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A Compreensão da Realidade Social dos Idosos à Luz da Fenemenologia Social de Alfred Schutz

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Academic year: 2021

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Clélia Peretti** Rosangela Sturba***

Resumo: o presente artigo trata do fenômeno do envelhecimento na sociedade

contempo-rânea e apresenta as contribuições do método fenomenológico de Alfred Schutz na compreensão da realidade social do idoso no Brasil. Particular ênfase é dada a categoria “mundo da vida”, ou seja, o mundo dos conhecimentos para interpretar o mundo de relações, das vivências e os significados que estas ad-quirem para a vida presente e futura.

Palavras-chave: Fenomenologia. Idoso. Mundo da vida. Dignidade. Direitos.

A

presente pesquisa procura fazer um elo entre o método fenomenológico adotado por Schutz com o tema atual do envelhecimento populacional, ou seja, apresenta as contribuições deste método para a compreensão do fenômeno social em ques-tão. Para Schutz (1979), o pesquisador precisar ter uma postura desinteressada diante do objeto a ser pesquisado e contemplado sem se envolver subjetivamen-te, precisa manter-se neutro porque seu interesse é apenas científico.

Alfred Schutz parte do conceito de que a sociologia é “uma ciência que tenta compre-ender de modo interpretativo a ação social e atrás disso explicá-la casualmente em termos de curso e efeitos”. Da sociologia Schultz adota o método

interpre-A COMPREENSÃO Dinterpre-A REinterpre-ALIDinterpre-ADE SOCIinterpre-AL DOS IDOSOS À LUZ DA FENEMENOLOGIA SOCIAL DE ALFRED SCHUTZ*

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* Recebido em: 02.06.2014. Aprovado em: 13.06.2014.

** Doutorado em Teologia. Membro da Academia Internacional de Teologia Prática. Professora no Programa de Pós-Graduação e Bacharelado em Teologia da PUCPR. E-mail: cpkperetti@ gmail.com.

*** Assistente Social. Especialista em Gestão de Políticas Públicas com centralidade na família. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus Curitiba. E-mail: rosangela.st@hotmail.com

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tativo da realidade (1979, p. 9). É o que objetivamos neste estudo: compreen-der o fenômeno ou a realidade social e oferecer pistas para o enfrentamento da questão social do envelhecimento em nossa sociedade.

O fato social do envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que iniciou pri-meiro nos países desenvolvidos em razão da diminuição da mortalidade, dos avanços na área da medicina, dos serviços municipais na área de prevenção e saúde, da melhoria da qualidade de vida e do avanço da tecnologia.

Segundo Kalache (1987) o envelhecimento populacional começou a acontecer no final da década de 1940 e início dos anos 1950 com o aumento das possibilidades de acesso aos tratamentos das doenças como vacinas, exames laboratoriais, drogas potentes, melhores condições de trabalho e higiene, dentre outros. Os avanços tecnológicos na área da saúde, portanto, tem favorecido a longevidade dos brasileiros. Outro fator que contribui para isso é a queda da fecundidade (IBGE, 2002). Indicadores sociais constatam que a população idosa no Brasil vem crescendo consideravel-mente nas últimas décadas e tem provocado certa preocupação por parte da so-ciedade civil e do Estado para atuar no enfrentamento deste dilema. O Brasil de acordo com a projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística será até 2025 o sexto País mais velho do mundo com população de cerca de 34 milhões de idosos. Atualmente, existem aproximadamente 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos no Brasil contra 10.722.705 em 1991 (IBGE, 2000).

O fenômeno do envelhecimento populacional brasileiro preocupa de certa forma pes-quisadores, está sendo matéria de discussões e tem fomentado a realização de estudos e pesquisas com o intuito de contribuir para o fortalecimento de políticas públicas e programas específicos para essa parcela da população. Isto porque a pessoa idosa requer cuidados específicos direcionados às suas particularidades (MENDES, 2005). As políticas sociais de atenção à pessoa idosa devem, portan-to, promover a vida dentro do processo natural do envelhecimento e não segregá--la da sociedade. Essas, por sua vez devem oferecer respostas positivas para que o envelhecimento seja saudável e com qualidade.

A cada dia nos conscientizamos que o envelhecimento populacional ou a velhice é uma das expressões da questão social presente na sociedade moderna. De acordo com Cerqueira Filho: “a questão social tem sua origem no curso da constitui-ção e desenvolvimento da sociedade capitalista, expressando o conjunto de problemas políticos, econômicos e sociais que a formação da classe operária e sua entrada na cena política desencadearam” (1982, p. 13).

A realidade social do envelhecimento está de certa forma ligada com a crise de identi-dade; a mudança de papéis; a aposentadoria; as perdas diversas e a diminuição dos contatos sociais. Dados do IBGE de 2002 mostram que as pessoas estão vivendo mais. O grupo de pessoas com idade acima de 75 anos teve o cres-cimento de 49,3% nos últimos dez anos, em relação ao total da população

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idosa (IBGE, 2002). Contudo a sociedade moderna não está preparada para enfrentar essa transformação no perfil populacional e, mesmo que as pessoas estejam vivendo mais e com mais qualidade de vida, não estão conseguindo acompanhar essa evolução.

ANÁLISE FENOMENOLÓGICA DA REALIDADE

Para que haja compreensão do fenômeno do envelhecimento, sobretudo da realidade social do idoso no Brasil, é necessário entender o aspecto da individualidade, como cada idoso vivencia o seu mundo individual no contexto social e como interage com os demais, qual a consciência que tem de sua essência e da relação com o mundo à sua volta. O “mundo da vida” assim chamado por Schutz (1979) é o mundo de conhecimentos já adquiridos por aqueles que nos antecederam, portanto, é um mundo de relações aonde cada sujeito vai preenchendo de significados, de acordo com seus interesses. Quando um idoso vive e se relaciona com os demais, de certa forma, vai atribuindo significados à sua existência. A sociedade em que vivemos é marcada pelo individualismo e ativismo na busca desenfreada pela autorrealiza-ção. Este “mundo da vida” está revestido de significados diferentes para cada pes-soa e o método fenomenológico apresentado por Schutz (1979) ajuda a entender as relações sociais dos indivíduos a partir de suas vivências dentro do grupo família ou comunidade, e de que forma estes indivíduos estabelecem suas relações com os demais e quais suas ações e projeções para o futuro.

O pesquisador ou observador deve se perguntar sobre o significado do mundo social, daí a importância em estudar a gênese do significado que os fenômenos sociais têm para nós. Schutz (1979) considera que a salvaguarda do ponto de vista subjetivo é a única, porém, suficiente, garantia de que o mundo da realidade social não será substituído por um mundo fictício, inexistente, construído pelo observador (SCHUTZ, 1979 p. 262- 267). Sobre o assunto básico da sociolo-gia ele assim se expressa:

O campo de observação do cientista social [...] tem um significado específico e uma estrutura de relevâncias para os seres humanos que vivem, agem e pen-sam dentro dele. [...] São estes seus objetos de penpen-samento que determinam seu comportamento, motivando-o. [...] Assim, os construtos das Ciências Sociais são, por assim dizer, [...] construtos feitos pelos atores no cenário social, cujo comportamento o cientista social tem de observar e explicar de acordo com as regras de procedimento da sua ciência (SCHUTZ, 1979, p. 268-9).

Portanto, o ponto de partida da pesquisa de Alfred Schutz é a interpretação da com-preensão do significado subjetivo atribuído aos fenômenos do mundo da vida.

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Para entender os fenômenos do “mundo da vida” relacionados ao envelhecimento, partimos do princípio de que vivemos numa sociedade ocidental profundamente capitalista e individualista onde as bases deste sistema de fundamenta na ideia de produti-vidade e eficiência. O idoso por sua vez, costuma ser considerado como “desne-cessário” porque inútil e não serve mais como força de trabalho; na família, pela sua condição de dependência ou inatividade, o idoso passa a não tomar parte das tomadas de decisões, acaba sendo muitas vezes excluído ou até mesmo esquecido. Apreendemos do método fenomenológico, que para entender a realidade social do

ido-so é preciido-so observar como ele interage com os outros e com a realidade cir-cunstante e, a partir daí, perceber as tipificações compartilhadas socialmente como: a linguagem, os costumes, a moral, as regras e os rituais. Assim se expressa o autor:

[...] a situação particular do indivíduo, conforme definida por ele, é sempre uma situação dentro do grupo, seus interesses privados são interesses com referên-cias àqueles do grupo, [...] seus problemas particulares estão necessariamente no mesmo contexto dos problemas do grupo [...] (SCHUTZ, 1979, p. 120). Com isso ele quer dizer que embora o indivíduo seja único ele faz parte de um grupo e de

certa forma seus interesses pessoais estão ligados aos interesses da comunidade. Daí a necessidade de entender o fenômeno do envelhecimento a partir do próprio idoso, de como ele percebe o mundo à sua volta, quais os seus interesses e de que forma ele se relaciona com a comunidade. Construir uma política social para o idoso, por exemplo, a partir dos interesses de pessoas que estão fora do contexto e de suas vivências, é construir sobre bases instáveis. É indispensável acima de tudo proceder com base aos direitos e dignidade da pessoa idosa enquanto tal, compreender seus anseios e preocupações em relação ao mundo da vida.

A família é o espaço onde o idoso se identifica e vivencia suas experiências cotidia-nas. De acordo com Zimerman (2000) se o ambiente familiar for saudável, de respeito às diferenças, que possibilita a inclusão do idoso, dando a ele seu espaço, haverá equilíbrio e crescimento. Se por outro lado o ambiente for de-sarmônico, sem respeito para com as diversidades, o relacionamento entre os membros será permeado de agressões. O idoso fica excluído ou ignorado nas tomadas de decisões e cada vez mais se fecha para a existência, ocorrendo as-sim um retrocesso na sua vida. O idoso deve se sentir motivado para participar e contribuir com a sociedade mediante os aspectos vivenciados e adquiridos, chamados por Schutz (1979) de “mundo da vida”.

João Paulo II em sua “Carta aos Anciãos” de 1999 afirma serem os idosos guardiões da memória coletiva e por esta razão são dignos de respeito. A este respeito, assim de expressa:

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Se nos detivermos a analisar a situação atual, constatamos que em alguns povos a velhice é estimada e valorizada; em outros, pelo contrário, é-o muito menos devido a uma mentalidade que põe em primeiro lugar a utilidade imediata e a produtividade do homem. Por causa desta atitude, a assim chamada terceira ou quarta idade é frequentemente desprezada, e os mesmos anciãos são levados a perguntar-se se a sua vida ainda tem utilidade (JOÃO PAULO II, 1999, n. 9). As palavras de João Paulo II acima citadas confirmam que a realidade social dos idosos

na sociedade atual e as dificuldades encontradas por este segmento é um fenô-meno mundial. Se os anciãos são guardiões da memória coletiva, isto significa dizer que são intérpretes dos saberes, dos ideais e valores humanos construí-dos e experimentaconstruí-dos no passado que melhoram a convivência social.

Da mesma forma Schutz (1979) define o “mundo da vida cotidiana” como o mundo intersubjetivo que existia muito antes do nosso nascimento, vivenciado e inter-pretado por outros que nos antecederam. Schultz afirma que toda interpretação desse mundo se baseia “num estoque de experiências anteriores”. Este estoque de conhecimento é como um código de interpretação da experiência atual em curso e a referência a atos já vivenciados pressupõe memória, lembrança, re-tenção, reconhecimento (SCHUTZ, 1979 p.72-75).

Os idosos com sua bagagem de experiências e memórias podem oferecer aos jovens, conselhos e ensinamentos valiosos. Quando a sociedade exclui os idosos, de certa forma está rejeitando o passado, ou seja, sua memória.

O DIREITO À DIGNIDADE

Para entender o conceito de dignidade segundo Christiane Splicido, (2011) é preciso saber que a palavra vem do latim “dignitas” e que representa integridade e honestidade. A dignidade, portanto, nasce com a pessoa, está intrínseco em cada sujeito, é definida a partir das experiências históricas. Mas como o ser humano não vive sozinho e sim no ambiente comunitário, em determinado momento seu pensamento terá que ser respeitado por outros sujeitos que por sua vez também são dignos de respeito, isto significa que a dignidade de uns será limitada desde que não viole a dignidade dos outros.

Segundo Culleton (2009), o conceito de dignidade humana depende do modo de como se compreende a ideia de pessoa, está de certa forma associado às diferentes culturas e às mudanças de paradigmas no decorrer dos tempos. A partir disso concluíram que:

se a dignidade humana parte da ideia de que o ser humano é detentor de direi-tos, tem-se consequentemente, que admitir a necessidade de respeitar os

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interes-ses básicos do ser humano na exata medida em que esinteres-ses reclamarem proteção e respeito, à revelia de qualquer sinal ou manifestação das propriedades espe-cificamente humanas: consciência, entendimento, linguagem, sentimento, etc. Porém, se a dignidade humana basear-se na concepção atualista de pessoa, considerando moralmente relevantes aspectos de sua autonomia, não se poderá reconhecer dignidade a todo e qualquer ser humano (CULLETON, 2009, p. 73).

A concepção “atualista” de que fala Culleton (2009), é quando o ser humano age de forma consciente em detrimento da vida dos outros, considerando “direito” pessoal, ações como o aborto.

Com base nos estudos de Schutz (1979) sobre a fenomenologia social e sua contribui-ção com as ciências sociais, cabe aqui destacar que o tema do direito à dig-nidade humana se enquadra precisamente com as ideias do autor. O conceito de consciência pessoal do pensar e do sentir, tendo como ponto de partida o “eu”, está em sintonia com a origem do direito. De acordo com Danuvola e Monaco (1995), o direito nasce a partir da presença de outra consciência, ou seja, da presença de outro sujeito que nos interpela com a pergunta: “Por que me faz isso”? É esta a base onde se instaura o reconhecimento do outro como aquele que faz parte da mesma natureza, não obstante suas diferenças, mas com a mesma dignidade e direito de realizar o seu projeto de vida único e ir-repetível. Considerar os outros como pessoas já é o começo de uma trajetória dos direitos humanos.

Os idosos são um segmento da sociedade muitas vezes desprovido dos seus direitos primordiais como a dignidade, a vida, a alimentação, o convívio familiar e comunitário, a afetividade, entre outros. De acordo com João Paulo II (2009), mesmo com tantos avanços positivos em relação aos Direitos Humanos Uni-versais, proclamados nas declarações dos povos, e o aumento da consciência comum do reconhecimento da dignidade humana, ainda há um longo caminho a ser percorrido para amenizar as marcas do passado e as feridas do presente. A CNBB em 2003 lançou a Campanha da Fraternidade como tema “Fraternidade e

Pes-soas Idosas” e o lema “Vida, dignidade e esperança”. Esta temática suscitou muitas discussões porque fez um apelo à sociedade brasileira para ser cons-trutora de novos relacionamentos na valorização integral às pessoas idosas e respeito aos seus direitos (CF Texto Base, 2003). Os direitos de dignidade e liberdade estão interligados. O respeito pelo outro é uma forma de aceitação da individualidade, particularidade e modo de viver do outro porque, inde-pendente da condição social, raça, costumes, todos tem o direito a viver com liberdade e dignidade. De certa forma, a falta de conhecimento das pessoas sobre as necessidades específicas dos idosos causa preconceito e desrespeito para com seus direitos.

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O Estatuto Idoso (2004) foi um grande avanço na garantia dos direitos individuais e coletivos dos idosos no Brasil. Esse vem reafirmar e regular os direitos dos idosos previstos na Lei 8.842 que enfatiza o direito à vida, à liberdade, à igual-dade, à alimentação, saúde, trabalho, previdência, cultura, educação, lazer, assistência, transporte, habitação, respeito e dignidade. A questão é fazer com que esses direitos sejam assegurados e efetivados. O reconhecimento dos di-reitos da pessoa idosa vem evoluindo, no âmbito nacional, por meio do diálogo com a sociedade e da coesão entre as políticas públicas. Nos últimos oito anos, realizaram-se três grandes Conferências Nacionais dos Direitos da Pessoa Ido-sa (2006, 2009, 2011), que propuseram a Rede Nacional de Proteção e DefeIdo-sa da Pessoa Idosa e contribuíram no processo de efetivação dos direitos da pes-soa idosa previstos na Política Nacional da Pespes-soa Idosa, no Estatuto do Idoso e no Plano de Ação Internacional contra o envelhecimento (ONU, 2002). PERSPECTIVAS FUTURAS DOS IDOSOS

Observando do ponto de vista do mundo subjetivo, as perspectivas para o futuro dos idosos estão em relação com os sentimentos positivos e de aceitação das mu-danças físicas do presente, demonstrados por meio de opiniões a respeito do significado do envelhecer. O sociólogo francês Bastide (1999) afirma que a regra fundamental para viver bem o presente é jamais utilizar a expressão “no meu tempo”, porque o melhor tempo é o “hoje” e este tempo deve ser valoriza-do e vivivaloriza-do com serenidade e flexibilidade. Isto significa que o ivaloriza-doso, embora “seletivo” em relação aos seus interesses, precisa estar aberto sobre o futuro e viver “presente” no presente. Para situar-se no tempo presente ou no mundo do futuro requer-se que os idosos estejam atentos ao momento histórico em que vivem e às mensagens das demais gerações.

A este respeito Alfred Schutz (1979) apresenta o conceito do voltar-se de dentro para fora, da essência para a existência, ou seja, para o mundo da vida. O mundo da vida constitui a base de sentido para toda experiência humana, e esta vida deve estar preenchida de significados. A pessoa idosa se coloca diante da vida como um sábio que reconhece as limitações da idade, que seleciona o que lhe interessa e entende o sentido do seu existir tão fundamental quanto de qual-quer outra pessoa.

Se por outro lado observarmos de fora para dentro, o mundo exterior e as realidades so-ciais que envolvem a vida dos idosos fazem-se necessário entender de que forma a família, a sociedade, o poder público estão planejando o futuro para prover uma vida digna para os idosos. Segundo Maria Helena Novais Mira (2009), a so-ciedade futura com seu crescimento exponente, com mudanças e transformações científicas, tecnológicas e sociais, políticas e geográficas, precisa:

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[...] preparar o idoso para enfrentar o imprevisível, as frustrações de suas ex-pectativas, interligando a arte, a ciência e a técnica à prática do convívio social e educativo contribuirá em muito para o processo da transformação cultural

(MIRA, 2009, p. 29).

A afirmação de Maria Helena Novaes Mira (2009) reafirma que a sociedade precisa estar preparada para perceber e acolher os idosos, bem como auxiliá-los a se tornarem participantes ativos em todas as esferas: social, política, esportiva, artística, sanitária, científica, entre outras, independente dos contextos socio-culturais.

APRENDER DO IDOSO A SABEDORIA

A visão fenomenológica de Schutz (1979) sobre a realidade social se deixa aplicar na so-ciedade contemporânea e em particular esta contribui na compreensão do objeto de estudo, através do método interpretativo que valoriza a essência da vida. A essência deste fenômeno é a visão subjetiva a partir do idoso. O idoso tem muito a contribuir com a sociedade porque traz consigo uma grande bagagem de expe-riências, vivências, conhecimentos, culturas, memórias e sabedoria.

Papa Francisco em sua visita ao Brasil (2013) por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, relembrou aos repórteres que seguiam a comitiva papal sobre o respeito que se deve dar aos jovens e idosos e condenou a chamada “cultura da rejeição”que da importância às pessoas no seu aspecto material e produtivo e desvaloriza os extremos: jovens que ainda não estão no mercado de trabalho de maneira tão ativa, e os idosos que já não estão mais neste contexto econô-mico e industrial de maneira produtiva. Na Catedral do Rio de Janeiro, o Papa Francisco mais uma vez ressaltou que “uma sociedade que esquece os seus idosos tende ao fracasso”; é preciso que haja um diálogo intergeracional. A valorização da sabedoria do idoso é um desafio a ser conquistado a partir de um

aprendizado que começa na família, no cultivo dos valores essenciais, na com-preensão de que o idoso é um cidadão de direitos, com sua individualidade e particularidade, digno de respeito e amor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou compreender a realidade social dos idosos na visão de Alfred Schutz como um fenômeno social em evidência nos tempos atuais e que requer uma atenção especial por se tratar do futuro da sociedade.

O pensamento de Schutz sintetiza enigmas colocados para as ciências humanas e apre-senta contribuições originárias para a problemática da intersubjetividade na

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sociedade contemporânea e contribui para compreender as expectativas do idoso diante do seu ambiente familiar e social. Dessa forma, a fenomenologia de Schutz voltada para a compreensão da subjetividade do idoso, conduz a uma visão das necessidades e perspectivas de cuidado integral e aponta para a necessidade de capacitação de agentes para o cuidado. O ser humano é um ser social, na experiência de convivências e de relação consigo mesmo, com as coisas e com os outros vai formando o seu “eu biográfico”, o qual vai motivá--lo para a ação.

Da mesma forma que o idoso precisa estar aberto às mudanças sociais e aos avanços da tecnologia, a sociedade e em primeiro lugar a família, também necessita acolher o idosos e fazê-los encontrarem seu espaço de protagonismo valori-zando, sobretudo sua sabedoria e experiência de vida. As Políticas Públicas de atenção ao idoso devem ser construídas, de dentro para fora, ou seja, a partir do idoso, levando em conta os seus anseios e as suas necessidades, observando o contexto social, histórico, cultural, econômico e seus significados.

É preciso oferecer aos idosos meios eficazes para sua convivência harmoniosa na famí-lia e na sociedade favorecendo a dignidade humana, fortalecendo os vínculos relacionais, promovendo a saúde e a inserção no mundo da vida para que não sejam excluídos e ignorados.

O tempo social do idoso é uma vivência com conotações históricas, baseadas em cul-turas específicas e tanto o idoso como a sociedade produzem expectativas em relação ao envelhecimento que se configura na capacidade de flexibilidade e adaptação do “eu” ao mundo criando um escudo contra as adversidades asso-ciadas como: a discriminação, exclusão, violência e abandono.

THE UNDERSTANDING OF THE SOCIAL REALITY OF THE ELDERLY IN THE LIGHT OF THE SOCIAL PHENOMENOLOGY OF ALFRED SCHUTZ Abstract: this article explores the phenomenon of aging in contemporary society. It

pre-sents the contributions from Alfred Schutz’s phenomenological method in un-derstanding the social reality of the elderly in Brazil. Particular emphasis is given to the category Lifeworld, that is to say, the world of knowledge to inter-pret the world of relationships, experiences and meanings that acquire for the present and future life.

Keywords: Phenomenology. Elderly. Lifeworld. Dignity. Rights.

Referências

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