 70 canção Quando o dia que he menos conhecido Cançáo [X] poÍtuguês
t92Íl AU 71 canção Levantou Portugal a coroada Canção X (Xl) português
[94v1 AU72 canção Agora em quanto Marte íuribundo Canção Pane-gírlca Xl (Xll)
português
[99v] AU 73 silva Se para consiguir eterna gloia
[1 02v] AU 74 silva Monarcha esclarecido português I1 03vl AU 75 diálogo Castell.
I
passagero, oye hermano poÍuguês ecastelhano
[106Í] AU 76 mote
e voltas
Portugal e mais Castella Sem indicação de género. Mote: quadra heptassilá-bica. Voltas: décimas hep-tassilábicas português
[107r] AtJ 77 canç40 De aguíla excede el buelo Pluma mia CanQão I castelhano
I1 09vl AU 78 cançao Poderio immortal, Deidad sublime Canção paralela castel hano t1 1 5Íl AU 79 cançáo Prendele al puarillo Canção lÍrica castelhano
tl16Íl AU BO décimas Vivir de ageno cuidado castelhano [1 1 7v] AU 81 soneto Soltar da Cruz o braço desunido português [1 1 7v] AU 82 soneto Em fin pode lograr húa esperança português [1 1 8]l AU 83 soneto Despois que foi por Rey alevantado A paÍtir de
ver-sos de Camoes n'0s Lusíadas
português
[1 1 8vl AU B4 s0net0 lngreditur in orbem Deus sereno latim, italiano, castelhano,
português
[1 1 8vl AU 85 sonet0 Batendo as uas de sua luz dourada português
t11e4 AU 86 soneto Princeps Brigantiae, in cuius brachio cerno atim, italiano, castelhano,
português
[1 1 9v] AU 87 soneto Suspende, lberia indigna, iniurias tantas Português 0u castelhano
ou latim
[1 I 9vl AU 88 soneto Sempre dos elementos celebrada
portuguâs
I1 20Íl AU 89 sonelo Nao deixar Christo a Cruz (Ò novo encantI) português 20vl AU 90 soneto Maoestaes. con laorimas saladas Acróstico castelhano
Ândrô Slmô66
Fólio N.0 Gónero lnclptt Autoila e
obseruaçÕes LÍnguas
l120vl AU 91 soneto loseph poco medrara, si vendido castelhano [121r1 AU 92 s0net0 Del abol de la Cruz saca una mano castelhano [1 21 v] AU 93 s0net0 Repudió cetro, divorció corcna castelhano
l122tl AU 94 sonelo Viose Moysen un hora coronado castelhano
AU 95 canção A popol' ch' di Dio agli ochi grato italiano 1124:l AU 96 sonelo Giovanni Auarto, She Alto, Potente italiano 1124t1 AU 97 soneto Tonate degli Lusi novi honori italiano [1 2avl AU 98 soneto Re prina delle voglie, e già del Regno ilaliano 11254 AU 9S madrigal Alto signor Giovanni italiano [1 25v] AU 1OO soneto Ecco felicimente gioie, quante italiano
Gândido
Lusitano:
consideraçoes introdutÓrias
às traduçÕes
de
ÉOipo (SóÍocles e Séneca)
e de Medeia (EurÍpides e Séneca)
no
/ns Cxlll/1-1-d.
da
BPE
fiáudia
Teixeira"Cândido Lusitano (1719-1773), nome arcádico do oratoriano Francisco José Freire, Íoi um
dos mentores da implementação do neoclassicismo em Portugal, nomeadamente por meio da acçáo da Arcádia Lusitana, sociedade académica de que Íez parte integrante e activa, juntamente
com outros intelectuais que se viriam a consagraÍ no âmbito da estética e da produção
neo-clássica, como Coneia Garçã0, Manuel de Figueiredo, Domingos dos Reis Quita, entre outros'
Partindo dos pressupostos consagrados nos estudos literários e historiográÍicos de
que o Neoclassicismo português visou a restauração dos géneros, das Íormas, das
técnicas e da expressão clássicas, tendo, para tal eÍeito, produzido uma doutrina
eS-tética, linguisticamente assente no rigor e conceptualmente assente nos princípios
aristotélico-horacianos, poder-se-á dizer que a deÍinição dessa doutrina se deve, em
grande medida, à obra crítica de Cândido Lusitano, cujo pendor normativo e
precep-tivo se revela subsidiário tanto da teoria e da exegese teÓrica e literária
contemporâ-nea, como de fontes clássicas e, de entre estas, especialmente de AristÓteles e de
HOrácio. No entanto, a relação com oS autores e com oS textos greco-latinos náo Se
-
caat@uevora.pt. Universidade de Évora: Centro lnterdisciplinar de HistóÍia, Culturas e Sociedades (CIDEHUS) I unìversi-dade de Coimbra: CentÍo de Estudos Clássic0s e Humanísticos