Os lusitanos e o comércio carioca
Walmer Peres Santana
1No Rio de Janeiro, os portugueses, na sua maioria jovens vindos do Norte português, especialmente do Minho, Douro e Trás-os-Montes (provenientes de cidades como Viana do Castelo, Braga e Vila Real, ou camponeses pobres de Vila Nova de Foz Côa ou Moimenta da Beira), desempenhavam variadas atividades, entretanto, destacava- se, sobretudo, a presença dos lusos no comércio e no transporte da urbe carioca. O setor comercial é particularmente importante para o Club de Regatas Vasco da Gama, haja vista que a maior parte de seus fundadores e sócios e dirigentes nas primeiras décadas de sua existência provinham do comércio, como patrões ou empregados.
De um modo geral, o português que chegava ao Rio de Janeiro, desembarcando no antigo Cais Pharoux, rumo ao pretendido sucesso através do comércio, sem possuir capital inicial para a abertura de um negócio próprio, inevitavelmente, atuaria na função de caixeiro (empregado do comércio). Atuando como uma espécie de “faz tudo”, empregado no estabelecimento de algum parente, vizinho ou de algum patrício já estabelecido a quem o jovem era recomendado e o apadrinhava, esse trabalhador poderia residir como agregado na casa dos patrões ou dormir no próprio comércio (loja ou armazém) em que labutava. Estavam sujeitos a longas jornadas de trabalho, com a abertura do comércio no Rio de Janeiro entre às quatro e seis horas da manhã e o fechamento das portas variando entre às dez horas e meia-noite, alcançando dezessete ou dezoito horas de trabalho.
Os empregados do comércio estavam subordinados ao severo controle social exercido pelo seu empregador. As horas de lazer eram escassas e, geralmente, praticadas próximos ao local onde trabalhava e, não raro, também residia. Esses indivíduos se submetiam ao trabalho morigerado, com a perspectiva de ganhar a confiança de seu patrão, subir na hierarquia interna e, talvez, após alguns anos, tornar-se sócio do empreendimento ou dono de seu próprio negócio.
Desde meados do século XIX, a profissão de caixeiro, no Rio de Janeiro, incluía um espectro amplo de funções que atendiam a uma escala hierarquia. Era o caixeiro que
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