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SAIU NA REVISTA NOVA ESCOLA DESSE MÊS NA

PÁGINA 59

A RECOMENDAÇÃO PARA LEITURA DO LIVRO DE

MARC BLOCH. VEJA A SINOPSE !

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“APOLOGIA DA HISTÓRIA” DE

MARC BLOCH:

A CIÊNCIA DE HISTORIAR

Resumo Preparado pela Profª Vera Dias

Fuzilado em 1944 pela Gestapo (polícia nazista) durante a resistência francesa contra a invasão alemã na Segunda Guerra Mundial, o autor de Apologia da história ou O ofício do historiador deixou sua obra de metodologia histórica incompleta. Francês e judeu, Marc Bloch que fundou, juntamente com Lucien Febvre, a Escola dos Annales (um marco para a pesquisa histórica) foi um dos mais importantes historiadores de todos os tempos. Neste post, procuraremos percorrer alguns pontos interessantes do livro mencionado.

Logo na introdução existe uma reflexão crucial para o historiador, a de que vivemos numa sociedade histórica. As civilizações ocidentais (gregas e latinas) que antecederam as sociedades modernas eram, segundo Bloch, compostas por povos historiógrafos. O cristianismo é uma religião de historiador. Podemos ver esta questão presente também no trabalho de Hannah Arendt. Contudo, a autora é mais cuidadosa ao distinguir as noções históricas entre gregos e latinos. “A filosofia cristã rompeu com o conceito de tempo da Antiguidade, porque o nascimento de Cristo, tendo ocorrido num tempo humano secular, constitui não só um novo princípio como também um

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Antiguidade. Os assuntos humanos nunca eram completamente novos, apenas se repetiam; o que aparecia como algo novo eram apenas os homens das novas gerações; assim, todos estavam predestinados a contemplar um espetáculo natural ou histórico que era sempre o mesmo. Os conceitos cristãos de "História" e de "vida eterna" romperam com esse ciclo.

Entretanto, Bloch adverte com tom pesaroso que as civilizações podem se modificar deixando de ser históricas; pois existe o perigo

de jogar a “boa história” no buraco junto com a “má história”. Este

trecho marca dois posicionamentos do autor. O primeiro é o tom moralista que acompanha o livro de Bloch; a separação entre os bons e os maus, os verdadeiros e os mentirosos e, logo, os que mandam e os que obedecem. O segundo é a pretensão de que seu livro seja não somente uma introdução aos estudos históricos, mas também uma defesa da legitimidade e da cientificidade da História.

Em seguida o autor trata de estabelecer a diferenciação entre legitimidade e utilidade. A história, para Bloch, não deve ser encarada de modo pragmático como uma ciência técnica que precisa sanar um problema imediato, pois sua utilidade pode ser justificável pelo simples desejo de matar a fome intelectual do pesquisador e do

leitor. Isso não exclui que sua “utilidade”, cedo ou tarde, seja nos

ajudar a viver melhor. Sua legitimidade encontra a defesa justificada no seu oposto, isto é, a desqualificação e a depreciação da história só servem a um propósito: a ignorância.

Podemos notar que, durante o texto, Bloch procura estabelecer espécies de conciliações mediadas pelo bom senso do pesquisador em história. Opinando numa discussão, datada do início do século 19, sobre se a história é arte ou ciência, Bloch diz que uma não exclui a outra; e é importante que a história se alimente das duas fontes sem cair no extremo de nenhuma delas. Bloch critica seus ex-professores, os historiadores da Escola Metódica Francesa, aos quais se reporta

como “positivistas” herdeiros de Comte, pois além de considerarem a

História uma ciência menor em relação às ciências exatas (a tal ponto de apagarem sua plausibilidade e originalidade), também fizeram do trabalho do historiador algo tão técnico quanto impossível. A principal crítica de Bloch aos metódicos se refere à crença na neutralidade e no apagamento da subjetividade e intencionalidade do pesquisador durante o uso dos documentos. Bloch defende que a poesia e a

imaginação não retiram a “cientificidade” da História, por isso ela

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historiadores alemães que tomam a História como uma espécie de

jogo estético ou um “exercício de higiene benéfico à saúde do espírito”. No entanto, apesar da conciliação entre arte e ciência, Bloch

é categórico em considerar que a História é uma ciência.

Se toda ciência possui um objeto, qual é o da História? Bloch diz que não é o passado, pois este não é palpável e não é específico a somente uma ciência (a geologia estuda o passado das formações rochosas, a geografia as mudanças climáticas através dos sedimentos, a química a constituição do sol); mas em nenhuma delas o homem (e sua ação) está presente como elemento principal.

Portanto o objeto da história são os homens (no plural). “São os

homens que [a história] quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está sua caça” (BLOCH, 2001, p. 54). Mas o objeto de

pesquisa dos historiadores não é simplesmente "os homens". Além do homem, o historiador pensa também o tempo e a duração. Em última instância, a história é a ciência dos homens no tempo. E esse tempo é, por natureza, um continuum e também perpétua mudança. Ou seja, o tempo não pára, se desenrola, não possui pausa nem ruptura, mas a todo o momento se modifica. Significa dizer que o tempo não é cíclico e repetível, como pensavam os gregos antigos.

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interpretarem os documentos, apenas queriam transmiti-los reescrevendo-os.

O vínculo passado-presente é delineado através das trocas culturais com gerações anteriores, pela oralidade e pelos escritos e ocupam funções importantes nas transmissões de pensamento que fazem praticamente a continuidade de uma civilização. É necessário, entretanto, compreender os homens conforme a sua época, pois eles se parecem mais com seu tempo do que com seus pais. Tanto é que Bloch critica o historiador que busca explicar o “mais próximo” pelo

“mais distante” (o ídolo das origens). Esse tipo de historiador acredita que a causa (explicativa) está num passado remoto, por isso desce às profundezas antes de compreender o presente e o passado recente, crendo que tudo já estava dado num princípio original. Esse seria um movimento rumo ao infinito, pois assim que chegasse num

“ponto originário” precisaria compreender qual foi a causa deste

ponto, voltando cada vez mais para trás, atrás de causas das causas.

Quais são as técnicas principais de pesquisa do historiador? Comparação, intuição e bom senso. Bloch compara o trabalho do historiador ao do detetive que tenta reconstituir a cena de um crime sem tê-lo presenciado. Então é através dos testemunhos (todos os tipos de vestígios do passado) que o historiador procura reconstruir a trama histórica. Neste trabalho, ele precisa comparar todos os tipos de documentos. Não apenas recorrer às fontes escritas, mas a todos os resíduos deixados como pistas. Aqui o historiador se mostra "subserviente" às fontes e aos documentos. Afinal sem estes não é possível fazer uma pesquisa histórica. Como, por exemplo, não é possível reconstituir a mentalidade íntima dos homens no Império Merovíngio, porque não existem cartas ou diários particulares na sociedade desta época. Geralmente, os historiadores dão mais créditos aos documentos involuntários, que são os documentos que não foram fabricados para serem repassados a

gerações futuras (como guias de viagens “enterradas” nas tumbas egípcias). E questionam ainda mais as intencionalidades dos documentos voluntariamente escritos para o futuro, como o livro Historie, de Heródoto.

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pretende chegar é um trabalho necessário que demonstra honestidade intelectual do historiador e que causa prazer nos seus interlocutores.

Entretanto, não existe um tipo certo, preciso e específico de documento para responder a uma determinada pergunta. Todos os documentos são valiosos. Contudo, para cada tipo de documento é necessário usar uma ferramenta adequada para analisá-lo. Por isso, o historiador deve conhecer minimamente as principais técnicas de seu ofício e saber utilizá-las de modo específico para cada tipo de documento.

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escrito por Marbot. Além disso, erros inintencionais do próprio contexto podem acontecer frequentemente e, nesse caso, a historiografia recorre a psicologia do testemunho. Sobretudo, para entender como a familiaridade de uma situação pode torná-la invisível pela sociedade que a vivencia, ou mesmo, identificar momentos de pânico, cansaço, medo e angústia que podem atravessar os relatos, modificando-os de diferentes formas. A maioria destes aspectos pode ser compreendida à luz da atmosfera social do período.

A crítica da comparação poderia ser minada pelo argumento de

que a invenção, a criação e “o novo” podem não ser considerados

verídicos. Como exemplo, um documento afirmando terem inventado o avião na Idade Média, embora não tenham divulgado a invenção. Ou, ainda, terem descoberto a teoria da relatividade (antes de Einstein) no século 18. Nesse caso, Bloch se defende dizendo que mesmo que algo novo seja inventado, criado ou descoberto é preciso que haja vestígios anteriores do passado que demonstrem o avanço capaz de possibilitar o “novo”. Aqui, podemos fazer uma crítica ao

“pai dos Annales”. Parece-nos que Bloch ainda se prende a uma noção de história de acúmulo, que só considera o novo como somatória e determinação a partir do antigo. Tanto é verdade que Bloch acredita ter uma vantagem de superioridade para enxergar a totalidade da história em relação aos historiadores antecedentes.

(* Essa resenha se refere somente à Introdução e aos três primeiros capítulos do livro).

Referências:

ARENDT, Hannah. Da revolução. São Paulo/Brasília: Ática/Ed. UnB, 1988.

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História: arte ou ciência?

Resumo Preparado pela Profª Vera Dias

O estatuto científico ou artístico da História é ainda uma das discussões mais acaloradas entre estudiosos e curiosos da área. Marc Bloch situa seu início por volta de 1800, possivelmente durante o processo de institucionalização da História, marcado sobretudo pelas disputas com disciplinas vizinhas como a Filosofia e a Teologia. Como quase tudo que é particular a História, não há consenso sobre o assunto, entretanto por entenderem que esse debate não sai do lugar-comum, muitos historiadores se recusam a refletir sobre tal e, por isso, não conseguem sequer formular uma resposta adequada a qualquer pessoa que os indagam – o filho, o aluno, o filósofo, o porteiro, a tia do interior... Neste post pretendo descrever brevemente as considerações de pensadores sobre a questão, e fazer modestas considerações pessoais explicitando minha posição.

Se os saberes ocidentais são herdeiros da cultura grega, convém começar com Aristóteles. Na Poética, o filósofo ao comparar e

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acontecer segundo a verossimilhança e a necessidade. “Por isso a

poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquela principalmente ao universal, e esta ao particular. Por

„referir-se‟ ao universal entendo eu atribuir a um indivíduo de determinada natureza pensamentos e ações que, por liame de necessidade ou verossimilhança, convém a tal natureza; e ao universal, assim entendido, visa a poesia, ainda que dê nomes às suas personagens; particular, pelo contrário, é o que fez Alcebíades

ou o que lhe aconteceu”, escreve Aristóteles (1984, p. 249).

Pode-se pensar, a partir da exposição acima, que a história descreve os acontecimentos passados sem o dever de utilizar a necessidade e a verossimilhança como elementos para conectá-los; ela apenas relata, enquanto a poesia se utiliza de artifícios específicos para estabelecer conexões, embora os eventos não tenham efetivamente ocorrido. A história fala do particular, do fragmentário, do individualizado, já a poesia fala do universal, pois, para Aristóteles, ela constrói um todo, com princípio, meio e fim (1984, p. 242). Ora, se você, leitor, estuda história, saberá que a disciplina abandonou a simples pretensão de narrar os eventos sem encontrar (ou seria inventar?) uma conexão necessária ou verossímil entre eles desde o século 19, quando almeja constituir-se como ciência. É por isso que Hayden White disse que a narrativa da história moderna é essencialmente uma poética, ou seja, arte. White (1995) não descarta em hipótese alguma que a história tenha um momento de empiria quando recolhe e classifica os documentos a partir dos quais o texto historiográfico será escrito, entretanto, para arrolar os

eventos “descobertos” através dos documentos, o historiador

precisará dispor de recursos da narrativa literária.

Historicismo alemão:

Em 1821, o historiador alemão Wilhelm Humboldt apresentou um programa para o ofício do historiador no qual comparava novamente ao trabalho do poeta. Neste texto, Humboldt diz que a tarefa máxima do historiador é expor os acontecimentos, sendo ele, neste ponto, receptivo e passivo. Entretanto, considera que isso não basta. É

necessário também que o historiador “faça” a conexão entre esses acontecimentos para que encontre a verdade essencial no todo. Como o historiador consegue fazer essa conexão? Segundo Humboldt, ele usa a fantasia. Aqui ele se iguala ao poeta por ser criativo e autônomo. Porém, diferentemente do poeta, o historiador usa a fantasia a partir dos eventos “expressos” pelos documentos e não de uma abstração geral na qual os eventos só se encaixarão. Contudo, Humboldt deixa escorregar que é preciso se livrar de eventos desviantes, contingentes e acidentais para bem adequar os

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imaginação (ou fantasia) do historiador, tendo em vista a impossibilidade de construí-lo a partir da reunião de todos os

“particulares” (os acontecimentos)? Quer dizer, para Humboldt está

implícito que o historiador escolhe os acontecimentos que melhor se adequam a esse contexto causal. Em resumo, a resposta do historiador alemão sobre a questão levantada no título poderia ser a seguinte: a história é uma ocupação científica que se utiliza de operações artísticas. Em seu produto final, ela é ciência e arte, ao mesmo tempo.

Ranke (1795-1886)

A resposta de outro historiador alemão do século 19 é parecida. Para Leopold Ranke a história é ciência, mas ela se diferencia das demais por ser também uma arte. Assim ele escreve: a história “é

ciência na medida em que recolhe, descobre, analisa em profundidade, e arte na medida em que representa e torna a dar

forma ao que é descoberto, ao que é apreendido” (2010, p. 202).

Ranke critica os filósofos que acreditam que a verdade da história em totalidade está num esquema abstrato construído a priori, e que passam a adequar os eventos ao seu conceito, só aceitando como verdadeiros os eventos que se submetem a tal. É a mesma crítica que direcionei a Humboldt. Esta crítica pode servir para apontar os

limites de muitas “metafísicas da história” como aquela que diz que

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Escola dos Annales:

Em uma perspectiva de pesquisa distinta, o historiador francês Marc Bloch deu outra resposta à questão em 1944. Ele se contrapôs aos pesquisadores inspirados nos dizeres de Durkheim que, em seu entender, quiseram banir da razão positiva as coisas humanas como, por exemplo, os acontecimentos. Mas também criticou os

historiadores “historizantes” que, ao perceberem que a história não

se adequava ao esquema físico das ciências naturais, caíram num

modelo puramente “estético”. Para o historiador, houve uma

mudança da concepção de ciência do século 19 – a teoria cinética dos gases, a mecânica einsteiniana e a teoria dos quanta flexibilizaram a

ciência. “Estamos agora bem melhor preparados para admitir que, mesmo sem se mostrar capaz de demonstrações euclidianas ou de imutáveis leis de repetição, um conhecimento possa contudo

pretender ao nome de científico”, argumenta Bloch (2001, p. 49). O

autor reitera que a certeza e o universalismo são agora uma questão de grau. Para Bloch, a história é uma ciência (a ciência dos homens no tempo), mas toda ciência tem uma estética de linguagem que lhe é própria. Para penetrar os fatos históricos é necessária uma grande fínesse de linguagem. Assim, a arte em vez de excluir a cientificidade, complementa-a. Já seu colega na fundação da Escola dos Annales, Lucien Febvre, apontou que a história é um estudo cientificamente conduzido, desenvolve problematizações, levanta hipóteses, traça objetivos e se utiliza de métodos críticos, contudo não a considera como uma ciência (1989, p. 30).

Foucault:

Partindo de uma linha de raciocínio distinta e com preocupações diferentes dos historicistas (Humboldt e Ranke) e dos historiadores da Escola dos Annales(Bloch e Febvre), o filósofo Michel Foucault, ao

fazer uma arqueologia do “conhecimento” moderno, disse que “a

história talvez não tenha lugar entre as ciências humanas nem ao lado delas: é provável que entretenha com elas uma relação estranha, indefinida, indelével e mais fundamental do que seria uma

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posição da história é de um saber perigoso e privilegiado. Diferentemente da História da Idade Clássica (período entre o Renascimento e a Revolução Francesa), que era preocupada com leis gerais e constantes sob uma visão na qual homem e o mundo se incorporavam num só movimento e numa história única, a História que vem a tona no século 19 diz respeito a historicidade própria de cada coisa, por exemplo, da linguagem, da riqueza e da vida. Tal

“historicidade de cada coisa” confere a possibilidade de existência de ciências humanas como a filologia (linguagem), a economia (riqueza/relações de produção) e a biologia (vida). Os objetos de estudo de cada uma destas ciências não respeitam simplesmente a cabeça dos homens, mas suas dinâmicas próprias de funcionamento e de transformação com suas leis gerais. A partir de então o homem encontra-se esvaziado de historicidade já que está apartado de tudo isso. Essa forma nua de historicidade humana aponta o fato de que o homem enquanto tal está exposto ao acontecimento (da vida, da linguagem, das relações produtivas). Entretanto, o saber positivo sobre o homem só pode existir a partir do ponto em que se entende que ele é um ser que fala, que trabalha e que vive. Esse é o escândalo das ciências humanas! A linguagem, o trabalho e a vida se encarnam no homem ou é o homem que se encarna na linguagem, no trabalho e na vida? Os dois, eu diria. Ele modifica tais coisas e é modificado por elas, é duplamente sujeito e objeto, o chamado

“empírico-transcendental” ao qual a ciência nunca chega, sempre está em descompasso. Por isso, o saber histórico ao não poder isolar seu objeto (o homem) sempre recorre aos outros campos do conhecimento para construir explicações. Paul Veyne, já salientara que existem acontecimentos históricos, mas não explicações

históricas: “a História informa [no sentido de dar forma] seus

materiais recorrendo a uma outra ciência, a Sociologia. De maneira análoga, existem de fato fenômenos astronômicos, mas, se não me engano, não existe explicação astronômica: a explicação dos fatos

astronômicos é física” (1983, p. 05).

Marxismo inglês:

Sob uma perspectiva marxista, o historiador inglês E. P. Thompson

apontou que “a tentativa de designar a história como „ciência‟ sempre

foi inútil e motivo de confusão. Se Marx, e, mais ainda, Engels, por vezes incidiram nesse erro, então podemos pedir desculpas, mas não

devemos confundir a pretensão com seus procedimentos reais”

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e, embora ele não possa ser confirmado através de demonstração positiva, sua falsidade pode ser identificada. Dentro de tais ressalvas ele é, portanto, não só possível como verdadeiro.

Ciência e Dialética:

Voltemos a Aristóteles para dar um desfecho ao texto. Na busca de uma explicação didática sobre a fundamentação de um discurso científico podemos recorrer à teoria dos silogismos aristotélicos. O silogismo é o raciocínio em que uma conclusão é obtida através da consequência necessária de assertivas anteriores. Exemplo clássico: Todo homem é mortal. Sócrates é um homem. Logo, Sócrates é mortal. Aristóteles divide os silogismos em diferenciados tipos, ao que nos interessa aqui há duas definições distintas: o silogismo

científico (ou demonstração) e o silogismo dialético. O primeiro (científico) além de correto é verdadeiro, pois precisa proceder de premissas verdadeiras, enquanto o segundo (dialético) é baseado em premissas constituídas pela opinião, quer dizer, em afirmações aceitas por todos, pela maioria ou pelos sábios e cuja veracidade é somente provável e não verdadeira (PEREIRA, 2001). Neste sentido, Aristóteles diferencia a ciência da dialética em relação à verdade (premissa demonstrável) e à verossimilhança (opinião da maioria). Ao contrário do silogismo dialético que opera por dedução a partir das premissas expressas pela opinião (doxa) da comunidade, o silogismo científico se fundamenta pelo método de indução ou de intuição que devem ser inteligíveis por si, não precisam de justificação que prescinda deles.

“A indução é o processo pelo qual se extrai o particular do universal. Ela começa pela experiência dos dados particulares e

ocorre quando abstraímos destes dados um enunciado universal”

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no século 16 por ter acontecido a Reforma Protestante e a Invenção da Impressa. Neste caso, há uma diferença considerável entre a necessidade – é inevitável que naquelas condições postas o objeto atinja uma certa velocidade demonstrada através dos testes realizados – e a possibilidade – é possível que os motivos que fizeram com que fulano reagisse contra a Igreja estivessem

relacionados com os “grandes” acontecimentos da época, mas

poderiam ser outros.

Pitacos Safados!

Para fim de conversa, vale ressaltar que reconheço a densidade da teoria silogística para ser apresentada num espaço tão curto. Também sei do limite da definição entre discurso científico e dialético (retórico, poético, etc.) expressado inclusive na impossibilidade da ciência se fundamentar através de um saber inteiramente científico, buscando socorro à dialética ou em princípios indemonstráveis (axiomas) para se justificar. Não é a toa que Ari (para os íntimos) preferia os homens de arte aos homens de ciência, pois considerava aquela atividade acima desta.

Ao contrário do que afirma boa parte dos historiadores, creio que a História não seja ciência nem arte. Tampouco as duas juntas. E isso não é diminuí-la. A História é uma atividade diferente. Ela não necessita se fundamentar fora dela mesma, nem respeitar uma hierarquia que coloca a ciência acima de tudo, para possuir e construir valores para a vida. Se ela deve se submeter a algo, então que seja a vida – a vida plena, a pulsão ao existir, não apenas ao sobreviver (aliás, a sobrevivência ultimamente tem atentado contra a vida). Exceto isso, não me parece que a História deva ter uma função

social “universalista” e “determinada” (como já teve em outras

ocasiões, levando em algumas vezes ao desastre), porém

“particularista”, que comporte o quão maior número de diferenças e

novidades. Que ela se preste a criação e a denúncia do que atrapalha a criação. Que não se reduza ao possível para pensar outras formas de viver e de sentir. É por estas razões que acredito que antes de ser um discurso textual e uma pesquisa, a História é uma posição no mundo, uma maneira de descobrir não simplesmente o passado, mas de olhar para o futuro.

Referências:

ARISTÓTELES. Poética. Coleção “Os pensadores”. São Paulo: Abril

Cultural, 1984.

BLOCH, Marc. Apologia da história: ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

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CAMPOS, Sávio. A teoria dos silogismos: o primado do intelecto intuitivo na analítica aristotélica. Universidade Federal do Mato Grosso – Instituto de Filosofia. Cuiabá, 2010.

FEBVRE, Lucien. Combates pela história. Lisboa: Editorial Presença, 1989.

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

HUMBOLDT, Wilhelm. Sobre a tarefa do historiador [1821]. In: MARTINS, E. R. (org.). A história pensada. São Paulo: Contexto, 2010, p. 82-100.

PEREIRA, Oswaldo Porchat. Ciência e dialética em Aristóteles. São Paulo: Unesp, 2001.

RANKE, Leopold v. O conceito de história universal [1831]. In: MARTINS, E. R. (org.). A história pensada. São Paulo: Contexto, 2010, p. 202-215.

THOMPSON, Edward Palmer. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

VEYNE, Paul. O inventário das diferenças. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983.

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