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A comunicação digital partidária em períodos não eleitorais

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Academic year: 2021

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A comunicação digital partidária em períodos não eleitorais

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Este trabalho foi elaborado no âmbito do projeto ‘Os Novos Media e as Campanhas Eleitorais Digitais’ (PTDC/CCI-JOR/102660/2008), financiado pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) e pelo Programa Operacional Temático Factores de Competitividade (COMPETE), comparticipado pelo fundo comunitário europeu FEDER, e coordenado pelo Professor Rui Alexandre Novais.

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“To build may have to be the slow and laborious task of years. To destroy can be the

thoughtless act of a single day”

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Agradecimentos

É banal dizer “nada disto seria possível sem…”, mas no meu caso esta frase vulgar transforma-se numa realidade tão óbvia que seria difícil não a usar. A verdade é que nada disto seria possível sem o Professor Rui Novais, que me deu esta oportunidade, este desafio, numa área que me provoca um profundo interesse e que não só acreditou em mim e na minha capacidade de aprender e me adaptar como se predispôs a fazer algo que cada vez menos sabem fazer, e muito menos com a amizade e generosidade do Professor: ensinar. O Professor foi muito para além do que lhe era pedido, do protocolo, do tempo que tinha disponível, das funções e das obrigações. Mesmo com um horário demasiadamente preenchido ensinou-me, no verdadeiro sentido da palavra, e apoiou-me de tal forma que me senti segura o suficiente para arriscar. Contará para sempre com a minha amizade e a minha gratidão. Acima de tudo, espero não o desiludir.

Agradeço aos Professores André Freire, Carlos Jalali, Manuel Meirinho e Marco Lisi e aos Professores Carlos Cunha e João Canavilhas pelo apoio e disponibilidade. A vossa partilha não só enriqueceu esta dissertação como também a tornou mais única e objetiva.

Ao Diogo, à Vera e à Sofia que marcaram esta jornada pelas palavras motivadoras, pelo apoio e acima de tudo pela amizade, pelo sentido de camaradagem e entreajuda.

Por fim, mas nunca em último, agradeço de um modo muito sentido e especial às pessoas que me estão mais próximas, por terem compreendido a minha ausência em tantas ocasiões, a minha indisponibilidade em determinados momentos, o meu cansaço, a minha falta de tempo e/ou energia… fui apoiada em cada passo desta longa caminhada, lutei imenso, tive momentos de orgulho e de frustração e durante todo este tempo eles tiveram do meu lado, nem sempre de forma visível, mas eu sempre soube que estavam lá e isso, apenas isso, me fez andar quando as forças já pareciam estar esgotadas à muito. À minha avó, meu supremo exemplo, cuja presença é sentida em todos os passos da minha vida, aos meus pais que são a minha âncora, à família de quem me orgulho, aos amigos que são família, às minhas sobrinhas Mara, Luz e Lia pelo sorriso incondicional e em especial ao Telmo que é o meu mar, o meu tudo.

A todos os que referi e àqueles cujo nome ou titulo não se encontram aqui mas que foram igualmente preciosos ao longo do caminho: o meu obrigada, o meu genuíno, sincero, imenso e orgulhoso Obrigada!

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Resumo

Este trabalho analisa a comunicação política digital portuguesa durante períodos não eleitorais de modo a determinar se existem diferenças perceptíveis no que concerne a ideologia política dos partidos, assim como uma distinção entre grandes e pequenos partidos e ainda os recém-chegados que buscam a notoriedade imediata. Procuraremos também perceber se Portugal segue uma das grandes tendências atuais da comunicação desta área, a da personalização da Política. Tendo estas questões como pano de fundo, a investigação levada a cabo recorreu a dados recolhidos dos sites de redes sociais e dos sites oficiais dos partidos e grupos parlamentares com assento na Assembleia da República em quatro períodos distintos, consistindo em duas “semanas quentes” (“hot

weeks”) e duas “semanas normais”. Para além de se basear no estudo de sítios na

Internet, este trabalho avança com uma matriz de análise de sites de redes sociais, alicerçada na observação direta das potencialidades e funcionalidades destes sites. Conclui que as ferramentas online - os sites de redes sociais e os sites oficiais - são usados pelos partidos e grupos parlamentares como mero complemento às formas tradicionais de comunicação. Não obstante as diferenças encontradas nas “semanas quentes” não são tão significativas como o expectável. Mais, os números indicam que os pequenos partidos são ligeiramente mais ativos na Internet, e, como esperado, o oposto é também verdade no caso dos partidos de cartel. Os resultados deste estudo ilustram que as potencialidades da Internet e das redes sociais, sendo a interatividade a mais promissora, são muito subexploradas pelos partidos e grupos parlamentares portugueses, particularmente durante períodos entre campanhas.

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Abstract

This work analyses the Portuguese political online communication during non campaign periods so as to determine whether there are discernible difference in terms of the Parties political ideology, as well as between major and minor parties and the newcomers seeking for immediate notoriety versus the incumbent ones. We will also seek to understand if Portugal follows one of the current trends in political communication the regarding the personalization of Politics. Against this backdrop, it resorts to data collected from social network sites and party and parliamentary groups websites comprising four distinct periods, combining two “hot weeks” and two “normal weeks” advancing a social network sites matrix of analysis built upon the direct observation of both the potentialities and functionalities.

It concludes that online tools such as the official party website and social networks are used as a mere complement to traditional forms of communication. Although there were differences encountered in hot weeks these are not as high as initially assumed, the numbers indicate that minor parties are slightly more active in the Internet, against what occurs with the cartel parties. The results of this research illustrate that the potentialities of the Internet and social networks, being interactivity the most promising of these, are still very underexplored by Portuguese parties, especially during non-campaign periods.

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Lista de abreviaturas

BE – Bloco de Esquerda

CDS-PP - Centro Democrático Social – Partido Popular PCP - Partido Comunista Português

PEV – Partido Ecologista “Os Verdes” PS – Partido Socialista

PSD - Partido Social Democrata

GPBE – Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda

GPCDS-PP - Grupo Parlamentar do Centro Democrático Social – Partido Popular GPPS - Grupo Parlamentar do Partido Socialista

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Índice

INTRODUÇÃO ... 1

Estrutura da dissertação ... 4

CAPÍTULO 1 ... 6

Comunicação Política e suas tendências atuais ... 6

1.1 Campanha Permanente ... 6

1. 2 A personalização da Política ... 9

1. 3 A Internet e a Política ... 12

1.4 O “efeito” Obama ... 19

1.5 Site oficial ... 21

1.5.1 Inovação versus Normalização ... 25

1.6 Redes Sociais ... 26

CAPÍTULO 2 ... 29

Caracterização dos partidos portugueses... 29

2.1 Os partidos do Parlamento português ... 31

2.1.1 O partido de quadros ... 32

2.1.2 O partido de massas ... 33

2.1.3 O partido catch-all ... 34

2.1.4 O partido de esquerda libertária ... 35

2.1.5 Partidos de cartel ... 36

2.2 Pequenos e grandes partidos ... 38

2.3 Incumbentes versus Insurgentes ... 40

2.4 Estilos comunicativos ... 42

CAPÍTULO 3 ... 44

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3.1 Questões de Investigação e Hipóteses ... 44 3.2 Objeto de análise ... 49 3.2.1 Flickr ... 51 3.2.2 YouTube ... 53 3.2.3 SAPO Vídeos ... 55 3.2.4 Vimeo ... 57 3.2.5 Twitter ... 59 3.2.6 Facebook ... 60

3.3 Tabelas e análise dos dados ... 65

CAPÍTULO 4 ... 70

Resultados ... 70

4.1 Resultados gerais ... 72

4.2 Resultados das redes sociais ... 78

CONCLUSÃO ... 84

BIBLIOGRAFIA ... 91

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Índice de Figuras

Quadro da tipologia de partidos portugueses com assento parlamentar ... 30

Resultados da análise ao estilo dos sites oficiais dos partidos e grupos parlamentares representados na Assembleia da República portuguesa ... 104

Resultados dos sites oficiais durante a semana 1 de análise (“hot week”).... ... 105

Resultados dos sites oficiais durante a semana 2 de análise (“semana normal”) ... 106

Resultados das redes sociais Twitter e Flickr durante a semana 1 de análise (“hot week”)...107

Resultados das redes sociais Twitter e Flickr durante a semana 2 de análise (“semana normal”)...108

Resultados das Redes Sociais YouTube e SAPO Vídeos durante a semana 1 de análise (“hot week”) ... 109

Resultados das Redes Sociais YouTube e SAPO Vídeos durante a semana 2 de análise (“semana normal”) ... 110

Resultados da rede social Vimeo durante a semana 1 de análise (“hot week”) ... 111

Resultados da rede social Vimeo durante a semana 2 de análise (“semana normal”) ... 111

Resultados da rede social Facebook durante a semana 1 de análise (“hot week”) ... 112

Resultados da rede social Facebook durante a semana 2 de análise (“semana normal”)...113

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Introdução

Se olharmos para a Política, no seu sentido puro, como a ciência do governo das nações vemos facilmente que esta será uma realidade na qual não haverá (ou não deveria haver) lugar para especulações (Osborn et al., 2010, Norris, 2001). Todos os atos de governação e organização da sociedade devem ser acompanhados de factos. Acerca da comunicação digital dos políticos portugueses e da sua ausência ou presença de qualidade muito se fala, mas pouco se sabe. Com este estudo procurar-se-á retratar o estado actual da comunicação política online portuguesa usando como tela os dados, as estatísticas, os números e as palavras que compõem o cenário.

Então, qual será o verdadeiro nível de atividade online dos partidos portugueses com assento parlamentar? E será que existem ainda, em Portugal, partidos que se fecham em si mesmo?

Este trabalho pretende responder a estas e outras questões de modo a lançar um pouco de luz num tema cada vez mais debatido na literatura nacional e internacional. O objetivo central desta dissertação é o de descobrir de que modo as funcionalidades e potencialidades da Internet são exploradas pelos partidos e grupos parlamentares portugueses em períodos não eleitorais e se existe interatividade na sua comunicação digital. Tentaremos ainda perceber se existem diferenças no uso destas ferramentas por parte de partidos de diferentes ideologias, tamanhos e experiência na atividade política e se há indícios de uma tendência para a personalização da Política em Portugal.

Assim, para se obter um retrato fiel do que é a comunicação política portuguesa contemporânea é necessário não só recorrer à literatura como usar uma metodologia abrangente. Procuraremos também perceber como os atores no cenário político usam os novos meios à sua disposição, como cada partido se poderá enquadrar ou não num determinado estilo comunicacional e o que poderá afinal despoletar uma maior atividade online.

Em toda a revisão da literatura presente neste trabalho devemos ter em conta que como a maior parte do que se escreve acerca deste tema se foca em períodos eleitorais alguns ajustes foram necessários. Contudo, assumindo que os partidos estão hoje em campanha permanente (Ornstein e Mann, 2000; Cook, 2002; Needham, 2005; Doherty,

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2007) a realidade verificada em períodos eleitorais será válida ou verificar-se-á em grande medida em períodos não eleitorais.

Partindo deste pressuposto, percebemos que a governação é também uma perpetuação do ato de campanha de modo a manter a popularidade e a ligação dos escolhidos aos que os escolheram (Ornstein e Mann, 2000). Esta realidade assenta numa premissa cada vez mais evidente, a saber: a da personalização da Política e das eleições centradas nos candidatos e líderes dos partidos ao invés dos temas ou ideologias (Heclo, 2000). Este será, aliás, um dos parâmetros a analisar neste estudo para perceber se Portugal segue a tendência da “Americanização” da Política.

O grande número de parâmetros a analisar levou-nos assim a combinar metodologias, tanto quantitativas como qualitativas, para que o maior número de variáveis possíveis fosse prevista e avaliada. Mais concretamente, para a análise aos sites oficiais dos partidos, e respetivos grupos parlamentares, foi usada uma grelha baseada nas propostas de Norris (2003), Gibson e Ward (2000) e Vaccari (2008, 2011). Nesta tabela cada funcionalidade (ou conjunto de funcionalidades) estaria ligada a uma potencialidade.

Esta primeira tabela propõe-se a medir também algumas das características funcionais, estéticas e apelativas desses mesmos sites. Para a análise das redes sociais foi criada de raíz uma matriz que compila as funcionalidades apresentadas na literatura e observadas diretamente em cada rede social analisada. Constituindo um contributo original na literatura, e por esse motivo, esta segunda tabela pretende não só facilitar a avaliação destas redes sociais como também inovar o modo como esta se faz. Pretendemos também introduzir um novo conceito, ou parâmetro, de análise, o de nível básico ou mínimo de interatividade na rede social Twitter, que acontece quando os partidos ou grupos parlamentares analisados seguem os seus seguidores.

Ambas as tabelas registam ocorrências (presença ou ausência de funcionalidades e potencialidades) nos meios online dos partidos e, quando aplicável, dos respectivos grupos com assento parlamentar em Portugal na presente legislatura (2011-2015). A saber: PSD (Partido Social Democrata); PS( Partido Socialista); CDS-PP (Partido do Centro Democrático e Social - Partido Popular); BE (Bloco de Esquerda); PCP (partido Comunista Português) e PEV (Partido Ecologista os Verdes). Cada site ou rede social do partido, e do seu grupo parlamentar, foi analisada separada e diferenciadamente de

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As matrizes foram usadas de modo a determinar se há ou não, por parte dos partidos e/ou grupos parlamentares um foco no seu líder, diferenças entre partidos de ideologias de esquerda e de direita, entre grandes e pequenos partidos, entre partidos já estabelecidos ou recém-chegados e, acima de tudo, se existe interatividade.

Este método quantitativo permitiu-nos analisar grandes quantidades de informação, recolhidas ao longo de várias semanas, das quais foram retiradas duas “semanas normais” e duas “semanas quentes” (“hot weeks”) para que diferentes momentos em períodos não-eleitorais fossem cobertos por este estudo.

Recorremos também ao método qualitativo, através de entrevistas semi-estruturadas (Manheim e Rich, 1995) a 6 sociólogos e politólogos especialistas na temática, cuja valiosa colaboração na análise ao estilo dos sites oficiais e à caracterização dos tipos de partidos que compõem o cenário político português enriqueceu significativamente este trabalho, complementando e adicionando não só com informação como principalmente com imparcialidade esta dissertação.

A conjugação destas diferentes metodologias permitiu-nos assim reunir dados muito diversos e retirar conclusões baseadas em material completamente inovador no que concerne o panorama nacional, uma vez que não existe nenhum estudo tão alargado ou aprofundado sobre o uso por parte dos partidos e grupos parlamentares representados na Assembleia da República portuguesa dos sites oficiais e das redes sociais.

Para além de revelar a evidência empírica da atividade online dos atores políticos nacionais, este estudo pretende permitir também futuras comparações entre Portugal e variados países no panorama internacional.

Tudo isto remete-nos para aquele que será o principal argumento bi-focal desta dissertação: por um lado o total desprezo (ou fuga) por parte dos partidos políticos portugueses com assento parlamentar, e dos seus respetivos grupos parlamentares, de qualquer forma de interação e, por outro lado, o facto dos grandes partidos (de cartel) serem os que menos comunicam.

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Estrutura da dissertação

Como já foi referido anteriormente, tentamos reunir neste trabalho os diversos fatores ligados à comunicação digital partidária em períodos não eleitorais. Como tal é compreensível e justificável a extensão da revisão da literatura, e, devido a este facto, a divisão da mesma em dois grandes capítulos.

A primeira parte, Capítulo 1, será composta por um apanhado de temas da área da Comunicação Política, das suas tendências atuais tais como a campanha permanente e a personalização da política. Abordará igualmente a Internet 2.0, tanto da forma como pode ser colocada ao serviço da Política, bem como do que esta veio mudar e dos factores que determinam o sucesso no seu uso recorrendo ao incontornável exemplo da campanha presidencial de Obama, em 2008.

Ainda neste capítulo abordaremos o tema dos sites oficiais e das redes sociais e a sua principal potencialidade: a interatividade. Esmiuçaremos por fim o porquê desta capacidade ser tantas vezes evitada.

Na segunda parte, Capítulo 2, tentar-se-á descrever o mais completa e corretamente possível o panorama político nacional. Procurar-se-á atingir este objetivo recorrendo à literatura e a especialistas da área para caracterizar os partidos nacionais, perceber como é composto o Parlamento português de acordo com o tipo de partido. Veremos como é que a tipologia partidária se poderá relacionar com o estilo comunicativo adotado e qual o papel que o facto de um partido ser incumbente ou insurgente parece ter no seu nível de atividade online.

No Capítulo 3 são avançadas as questões de investigação, as respetivas hipóteses e previsão de resultados baseadas no que é apontado na literatura.

Mais concretamente, neste capítulo iremos detalhar algumas características importantes para a análise das contas dos partidos e grupos parlamentares nas redes sociais e até mesmo dos sites oficiais. Um dos principais atributos do mundo digital é o facto de não ser estático, como tal, ao longo deste estudo acompanhamos mudanças e evoluções nos nossos objetos de análise que delinearemos nesta parte da dissertação.

Abordaremos em pormenor as metodologias utilizadas – qualitativa e quantitativa. Explicaremos em detalhe a construção das tabelas usadas na análise aos

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sites oficiais e às redes sociais. Encetaremos uma breve resenha caracterizadora de cada uma das redes sociais analisadas de modo perceber as suas utilizações generalizadas e específicas no âmbito da Política, assim como o que esperar da sua utilização. Este capítulo permite igualmente contextualizar muitas das potencialidades e funcionalidades que posteriormente serão/foram atribuídas a cada rede social.

Dentro deste capítulo procederemos por fim à apresentação e justificação dos períodos de análise escolhidos, e ao modo como se realizou a análise dos dados.

A apresentação dos resultados constituirá o cerne do Capítulo 4. Procederemos à descrição detalhada dos dados obtidos em função das hipóteses avançadas e das correlações verificadas. Veremos também o modo como as diferentes variáveis pesaram na atividade digital dos partidos e grupos parlamentares e como estas se correlacionam entre si.

Complementaremos os resultados gerais das análises com a categorização do estilo dos sites oficiais analisados com base na medição dos itens velocidade,qualidade e apelabilidade em geral que incluiu a participação de 2 especialistas alheios ao projeto, que integraram o universo das nossas entrevistas exploratórias,.

Por fim, detalhar-se-ão os dados recolhidos nas redes sociais, algo apenas possível devido à riqueza de dados proporcionada pela tabela criada para este estudo.

Finalizados os capítulos supracitados, procederemos à discussão das conclusões resultantes do estudo bem como a confrontação e integração dos dados e resultados obtidos com os pré-existentes na literatura. Desse, modo entraremos nas respostas às nossas questões de investigação e, consequentemente, às nossas hipóteses.

A descrição da comunicação digital partidária em períodos não eleitorais virá no seguimento do culminar de todos os elementos anteriormente explorados e no modo como estes se combinam e relacionam neste cenário particular que é a Política partidária portuguesa online. Veremos assim a realidade de um panorama único, com inovação, por um lado, e uniformização ou imitação, por outro, com ausência total de interatividade e com baixos níveis comunicacionais dos partidos de sistema de cartel.

Aqui veremos também as implicações deste estudo e propostas para futuras investigações.

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Capítulo 1

Comunicação Política e suas tendências atuais

A Comunicação Política pode ser vista como “um processo interativo relativo à transmissão de informação entre políticos, os media noticiosos e o público” (LeDuc et

al., 2002: 127).

Este processo é mais visível durante períodos de campanhas e tem passado por diversas fases. Recentes desenvolvimentos na Comunicação Política levaram os académicos a usar o termo “Americanização” ou “Modernização” (Gibson e Römmele, 2007). Por sua vez esta tendência comunicativa conduziu a uma homogeneização das práticas do processo, tal como a campanha permanente (Cook, 2002; Needham, 2005) e a personalização da política (Altheide e Snow, 1979), conforme seguidamente descritas.

1.1 Campanha Permanente

Uma das mais significativas contingências enfrentadas na realização desta dissertação foi o facto de praticamente toda a literatura sobre a relação da Política e da Internet se basear em estudos sobre períodos eleitorais (Gibson et al., 2003; Gibson e McAllister, 2006; Vaccari, 2011) e, mais recentemente, nas campanhas 2.0 (Anstead e Chadwick, 2008; Sudulich et al., 2010; Lilleker e Malagón, 2010). Muito pouco se escreve acerca do que se passa na relação dos partidos com o mundo digital fora do período eleitoral (Gibson e Ward, 2003: 140).

Como tal, de modo a colmatar esta lacuna ir-se-á “ajustar e adaptar”, sempre que possível, a literatura ao contexto de não-campanha, o que não deverá ser difícil uma vez que, como acabamos de ver, os partidos estão, atualmente, em campanha permanente (Ornstein e Mann, 2000; Cook, 2002; Needham, 2005; Doherty, 2007).

O termo “campanha permanente” tornou-se popular no livro de Sidney Blumenthal de 1980 – “The Permanent Campaign: Inside the World of Elite Political

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Operatives”, mas a sua origem é atribuída a Patt Caddell, um perito em sondagens e

membro da campanha do Presidente Jimmy Carter, que terá proferido a expressão em 1976 referindo-se à necessidade de fazer campanha permanentemente de modo a governar com a aprovação pública (Doherty, 2007: 751).

Ou seja, por campanha permanente subentende-se a ideia de que as campanhas políticas não terminam com a vitória ou derrota nas eleições (Gonçalves, 2005: 110). Blumenthal postula que a campanha partidária não se esgota no ato eleitoral e que “governar tornou-se uma campanha perpétua (…) o governo converte-se num instrumento concebido para manter a popularidade de um determinado eleito” (Blumenthal cit. in Ornstein e Mann, 2000: 2) através de uma mistura de aparições públicas, apelos simbólicos, formulação da imagem, sondagens e viagens frequentes pelo país (Cook, 2002: 753).

Mas se a primeira impressão que temos desta ideia não é a mais positiva, talvez pelo peso da palavra campanha, a verdade é que por um lado o ato de governar estará sempre ligado à ideia de campanha. Esta ligação torna-se inevitável uma vez que foram as promessas eleitorais e tudo o que foi feito e proferido durante a campanha que levou o partido/candidato ao poder, e é por esses padrões que os eleitores julgam o governo, quer pelo cumprimento das promessas, quer por comparação com campanhas e governações anteriores, quer com o que será expectável nas futuras. Por outro lado, não é surreal esperar que estas duas realidades estejam bem separadas, até porque os eleitores percebem bem a diferença entre fazer e cumprir promesssas. Mais, o governo existe para governar o grupo que o elegeu, devendo dedicar (quase) inteiramente o seu tempo e energia ao cumprimento dessa função, não à perpetuação de uma campanha já ganha (Heclo, 2000: 4-9).

Sumariamente podemos dizer que a campanha está voltada para um ponto de decisão inequívoca, ou seja, está necessariamente focada em afetar uma única decisão, que é em si mesma o próprio resultado, o evento que determina quem ganha e quem perde. Governar, por contraste, contém vários pontos de resultados interligados ao longo do tempo, assim a linha de decisão é uma de preocupação contínua (Ibid.: 11). Mais, o autor é perentório ao afirmar que a campanha é um exercício de persuasão e o ato de governar dá mais importância aos valores de deliberação (Ibid.: 12), cimentando ainda mais as diferenças profundas que devem existir entre o ato de governar e o de fazer campanha.

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Mas, se se tratam de realidades tão diferentes, porque se fala tanto desta imiscuidade entre as duas? A evolução para uma campanha perpétua, ou permanente tem como principais causas apontadas: o declínio dos partidos políticos, a ascensão das eleições centradas no candidato, a crescente importância da angariação de donativos, a expansão do ativismo público feito por grupos de interesses, o avanço nas TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), o aumento do governo federal (não aplicável à realidade portuguesa) e a maturação das sondagens e da especialização na Política dos profissionais do marketing e relações públicas (Ibid., 2000).

Sem dúvida que os chamados ciclos noticiosos de 24h trazem maior escrutínio a qualquer cargo governativo. Consequentemente, a tentativa de controlar o que os media dizem sobre si pode ser um dos motivos que levam os atores políticos a aparecerem mais, fazendo notícia nas suas condições, pelas razões escolhidas naquele dia e ajustando as aparições públicas às suas necessidades de protagonismo ou de mitigar qualquer notícia negativa.

E porque esta é cada vez mais uma realidade atual vários estudos se têm focado na noção de campanha permanente, especialmente em países com sistemas presidencialistas como é o caso dos Estados Unidos (Doherty, 2007: 344) onde a figura do Presidente assume uma importância inegável. Analisando presidências como as de Bill Clinton e George Bush (Cook, 2002; Needham, 2005; Doherty, 2007), vistas na literatura como mandatos de campanha perpétua, as constantes viagens e o envolvimento de toda uma nação no ato de governar, em combinação com a adoção de técnicas do reino das campanhas (como as sondagens e as aparições públicas constantes), tornam clara esta tendência que se parece revestir de especial visibilidade quando temas desfragmentadores estão na agenda do dia. Como exemplo disto mesmo temos a determinação de Clinton em passar a sua reforma da saúde, chegando mesmo a dizer que para esse fim iria montar uma “sala de guerra” em tudo idêntica à que lhe tinha garantido a vitória nas eleições (Cook, 2002: 754). O mesmo terá acontecido com a reforma educacional de Bush (Ibid: 763).

Um estudo de Brendan Doherty (2007) focou-se nas viagens destes dois presidentes americanos. Através da sua investigação percebemos que as viagens foram feitas a estados populosos, e com peso nas eleições. Compreendemos também como, durante os primeiros três anos de presidência, as viagens eram mais frequentemente feitas a estados onde tinham sido populares nas últimas eleições, enquanto que no

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último ano o faziam a estados eleitoralmente mais competitivos. Tudo isto revela claramente que os estados maiores receberam muito mais atenção por parte destes presidentes (Ibibem: 770-771).

Assim, por tudo o que vimos torna-se evidente que na campanha permanente “o processo de fazer campanha e o processo de governar perderam a sua unicidade” (Ornstein e Mann, 2000: 219).

A campanha permanente fará então parte da comunicação do(s) partido(s) incumbente(s). Se assim for, diferenças significativas serão observáveis entre os níveis comunicativos dos partidos incumbentes e dos insurgentes, sendo de esperar que os que governam comuniquem mais de modo a manter a popularidade do eleito. Mais, se a campanha é permanente o mesmo deve acontecer com a comunicação entre partidos e eleitores, e que melhor forma de fazê-lo do que usando meios que estão disponíveis 24 sobre 24 horas, como os meios alojados na Internet? Serão altos os níveis de atividade online dos partidos? E essa atividade é centrada no partido ou no político?

1. 2 A personalização da Política

Como vimos anteriormente, um dos motivos apontados para a existência de uma campanha permanente é o das eleições centradas no candidato. A personalização da política é um fenómeno que originalmente se tornou evidente em regimes presidenciais (sistemas nos quais o Presidente reúne em si e na sua figura política a representação suprema de todo um país, tendo imensos poderes e protagonismo) como o dos Estados Unidos, onde os líderes estão muito mais expostos à opinião e atenção públicas. Mas atualmente este fenómeno tem apresentado um crescimento em sistemas parlamentares e semipresidencialistas (eg: McAllister, 2007; Campus, 2010; Garzia, 2011; Van Aelst

et al., 2012), como Portugal.

De acordo com Peter Van Aelst, Tamir Sheafer and James Stanyer (2012) a maior parte dos autores distingue entre dois tipos de personalização na política. Uma é feita à custa do partido – a individualização – segundo a qual os políticos têm-se tornado cada vez mais o centro da cobertura dos media, enquanto os partidos e as organizações institucionais se tornam menos relevante no plano mediático (o que pode

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ameaçar o funcionamento normal dos sistemas parlamentares ou até mesmo semipresidencialistas que tanto se apoiam nestes organismos que por norma estariam no centro do processo político). A segunda forma de personalização é a privatização que é relativa à crescente importância que é dada ao político, retratando-o como um indivíduo, uma “pessoa normal”, humanizando-o. O político já não é só um ator da Política ou um porta-voz, é também um amante do desporto, um dedicado homem de família, um crente devoto (Ibidem.).

Naquele que será certamente um dos livros de referência nesta matéria -

“Modern Political Communication: Mediated Politics in Uncertain Times” - James

Stanyer (2007) fala da Política personalizada e na erosão da privacidade. De acordo com o autor as vidas, personalidades, competências e capacidades dos políticos tornaram-se tema de ampla discussão e especulação mediática. Os políticos assemelham-se assim a celebridades, com uma cobertura e interesse mediáticos que rivalizam com figuras da música, do desporto e do cinema e “arrastam” para a ribalta as suas esposas, filhos, famílias e até assessores (Ibidem).

A visibilidade dos políticos num cenário de saturação mediática, e a sua consequente adaptação e familiaridade com este mesmo cenário são uma das características chave dos sistemas contemporâneos de comunicação política. Com a chegada dos meio eletrónicos (como a Rádio e a Televisão) o fluxo de imagens e sons da vida pessoal de um político tornou-se cada vez maior e deste modo, ao longo do século XX, a revelação e exploração da vida íntima e privada dos atores políticos foi lentamente considerada aceitável (Ibid.: 72).

O facto dos atores políticos adaptarem cada vez mais o seu comportamento e imagem aos requisitos mediáticos é apontado como sendo um dos aspetos determinantes para a mediatização e personalização da política. Eventos políticos são “montados” como verdadeiras peças de teatro mediático de modo a captar a atenção dos meios de comunicação, moldando os eventos para encaixarem nos moldes dos media (principalmente no que concerne a hora do evento, a localização, o sound bite e até mesmo o framing – enquadramento - da mensagem ou dos atores políticos). O processo de adaptação dos políticos aos media e às suas normas chega a provocar alterações no seu estilo comunicacional e até mesmo no conteúdo dos seus discursos de modo a melhor “encaixarem” nos moldes dos media (Mazzoleni e Schulz, 1999: 251 cit. in Campus, 2010). Stanyer (2007) afirma que a ascensão da celebridade política

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reconhecível e íntima resulta da combinação dos dois fatores mais determinantes em todo este processo: a auto exposição dos políticos e da exposição dos media.

E talvez porque é mais fácil transmitir uma imagem de uma só pessoa, tornando-a ptornando-articiptornando-ante de um espetáculo que certtornando-amente terá o potencitornando-al de tornando-atrtornando-air grtornando-andes audiências, do que tentar resumir, nos poucos minutos ou segundos disponíveis, toda uma realidade política (ideologia, ideias, propostas, etc.) um dos esquemas mais dominantes e recorrentes do framing das notícias de conteúdo político nas democracias contemporâneas tem sido a personalização (Altheide e Snow, 1979). Esta atitude leva também à mediatização da política como um jogo entre dois ou três grandes adversários (horse race).

Talvez por isso Patterson afirme que no paradigma jornalístico o foco está em alguns indivíduos, os políticos, e não no mais abrangente: os interesses que representam e as forças que moldam as suas políticas (2000: 254).

Assim, torna-se mais evidente que o espetáculo político seja alimentado pela construção da liderança e pelo seu uso e forma como é feita e vivida (e tudo mais o que esta implique).

De acordo com Blondel (1987: 25) a liderança política depende de três aspetos: as características pessoais dos líderes, os instrumentos que têm ao seu dispor e a situação que enfrentam. Tudo isto é cada vez mais determinante na era em que vivemos, o marketing é agora uma realidade que não pode ser separada da política e por vezes o melhor instrumento que um político pode ter para levar a cabo uma ação bem sucedida de marketing político e influenciar a opinião pública é o próprio político a sua imagem.

Sobre a imagem de um político Newman diz que na Política uma imagem é criada através do uso de impressões visuais que são comunicadas pela presença física do candidato, pelas suas aparições mediáticas e pelas suas experiências. Esta informação é depois integrada na mente dos cidadãos (1999: 93).

E em lado nenhum isto é mais verdade do que na Televisão, por todas as características que tornaram este meio o que é. Sem estarem fisicamente presentes, os políticos podem comunicar com um número imenso de eleitores, controlar o que dizem e fazem, minimizar os riscos por retirar o fator “interação física humana” da equação, projetar a imagem que querem e, acima de tudo, tornarem-se reconhecíveis.

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Talvez por esta ser a experiência mais almejada dos políticos, e a que poderá trazer maiores sucessos, se tornou norma evitar a verdadeira interação humana para evitar riscos, confrontos, perda de controlo, etc. Talvez este seja o motivo pelo qual, também na Internet 2.0 e nas redes sociais (e a exemplo da Televisão) os políticos fujam da interatividade, mesmo quando esta é a razão do sucesso do meio.

Algumas estratégias têm sido identificadas como sendo as mais eficazes na criação e reforço de uma imagem de liderança nos media (Kotler et al., 1999), são elas: a criação de uma imagem apelativa, o estabelecimento de uma ligação direta e emocional com os eleitores, o “going personal” e a criação de eventos mediáticos. Para executar pelo menos as três primeiras, a Internet, as redes sociais e os novos media poderão ser cada vez mais o meio de excelência, exatamente pelo controlo que os políticos têm sobre a mensagem e tudo com ela relacionado, a ligação única que se pode formar entre atores políticos e eleitores e à “informalidade” que é permitida (quase exigida) em alguns dos meios, podendo esta última ser a chave para o “going personal” e para a humanização da política.

Consequentemente, os eleitores poderão escolher o líder, em detrimento do partido, que pode começar a comportar-se cada vez mais como um indivíduo e não como o membro de um grupo partidário. Tudo isto tem efeitos na forma como é feita e percecionada a comunicação política e os próprios partidos reconhecem isto e colocam de um modo crescentemente evidente os seus líderes no centro da sua comunicação.

A personalização da política parece então ser o resultado da soma das tecnologias ao serviço dos media e das estratégias dos políticos. Na ausência de mudanças radicais a personalização da Política permanecerá uma, e talvez a principal, característica da política democrática do século XXI (McAllister, 2007: 12).

1. 3 A Internet e a Política

De acordo com os autores Gibson et al.desde os anos 90 do século passado que tem havido muita especulação, tanto por parte dos jornalistas como dos académicos, acerca do papel e da vitalidade atual dos partidos políticos (2003:1).

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No seu livro, “Political parties and the internet. Net gain?”, os autores falam de uma crise da política representativa e dos seus sintomas como a diminuição generalizada dos níveis de ligação/filiação partidária entre eleitores; a falta de conhecimento e interesse, particularmente entre os jovens, sobre o processo de representatividade e as suas instituições tradicionais tais como os partidos e o parlamento; diminuição da participação nas eleições e o declínio nos níveis de confiança nos representantes políticos, partidos e instituições governamentais e da participação política (Ibidem).

Mas o que explicará estes fatores? Fala-se no distanciamento e a insatisfação com os políticos e os governos, a crença de que as instituições de representatividade política já não funcionam (a incapacidade de aplicar políticas que funcionem, de trazer assuntos de real relevância para a esfera pública, de apresentar alternativas políticas), sendo tudo isto expresso através do não-voto. Mas Norris diz que os inquéritos indiciam que as pessoas não perderam a sua confiança nos princípios democráticos, apenas nos meios tradicionais pelos quais estes são manifestados – as instituições (1999: 257).

Outro dos fatores apontados na literatura é o facto das sociedades modernas apresentarem uma míriade de alternativas para quem quiser ingressar num movimento ou simplesmente ter uma atividade lúdica mais excitante e satisfatória do que a Política. Este fator em conjunto com a cobertura cada vez menos séria e cada vez mais sensacionalista (Blumler e Gurevitch, 1995: 220) da Política leva não só a uma falta de interesse mas também a uma falta de conhecimento acerca dos processos políticos. O declínio nas ligações sociais e na adesão a movimentos como sindicatos, grupos e até mesmo a Igreja (Putnam, 2001) e o aumento do individualismo, das exigências e da não disposição dos cidadãos em deixar outros tomar decisões em seu nome (Norris, 1999; Putnam, 2001) podem também explicar esta “crise” pela qual passa a Política.

Para um número significativamente elevado de pessoas nas sociedades ocidentais as suas necessidades estão a ser colmatadas, logo não há muito a provocar a participação e o voto. Aliás, autores como Jalali (2007) dizem que após a introdução do Estado Social os cidadãos deixam de ter tantas reivindicações e preocupações com o seu dia a dia e com a sua segurança (no desemprego, saúde, reforma, etc.), levando a um maior nível de satisfação com o que já foi alcançado. Essa satisfação aliada à ausência de novas lutas leva a um distanciamento e falta de interesse pela política.

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O eleitorado está, portanto, cada vez mais habituado a ter um enorme leque de escolhas e produtos, que se adequam às suas necessidades e preferências e o sistema político parece ser lento nesta evolução/adaptação.

Tudo isto leva Gibson et al. a afirmarem que:

“Given the problems facing political parties and representative democracy (…) it is not surprising that some commentators, politicians and the parties themselves have increasingly looked for new methods of re-engaging the public and improving political communication. The arrival of the Internet and other new ICTs in the mid-1990s appeared to offer parties a range of new communication possibilities at just the right time.“(2003: 3)

Olhar para novos métodos, técnicas e locais é algo a que os políticos não são estranhos uma vez que partidos, e candidatos, sempre usaram todos os meios e espaços disponíveis para chegar até aos eleitores, fosse para divulgar os seus programas ou para debater com os seus adversários, desde a Ágora (espaço público de debate político na Grécia Antiga) aos Multimédia.

Como qualquer outro produto, os meios de comunicação de massas passam por diversas fases e atingem o seu maior potencial quando o meio é mais acessível e está mais disseminado pela população. Esta é a principal razão, de acordo com James Stanyer pela qual o Filme, a Rádio e depois a Televisão têm sido usados ao longo do século XX com o propósito de “vender” o partido e o seu programa (2005: 1050). A Internet não será certamente diferente.

Alguns partidos europeus, nomeadamente na Escandinávia e na Holanda, onde os níveis de penetração da Internet e uso das TIC são elevados, rapidamente se convenceram de que a necessidade de marcarem presença, e se estabelecerem na Internet (Cunha et al., 2003 cit in Gibson et al., 2003 ; Gibson e McAllister, 2006).

Mas, mesmo em nações recentemente democratizadas, com baixos níveis de uso das TIC e de penetração da Internet se verificou uma corrida entre partidos e candidatos para “existirem” na Internet, pelo menos ao nível nacional (Semetko e Krasnoboka, 2003, cit. in Gibson e McAllister, 2006).

Aparentemente os políticos usam as novas TIC pelos mesmos motivos que usaram as tecnologias anteriores e usarão as posteriores: para maximizarem o voto (Stromer-Galley, 2000) obterem o máximo de apoio por parte do eleitorado (Downs,

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1957 cit. in Stanyer, 2005) e aumentarem a eficácia na entrega da sua mensagem aos seus grupos alvo (Stanyer, 2005).

Para os partidos políticos a maior vantagem do advento da Internet será o facto de providenciar uma imediata ligação ao eleitorado (Bimber e Davis, 2003; Stanyer, 2005). De repente, os políticos podem “ultrapassar” barreiras até aí existentes, tais como, o filtro jornalístico, o preço dos anúncios, etc. Havia chegado o momento em que a comunicação entre político e o eleitor era feita de forma direta (Stanyer, 2005).

Este interesse nas novas TIC, principalmente na Internet, prende-se com o facto destas serem tão diferentes em alguns aspetos dos media tradicionais. Abramson et al. (1998 cit. in Gibson et al., 2003) apontam a capacidade dos novos media transmitirem um enorme volume de informação numa velocidade superior à Televisão e Rádio como uma das diferenças mais notáveis entre os meios. Mas a sua unicidade reside, de acordo com o autor, no controlo que é dado ao utilizador e na descentralização dos media, o que altera significativamente o processo de comunicação, uma vez que o consumidor deixa apenas de o ser para passar a ser, se assim o desejar, também produtor de notícias (Ibidem).

O potencial da Internet, a todos os níveis, até mesmo o da mobilização política1, tem sido cada vez mais enfatizado ao longo dos últimos anos. Este ênfase aumenta as expectativas em relação ao que a Internet e as suas ferramentas e potencialidades poderiam trazer à esfera da Política de modo a revolucionar a forma como se pensa uma campanha e a maneira de estar na arena pública.

As possibilidades são infinitas, e há já autores que tentam prever os cenários possíveis por este advento da comunicação através dos novos media, desde os mais radicais aos mais moderados. Há aqueles, mais concretamente Morris, que defendem que estas novas tecnologias ditarão o fim das estruturas representativas tradicionais, como os partidos. Uma vez que estas permitem que os cidadãos atuem direta e individualmente sobre o processo da criação de políticas, através do voto e referendos eletrónicos e fóruns de discussão online (1999 cit. in Schwartz, 2000) evitando o controlo partidário. Outros, como Bimber, alegam que embora o cenário anterior seja

1 Como se viu recentemente no movimento “Geração à Rasca” que através do Facebook

conseguiu mobilizar cerca de 300 mil pessoas para marcharem num protesto pacífico em várias cidades portuguesas.

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improvável há fortes possibilidades das novas tecnologias impulsionarem e acelerarem o pluralismo, reduzindo o papel das organizações representativas tradicionais (1998: 133).

Depla e Tops (1995 cit. in Gibson et al., 2003) falam por sua vez num “revigoramento da participação” através do aproveitamento pelos partidos políticos das potencialidades destes novos meios para envolver de novo o público e estimular a sua participação. Para tal, recorrem a novas “armas” como a interatividade para “recrutar” novos membros e permitir que estes últimos tenham um maior controlo sobre as políticas dos partidos, e as suas elites (Ibidem).

Relativamente aos partidos, a previsão de Gibson e Ward é a de uma modernização administrativa e organizacional. Os partidos podem usar as potencialidades da Internet não tanto para promover a participação mas sim para levar a cabo uma simples adaptação de modo a modernizar e tornar mais eficientes as suas práticas existentes (2000 cit. in Gibson et al., 2003).

Finalmente há os que afirmam que tudo ficará igual e que a Internet terá pouco impacto nos partidos uma vez que esta é dominada pelos interesses mais mundanos dos consumidores (como sexo, desportos e jogos) e não pela política (Bimber, 1998: 150; Margolis e Resnick, 2000 cit. in Norris, 2003).

No entanto, não há como negar que inicialmente a Internet foi usada pelos partidos e/ou candidatos como estandarte da inovação e adaptação aos novos tempos durante campanhas eleitorais, período durante o qual os sites são criados, lançados, adaptados, inovados, etc.

É neste contexto que surge o conceito de campanhas digitais ou campanhas

hypermedia que Howard concebe como referindo-se a “an agile political organization

defined by its capacity for innovatively adopting digital technologies for express political purposes and its capacity for innovatively adapting its organizational structure to conform to new communicative practices” (2006: 2).

As potencialidades que as ferramentas online oferecem nas web campaigns e no dia a dia de um partido político, e que tanto têm entusiasmado políticos e partidos, são apresentadas por vários autores. Destacam-se as enunciadas por Grant e colegas: conectar, influenciar e envolver os cidadãos (2010: 579).

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Crescentemente encontramos um especial enfoque na filha pródiga da Internet 2.0: a interatividade, a grande promessa e a grande impulsionadora das ferramentas online.

Para Norris a interação é a premissa inevitável entre os partidos políticos, os media e o eleitorado (2001). Designadamente, através da interatividade, é possível cumprir-se com as principais funções dos websites: envolver e mobilizar. Uma ideia defendida por autores como Galati e Williams: “Engagement” and “mobilization” were

both considered as participation, and so forth” (2007 cit. in Vaccari, 2010: 8). Gibson,

Nixon e Ward (2003), referem ainda outra potencialidade da interatividade: a possibilidade de incentivar feedbacks: “The party could put large amounts of policy information/documents online and encourage feedback directly from members”.

Uma enorme variedade de ferramentas é usada nos dias de hoje com o objetivo de atingir potencialidades, de mobilizar os cidadãos e envolvê-los ativamente na Política. E muito embora, principalmente desde a campanha de Obama em 2008, estas ferramentas estejam rodeadas de “mitos” acerca das suas virtudes e sucessos, a verdade é que o alcance e o sucesso das campanhas e das comunicações digitais dos partidos, candidatos ou grupos parlamentares estão dependentes de diversos fatores, tais como os níveis de penetração da Internet, os níveis de conhecimento da população das TIC, o conhecimento por parte das campanhas de como aproveitar as potencialidades de cada ferramenta, etc.

A este propósito James Stanyer (2005) afirma que a capacidade das novas tecnologias atingirem os seus objetivos é determinada, positiva ou negativamente, por uma série de fatores ambientais e tecnológicos. Os fatores importantes, apontados por autores como James Stanyer, que ajudam ou inibem as novas ferramentas de atingirem os seus potenciais e os seus objetivos são os internos e os externos - sendo aqui o mais óbvio o já referido nível de penetração da Internet (Ibidem). Os fatores internos relacionam-se a própria tecnologia, há medida que esta é aplicada para determinados fins informação acerca do que a torna um sucesso ou um falhanço e recolhida, tornando futuros usos da Internet mais informados e menos arriscados, no que concerne os seus objetivos.

O trabalho de Rasmus Nielsen (2010) – “Mundane Internet Tools, Mobilizing

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mais usadas numa campanha para mobilizar cidadãos para a Política são as que o autor intitula de “Mundanas”, como o email, e não as “Emergentes”, como as redes sociais, ou as “Especializadas”, como o site oficial de campanha. Nielsen vai mais longe ao afirmar:

“The cases analyzed here, for example, suggests that if an ordinary political campaign today rely mainly on some new emerging tools or their own specialized website, and does so believing in the old saying ― built it and they will come, the results in terms of mobilization will probably be disappointing” (Ibid.: 26).

Mas se o próprio autor as considera emergentes será obrigatório começar a dedicar-lhes atenção para que os candidatos e partidos dominem completamente estas ferramentas e estejam altamente familiarizadas com elas antes que estas se tornem mundanas e os políticos percebam que chegaram tarde demais.

Apesar da importância da interatividade, a verdade é que partidos e candidatos estão mais vocacionados para divulgar informações do que incentivar à participação (Vaccari, 2010: 13). Assim, se a interatividade online é um fator importante e considerada chave no engagement então porque será que tantos partidos, candidatos ou grupos parlamentares a evitam?

Segundo Stromer-Galley (2000) a resposta é simples: o medo da perda de controlo e da ambiguidade leva os partidos e candidatos a evitarem a interação online de modo sistemático pois os riscos de um “erro” (nas palavras escolhidas, uma contradição, um desabafo que se torna polémico, etc.) para uma campanha são enormes nos dias de hoje, em que assistimos já a notícias construídas unicamente em torno do que foi dito ou revelado por um candidato ou partido online, tendo o potencial de provocar efeitos desastrosos2 (Stromer-Galley, 2000; Lilleker e Malagón, 2010).

2 Veja-se o exemplo recente de Fernando Nobre que, após aceitar o convite do PSD para integrar e liderar a lista do partido por Lisboa viu a sua página do Facebook fugir completamente do seu controlo e ser inundada de críticas bastante cáusticas e pejorativas que depressa se tornaram notícia nos meios de comunicação tradicionais. Isto “obrigou” mesmo o cabeça de lista a “encerrar” a sua página oficial, reabrindo-a pouco depois devido a pressões de variadíssimos lados (desta vez com menos potencialidades de interatividade por parte dos seus “seguidores”) o que revela ainda a atenção dada a estes meios alternativos e a indispensabilidade de neles marcar presença, mesmo quando não é opção própria.

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Sendo as redes sociais os lugares onde a interação e a reciprocidade mais são valorizadas, e observando que a maioria dos portugueses com acesso à Internet são utilizadores destas mesmas redes, estamos perante uma confluência de dados que revelam o potencial e a enorme oportunidade que é elaborar uma campanha digital que privilegie a interatividade. A Internet está ainda em período de ajustamento, exploração e inovação, no que se refere à Política. Se esta ascenderá a “essencial” na vida de um partido político, seja em campanha eleitoral ou fora dela, é o que se irá verificar nos próximos tempos. Mas pistas começam já a surgir.

1.4 O “efeito” Obama

Autores, como Osborn, McClurg e Knoll, reforçam a ideia de que nem mesmo Obama teria o sucesso que teve com a sua campanha em 2008 se não fossem os já altos níveis de penetração da Internet nos Estados Unidos (2010: 211). Na verdade, se nos EUA mais de 70% da população tinha acesso à Internet em 2010 (Smith e Rainie, 2008), em Portugal no primeiro trimestre de 2010, apenas 48,8% dos lares de Portugal continental dispunham de acesso à Internet e ainda menos (44,6%) eram Utilizadores de Internet em Portugal (Obercom, 2011). Em Portugal, segundo dados da UMIC – Unidade de Missão Inovação e Conhecimento da Agência para a Sociedade do Conhecimento, IP - relativos a 2010, 56,4% da população portuguesa eram utilizadores das redes sociais (Ibidem). O Hi5 era a rede social mais utilizada, com 42,6% dos internautas, seguido do Facebook, com 39,7% de utilizadores. O terceiro lugar era ocupado pelo Twitter com apenas 7,9%. As funcionalidades das redes sociais mais usadas eram as de comunicação, designadamente: envio de mensagens (84,4%) e serviço de chat (47,9%). Porém, ao nível da utilização das redes sociais, para 77,8% dos internautas, elas constituem mais uma forma de entretenimento do que comunicação. Os principais motivos para a adesão às redes sociais são, segundo o estudo da UMIC, a possibilidade de manter contacto com pessoas que estão longe, com 87,6%, seguido da partilha de pensamentos, comentários, vídeos e fotos (83,8%). A ocupar o último lugar estava o fator “Por motivos profissionais”, com 40% (Ibidem).

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Muita da literatura produzida acerca da relação entre Política e Internet 2.0 é posterior, e até talvez despoletada, pelos efeitos e níveis de interesse ainda surpreendentes que a campanha do candidato democrata norte-americano em 2008 provocou. Um dos grandes feitos de Obama foi o de conseguir comunicar para além das fronteiras do seu país, ir para além de tudo o que havia sido experimentado pelos pioneiros nas campanhas digitais americanas (como Jesse Ventura e Howard Dean). O candidato foi para além dos media tradicionais e dos filtros jornalísticos de modo extremamente eficaz e eficiente, transcendendo até as limitações dos meios, usando a Internet e as suas ferramentas como pedra basilar da sua campanha. Este é o verdadeiro motivo pelo qual falar de Obama é inevitável.

Osborn, McClurg e Knoll (2010) tentam ligar a vitória retumbante de Barack Obama e um fator que todos viam como decisivo: a mobilização dos eleitores. Os autores mostram que a percentagem de eleitores elegíveis aumentou em 2004 (de 50% em 2000 para 61%), revelando o poder potencialmente decisivo de um grande número de novos eleitores. Um total de 62% do eleitorado americano compareceu às urnas no dia das Eleições Presidenciais, tornando esta a maior percentagem de afluência ao votodesde os finais dos anos 50 do século XX (Ibidem).

Muitos assumiram que foi esta diferença no número de participantes que ditou o rumo dos resultados, mas o estudo destes autores concluiu que, provavelmente, Obama beneficiou do aumento da participação mas não foi isso que lhe garantiu a vitória. O estudo afirma que, mais do que devido à mobilização, Obama ganhou por ter conseguido com que muitos daqueles que votaram no Partido Republicano em eleições anteriores, votassem no Partido Democrata (Ibidem).

Ora este fenómeno não se explica pelo aumento no número de eleitores mobilizados. Houve algo mais. A comunicação das mensagens de Obama foi extremamente eficaz, em todos os meios. Mas para haver eficácia em qualquer meio tem de haver público, audiência, recetor da mensagem e o público só se mantém interessado se se sentir ouvido e se, no caso das campanhas digitais, houver espaço para a interação.

De acordo com o Pew Internet & American Life Project - “The Internet and the

2008 election” de Smith e Rainie (2008) – há números espantosos associados às

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políticos durante a campanha para as Presidenciais americanas de 2008 e 39% usaram a Internet para aceder a documentos do partido ou observar os eventos da campanha.

Segundo o estudo duas novas atividades online entraram no grande palco que são as campanhas políticas: 35% dos americanos viu vídeos online relacionados com as campanhas e 10% usaram “social networking sites to engage in political activity” como o Facebook ou o Myspace (Ibidem).

O estudo revela ainda que metade dos utilizadores com menos de 30 anos que têm perfis nas redes sociais (66% dos utilizadores da Internet com menos de 30 anos têm um perfil numa rede social) usaram as mesmas para obter ou partilhar informação acerca dos candidatos ou da campanha (Ibidem).

Por estes números podemos facilmente perceber que o site oficial de um candidato (ou partido) não pode ser descurado, tal como a sua presença nas redes sociais.

1.5 Site oficial

Segundo Gibson, Nixon e Ward a Internet tem múltiplas funcionalidades e potencialidades e os partidos têm desenvolvido conteúdos para os seus sites (2003: 12). Os autores consideram que os websites podem desempenhar três funções:

a) administrativa - permite providenciar uma enorme quantidade de informação acerca do partido, da sua organização e estrutura, história, noticias, contactos, etc. Esta função é extremamente útil a um partido pois diminui drasticamente os pedidos de informação por parte de cidadãos, jornalistas e académicos. Na sua essência o site pode funcionar como “um arquivo ou um recurso bibliotecário”;

b) ativa de campanha - particularmente durante campanhas eleitorais (se bem que os partidos encontram-se, atualmente, em campanha permanente). Esta função permite aos partidos, e neste contexto, e/ou candidatos produzir as suas próprias noticias, evitando a distorção dos media tradicionais. Uma vez que os jornalistas usam cada vez mais os sites oficiais dos partidos e/ou candidatos em busca de noticias isto permite aos partidos e/ou candidatos determinar a sua agenda noticiosa. Podem também

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modelar sites de acordo com os seus públicos-alvo (jovens, mulheres, idosos, etc.) usando os cookies para reunir informação acerca do individuo que visitou o seu site de modo a, cada vez mais, adaptar a mensagem ao recetor;

c) de participação e organização - A mobilização, o incentivo a doações e à filiação, tudo no conforto de casa, são outras das possibilidades que surgem do facto dos partidos estarem representados online. Mas o potencial das novas tecnologias não se fica por aqui: os elementos interativos são talvez os mais promissores da Internet, principalmente agora com o advento da Internet 2.0, permitindo os feeds, a ligação a blogs, a realização de “sondagens” online (tanto para o grande público como para os próprios membros do partido) e a ligação a satélites do partido ou movimentos a si associados, ou até mesmo intrapartido, através da colocação de hiperlinks no site oficial ou primário.

É, no entanto, curioso referir que muitas destas funções surgem após a existência dos partidos na Internet. Primeiro cria-se o site (pelos motivos anteriormente referidos) e só depois de se poder dizer que já lá se está instalado é que se começa a desenvolver as suas potencialidades e ferramentas.

A justificação apresentada para criação de um site justifica-se pelo facto de permitir criar novas dinâmicas para ampliar o “information environment” (Ibidem). Os principais conteúdos que encontramos nos sites dos partidos políticos são então de cariz informativo.

Neste sentido, Lynn Ryder considera que os sites das campanhas (como o site oficial de um partido) permitem aceder a mais informação do que a que é divulgada nos media (2000 cit. in Foot e Schneider, 2006: 202).

Mas no seu estudo, “Preaching to the converted? Pluralism, Participation and

Party Websites” (2003), Pippa Norris teoriza que os sites dos partidos desempenham um

papel ainda distinto em dois propósitos: 1) funcionam como um fórum cívico pluralista uma vez que permitem a introdução das vozes dos opositores e o aumento da visibilidade dos partidos pequenos e dos partidos marginais (“fringe parties”). Deste modo cidadãos atentos podem informar-se cada vez mais e melhor acerca de todo o seu espectro de escolhas eleitorais; 2) os sites dos partidos funcionam também como um canal que incentiva a participação política, facilitando as ligações entre cidadãos e

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partidos (principalmente através de hiperligações para blogs, sites, redes sociais, etc., uma vez que tudo passa a estar à distância de um clique) (Ibid.: 22-23).

E porque são estas funções dos sites importantes? Talvez porque tanto a participação como o pluralismo são amplamente reconhecidos como valores centrais numa democracia.

Comecemos pela participação. Autores como Rousseau (1978, cit. in Norris, 2003) e Dahl (1989, cit. in Norris, 2003) declaram que a participação das massas é essencial para a vida de uma democracia representativa. Mas isto não quer dizer que este assunto seja consensual.

Exatamente quanto empenho cívico é necessário, ou desejável, é ainda um ponto de discórdia na literatura. Há autores, como Mill (1861, cit. in Norris, 2003) que defendem a participação ativa na vida cívica de modo a prevenir que outros tomem decisões em nome dos interesses dos cidadãos e a permitir que estes cresçam e se eduquem no que concerne a política, o civismo e as suas diversas formas e instituições. Outros autores, mais reconhecidamente Schumpeter, afirmam que o papel dos cidadãos deverá ser relativamente limitado, restrito principalmente aos períodos eleitorais e ao escrutínio constante das ações governamentais (1952, cit. in Norris, 2003).

Ou seja, a visão da participação eleitoral como uma das características basilares do governo representativo é essa sim consensual, tal como a opinião que a competição pluralista de partidos é essencial para a verdadeira representatividade, oferecendo aos eleitores um leque de escolha (entre políticas, partidos e candidatos) maior e mais diversificado.

O que nos leva ao pluralismo e, neste campo, voltamos a ser mais uma vez confrontados com a existência de teorias muito díspares relativamente à quantidade desejável ou necessária de competição partidária. Se a competição for demasiadamente limitada alguns partidos podem nunca atingir os patamares necessários para a eleição ou ter a oportunidade de transmitir a sua mensagem ou até mesmo de fazer campanha, restringindo a visão das eleições como livres e justas, se a competição não tiver limites, permitindo a eleição de partidos menores ou marginais isso pode lavar a uma fragmentação partidária excessiva nos parlamentos, o que pode provocar diversos entraves à vida normal desta instituição representativa, como impassses, bloqueios,

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ausência de maiorias governativas – sejam estas absolutas ou relativas – ou até de coligações coerentes.

Determinada a relevância da participação e do pluralismo para a saúde de um sistema governativo importa perceber então se a presença online dos partidos contribui, em comparação com os mass media, para a expansão da comunicação pluralista e para o aumento das oportunidades para cidadãos participarem dentro de partidos, ou seja, se os Novos Media vieram reforçar o papel representativo dos partidos e dos governos.

Muitos estudos, baseados em análises de inquéritos aplicados nos Estados Unidos, mostram que a Internet funciona normalmente como mais um meio para informar e “ativar” os cidadãos americanos que já estavam envolvidos na política, logo, estavam a “pregar aos convertidos” como refere Pippa Norris (2003) e a reforçar as desigualdades sociais previamente estabelecidas na participação política (Bimber, 1998; Corrado, 2000; Davis, 1999; Davis e Owen, 1998; Hill e Hughes, 1998; Kamarck e Nye, 1999 cit. in Norris, 2003).

De acordo com Vaccari (2011) como os sites de campanha\são acedidos, na sua maioria, propositadamente e não por coincidência, os seus usuários são mais interessados em Política e mais partidários que a restante população. Margolis e Resnick (2000: 54 cit. in Norris, 2003), vão mais longe, afirmando que mais do que revolucionar a política americana o desenvolvimento do ciberespaço, mais concretamente da World

Wide Web, irá, mais provavelmente, reforçar o status quo.

Mas parece haver cada vez mais vozes que querem ser ouvidas, e estas pertencem a eleitores e apoiantes que podem potencialmente fazer a diferença, logo devem ser valorizados e sentir que as suas opiniões contam, deve haver um espaço para o diálogo, para a interação online, com resposta às questões/opiniões deixadas pelos internautas que se interessam pela vida do partido.

A mobilização, o incentivo a doações e à filiação, tudo no conforto de casa, são algumas das possibilidades que surgem do facto dos partidos estarem representados online. Mas o potencial das novas tecnologias não se fica por aqui: os elementos interativos são talvez os mais promissores da Internet, principalmente agora com o advento da Internet 2.0, permitindo os feeds, a ligação a blogs, a realização de “sondagens” online (tanto para o grande público como para os próprios membros do partido) e a ligação a satélites do partido ou movimentos a si associados, ou até mesmo

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intrapartido, através da colocação de hiperlinks no site oficial ou primário e até a presença nos sites onde a interatividade é a norma, os sites de redes sociais. Mas será que a Internet irá ditar uma revolução na forma de se ver e fazer Política ou será este apenas mais um capítulo num livro já gasto?

1.5.1 Inovação versus Normalização

Os políticos e os partidos têm apostado, cada vez mais, em cimentar a sua presença na Internet, através dos seus sites, sejam eles oficiais ou de campanha, fenómeno que se verificou, sobretudo, como já foi referido, a partir da década de 1990. Desde essa altura a Internet tem sido usada por partidos e candidatos como ferramenta de comunicação junto do eleitorado.

Em meados de 2000 Pippa Norris tinha já identificado 1,250 partidos online em todo o mundo (2001 cit. in Gibson et al., 2003).

Mas porque estão os partidos online? De acordo com Gibson, Nixon e Ward (2003) a literatura identifica duas razões principais: 1) os partidos querem passar uma imagem de modernismo, relevância e atualidade e para tal adotam as novas tecnologias. Não querem ser ultrapassados, o que nos leva à segunda razão; 2) o efeito “me too”. Os partidos sentem a pressão dos seus pares e não querem ser os únicos excluídos, ou estar a permitir uma vantagem aos oponentes através da ausência. Resumindo: se todos têm, nós também precisamos de ter.

No que concerne o estilo e conteúdo de um site político encontramos duas posições muito distintas. Por um lado temos a hipótese de inovação, ou equalização, e por outro a hipótese de normalização.

Os defensores da primeira, como Gibson e Ward (2000:11 cit. in Schweitzer, 2008) acreditam que as características específicas dos Novos Media, como o hipertexto, a interatividade, a componente multimedia e a capacidade de armazenar enormes quantidades de informação contribuem fundamentalmente para uma mudança no modo como a política é apresentada ao público o que tornaria a comunicação digital política diferente dos seus padrões típicos offline, oferecendo assim uma oportunidade de revitalização da política. A literatura diz que os países mais centrados nos partidos têm

Imagem

Figura 1 – Quadro da tipologia de partidos portugueses com assento parlamentar.
Figura 2 – Resultados da análise ao estilo dos sites oficiais dos partidos e grupos parlamentares representados na Assembleia da República portuguesa
Figura 3 – Resultados dos sites oficiais durante a semana 1 de análise (“hot week”).
Figura 4 – Resultados dos sites oficiais durante a semana 2 de análise (“semana normal”).
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Referências

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