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45º Encontro Anual da ANPOCS

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Academic year: 2022

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45º Encontro Anual da ANPOCS

GT01 - Arte, Cultura e Ciências Sociais: diferenças, agenciamentos e políticas

Fluxos sonoros-sensoriais no lofi hip hop: A construção do imaginário cultural brasileiro em contraste com o “estrangeiro”.

Por: Sidarta Landarini, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e

Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ).

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Apresentação do objeto, do campo e da abordagem teórico-metodológica

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O lofi hip hop

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é uma manifestação sonora surgida em 2014. Seu espaço de reprodução prioritário é feito pela Internet, em sites como Youtube, Soundcloud e aplicativos de música, como Spotify, Deezer e afins. Nos últimos anos ganhou destaque na mídia e na crítica musical como o “genêro musical dos millenials”

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. Alguns apontam a chegada da tecnologia das Lives intermitentes

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no Youtube como seu primeiro momento de auge, e durante a pandemia do coronavírus experimentou um aumento exponencial de ouvintes

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. Como é uma manifestação sonora onde o espaço prioritário de escuta e produção se dá através da mediação da Internet, e consequentemente de todos os aparatos técnicos envolvidos neste processo (HENNION, 2003), a forma expressiva carrega consigo diversas particularidades que a diferenciam de outros “gêneros musicais”.

Em minha dissertação de mestrado

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, meu objetivo foi mapear as redes que dão sentido e significado para a existência do lofi hip hop. Portanto, cabe realizar uma pequena genealogia do seu nome. Lo-Fi é uma forma de reduzir o termo em inglês Low Fidelity (Baixa fidelidade). Murray Schaffer (2001:1971) inaugurou nos estudos do som o conceito de Paisagem Sonora, o que seria qualquer campo de estudo acústico (SCHAFFER, 2001, p. 23).

Ainda segundo Schaffer, há duas formas de paisagem sonora na história do Ocidente; o Hi-Fi é quando temos limpidez sonora, conseguimos distinguir as diferenças dos sons, supor sua distância e ouvir com clareza sua textura. Esta ideia se encaixa em um plano simbólico do campo, do rural, do viver em pequenas comunidades agrícolas e de uma relação diferenciada com a natureza. Já seu oposto, o Lo-Fi seria a sujeira sonora, a homogeneização das características do som, o “ruído” de baixa definição, congestionamento do som, que no plano simbólico é representado pela vida em cidade, urbanizada e industrial.

Situado em meados dos anos 1980, o Lo-Fi ganhou uma nova dimensão em seu encontro com a arte sonora. Ainda em cima da ideia de Low Fidelity (baixa fidelidade), o

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“Sou só uma pessoa triste”: Fluxos sonoros-sensoriais no lofi hip hop (2021)

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https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2021/01/4901123-lo-fi-hip-hop-conheca-o-estilo-musical- que-virou-sucesso-na-quarentena.html acessado em 10 de Agosto de 2021

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Lives intermitentes é uma ferramenta no Youtube que permite a veiculação ao vivo de vídeos, muitos canais de Youtube constroem as chamadas Rádios lofi hip hop onde é veiculada 24 horas/7 dias por semana músicas de lofi hip hop.

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http://www.ubc.org.br/publicacoes/noticia/17162/queridinho-de-millennials-e-adolescentes-lo-fi-explode-na-pan demia Acessado em 10 de Agosto de 2021

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A escolha em escrever o nome da manifestação sonora com tudo minúsculo vai de encontro ao utilizado majoritariamente na Internet.

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Recomenda-se a leitura deste trabalho ao som de lofi hip hop: lofi hip hop radio - beats to relax/study to

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Lo-Fi se tornou uma forma de definir as produções sonoras feitas de maneira amadora. A popularização desta ideia surgiu em um programa de rádio nova-iorquino chamado Lo-Fi, da emissora WFMU do DJ William Berger, que se preocupava em expor gravações caseiras (por meio de fitas cassetes) que eram enviadas para ele (CONTER, 2016, p. 45). Assim então surgia na produção musical o Lo-Fi como categoria para as criações sonoras sob condições de

“baixa qualidade”, feitas em casa, com características sonoras amadoras. Embebidas de um espírito DIY

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. Com o decorrer do tempo, o Lo-fi avançou em seu sentido, se tornou um gênero musical independente e uma máquina abstrata de agenciamento (CONTER, 2016).

Já sobre o hip hop, utilizo das palavras de Hermano Vianna (1988) ao explicar o seu

“mito de origem”:

[Foi no] (....) final dos anos 60 quando um disc-jockey chamado Kool Herc trouxe da Jamaica para o Bronx a técnica dos famosos sounds-system de Kingston, organizando festas nas praças. Herc não se limitava a tocar os discos, mas usava o aparelho de mixagem para criar novas músicas. Alguns jovens admiradores de Kool Herc aprofundaram a técnica do mestre. O mais talentoso deles foi Grandmaster Flash, que criou o “scratch”, ou seja, a utilização da agulha do toca-discos arranhando o vinil no sentido anti-horário. Além disso Flash entregava um microfone para que os dançarinos pudessem improvisar discursos acompanhando o ritmo da música, uma espécie de “repente eletrônico” que ficou conhecido como RAP. Os “repentistas” são chamados de rappers ou MCs, isto é, masters of cerimony. O rap e o scratch não são elementos isolados. Quando eles aparecem nas festas de rua do Bronx, também estão surgindo a dança break, o graffiti nos muros e trens do metrô nova-iorquino. Todas essas manifestações culturais passaram a ser chamadas por um único nome: hip-hop. O rap é a música hip-hop, o break é a dança hip hop e assim por diante (Vianna, H., 1988).

Segundo D’errico (2015, p. 280), no fim dos anos 1990 e começo dos anos 2000 se iniciou um movimento chamado de Hip Hop Experimental, que trazia consigo uma série de mudanças na produção sonora, tais como; o privilégio a músicas instrumentais, desencontro do beat com o andamento da música, uso do punch que é quando um instrumento ou faixa na mix, abaixa e retoma o volume para causar um “impacto”. O precursor dessas técnicas seria o J Dilla, produtor de Detroit (EUA), quando neste período entre os anos 1990 e 2000, produziu muitas obras com estas características, assim como também popularizou o hand-playing com o AKAI MPC digital sampler, que é o ato de criar o beat com os dedos, prática muito popular no processo de composição do lofi hip hop e amplamente divulgado em vídeos pelo Youtube e Instagram. O produtor J Dilla assim como o Nujabes são muito admirados na rede que constitui o lofi hip hop, visto como os “pais” desta forma expressiva sonora.

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DIY significa Do It Yourself, lema de um movimento amplo que acredita na capacidade de criar a partir das

condições possíveis. O Punk se utiliza deste lema como mobilizador de seu movimento.

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Assim como no Hip Hop Experimental, o uso da sampleação no lofi hip hop é quase uma regra. O reaproveitamento de faixas de outras músicas para realizar um looping (repetição) e, a partir disso, “criar em cima” é uma característica usada nas músicas. Segundo Schloss (2014, p.136), esta prática deriva dos DJs no nascimento do Hip Hop, em pegar discos de vinil manipulando-os manualmente para estender as batidas. No lofi hip hop, os elementos melódicos centrais das faixas também são normalmente extraídos de gravações pré-existentes, repetidos e recontextualizados. Há uma tendência de buscar samples melódicos, tematizados como “melancólicos”, “bucólicos”, “relaxantes”, extraídos do Jazz, Bossa Nova ou trilhas sonoras de desenhos animados. Isso também tem sua linhagem nas práticas anteriores do hip hop. Em Retromania, Simon Reynolds (2011, p. 363) descreve o desenvolvimento de uma cultura de "coveiro" no Hip-Hop, em que os produtores vasculham sebos em busca de registros contendo amostras “underground” para serem reaproveitadas, no que ele se refere como um processo de reverent exploitation. Poderíamos comparar genericamente este processo de coleta e reaproveitamento como algo que espelha a escavação de caixotes, porém aos moldes digitais.

Então podemos resumir desta forma, o que encontramos de Lo-Fi na forma que se produz a manifestação sonora lofi hip hop são; a) O ruído de “baixa qualidade”, de vinil, chuva, mar, papel amassando, vento, rádio sintonizando. b) O espírito DIY (Do It Yourself).

Já o que há de Hip-Hop no lofi hip hop podemos citar: a) A construção dos Beats (desacelerados) b) As sampleações, podendo ser de Jazz, Bossa Nova, música instrumental c) Técnicas de produção, como Scratching, Punch, Looping.

Esta categorização não pretende ser uma lei ou um registro totalmente apurado. O espaço da criatividade dos artistas reinventam a todo instante estas características. Mas é a partir destes elementos que tanto produtores quanto ouvintes relatam um objetivo e sensação em comum; A busca de atingir uma musicalidade para relaxar e/ou para focar/estudar/trabalhar. Através de elementos que remetem ao “conforto”, “nostálgico”,

“repetição”, “íntimo”.

Tal "espírito" é reforçado nos títulos de muitas playlists e lives. O campo específico deste trabalho se dará na live intermitente intitulada “lofi hip hop radio - beats to relax/study to” do canal Lofi Girl

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. As lives intermitentes são chamadas pelos sujeitos que compõem esta rede como rádios, a partir de agora, utilizarei desta categoria ao me dirigir as lives

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No momento de apresentação do resumo deste trabalho o canal se chamava Chilled Cow. Porém, mudou para Lofi Girl.

https://www.slashgear.com/chilledcow-lo-fi-channel-rebrands-to-reflect-its-iconic-character-19664645/

acessado em 13 de Setembro de 2021.

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intermitentes do Youtube que reproduzem lofi hip hop. Os espaços de fruição do lofi hip hop são muitos, mas em sua maioria localizados no ciberespaço. Tal prática advém de uma certa influência da forma expressiva chamada Vaporwave

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. Desta forma vale ressaltar algumas abordagens teórico-metodológicas que absorvi para realizar este trabalho.

É notável que as etnografias digitais ainda estão cultivando seu espaço (RIFIOTIS, 2016), portanto, parto da premissa apresentada por Latour (2000), quando o mesmo afirma que o atestado de um fato se dá pela adesão dos pares e mobilização coletiva de testemunhos, ou seja, a atividade antropológica no ciberespaço se validaria pela ajuda da experiência nativa partilhada. A partir deste primeiro pontapé, foi utilizado como argumento teórico e prático a conceitualização de Christine Hine, 3E, tais como nos demonstra Baleli e Pelucio (2018):

Christine Hine nomeia essa ‘nova internet’ de 3E (embedded, embodied e everyday), uma vez que se torna um fenômeno permeado, incorporado e cotidiano.

O espaço on é impregnado com elementos que compõem os contextos off-line nos quais as pessoas interagem, atribuindo significados para o vivido na web. Essa incorporação aparece na análise de alguns autores [...] Literalmente incorporada, a tecnologia não é externa, um objeto cuja utilização pode melhorar a vida dos sujeitos ou amainar os caminhos que levam à realização de seus projetos. Entender essa conexão e suas consequências ultrapassa a noção de utilidade dos objetos (Miller, 2010), possibilitando perceber como esses híbridos (corpos/tecnologias) estão imersos na produção de agência (BELELI E PELUCIO, 2018: 125).

A abordagem metodológica prática levará em conta a agência dos não-humanos como mediação (LATOUR; STARK, 1999; HENNION, 2011). A fronteira on/off não é definida na rede lofi hip hop. Tanto elementos Offline são presentes nos discursos online, quanto o mundo Offline é contaminado pelos elementos Online da rede lofi. O melhor exemplo para essa hibridez entre o Online e o Offline é a representação do quarto. Lugar de escuta para muitos ouvintes, lugar de produção para muitos artistas e também é representado visualmente como imagem ou gif

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de capa em diversas playlists e rádios. O quarto é o espaço imaginado pela rede lofi hip hop onde acontece o musicar do lofi hip hop (SMALL, 1998).

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Pequeno vídeo em looping, podendo conter pequenas alterações em detalhes e fundos da imagem.

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Definição de Carolina Stary: “Como é comum aos fenômenos da internet, o vaporwave vem impregnado de uma ironia característica que se desdobra em todos aspectos da produção, desde a sonoridade até a distribuição.

O vaporwave amarra essa condição de produto da cibercultura em um metadiálogo, onde a forma da discussão incorpora o sujeito discutido. Seu trunfo é ser, ao mesmo tempo, meme, arte de pós-internet e provocação sócio-política-econômica. Vaporwave é música ao contrário. Soa como um funk new age smooth jazz de elevador que, depois de engolido pelo computador, ressurge drasticamente lento, derretido, incômodo e cheio de referências roubadas dos videogames, jingles publicitários, hits pop e ficção científica da década de 1980 e 1990. É a resposta ao esgotamento do autoral (tudo já foi feito) e dos direitos autorais (todos infringidos) em um futuro que chegou frustrado.” Disponível em:

http://www.revistacapitolina.com.br/vaporwave-tudo-o-que-e-solido-se-desmancha-no-ar/ Acesso em:

08/11/2020.

Vaporwave: https://www.youtube.com/watch?v=aQkPcPqTq4M&ab_channel=ChocolateGinge

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Embora o quarto seja esse exemplo de espaço fronteiriço entre Online e Offline, o fazer sonoro do lofi hip hop tem nos ambientes “virtuais” a maior parte do seu “locus” de relações. Além do Youtube, é importante citar que nas redes sociais como o Instagram, Twitter e Facebook também são espaços de socialização entre membros da rede lofi hip hop.

As lives intermitentes no Youtube vem acompanhada de um chat, onde as pessoas que estão assistindo/ouvindo a rádio podem se comunicar. Segundo Santa Rosa e Janotti Jr (2019) há três categorias de assuntos mais discutidos neste chat, sendo eles:

1) Comentários sobre as músicas; nessa categoria estão comentários como: “Qual música acabou de tocar?” ou “Música legal, amo esse beat”. 2) Comentários sobre estado emocional ou ocupação no momento; nessa categoria estão comentários como:

“Não consigo terminar meu dever de casa”, “Estou sozinho” ou “Estou tranquilo”. 3) Comentários para conhecer outras pessoas do chat/comunidade ou conversar casualmente; nessa categoria estão comentários como: “Alguém da Argentina aqui?”,

“Qual o @ do instagram de vocês?” ou “O que vocês leem?”. (SANTA ROSA;

JANOTTI JR. 2019)

De alguma forma tal categorização é correta, porém no último ponto “3) comentários para conhecer outras pessoas”, a partir do exemplo dado “Alguém da Argentina aqui?”, acredito que esta mensagem pode nos dizer mais do que apenas querer conhecer alguém do mesmo país. Já vivenciei situações na qual a nacionalidade foi acionada para trocas com pessoas de diferentes nacionalidades abordando discussões sobre semelhanças e diferenças culturais. Ou seja, reforçando elementos culturais próprios, exercitando uma construção imaginada de nação e/ou de identidade cultural. Portanto, conhecer pessoas neste caso, não se restringe apenas a seu próprio território. Embora o foco não seja o chat neste trabalho, ele servirá como aporte, assim como comentários no Instagram e em sites de crítica musical para refletir sobre os acionamentos de identidade cultural encontrados nas representações imagéticas do gif presente na “lofi hip hop radio - beats to relax/study to”.

Um último ponto para se destacar nesta pequena contextualização, conforme apontei em minha dissertação de mestrado

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, existe uma espécie de dois “sistemas” que mobiliza a escuta de lofi hip hop. O Relax, quando o sujeito quer relaxar, fugir, descansar, dormir. E o Study quando o sujeito quer estudar, trabalhar, se organizar, focar. O som acompanha a pessoa nestas funções, e há um alto grau de eficácia simbólica. Logo, a estética visual presente no lofi hip hop explora elementos que retratam estes usos. No caso, considerada a rádio mais famosa da rede lofi hip hop: “lofi hip hop radio - beats to relax/study to” do canal

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“Sou só uma pessoa triste”: Fluxos sonoros-sensoriais no lofi hip hop defendida em Março de 2021

no Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

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Lofi Girl carrega consigo o famoso gif da “garota estudando”/ “study girl”, retratada em memes, notícias e discussões pela internet. O canal inclusive mudou seu nome para transformar esta personagem como sua “marca”

12

.

Resumindo o que foi apresentado até aqui, o lofi hip hop é uma forma expressiva sonora nascida em 2014 (SANTA ROSA; JANOTTI JR. 2019) a partir de um encontro entre o Lo-Fi dos anos 80 (CONTER, 2016) e toda a bagagem que o significado desta expressão carrega (SCHAFFER, 2001) com o Hip Hop experimental, em especial dos anos 1990 e início dos anos 2000 (WINSTON; SAYWOOD, 2019). Seu espaço prioritário de ação é através da mediação da Internet. Portanto, este trabalho é resultado de uma abordagem etnográfica na qual há um esforço em entender o mundo Online e Offline de maneira conjunta (BELELI; PELUCIO, 2018) e o processo de hibridismo existente nesta relação sujeito-máquina (LATOUR; STARK, 1999). Todo o fazer sonoro é envolvido sobre dois

“sistemas”; o Relax e o Study, que surge durante a escuta, quando o sujeito quer relaxar ou se concentrar, mas também na criação musical, quando o bedroom producer

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faz suas escolhas estéticas sonoras e também na criação dos artistas visuais para compor as identidades visuais das rádios e playlists.

A imagética da “lofi hip hop radio - beats to relax/study to” e o sujeito no mundo

O canal Lofi Girl foi fundado e é administrado pelo parisiense Dimitri

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. Inaugurado no dia 18 de Março de 2015

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. Em seu início a rádio tinha como imagem uma peça retirada do filme “Sussurros do coração” do estúdio Ghibli, porém por conta dos direitos autorais ela foi interrompida duas vezes. Em Novembro de 2017 ressurgiu com a imagem da “garota estudando” (Figura 1). Tal gif é uma criação do Colombiano, originário de Calí, Juan Pablo Machado, conhecido também como Santo Puppy. A obra foi criada em sua passagem pela escola de arte Emile Cohl em Lyon na França, a partir de um edital que surgiu na sua universidade

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.

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https://actu.fr/auvergne-rhone-alpes/lyon_69123/pop-culture-lofi-girl-live-youtube-lofi-hip-hop-radio-habite-lyo n_32988561.html acessado no dia 23 de Agosto de 2021

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https://www.youtube.com/c/LofiGirl/about acessado no dia 23 de Agosto de 2021

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Conhecido por ser muito reservado não divulga seu sobrenome

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Bedroom producer é a forma que muitos artistas de lofi hip hop se autodenominam, visto que a prática de criar músicas lofi hip hop é usualmente feita em seu próprio quarto.

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https://www.theverge.com/2021/3/19/22340142/chilledcow-lofi-girl-rebrand-lo-fi-beats-youtube

Acessado em 15 de Setembro de 2021

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(Figura 1 - Gif da garota estudando da playlist “lofi hip hop radio - beats to relax/study to”. Obra de Juan Pablo Machado

Fonte: Youtube)

O gif consiste em uma garota escrevendo em seu caderno, estudando. Com os olhos cansados e com um fone de ouvido. De vez em quando realiza o movimento de olhar para o seu gato. Sua janela é o único elemento onde há alteração no gif, dependendo da época do ano e do horário da sessão. O fundo que aparece na janela é as encostas da La Croix-Rousse de Lyon. Segundo seu criador, esta decisão foi pautada por um elemento nostálgico de quando vivia na cidade

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. A trajetória dos elementos da imagem, segundo o próprio canal, aconteceu desta forma: Em Março de 2018 foi adicionado o tema diurno. Dezembro de 2019 foi adicionado o tema de Inverno. Março de 2020 o ciclo diurno/noturno foi adicionado, ou seja, o fundo da imagem altera conforme o horário de exibição. E em março de 2021 aconteceu o “rebranding” da marca, mudando de Chilled Cow para Lofi Girl.

No geral, é importante ressaltar que as características sonoras do lofi hip hop, assim como em diversas manifestações sonoras não estão isoladas de um corpus maior de relações.

Como o locus da performance do lofi hip hop é prioritariamente na Internet. Um dos recursos mais utilizados são estes tipos de pequenas animações para acompanhar o “som”. Podendo ser recortes de desenhos animados nipônicos (animes) ou norte-americanos dos anos 1990.

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https://actu.fr/auvergne-rhone-alpes/lyon_69123/pop-culture-lofi-girl-live-youtube-lofi-hip-hop-radio-habite-lyo

n_32988561.html acessado no dia 23 de Agosto de 2021

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Nestes casos, alguns interlocutores acionam este elemento temporal e de localização, associando-os à sua infância. Outros nunca assistiram tais desenhos animados, mas encontram uma certa familiaridade, atravessada por uma nostalgia sem lugar e tempo no sujeito (BOYM, 2017).

Mas também há produções autorais, como é o caso da “garota estudando”, com uma estética e cores que fazem referência a estes estilos estéticos. Os tipos de animações variam entre videoclipes (clipes para músicas), gifs (pequenos vídeos em looping) ou uma mistura dos dois. Como no caso de algumas playlists que mantêm uma cena intacta e no fundo pequenos elementos vão alternando conforme há mudança na música que está sendo tocada.

Em especial a “A garota estudando” se encaixa nesta segunda categoria. Como dito anteriormente, tais produções autorais fazem referência ao estilo de desenho animado nipônico (animes) com cores especialmente mornas.

Há um processo metonímico na imagética do lofi hip hop, a partir de um modo de pensamento sensorial (GONÇALVES, 2012). Ou seja, no caso desta animação gráfica há uma tendência em representar uma situação evocada pelo título da rádio. A sensorialidade exposta nesta imagem busca representar momentos de calma, estudo e concentração. O que também caracteriza a experiência do ouvinte de lofi hip hop, pois a imagem comum “imaginada” de quem escuta o gênero é muito semelhante à encontrada nas animações que acompanham as playlists ou músicas no Youtube. A escuta de lofi hip hop, em sua maioria, é solitária e introspectiva, estudando, trabalhando ou “relaxando”, voltada para uma certa expressão de saturação, cansaço, necessidade de um espaço para si, mas também de foco, concentração, refúgio. Portanto sua representatividade gráfica estabelece essa forma de comunicação.

Por isso é comum encontrar nos comentários das playlists, ou conversas no chat, com referências a estes estados sensoriais evocados tanto pela imagem quanto pelo som. Segue alguns exemplos:

“To all students reading the comments : YOU'RE GOING TO PASS THE EXAM, WE BELIEVE IN YOU! SHOW THEM WHO'S BOSS!”, também podemos encontrar com um certo humor “ChilledCow

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has entered the chat; insomnia has left the chat; anxiety has left the chat; depression has left the shet; stress has left the chat; anger has left the chat;

negativity has left the chat” ou “100 Reasons why you shouldn't commit suicide.1. We would miss you. ” E é listado de fato 100 motivos para a pessoa não cometer suicídio, terminando com: “100. But, the final and most important one is, just, being able to experience life.

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Antigo nome do canal Lofi Girl autor da live “lofi hip hop radio - beats to relax/study to”

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Because even if your life doesn't seem so great right now, anything could happen.”; “I’m tired but i don’t want to go to sleep because i’ll just wake up and live the same day over again”.

Ou frases que fazem mais alusão a sensorialidade causada pela fusão de som e imagem, tais como: “I feel homesick for a place i dont know and i miss people ive never met” ; “I feel like theres something missing in my life, but i don’t know what it is” ; “Lo-fi makes us feel nostalgia for a time we have yet to live”.

Estes exemplos mostram esta unidade entre o som e o visual, demonstrando uma certa eficácia simbólica proposta pelo título da playlist, mas também transbordando para diversos outros significados, como debates sobre depressão, ansiedade e nostalgia. Todos estes elementos circundam o acionamento dos sistemas Relax e Study. Mas a questão que fica é: o que a partir desta rede de significações podemos compreender sobre o mundo que nos rodeia?

Um começo para discutir essa problemática pode ser encontrada nas discussões acerca do cinema. Já que a animação gráfica, “gif”, não é nem um elemento estático, mas também não conta um arco narrativo. Preso em um eterno looping repetitivo. Que também pode nos dar pistas sobre como é construído o mundo para os sujeitos que fazem o lofi hip hop existir.

Vejamos;

Iniciemos por uma conceituação de “arte” formulada por Eisenstein para nos aproximarmos sobre o modo como opera o pensamento cinematográfico. “Arte” é definida pelo seu duplo aspecto, o de alegoria (apresentação de um mundo) e o de explicação sobre o mundo (Eisenstein, 2002:123). Na percepção estético-conceitual de Eisenstein não há uma separação entre a produção do conhecimento nas artes e nas ciências, sobretudo as humanas, uma vez que o artista produz alegorias sobre o mundo ao mesmo tempo que o explica revelando, assim, este duplo caráter de produtor de conhecimento e produtor de alegorias sobre o mundo (Gonçalves, Marco Antonio, 2012)

Entendo esta representação gráfica, assim como todo o fazer envolvido no lofi hip hop a partir desta ideia: da arte ser definida pelo duplo aspecto de alegoria e de explicação do mundo. Portanto, uma hipótese trabalhada na minha pesquisa de doutorado em andamento

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, percorre tentar descobrir o elo que une os sistemas Relax e Study, aparentemente contraditório em suas “funções”. Acredito que por meio da sensorialidade podemos identificar o elemento nostálgico como esse efeito de segurança a sujeitos de alguma forma

‘desenraízados’, que buscam um lugar confortável para praticar o “tempo para sí”. Seja, o da

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Desenvolvo uma pesquisa no meu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia

da Universidade Federal do Rio de Janeiro, intitulada provisoriamente de “A nostalgia no lofi hip hop”.

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calma para estudar ou, de relaxar e desacelerar uma vida carregada de estímulos e demandas na aceleração da vida moderna.

Com a atitude blasé a concentração de homens e coisas estimula o sistema nervoso do indivíduo até seu mais alto ponto de realização, de modo que ele atinge seu ápice. Através da mera intensificação quantitativa dos mesmos fatores condicionantes, essa realização é transformada em seu contrário e aparece sob a adaptação peculiar da atitude blasé. Nesse fenômeno, os nervos encontram na recusa a reagir a seus estímulos a última possibilidade de acomodar-se ao conteúdo e à forma da vida metropolitana. A autopreservação de certas personalidades é comprada ao preço da desvalorização de todo o mundo objetivo, uma desvalorização que, no final, arrasta inevitavelmente a personalidade da própria pessoa para uma sensação de igual inutilidade. (Simmel, Pág. 15)

Esse cenário pintado da grande cidade é o que mais se aproxima do mundo construído para os ouvintes de lofi hip hop em suas formas expressivas, por comentários, chats e outras formas de comunicação. Desta forma, vamos chegando a uma discussão sobre a construção de Sujeito. DeNora (1999) nos demonstra que a estética pode ser uma busca para o exercício de identidade. Porém, em um mundo onde os fluxos de identidade estão constantemente mudando, esta tarefa se torna mais complexa de se realizar. O apelo a uma estética que transporte para um passado fantasioso, com elementos que acionam a nostalgia é o caminho encontrado para proporcionar um mínimo de estabilidade necessária para criar concentração ou calma.

Recent social theory concerned with 'modernity' has identified the ability to be reflexive about and mobilize cultural forms as a hallmark of being in so-called 'high' modem societies (Lash and Urry, 1994; Giddens, 1990, 1991). Following Simmel, these writers conceive of the rise of aestheticization as a strategy for the preservation of identity and social boundaries under anonymous and often crowded conditions of existence. The modem 'self' is portrayed, within this perspective, as subject to heightened demands for flexibility and variation. Actors move, often at rapid pace, through the numerous and often crowded conditions that characterize daily existence. (DeNora, 1999 Pág. 36)

Torna-se importante refletirmos sobre o que significa esse sujeito apontado por

DeNora (1999) que a teoria social tenta explicar sob a égide da

modernidade/pós-modernidade. A construção de qualquer representação de um tipo de sujeito

corre sempre o risco de ignorar particularidades e exagerar nas generalizações, mas há um

grande esforço na produção do conhecimento para definir tais contornos. Stuart Hall (2006)

elenca três concepções de identidade advindas do estado da arte das ciências humanas através

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da história ocidental. São elas; a) Sujeito do Iluminismo, indivíduo centrado, dotado de razão, consciência e ação. b) Sujeito Sociológico, surgido através do avanço complexo da modernidade, portanto, sujeito visto como interação entre o eu e a sociedade. Exercita relação entre valores, símbolos e pessoas. c) Sujeito Pós-moderno, fragmentado de identidades, múltiplas e potencialmente contraditórias. Híbrido cultural. O “eu” é fruto de uma narrativa escolhida pelo sujeito. Portanto, móvel e situacionista.

Importante ressaltar que sujeito, identidade e “eu” se entrelaçam como forma de tentar definir os contornos para a prática do indivíduo na sociedade. Assim, é importante absorver, em parte, a crítica presente no sujeito pós-moderno em entender esta empreitada da construção do indivíduo como um esforço narrativo e linguístico para explicar movimentos e ações que acontecem em fluxos através do tempo. Mauss (2003) apresenta que há uma variedade cultural que influencia na forma como esse “eu” é construído. A cultura greco-romana vista como hegemônica na tradição do chamado mundo ocidental é a lente que utilizamos para tentar narrar o contorno deste indivíduo, pelo menos em um primeiro momento, visto que seu modo de produzir vida - industrial, capitalista, estado-nação - têm como prática o “imperialismo” e dominação sobre outras formas de contar a história, a partir da lógica da acumulação primitiva (MARX, 2011).

Seguindo a linha de Mauss (2003), a “modernidade” na cultura greco-romana chegou em um objeto de “eu” que aborda como central as questões da subjetividade e do psíquico. O

“eu” (traduções antigas trabalham como ego), na perspectiva psicanalítica inaugurada por Freud (2011), é a consciência, é o princípio de realidade que media o desejo na relação entre o id (inconsciente, príncipio do prazer) e o supereu (valores morais e sociais). Tal forma de explicar o indivíduo é localizada na linha histórica proposta por Hall (2006) como o início de um dos descentramentos do discurso da modernidade. É importante ressaltar que a transição de um Sujeito Moderno para um Sujeito Pós-moderno não se dá a partir de uma ruptura, e sim como um deslocamento na produção do conhecimento. Portanto, Freud quando inaugura o eu como mediação de desejos que não temos controle (Id/Inconsciente), realiza uma mudança sob a perspectiva do Sujeito Iluminista dotado de razão na ação. E ao mesmo tempo, dá abertura para um campo de reflexões sobre como explicar a ação do homem no mundo.

Já que há movimentos realizados pelo indivíduo no mundo na qual não são advindos

de aptidões inatas e sim apreensões registradas no inconsciente pelo decorrer da infância

(HALL, 2006). Por mais que haja críticas como: “não conseguir provar a existência do

inconsciente”. Lacan argumenta que o inconsciente é estruturado como a linguagem,

(13)

utilizando da teoria da linguística de Saussure - também apontado por Stuart Hall como um dos descentramentos do discurso da modernidade. Já que a língua é:

um sistema social e não um sistema individual. Ela preexiste a nós. Não podemos, em qualquer sentido simples, ser seus autores. Falar uma língua não significa apenas expressar nossos pensamentos interiores e originais; significa também ativar a imensa gama de significados que já estão embutidos em nossa língua e em nossos sistemas culturais (HALL, 2006. Pág. 40).

Todas essas formas de explicar o apanhado de ações do indivíduo no mundo, realizam um movimento de demonstrar que por mais simples que seja alguma fala ou alguma atitude no mundo, ela está submetida a relações que não temos total controle. E a maneira como tentamos contar essa falsa unidade de sí, já é por si só a construção de uma fantasia. Para completar esse quadro de impotência do indivíduo em relação a si próprio é necessário falar deste “mundo” que o pré-existe e retira a concepção do Sujeito Moderno dotado de razão.

Foucault - também apontado por Hall, como um dos autores que provocou certo descentramento no discurso moderno - nos apresenta a ideia de “Poder Disciplinar” na qual dois pontos o resume: 1. Regulação e Vigilância 2. Indivíduo e Corpo (HALL, 2006).

O indivíduo imerso no neoliberalismo está sob jogo de uma forma de regulação pautada nos valores econômicos, consequentemente de controle do seu corpo a partir destas regras.

É sempre nesse mesmo projeto de analisar, em termos económicos, tipos de relação que até então pertenciam mais à demografia, à sociologia, à psicologia, à psicologia social, é sempre nessa perspectiva que as neoliberais procuraram analisar, por exemplo, os fenômenos de casamento e do que acontece com um casal, isto é, a racionalização propriamente econômica que o casamento constitui na coexistência dos indivíduos (FOUCAULT, 2008.

Pág. 336).

Ou seja, a subjetividade do “eu” moderno, apresentada por Mauss, como baseada no psíquico, encontra no neoliberalismo uma forma influenciada pelas regras da dita

“economia”. Todo o “privado” se torna possível de quantificar e calcular e a busca é da otimização, do lucro em nome da felicidade (DARDOT, LAVAL. 2016).

Segundo Safatle (2021) a economia é a continuação da psicologia por outros meios,

ou seja, o neoliberalismo não é só uma forma de organização dos meios de produção e

mais-valia. Ela atua como mecanismo de controle da subjetividade pelos aparelhos

estruturais, não só do Estado, mas também da linguagem. E o nível de vigilância estruturado

pelos avanços tecnológicos, como smartphones, computadores e a internet, intensificam a

lógica de controle dos corpos (ZUBOFF, 2021). A tentativa até aqui de apresentar este

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acúmulo de reflexões, compõem de maneira genérica as inúmeras redes que dão sentido para a defesa de Dardot e Laval sob a construção deste novo indivíduo, chamado pelos autores de neosujeito (Sujeito Empresarial/Sujeito Neoliberal), fruto da vitória do neoliberalismo nos espaços de decisão política e econômica. Este sujeito apresentado por Dardot e Laval é o que mais se aproxima, tanto da representação gráfica presente na “lofi hip hop radio - beats to relax/study to”, quanto nos discursos dos ouvintes e produtores de lofi hip hop.

Enquanto Stuart Hall (2006) tenta definir o Sujeito Pós-Moderno a partir da hibridez das construções culturais, sua fluidez e dono de sua própria narrativa. Dardot e Laval mostram a influência da racionalidade neoliberal, pensada nos anos 30 e colocada em prática a partir dos anos 70, como fundante, e parte primordial para a construção destes valores;

fluidez, hibridez cultural, e a narrativa de sucesso por si. Advindo de uma lógica de redução da força estatal e confiança na “mão invisível" do mercado para auto regulação das trocas.

Esta lógica de funcionamento subjetivo que opera no sujeito neoliberal cria sofrimento, pois o

“Real” castra a todo instante os desejos frutos de uma lógica de produção mercantil/empresarial. A partir da criação de insegurança, aceleração e cobrança por resultados.

Ulf Hannerz (1997) em seu texto “Fluxos, Fronteiras, Híbridos: Palavras-chave da Antropologia Transnacional” discorre sobre a trajetória histórica destes termos na antropologia. Para Fluxo, Hannerz irá concluir que não há como reduzir sua compreensão apenas como transmissão ou transposição de “formas tangíveis carregadas de significados intrínsecos”, e sim como “uma série infinita de deslocamentos no tempo” alternando no espaço, “entre formas externas acessíveis ao sentido”, mas importante ressaltar que tais sequências ininterruptas são carregadas de incerteza. Já para o conceito de Fronteira, o autor irá trabalhar sobre a ótica de “zonas fronteiriças”, pois seriam nelas o “espaço para a ação (agência) no manejo da cultura” (HANNERZ, 1997, p. 15-16). Para híbridos, apresento a definição proposta por Tatiana Bacal (2012, p. 86),

a importância da hibridação não é ser capaz de rastrear os dois momentos originais dos quais emerge um terceiro, a hibridação é o terceiro espaço. A importância da hibridação é que ela traz os vestígios daqueles sentimentos e práticas que a informam, tal qual uma tradução, e assim põe em conjunto os vestígios de alguns outros sentidos ou discursos. Não lhes dá a autoridade de serem antecedentes no sentido de serem anteriores, algo novo e irreconhecível (BHABHA, 1996, p.36-37)

As implicações deste modo de fazer vida impacta profundamente na construção de

uma subjetividade pautada em uma narrativa afastada dos elementos materiais e históricos

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que estão presentes nas relações de produção de trabalho, amorosas, familiares e afins. Ou seja, este modo de pensar e produzir a vida resulta em sofrimento.

[..] a racionalidade neoliberal produz o sujeito de que necessita ordenando os meios de governá-lo para que ele se conduza realmente como uma entidade em competição e que, por isso, deve maximizar seus resultados, expondo-se a riscos e assumindo inteira responsabilidade por eventuais fracassos. (DARDOT, LAVAL. 2016. Pág. 328)

O neoliberalismo produz indivíduos a partir da lógica do funcionamento de uma empresa. Para isso se utiliza de desejos básicos do ser humano, como a busca da felicidade. A busca da felicidade teoricamente viria do realizar seus próprios desejos. Porém, a partir do indivíduo como empresa, esta busca é pautada em valores e palavras que alienam o próprio sentido da felicidade e consequentemente do desejo. Tornando esta busca incessante, ou em palavras Lacanianas Mais-Gozar. Ou seja, há uma espoliação do gozo quando o gozo se sujeita a uma lógica de produção mercantil. Tal conceito, inspirado pela Mais-Valia de Marx, tenta explicar o imperativo do neoliberalismo, na qual todos devem encontrar sua forma de gozo, dessa forma a incitação e a administração do gozo é a “mola propulsora” da economia libidinal e moral gerida pelo neoliberalismo (SAFATLE, 2020).

Adicionado a essa problemática a quantidade de dados, nunca atingida antes na história da humanidade, circulando em fluxos de hiper-conectividade entre lugares, pessoas e instituições e capital, a partir da Internet, informações sendo trocadas instantaneamente e consequentemente, criando uma sensação de “compressão do tempo”, aceleração (WAJCMAN, 2014). Ou seja, o tempo é um elemento fundamental na forma que a economia moral do neoliberalismo atua, sendo usado como forma discursiva de dominação. Portanto, outras formas de atravessar o tempo, calcada em populações que não se encaixam na normatividade imposta pelo neoliberalismo, acabam por encontrar formas de sofrimentos mais agudas, dada ao apagamento de suas raízes, ou não encaixe dos seus modos de pensar e fazer a vida (MBEMBE, 2001).

O lofi hip hop é um movimento transnacional, e quando exercitamos a escuta e olhar

para este fenômeno, as três palavras-chaves são acionadas, não necessariamente como

conceitos nativos, mas para explicar a dinâmica que esta expressão sonora se movimenta. O

fluxo através da transmissão das ondas sonoras e visuais do lofi hip hop realiza uma “série

infinita de deslocamentos no tempo”. O lofi hip hop está acontecendo agora e transportando

diversas pessoas em seus quartos, bibliotecas, transporte público com seus afazeres ou só

relaxando, para espaços de conforto íntimo, amenizando ansiedade, elaborando a melancolia.

(16)

No discurso destes sujeitos temos acesso às "formas (...) acessíveis ao sentido”. E nesse transporte o destino final é incerto.

Seus espaços de manejo para construir esta rede são nas zonas fronteiriças mediada por agentes não-humanos. Ou seja, graças à internet, nos chats das sessões ao vivo, nos grupos e comunidades, nos comentários dos vídeos, há pessoas ao redor do mundo encontrando vínculo através de sentimentos comuns sob os efeitos da escuta do lofi hip hop.

Seja falando sobre trabalho, estudo, ansiedade, tristeza, acionando sua nacionalidade e cultura. Mas há também aquelas zonas fronteiriças entre o lofi hip hop e outros gêneros musicais, as zonas fronteiriças entre a categoria de ouvinte e produtor, as zonas fronteiriças entre Relax/Study. Nelas também vemos a ação dos sujeitos em definir, categorizar, relatar sensações e emoções.

Recuperando DeNora (1999), há essa tentativa da estética servir como uma estratégia para a preservação da identidade e das fronteiras sociais sob condições de existência anônima e frequentemente superlotada. Desta forma, a representação da garota estudando povoa um imaginário coletivo que remete a um passado idealizado, onde a insegurança, a instabilidade, a pressão, a cobrança e todas as formas de desestabilização da subjetividade no mundo neoliberal contemporâneo teoricamente não atingiria. Sendo a própria maneira de concepção da imagem fruto desta forma de funcionamento. Um canal criado por um Francês, que distribui música de produtores de todo o mundo, que tem como imagem uma garota (a princípio tanto Dimitri quanto Pablo se identificam como homens) com traços de desenho animado japonês (anime) desenhado por um Colombiano em sua estadia na França. Um grande resultado desta forma contemporânea do mundo, que permite acionar as palavras-chaves da antropologia multinacional, mas também de evidenciar dilemas e questões que emergem com essa forma de fazer vida.

A imaginação de Brasil

Em Janeiro de 2020 começou uma discussão no twitter a partir de um usuário

perguntando se existia a versão brasileira do desenho da garota estudando, a partir disso

muitos artistas brasileiros fizeram suas releituras. O canal Lofi Girl (na época Chilled Cow)

entrou na brincadeira e selecionou 5 (cinco) desenhos para os seus seguidores votarem qual

seria o mais representativo. A publicação no Instagram contou com mais de 18 mil curtidas e

mais de 2 mil comentários. Destes, o maior número de votos foi para o desenho da artista

curitibana Leticia Efing (Figura 2).

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(Figura 2 - releitura da garota estudando do canal Lofi Girl feito por Letícia Efing. Fonte Youtube)

20

O lofi hip hop brasileiro já vinha se popularizando desde o final de 2019 e teve seu boom durante a pandemia do coronavírus

21

. Na estética sonora, o lofi hip hop brasileiro carrega consigo diferenças quando comparado ao redor do mundo. A sampleação de trechos de músicas da bossa nova, samba e soul com o elemento do canto/voz se sobressai quando comparada ao lofi hip hop “tradicional”, na qual existe um maior apreço a instrumentalização. Para alguns interlocutores que entrevistei, isso é visto como positivo pois cria maior identificação, porém negativo quando o uso é para estudar ou trabalhar, pois tiraria a concentração e o foco.

A releitura proposta por Efing em comparação com a obra de Pablo tem a mesma perspectiva. Uma garota canhota estudando, porém os elementos que dão vida são associados de maneira nostálgica ao público “brasileiro”. Através da espada de São Jorge, o urso da Parmalat, a borracha no lápis, o café no copo esmaltado, o cachorro “vira-lata caramelo”, o estojo do sítio do pica-pau amarelo, o calendário religioso, a garota ser negra e a vista da janela ser uma favela. Diferente da animação gráfica do Pablo, o tom predominante do filtro é um tema rosado. Comentários na publicação ressaltam o impacto da releitura: “cara essa arte

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https://canaltech.com.br/musica/especial-o-que-e-musica-lo-fi-e-por-que-ela-explodiu-durante-a-pandemia-1638 34/ acessado em 15 de Setembro de 2021

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Printscreen retirado em 15 de Setembro de 2021

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mexe muito com meu interior. eu me vejo em cada pedacinho desse desenho.”; “me ganhou com o doguinho caramelo”; “Detalhe da plantinha super brasileira e a folhinha com imagem da nossa senhora”; “Os elementos ficaram super legais!! A cara do brazeeel!”; “this art represents Brazil more than soccer and samba”; “Foi muito importante pra mim ver essa versão brasileira”; “me senti até representada na imagem, vish”.

Mas uma pequena discussão me chamou mais atenção e vai ser o pontapé para o debate daqui pra frente: 1º Sujeito - “Nada a ver. Versão carioca você quis dizer”; 2º Sujeito -

“olha, eu sou do Sul e tenho amigos de todas as regiões (graças à magia da tecnologia [risadas]) e a gnt ri mt das nossas mães/avós/tias com os calendarinhos de mercado, os vira-latas caramelo e os estojos genéricos. É meio marcante sim [...] ainda mais esse lápis da bic high quality :v”.

Recuperando o clássico trabalho de Benedict Anderson (2008) podemos começar a traçar um esboço de qual Brasil é este que a imagem tenta retratar. Visto que a construção de nação é um construto, uma categoria que aciona identidade e emoções, a partir de uma imaginação. Ela é imaginada porque por mais minúscula que seja a nação, um membro nunca conhecera face a face todos os integrantes do mesmo coletivo. Ela é limitada, por maior que seja a nação, ela se restringe a uma linha de fronteira geográfica. Ela é soberana, pois no contexto revolucionário iluminista esta era forma de assegurar seu nascimento. E ela funciona como comunidade, pois tenta aplacar diferenças de classes, étnicas-raciais, de exploração.

No pensamento social brasileiro, podemos citar o esforço da construção deste “mito”

do sujeito fundador do Brasil para construção do sentimento nacional, a fim de fortalecer o novo Estado-Nação republicano em torno de uma identidade única. Gilberto Freyre pode ser citado como um desses intelectuais que se esforçou em explicar a "miscelânea" brasileira entre a relação de “ameríndios, portugueses e africanos” (HANNERZ, 1997). A ideia de o Rio de Janeiro ser a vitrine do Brasil é antiga. Um imaginário presente na arte da representação brasileira que carrega uma herança que perpassa a história da cidade como capital do país, suas inúmeras transformações urbanísticas aos moldes Parisiense, o desenvolvimento do samba e outros eventos que reforçam esta fantasia (PESAVENTO, 2002;

1995).

Portanto, a afirmação do 1º Sujeito se refere a este processo de desidentificação, realizando um movimento de crítica a esta forma de imaginar o Brasil. Enquanto a do 2º Sujeito reforça os elementos que o identifica mesmo não pertencendo a tal localidade.

Adicionado a essa discussão, vale ressaltar que a artista é Curitibana. Sem dúvida o

imaginário construído na imagem, em um primeiro momento, reforça uma forma de contar o

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Brasil a partir de referências ao Rio de Janeiro. Mas por outro lado, diversos elementos que constituem a imaginação e acionam o elemento nostálgico de uma infância vivida entre os anos 1990 e 2000 acaba por generalizar o processo de identificação, além do mais favela não é um fenômeno só do Rio de Janeiro, assim como, nossa população é majoritariamente negra.

Ou seja, há uma tentativa de contar o Brasil através de marcadores sociais da diferença em contraposição a uma normatividade hegemônica representada nos aparelhos da indústria cultural tradicional (FOUCAULT, 2008).

Na própria estética sonora do lofi hip hop brasileiro, o uso de sampleações derivadas de sons advindos da cultura afro-brasileira é recorrentemente usado. Logo, a representação imagética também não foge desta forma de imaginação (GILROY, 2001; COLLINS, 2019).

Segundo Moraes (2018) “Florestan Fernandes entende a nação brasileira como uma comunidade imaginada heteronomamente condicionada, isto é, uma sociedade nacional cuja orientação interna apresenta um condicionante externo importante”. O olhar que pesa no esforço da artista em representar o Brasil, é o olhar estrangeiro e por isso a necessidade de recorrer a uma vasta tradição do Rio de Janeiro como “vitrine”, mas ao mesmo tempo, a história a ser contada é de uma perspectiva móvel e situacionista, reforçando elementos tanto nostálgicos gerais de uma certa infância, quanto de um local tradicionalmente subalterno na tradição normativa de contar a história do Brasil.

Podemos ver nesta situação o movimento contraditório que Stuart Hall (2016) apresenta sobre a condição da pós-modernidade. Por um lado o processo de homogeneização da cultura - os elementos nostálgicos de uma infância imaginada perdida no tempo e espaço;

E outra de elementos culturais reforçados absorvendo um lado de "reivindicação"

tradicionalmente negado em muitas representações brasileiras. Sem dúvida, nas formas expressivas brasileiras sempre houve este esforço “antropofágico” ou formas de contar a história pelo olhar do subalterno em contraste com o estrangeiro. Exemplos não faltam:

Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Mário Pedrosa e etc (FABRIS, 1994). Mas a situação aqui exposta avança neste sentido em direção à construção do sujeito pós-moderno, apresentada anteriormente.

A Internet é este lugar fronteiriço de acionamento de elementos culturais (As

conversas nos chats, a discussão dos comentários, a competição de releituras da garota

estudando) e como consequência o nascimento de híbridos culturais. Não só o Brasil é

imaginado na imagem, mas o quarto é esta fantasia criada no fazer lofi hip hop como um

todo. Funcionando como esse espaço de segurança, calma, tranquilidade e foco. Embebido do

som lofi. O esforço de imaginar um quarto que representasse o Brasil, se utilizou de muitas

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referências que não necessariamente estariam presentes em um quarto comum, por exemplo a espada de São Jorge. Mas é por conta desse esforço que o acionamento nostálgico surge para construir esse quadro maior que é o fluxo sonoro-sensorial através do lofi hip hop. Pois, tanto o sujeito fora do Brasil, quanto dentro do estado-nação brasileiro se encontram nesses elementos em comum: O quarto e sua nostalgia como espaço de oposição a um mundo de insegurança, instabilidade, sofrimento, saturação, estresse, depressão, ansiedade advinda do modo de produzir vida do neoliberalismo.

Conclusão

Este trabalho buscou discutir as representações gráficas existentes no fazer lofi hip hop. Partindo de um exercício de comparação e complementaridade entre a imagem da

“garota estudando” do canal Lofi Girl produzida pelo Colombiano Juan Pablo e sua releitura brasileira produzida por Leticia Efing. A partir destas imagens foi realizado um exercício de relacioná-las com os discursos dos atores envolvidos, na qual, foram evocados elementos que fazem alusão às manifestações sensoriais e de identificação. Tendo como base um construto imaginado de quarto, nostalgia, passado e consequentemente de elementos culturais e nacionais. Afim do sujeito envolvido nesse fazer artístico, seja como ouvinte ou produtor, se

“proteger”, “fugir”, “barrar”, se “opor” a uma vida construída com os imperativos neoliberais.

Por mais íntimo que seja o sofrimento da solidão, da melancolia, da ansiedade, da tristeza e do estresse sentidos no corpo, este corpo não está só. A companhia da música e desse imaginário de que alguma outra pessoa ao redor do mundo pode estar escutando o mesmo som que você por motivações similares (HENNION, 2012), mostram a força de querer estar no mundo (INGOLD, 2015). Estar vivo é um processo de elaboração constante do sofrimento psíquico. O lofi hip hop está ali, há alguns cliques de distância para fazer companhia nesta elaboração, para navegar através dos dias. Agenciando o sujeito a pensar sobre si, sobre seu trabalho, sobre seu estudo. Como plano de fundo (Study) ou de contemplação (Relax).

Em um primeiro momento apresentei o objeto: O lofi hip hop, e a genealogia do seu nome (SCHAFFER, 2001; VIANNA; 1988). O campo: A Internet com seus sites e fruições.

E como isso exige uma abordagem teórico-metodológica pautada em levar em conta a não

diferença entre o mundo Online e o Offline (BELELI; PELUCIO, 2018). Assim como o

reconhecimento dos espaços fronteiriços, mediações e agências não-humanas (HENNION,

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2003; LATOUR; STARK, 199). Na segunda parte deste artigo, busquei entender a representação gráfica da “lofi hip hop radio - beats ro relax/study to” como dito anteriormente, um construto imaginado, para um sujeito (ouvinte ou produtor) desenraizado.

Sendo a própria imagem, fruto de um mundo em fluxo e hiper-conectado. E por fim, tratei de maneira breve sobre a releitura brasileira desta mesma imagem e seu esforço em trazer elementos que acionem a nostalgia no sujeito formado dentro da comunidade imaginada brasileira. Com seus marcadores sociais da diferença e relação com uma representação da cultura afro-brasileira (GILROY, 2001; COLLINS, 2019).

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Referências

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