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MESTRADO EM: LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM

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Academic year: 2018

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(1)

MARLY CAROLINE MOREIRA-FERREIRA

A INTERPESSOALIDADE EM

BLOGS

SOB A PERSPECTIVA

SISTÊMICO-FUNCIONAL

MESTRADO EM: LINGÜÍSTICA APLICADA

E ESTUDOS DA LINGUAGEM

(2)

MARLY CAROLINE MOREIRA-FERREIRA

A INTERPESSOALIDADE EM

BLOGS

SOB A PERSPECTIVA

SISTÊMICO-FUNCIONAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como

exigência parcial para obtenção do título de

MESTRE

em

Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem, sob

orientação do Prof. Dr. Orlando Vian Jr.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

(3)

Banca examinadora

____________________________

Prof. Dr. Orlando Vian Jr. (Orientador)

____________________________

(4)

RESUMO

O objetivo deste trabalho é analisar os elementos interpessoais presentes em blogs, bem como caracterizar a maneira como ocorre a interação entre blogueiros e usuários, uma vez que, com o advento da Internet, diversos gêneros passaram a circular no mundo virtual e torna-se necessário compreender como estes se caracterizam. O corpus de estudo compõe-se de sete blogs, todos escritos em língua portuguesa, nos quais foram analisados 251 relatos (posts) e 5.521 comentários (comments) veiculados nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2005, totalizando 215.926 palavras. Utilizou-se a Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday (1985, 1994) e demais seguidores (Eggins, 1994, Thompson, 1996, dentre outros) para a análise da metafunção interpessoal, de forma a caracterizar a interação entre blogueiro e os usuários que acessam seu blog, para uma maior compreensão de como ocorre essa troca comunicacional no universo virtual. O corpus de estudo, classificado como pequeno-médio (de 80 a 250 mil palavras), segundo a Lingüística de Corpus (Berber Sardinha, 2004), foi submetido ao programa computacional WordSmith Tools (Scott, 1998), e às ferramentas nele disponíveis tais como Concordanciador (Concord) e Lista de Palavras (WordList) utilizadas para analisar os seis itens que caracterizam, pela freqüência com que são empregados, os textos dessa interação virtual entre os participantes no contexto digital, quais sejam: (1) formas de tratamento, (2) pronomes, (3) nomes/nicknames, (4) emoticons, (5) itens de demonstração de afeto/carinho e (6) abreviações. Com base em tais análises, os resultados apontam que a interação entre blogueiros e usuários fica estabelecida a partir do momento em que o autor deixa seu post on-line e um leitor o acessa, comentando sobre o assunto do post. O papel assumido pelo blogueiro, portanto, é o de informante, seja para dar informações sobre sua própria vida, ou qualquer outro fato ou acontecimento relatado em seu blog. O usuário assume o papel de leitor/produtor, pois ao mesmo tempo em que lê o texto pode participar de sua produção. Os blogs veiculados na Internet que compõem o corpus desta pesquisa são, portanto, textos construídos conjuntamente pelos blogueiros e pelos usuários.

(5)

ABSTRACT

This study aims to analyze the interpersonal elements present in blogs and to characterize the way in which the interaction between bloggers and users occurs. Since the advent of the Internet, several genres have started to circulate in the virtual world and it has become necessary to understand their characteristics. The corpus of this study is composed of seven blogs, all of them written in Portuguese. Of these blogs, 251 posts and 5,521 comments posted in the months of January, February and March of 2005, totaling 215,926 words, were analyzed. The Systemic Functional Grammar of Halliday (1985, 1994) and followers (Eggins, 1994, Thompson, 1996, among others) was used to analyze the interpersonal metafunction, so as to characterize the interaction between bloggers and the users that access their blogs, aiming at a better understanding of how this communicational exchange occurs in the virtual universe. The corpus, classified as small-medium (from 80 to 250 thousand words), according to Corpus Linguistics (Berber Sardinha, 2004), was submitted to the software WordSmith Tools (Scott, 1998) and to the tools it offers, such as Concord and WordList, used to analyze the six items that characterize, due to the frequency with which they are employed, the texts of this virtual interaction between the participants in the digital context: (1) forms of address, (2) pronouns, (3)

names/nicknames, (4) emoticons, (5) items that show affection/kindness and (6) abbreviations. Results show that the interaction between bloggers and users is established when the author posts his/her text on-line and a reader accesses it, commenting on its subject. The role assumed by the blogger, therefore, is that of informant, either to give information about his/her own life, or about any other fact or event reported in his/her blog. The user assumes the role of reader/producer, for at the same time that s/he reads the text, s/he can participate in its production. The Internet blogs that compose the corpus of this research are, therefore, texts constructed jointly by bloggers and users.

(6)

Eu queria mandar um beijo

pro meu pai,

pra minha mãe,

pra minha avó e

pro Hector.

(7)

AGRADECIMENTOS

A D’us, portudoem minha vida, principalmente meus sonhos já realizados. Ao meu Orientador Prof. Dr. Orlando Vian Jr.

Por estar ao meu lado desde o rascunho do meu primeiro projeto, quando nem imaginava que minha paixão pelo mundo virtual me levaria à pesquisa e me faria apaixonar por ela também. Obrigada pela paciência que teve comigo quando fui

“alma penada” nesse caminho, e ter me apoiado sempre, me guiado para o caminho da sabedoria e aprendido muito durante todo esse tempo. Pelos conselhos, puxadas de orelha, encorajamento em desafiar o novo e o desconhecido, tanto no mundo acadêmico como na vida. Pela amizade que nasceu e espero não perder por conta do tempo e da distância. E claro, nossos sempre animados papos sobre cinema e Harry Potter ; )

Ao meu pai.

Por me fazer sentir seu amor absoluto, pelos seus esforços, suas noites e dias em claro, e as oportunidades que sempre me proporcionou, “obrigada” é pouco em forma de agradecimento por tudo, te amo muito.

À minha mãe.

Por nunca ter deixado que eu desistisse de nenhum dos meus sonhos mesmo quando eles são quase impossíveis, por ter brigado comigo pelas intermináveis noites em que ficava conectada na adolescência, e ainda bem que eu não te obedeci, senão nada disso poderia ter acontecido. Você é meu exemplo de mãe, mulher, esposa e profissional, te amo.

À minha avó.

(8)

Ao Mauro Sobhie e a Prof• Dra. Sumiko Nishitani Ikeda,

Por participarem da banca de qualificação, em especial à Sumiko, por todos esses anos de aprendizagem desde o início do curso de Letras e pela inspiração de que eu chegarei onde quiser, desde que realmente queira.

A todos os professores do LAEL.

Em especial ao Prof. Dr. Tony Berber Sardinha, pelas dicas de WordSmith Tools, Lingüística de Corpus e Macintosh que me salvaram sempre.

A todos os meus queridíssimos amigos, especialmente.

Glooque sem seu empurrão inicial irmãzinha, nada disso teria começado. Obrigada por muita coisa que já passei ao seu lado!

Glauco Maximiliano, que acompanhou o processo de mutação e nunca me deixou perder o controle, me lembrando que estudar é preciso, mas viver é ainda mais, principalmente pelas pedaladas no Ibira durante a semana ; )

Rosinha que mesmo com fuso horário, distância, gente chata e outras coisas mais, não deixou que nada atrapalhasse nosso contato, né cumádi?!

Paulo Murilo, pelas gargalhadas que sempre dei em alto e bom som com você ao meu lado, e também por não deixar que eu concretizasse meus planos do futuro nos momentos de surto.

Ao CNPq

pelo apoio financeiro que viabilizou a realização dessa pesquisa e a concretização de uma antiga ambição

.

Por fim, Fel

(9)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 08

1.1 – A Internet e a Linguagem Virtual ... 08

1.2 – Os blogs e a blogosfera ... 18

1.3 – A abordagem Sistêmico-Funcional da linguagem ... 25

1.4 – O contexto ... 26

1.4.1 – O contexto de cultura …………...………...……. 27

1.5 – O contexto de situação ... 29

1.6 – As três metafunções ... 34

1.6.1 – A metafunção ideacional ... 35

1.6.2 – A metafunção textual ... 36

1.6.3 – A metafunção interpessoal ... 36

CAPÍTULO II – METODOLOGIA DE PESQUISA ... 43

2.1 – Apresentação do corpus ... 44

2.1.1 – Descrição dos blogs ... 45

2.2 – Os blogs analisados ... 49

2.2.1 – Uma dama não comenta ... 52

2.2.2 – Jesus, me chicoteia! ... 54

2.2.3 – No limite da razão ... 57

2.2.4 – Crônicas Mônica ... 59

2.2.5 – Não vá se perder por aí ... 60

2.2.6 – Suburbia Tales ... 61

(10)

2.3 – Compilação de dados ... 65

2.4 – A ferramenta computacional WordSmith Tools ... 67

2.5 – Lingüística de Corpus ... 74

CAPÍTLO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ... 79

3.1 – Marcas da interação blogueiro-internauta ... 80

3.2 – Análise dos blogs ... 85

3.2.1 – Formas de tratamento nos blogs ………... 87

3.2.2 – Pronomes ……….………... 92

3.2.3 – Nomes/Nicknames ………...………. 97

3.2.4 – Emoticons ………... 103

3.2.5 – Demonstrações de afeto/carinho ……….…... 107

3.2.6 – Abreviações ………... 112

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 118

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ... 128

(11)

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Funções da fala e suas realizações ... 38

QUADRO 2 – Papéis de fala ... 39

QUADRO 3 – Os blogs e seus autores ... 46

QUADRO 4 – Tokens e Types dos posts ... 47

QUADRO 5Tokens e Types dos comments ... 48

QUADRO 6 – Número total do corpus ... 48

QUADRO 7 – Freqüência total de posts ... 50

QUADRO 8 – Freqüência de posts do trimestre do Blog1 ... 53

QUADRO 9 – Freqüência de posts do trimestre do Blog2 ... 56

QUADRO 10 – Freqüência de posts do trimestre do Blog3 ... 58

QUADRO 11 – Freqüência de posts do trimestre do Blog4 ... 59

QUADRO 12 – Freqüência de posts do trimestre do Blog5 ... 61

QUADRO 13 – Freqüência de posts do trimestre do Blog6 ... 62

QUADRO 14 – Freqüência de posts do trimestre do Blog7 ... 64

QUADRO 15 – Tamanho sugerido de corpus ... 76

QUADRO 16 – Palavras freqüentes ... 83

QUADRO 17 – Freqüência de abreviações ...114

QUADRO 18 – Freqüência de abreviações ... 116

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Gênero em relação ao registro e a linguagem ... 31

FIGURA 2 – Lista de freqüência dos blogs. ... 69

FIGURA 3 – Lista em ordem alfabética dos blogs ... 70

FIGURA 4 – Lista de estatística do corpus ... 71

FIGURA 5 – Exemplo de concordância da palavra beijos feita pelo Concord .. 72

FIGURA 6 – Distância espacial ou interpessoal (Eggins: 1994: 54) ... 73

FIGURA 7 –Gráfico de um corpora representativo ... 76

FIGURA 8 – Distância espacial ou interpessoal (Eggins: 1994: 54) ... 81

FIGURA 9Wordlist das palavras mais freqüentes ... 82

FIGURA 10Clusters da palavra “você” encontradas no texto ... 95

FIGURA 11Clusters do pronome no corpus do Suburbia Tales ... 96

(12)

“A web é uma criação mais social que técnica.

Eu a construí para um efeito social – ajudar as pessoas a

trabalhar juntas – e não como um brinquedo tecnológico.

A finalidade última da Web é ajudar a melhorar a “teia” de nossa

existência no mundo.

Nós nos agrupamos em famílias, associações e empresas (…).

O que acreditamos, endossamos e aceitamos é representável e,

cada vez mais, representado na Web.”

(13)

INTRODUÇÃO

Com a Internet, ocorreu a possibilidade de leitura dos correios eletrônicos; de visitas aos websites pessoais; de trabalhos de busca detalhados para determinado tema; pagamento de contas; pedidos de produtos e, também, escrever seu próprio diário diante da tela do computador.

Na cultura eletrônica e digital, por um lado, as comunicações não se realizam somente por meio da linguagem adequada ao meio pela qual se está interagindo, o da palavra gerada pela voz ou registrada pela letra digitada. Imagens em movimento e um complexo campo de linguagens artificiais movimentam infinitas interações, causando na cultura virtual um hibridismo significativo dessas diferentes mídias a que estamos expostos atualmente .

Por outro lado, falar de Internet hoje é refletir no que ela foi há pouco tempo, num passado ainda recente, tamanha a sua capacidade de se expandir e mudar, ou, em concordância com Costa (1998: xiv), nesse novo universo digital, o usuário tem uma outra concepção de tempo e durabilidade, que faz com que uma palavra fique ultrapassada em questão de segundos, minutos, horas.

(14)

O interesse de desenvolver um estudo um pouco mais intenso sobre esse novo meio de comunicação – o virtual, ao qual estamos todos expostos cada vez mais – iniciou-se na época da graduação em Letras, em minha pesquisa de Iniciação Científica (Moreira-Ferreira, 2003) em que analisei nos blogs e nos diários íntimos (relatos de guerra, especificamente), as características que ainda havia nos weblogs e em seus precursores e as comparações entre eles, enquanto gêneros.

Um blog (ou weblog, como também é chamado na blogosfera) é uma página da web cujas atualizações, chamadas de posts, são organizadas cronologicamente como um diário, escritos em diferentes lugares do mundo e acessados em qualquer lugar, pela Internet.

É importante mencionar que estes relatos podem ou não pertencer ao mesmo tipo de texto. Neste sentido, podemos observar que, em determinado dia, o blogueiro escreve sobre seu cotidiano; no outro, expõe uma opinião sobre a política do país; ainda, sobre a derrota de um time de futebol, uma crítica sobre filmes, e assim por diante. Há também os que se referem ao mesmo assunto, como é o caso que tomamos como modelo para esta pesquisa Jesus, me chicoteia! em que o blogueiro Marco Aurélio se propôs a reescrever a Bíblia sob sua visão de mundo, mesmo que em alguns dos posts ele mencione fatos de sua vida pessoal. Além disso, podemos exemplificar com outro blog do

corpus, o Suburbia Tales, escrito por oito blogueiros diferentes.

A maioria dos blogs é um registro dos blogueiros,1 feito com total liberdade e com o subsídio de algumas ferramentas que incluem o armazenamento de números de acessos dos internautas2, links3 deixados pelos

1 Especificamente para este estudo, utilizo a palavra blogueiro como denominação ao escritor,

autor do blog.

2 Como internauta, nomeio o visitante/leitor/comentarista dos blogs, já que ambos os

(15)

blogueiros de páginas sempre visitadas ou que despertem algum interesse para a comunidade digital, a hora em que o post foi escrito e uma série de outras informações disponíveis, fornecida pelos servidores que abrigam determinados sites para blogs.

No blog, ocorre um direcionamento escritor-leitor, mas, muitas vezes, há o emprego de uma linguagem mais informal, escrita de forma diferente, chamada de “internetês” por seus usuários. Trata-se de uma linguagem surgida no ambiente da Internet, baseada na simplificação informal da escrita, que consiste em uma codificação que utiliza caracteres alfanuméricos, cria novas abreviaturas, novas formas de escrita e de significados, para adaptar-se ao meio digital e proporcionar maior desenvoltura aos que a usufruem.

O número total dos corpora deste estudo, armazenados e coletados em sete blogs que contêm também os posts dos blogueiros e os comments dos internautas, de janeiro a março de 2005, é o seguinte: 215.926 palavras, 251

posts e 5.521 comments dos respectivos meses de coleta.

Assim, este trabalho propõe-se analisar os blogs com base na Gramática Sistêmico-Funcional de Halliday (1985) e demais seguidores (Eggins, 1994; Thompson, 1996, dentre outros) para o estudo da metafunção interpessoal, a interação do blogueiro com o internauta que o acessa e como se dá este intercâmbio sob a perspectiva interpessoal de Halliday (1994).

Fundamentando-nos na análise desses sete blogs que compõem o corpus pesquisado, nos quais são interpretadas as interações entre blogueiro e internauta, este estudo tem como objetivo responder às seguintes questões:

3 Ligação, elo, vínculo; ligar, conectar. (1) Parte de um subprograma que interage com o

(16)

Quais os papéis assumidos pelos internautas nos posts e nos

comments dos blogs?

Quais as relações construídas por ambos no mundo virtual?

Como se caracteriza essa interação criada por ambos os usuários da Internet?

Decidiu-se utilizar o instrumento computacional WordSmith Tools (Scott, 1998), para olevantamento de uma lista de palavras (WordList) e concordâncias que apresentavam sinais de interação entre os participantes da pesquisa (Concord e Clusters foram usados para isso). Para isto, enfocaremos seis elementos que caracterizam esta comunicação virtual entre os interactantes:

tratamentos (amore, calégas, people, etc.); pronomes (eu, você, este último, em sua variação VC, muito usado na linguagem virtual); nomes/nicknames

(alguns blogueiros, como Tiago e Mônica usam seus próprios nomes, no entanto

Cacau e Your Sou, utilizam seus apelidos para assinarem seus posts);

emoticons (:), :p, ;), etc.), demonstrações de afeto/carinho (beijo, abraço, risos) e abreviações (mto, tb, bj, pq entre outras).

Tais escolhas gramaticais, que marcam a interação entre os blogueiros e os internautas, foram feitas a partir do levantamento das mais freqüentes nos sete blogs, com o subsídio do WordList.

Assim, este trabalho está dividido em quatro capítulos, a saber:

O Capítulo 1 apresenta os pressupostos teóricos que embasam esta pesquisa. Num primeiro momento, exporemos o contexto em que o corpus de pesquisa está inserido, a Internet, pois, uma vez que o foco deste trabalho é o

(17)

Em seguida, enfocaremos as teorias da Gramática Sistêmico-Funcional (doravante GSF), de acordo com as noções que norteiam a visão da Lingüística Funcional, segundo Halliday (1985, 1994) e Halliday e Mathiessen (2004). Concentramos nossa análise na metafunção interpessoal, sob a qual tratamos as questões que envolvem o manejo da interação, tipos de papéis e relações.

No Capítulo 2, trataremos da metodologia que norteia a presente pesquisa. Para isso, descreveremos o procedimento de coleta e análise do corpus, além de uma breve apresentação do instrumento computacional

WordSmith Tools 3.0 (Scott, 1998) e das ferramentas (Concord e WordList ) que foram usadas para analisar a interação blogueiro-internauta, o foco da pesquisa. Será descrita também a Lingüística de Corpus como fundamentação metodológica e a apresentação dos sete blogs utilizados neste estudo.

No Capítulo 3, discutiremos e analisaremos os dados. Baseando-nos na interpretação do sete blogs, observamos como a interação é organizada e quais são os papéis desempenhados pelos participantes da interação, em um período de três meses, durante os quais verificamos os posts e comments, a fim de entender como se desenvolve a interação entre blogueiros e internautas.

Nas Considerações Finais, além de apresentar uma retomada de todo o trabalho e os resultados obtidos, há também as limitações da pesquisa, alguns problemas apresentados em decorrência da velocidade em que surgem quase todas as informações no mundo digital, seguidas das contribuições para os outros estudos na área e as possibilidades de estudos futuros que envolvam os

blogs.

(18)
(19)

“A distância significa cada vez menos no mundo digital.

De fato um usuário da Internet não se apercebe dela (…) quando

um sistema de entrega que se parece mais com a Internet

começar a ser usado no mundo do entretenimento, o planeta se

tornará uma só máquina de mídia.

Casas equipadas hoje com antenas movies de satélite já têm o

gostinho de uma variedade enorme de programação, sem

barreiras geopolíticas.

O problema é como lidar com tudo isso.”

(20)

CAPÍTULO 1

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O objetivo deste capítulo é descrever os pressupostos teóricos que dão suporte a este trabalho. Em um primeiro momento, será exposto o contexto em que o corpus de pesquisa circula, ou seja, a Internet, pois, uma vez que o foco deste trabalho é o blog, é necessário que compreendamos alguns tópicos relacionados ao virtual.

Serão apresentados, também, os domínios da Internet, nos quais o blog

se insere e será igualmente descrita a linguagem virtual utilizada e empregada neste meio de comunicação digital, além de um breve histórico da blogosfera.

Em seguida, como já mencionamos, enfocaremos a abordagem de linguagem adotada neste trabalho, as teorias da Gramática Sistêmico-Funcional (doravante GSF), de acordo com as noções que norteiam a visão da Lingüística Funcional, segundo Halliday (1985, 1994) e Halliday & Mathiessen (2004). Com base na abordagem sistêmico-funcional, concentramos nossa análise na perspectiva interpessoal, sob a qual tratamos as questões que envolvem o manejo da interação, tipos de papéis e relações.

1.1 – A INTERNET E A LINGUAGEM VIRTUAL

(21)

grupos de discussão, entre outros artifícios que surgem diariamente nela. Refletir sobre esta rede nos dias atuais, como já afirmamos, é relembrar o que ela foi num passado não muito longínquo, tal a maneira como ela se transforma .

Sem dúvida, é preciso considerar a modernidade, as novas tecnologias, novas terminologias que representam entre outras coisas as transformações – e por que não, concordando com Lévy (1996) “a revolução pela qual passamos na atualidade: a passagem da Era Analógica para a Digital”. Esta abertura digital não se restringe somente às mudanças tecnológicas, mas traz consigo mudanças sociais, culturais, econômicas, entre outras, que por sua vez transformam, não somente o cotidiano, mas o modo como percebemos o mundo, ou, como cita Lévy (1999:32):

Vivemos hoje em uma destas épocas limítrofes na qual toda a antiga ordem de representações e dos saberes oscila para dar lugar a imaginários, modos de conhecimento e estilos de regulação social ainda pouco estabilizados. Vivemos um destes raros momentos em que, a partir de uma nova configuração técnica, quer dizer, de uma nova relação com o cosmos, um novo estilo de humanidade é inventado.

A quantidade de informações a que somos expostos está se tornando cada vez mais avançada, em decorrência da associação das telecomunicações e da informática, dando causa ao desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitam o intercâmbio de informações em tempo real.

(22)

Os primeiros computadores4 surgiram na Inglaterra e nos Estados Unidos, em 1945, porém estavam restritos ao uso militar e aos cálculos científicos. Somente a partir da década de 70, com o desenvolvimento e comercialização de microprocessadores (unidade de cálculo aritmético e lógico localizado em um pequeno chip eletrônico) é que tiveram início diversos processos econômicos e sociais debastante amplitude, que, de acordo com Lévy(1997:31):

(...) abriram uma nova fase na automação da produção industrial: robótica, linhas de produção flexíveis, máquinas industriais com controles digitais, etc. Presenciaram também o princípio da automação de alguns setores do terciário (bancos, seguradoras). Desde então, a busca sistemática de ganhos de produtividade por meio de várias formas de uso de aparelhos eletrônicos, computadores e redes de comunicação e dados aos poucos foi tomando conta do conjunto das atividades econômicas. Esta tendência continua em nossos dias.

A tecnologia e os conceitos fundamentais utilizados pela Internet surgiram de projetos produzidos ao longo dos anos 60, pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Esses projetos tinham em vista o desenvolvimento de uma rede de computadores para comunicação entre os principais centros militares de comando e controle para que pudessem sobreviver a um possível ataque nuclear.

Em 1957, a então União Soviética pôs em órbita o satélite espacial

Sputnik. Quatro meses depois, nos Estados Unidos, foi criada a ARPA

(Advanced Research Projects Agency) com a missão de pesquisar e desenvolver alta tecnologia para as forças armadas. Surgiu deste modo um novo conceito: a comunicação em rede.

Em 1969, a “rede de pacotes”, sob o nome ARPAnet, conectou quatro universidades norte americanas: Stanford, Berkelly, UCLA e Universidade de Utah. Ao longo das décadas de 70 e 80, muitas universidades se conectaram a

4 Todos os dados históricos referentes ao computador foram coletados do site

(23)

essa rede o que conduziu a ação militarista ao uso da rede para uma motivação mais cultural e acadêmica. Em meados de 1980, a NSF (National Science Foundation) dos Estados Unidos constituiu uma rede de fibra ótica de alta velocidade, conectando centros de supercomputação localizados em pontos-chave do país.

Essa rede NSF, chamada de “backbone da NSF”, teve um papel fundamental no desenvolvimento da Internet nos últimos anos desde a metade da década de 80 quando foi criado, por ter reduzido substancialmente o custo da comunicação de dados para as redes de computadores que foram estimuladas a se conectarem ao backbone da NSF. Em abril de 1995, o controle da backbone

pela NSF acabou passando para o controle privado.

A WWW (World Wide Web5) nasceu em meados de 1991 no Laboratório

CERN (Conselho Europeu para Pesquisa Nuclear), na Suíça. Seu criador, Tim Berners-Lee, a concebeu como uma linguagem que serviria para interligar computadores do laboratório e de outras instituições de pesquisas, além de exibir documentos científicos de forma simples e ser fácil de acessar. O endereço da Web é chamado de URL6, e cada recurso (site ou arquivo) tem um URL, que é o endereço da web. O sistema mais utilizado para a transferência de dados da Web pela Internet é o http7, ou o protocolo de transferência de hipertexto.

5 Todos os dados históricos referentes à Internet foram coletados do site

http://www.isoc.orr/internet/history/brief.shtml (acessado em 23/11/2005), exceto as partes referentes à Internet no Brasil. Quando não houver referência, se trata de experiências de fatos já [sabidos]= conhecidos pela pesquisadora.

6

Uniform Resource Locator (localizador uniformizado de recursos). Na internet, uma forma padronizada de se especificar o endereço de qualquer recurso, site ou arquivo existente em um servidor da WWW. Em outras palavras, é o endereço de um site da WWW na Internet.

7 HyperText Transfer Protocol (protocolo de transferência de hipertexto): o modo pelo qual os

(24)

O que determinou o crescimento da Web foi a criação de um programa de navegação chamado Mosaic, que permitia o acesso a Web num ambiente gráfico, parecido com o Windows. Antes do Mosaic só era possível exibir textos na Web.

A WWW disponibiliza os recursos ao usuário de maneira simples: links

(apontadores) são incluídos no hipertexto8 /texto e indicam a localização do alvo, que pode ser outro texto, uma imagem, uma parte de outro texto, um servidor de

Gopher9, um serviço de FTP10 ou qualquer outro tipo de informação.

A rede é um sistema aberto, definido por Castells (2000:498) como: “(...) um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta”. É a conexão entre esses nós, conhecidos como hipertextos, determina o funcionamento da rede. A Internet é considerada a rede das redes, ou melhor, a única rede que permite o fluxo de informação estabelecido pelos nós.

O trabalho de localização e exibição das novas informações é feito a partir de sua aplicação local em contato com o provedor e, por meio deste, com os demais servidores. Os links incluídos nos textos dos documentos não são vistos diretamente pelo usuário, mas são interpretados e exibidos somente pelo

browser11, que apresenta uma ou mais palavras sublinhadas ou sensibiliza uma imagem ou um ícone que aciona no sistema uma direção como a do hipertexto.

protocolo mais usado para transferir informação de servidores a navegadores na WWW, razão pela qual a maioria dos endereços das páginas da Web começa com http://.

8 Texto não-linear, caracterizado pela presença de

links que ligam vários documentos.

9

Sistema de redes que permitia, com software adequado, guiar o usuário de um arquito a outro.

10

File Transfer Protocol: define uma estratégia para os arquivos serem transferidos por meio da Internet.

(25)

A chave de sucesso da WWW é o hipertexto. Os textos e imagens são interligados através de palavras-chave, tornando a navegação simples e mais agradável. A Web fez pela Internet o que o Windows fez pelo computador pessoal (antes da Web os comandos eram em UNIX12 – linguagem de computador usada na Internet).

É possível, por meio da Internet, enviar e receber mensagens, pesquisar, buscar informações, participar de cursos a distância, fazer propaganda, comercializar produtos e serviços, divertir-se ou, simplesmente, “navegar” pelo mundo virtual. No entanto, dada à rapidez com que a Internet se instalou na vida de seus usuários, provavelmente, muitos serviços e usos estão por vir, ou como nos diz Lévy (1997:26):

[...]muitas vezes, enquanto discutimos sobre os possíveis usos de uma dada tecnologia, algumas formas de usar já se impuseram. Antes de nossa conscientização, a dinâmica coletiva escavou seus atratores. Quando finalmente prestamos atenção, é demasiado tarde.

Em 1990, foi criado um projeto do Ministério da Educação – A Rede Nacional de Pesquisa (RNP) – para gerenciar a rede acadêmica brasileira. Em 1992, instalou-se a primeira “espinha dorsal”, com a finalidade de conectar a Internet nas principais universidades e em centros de pesquisa do país, além de algumas organizações não-governamentais, como o Instituto Nacional de Análises Sociais e Econômicas (IBASE13).

Com a elaboração de softwares e interfaces cada vez mais fáceis de serem manipuladas, as pessoas foram se encorajando a participar da rede. O grande atrativo da Internet era poder trocar e compartilhar idéias, estudos e

12

Sistema operacional produzido pelos Bell Laboratories em 1971 para os microcomputadores DECPDP11.

(26)

informações com outras pessoas que, muitas vezes, nem se conheciam pessoalmente.

Em 1994, no dia 20 de dezembro, a EMBRATEL lançou o serviço experimental a fim de conhecer melhor a Internet e em 1995, foi liberado seu uso comercial, no Brasil. Em meados de 1997, surgiram no país os primeiros provedores de acesso comerciais à rede.

Já é consenso que a Internet tornou o mundo menor, pois com o tempo a rede foi evoluindo e hoje existe uma verdadeira teia de conexões. É importante ressaltar que a Internet é o nome dado a todo o sistema (cabos, protocolos,

conexões, roteadores), que permite que as pessoas, dos seus

microcomputadores, se conectem e se comuniquem com os demais computadores, para localizar informações ou manter contato com amigos

Ao tecermos considerações sobre a Internet, é necessário que consideremos também a linguagem utilizada nos meios virtuais e a oposição entre real e virtual, questão discutida por Lévy, em “O atual e o virtual” (1996:15), em que o autor considera, primeiramente, a oposição fácil e enganosa entre real e virtual. A palavra virtual é empregada para a pura e simples ausência da realidade.

Virtual vem do latim medieval virtualis, derivado de virtus, forças, potências. O virtual tende a atualizar-se; virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes.

(27)

A utilização das novas tecnologias está modificando e redefinindo a experiência humana, ao gerar novas relações a partir de “redes” de comunicação. As redes eletrônicas, os satélites e os aparatos de difusão tornam próximos e presentes e, até mesmo em tempo real, acontecimentos separados por dimensões físicas e geográficas, por meio da convergência do suporte técnico, do conteúdo e da veiculação das informações e/ou serviços.

Com o surgimento da Internet, criou-se um ambiente diferente: o ciberspaço, definido por Lévy (2000:92) como:

(…) um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes de hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização.

O ciberespaço e as novas tecnologias são intermediárias do contato entre duas ou mais pessoas, estabelecendo uma comunicação intermediada por computadores que proporcionam outros tipos de relações, como: homem-homem, homem-máquina e máquina-máquina.

A comunicação não é somente com uma máquina, mas a partir de conexões em rede pode-se comunicar com inúmeras máquinas, sem saber qual o caminho percorrido pela informação. Considere-se, também, a interação máquina-máquina quando são trocadas informações; ou seja, para o acesso à Internet, o computador está interagindo com outros, passando informações e buscando outras.

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Como se pode depreender pelo exposto anteriormente, é muito difícil separar os mundos real e virtual. Desta fronteira ou interface difusa emerge uma ligação tão íntima e estreita que eles acabam por se fundir em um complexo ainda maior.

Lévy (2000:81) alerta para os aspectos da interatividade, considerando a gerada pelo telefone como maior ou menor que a proporcionada pelas novas tecnologias, dependendo da interpretação.

E ainda complementa:

A comunicação por mundos virtuais é, portanto, em certos sentidos, mais interativa que a comunicação telefônica, uma vez que implica, na mensagem, tanto a imagem da pessoa como a da situação, que são quase sempre aquilo que está em jogo na comunicação. Mas, em outro sentido, o telefone é mais interativo, porque nos coloca em contato com o corpo do interlocutor. Não apenas uma imagem de seu corpo, mas sua voz, dimensão essencial de sua manifestação física.

A realidade virtual somente é possível de ser experimentada porque o mundo real serve de parâmetro para a definição do que pode ser considerado virtual, concretizando assim a sua existência. Porém, não se pode traçar quaisquer correlações entre o inconsciente e o virtual e entre o consciente e o real. Tampouco se pode dizer que o inconsciente seja o virtual do consciente, e muitas vezes o imaginário não precisa necessariamente ser inconsciente para existir como pode ser observado, por exemplo, em Lévy (2000).

A transição do texto impresso para o eletrônico promete criar uma mudança brusca na maneira como acessamos, lemos e entendemos a informação.

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Como exemplo, nesse meio virtual, a palavra beijos pode ter as seguintes variações de escrita: bjs, bjos, bejos, bjus, e talvez tantas outras, pois o modo de escrita de cada internauta é uma característica única, somente dele, a sua identidade no mundo virtual que o faz ser único, singular, distinto dos demais habitantes que vivem nesse mesmo espaço digital.

Com a revolução do mercado mundial, a multimídia ou a comunicação interativa é o mais recente meio utilizado, graças ao vertiginoso desenvolvimento dos sistemas de computação pessoal, que invadiram todos os setores da atividade humana.

Essa nova forma de interação social afeta o indivíduo e sua identidade, porquanto os novos gêneros virtuais passaram a participar da vida de todos e fizeram com que o cotidiano se modelasse com o século XXI e a sua modernidade deste século, e, conseqüentemente, dos próximos, segundo especifica Levy (2004:17): “a ’virtualização’ não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação, um deslocamento”.

Com essa inovação na forma de comunicação virtual, novos meios de compartilhar as informações nela disponibilizadas foram criados, ou melhor dizendo, modificados, dentre eles, a linguagem virtual utilizada na Internet que, segundo Lévy (1996), se distingue, conceitualmente, do reino do ficcional e do imaginário. O que a torna diferente da locução comumente vista como tal é o fato de que essa linguagem virtual se torna possível pela informática – dos computadores e das telecomunicações.

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Uma comunidade virtual, no sentido em que se emprega a expressão hoje, é uma comunidade constituída por pessoas que não habitam necessariamente numa mesma região, mas que se encontraram e se mantêm unidas através de computadores e das telecomunicações - isto é, através das muitas redes de comunicações que hoje interligam os usuários de computadores.

Para Marcuschi (2004:64), a idéia de linguagem virtual parece clara quanto à escrita “nos gêneros em ambientes virtuais que se dá numa certa combinação com a fala, manifestando um hibridismo ainda não bem conhecido e muitas vezes mal compreendido”, pois no meio em que esse tipo de língua circula, existem diversas maneiras de escrita, uma mescla entre o oral e o escrito, muitas vezes, criando outras abreviações, novos símbolos e diferentes significados.

Todas as transformações ocorridas nos meios de comunicação levaram o indivíduo a construir significados diversos para sua interação no contexto sócio-histórico ao qual pertence, adaptando-se às mídias e linguagens tecnológicas mais recentes, e em meio a essa novidade, o universo digital, encontra-se o objeto de estudo da presente pesquisa: o blog, que passaremos a conhecer a partir de agora, desde sua origem na Internet.

1.2 – OS BLOGS E A BLOGOSFERA

O blog é um gênero emergente e híbrido do diário confessional, e de acordo com Marchuschi (2004:13), “os gêneros emergentes nessa nova tecnologia são relativamente variados, mas a maioria deles tem similares em outros ambientes, tanto na oralidade como na escrita”. Daí a idéia de que o blog

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Por conta disto, dessa informatização de tudo o que esteve recentemente no nosso passado, falar de Internet é ter um dado diferente a cada segundo que se torna já ultrapassado quase no mesmo instante de sua criação. Dessa forma, o computador passou a desenvolver uma linguagem própria para seu ambiente virtual, a fim de se adaptar às novas formas de ver o mundo digital, ou seja, ele diverte, educa, emociona, motiva, informa, orienta, enfim, nos faz comunicar com o mundo todo por meio de uma tela de acrílico, um cabo de fibra óptica, uma unidade central de sistema e um teclado.

Podemos acrescentar que esta máquina vem quebrando barreiras, pois desaparecem as fronteiras existentes entre as pessoas, uma vez que podem estabelecer contato com vários lugares do mundo, ou para uma conversa informal iniciada no chat de algum site, ou para compensar as saudades de alguém por intermédio de uma webcam, além de propiciar uma comunicação muito mais rápida do que as cartas, telegramas ou mesmo telefonemas, mediante o e-mail.

Dentre os gêneros veiculados no mundo virtual, um revelou-se significativo na modernidade: o blog. Por ser um item virtual de fácil acesso, não necessita de que o usuário seja um programador ou saiba os segredos de linguagens de programação, o HTML,14 o Java15 ou qualquer outra, podendo se hospedar em qualquer provedor em que haja esta ferramenta.

Algo simples, fácil tanto para acessá-lo quanto para atualizá-lo e, talvez, o motivo para ter se tornado esse fenômeno: a praticidade Internet. A agenda contendo rabiscos, confidências, com fotos e bilhetinhos colados, é típica do

14

Linguagem de marcação de hipertexto. Linguagem que permite criar programas que trabalham com textos e imagens numa mesma tela simultaneamente.

15 Uma linguagem de programação baseada em rede, é especificamente projetava para escrever

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adolescente, porém, criar um mundo próprio e personalizado na blogosfera foi o meio que os adultos encontraram para soltar a imaginação, expondo farto material.

Para Crystal (2001:170, apud Marchuschi, 2004:63) a interação que acontece no meio virtual é fascinante por “observar a linguagem em seu estado mais primitivo” e por se evidenciar uma “versatilidade lingüística entre as pessoas, sobretudo nos jovens”, pelo fato da nova geração que nasceu e até mesmo cresceu juntamente a origem e propagação da Internet pelo mundo afora, ingressar neste universo cada vez mais cedo, podendo ter como primeiro brinquedo, em muitos casos, um teclado de computador.

Ao considerarmos os blogs a partir de uma perspectiva histórica, veremos que há controvérsias sobre a sua história. Há quem afirme ter sido usado pela primeira vez em dezembro de 1997, por John Barger16 (também autor de um dos primeiros FAQsfrequently asked questions) para descrever sites pessoais que fossem atualizados freqüentemente e tivessem comentários e

links acessíveis aos usuários.

Porém, há pessoas que dizem que seu início se deu quando foi criado o

Blogger17 que tem como domínio o blogspot.com, em agosto de 1999, pelo norte-americano Evan Williams18, criador do maior site hospedeiro de blogs,

mundialmente falando.

No entanto, há ainda quem afirme que o primeiro weblog foi o primeiro

website, o site construído por Tim Berners-Lee, quando instituiu a Web19, o qual,

16 John Barger: http://barbela.grude.ufmg.br/gerus/noticias.nsf (acessado em 11/11/2005)

17http://www.blogger.com

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felizmente, ficou arquivado no World Wide Web Consortium20.

A única certeza é que se trata de um fenômeno bastante recente, existente há apenas poucos anos, mas, apesar disso, o seu desenvolvimento tem sido significativo, havendo já inúmeras pessoas denominadas blogueiras.

Os números da blogosfera, quando os dados utilizados para esta dissertação foram coletados, apresentavam as seguintes características, de acordo com informações obtidas pelo site Technorati21:

 existem 40,7 milhões de blogs em todo o mundo;

a cada dia são criados, mais ou menos, 75 mil novos blogs;  existem na blogosfera que hospeda os blogs, 2,4 bilhões de links;  cerca de 1,2 milhões de posts são publicados por dia; com 50 mil

updates por hora;

 são 70 milhões de usuários, isto é, 14% dos internautas do planeta;  no Brasil, 43% dos internautas lêem blogs regularmente;

 os brasileiros passam 23% do seu tempo de navegação visitando

blogs e comunidades virtuais.

Quando se procura uma explicação para o fato de mais de 1 milhão de pessoas22 se dedicarem à manutenção diária de blogs, pode-se pensar que a resposta seja quase sempre a mesma: eles oferecem um meio por onde podem se expressar e serem compreendidos por inúmeras pessoas, seus leitores, que não só lêem, como também opinam a respeito da vida do blogueiro em questão.

20 World Wide Web: literalmente, “Teia (Rede) Mundial”. A Word Wide Web é um acervo

universal de páginas da Web (Web pages) interligadas por vínculos (links), o qual fornece ao usuário informações de um completo banco de dados multimídia, utilizando a Internet como mecanismo de transporte.

21 Technorati: http://www.technorati.com (acessado em 15/3/2006)

22 Dados extraídos do Blogger, em março de 2005, quando foi realizada a coleta de dados desta

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Outro fato é que os próprios blogueiros também são leitores de blogs que pertencem a algum outro blogueiro. Eles partilham informações, utilizam um mesmo vocabulário ampliado com novos significados e criam eventos para se encontrarem fora do “mundo virtual”, fazendo com que os cabos de fibras ópticas ultrapassem isso tudo e façam com que eles formem laços de amizades reais.

São raros os blogueiros que não oferecem na sua página links para outros blogs que considerem relevantes para seus leitores. É uma forma de lhes recomendar blogs de amigos reais e virtuais. Por isso, para um blogueiro, ter amizades com muitos outros é aumentar o número de visitantes em seu blog.

Em relação às características e à origem da palavra, temos que blog é a abreviatura para o termo inglês "weblog". Trata-se de uma página web

atualizada freqüentemente, na maioria das vezes, diariamente, composta por

posts que podem conter, além dos textos, fotos, endereços de outros sites e até mesmo outros blogs, e tudo o mais que o blogueiro sentir vontade de expor e sua imaginação permitir, em ordem cronológica, da última atualização para a primeira

Usar um blog é como mandar uma mensagem instantânea para toda a

web. Uma pessoa escreve sempre que se vir impelido a divulgar um assunto ou mesmo opinar sobre algo que lhe chamou a atenção a que todos os que visitam o seu blog têm acesso. Note-se também que, mediante esta ferramenta, pode-se desvendar certos sigilos, como aconteceu com a empresa americana

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Os blogs não somente manifestam idéias ou sentimentos do autor, mas também podem contar com a colaboração de um grupo de pessoas que se reúnem para atualizar um mesmo blog. Então, observa-se que eles podem ser individuais ou coletivos, característica que os diferenciam de seu precursor, o diário íntimo.

Os blogs contêm textos de diversas naturezas: empresariais, ecológicos, relativos à medicina, quando expõem sobre alguma doença, dentre muitos outros. Muitas vezes, são personalidades famosas que descrevem seu próprio cotidiano; enfim, qualquer fato que se queria propagar no mundo virtual.

O blog diferencia-se das outras formas de relacionamento virtual (e-mail, chats,

instant messages, fórum, listas de discussão, e até a mais nova febre virtual: o

Orkut, entre outras coisas a que somos apresentados à este mundo a todo instante) justamente pela sua dinâmica e interação possibilitadas pela facilidade de acesso e de atualização. Cada uma dessas formas de interação virtual tem sua dinamicidade, uma complementa a outra, tratando-se de comunicação virtual.

A utilização destas tecnologias está modificando e redefinindo a experiência humana, ao gerar novas relações a partir de “redes” de comunicação. As redes eletrônicas, os satélites e os aparatos de difusão tornam próximos e presentes, e até mesmo em tempo real, acontecimentos separados por dimensões físicas e geográficas, por meio da convergência do suporte técnico, do conteúdo e da veiculação das informações e/ou serviços.

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produtividade das empresas. E a Internet está presente neste contexto, disponibilizando os novos recursos tecnológicos para as organizações adquirirem a competitividade empresarial.

O mundo de possibilidades oferecidas pela Internet é permeado pela discussão da viabilidade da comunicação um-a-um em detrimento da comunicação um-para-todos, pois a primeira exige que o receptor escolha as alternativas para atender às suas próprias necessidades, sejam estas pessoais e/ou comerciais.

A Internet propicia a abertura para a criação, o compartilhamento de informação e proporciona liberdade de escolha no acesso a essas informações, que vão desde os dados às imagens criativas, interferindo na seleção e produção de signos e de significados.

Dessa forma, o blog pode ser considerado um dos mais recentes fenômenos da escrita no contexto digital a ser investigado – pelo menos, até o surgimento de outra novidade, mesmo já sabendo que o novo boom do momento é a rede de relacionamentos Orkut, no ar desde o início de 2005, mas que com certeza, como os demais utilitários na Internet, não terá seu tempo muito prolongado.

É por meio da interação blogueiro-internauta que essa pesquisa vai se tornar válida para os estudos lingüísticos, principalmente para aqueles que envolvem a abordagem sistêmico-funcional da linguagem, em que essa troca de comunicação virtual será discutida à luz da perspectiva da metafunção interpessoal de Halliday (1985, 1994), Halliday & Mathiessen (2004) e da teoria de Thompson (1995, 1996) sobre papéis desempenhados e projetados.

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que nos mostrará o entendimento de como a linguagem varia, de acordo com o usuário e de acordo com as funções para as quais ela está sendo usada.

1.3 – A ABORDAGEM SISTÊMICO-FUNCIONAL DA LINGUAGEM

A abordagem sistêmico-funcional preocupa-se com as escolhas léxico-gramaticais feitas num determinado contexto e os diversos significados que podem estar inseridos nele.

Para Eggins (1994:144-145) a maneira como se utiliza a linguagem não é certa ou errada, mas sim o que venha a ser adequado ou inadequado num determinado contexto de uso, por exemplo, o tipo de linguagem que o falante usa numa roda de amigos no bar, em casa com seus pais ou no ambiente de trabalho falando com o chefe.

Uma abordagem sistêmico-funcional enfocará sempre uma interação social na qual as pessoas usam textos falados ou escritos, a fim de estabelecer um significado para aquilo que é exposto pela língua pelos sujeitos desta influência mútua. Eggins (1994:02) conclui que “em outras palavras, a função geral da linguagem, é somente semântica 23”, pelo fato de englobar aspectos funcionais, semânticos, contextuais e semióticos, em que escolhas lingüísticas são feitas para gerar significados a esses textos que o usuário da língua faz valer-se dessa interação social.

Segundo Martin (1997:4), a linguagem e o contexto social como sistemas semióticos em uma relação de realização, ou codificação, entre si, são tratados pela lingüística sistêmico-funcional, por conta de que, em um específico tipo de contexto social, as escolhas léxico-gramaticais são feitas de acordo com o

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próprio contexto em que a situação está ocorrendo e os significados que estão expostos àquela presente ocasião.

Complementando: uma rede de sistemas lingüísticos interligados nos serve para construir significados, e é dessa maneira que a abordagem sistêmico-funcional percebe a língua, porque ela é entendida como um sistema de significados em relação à estrutura social. “A característica distintiva dos sistemas semióticos é que cada escolha no sistema adquire seu significado em comparação ao pano de fundo de outras escolhas que poderiam ter sido feitas”

(Eggins,1994:3).

Assim, na visão sistêmico-funcional existem duas dimensões, contexto de situação e contexto de cultura, que contribuem para caracterizar o contexto social das escolhas lingüísticas que ocorrem em um texto, como poderemos conferir no item seguinte.

1.4 – O CONTEXTO

Halliday (Halliday & Hasan, 1989:05) afirma que o contexto antecede o texto e a situação precede o discurso nele aplicado, por este motivo o contexto é um elemento significante na abordagem de um determinado gênero.

Podemos deduzir um contexto a partir de um texto; podemos predizer a língua a ser usada através de um texto e somente com o contexto podemos dizer que significado está sendo construído. Segundo Halliday (1994), há uma relação entre a organização da linguagem (as três metafunções que reúnem significados) e os elementos contextuais.

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dessas três variáveis denominamos registro (Halliday & Hasan, 1989), como veremos mais adiante.

Portanto, podemos identificar um texto e saber em que tipo de contexto ele foi criado, mesmo que não tenhamos esses dados em mãos, visto que, segundo Thompson (1996:09) “uma importante implicação da visão funcional da linguagem é que o contexto e a linguagem são interdependentes24 uma da outra”, já que as escolhas feitas e os significados que o texto, falado ou escrito, apresenta, são identificados prontamente pelo usuário da língua, mesmo ele desconhecendo o contexto, de tal modo que os contextos de cultura e de situação, com certeza, influenciam na construção dos textos dos usuários.

1.4.1 – O CONTEXTO DE CULTURA

Segundo Eggins (1994:25), o entendimento de como as pessoas usam linguagem e como a linguagem é estruturada para uso “envolve a análise de interações lingüísticas completas (textos) e palavras, para lembrar da importância do contexto situacional e cultural em entender o que o texto diz e o que ele faz”

O contexto de cultura refere-se à interação, através da qual a linguagem é usada, a fim de alcançar objetivos culturalmente adequados, por meio de um certo gênero do qual se esteja falando, como, por exemplo, a linguagem na Internet que utiliza pontuação para expressar sentimentos, que são chamadas de smileys ou emoticons.

(40)

Porém, um gênero só é configurado pela presença de elementos obrigatórios em sua estrutura, apresentando, ainda, elementos opcionais e recursivos que podem estar presentes no texto.

A essa estrutura obrigatória formada pelos estágios obrigatórios do gênero dá-se o nome de Estrutura Potencial de Gênero (EPG). No caso dos

blogs, como exemplo, tais estágios se apresentam da seguinte maneira: data, saudação inicial, mensagem, despedida (opcional) e saudação final. A presença desses elementos numa ordem padrão permite que percebamos se o texto está completo ou não.

Hasan (Halliday e Hasan, 1989) acrescenta que os elementos opcionais são, por definição, aqueles que podem ocorrer, mas não obrigatoriamente. Com base na exploração de todas as possibilidades de elementos opcionais e obrigatórios que possam existir em um gênero, assim como a ordem em que eles aparecem , fica estabelecida a sua EPG.

A autora ainda complementa seu trabalho, descrevendo o texto como uma unidade de significado, como a linguagem, que é funcional num dado contexto e cujos elementos que compõem a estrutura do texto devem ser definidos a partir do papel, ou seja, da função que desempenham naquela configuração textual específica.

Observa-se que o gênero encontra-se num plano superior ao registro e este, por sua vez, superior à linguagem. O gênero se define após o reconhecimento do uso da estrutura em estágios, que obedecerá a uma seqüência de elementos obrigatórios, opcionais e recursivos.

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ocupado pelo gênero – contexto da cultura (onde ocorre, com base em Martin, (1992:495).

Ainda de acordo com os autores citados, o gênero torna-se conhecido, entre outros aspectos, pelos significados que atribuímos ou associamos a ele dentro de uma sociedade; o gênero, pois, é social. Como o gênero é a codificação historicamente atestada de propriedades discursivas, como qualquer instituição, ele evidencia os aspectos constitutivos da sociedade a que pertencem.

Desse modo, na Era Digitalizada em que vivemos, podse inferir que o e-mail substituiu a carta, os chats, o bate-papo face-a-face entre pessoas e o blog,

os diários íntimos, não mais tão íntimos assim, pois agora são expostos na Internet para que qualquer um leia, mesmo havendo controvérsias por parte de alguns indivíduos.

1.5 – O CONTEXTO DE SITUAÇÃO

No contexto de situação, os significados são realizados e expressos através de um registro, e como já mencionado, “o texto e contexto estão interligados, o que equivale também dizer que o contexto está no texto” (Eggins, 1994:49). O contexto, assim, sempre precede o texto; contexto e texto são aspectos de um mesmo processo e não devem ser analisados separadamente.

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É no contexto de situação que se realiza o gênero, por meio de escolhas lingüísticas que caracterizarão o registro de determinado gênero, cujas variáveis compreendem o campo, as relações e o modo:

Campo – sobre o que se fala ou escreve, o tópico da situação.

Relações – os papéis sociais que cada participante desempenha na interação.

Modo – o modo falado ou escrito pelo qual a mensagem é veiculada na interação.

Cada uma das três variáveis de registro estão relacionadas a um significado, ou seja:

Campo – está relacionado com a metafunção ideacional.  Relações – está relacionado com a metafunção interpessoal.  Modo – está relacionado com a metafunção textual.

O contexto de situação fornece instrumentos para entendermos o que está sendo falado (campo); identificar o papel que a linguagem está desempenhando na interação e a distância entre as pessoas que estão interagindo (modo); e, ainda, podemos inferir as relações interpessoais entre os participantes do discurso e os papéis sociais que eles estão representando (relações).

(43)

Figura 1, Gênero em relação ao registro e a linguagem (Traduzido de Eggins e Martin, 1997: 243)

De acordo com Halliday (Halliday & Hasan, 1989: 38-42), registro é um conceito semântico, definido como “uma configuração de significados que são tipicamente associados a uma configuração situacional, particular do campo, relações e modo”.

As relações sociais que ocorrem em nosso cotidiano podem estar refletidas no registro, que sofrerá variações em decorrência do contexto situacional a que somos expostos sempre. Portanto, não é possível usar somente um único registro em todas as situações que vivemos (Halliday &

Gênero

modo campo

relações

Ideacional

Interpessoal

Textual Contexto:

gênero – acima e além

das metafunções

Contexto: registro organizado por variáveis

de contexto

Linguagem organizada

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Hasan, 1989: 41), uma vez que fazemos uso de diferentes escolhas lexicais para determinados contextos em que estamos inseridos.

Para Eggins e Martin (1997:236), a relação entre contexto e texto, (contexto de cultura e gênero) se efetua num texto por intermédio de escolhas léxico-gramaticais. O conceito de registro, segundo os mesmo autores (1997:234), explica como usamos a linguagem de formas variadasem diferentes funções. Já para Eggins (1994:9), o registro descreve o impacto das dimensões do contexto imediato da situação de um evento de linguagem no modo como a linguagem é utilizada.

E os teóricos citados (1997:235) ainda acrescentam que, além da variação de registro, os textos também podem exibir variações em termos de gênero, ou seja, o gênero é, ao lado do registro, uma extensão que caracteriza o texto. Martin (1992) afirma que o registro funciona como forma de expressão do gênero, da mesma maneira que a linguagem funciona como expressão do registro.

O registro, por sua vez, inserido no contexto da situação, associa-se às opções léxico-gramaticais, que permitem a distinção entre um gênero e outro. Eggins (1994:34) estabelece a seguinte relação entre gênero, registro e a linguagem: “(o gênero) é mais abstrato, mais geral, do que o contexto de situação (registro)”.

O registro funcionará como um passo para a definição da estrutura genérica. A distinção entre os gêneros e registro, porém, está no nível de abstração em dois diferentes planos: social e cultural.

(45)

Eggins (1994:53), ao abordar a teoria do registro, mostra alguns aspectos que distinguem a linguagem falada da escrita que podem influenciar diretamente no modo. Um dos aspectos mencionados é a distância interpessoal e espacial entre participantes da interação; a autora comenta, ainda, que os meios de comunicação modernos, como os e-mails, têm revelado dimensões de modos complexos.

Segundo Martin (1984:25; 1985:248), um gênero tem um propósito definido, é orientado para um objetivo e organizado em estágios; um registro (no caso dos blogs, um relato) específico é usado para que tais objetivos e propósitos sejam alcançados.

O registro, portanto, auxilia-nos na definição das escolhas; uma vez inserido no contexto da situação, associa-se às opções léxico-gramaticais, que permitem a distinção entre um gênero e outro. Em resumo, verificamos que os conceitos de registro e gênero são empregados com a finalidade de apontar o significado e a função da variação entre textos.

As línguas são organizadas com base em dois tipos de significados: o ideacional e o interpessoal. Estes componentes são chamados metafunção, classificados por Halliday em: ideacional, interpessoal e textual. Estas metafunções fornecem esclarecimento do uso da língua a partir das necessidades, dos propósitos do falante em um determinado contexto de situação.

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é organizada a mensagem e como está exposta em um texto ou na fala, permitindo que os participantes do discurso reconheçam a linguagem como um texto com significado.

Como o objetivo desta pesquisa visa à interação entre blogueiro e internauta, vamos nos deter à descrição detalhada da metafunção interpessoal que nos fornece o subsídio necessário para analisar essa interatividade dos participantes em questão, e somente explanar brevemente sobre as outras duas (a ideacional e a textual), pois, segundo Thompson (1996:28), “compreender cada um desses três tipos de significado contribui igualmente para o significado da mensagem como um todo”.

1.6 – AS TRÊS METAFUNÇÕES

Sabe-se que a GSF é a definição de uma gramática ‘natural’, cujo foco são as unidades da linguagem, que precedem o texto (falado ou escrito) para se atingir uma finalidade: a comunicação.

A GSF é considerada sistêmica, porque trata de uma teoria de três metafunções que reúnem tipos de significados vistos sob a mesma perspectiva funcional como escolhas, em que a língua ou qualquer outro sistema semiótico é interpretado como ambientes de opções inter-relacionadas: esta, aquela ou a outra, conforme explica Halliday (1994: xxvii): “a abordagem sistêmica vê a língua como redes de sistemas lingüísticos interligados, das quais nos servimos para construir significados.”

Imagem

Figura  1,  Gênero  em  relação  ao  registro  e  a  linguagem  (Traduzido  de  Eggins  e  Martin,  1997:
Figura 2 – Lista de freqüência dos  blogs
Figura 4 – Lista de estatística do corpus.
Figura 6 – Exemplo de lista de clusters, feito pelo  Concord , com a palavra “beijos”
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